A HISTÓRIA DO ENSINO DE FÍSICA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E A EVASÃO DE ALUNOS DESTA DISCIPLINA EM CURSOS DE LICENCIATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8169301


Ueudison Alves Guimarães
Kleuber Rodrigues Ferreira Martins


RESUMO

A evasão escolar vem sendo considerada um grande desafio para o Ensino Superior ao longo dos anos, especialmente para a disciplina de Física, em que se percebe na prática a carência de profissionais qualificados para ministrar essa disciplina no Ensino Médio, uma vez que, por falta de docentes habilitados na área em questão, normalmente as aulas passam a ser ministradas por docentes com licenciatura em outras áreas que não a da Física. Um outro problema bastante comum encontrado nesse processo é a ausência de motivação para participarem das aulas dessa disciplina, já que não se sentem atraídos por aquilo que é transmitido em seu cotidiano escolar, pois os docentes que atuam com essa área não estão preparados para levar ao aluno experiências agradáveis e que façam sentido ao ensino-aprendizagem. Essa realidade possibilita um importante entendimento acerca dos inúmeros desafios que serão encontrados pelas instituições que promovem cursos de licenciatura em Física, visto que não é nenhuma novidade, pois a própria trajetória histórica dessa disciplina vem revelando no decorrer desse longo período as dificuldades que tiveram de enfrentar para melhor promover um ensino de Física à sociedade. Para discutir tal panorama neste estudo, foi feita uma pesquisa de cunho bibliográfico para coleta de material teórico que servirá como base deste estudo. Conclui-se que que o processo de evasão em cursos de licenciatura vem cada vez mais se tornando elevado, evidenciando uma grande queda no número de docentes formados em Física, o que acarreta um enorme problema para as instituições de ensino.

Palavras-chave: Educação. Evasão. Formação em Física.

ABSTRACT

Dropping out of school has been considered a major challenge for Higher Education over the years, especially for the subject of Physics, where it is perceived in practice the lack of qualified professionals to teach this subject in High School, since, due to lack of qualified teachers in the area in question, classes are normally taught by teachers with a degree in areas other than Physics. Another very common problem found in this process is the lack of motivation to participate in classes in this discipline, since they are not attracted by what is transmitted in their school routine, as teachers who work with this area are not prepared to take student pleasant experiences that make sense to teaching and learning. This reality enables an important understanding of the innumerable challenges that will be encountered by the institutions that promote degree courses in Physics, since it is nothing new, since the historical trajectory of this discipline has revealed, over this long period, the difficulties they had to face to better promote the teaching of Physics to society. To discuss this panorama in this study, bibliographical research was carried out to collect theoretical material that will serve as the basis of this study. It is concluded that the evasion process in undergraduate courses is becoming increasingly high, showing a large drop in the number of professors trained in Physics, which entails a huge problem for educational institutions.

Keywords: Education. Evasion. Training in Physics.

INTRODUÇÃO

O trabalho desenvolvido para a construção deste estudo ocorre por meio de um processo e averiguação acerca da evasão recorrente nos cursos de evasão de graduação, que priorizam em sua grade curricular um foco amplamente inclinado para os cursos de licenciatura na área de Física, o que se dá tem todo o país. Uma abordagem reflexiva a respeito da evasão escolar evidencia que ela é um problema que ocorre na Educação como um todo, mas, ao pensar que isso tem se mantido constante também nos grandes centros acadêmicos traz para a atualidade uma enorme preocupação devido ao seu crescimento considerável.

