ANÁLISE DAS DISCIPLINAS DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA, MODALIDADE A DISTÂNCIA, DA UFVJM.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8286539


Eduardo Gomes Fernandes1
Maria do Carmo Vila2 


Resumo – O presente estudo analisou a organização e desenvolvimento das disciplinas de Estágio ofertadas para a primeira turma de alunos do Curso de Matemática, modalidade a distância, da UFVJM.  Para tal, foi realizada uma análise documental do projeto pedagógico do curso investigado, bem como da estrutura e organização das disciplinas de estágio no AVA Moodle. Os resultados revelaram que o desenvolvimento das disciplinas é realizado de acordo com a visão/conhecimento teórico e metodológico do professor, e, também, com seus conhecimentos relativos às tecnologias e ferramentas do ambiente virtual. Dessa forma, a partir das opções metodológicas, bem como os artefatos interacionais adotados pela professora no desenvolvimento das disciplinas, para além de uma abordagem de EaD sustentada por Valente (2010) como o “estar junto virtual” foram identificadas (nas disciplinas) potencialidades relacionadas à formação inicial do futuro professor. Tais potencialidades foram percebidas através da promoção de espaços e atividades que favorecem a formação do professor crítico-reflexivo e da possibilidade de reflexão e interação sobre a utilização das tecnologias, contribuindo para a construção de sua identidade profissional.

Palavras-chave: Educação a Distância. Estágio Supervisionado. Formação inicial.

AbstractThe present study analyzed the organization and development of the disciplines practical supervised offered to the first group of students of the Degree Course on Mathematics in distance learning, of the UFVJM. For this, a documentary analysis of the pedagogical project of the investigated course was done, as well as the structure and organization of the disciplines practical supervised in AVA Moodle. The results revealed that the development of the disciplines is carried out in accordance with the theoretical / methodological knowledge of the teacher, as well as their knowledge of the technologies and tools of the virtual environment. Thus, from the methodological options, as well as the interactional artifacts adopted by the teacher in the development of the disciplines, in addition to an ED approach supported by Valente (2010) as “being virtual together” were identified (in the disciplines) related potentialities to the initial formation of the future teacher. These potentialities were perceived through the promotion of spaces and activities that favor the formation of the critical-reflexive teacher and the possibility of reflection and interaction on the use of technologies, contributing to the construction of their professional identity.

Keywords: Distance Education. Practical Supervised. Initial Formation.

Introdução

O presente artigo é resultado de pesquisa qualitativa e tem por objetivo apresentar análises realizadas nas disciplinas de Estágio Supervisionado (ES) do Curso de Licenciatura de Matemática, modalidade a distância, da UFVJM.  Tais análises foram realizadas durante a primeira oferta das três disciplinas de Estágio do referido curso, ofertadas no ambiente virtual Moodle, durante o ano de 2014 e o primeiro semestre de 2015, momento em que foram realizadas anotações referentes à estruturação, desenvolvimento e avaliação das disciplinas.

Assumindo o ES como uma atividade fundamental para a aprendizagem profissional da docência, como professores da educação superior e formadores de professores, a responsabilidade sobre a formação inicial de futuros professores coloca-nos em cenários de grandes desafios. Afinal, a formação inicial de professores é influenciada por inúmeros fatores, que devem ser estudados adequadamente,para que assim se possa intervir de maneira construtiva na formação dos acadêmicos que futuramente atuarão em sala de aula. Tal formação é aqui entendida como processo contínuo e permanente de desenvolvimento, o que demanda do professor disponibilidade para a aprendizagem (Ministério da Educação [MEC], 1999).

Assim, é preciso formar professores que reflitam sobre a própria prática educativa, requisito fundamental para as transformações que, hoje, se fazem necessárias na educação. Nesse sentido, as atividades desenvolvidas durante o ES têm como objetivo “estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que forneça aos professores os meios de um pensamento autônomo e que facilite as dinâmicas de autoformação participada” (NÓVOA, 1997, p.25). 

De acordo com as autoras Mizukami e Reali (2002), a formação assume o importante papel de tentar alterar as referências prévias sobre ser professor, sobre os alunos, sobre a atividade de ensino e aprendizagem, sobre o contexto e o conteúdo escolares, entre outros. Isso porque:

De suas experiências prévias os professores em formação desenvolvem ideias orientadoras de suas práticas futuras […]. Se estas ideias não são alteradas durante o período de formação básica, as experiências subsequentes como professor possivelmente as reforcem, consolidando ainda mais as compreensões prévias sobre o processo de ensino e aprendizagem e reduzindo as possibilidades de se alterarem em outras ocasiões. (MIZUKAMI e REALI, 2002, p. 123).

O ES, portanto, é uma atividade imprescindível à formação profissional, pois ele permite que os acadêmicos conheçam a realidade das escolas e, com isso, tenham a oportunidade de analisar a prática que está sendo aplicada em sala de aula, e, ainda, possam confrontar a teoria que lhes é ensinada com as realidades existentes na prática, questionando, dialogando e construindo o seu conhecimento. O ES “poderá se constituir em uma fonte de informações, de possibilidades de reflexão e ação e de aprofundamento no estudo das diversas questões relacionadas à educação” (RIANI, 1996, p. 120).

Partindo de tais pressupostos relacionados à importância do ES em um curso de formação de professor, este artigo organiza-se de forma a contemplar duas importantes discussões: a primeira refere-se à formação inicial de professores viabilizada pelo ES no Curso de Matemática, modalidade a distância, da UFVJM e a segunda, ao desenvolvimento e organização das disciplinas de Estágio do referido curso.

Formação e Prática Docente

O Estágio Supervisionado pode ser caracterizado como uma atividade fundamental para a aprendizagem profissional da docência, pois proporciona um espaço para obtenção de experiências práticas, em um contexto real de ensino e aprendizagem, no qual diferentes fatores interferem nas ações pedagógicas desenvolvidas. Segundo Santos (2005), o estágio é um espaço de construção de aprendizagens significativas no processo de formação dos professores. 

Isso significa que a construção de conhecimentos relacionados à docência não ocorre apenas no componente teórico dos cursos de formação, de modo que a prática se torne apenas a “aplicação” destes conhecimentos. Se assim fosse, o estágio seria concebido como uma avaliação final em que os conhecimentos construídos ao longo do curso fossem colocados à prova.  Pelo contrário, juntamente com as disciplinas desenvolvidas no curso, o estágio também é responsável pela construção de conhecimentos, contribuindo com o fazer profissional do futuro professor. 

