POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS DO ESTADO DO PARANÁ: UM OLHAR PARA O COMPONENTE CURRICULAR EDUCAÇÃO FÍSICA NO PERÍODO PANDÊMICO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8265809


Gustavo Laércio de Sá Faxina
Telma Adriana Pacifico Martineli


RESUMO:

O objetivo deste artigo é contextualizar os documentos educacionais que regem a disciplina de Educação Física perante as políticas públicas educacionais, e apresentar a organização dos conteúdos oferecidos pelo Estado do Paraná no período da pandemia. O estudo tem caráter qualitativo, uma pesquisa descritiva, e configura-se em uma análise de documentos educacionais existentes no Estado do Paraná. Conclui-se que no período pandêmico, devido à grande demanda de conteúdos programáticos para serem trabalhados nas aulas de Educação Física, os professores tiveram alguns desafios, e isso tem limitado o ensino e aprendizagem dos alunos(as) no Ensino Fundamental.

Palavras-chave: Políticas Públicas; Educação Física; Pandemia.

1. INTRODUÇÃO

Antes de adentrar no contexto das políticas públicas educacionais e do componente curricular Educação Física, é preciso, primeiro, destacar a definição de políticas públicas, que são entendidas como o “Estado em ação”, ou seja, o estado implantando um projeto de governo, através de programas e ações voltadas para setores específicos da sociedade (HÖFLING, 2001). A etimologia da palavra, e o termo políticas públicas advém do desenvolvimento a partir do trabalho do Estado junto a participação do povo nas decisões.

Portanto, as políticas públicas são aqui compreendidas como as de responsabilidade do Estado – quanto à implementação e manutenção a partir de um processo de tomada de decisões que envolve órgãos públicos e diferentes organismos e agentes da sociedade relacionados à política implementada (HÖFLING, 2001).

As políticas públicas educacionais também são responsabilidade do Estado, e, é, tudo aquilo que o governo faz ou deixa de fazer para a Educação. Pois, é importante salientar que as políticas públicas educacionais, não somente estão relacionadas às questões educacionais para crianças e adolescentes nas escolas, mas também, na construção da sociedade, e influenciam a vida de todas as pessoas. São elas que regem os documentos educacionais, como a Base Nacional Comum Curricular em âmbito geral; e os referenciais curriculares específicos dos estados, que servem de orientação para os professores e toda a gestão escolar.

No ano de 2020, no contexto da pandemia, ocorreram grandes mudanças na organização educacional. Os estados e os municípios criaram estratégias para minimizar as consequências das suspensões das aulas presenciais, a partir do ensino remoto emergencial (ERE).

No estado do Paraná, por meio da Deliberação n. 01/2020 (CEE/PR), autorizou a oferta de atividades não presenciais, com exceção à Educação Infantil, ação referendada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) no Parecer CNE/CP n. 5/2020, homologado em 1° de junho (BRASIL, 2020), o qual na época ofereceu diretrizes, inconclusivas, para a reorganização do calendário escolar de 2020. Portanto, as escolas passaram a implementar os documentos, a elaborar currículos, e passaram por um processo de adaptação distantes dos ambientes escolares.

Os professores passaram a trabalhar em suas residências, mediando os diferentes componentes curriculares obrigatórios (Matemática, Português, Geografia, História, Educação Física, entre outros) através dos meios digitais tecnológicos, e dos conteúdos oferecidos pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná (SEED) na Plataforma de Registro de Classe Online (LRCO), e também através da transmissão via satélite e do aplicativo da Aula Paraná.

A Educação Física, um dos componentes curriculares da educação básica é vista como uma prática social e pedagógica que trata das manifestações da cultura corporal expressas nas lutas, danças, ginásticas, jogos, brincadeiras e esportes (SOARES, et al, 1992). No período pandêmico, as aulas de Educação Física que ocorriam predominantemente nas instalações esportivas, com intensa movimentação e contato corporal entre os alunos(as), foram suspensas, os mesmos passaram a não vivenciar as práticas corporais pautadas no movimento. A mudança abrupta para o ensino remoto exigiu uma rápida adaptação dos professores para garantir a continuidade do ensino, assim os docentes tiveram que ajustar as atividades pedagógicas e as estratégias metodológicas para promover o ensino e a aprendizagem dos alunos durante a pandemia.