Essa problemática vem ocorrendo de maneira constante no Ensino Superior tanto das universidades federais quanto das estaduais. Uma situação que traz imensa preocupação, já que nas instituições públicas de Ensino Superior a evasão dos cursos permite que muitas vagas fiquem abandonadas, tirando a possibilidade de formação de um outro profissional, o que revela claramente a razão pela qual o abandono dos cursos leva à diminuição de profissionais formados, causando imenso prejuízo ao governo e à sociedade, já que houve grande investimento para a criação desses cursos

Desse modo, verifica-se que o processo de evasão, além de causar inúmeros prejuízos de caráter econômico para a sociedade, uma vez que se fala de recursos públicos para que esse processo de formação aconteça e traga benefícios à população, nota-se também que ele beneficia o reconhecimento do discurso a respeito do encerramento de cursos, inclusive de universidades públicas altamente renomadas, bem como tem jogado os alunos que abandonaram os seus estudos para o mercado de trabalho em busca de melhores oportunidade.

Ao longo dos anos, muito se tem discutido a respeito dos fatores que são considerados responsáveis pela evasão, no entanto, descobriu-se que não é possível determinar apenas um, mas sim vários, já que eles estão vinculados aos problemas vivenciados pelas pessoas em seu cotidiano, como por exemplo, financeiros, familiares, dificuldades de aprendizagem, dentre outras coisas, as quais vão impedindo que os alunos não alcancem êxito no que tange ao aprendizado de Física no Ensino Médio.

Os problemas que levam à evasão são inúmeros, como os mencionados anteriormente, mas, dentre todos eles, o que mais incomoda e causa danos irreparáveis à Educação, é a diminuição do número de docentes formados em Física, a qual permite levando em consideração às circunstâncias que docentes de outras áreas possam atuar com a disciplina de Física, trazendo inúmeros problemas para a escola pública, especialmente no que tange ao processo de formação dos alunos que cursam o Ensino Médio.

Assim sendo, cabe às instituições de ensino tomar ciência a respeito da formação de seus docentes, almejando oferecer para os seus alunos um ensino de qualidade e que possa ser favorável para a diminuição da evasão que tanto assola à Educação e à sociedade de modo pleno. Percebe-se ainda que as coisas não vão muito bem, no que se refere ao ensino em geral, desde o momento em que somos “sujeitos observadores” dentro sala de aula, pois é nesse instante que se consegue entender e vivenciar esse modo fragmentado que os conteúdos são apresentados.

Durante o Ensino Médio, fica claro que a disciplina de Física esteve o tempo todo desconectada das outras disciplinas e, do mesmo, não apresentava sentido algum para os aprendizes. Mesmo assim, faz-se possível descobrir que o ensino de Física ultrapassa os limites de sua própria indigência escolar quanto ao uso de fórmulas, cálculos, conceitos etc. Este ensino requer muito esforço e dedicação para as reflexões, estudos teóricos, experimentos e investigações sobre o modo como ela atua na sociedade e mantém-se conectado ao mundo dos aprendentes.

Assim, entende-se que para o exercício efetivo do docente em relação à interdisciplinaridade e a disciplina de Física é necessário que ambos estejam conectados com o trabalho de investigação e reflexão, abrangendo acima de tudo uma integração entre as diversas disciplinas com seus saberes distintos e à realidade de cada aprendiz, para que o aprendizado da disciplina se torne prazeroso e significativo.

Conforme afiançam os PCNs (2002):

A interdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Nesse sentido, ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez vários (BRASIL, 2002, p. 88-89).

Desse modo, é compreensível dizer que, para que o resultado efetivo da interdisciplinaridade dentro de sala de aula e, consequentemente, na unidade escolar aconteça, o corpo docente deverá trabalhar em conjunto, pois, quando se unem as disciplinas, caracteriza-se a efetivação do processo interdisciplinar, contudo, o mesmo jamais acontecerá de modo individual ou fragmentado.

Segundo os preceitos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (2002), a disciplina de Física tem um modo particular de encarar o mundo, pois “se expressa não somente por meio da forma como representa, como ainda descreve e escreve o real, mas, sobretudo na busca de regularidades, na conceituação e quantificação das grandezas, na investigação dos fenômenos, nos tipos de síntese que promove”. Com este panorama em mente, este estudo discutirá, então, a história do ensino de Física, tendo em vista o panorama educacional brasileiro e a evasão dos alunos desta disciplina em cursos de licenciatura.

