PERFIL CLÍNICO DOS ATENDIMENTOS HOSPITALARES EM SERVIÇOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA 

CLINICAL PROFILE OF HOSPITAL CARE IN EMERGENCY AND EMERGENCY SERVICES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8329232


Geraldo Ferreira de Aguiar Filho1, Ricardo Jardim Neiva2, Ticiane Dias Prado1, Flavianny de Jesus Muniz1, Paulielly Glória dos Santos2, Bianca Oliveira Leite2, Elisângela de Oliveira Neres1, Kerolaine de Freitas Moreira1, Diogo Gabriel Santos Silva1, Manuela Gomes Campos Borel3, Ana Maria Alencar2, Paloma Gomes de Araújo Magalhães1, Brunna Thais Costa1, Suede de Oliveira Neto Silva4, Anderson Neco Rocha5, Kellen Raissa de Souza1


RESUMO

Introdução: devido ao elevado crescimento do número de atendimentos de urgência e emergência no Brasil, gerados pela violência, acidentes de trânsito e doenças de várias etiologias, sobretudo cardiovasculares, torna-se necessário um atendimento rápido e especializado a fim de prestar os primeiros socorros aos usuários vítimas de traumas e males súbitos. Objetivo: descrever o perfil clínico dos atendimentos hospitalares em serviços de urgência e emergência. Métodos: conduziu-se um estudo de revisão integrativa de literatura, a busca de dados abrangeu as fontes de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS): Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e a biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library Online (Scielo). Resultados: quanto ao perfil clínico identificou-se que as principais queixas eram por febre, tosse, vômitos, alergias, dores abdominais, diarréias, dor de ouvido e de garganta, cefaléia, acidentes de trânsitos e problemas cardiovasculares. Conclusão: salienta-se que estes atendimentos mostram que as queixas são de baixa complexidade pela avaliação de risco de manchester, evidenciando que a maioria dos atendimentos poderia ser solucionada nas Unidades Básicas de Saúde, o que contribuiria para diminuição das filas nas salas de espera e maior organização da rede de atenção à saúde relacionada às emergências e urgências.

Palavras-chave: emergências. Tratamento de emergência. Hospitais de emergência. 

ABSTRACT

Introduction: due to the high growth in the number of urgent and emergency care in Brazil, generated by violence, traffic accidents and diseases of various etiologies, especially cardiovascular diseases, it is necessary a fast and specialized care in order to provide first aid to users victims of trauma and sudden ills. Objective: to describe the clinical profile of hospital care in emergency and emergency services. Methods: an integrative literature review study was conducted, the search for data covered the data sources of the Virtual Health Library (VHL): Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences (LILACS) and the Electronic Library Scientific Electronic Library Online (Scielo). Results: regarding the clinical profile, it was identified that the main complaints were fever, cough, vomiting, allergies, abdominal pain, diarrhea, ear and throat pain, headache, traffic accidents and cardiovascular problems. Conclusion: it is emphasized that these visits show that complaints are of low complexity due to the risk assessment of manchester, evidencing that the majority of care could be solved in the Basic Health Units, which would contribute to a reduction of queues in waiting rooms and greater organization of the health care network related to emergencies and emergencies.

Keywords: emergencies. Emergency treatment. Emergency hospitals. 

RESUMEN

Introducción: debido al alto crecimiento en el número de atención de urgencia y emergencia en Brasil, generada por la violencia, los accidentes de tránsito y las enfermedades de diversas etiologías, especialmente las enfermedades cardiovasculares, es necesaria una atención rápida y especializada para proporcionar primeros auxilios a los usuarios víctimas de traumas y enfermedades repentinas. Objetivo: describir el perfil clínico de la atención hospitalaria en los servicios de urgencias y emergencias. Métodos: se realizó un estudio integrador de revisión bibliográfica, la búsqueda de datos abarcó las fuentes de datos de la Biblioteca Virtual en Salud (BVS): Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (LILACS) y la Biblioteca Electrónica Científica en Línea (Scielo). Resultados: en cuanto al perfil clínico, se identificó que las principales quejas fueron fiebre, tos, vómitos, alergias, dolor abdominal, diarrea, dolor de oído y garganta, cefalea, accidentes de tránsito y problemas cardiovasculares. Conclusión: se destaca que estas visitas muestran que las quejas son de baja complejidad debido a la evaluación de riesgos de Manchester, evidenciando que la mayoría de los cuidados podrían ser resueltos en las Unidades Básicas de Salud, lo que contribuiría para una reducción de las colas en las salas de espera y una mayor organización de la red de atención de salud relacionada con emergencias y emergencias.