Em viés da organização da Educação do Estado do Paraná, o objetivo deste artigo é contextualizar os documentos educacionais que regem a disciplina de Educação Física perante as políticas públicas educacionais, e apresentar a organização dos conteúdos oferecidos pelo Estado, para o trabalho dos professores nos anos finais do Ensino Fundamental no período pandêmico.

Acredito, que esta pesquisa é de grande relevância, e refere-se a organização da disciplina de Educação Física perante os documentos educacionais exigidos pelo Estado do Paraná, além da organização dos conteúdos programáticos para os professores na plataforma digital de registro no período pandêmico. Isso caracteriza-se algumas mudanças no trabalho dos profissionais da educação que tiveram que lidar com as dificuldades, enfrentamentos e desafios no período extraordinário pandêmico.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICO

O estudo tem caráter qualitativo, uma pesquisa descritiva, que configura-se em uma análise de documentos educacionais existentes no Estado do Paraná, e envolveu levantamentos, aos quais, foram desenvolvidos a partir dos estudos teóricos, bibliográficos e documentais. De acordo com Gil (2002) a pesquisa documental apresenta uma série de vantagens, relata que os documentos consistem em uma fonte rica e instável de dados, e podem ser interpretados ao longo dos tempos, tornam-se a mais importante fonte de dados em qualquer pesquisa de natureza histórica. Entretanto, significa, que os documentos também podem ser alterados e readequados no decorrer do tempo, como aconteceu no período pandêmico, com a suspensão das aulas presencias e a predominância das aulas remotas.

Para a análise foram investigados os seguintes documentos: a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017); o Referencial Curricular do Paraná (PARANÁ, 2018); e o Currículo Priorizado da Rede Estadual de Ensino do Paraná e o Plano Docente (PARANÁ, 2021), no que diz respeito as orientações e os conteúdos da disciplina de Educação Física nos anos finais do Ensino Fundamental, articulando com o material oferecido e disponibilizado pela Secretária de Educação do Estado do Paraná (SEED-PR) através da Plataforma de Registro de Classe Online (LRCO).

Para atender aos objetivos, subdividimos o estudo em 3 (três) seções, com as seguintes categorias de análise: 1) As articulações dos documentos educacionais em nível nacional e estadual para o componente curricular Educação Física, 2) Os fundamentos dos documentos educacionais para o componente curricular Educação Física; e, por fim, 3) A organização dos conteúdos programáticos do componente curricular Educação Física para os anos finais do Ensino Fundamental no período pandêmico.

No decorrer das discussões, foram apresentados quadros organizados, segundo a BNCC, o Referencial Curricular do Paraná e o Currículo Priorizado do Estado do Paraná, referente ao material exigido pela SEED no ano 2020-2021, no que configurou o ensino remoto emergencial para o componente curricular Educação Física no Ensino Fundamental no Estado do Paraná.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

AS ARTICULAÇÕES DOS DOCUMENTOS EDUCACIONAIS EM NÍVEL NACIONAL E ESTADUAL PARA O COMPONENTE CURRICULAR DE EDUCAÇÃO FÍSICA

No documento da BNCC a disciplina de Educação Física como componente curricular situa-se na área do conhecimento de linguagens no Ensino Fundamental, juntamente com as disciplinas de Língua Portuguesa, Língua estrangeira e Arte. A finalidade é

[…] possibilitar aos estudantes participar de práticas de linguagem diversificadas, que lhes permitam ampliar suas capacidades expressivas em manifestações artísticas, corporais e linguísticas, como também seus conhecimentos sobre essas linguagens, em continuidade às experiências vividas na Educação Infantil (BRASIL, 2017, p. 59).

Diante do compromisso com a formação estética, sensível e ética, a Educação Física, aliada aos demais componentes curriculares, assume compromisso claro com a qualificação para a leitura, a produção e a vivência das práticas corporais (BRASIL, 2017). Nesta perspectiva, há três elementos fundamentais comuns às práticas corporais: “movimento corporal como elemento essencial; organização interna (de maior ou menor grau), pautada por uma lógica específica; e produto cultural vinculado com o lazer/entretenimento e/ou o cuidado com o corpo e a saúde” (BRASIL, 2017, p. 209).