REFERENCIAL TEÓRICO

Evasão nos Cursos de Licenciatura de Física

A Educação vive momentos de dificuldades com relação a ausência de docentes nas instituições de ensino há muito tempo, contudo, a cada dia que passa, não se percebe qualquer mudança positiva, muito pelo contrário, pois disciplinas com Física já não têm contato com profissionais licenciados para ministrarem essas aulas, exigindo da escola uma atitude mais drástica com o intuito de promover o ensino-aprendizagem ao seus alunos, que é buscar nos docentes de áreas mais próximas da Física, para ministrar essas aulas, sem ao menos estarem preparados para tanto. É notório que essa atitude não resolve de forma alguma o problema, pois esses profissionais não estão qualificados para assumir essa responsabilidade, e, na maioria das vezes, mais prejudicam do que ajudam no aprendizado do aluno.

Isso se dá porque as estratégias de ensino aplicadas por esses profissionais “genéricos” não se adequam as necessidades e especificidades dos alunos, além de não os motivar a sentirem prazer naquilo que estão aprendendo e não saberem o melhor caminho para potencializar o entendimento acerca da aplicação que a Física tem para oferecer em relação ao entendimento das demais áreas científicas, abrindo caminho para que a sua formação se torne completa, mas sim criando lacunas que na maioria das vezes afetam negativamente no ensino-aprendizagem.

Um outro ponto que precisa ser elucidado diz respeito ao comprometimento do profissionais que atuam no processo de ensino-aprendizagem ministrando aulas de Física, pois, mesmo não estando qualificados para tal, é necessário que tomem consciência acerca de sua condição para que possa melhor se preparar e promover um aprendizado, mesmo diante de suas limitações, que esclareça aos alunos sobre a relevância inserida nos conteúdos de Física para que o seu processo de formação seja pleno e significativo no decorrer de sua trajetória educativa.

Assim, entende-se claramente que as instituições de ensino públicas precisam se preocupar em promover um ensino de qualidade para o seu público-alvo, especialmente quando se trata da disciplina de Física, objeto deste estudo, buscando selecionar sempre docentes qualificados e que entendem a importância dessa disciplina para a vida do aluno, sem se limitar única e exclusivamente aos conteúdos ministrados em sala de aula, mas sim com o intuito de compreender como ela é capaz de auxiliar no processo de apreciação do universo a partir de seus conteúdos.  Em contrapartida, afirma-se também que o docente que não tem conhecimento pleno da disciplina, dificilmente conseguirá motivar os seus alunos para a necessidade de compreensão do universo mediante os conteúdos inseridos na disciplina de Física.  

A interdisciplinaridade

De acordo com Luck (2004) compreende-se claramente o que significa a interdisciplinaridade quando o autor revela que:

Interdisciplinaridade é o processo que envolve a integração e o engajamento de educadores num trabalho conjunto de interação das disciplinas do currículo escolar entre si e com a realidade, de modo a superar a fragmentação do ensino, objetivando a formação integral dos alunos, a fim de que possam exercer criticamente a cidadania, mediante uma visão global de mundo e serem capazes de enfrentar os problemas complexos, amplos e globais da realidade atual (LÜCK 2004, p. 64).

Sabe-se que o docente precisa apresentar não somente o conhecimento, caso o seu desejo seja desenvolver um trabalho interdisciplinar em sala de aula, sendo necessário que haja acima de tudo comprometimento com o que está por vir, pois entende-se que irá lidar com novos conceitos e acepções acerca dessa prática, os quais não são comumente usados em seu dia a dia e isso requer interesse e vontade em aprender o que não se conhece, para ensinar àquele que precisa aprender, sendo esse um aprender com significado e sentido.  Assim sendo, é relevante apresentar alguns desses conceitos.