Segundo Freire (2001), o estágio permite uma aproximação ao futuro campo de atuação profissional e “promove a aquisição de um saber, de um saber fazer e de um saber julgar as consequências das ações didáticas e pedagógicas desenvolvidas no quotidiano profissional” (FREIRE, 2001, p. 2). Além disso, de acordo com a autora, as experiências vivenciadas na escola, com os alunos, com situações reais de ensino e aprendizagem e com o orientador de estágio antes e depois das ações pedagógicas, “criam condições para a realização de aprendizagens que podem proporcionar a aquisição de saberes profissionais e mudanças, quer nas estruturas conceituais, quer nas concepções de ensino” (FREIRE, 2001, p. 2).

Assim, pode-se dizer que o Estágio Supervisionado é uma parte importante da relação teoria e prática, devendo ser visto como uma aproximação da realidade da sala de aula e da escola, aproximação esta que leva a uma reflexão teórica sobre a prática. O estágio tem por finalidade oportunizar ao licenciando um conjunto de experiências e de reflexões em situações de ensino e aprendizagem. Trata-se, muitas vezes, de um primeiro contato dos acadêmicos com a sala de aula, o que lhes possibilita uma melhor visão de como “funciona” a prática.

Em suma, o estágio pretende oferecer ao futuro licenciado um conhecimento da real situação do trabalho em sala de aula, além de se constituir em um momento de verificação das competências por ele adquiridas, ao longo do curso, na prática profissional. Objetiva, também, levar o estagiário a uma reflexão para verificar se, realmente, deseja se dedicar a essa profissão. É o momento para muitas decisões sobre a docência. Sendo assim, os estágios são fundamentais, pois possibilitam que sejam trabalhados aspectos indispensáveis na construção da identidade, dos saberes e das posturas necessárias ao exercício da docência.

Todas essas características, possibilidades e objetivos apresentados do Estágio, não se restringem a nenhuma modalidade de ensino, ou seja, o Estágio é um componente curricular obrigatório dos cursos de Licenciatura, independente da modalidade em que é ofertado. Na formação inicial do aluno EaD, assim como no presencial, as atividades previstas no Estágio também irão desenvolver-se nas Escolas Campo de Estágio, o que irá diferenciar é a forma de orientação/supervisão do professor da disciplina, que nesse caso irá se desenvolver no ambiente virtual.

Sabendo-se que o conceito de ambiente virtual é um tanto quanto versátil, neste contexto pesquisado partiu-se do entendimento desse tipo de ambiente como sendo um complexo sistema interacional, que envolve múltiplos elementos, de diferentes tipos e domínios, indo de encontro às concepções de Bairral (2007), segundo o qual o ambiente virtual abrange:

[…] a comunidade constituída e sua intencionalidade, as tarefas ou problemas que os indivíduos têm que resolver, os vários tipos de discursos que são demandados hipertextualmente das/nas mesmas, as normas de participação e colaboração estabelecidas, as ferramentas e outros artefatos interacionais, e situações concretas de classe que permitam aos usuários relacionarem em sua prática estes elementos (p.19).

Nesta pesquisa, a interação é compreendida como uma ação recíproca entre dois ou mais interlocutores onde ocorre a comunicação, o diálogo e a troca de ideias. Sendo considerada “como as contribuições individuais dos interlocutores nas atividades propostas da disciplina e nas suas interconexões com as contribuições de outros participantes de maneira contextualizada” (SILVA, ALONSO e MACIEL, 2014, p.218), podendo variar em grau, qualidade e de contexto para contexto (BERLO, 1991 apud PRIMO, 2000, p.2).

Silva, Alonso e Maciel (2014) argumentam que a interação se dá nas relações de participação entre os sujeitos, sendo esta forma de interação denominada interpessoal, e entre o sujeito e o ambiente, neste caso, denominada relação com o meio. Sendo que em ambas as situações, pode-se caracterizá-la como uma relação colaborativa, pois se forma a partir da inter-relação dos sujeitos e das potencialidades possíveis de serem exploradas entre o indivíduo e o ambiente (por meio dos recursos tecnológicos) (p. 218).

No contexto de um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), quando se fala em interação e em suas relações de participação, logo se associa a interação ao termo participação, que nesta pesquisa será compreendido como o acesso ao ambiente e à visualização de conteúdos. Por sua vez, a participação do sujeito da aprendizagem no AVA envolve seu comprometimento na execução das atividades propostas, como postagens nos fóruns, envio de arquivos, entre outros. Dessa forma, pode-se argumentar que, para que haja aprendizagem no AVA, é necessário interação e participação dos sujeitos, entendendo que não existe interação sem participação e nem participação sem interação.

Desta forma, considerando tais possibilidades e potencialidades de interação no desenvolvimento e orientação do Estágio nos cursos EaD, oportunizados pelo AVA e suas ferramentas, a partir de uma abordagem do estar junto virtual (Valente, 2010), percebemos o AVA como sendo um espaço privilegiado de criação colaborativa e de socialização entre os atores que o partilham, favorecendo a formação dos alunos no desenvolvimento do Estágio.

Metodologia

O foco de nossa investigação incide na formação inicial de professores, mais especificamente nas atividades desenvolvidas nas disciplinas de ES durante o ano de 2014 e o primeiro semestre de 2015 no Curso de Licenciatura em Matemática, modalidade a distância, ofertado pela Diretoria de Educação Aberta e a Distância (DEAD) da UFVJM. 

A finalidade dessa pesquisa foi analisar o desenvolvimento, estrutura e organização das disciplinas de ES no AVA, para tal, realizamos, pois, uma pesquisa qualitativa. Foram escolhidos, como procedimento para a coleta das informações, documentos que fundamentassem a organização das disciplinas de Estágio.
Segundo Lüdke e André (1986):

Os documentos constituem uma fonte poderosa de onde podem ser retiradas evidências que fundamentam afirmações e declarações do pesquisador. Representam ainda uma fonte “natural” de informações. Não apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse contexto (p.39). 

Dessa forma, a partir do site da DEAD, foram consultados os seguintes documentos: PPC do curso e o Manual de ES de Matemática. Para análise das disciplinas foi obtido autorização da docente responsável pelas disciplinas de Estágio do Curso de Matemática para acesso ao AVA e realização da presente pesquisa, sendo a estrutura e organização das disciplinas a principal fonte documental dessa pesquisa.

Realizamos, pois, uma análise do Estágio no curso, a partir do PPC e das orientações constantes no Manual de Estágio do curso, com o intuito de compreender a estrutura, objetivos e formato das disciplinas de Estágio. A partir da análise desses documentos, após a oferta das disciplinas de ESI, ESII e ESIII, ou seja, ao término de 2015/1, realizamos a análise das referidas disciplinas no Moodle. Dessa forma, foi possível alcançar os objetivos propostos nesse trabalho, o de descrever a organização e desenvolvimentos das disciplinas de Estágio no Curso de Licenciatura em Matemática, modalidade a distância, da UFVJM.