Na Base, a área de linguagens apresenta estudos atribuídos aos conteúdos linguísticos, corporais e artísticos de diferentes culturas, com o objetivo de contribuir para o acesso de crianças, jovens e adultos a ampliação do seu potencial e conhecimento das diferentes culturas, seja na compreensão e produção de textos e discursos nas disciplinas de línguas, como dos conhecimentos referentes à arte, estética, e por fim, não menos importante, as práticas corporais componente da Educação Física (BRASIL, 2017). Trata-se dos conhecimentos relativos à atuação dos sujeitos em práticas de linguagem, em diferentes esferas da comunicação humana, das mais cotidianas às mais formais e elaboradas.

A Educação Física no Ensino Fundamental procura garantir aos alunos(as) oportunidades de apreciação e produção em diferentes práticas corporais,

[…] visando à compreensão de suas origens; dos modos de aprendê-los e ensiná-las, de veiculação de valores, condutas, emoções e dos modos de viver e perceber o mundo; da reflexão crítica sobre padrões de beleza, exercício, desempenho físico e saúde; das relações entre as mídias, o consumo e as práticas corporais, e da presença de preconceitos, estereótipos e marcas identitárias (BRASIL, 2017, p. 475).

Os conteúdos que compõe a BNCC (2017) no Ensino Fundamental na disciplina de Educação Física, estão divididos em seis unidades temáticas: 1) jogos e brincadeiras, 2) danças, 3) esportes, 4) ginásticas (demonstração, condicionamento físico e conscientização corporal), 5) lutas e 6) práticas corporais de aventura. Todas essas unidades podem ser objeto do trabalho pedagógico em qualquer etapa e modalidade de ensino.

Como atividade dinâmica que contribui na formação dos sujeitos, o objetivo da Educação Física no Ensino Fundamental é o acesso dos estudantes as práticas corporais, ao qual, propicia a ascensão de conhecimentos e experiências particulares. Desse modo: “Nas aulas, as práticas corporais devem ser abordadas como fenômeno cultural dinâmico, diversificado, pluridimensional, singular e contraditório” (BRASIL, 2017, p. 209).

No Referencial Curricular do Paraná, os objetos de conhecimento e respectivos objetivos de aprendizagem estão organizados em seis unidades temáticas que serão abordadas durante os anos do Ensino Fundamental. Conforme a BNCC (BRASIL, 2017).

O Referencial segue a estrutura da BNCC trazendo para a realidade paranaense discussões sobre os princípios e direitos basilares dos currículos no estado e suscitando a reflexão sobre a transição entre as etapas da Educação Infantil para o Ensino Fundamental e entre os anos iniciais e os finais deste, bem como sobre a avaliação como momento de aprendizagem.

Embora todos os componentes curriculares da BNCC sejam disciplina, o termo é usado pelo MEC em função de que, além dos obrigatórios, as instituições e redes podem incluir em suas propostas pedagógicas componentes que tragam elementos de várias disciplinas ou tenham outras especificidades.

Por meio da articulação entre as unidades temáticas e os respectivos objetos de conhecimento e objetivos de aprendizagem, a Educação Física deverá garantir aos estudantes direitos de aprendizagem específicos durante todo o Ensino Fundamental.

Quadro 1. As dez competências e objetivos de aprendizagem da Educação Física de acordo com os documentos.

1. Compreender a origem da cultura corporal de movimentos e seus vínculos com a organização da vida coletiva e individual.
2. Planejar e empregar estratégias para resolver desafios e aumentar as possibilidades de aprendizagem das práticas corporais, além de se envolver no processo de ampliação do acervo cultural nesse campo.
3. Refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização das práticas corporais e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais.
4. Identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza e estética corporal, analisando, criticamente, os modelos disseminados na mídia e discutir posturas consumistas e preconceituosas.
5. Identificar as formas de produção dos preconceitos, compreender seus efeitos e combater posicionamentos discriminatórios em relação às práticas corporais e os seus participantes.
6. Interpretar e recriar os valores, os sentidos e os significados atribuídos às diferentes práticas corporais, bem como aos sujeitos que delas participam.
7. Reconhecer as práticas corporais como elementos constitutivos da identidade cultural dos povos e grupos.
8. Usufruir das práticas corporais de forma autônoma para potencializar o envolvimento em contexto de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da saúde.
9. Reconhecer o acesso às práticas corporais como direito do cidadão, propondo e produzindo alternativas para sua realização no contexto comunitário.
10. Experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo.

Fonte: Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017) e Referencial Curricular do Paraná (PARANÁ, 2020).

É importante salientar que a organização das unidades temáticas se baseia na compreensão de que o lúdico pode ser enfatizado em todas as manifestações da cultura corporal, ainda que essa não sejam a única finalidade da Educação Física na escola.