Multidisciplinar – padrão segmentando em que há o agrupamento de várias disciplinas diversas que não possuem qualquer vínculo entre elas;

Pluridisciplinar – o agrupamento de disciplinas mais ou menos próximas no que diz respeito às esferas do saber, construindo campos de estudo que possuem conteúdos semelhantes ou organização de área, com uma segmentação não muito alargada;

Interdisciplinar – com nova concepção de divisão do saber, frisando a interdependência, a interação, a comunicação existente entre as disciplinas e buscando a integração do conhecimento num todo harmônico e significativo;

Transdisciplinar – a existência de organização das diversas disciplinas dentro de um aparelho coerente de saberes, incluindo a liberdade de circulação entre esses saberes.  (SANTOMÉ, 1998, pg.78).

Todo o processo de interdisciplinaridade, inclusive quando envolve a disciplina de Física, deve ser cauteloso e consciente e, à vista disso, pleiteia a relação direta entre as partes envolvidas: o corpo docente, de maneira que a interação, a comunicação e o comprometimento proporcionem um aprendizado de excelência aos aprendizes, com o qual todas as disciplinas mantenham uma conversa entre si, formando assim, um elo que abrace a plenitude dos saberes por meio de projetos interdisciplinares.

Segundos os apontamentos de Fazenda (1992, p. 17), o projeto de caráter interdisciplinar voltado para o ensino é aquele que apresenta capacidade para apreender a acuidade existente nos vínculos conscientes entre os sujeitos e os sujeitos e as coisas. Desse modo, o projeto deve seguir o caminho mais amplo, não se limitando apenas à produção, mas que seja despretensioso e advenha do desejo, sem qualquer obrigatoriedade, para que assim ocorra a experiência de vida e o aprendizado se efetive.   

Diante do exposto, é imprescindível salientar que concerne ao docente de Física, o exercício interdisciplinar em sala de aula, criando parcerias com as outras disciplinas do componente curricular e ainda desenvolvendo projetos significativos, pois o trabalho interdisciplinar é compreendido numa perspectiva que apreenda o contexto e a comunicação interativa entre sujeito e objeto, viando um modo de pensar e agir educacional.

Quando se entende a interdisciplinaridade diante desses paradigmas, é possível enxergar os resultados significativos que ela poderá apresentar dentro do ambiente escolar, no que diz respeito ao currículo, pois dessa maneira ela não se manterá única e exclusiva em sala de aula, mas tomará a escola como um todo, em todas as disciplinas, tornando-se assim, em um projeto que imprime vida a ser exercido pelo sujeito.

A interdisciplinaridade da Física

Sendo o positivismo a linha de pensamento atuante no trabalho de Comte (1984), é possível dizer que foi a partir de suas convicções que surgiu a “disciplinarização” do conhecimento, distanciando-se consideravelmente da indigência do pensamento e visando necessariamente o ensino individualizado, levando outros especialistas a desenvolverem a mesma ideia, fugindo totalmente da prática interdisciplinar e negando a importância do exercício unificado às outras áreas do saber.

Desse modo, é imprescindível esclarecer a necessidade do trabalho interdisciplinar com o objetivo de unificar os saberes e formar uma aliança entre todas as disciplinas que constituem o currículo do Ensino Médio para, com isso, tentar dissolver completamente a subjetividade. É possível afirmar que esse trabalho de intercâmbio entre as áreas do saber, a unidade escolar, os docentes e os aprendentes terá papel essencial na aprendizagem como um todo, assim como nos modos de agir e pensar o mundo, visando uma ação pedagógica atualizada e que faça sentido, não somente para o aprendiz como também para o corpo docente e a sua prática. 

Silva (1994) explica que:

A inovação, ao provocar mudanças no cotidiano, alterando rotinas, comportamentos cristalizados, hábitos arraigados, provoca reações antagônicas entre os que querem continuar na rotina e os que querem exercer a criatividade e o novo. A rotina fincada na tradição reforça a segurança, pois representa o conhecimento, o estabelecido, o automatizado, o hábito adquirido, como ainda a segurança de poder esperar que tudo continuará como está. (SILVA,1994, p, 41).