Palabras clave: emergencias. Tratamiento de emergencia. Hospitales de emergência.

Introdução

Devido ao elevado crescimento do número de atendimentos de urgência e emergência no Brasil, gerados pela violência, acidentes de trânsito e doenças de várias etiologias, sobretudo cardiovasculares, torna-se necessário um atendimento rápido e especializado a fim de prestar os primeiros socorros aos usuários vítimas de traumas e males súbitos, ainda na cena do fato. Para favorecer esse atendimento, são encaminhadas ambulâncias de suporte básico e avançado, de acordo com o quadro da vítima. Essa assistência conta, ainda, com equipe qualificada para o atendimento, o que contribui na redução do número de óbitos e suas complicações (CECCONELLO; ZOCCHE; ASCARI, 2021).

Essas vítimas são encaminhadas aos diversos centros de emergência, locais apropriados para o atendimento desses usuários, contando com equipe especializada e equipamentos adequados para tal finalidade (CECCONELLO; ZOCCHE; ASCARI, 2021).

Uma denominação desse tipo de serviço é o Pronto Socorro (PS), que além de executar atendimento aos clientes em situações de agravo à saúde, com ameaça iminente de morte, de alta complexidade e variedade, tornou-se um local em que os clientes ficam internados por muitos dias. A organização da atenção aos cidadãos em situação de urgência e emergência nacional tem o objetivo de implantar uma rede de serviços hierarquizada, na qual todos sejam atendidos de acordo com o nível de complexidade. Apesar da tentativa de descentralização do atendimento às urgências, os serviços hospitalares e as unidades de pronto atendimento seguem como locais de maior procura por atendimentos emergenciais, ocorrendo uma superlotação desses serviços (MATOS; BREDA, 2020). 

Nesse sentido, estudos epidemiológicos indicam que o perfil de doenças ou síndromes que são atendidas nos prontos-socorros envolveram incômodo físico menos grave, compondo um sinal característico de parâmetros terapêuticos de atenção básica, além de problemas emocionais e de necessidades classificados como não urgentes (BEZERRA et al., 2017; ALMEIDA et al., 2022; VELOSO; TIBÃES, 2022).  

A situação dos serviços de emergência indica estado de preocupação para a comunidade sanitária e a sociedade em geral, uma vez que a demanda tem se tornado crescente nas últimas décadas (BEZERRA et al., 2017; ALMEIDA et al., 2022; VELOSO; TIBÃES, 2022). Assim, o presente estudo busca descrever o perfil clínico dos atendimentos hospitalares em serviços de urgência e emergência. 

Métodos 

Trata-se de um estudo de revisão de literatura, que consiste em ampla análise de publicações, com a finalidade de obter dados e conclusões sobre determinada temática. A revisão de literatura é realizada quando se tem um problema e se busca pela sua solução, é desenvolvida mediante os conhecimentos disponíveis na literatura, com a utilização de métodos e técnicas de investigação científica (GIL, 2010).

Para construção do estudo, baseou-se nas fases propostas por Souza; Silva; Carvalho (2010): elaboração da pergunta norteadora, busca ou amostragem na literatura, coleta de dados, análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa. Como a pergunta norteadora definiu-se: Qual o perfil clínico dos atendimentos hospitalares em serviços de urgência e emergência?

Na etapa de localização das publicações disponíveis on-line, foram utilizados os seguintes descritores isolados ou combinados: emergência, hospital, urgência e atenção básica. Foram adotados como critérios de inclusão: estudos na íntegra, no idioma português, espanhol ou inglês e que procurassem responder ao objetivo proposto. Considerou-se o ano de 2020 como limite temporal em razão da pandemia de covid-19. Foram excluídas as publicações duplicadas, os presentes em mais de uma base e aquelas sem pertinência com a temática.

Na pesquisa inicial foram encontradas 100 publicações nas bases de dados SCIELO e LILACS. Desses, foram excluídos 87, por não atenderem os critérios de inclusão e os demais foram selecionados para compor a amostra final. 