O ES no curso de Licenciatura em Matemática, modalidade a distância, da UFVJM

Entendendo o ES como parte integrante da formação de professores, no PPC, ele é descrito como sendo “a participação do aluno em situações concretas da realidade educacional, procurando articular o conhecimento adquirido ao longo do curso à prática educacional” (PPC Matemática, 2014, p. 17). 

Tendo como princípio geral que as atividades desenvolvidas no ES devem proporcionar aos estagiários a participação em situações reais de vida e trabalho, vinculadas à sua área de formação, bem como a análise crítica das mesmas; e buscando garantir a formação de um educador comprometido com a construção de uma nova prática pedagógica, o referido estágio contempla momentos de: a) observação-participante na escola e na sala de aula; b) coparticipação; c) regência. 

Contudo, as ações do estagiário vão além de dar aulas e assistir aulas, uma vez que terá oportunidade de levantar questões, apresentar ideias e propostas, elaborar projetos e desenvolvê-los. Nesse sentido, as orientações desse curso indicam a importância de socializar práticas matemáticas onde circulam imbricados conteúdos e metodologias que tomam lugar na Escola Básica. Serão valorizados, especialmente, os saberes e conhecimentos da prática e relacionados com a prática.

Para atender a essa proposta de formação e atender à legislação vigente, o ES do Curso de graduação em Matemática-Licenciatura da UFVJM é desenvolvido em três disciplinas – Estágio Supervisionado I, II e III (ESI, ESII e ESIII) – totalizando 405 horas. Tais disciplinas contemplam atividades a serem desenvolvidas com alunos e professores, na escola campo de estágio, ou em outros ambientes educativos, sob o acompanhamento e a supervisão da instituição formadora. Assim, podemos dizer que, para o desenvolvimento e realização do estágio, é necessário o envolvimento de diversos agentes: o Professor Supervisor (professor da escola campo de estágio); o Professor Orientador (professor da UFVJM responsável pela disciplina); o Coordenador de Estágio do Curso; os Tutores e os Estagiários.

O ES envolve também ações relativas ao planejamento, análise e avaliação do processo pedagógico, visando à reorganização e/ou à reconstrução do exercício docente e das várias dimensões da dinâmica escolar: gestão, interação dos professores e relacionamento escola/família/comunidade. Além de visitas e entrevistas em instituições de educação formal e não formal e vivências profissionais de magistério.

Assim, o ES pretende fazer o papel integrador dos três campos: conhecimentos e domínio dos conteúdos matemáticos; conhecimentos do campo da Educação Matemática; e os conhecimentos pedagógicos. O desenvolvimento das três disciplinas de estágio ocorre a partir do 6o período do curso, em três momentos subsequentes (ESI, ESII e ESIII) para os quais são estabelecidos pré-requisitos. Assim, para a matrícula no ESI é necessário que o aluno tenha concluído as seguintes disciplinas: Matemática Básica, Geometria Básica, Cálculo Diferencial e Integral I, Cálculo Diferencial e Integral II, Álgebra Linear I, Psicologia da Educação, Políticas Educacionais, Metodologia do Ensino I e Prática de Ensino. Já, para realizar o ESII, o aluno deverá ter concluído o ESI e para realizar o ESIII, ele deverá ter concluído o ESII. Especificamente, os objetivos de cada um dos estágios, bem como sua carga horária (CH), são descritos na Tabela 1.

Tabela 1 – Objetivos das disciplinas de Estágio do Curso de Licenciatura em Matemática, modalidade a distância, da UFVJM.

DisciplinaObjetivosCH
ESI
– Observação e análise de aulas de Matemática, nas séries finais do Ensino Fundamental e três séries do Ensino Médio, para o conhecimento do contexto escolar e do cotidiano da sala de aula;
– Caracterização física, pedagógica e relacional da escola campo de estágio;
– Análise do projeto pedagógico da escola campo de estágio; 
– Co-participação em sala de aula;
– Elaboração de relatórios de estágio;
– Elaboração de um plano de ação (elaboração de aulas, materiais didáticos, ou oficinas) definido a partir das observações realizadas.
120



ESII
– Planejamento de aulas e materiais didáticos a partir da análise das condições de trabalho, das metodologias de ensino e dos recursos didáticos para séries finais do Ensino Fundamental;
– Regência de aulas de Matemática, nas séries finais do Ensino Fundamental, para o conhecimento do contexto escolar e do cotidiano da sala de aula;
– Análise do livro didático adotado pelo professor supervisor do Ensino Fundamental; 
– Co-participação em sala de aula;
– Elaboração de relatórios de estágio;
– Desenvolvimento do plano de ação elaborado a partir das observações realizadas no ESI
90



ESIII
– Planejamento de aulas e materiais didáticos a partir da análise das condições de trabalho, das metodologias de ensino e dos recursos didáticos para séries do Ensino Médio;
– Regência de aulas de Matemática nas séries do Ensino Médio, para o conhecimento do contexto escolar e do cotidiano da sala de aula;
– Análise do livro didático adotado pelo professor supervisor do Ensino Médio; 
– Co-participação em sala de aula;
– Elaboração de relatórios de estágio;
– Desenvolvimento do TCC.
195

Total:405
Fonte: Manual de Estágio Supervisionado de Matemática

Cabe a cada aluno, com orientação e supervisão contínua do professor que o recebe na escola (professor supervisor) e com o apoio do tutor e do professor orientador, elaborar sua proposta de ação pedagógica, detalhando ações, recursos e cronograma previstos, mobilizando apoios e desenvolvendo as iniciativas necessárias à implantação da proposta. Importante ressaltar, que o Manual de Estágio, contém uma série de documentos orientadores para os estagiários, como por exemplo, a ficha de observação das atividades, direcionamentos da entrevista a ser realizadas com os professores e o questionário a ser aplicado aos alunos sobre a concepção dos mesmos em relação aos conteúdos de Matemática; atividade direcionada relacionada à análise do material didático, bem como modelos dos relatórios de estágio.

Organização e desenvolvimento das disciplinas de Estágio

A primeira oferta da disciplina de ES I do Curso de Licenciatura de Matemática, modalidade a distância, da UFVJM, ocorreu no primeiro semestre de 2014 (2014/1). Na ocasião, somente 9 (nove) dentre 236 (duzentos e trinta e seis) alunos ingressantes no curso estavam aptos a realizarem o ESI, ou seja, haviam concluído as disciplinas de pré-requisito necessárias à realização do referido estágio. Ressaltamos que somente 60 alunos estavam ativos em 2014/1, dentre os 236 alunos ingressantes no segundo semestre de 2011.  Dessa forma, 15% dos alunos ativos se matricularam no ESI em 2014/1, sendo esses 9 alunos os primeiros a cursarem a primeira disciplina de estágio. 