Pensar o conhecimento como um processo dentro de um conceito atualizado que afasta essa ideia da individualidade faz com que a docência sofra uma grande transformação, pois não verá mais o aprendizado de modo fragmentado, em uma única área, mas sim dentro de um todo que os obriga a refletir acerca do ensinar e aprender.

Conforme Japiassu (1976), atualmente a interdisciplinaridade é assunto essencial no que diz respeito ao ensino médio no Brasil e segundo ele afiança:

Somente o trabalho em equipe multi ou interdisciplinar é capaz de permitir uma divisão racional do trabalho e que aumenta a sua eficácia e sua produtividade e que a metodologia interdisciplinar exigirá de todos uma reflexão profunda e inovadora sobre o próprio conceito de ciência e filosofia obrigando as pessoas a desinstalarem-se das situações adquiridas, e a abrir-se para perspectivas e caminhos novos, exigirá que se reformulem as estruturas mentais que desprendam’ muita coisa, que desconfiem das cabeças bem ‘arrumadas’, pois em geral são bastante ‘desarrumadas’, tendo necessidade nova de arrumação (JAPIASSU 1976, p.41-42).

Conforme o exposto, entende-se o conhecimento de modo mutável, que está em um ininterrupto movimento e foge dos padrões de arremate. Pensar assim, permite ao docente criar possibilidades que transformem o pensar do aprendiz de modo que o conhecimento para ele se torne incansável e significativo, que o seu desejo de conhecer e aprender o transforme em um sujeito insatisfeito com o que já sabe e, com isso, busque mais e investigue, afinal, cabe ao docente, desde cedo, motivá-lo a sentir esse desejo, essa sede de querer saber e aprender por si mesmo. 

De acordo com o que pensa Freire (1977), “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou para a sua construção”, pois atuar desta maneira implica em um aprendizado eficiente, tornando o aprendente a personagem principal de seu aprender, de seu educar e de seu modo ativo de oferecer significado àquilo que ele mesmo vivencia e constrói. Em concordância com esse conceito, a construção do conhecimento acontece quando o docente promove situações que condizem com a realidade do aprendente e o tornam, a partir daí, protagonista de sua própria criação, capaz de interpretar as dificuldades impostas pela sociedade, no que diz respeito ao panorama político social, econômico e cultural.

Por conta disso, é importante que o profissional de Física se comprometa com o seu ensinar e tome consciência daquilo que é necessário para o aprendizado de seu aluno, arrancando dele tudo o que é mecânico, robotizado e ajudando-o com o propósito de torná-lo consciente e crítico acerca do mundo em que vive, por meio de um aprendizado no qual a ação humana seja uma prioridade e a interdisciplinaridade se faça presente.

Sabe-se que foi a partir de Aristóteles, quando de modo racional se comprometeu a elucidar acerca dos elementos físicos, que a Física, assim como as outras ciências, surgiu e, com isso, a teoria de que o “conhecimento” é concebido por um processo que tem seu início na experiência, sendo impossível o contrário. Para Pires (2011) “o mundo de Aristóteles era organizado e ordenado, um mundo onde as coisas se moviam para fins determinados e, dentre suas contribuições, estão às ideias sobre o movimento, queda dos corpos pesados e o geocentrismo”.

A Física que se conhece atualmente foi introduzida por Galileu Galilei (1562-1643) que, por meio de seu telescópio, fez as descobertas a seguir:  “desfez o sacrário dos lugares naturais, da dicotomia entre terra e céu, entre mundo sublunar e supralunar e contribuiu para a afirmação do sistema copernicano”. É importante salientar que o docente responsável pela disciplina de Física deve ter em mente que ela é essencial para a vida e formação do aprendiz, não somente em sala de aula, mas especialmente em seu dia a dia e no processo escolar.

Em conformidade com os PCNs (2002), o ensino da disciplina de Física deve “contribuir para a formação de uma cultura científica efetiva, permitindo aos estudantes interpretar fatos, fenômenos e transformações do mundo físico, sendo que o seu aprendizado deve promover a articulação de uma visão de mundo e uma compreensão dinâmica do universo, mais ampla, colocando o estudante como sujeito ativo dessa dinâmica”.