Os artigos selecionados encontram-se na base SCIELO (8) e 5 na base LILACS. No terceiro passo da revisão, foram selecionadas as informações relativas ao assunto e extraídos os dados da publicação: título; periódico, autores, objetivos do estudo, delineamento e síntese dos resultados/recomendações. 

Para viabilizar a apreensão das informações, utilizou-se banco de dados elaborado no software Microsoft Office Excel 2010, composto das seguintes variáveis: título do artigo, ano de publicação, base de dados, título do periódico, delineamento do estudo, resumo, intervenção, desfecho e conclusão. Os dados obtidos foram agrupados em quadros e em abordagens temáticas e interpretados com base na literatura.

Resultados

A amostra desta revisão foi composta por 13 artigos dispostos no quadro I. Os estudos foram publicados, em sua maioria, no ano de 2010 com quatro publicações; e no ano de 2009 teve três publicações; em 2012 com duas publicações, e nos anos de 2000, 2002, 2003, 2008, 2012, 2013 e 2020 com apenas uma publicação. Em Brasília (DF) obteve 60% das publicações, em São Paulo e Ribeirão Preto (SP) com 30%, e nas demais com 10% que são as cidades de Rio Grande do Sul, Fortaleza, Maringá, Londrina, Vitória da Conquista e Coimbra (Portugal).

Em relação ao local em que os artigos selecionados foram publicados, identificou-se na Revista Brasileira de Enfermagem com quatro publicações; Revista Latina Americana de Enfermagem com duas publicações; e com uma publicação em cada revista: Revista da Faculdade de Odontologia, Revista Rede de Enfermagem Nordeste; Revista Ciência, Cuidado e Saúde; Revista Ciência e Saúde; Revista Ciência Biológicas e de Saúde; Revista Saúde Pública; Revista Pediátrica; Revista Eletrônica da Faculdade Independente do Norte-FAINOR; Revista Ciência, Revista Bioética e Revista Enfermagem Referencial. Em relação ao tipo de estudo foram identificados: estudos qualitativos (3), estudo quantitativo (3), descritivo (3), revisão de literatura (1), estudo transversal (3), exploratório (1).

Quadro 1. Estudos incluídos na revisão de literatura.

Título Periódico Autor(es)Objetivo do estudoDelineamento Síntese dos Resultados/Recomendações
Finalidade do trabalho em urgências e emergências: concepções de profissionais.Revista Latino- AmericanaEnfermagem Garle; Silva;Santos. Analisar as concepções dos profissionais da equipe de saúde acerca da finalidade do seu trabalho em uma unidade hospitalar de atendimento às urgências e emergências.Qualitativo do tipo de  estudo de caso.Apontam a divergência entre as necessidades de saúde que levam os usuários a procurar a unidade de urgência e emergência. 
Avaliação do grau de dependência de cuidados de enfermagem dos pacientes internados em pronto-socorro.Revista. Brasileira de EnfermagemZimmermann et al.Identificar o grau de dependência de cuidados de Enfermagem dos pacientes internados em um pronto-socorro.Estudo transversal.Dos participantes, 44% foram classificados na categoria cuidados intermediários. 
Perfil dos pacientes atendidos na sala de emergência do pronto socorro de um hospital universitário.Revista. Brasileira de EnfermagemRosa et al.Traçar um perfil dos pacientes atendidos na sala de emergência do Pronto-Socorro de um hospital universitário do Rio Grande do Sul.Estudo transversal.A maioria das pessoas atendidas (92%) permaneceu internada no pronto-socorro. O conhecimento do perfil dos pacientes atendidos contribui para o planejamento e execução de ações que visem atender ao ser humano com qualidade.
Perfil da demanda de um pronto-socorro em um município do interior do estado de São Paulo.Revista Faculdade de Odontologia


Olivati et al.Caracterizar a demanda populacional dos serviços do Pronto-Socorro Municipal de Capão Bonito.Estudo transversalA oferta dos serviços do pronto socorro, na maioria das vezes, foi direcionada ao ato agudo da queixa dos usuários, não ampliando o foco da atenção para um histórico clínico.
Perfil da população atendida em uma unidade de emergência referenciadaRevista Latino-Americana. Enfermagem