Antes de prosseguirmos com a apresentação da organização das disciplinas, conforme já exposto, neste contexto pesquisado partiu-se do entendimento de ambiente virtual como sendo um espaço privilegiado de criação colaborativa e de socialização entre os atores que o partilham. E é nesse contexto de trabalho que os interlocutores presentes no ambiente virtual da disciplina, aqui compreendidos como sendo a professora, a tutora a distância e os alunos do estágio, interagem de forma colaborativa com utilização de diversas ferramentas disponíveis no AVA com a visão de promover a aprendizagem, que é o objetivo de qualquer processo educacional.

É a partir dessas concepções que foi analisada e é descrita a seguir a organização das disciplinas de ES ofertadas à primeira turma do Curso de Licenciatura em Matemática da UFVJM. As disciplinas de estágio foram desenvolvidas no Moodle e organizadas em forma de “Abas”, sendo que o acesso às disciplinas é realizado de forma individual pelo aluno através de seu número de matrícula na UFVJM e sua senha pessoal. Importante ressaltar que o acompanhamento, desenvolvimento e a criação das referidas disciplinas, foram realizados pela mesma professora, licenciada em Matemática e doutora na área de Educação, para esta primeira turma de estagiários. 

As disciplinas ESI e ESII foram organizadas em oito “Abas” e a disciplina de ESIII em nove “Abas”. Dentre essas abas, sete são comuns às três disciplinas, sendo elas denominadas: “Início”, “Primeiros Passos”, “Preparando-se para o Estágio”, “Documentação de Estágio”, “Relatório de Observação”, “Momentos Vividos” e “Biblioteca da Disciplina”. A oitava aba das disciplinas ESI, ESII e ESIII, são respectivamente denominadas “Plano de Ação”, “Implementação do Plano de Ação” e “Projeto de Trabalho”. Por último, a disciplina ESIII também possui a aba “TCC”. Foram nessas abas os locais onde se desenvolveu todo o processo de orientação, atividades e interações, ou seja, são os “espaços” de aprendizagem das disciplinas, que por sua vez ocorreram antes, durante e depois da realização do estágio pelos alunos nas Escolas Campo de Estágio. 

A aba “Início” (Figura 1) foi utilizada pela professora para apresentar algumas orientações preliminares específicas a cada um dos estágios. Nesta aba também foi reservado um espaço denominado “Comunicação” contendo um “Chat” e três fóruns “Café com a professora”, “Café com os colegas” e “Fórum de Notícias” para que os alunos, professora e tutora pudessem estabelecer um canal de comunicação de forma contínua ao longo da disciplina. Tais canais de comunicação permitem a criação de condições para que os interlocutores estejam mais “próximos”, vivenciando, auxiliando e resolvendo seus problemas, e, desta forma, estabelecendo relações que possibilitem “o estar junto virtual” (VALENTE, 2010, p.32).

Figura 1 – Mapa Aba “Início” – primeiras explorações da disciplina.

Fonte: AVA da disciplina ESI.

Especificamente, na ferramenta “Chat” o aluno poderia agendar um chat com a professora ou com a tutora da disciplina e nos fóruns de “café” os alunos podem conhecer/interagir com os colegas/professora/tutores trocando informações sobre a disciplina, as dificuldades encontradas e novas experiências, ou formar grupos de trabalho. 

Nas três disciplinas, a aba “Primeiros Passos” (Figura 2) foi utilizada para apresentação da equipe, ementa da disciplina, objetivos do curso, cronograma da disciplina, distribuição de frequência e avaliações, além de conter os arquivos “Carta de Apresentação” – documento destinado à apresentação do estagiário à Escola campo de estágio, e o “Manual do Estágio”. Todas essas informações são fundamentais para implementação de um curso em EaD;  “muitos cursos desse tipo não alcançam o sucesso justamente por não considerá-las”(FRANCO,BRAGA e RODRIGUES, 2011, p. 61).Entende-se que essas informações corroboram com a ideia de que as disciplinas foram organizadas a partir de um planejamento sério e cuidadoso, levando-se em conta todo o processo pedagógico a ser iniciado.

Figura 2 – Mapa Aba “Primeiros Passos” – Apresentação e organização da disciplina.

Fonte: AVA da disciplina ESI.

Já a aba “Preparando-se para o Estágio” (Figura 3) é um espaço destinado à discussão de textos e temas selecionados pela professora com o objetivo de preparar os alunos para o Estágio Supervisionado. Basicamente, a professora optou pela mesma metodologia para organização desta aba nas três disciplinas, pois nela foram proposto textos com temáticas relevantes relacionadas ao estágio, momento em que os alunos fariam a leitura do material indicado e seguiriam as orientações elencadas pela professora, para posteriormente participarem das atividades propostas. Tais atividades foram elaboradas a partir da ferramenta “Fórum”, de forma que os alunos postassem suas contribuições referentes às questões apresentadas e trabalhassem de forma colaborativa para a discussão do assunto. Uma análise do tipo de artefato interacional utilizado nesta aba nas disciplinas e a descrição da atividade proposta são descritas na Tabela 1.

Tabela 1 – Artefatos interacional e Atividades Aba “Preparando-se para o Estágio”.