Ao experienciar brincadeiras, danças, lutas, esportes, dentre outras manifestações, para além da ludicidade, os estudantes se apropriam das lógicas intrínsecas a essas manifestações (regras, códigos, rituais, sistemáticas de funcionamento, organização tática etc.), assim como estabelecem relações entre si e com a sociedade por meio das representações e dos significados que lhe são atribuídos (PARANÁ, 2019).

Por essa razão, a delimitação dos objetivos de aprendizagem privilegia oito dimensões de conhecimento inter-relacionadas, são elas: experimentação; uso e apropriação; fruição; reflexão sobre a ação; construção de valores; análise; compreensão, e protagonismo comunitário.

Com o propósito de contribuir para a elaboração e reelaboração dos currículos e das propostas pedagógicas curriculares da educação básica das redes de ensino do Estado do Paraná, apresentam-se a articulação entre as unidades temáticas, objetos de conhecimento e objetivos de aprendizagem da Educação Física, considerando o aprendizado necessário para cada ano do Ensino Fundamental.

OS FUNDAMENTOS DOS DOCUMENTOS EDUCACIONAIS PARA O COMPONENTE CURRICULAR EDUCAÇÃO FÍSICA

A Educação Física e suas manifestações na BNCC, estão organizadas em graus de aprendizagem, divididas, ao qual, vislumbram-se e se complementam durante o percurso educacional básico. A Educação Física, em sua área de linguagens, é concebida na Base como ciência da cultura corporal do movimento capaz de transformar, produzir e usufruir de práticas corporais para lidar com situações éticas coletivas para projeto de vida e sociedade. Entende como cultural corporal de movimento,

[…] um conjunto de práticas culturais em que os movimentos são mediadores do conteúdo simbólico e significante de diferentes grupos sociais. Por isso, sua abordagem na educação básica exige que as experiências corporais dos estudantes sejam integradas à reflexão sobre a cultura corporal do movimento (BRASIL, 2017, p. 475).

A BNCC apresenta fundamentos que se aproximam desta proposta para o currículo, visando atingir aos alunos a […] (re)construção de um conjunto de conhecimento que permitam ampliar sua consciência a respeito de seus movimentos e dos recursos para o cuidado de si e dos outros e desenvolver autonomia para a apropriação e utilização da cultura corporal do movimento (BRASIL, 2017, p. 209).

A ciência de cultura corporal de movimento ao qual fundamenta a BNCC refere-se à concepção pedagógica crítica-emancipatória, elaborada na segunda metade da década de 1980 e no início dos anos 90 por Elenor Kunz em seu livro de referência “Transformação didático-pedagógico do esporte” (KUNZ, 1994). A gênese dessa concepção parte de um momento em que estudiosos da área de Educação Física elaboraram críticas a concepção tecnicista e de aptidão física, vinculada à saúde e ao esporte.

Nessa concepção, a Educação Física trata da cultura corporal do movimento, como o corpo sensível no qual se comunica com o outro através da linguagem, acompanhada de uma didática comunicativa. Para Kunz (1994) a partir dessa concepção a educação de modo geral, nada mais é um processo ao qual se desenvolvem ações-comunicativas.

De modo geral, fundamentado nesta perspectiva, a Educação Física na BNCC tem como objetivo “[…] introduzir e integrar o aluno na cultura corporal do movimento, formando o cidadão que vai produzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, da dança, das ginásticas, das lutas, em benefício da qualidade da vida” (BETTI; ZULIANI, 2002, p.75). Visto que, o uso da cultura corporal do movimento de forma plena é a interação das dimensões afetiva, social, cognitiva e motora, isto é, a integração de sua personalidade, pautadas no movimento.

Já no Referencial Curricular do Paraná “Princípios, Direitos e Orientações”, o componente curricular Educação Física, traz uma diversidade de objetos de conhecimento a serem tematizados, visando à democratização do acesso às diferentes manifestações da cultura corporal.

A concepção de cultura corporal teve início na década de 80 e 90, chamado por um coletivo de autores de crítica-superadora, no livro “Metodologia do Ensino de Educação Física” do ano de 1992, os quais consideram que a Educação Física tem como objeto de estudo temas relativos à cultura corporal que historicamente a compõem nas formas de manifestações de jogos, de lutas, de ginástica, de dança e de esporte.