Oliveira et al.Identificar o perfil sociodemográfico da população adulta, atendida na unidade de emergência referenciada de um hospital de ensino. Descritivo e retrospectivo.O perfil da amostra foi, na maioria, composto por adultos jovem, idade produtiva, sexo feminino, demanda espontânea e no período diurno em dias úteis. Os atendimentos apontaram para queixas de baixa complexidade. 
Caracterização do perfil assistencial dos pacientes adultos de um pronto socorro.Revista. Brasileira de Enfermagem
Ohara;Melo; Laus.Caracterizar o perfil assistencial dos pacientes adultos internados no pronto-socorro clínico e cirúrgico de um hospital geral público no município de São Paulo.Estudo Quantitativo.Permitiu verificar pacientes na categoria de cuidados intensivos, semi-intensivos, alta dependência, intermediária e mínima e taxa de ocupação de leitos acima da previsão oficial tornando a planta física inadequada para pacientes e profissionais, reflexo da falta de um serviço de regulação.
O contexto de um serviço de emergência: com a palavra, o usuário.Revista. Brasileira de EnfermagemLudwing; Bonilha.Conhecer as expectativas e percepções das mulheres em relação ao atendimento hospitalar à parturição.Estudo qualitativo, descritivo do tipo exploratório.Apresentam-se estratégias de acolhimento hospitalar na parturição onde a palavra das mulheres e a reconceptualização de práticas são priorizadas.
Os motivos de procura pelo Pronto Socorro Pediátrico de um Hospital Universitário referidos pelos pais ou responsáveis.Revista. Ciências Biológicas e da SaúdeBatistela; Guerreiro; Rossetto.Avaliar os motivos que levaram os pais ou responsáveis a procurarem um hospital de alta complexidade para atendimento das crianças, investigando a frequência e finalidade que essa população utiliza os serviços básicos de saúde.Estudo Qualitativo.






O Pronto Socorro Pediátrico do Hospital Universitário de Londrina recebe grande contingente de crianças com queixas, muitas vezes, passíveis de resolução no nível básico de atendimento à saúde. 
Perfil dos pacientes pediátricos atendidos na emergência de um hospital universitário.Revista Pediatria Salgado; Aguero.Caracterizar a população pediátrica que foi atendida no pronto socorro infantil de um hospital universitário.Estudo quantitativo.O hospital universitário recebe muitas crianças com doenças passíveis de problemas com resolução no nível básico de atendimento à saúde.
As barreiras da universalidade do acesso vivenciado por idosos nas Unidades de Saúde da Família.Revista Eletrônica da Faculdade Independente do Norte- FainorCiência & DesenvolvimentoSilva; Rabinovich.Análise temática visando descobrir as barreiras de acesso. Estudo qualitativo.Variáveis estruturais podem dificultar o acesso adequado dos usuários aos serviços de atenção primária, influenciando na procura por serviços de pronto socorro de forma inadequada. 
Uma visão assistencial da urgência e emergência no sistema de saúde.RevistaBioética
 
Romani et al.Avaliar a concepção semântica dos dois termos associando a ambiguidade de seu uso às dificuldades experimentadas por profissionais Revisão de Literatura.Os significados historicamente atribuídos aos termos urgência e emergência podem não corresponder às necessidades atuais dos serviços de saúde.
Contributos psicológicos para a compreensão da utilização inapropriada de um serviço e urgência pediátrica.Revista de Enfermagem Referência Rodrigues.Identificar fatores psicológicos que possam contribuir para a compreensão da utilização inapropriada destes serviços.Estudo quantitativo.52.2% dos acompanhantes consideraram ser grave e 66.1% perceberam-no como urgente. Os fatores psicológicos podem contribuir para explicar a utilização inapropriada dos serviços de saúde.
Perfil dos Pacientes Atendidos na UnidadePronto Atendimento, Jardim Veneza, Cascavel-PRFag Journal Of HealthMatos; Breda. Analisar o perfil dos pacientes de acordo com sexo e idade, caracterizar a demanda da unidade e verificar o manejo e desfecho dos mesmosEstudo descritivo-observacional.Com atendimento 24 horas junto à dificuldade de acesso às consultas nas Unidades Básicas de Saúde e havendo agilidade na solução dos problemas de saúde, grande parte da população acaba buscando atendimento nas UPAs, mesmo quando esses problemas não representam grande Complexidade. 