Disciplina Artefato
Interacional

Atividade proposta
ESIFórum de Dúvidas
Postar dúvidas sobre o Manual do Estágio.
ESIFórum de DúvidasPostar dúvidas sobre um texto disponibilizado relativo ao ES no curso de Matemática da UFVJM.
ESIFórum de DiscussãoApós a leitura do texto “Profissão: Professor de Matemática”, de autoria de Cristina Loureiro, os alunos deveriam discutir no fórum acerca da seguinte questão: Que ideias, desafios ou preocupações podem ser acrescentados hoje, no momento em que você inicia o seu estágio, e não vivenciará a escola apenas como aluno, sobre a escola e seus sujeitos (alunos, professores, pais, etc.) e sobre o ensino da Matemática?
ESIFórum de DiscussãoApontamentos sobre o fórum de discussão do texto 1.
ESIIFórum de DiscussãoPostar uma síntese das principais ideias de um dos textos apresentados e propor uma questão, baseada na síntese que você realizou, direcionada aos colegas.
ESIIIFórum de DiscussãoApós a leitura do texto “Ensino-aprendizagem de Matemática através da construção de materiais didáticos”, de autoria de Leonardo Guerini de Souza os alunos iriam postar comentários acerca do mesmo e responder a seguinte questão: Qual a relevância do uso de materiais didáticos para o ensino e aprendizagem da Matemática?
ESIIIFórum de DiscussãoApós a leitura de um artigo “Análise de livros didáticos”, de autoria de Carine Pedroso da Rosa, Lizemara Costa Ribas e Milene Barazzutti os alunos iriam postar seus comentários acerca do trabalho e, em seguida, discuta/poste suas dúvidas/contribuições sobre o Roteiro de Análise de Livro Didático proposto na página 5 do artigo.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Essa opção metodológica adotada pela professora relativa à escolha da ferramenta fórum de discussão para inserir o aluno na discussão de temáticas relacionadas ao estágio, para além da ideia dessa ferramenta ser um espaço de discurso colaborativo, em que se possibilita interação entre os atores, que por sua vez podem “participar da discussão com um tempo próprio para reflexão e resposta” (BAIRRAL, 2007, p.71), promove um espaço de dialogicidade que na perspectiva de Freire (2013) se constitui no princípio fundamental da relação entre educador e educando.

Partindo do pressuposto de que a dialogicidade é um dos elementos essenciais para um processo educacional mais rico e dinâmico, novamente constatamos que as funcionalidades e utilização dos ambientes virtuais de aprendizagem ultrapassam a dimensão de meros repositórios de conteúdos e atividades, isso porque, antes, “possuem o diferencial de ser um espaço de criação colaborativa e de socialização entre aqueles que partilham deste espaço” (SILVA, ALONSO e MACIEL, 2014, p. 223).

Essa promoção da colaboração, interação e dialogicidade, possibilitada pelo fórum de discussão, indica as disciplinas de estágio com uma abordagem de EaD, denominada por Valente (2010) do “estar junto virtual”, em que professor estabelece uma relação de criar circunstâncias que auxiliem o aluno na construção do seu conhecimento e “isso acontece porque o professor tem a chance de participar das atividades de planejamento, observação, reflexão e análise do trabalho que o aluno está realizando” (p. 34). Além do fato de que a partir das possibilidades dos fóruns de discussão estabelecer interação entre os próprios alunos “cria-se a oportunidade de formação de uma rede, cada um contribuindo com seu potencial e cooperando entre si” (p. 35).

A partir dessas contribuições e possibilidades elencadas com a utilização desse artefato interacional, dialogamos com os pressupostos de Belloni (2010) de que, ao utilizar as TIC como ferramentas de aprendizagem, “os futuros professores aprendem a lidar com elas de modo competente e criativo, assegurando sua integração em suas práticas pedagógicas na educação básica”(p. 253) contribuindo para o desenvolvimento de sua identidade como profissional.

A aba “Documentação de Estágio”(Figura 4),como o próprio nome indica,continham os modelos de documentos a serem preenchidos nos estágios. Nessa aba, nas três disciplinas, foram criadas três pastas – documentação a ser preenchida pelo estagiário, documentação a ser preenchida pelo professor supervisor e documentação a ser preenchida pela Direção da Escola. Tais pastas continham a relação de documentos exigidos em cada um dos estágios e que deveriam ser preenchidos pelos estagiários, professores supervisores e direção da escola, além de orientações específicas relativas ao preenchimento dos documentos. Especificamente na disciplina ESI, outras duas pastas foram criadas de forma a dar subsídio ao estagiário para a coleta de dados relativa ao levantamento sobre a concepção dos alunos e professores em relação aos conteúdos de Matemática, denominadas: sugestão de questionário a ser preenchido pelos alunos e sugestão de roteiro de entrevista com o professor.Essa aba caracteriza uma parte um tanto burocrática dos estágios,porém necessárias tanto no sentido de registros e organização dos documentos dos estágios, bem como da oficialização da realização dos estágios perante as escolas, à UFVJM e a outros setores se fizerem necessários.

Figura 4 – Mapa Aba “Documentação de Estágio”.

Fonte: AVA da disciplina ESI.

A próxima aba das disciplinas, denominada “Relatório de Observação” (Figura 5) no ESI e “Relatório de Estágio” no ESII e ESIII, contém orientações a respeito da elaboração dos relatórios de estágio, conforme previsto no Manual do Estágio. Ao final dessas abas, existem dois espaços destinados ao envio dos relatórios, parcial e final, para a professora da disciplina. Entendemos essa aba destinada ao processo de desenvolvimento dos relatórios de estágio, como parte de dois processos. Por um lado, é parte do processo de avaliação das disciplinas, momento em que a professora irá avaliar o trabalho desenvolvido pelo aluno, sua capacidade de síntese, organização e apresentação de todas as atividades e processos vivenciados pelos alunos durante o estágio. Por outro, é parte de um processo de autoavaliação do aluno, momento de refletir o que foi feito, repensar e avaliar seu desenvolvimento, postura e atitudes desenvolvidas ao longo do estágio. Assim sendo, poderíamos dizer que esse processo possibilita ao aluno fazer uma “análise reflexiva” dos estágios, possibilitando espaços de formação de um professor “prático reflexivo” (TARDIF, 2010) e, mais além, a constituição de um “professor crítico-reflexivo” (PIMENTA, 2012), sendo essa uma das funções do estágio.

Figura 5 – Mapa Aba “Relatório de Observação”.

Fonte: AVA da disciplina ESI.

O Manual do Estágio prevê como uma de suas atividades obrigatórias a elaboração e realização de um “Plano de Ação” (Figura 6). Nesta atividade, o aluno deverá desenvolver um “Plano de Ação” que tenha como alvo um aspecto observado do contexto da Escola Campo de Estágio que seja passível de ação/intervenção pedagógica, como por exemplo: planejamentos de aulas e/ou materiais didáticos e/ou oficinas específicas para trabalhar dificuldades identificadas. O planejamento da ação é realizado de forma conjunta entre o Professor Supervisor e o estagiário após as observações feitas pelo estagiário nas séries finais do Ensino Fundamental e nas séries do Ensino Médio no ESI. Posteriormente, o plano de ação desenvolvido é postado em um espaço específico na aba “Plano de Ação” para análise, avaliação e ponderações do Professor Orientador.

Figura 6 – Mapa Plano de Ação

Fonte: AVA da disciplina ESI.

Já no ESII, o estagiário, juntamente com o Professor Supervisor, deverá colocar em prática o planejamento realizado, ou seja, implementar o “Plano de ação” desenvolvido no ESI. Após o desenvolvimento desta ação prevista, o aluno deverá postar, com riqueza de detalhes, todo o desenvolvimento da implementação do “Plano de Ação” em um espaço destinado a essa atividade na aba “Implementação do Plano de Ação” (Figura 7) do ESII.