Compreender a Educação Física a partir de um contexto amplo significa entendê-la na sua totalidade, ou seja, compreender que exerce influência e também é influenciada pelas interações que se estabelecem por meio das relações sociais, culturais, políticas, econômicas, religiosas, étnico-raciais, de orientação sexual, de gênero, de geração, de condição física e mental entre outras (PARANÁ, 2019).

Diante disso, a ação pedagógica da Educação Física deve estimular o acesso e a reflexão ao acervo de formas e representações do mundo que o ser humano tem produzido, exteriorizadas pela expressão corporal por meio de Jogos, Brincadeiras, Danças, Lutas, Ginásticas, Esportes, Práticas corporais de aventura, dentre outras, levando em consideração o contexto sociocultural da comunidade educativa (SOARES, et al., 1992).

Diante do exposto, este “documento procura auxiliar na superação de problemáticas históricas relacionadas à fragmentação dos conhecimentos e consequente ruptura na transição das etapas do Ensino Fundamental” (PARANÁ, 2020, p. 74). Assim, apresentando uma sequência para o processo de ensino e aprendizagem das unidades temáticas, objetos de conhecimentos e objetivos de aprendizagem, de acordo com a realidade, viabilidade e anseios próprios e característicos de cada instituição escolar do Estado do Paraná.

Essa metodologia de Educação Física parte de uma concepção do currículo ampliado, e a ação pedagógica tem no conhecimento sobre a realidade manifesta pelo aluno o seu ponto de partida. A função social do currículo é “ordenar a reflexão pedagógica do aluno de forma a pensar a realidade social desenvolvendo determinada lógica” (SOARES, et al., 1992). Esta lógica defendida é a lógica dialética, a qual, só será possível ampliar a reflexão pedagógica nos alunos dando ênfase no conhecimento técnico, desde que seja historicizado, retraçado desde sua gênese, através dos conteúdos da cultura corporal, como: os jogos, a ginástica, as lutas, as brincadeiras, o esporte, entre outros. No entanto “essa visão de historicidade tem um objetivo: a compreensão de que a produção humana é histórica, inesgotável e provisória” (SOARES et al., 1992). É fundamental para essa perspectiva da prática pedagógica de Educação Física o desenvolvimento da noção de historicidade da cultura corporal.

De modo geral, a Educação Física, como cultura e cultura corporal, só podem ser compreendidas no processo de formação do ser social e no conjunto das relações sociais. E é no processo histórico do homem em sua ação sobre a natureza que as culturas são criadas (MARTINELI, 2013). A cultura corporal, para o ensino da Educação Física deve constituir de atividades e produtos historicamente produzidos pelos homens, como expressão de suas necessidades lúdicas, expressivas, artísticas e técnicas, representadas nas formas de jogos, brincadeiras, danças, esportes, ginásticas e lutas, e essas práticas devem ser apropriadas pelos homens das gerações futuras com vistas à compreensão da cultura corporal em sua totalidade, como elemento importante para a continuidade do desenvolvimento sócio histórico da humanidade.

A ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA OS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NO PERÍODO PANDÊMICO.

Em virtude da pandemia, no ano de 2020 a educação apresentou um cenário diferenciado causado pelo novo corona vírus, a qual motivou a necessidade da suspensão das aulas presencias e da implantação de um modelo (emergencial) de aulas remotas.

As escolas passaram a se adaptar ao Ensino Remoto Emergencial (ERE) que difere da Educação a Distância (EaD). A EaD conta com recursos e uma equipe preparada para ofertar os conteúdos e atividades pedagógicas, por meio de diferentes mídias em plataformas on-line. Já a finalidade do ensino remoto emergencial é de ofertar o acesso temporário aos conteúdos curriculares que seriam desenvolvidos presencialmente. Cabe, portanto, discussões acerca de como tem sido a relação dos alunos e dos professores com o processo atual e emergencial de educação que está sendo oferecido, principalmente na disciplina de Educação Física.

O Currículo Priorizado apresenta subsídios pedagógicos, elencando os conteúdos essenciais para cada etapa da Educação Básica nos diferentes componentes curriculares e/ou disciplinas. Os conteúdos essenciais são os que estruturam a base para a progressão das aprendizagens dos estudantes nos anos posteriores.

O documento foi elaborado com o intuito de dar suporte ao trabalho docente de Educação Física da rede Estadual do Paraná, tendo em vista o período de ensino emergencial remoto, e tem como base o currículo da rede paranaense, no que se refere ao componente Educação Física.