Tudo isso, contudo, requer dedicação por parte do docente para promover uma proposta didática que satisfaça as indigências desse processo de aquisição do conhecimento, a qual esteja alinhada aos interesses e às especificidades de cada aprendiz, em concordância com o seu modo de vida, sendo capaz de oportunizar um intercâmbio entre suas inteligências. A unidade escolar, por outro lado, tem o dever de confiar e incentivar os docentes a desenvolverem suas potencialidades, apresentando com isso estratégias e mecanismos que tornem o seu aprendizado mais dinâmico e efetivo.

METODOLOGIA

O presente trabalho será realizado por meio de um estudo exploratório de revisão de literatura que, conforme Gil (2008), “pode ser definida como um relato acerca do que foi publicado em relação ao tema que está sendo pesquisado”.  De acordo com Marconi e Lakatos (2021) “hoje, predomina o entendimento de que os artigos científicos constituem o foco primeiro dos pesquisadores, porque é neles que se pode encontrar conhecimento científico atualizado, de ponta”.

Dessa forma, para a realização desse trabalho, serão utilizados por meio de pesquisa de caráter bibliográfico: livros, periódicos e artigos atualizados acerca da Educação Superior no contexto da pandemia. Conforme Boccato (2006), a pesquisa bibliográfica busca a resolução de um problema (hipótese), por meio de referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo as várias contribuições científicas. Esse tipo de pesquisa trará subsídios para o conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob que enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto apresentado na literatura científica.

 DISCUSSÃO

Quando se busca compreender de uma maneira mais concisa acerca da ausência de qualificação dos docentes no que concerne ao domínio pleno dos conteúdos inseridos nas disciplinas no ambiente escolar, descobre-se nas palavras de Freire (2001) que somente haverá formação eficiente quando houver aprendizado, uma vez que, ao ensinar ao aluno, o docente sempre está aprendendo coisas novas. Para o autor, há uma enorme distinção entre o ensinar e o aprender, mas não se pode esquecer que mesmo assim elas mantêm um vínculo, o qual dentro deste cenário de obrigatoriedade do aprendizado precisa aprender com qualidade para que o seu ensino seja eficaz e significativo para a vida de quem aprende.

A percepção apresentada pelo autor evidencia uma reflexão a respeito da relevância e indigência no processo de preparação docente, pois acredita-se que um docente que não recebeu instrução de qualidade em sua formação não será capaz de formar alunos preparados para a vida em sociedade, isso ocorre em qualquer disciplina, como, por exemplo, com os docentes de Física, foco deste estudo.

 Do mesmo modo, os profissionais que atuam na área de Física e que não se revelam preparados para ministrar o conteúdo dessa disciplina com eficiência, no que tange a sua pratica pedagógica, não trarão benefícios para a formação de seus alunos, uma vez que permanecerão amplamente vinculados ao livro didático, sem criar estratégias de ensino diversificadas, o que tornará o aprendizado cansativo e sem qualquer prazer ou motivação, afastando-os cada vez mais dos cursos superiores por perceberem que não aprendem o suficiente para a sua atuação como docente.

Em contrapartida, verifica-se que os problemas vão se tornando ainda mais preocupantes quando se trata na temática em questão. Por exemplo, como mencionado no decorrer dessa trajetória discursiva, pela enorme ausência de docentes com formação em Física, fazendo com que essa disciplina vá sendo ministrada por profissionais de outras áreas.

No entanto, o que abre espaço para uma enorme discussão é o fato desses profissionais, ou seja, cerca de 34% apenas apresentarem formação na disciplina de Matemática, acarretando muitos prejuízos para os educandos, principalmente para aqueles que não recebem instrução de matemáticos, devido à proximidade que existe entre ambas.