Figura 7 – Mapa Aba Implementação do Plano de Ação

Fonte: AVA da disciplina ESII.

No ESIII, o estagiário terá a oportunidade de implementar um projeto de trabalho relacionado a Educação Matemática, com orientações previstas na aba “Projeto de Trabalho” (Figura 8) da referida disciplina. Nesta etapa,o estagiário deverá desenvolver e implementar esse projeto,podendo ser atividades de acompanhamento pedagógico, de monitoria, atividades com alunos de inclusão ou oficinas que tenham como alvo um tema de Matemática com a necessidade de uma ação/intervenção pedagógica, identificado nas observações realizadas.

Figura 8 – Mapa Aba “Projeto de Trabalho”.

Fonte: AVA da disciplina ESIII.

Observa-se que essas atividades relacionadas à elaboração e realização de um “Plano de Ação” e um “Projeto de Trabalho” vão de encontro aos pressupostos de Pimenta e Gonçalves (1992) de que a finalidade do estágio é propiciar ao aluno uma aproximação à realidade na qual irá atuar e a partir desta realidade fazer um movimento de reflexão. Assim, tais atividades aliadas à abordagem metodológica adotada pela professora, são fatores contribuintes na formação inicial de futuros formadores. 

Dessa forma, ao identificar fragilidades passíveis de algum tipo de ação ou intervenção pedagógica na sala de aula ou na Escola durante a observação do estágio, o aluno em conjunto com o Professor Supervisor, é levado a fazer uma reflexão sobre as questões observadas e posteriormente deverá pensar em uma ação que possa contribuir, em um caráter específico, para aquela realidade vivenciada em sala de aula ou na Escola.Tal experiência cria oportunidades de uma formação baseada numa “epistemologia da prática” proposta por Schön (1992), que, de acordo com os estudos de Pimenta (2012), é uma formação apoiada “na valorização da prática profissional como momento de construção de conhecimento por meio de reflexão, análise e problematização dessa prática e a consideração do conhecimento tácito, presente nas soluções que os profissionais encontram em ato” (p.48).

Ao elaborar e implementar o “Plano de Ação” ou o “Projeto de Trabalho”, é possibilitado ao aluno ir “ao encontro” de situações reais, que a partir de seu olhar crítico, constrói uma proposta com intuito de enriquecer e contribuir para aquela realidade, naquele tempo, naquele espaço. Sendo esse olhar crítico, de acordo com Tardif (2010), um ingrediente essencial na formação de um prático “reflexivo” capaz de analisar situações de ensino e as reações dos alunos, como também as suas, e capaz de modificar, ao mesmo tempo, seu comportamento e os elementos da situação, a fim de alcançar os objetivos e ideais por ele fixados. (p. 289).

Seguindo essa premissa do estágio como espaços de formação de um professor prático reflexivo, e novamente amparados pela abordagem do “estar junto virtual”, outro espaço no ambiente virtual é desenhado nas disciplinas. Nas três disciplinas, uma aba denominada “Momentos Vividos” (Figura 9), foi elaborada pela professora para que os estagiários tivessem um espaço específico para compartilharem os momentos vividos em sua trajetória de estágio. Para isso, os alunos deveriam postar no fórum “Comigo aconteceu assim…” suas vivências nos estágios, ou seja, questões do dia-a-dia do estágio, que tenham surpreendido positiva ou negativamente o estagiário nas situações que envolvem a realidade de uma sala de aula. Um exemplo desta interação é apresentado a seguir (Figura 10), como sendo a primeira participação no Fórum “Comigo aconteceu assim…” do ESI. Na ocasião, o Estagiário 3 da pesquisa apresenta sua primeira impressão relacionada à escola, aos alunos e aos seus sentimentos relacionados ao estágio. Em seguida, a professora realiza suas intervenções.

Assim, novamente identificamos elementos da disciplina que contribuem para a formação de um futuro professor. Por um lado, no fórum, o aluno tem a oportunidade de partilhar suas vivências durante toda a execução do estágio, ou seja, oportuniza um momento de reflexão do que foi realizado e do que está em curso. Por outro lado, o aluno acompanha, dialoga e interage com as vivências dos outros colegas e todo esse processo podendo ser acompanhado e passível de intervenções pelos outros sujeitos presentes no ambiente, ou seja, professora e tutora.

Por fim, na aba “Biblioteca da Disciplina” foram disponibilizados materiais de apoio ao aluno de conteúdos relevantes relacionados ao estágio nas três disciplinas. E na disciplina de ESIII, por ter parte de sua carga horária destinada ao TCC, foi criada a aba “TCC”, contendo somente orientações burocráticas do desenvolvimento do trabalho, como modelo, carta de aceite de orientação e prazos para entrega e defesa; pois a orientação do TCC é feita por um docente efetivo da UFVJM, sendo a professora de estágio juntamente com a Coordenação de TCC da DEAD, responsáveis somente pela organização dos documentos e prazos já ditos.

A partir de todas as considerações já mencionadas, na tabela a seguir, apresentamos um panorama da análise das disciplinas de estágios, consistindo no registro e descrição da primeira oferta das disciplinas de estágios aos alunos do Curso de Licenciatura de Matemática, modalidade a distância, da UFVJM.

Figura 9 – Mapa Aba Momentos Vividos

Fonte: AVA da disciplina ESIII.

Figura 10 – Primeira participação no Fórum “Comigo aconteceu assim…” do ESI.

Fonte: AVA da disciplina ESI.