Com base na especificidade pertinente à disciplina de Educação Física, o intuito é contribuir para os estudantes se tornem sujeitos capazes de reconhecer o próprio corpo, aprimorar a expressividade corporal consciente e refletir criticamente sobre as práticas corporais, possibilitando a comunicação e o diálogo com as diferentes culturas. Veja a seguir o quadro organizado com a distribuição dos objetos de conhecimento referente as unidade temática nos anos finais do Ensino Fundamental.

Quadro 2 – Objetos de Conhecimentos (Conteúdos) programáticos para os anos finais do Ensino Fundamental.

Unidades Temáticas6° ano7° ano8° ano9° ano
EsportesEsportes de marca Esportes de precisãoEsportes técnico-combinatório Esportes de invasãoEsportes de rede/parede Esportes de invasãoEsportes de campo e taco Esportes de combate
Jogos e BrincadeirasJogos de tabuleiroJogos eletrônicos/ jogos eletrônicos de movimentoJogos dramáticosJogos cooperativos
DançasDanças criativasDanças urbanasDanças circularesDança de salão
GinásticasGinástica circenseGinásticas de condicionamento físicoGinástica de conscientização corporalGinásticas de Conscientização corporal
LutasLutas no BrasilLutas no mundoLutas no mundo
Práticas Corporais de AventuraPráticas corporais de aventura urbanasPráticas corporais de aventura urbanasPráticas corporais de aventura na natureza

Fonte: Quadro elaborado pelo autor, baseado no Currículo Priorizado da Rede Estadual de Ensino do Paraná.

O quadro 2 apresenta os conteúdos de acordo com as 6 (seis) unidades temáticas, pois elas precisam ser desenvolvidas em todo o ano letivo pelos professores e alunos(as). Por exemplo, no 6° ano, os alunos(as) durante os 3 (três) trimestres, precisam desenvolver os objetos de conhecimentos propostos, são eles: esportes de marca, esportes de precisão, jogos de tabuleiro, danças criativas, ginástica circense, lutas no Brasil e práticas corporais de aventuras urbanas.

Agora no quadro 3, tem como exemplo, um plano de trabalho docente do 7° ano, organizado e desenvolvido para atender aos alunos(as) no terceiro trimestre do ano de 2021, este quadro apresenta duas unidades temáticas (Danças e Lutas), aqui também estão os conteúdos, os conhecimentos prévios e os objetivos, organizados respectivamente a seguir:

Quadro 3 – Plano de trabalho docente do 7° ano, 3° trimestre do ano de 2021.

Unidade temáticaObjetos do conhecimentoConteúdosConhecimentos PréviosObjetivos
Danças Danças urbanasBreak dancing, Hip Hop, Freestyle, Vogue, Locking.Experimentar, fruir,
(re)criar e
(re)significar
movimentos por
meio das danças
criativas,
identificando seus elementos
constitutivos (ritmo, espaço,
gestos,
movimentos etc.),
ampliando seu
repertório de
movimentos e
enfatizando a manifestação do
lúdico.
Apropriar-se do(s)
conceito(s) de
danças urbanas e
de aspectos
históricos, sociais e
culturais atrelados
aos contextos de origem
e permanência
das danças propostas
como conteúdo
específico. Experimentar,
fruir, (re)criar e (re)significar
movimentos básicos das
danças urbanas propostas
como conteúdo específico,
identificando seus
elementos constitutivos
(ritmo, espaço,
gestos, movimentos etc.)
e ampliando seu repertório
de movimentos,
enfatizando a
manifestação do lúdico.
Lutas Lutas do MundoJudô, Karatê, Boxe, TaekwondoExperimentar, fruir
(re)criar e
(re)significar
diferentes lutas do
Brasil, vivenciando movimentos característicos
dessas lutas, enfatizando a manifestação do lúdico.
Apropriar-se do(s)
conceito(s)
de lutas e de aspectos históricos,
sociais e culturais
atrelados aos
contextos de
origem e
permanência
das lutas propostas
como conteúdo
específico. Experimentar,
fruir, (re)criar e
(re)significar
diferentes lutas
do Mundo, vivenciando movimentos
característicos destas lutas,
enfatizando a manifestação do lúdico.

Fonte: Quadro elaborado pelo autor, baseado no plano docente de 2021.