Os entraves não param por aí, pois, quando existe evidência de que os docentes atuantes na disciplina de Física são formados em Pedagogia, a situação começa a ganhar um peso ainda mais devastador. Isso ocorre não por acreditar que ela seja uma área inferior ou até mesmo ineficaz para o processo de ensino-aprendizagem, mas sim pelo simples fato de não existir uma correlação entre as áreas, e não se aproximar de seus conteúdos, o que é visto como essencial para quem pretende ensinar Física para o Ensino Médio.

Além de todos os apontamentos que comprovam ser fundamental a presença de docentes de Física nas instituições para ministrarem o conteúdo adequado e com eficiência para os alunos do Ensino Médio, não se pode negar que a duração do curso de Física diz muito sobre a formação, pois, mesmo nos cursos com duração de 4 anos, em sua maioria, ultrapassam esse tempo para formar os seus alunos. De acordo com a pesquisa realizada por Arruda et al (2006), verifica-se que há alguns cursos de licenciatura em Física que normalmente os acadêmicos excedem os 4 anos obrigatórios, podendo chegar até 8 anos.

A trajetória discursiva aqui realizada com ênfase na construção deste trabalho, visando esclarecer os problemas que são capazes de potencializar ainda mais a evasão escolar de docentes de Física em cursos de Licenciatura traz à tona duas situações consideradas graves e que podem prejudicar de maneira considerável, e talvez irremediável, o processo de formação dos alunos que integram o Ensino Médio.

Esses dois problemas se mantêm em torno de duas situações:

a primeira delas, encontra-se nos cursos de licenciatura em Matemática, os quais não possuem formação apropriada para suprir as necessidades e interesses dos alunos de Física em relação às questões práticas, pedagógicas e materiais da disciplina, uma vez que se voltam mais para os aspectos de caráter teórico, sem o suporte de práticas desenvolvidas em laboratórios, as quais são fundamentais para a efetivação dos conceitos da disciplina de Física;  

já a segunda está mais inclinada para as questões de âmbito estrutural dos cursos de formação para o Ensino Médio, que, na maioria das vezes, compreendem uma carga horaria mais comprimida no que tange à disciplina de Física e que trazem inúmeras dificuldades para os docentes, pois com pouco tempo, não conseguem promover uma aprendizagem efetiva e vinculada às situações vividas em seu mundo real, seu dia a dia, que é vista como essencial para que o aluno crie uma relação com a Física e sinta prazer em aprender acerca de seus conceitos.

Levando em consideração o excerto acima, verifica-se nas palavras de Santos e Curi (2012) que durante à pratica as coisas acontecem totalmente diferentes, pois os docentes normalmente preferem a metodologia mais mecanicista, o que não beneficia o aprendizado do aluno e ainda afeta à área da pesquisa, pois o objetivo da Física é promover estudos de caráter científico que sejam capazes de beneficiar a sociedade em geral.

CONCLUSÃO

Com o trabalho realizado para a construção desse estudo, descobriu-se que o processo de evasão em cursos de licenciatura vem cada vez mais se tornando elevado, evidenciando uma grande queda no número de docentes formados em Física, o que acarreta um enorme problema para as instituições de ensino, as quais se veem obrigadas a tomarem outras atitudes, pois não possuem docentes licenciados em Física, em quantidade aceitável, que possam atender a demanda necessária exigida.  

Essa realidade possibilita um importante entendimento acerca dos inúmeros desafios que serão encontrados pelas instituições que promovem cursos de licenciatura em Física, visto que não é nenhuma novidade, pois a própria trajetória histórica dessa disciplina vem revelando no decorrer desse longo período as dificuldades que tiveram de enfrentar para melhor promover um ensino de Física à sociedade. Ademais, segundo Bonadiman e Nonenmacher (2017), é relevante destacar que a diminuição da evasão não é o único desafio a ser encontrado na trajetória educativa.

Há também a formação inadequada para aqueles que pretendem atuar como docentes da disciplina de Física e a escassa procura por essa modalidade, o que exige um trabalho atento e cuidadoso dentro dos cursos de licenciatura voltados para essa disciplina, o qual possibilite que o docente consiga motivar os seus alunos a sentirem prazer pela Física, para que almejem ampliar os seus saberes nos cursos acadêmicos e sintam o desejo de ingressarem no Ensino Superior.