Aba – ObjetivoArtefato
interacional
Proposta Pedagógica
Início
Apresentar algumas orientações preliminares específicas a cada um dos estágios e estabelecer um canal de comunicação contínua entre alunos, professora e tutora.
C:\Users\EDUARDO\Desktop\cht.jpgPermitir aos interlocutores discutir um tema, afinar estratégias ou tirar dúvidas em tempo real, através de um agendamento prévio.
Início
Apresentar algumas orientações preliminares específicas a cada um dos estágios e estabelecer um canal de comunicação contínua entre alunos, professora e tutora.
C:\Users\EDUARDO\Documents\UFVJM\Doutorado\UNR\Trabalhos\Projeto\Arquivos por partes da tese\Documentos\Telas Moodle\cafe com o professor.jpg
C:\Users\EDUARDO\Documents\UFVJM\Doutorado\UNR\Trabalhos\Projeto\Arquivos por partes da tese\Documentos\Telas Moodle\café com os colegas.jpg
Possibilitar aos alunos conhecer/interagir com os colegas/professora/tutores trocando informações sobre a disciplina, as dificuldades encontradas, novas experiências ou formar grupos de trabalho.
Início
Apresentar algumas orientações preliminares específicas a cada um dos estágios e estabelecer um canal de comunicação contínua entre alunos, professora e tutora.
C:\Users\EDUARDO\Documents\UFVJM\Doutorado\UNR\Trabalhos\Projeto\Arquivos por partes da tese\Documentos\Telas Moodle\fórum notícias.jpgDivulgar datas, horários e informações importantes da disciplina.
Primeiros Passos
Apresentar o plano de ensino das disciplinas, o manual do estágio e a carta de apresentação do estagiário.
Página e Arquivos
C:\Users\EDUARDO\Documents\UFVJM\Doutorado\UNR\Trabalhos\Projeto\Arquivos por partes da tese\Documentos\Telas Moodle\Primeiros Passos.jpg
Apresentar a equipe, ementa da disciplina, objetivos do curso, cronograma da disciplina, distribuição de frequência e avaliações, além de conter os arquivos “Carta de Apresentação” – documento destinado à apresentação do estagiário à Escola campo de estágio; e o “Manual do Estágio”.
Preparando-se para o Estágio
Espaço destinado à discussão de textos e temas selecionados pela professora com o objetivo de preparar os alunos para o Estágio Supervisionado.


Pasta e arquivos
C:\Users\EDUARDO\Documents\UFVJM\Doutorado\UNR\Trabalhos\Projeto\Arquivos por partes da tese\Documentos\Telas Moodle\Material.jpg
Disponibilizar arquivos (em diversos formatos) com temáticas voltadas ao estágio, para consulta ou download dos alunos.
Preparando-se para o Estágio
Espaço destinado à discussão de textos e temas selecionados pela professora com o objetivo de preparar os alunos para o Estágio Supervisionado.


C:\Users\EDUARDO\Desktop\forum dis.jpgApós a leitura e estudo dos textos disponibilizados pela professora sobre temas relativos ao estágio, os alunos deveriam discutir, debater e partilhar suas ideias no fórum acerca de questões e atividades propostas.
Preparando-se para o Estágio
Espaço destinado à discussão de textos e temas selecionados pela professora com o objetivo de preparar os alunos para o Estágio Supervisionado.


C:\Users\EDUARDO\Desktop\fórum dúvidas.jpgAtividade proposta somente no ESI para que os alunos pudessem postar dúvidas, sendo um fórum destinado ao Manual do Estágio e outro destinado a dúvidas relativas ao ES no curso de Matemática da UFVJM.
Documentação de Estágio
Disponibilizar os modelos de todos os documentos obrigatórios a serem preenchidos nos estágios.

Pastas e arquivos
C:\Users\EDUARDO\Desktop\Curso 20141 - EADMAT018 - ESTÁGIO SUPERVISIONADO I - Google Chrome.jpg
Disponibilizar os modelos dos documentos exigidos em cada um dos estágios, a ser preenchidos pelo estagiário, pelo professor supervisor e pela Direção da Escola. Além de orientar o preenchimento desses documentos. Especificamente no ESI, outras duas pastas foram criadas de forma a dar subsídio ao estagiário para a coleta de dados relativa ao levantamento sobre a concepção dos alunos e professores em relação aos conteúdos de Matemática.
Relatórios de Observação (ESI)
Relatórios de Estágio (ESII e ESIII)
Orientar os alunos na elaboração dos relatórios de estágio, conforme exigências previstas no Manual do Estágio.
C:\Users\EDUARDO\Documents\UFVJM\Doutorado\UNR\Trabalhos\Projeto\Arquivos por partes da tese\Documentos\Telas Moodle\envio relat.jpgPermitir que os alunos submetam os textos e anexos produzidos na confecção do Relatório Parcial e do Relatório Final dos estágios, para análise, avaliação e orientações necessárias. 
Plano de Ação (ESI)
Elaborar um “Plano de Ação” após observações realizadas no ESI.
C:\Users\EDUARDO\Documents\UFVJM\Doutorado\UNR\Trabalhos\Projeto\Arquivos por partes da tese\Documentos\Telas Moodle\plano ação.jpgO aluno irá postar o “Plano de Ação” que foi elaborado relativo a algum aspecto observado do contexto da Escola Campo de Estágio que seja passível de ação/intervenção pedagógica. 
Implementação do Plano de Ação (ESII)
Colocar em prática o planejamento realizado no ESI, ou seja, o aluno irá implementar o “Plano de Ação”
C:\Users\EDUARDO\Documents\UFVJM\Doutorado\UNR\Trabalhos\Projeto\Arquivos por partes da tese\Documentos\Telas Moodle\implentação ação.jpgApós o desenvolvimento e execução do “Plano de Ação”, o aluno irá postar, com riqueza de detalhes, todo o desenvolvimento da implementação desta ação.
Projeto de Trabalho (ESIII)
Elaborar e executar um projeto de trabalho relacionado a Educação Matemática. 
C:\Users\EDUARDO\Documents\UFVJM\Doutorado\UNR\Trabalhos\Projeto\Arquivos por partes da tese\Documentos\Telas Moodle\projeto trabalho.jpgO estagiário deverá desenvolver e implementar um projeto, podendo ser atividades de acompanhamento pedagógico, de monitoria, atividades com alunos de inclusão ou oficinas que tenham como alvo um tema de Matemática com a necessidade de uma ação/intervenção pedagógica, identificado nas observações realizadas.
Momentos Vividos
Espaço destinado ao compartilhamento de experiências vividas ao longo dos estágios.
C:\Users\EDUARDO\Documents\UFVJM\Doutorado\UNR\Trabalhos\Projeto\Arquivos por partes da tese\Documentos\Telas Moodle\comigo aconteceu assim.jpgNeste fórum, os estagiários teriam a oportunidade de compartilhar os momentos vividos em sua trajetória de estágio, questões do dia-a-dia do estágio, que tenham surpreendido positiva ou negativamente o estagiário nas situações que envolvem a realidade de uma sala de aula.
Biblioteca da Disciplina
Disponibilizar materiais de apoio aos estagiários.
ArquivosPossibilitar ao estagiário consulta ou download a vários arquivos com conteúdos relevantes relacionados ao estágio nas três disciplinas.
TCC
Disponibilizar modelo do TCC, bem como prazos e normas para elaboração e apresentação do trabalho.
ArquivosPermitir que os estagiários consultem e se informem sobre as orientações e modelos relativas ao desenvolvimento do TCC, para posterior elaboração e apresentação do mesmo.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Considerações Finais

A partir das análises das disciplinas presentes nesta pesquisa, de acordo com objetivos pedagógicos e escolhas realizadas pela professora, foi identificada a utilização de alguns recursos e artefatos interacionais que o Moodle disponibiliza para publicação, interação e avaliação. O arquivo, por exemplo, foi utilizado para disponibilizar arquivos para consulta e/ou download dos alunos, a pasta para armazenamento de arquivos e a página que exibiu uma página – tipo WEB – contendo textos e links de sites/vídeos. O fórum foi utilizado para promoção de espaços de discussão assíncrona sobre temas escolhidos ou para postagens de dúvidas específicas dos alunos. Por sua vez, o chat foi utilizado como canal de comunicação nos espaços denominados “café”, possibilitando conversação entre os participantes em tempo real; e tarefas para que os alunos enviassem o plano de ação e relatórios para avaliação da professora e tutora. 