Entretanto, os objetos de conhecimentos e os conteúdos, encontram-se como materiais na Plataforma de Registro de Classe Online (LRCO), no Currículo Priorizado da Rede Estadual e no Plano Docente, e estão disponíveis durante o período pandêmico em forma de slides, exercícios e vídeo aulas.

Com isso, o acesso ao material e as aulas remotas tem apontado inúmeros desafios para os professores, entre eles: as dificuldades de acesso à internet, o preparo do material, a falta de estrutura, o distanciamento da escola, sentimento de insegurança, dificuldades para avaliar os alunos(as), a falta de apoio de algumas famílias, entre outros, esses tem sido um dos principais problemas enfrentados pelos professores nas aulas de Educação Física.

Diante desse contexto, os profissionais de educação tiveram que aprender a fazer o uso dos recursos digitais e das ferramentas tecnológicas para atender a essa nova realidade de ensino. Além disso, a carga excessiva de trabalho imposta pelo ensino remoto tem afetado a saúde mental dos professores e isso tem contribuído diretamente na qualidade de vida destes profissionais.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme apresentado no início do texto, o objetivo desse trabalho foi contextualizar os documentos educacionais que regem a disciplina de Educação Física perante as políticas públicas educacionais, e apresentar a organização dos conteúdos oferecidos pelo Estado do Paraná no período da pandemia.

O Referencial Curricular do Paraná segue a estrutura da BNCC, por meio da articulação entre as unidades temáticas (jogos e brincadeiras, danças, esportes, ginásticas, lutas e práticas corporais de aventura) os respectivos objetos de conhecimento e os objetivos de aprendizagem da Educação Física (10 competências), considerando o aprendizado necessário para cada ano do Ensino Fundamental.

De acordo com os fundamentos, a BNCC traz o componente curricular Educação Física, como cultura corporal do movimento, como o corpo sensível no qual se comunica com o outro através da linguagem, acompanhada de uma didática comunicativa. Já o Referencial Curricular do Paraná, a Educação Física, traz uma diversidade de objetos de conhecimento a serem tematizados, visando à democratização do acesso às diferentes manifestações da cultura corporal.

Cultura corporal do movimento e cultura corporal são duas abordagens pedagógicas que se diferenciam, a primeira é pautada no movimento, nas interações, nas dimensões sociais, cognitivas e motoras – a segunda é pautada no processo de formação do ser social e influenciada pelas interações que se estabelecem por meio das relações sociais, culturais, políticas, econômicas, religiosas, entre outras, historicamente desenvolvidas pelos homens.

Além disso, no período pandêmico, devido à grande demanda de conteúdos programáticos para serem trabalhados nas aulas de Educação Física, os professores apresentaram alguns desafios, entre eles: as dificuldades de acesso à internet, a falta de estrutura, o distanciamento da escola, sentimento de insegurança, entre outros. E, também alguns enfrentamentos, tiveram que aprender a fazer o uso dos recursos digitais, a utilizar a nova plataforma online e as ferramentas tecnológicas para atender a essa nova realidade de ensino.

De modo geral, nesta pesquisa os desafios enfrentados pelos professores de Educação Física têm limitado o ensino e aprendizagem dos alunos(as) no Ensino Fundamental. A educação na pandemia, tem sido um grande desafio para professores, alunos e pais, visto que, a repentina mudança de ambiente de aprendizagem pode ter contribuído para uma piora na qualidade do ensino.

5. REFERÊNCIAS

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.

BETTI, M; ZULIANI, L, R. Educação Física Escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. Rev. Mackenzie de Educação Física e esporte. Ano. 1, v. 1, p. 73-8, set. 2002.

GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisas. 4ª Edição, São Paulo: Atlas, 2002.

HÖFLING, E, M. Estado e Políticas (Públicas) Sociais. Cadernos Cedes, ano XXI, nº 55, novembro/2001.

KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Ed. Unijuí, 1994.

MARTINELI, T. A. P. A educação física e a cultura no contexto da crise estrutural do capital: divergências teóricas e suas raízes filosóficas. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual de Maringá. Maringá, 2013.

PARANA. Currículo Priorizado da Rede Estadual de Ensino do Paraná – Curitiba: SEED – PR, 2021.

PARANÁ. Referencial Curricular do Paraná: princípios, direitos e orientações/ secretaria de Estado da Educação e do Esporte – Curitiba: SEED – PR., 2019.

SOARES, C. L. et al. Metodologia de ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992.


Filiação / Currículo