Contudo, sabe-se que a trajetória a ser seguida é bastante penosa, tendo em vista todos os problemas existentes, e que nem todos serão solucionados, afinal, essa luta já acontece há muito tempo e muitas coisas não mudaram até hoje e muito menos apresentam uma solução definitiva. O aprendizado de qualquer disciplina requer do docente uma participação mais ativa e envolvente no que tange as necessidades dos seus alunos e aos conteúdos ministrados, pois somente dessa maneira ele conseguirá motivá-los a participar com atores dessa aprendizagem, entendendo que esse saber além de importante para sai formação como sujeito também faz sentido para a sua vida.

Desse modo, ao ensinar física para os alunos do Ensino Médio, o docente precisa mostrá-los que essa disciplina é importante, uma vez que o seu uso é fundamental para a aquisição de novas experiências em seu cotidiano, dando a eles a vontade de se tornarem novos mestres na disciplina.  Os alunos não podem viver acreditando que a disciplina de Física só integra o currículo escolar por conta de sua obrigatoriedade, mas sim porque vai muito além da matéria em si, apresentando os seus conceitos, evidenciando o seu uso na prática e sua base científica, motivos suficientes para que o docente consiga motivá-lo a sonhar com um estudo mais complexo nessa área, o qual será encontrado em sua graduação.  

As dificuldades realmente são inúmeras, porém, com um trabalho mais voltado para uma formação docente de qualidade, com certeza, esses profissionais terão em suas mãos maiores possibilidades para que possam incentivar os seus alunos, os quais integram o Ensino Médio, a seguirem o estudo de Física por meio do ingresso em cursos especializados e, com isso, se tornarem docentes dessa disciplina, o que acarretará a grande diminuição de carência desses profissionais no Ensino Médio.

Compreende-se também neste panorama que, para a aquisição de um ensino de excelência, é essencial a presença de um trabalho realizado dentro dos parâmetros de interdisciplinaridade, o qual é constituído de um elaborado projeto pedagógico, que priorize o intercâmbio entre docentes e unidade escolar, por meio de uma comunicação preocupada com o envolvimento de todos, e que seja capaz de sobrepujar a aprendizagem superficial e fragmentada.  

No entanto, entende-se, que o desenvolvimento de um trabalho pautado na interdisciplinaridade dentro da unidade escolar não pode ser visto como um assunto altamente atualizado e que precisa de maiores estudos para que se compreenda à risca a sua prática em sala de aula, essa postura enviesada de enxergar a prática pode desencorajar não somente os alunos como também os professores.

Sabe-se, pois, que mesmo havendo alguns profissionais que mantiveram contato com essa temática a pouco tempo, ela já vem sendo muito abordada e precisa ser disseminada na Educação, para que seja do conhecimento de todos os profissionais, em especial, do professor da disciplina de Física, protagonista deste ensaio.

Conforme afiança Fazenda (2002), “o movimento interdisciplinar surgiu na Europa, mais especificamente na França e na Itália, em meados da década de 1960, época em que surgiam movimentos estudantis que colocavam em discussão a necessidade de um novo estatuto para a universidade e para a escola”, o que mostra que tal conceito não é tão jovem assim, mas, mesmo assim, necessita de novos estudos e discussões.

Desse modo, de acordo com Jodelet (2001), conclui-se que é necessária e urgente a aplicação da prática interdisciplinar na unidade escolar, com o intuito de servir como uma bússola que permita direcionar o trabalho do docente de forma a oferecer aos seus aprendizes um caminho novo, o qual venha proporcionar reflexão, desafios, atividades prazerosas, conteúdos que façam sentido para suas vidas diárias e que os motive ainda mais à investigação, em especial, no que se refere ao aprendizado da disciplina de Física.

REFERÊNCIAS

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