Discussão 

A partir das análises dos estudos encontrados, foi possível compreender e avaliar o perfil da demanda dos clientes que procuram atendimento no serviço de urgência e emergência. Compreende-se que o pronto-socorro é um local destinado a um perfil de assistência a clientes com ou sem perigo de morte, cujos recursos à saúde inspiram a necessidade de atendimento rápido. Deve estar adequado para prestar assistência em situações de urgência – casos que precisam de atendimento imediato, porém, sem perigo de morte rápida e emergência – perigo iminente de morte (MENA; PIACSEK; MOTTA, 2017).

O Pronto-socorro e as Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s), são denominados como serviços de baixa resolutividade e qualidade, pois, são permeados por filas e tumulto. Soma-se a precariedade das condições materiais e tecnológicas; o número insuficiente de profissionais de saúde; a ausência de critérios de atendimento; a falta de humanização e acolhimento dos profissionais com os usuários (FREIRE et al., 2020). 

Observando-se que o hospital dispõe de um serviço de emergência que funciona durante 24 horas ininterruptas, com equipes multiprofissionais qualificadas em várias áreas de emergências clínicas e traumáticas, acredita-se que os indivíduos recorram a este serviço por razões diversas: funcionamento durante 24 horas, fácil acessibilidade, problemas de saúde e impossibilidade de recorrer aos serviços ambulatoriais (AMARANTE et al., 2020).

A Política Nacional de Atenção às Urgências no Brasil, mediante o quadro brasileiro de morbimortalidade relativo a todas as urgências e emergências relacionadas com traumas e violência estabelece normas de organização dos serviços privados e públicos de atenção terciária (BRASIL, 2011). 

Nesse sentido, o atendimento de urgência e emergência deverá estar adequadamente localizado com fácil acesso e terá de contar com equipe multiprofissional. O pronto socorro deve dispor de infraestrutura adequada salas de recepção, de espera, de higienização, de triagem, de serviço social, de gesso, de suturas, de curativos, de medicação, de observação, posto de enfermagem, sala procedimentos invasivos, sala para pequenas cirurgias e consultórios (PINTO, STOCKER; LIMA, 2019). 

Na construção dessa rede de serviços de urgências, a Estratégia de Saúde da Família deve ser a porta de entrada dos pacientes ao sistema único de saúde, disponibilizando uma assistência integral aos clientes, cabendo ao hospital ter recursos humanos e exames tecnológicos mais avançados e atender os casos de maior complicação. A inobservância desses critérios faz com que o serviço de emergência provoque a superlotação dos prontos-socorros das unidades de atendimento (RODRIGUES, 2012; RICCIULLI; CASTANHEIRA, 2022).

A busca pelo serviço de emergência deve acontecer a partir do referenciamento de cidadãos pelos profissionais de saúde, mas, na maioria dos casos, o paciente procura as unidades de urgência, sem antes ter buscado por atendimento na atenção básica. Todavia, as pessoas julgam seus problemas de saúde como dignos de atendimento de emergência, usando o serviço de forma incorreta (RICCIULLI; CASTANHEIRA, 2022).

A relação com o dia-a-dia do serviço acarreta a reflexão a sobre a assistência em urgência e emergência e a sua necessidade de definição de novas práticas de saúde, elaborando elos de comunicação entre profissionais e clientes e consequentemente a todos os serviços ofertados (BERNARDES et al., 2009). 

São apontados como razões para procura dos serviços hospitalares de urgência e emergência em detrimento a outros serviços: ausência de infraestrutura da unidade de saúde mais próxima, percepção de dor e sintomas de caráter emergenciais, proximidade da residência ou do trabalho, processo de agendamento de consultas na atenção primária demorado, qualidade no atendimento dos serviços hospitalares de urgência e emergência e hábito de frequentar esses serviços (AMARANTE et al., 2020). 

Em estudo conduzido na região Sul do país os dados revelaram que 74,5% dos indivíduos atendidos em consultórios de emergência de pronto-socorro eram do sexo masculino; de 31 a 60 anos (48,9%); casados (61,7%); com ensino fundamental incompleto (70,2%), e procedentes de cidades próximas as unidades de pronto-socorro (PS), (53,4%). O principal motivo do atendimento foi por trauma leve (31,9%) e AVC (8,5%); principalmente no período da tarde (49%) e 92% dos indivíduos atendidos continuaram internados por um tempo no pronto socorro (ROSA et al., 2011). 