Considerando a grande variedade de recursos e ferramentas que o ambiente virtual Moodle dispõe alguns dos artefatos interacionais não foram, todavia utilizados, seja por opção metodológica da professora ou por não atenderem algum objetivo pedagógico das disciplinas, como, por exemplo, a wiki, o questionário, o glossário e o diário.  Assim, percebe-se que o desenvolvimento e as “escolhas” que nortearam as disciplinas de estágio no ambiente, foram de autonomia da professora que, diante da variedade dos artefatos interacionais existentes no Moodle, realizou suas escolhas tendo em vista sua opção metodológica. 

Pode-se dizer então que o desenvolvimento das disciplinas é realizado de acordo com a visão/conhecimento teórico e metodológico do professor, e, também,com seus conhecimentos relativos às tecnologias e ferramentas do ambiente virtual. Em relação a essas possibilidades de “escolhas” dos artefatos interacionais e as opções metodológicas que podem ser adotadas em um ambiente virtual, Silva, Alonso e Maciel (2014) indicam justamente que essa seria a principal vantagem de um AVA, a de “apoiar diferentes práticas pedagógicas, flexibilizando caminhos e trajetórias de estudos e podendo suportar, simultaneamente, distintos modelos pedagógicos e perfis de alunos” (p. 16).

Nesse sentido, a partir de todas as concepções apresentadas relacionadas ao ambiente virtual de aprendizagem e de acordo com as opções metodológicas, bem como os artefatos interacionais adotados pela professora no desenvolvimento das disciplinas, para além de uma abordagem de EaD sustentada por Valente (2010) como o “estar junto virtual” foram identificadas (nas disciplinas) potencialidades relacionadas à formação inicial do futuro professor. Tais potencialidades foram percebidas através da promoção de espaços e atividades que favorecem a formação do professor crítico-reflexivo e da possibilidade de reflexão e interação sobre a utilização das tecnologias, contribuindo para a construção de sua identidade profissional.


1. Moodle – “Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment”, um software livre, de apoio à aprendizagem, executado num ambiente virtual.
2. Escolas em que são desenvolvidas as atividades previstas pelo aluno nas disciplinas, como por exemplo, análise de documentos, observações, regência e projetos.
3.Ferramenta interativa de construção de uma base de conhecimentos. Tem como resultado um texto colaborativo e construído de forma assíncrona pelos participantes de uma disciplina.
4. É um conjunto de questões de vários formatos. O mesmo é criado pelo professor, respondido pelo aluno e corrigido automaticamente pelo sistema (com base no gabarito previamente definido pelo professor). Pode configurar-se como uma atividade de auto-avaliação, uma lista de exercícios para verificação de aprendizagem, um teste rápido ou ainda uma prova virtual.
5. Possibilita criar uma lista de termos e respectivas definições, envolvendo o conhecimento partilhado e a colaboração sobre determinado tema.
6.É uma ferramenta interessante para qualquer atividade reflexiva. O professor pode propor questões para reflexão ou deixar que os alunos façam a sua narrativa livremente. Os alunos poderão em qualquer momento continuar ou alterar a sua reflexão e o professor pode, se o entender fazer comentários, sendo que são sempre privados (apenas o aluno autor do diário e o respectivo docente têm acesso ao seu conteúdo).

Referências

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FRANCO, L. R. H. R.; BRAGA, D. B.; RODRIGUES, A. EaD Virtual: Entre Teoria e Prática. 2. ed. Assis, SP: Triunfal Gráfica e Editora, 2011.FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 47. ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 2013.

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M.E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo, EPU, 1986.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Fundamental. Referenciais para a formação de professores. Brasília, DF: Autor, 1999.

MIZUKAMI, M. G. N., REALI, A. M. M. (Org.). Aprendizagem Profissional da Docência: Saberes, Contextos e Práticas. São Carlos, SP: EdUFSCar, 2002. 

NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In A. Nóvoa (Coord.) Os Professores e a sua Formação (pp.15-33). 3. ed. Lisboa (Portugal): Publicações Dom Quixote, 1997.

PIMENTA, S. G. (Org.). Saberes Pedagógicos e Atividade Docente (pp.15-38). 8. ed. São Paulo: Cortez, 2012.

PIMENTA, S. G.; GONÇALVES, C. L. Revendo o Ensino de 2º Grau: Propondo a Formação de Professores. 2. ed. São Paulo, SP: Cortez, 1992.

PPC Matemática, 2014. Disponível em: <http://www.ead.ufvjm.edu.br/wp-content/uploads/2015/12/projeto-pedogagico-matematica.pdf>. Acesso em:05 maio 2016.

PRIMO, A. Interação mútua e reativa: uma proposta de estudo. (Revista da Famecos, nº12, pp. 81-92), 2000.

RIANI, D. C. Formação do Professor: a contribuição dos estágios supervisionados. São Paulo: LÚMEN, 1996.

SCHÖN, D. A. Formar professores como profissionais reflexivos. In NÓVOA, A. (Coord.). Os professores e sua formação. Lisboa, Portugal: Dom Quixote, 1992.

SILVA, D. G.; ALONSO, K. M.; MACIEL, C. Um olhar interno para os recursos do Moodle: algumas considerações sobre participação e interação. In: REALI, A. M. M. R.; MILL, D. (Org.). Educação a distância e tecnologias digitais: reflexões sobre sujeitos, saberes, contextos e processos. (pp. 214-227). São Carlos, SP: EdUFSCar, 2014.

TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional, 11. ed.. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

VALENTE, J. A. O papel da interação e as diferentes abordagens pedagógicas de Educação a Distância. In: MILL, D.; PIMENTEL, N. M. (Org.). Educação a distância: desafios contemporâneos (pp. 25-41). São Carlos, SP: EdUFSCar, 2010.


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2UFOP/CEAD/ mcvila@cead.ufop.br