Em outro estudo realizado na região Sudeste, em relação à demanda por idade, duas faixas etárias, juntas predominam (De 20 a 39 anos e de 40 a 59 anos), concentrando mais da metade dos atendimentos, e em relação à demanda por sexo, houve predomínio do sexo masculino, ocupando quase 60% dos atendimentos avaliados. Nos atendimentos por especialidades, nota-se que os setores de pequena cirurgia, clínica médica e traumatologia são as principais especialidades procuradas pelos usuários (SALGADO et al., 2010). 

Em outro estudo realizado também na região Sul do País no que se refere ao motivo da procura por atendimento no pronto socorro foi identificado que: 41,3% devido à febre; 11,5% tosse; 7,9% vômito; 5,5% alergia; 5,3% dor abdominal; 5,2% tiveram algum tipo de queda; 4,9% diarreia; 3,6% tiveram algum tipo de trauma; 3,1% dor de ouvido, 2,2% cansaço; 1,9% cefaléia; 1,1% com coriza; 0,9% dor de garganta; 0,4% apresentando lesão com algum tipo de corpo estranho; 0,1% catapora e 0,1% efetuaram sutura. Outros problemas de saúde mencionados foram a constipação intestinal e choro (BATISTELA; GUERREIRO; ROSSETTO, 2008). 

Já no estudo realizado em São Paulo em relação às queixas mais frequentes relatadas pelos clientes, estavam presentes a cefaléia, lombalgia, dor abdominal, dor torácica, dor em membros inferiores (MMII), dentre outras. Os diagnósticos, as mais frequentes foram lombalgia, infecção do trato urinário (ITU), infecção de vias aéreas superiores, cefaléia, gastroenterocolite aguda. Em relação aos exames complementares mais solicitados pela equipe médica são exames laboratoriais (sangue), diagnóstico por imagem, fita urinária e eletrocardiograma (BERNARDES et al., 2009). Quanto à classificação de risco, 87,5% foram divididos com a cor verde (não urgente), 12,4% amarela (pouco urgente)e 0,1% azul (não se enquadrando ao perfil de emergência).

Em estudo realizado em Portugal identificou-se predomínio de pedidos de exames radiográficos (32,2%) em relação aos laboratoriais (19,8%), sendo que 80,2 % das consultas não precisaram de exames laboratoriais para complementação diagnóstica e 67,8% não precisaram de radiografia para complementação diagnóstica. No mesmo estudo, identificou-se em relação ao tratamento, 60% dos pacientes foram encaminhados para tratamento no domicílio; 16,2% tiveram como designação a administração de hidratação via oral; 6,7% administração de medicação endovenosa; 2% colocação de gesso 15,1% não tiveram designação de qualquer tratamento (RODRIGUES, 2012). 

No que se refere à atenção em urgência, o aumento do número de acidentes, a violência urbana e a estrutura precária da rede de serviços de saúde são motivos que têm contribuído decisivamente para a sobrecarga dos serviços hospitalares. O conhecimento desta realidade é de relevância fundamental, no sentido de revelar a real situação do atendimento, para assim iniciar um processo de reestruturação do atual sistema de saúde, na perspectiva de consolidação dos princípios do Sistema Único de Saúde (SOUZA et al., 2019).

Conclusão

Pode-se identificar com esta revisão de literatura que os motivos dos atendimentos nas unidades de emergência hospitalar foram constituídos de queixas de baixas complexidades, as quais, pela avaliação de risco de manchester, poderiam ser resolvidas nos serviços de atenção primária, uma vez que não condizem com o porte de uma unidade de urgência e emergência referenciada. Assim, a procura por esses serviços está subestimada pela população. 

São apontados como razões para procura dos serviços hospitalares de urgência e emergência em detrimento a outros serviços: ausência de infraestrutura da unidade de saúde mais próxima, percepção de dor e sintomas de caráter emergenciais, proximidade da residência ou do trabalho, processo de agendamento de consultas na atenção primária demorado, qualidade no atendimento dos serviços hospitalares de urgência e emergência e hábito de frequentar esses serviços

Estudos futuros devem ser desenvolvidos, com abordagens metodológicas variadas, acerca dessa temática e que poderão subsidiar melhor planejamento e qualidade da rede de serviços de urgência e emergência.

Referências

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1Faculdades Unidas do Norte de Minas Gerais (FUNORTE);
2Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES); 
3Universidade Federal do Rio Janeiro (UFRJ); 
4Faculdade de Saúde e Humanidades Ibituruna (FASI); 
5Centro Universitário UNIFG (UNIFG)