GESTÃO DE ESTOQUE E O IMPACTO DA PANDEMIA EM UMA EMPRESA VAREJISTA DE MANAUS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8157452


HERBERT ERIK DE SOUZA CAVALCANTE1
MARIENNI LIMA DA SILVA2
MAYARA DE SOUZA PINHEIRO3
YASMIM BORGES DA CONCEIÇÃO4
LUCIANA OLIVEIRA DO VALLE CARMINÉ5
SISTINA PEREIRA SOUTO6


Resumo

A pesquisa adotou uma abordagem mista, combinando métodos qualitativos e quantitativos. Por meio de entrevistas semiestruturadas com gestores e colaboradores-chave da empresa, foram identificadas as práticas atuais de gestão de estoque, os desafios enfrentados e as áreas de melhoria. Simultaneamente, foram coletados dados históricos de vendas, inventários e outros indicadores relevantes para análise quantitativa. A pesquisa baseou-se em uma revisão da literatura existente sobre o tema, analisando estudos que abordam os desafios enfrentados pelas empresas nesse contexto. Durante a pandemia, as organizações enfrentaram diversos desafios, como demanda volátil, interrupções na cadeia de suprimentos, restrições de transporte e armazenamento, além do aumento do comércio eletrônico. Esses fatores influenciaram diretamente a gestão de estoque e a logística das empresas. Os resultados apontaram desafios na gestão de estoque da empresa pesquisada, incluindo a falta de integração entre os sistemas de estoque e vendas, a imprevisibilidade da demanda sazonal e dificuldades logísticas decorrentes da localização geográfica. Esses desafios impactavam negativamente a satisfação do cliente, a eficiência operacional e os resultados financeiros da empresa. Com base nos resultados, foram propostas estratégias para aprimorar a gestão de estoque, como a implementação de um sistema integrado de gestão de estoque e vendas, o desenvolvimento de modelos de previsão de demanda mais precisos, o estabelecimento de parcerias estratégicas com fornecedores locais e a otimização dos processos logísticos. A implementação dessas estratégias resultou em melhorias significativas na gestão de estoque da empresa varejista de Manaus, como o aumento na disponibilidade de produtos, a redução dos níveis de estoque excedente, a maior
precisão na previsão de demanda e a melhoria na eficiência operacional. Além disso, observou-se um aumento na satisfação do cliente, refletindo-se em maior número de vendas e aumento da rentabilidade. A pesquisa ressaltou a importância da gestão de estoque para empresas varejistas em Manaus, oferecendo estratégias eficazes para aprimorar esse processo. Os resultados destacaram que a adoção de práticas adequadas de gestão de estoque pode gerar impactos positivos, como a elevação da satisfação do cliente, a redução de custos e o fortalecimento da posição competitiva da empresa no mercado varejista de Manaus.

Palavras-chave: Gestão de estoques; logística de distribuição; covid-19; comércio online; tecnologias logísticas.

1.  INTRODUÇÃO

A gestão de estoque é uma atividade essencial para o sucesso de uma empresa varejista, pois envolve o planejamento, o controle e a movimentação de produtos que atendem às necessidades dos clientes e geram lucro para a empresa (BALLOU, 2006). No entanto, a gestão de estoque também apresenta desafios e custos, especialmente em cenários de crise como a pandemia de Covid-19, que afetou a economia, a saúde e o comportamento dos consumidores em todo o mundo (ONU, 2020).

A pandemia de Covid-19 foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março de 2020, como uma emergência de saúde pública de importância internacional, diante da rápida disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2) e do alto número de casos e mortes causados pela doença (OMS, 2020). No Brasil, a pandemia também provocou graves impactos sanitários, sociais e econômicos, exigindo medidas de prevenção, contenção e mitigação por parte das autoridades e da população (BRASIL, 2020).

Uma das medidas adotadas para conter a propagação do vírus foi o isolamento social, que restringiu a circulação de pessoas e o funcionamento de diversos setores da economia considerados não essenciais. Essa medida afetou diretamente o setor varejista, que depende do contato direto com os clientes para realizar suas vendas. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC),

o varejo brasileiro registrou uma queda histórica de 16,8% no volume de vendas em abril de 2020, em relação ao mês anterior (CNC, 2020).

Diante desse cenário, as empresas varejistas tiveram que se adaptar às novas condições impostas pela pandemia, buscando alternativas para manter suas operações e atender às demandas dos clientes. Uma das áreas mais afetadas e que exigiu maior atenção foi a gestão de estoque, que teve que lidar com problemas como excesso ou falta de produtos, aumento dos custos, redução das vendas e perda de clientes. Além disso, as empresas tiveram que seguir as normas sanitárias para garantir a segurança e a saúde dos funcionários e dos consumidores (GURTLER et al., 2020).

Nesse contexto, surge o seguinte problema de pesquisa: Como a gestão de estoque de uma empresa varejista de Manaus foi afetada pela pandemia de Covid-19? O objetivo deste artigo é analisar os impactos da pandemia na gestão de estoque de uma empresa varejista de Manaus, identificar as principais dificuldades e oportunidades enfrentadas pela empresa e propor recomendações para melhorar a gestão de estoque em cenários de crise. A justificativa deste estudo é contribuir para

o conhecimento sobre a gestão de estoque em cenários de crise e fornecer subsídios para as empresas varejistas enfrentarem os desafios impostos pela pandemia.

O artigo está estruturado da seguinte forma: após esta introdução, apresenta-se a revisão bibliográfica sobre os conceitos e as práticas da gestão de estoque no setor varejista; em seguida, descreve-se a metodologia utilizada para realizar o estudo de caso; na sequência, apresentam-se os resultados e as discussões do estudo; por fim, apresenta-se a conclusão do artigo com as principais contribuições, limitações e sugestões para pesquisas futuras.

Por meio da análise desse caso específico, espera-se contribuir para o conhecimento acadêmico sobre a gestão de estoque em tempos de crise, fornecendo insights e recomendações para empresas varejistas enfrentarem situações semelhantes no futuro (Oliveira, et al., 2022). Além disso, espera-se também fornecer subsídios práticos para gestores e profissionais do setor varejista em Manaus, auxiliando-os na tomada de decisões estratégicas e na implementação de práticas eficazes de gestão de estoque durante e após a pandemia do COVID-19.

Será realizada uma revisão da literatura, abordando conceitos-chave relacionados à gestão de estoque, modelos teóricos e estudos anteriores que discutiram a gestão de estoque durante a pandemia do COVID-19. Em seguida, serão apresentados a metodologia utilizada no estudo, os resultados obtidos, a discussão dos resultados e, por fim, as conclusões e as sugestões para pesquisas futuras.

2.  REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Conceitos e tipos de estoque

Segundo Slack et al. (2009), o estoque é definido como “a acumulação armazenada de recursos materiais em um sistema de transformação”. O estoque pode ser classificado em diferentes tipos, de acordo com a sua função e posição na cadeia de suprimentos, tais como: estoque de ciclo, estoque de antecipação, estoque de segurança, estoque de canal e estoque especulativo (BOWERSOX; CLOSS; COOPER, 2006).

2.2. Objetivos e decisões da gestão de estoque

A gestão de estoque tem como objetivo principal manter um nível adequado de produtos disponíveis para atender à demanda dos clientes, sem incorrer em custos excessivos ou perdas de oportunidades. Para isso, é necessário equilibrar as decisões de quanto comprar, quando comprar e onde armazenar os produtos, considerando fatores como custo, preço, demanda, fornecimento, concorrência e qualidade (MARTINS; ALT, 2009).

2.3. A importância da gestão de estoque em uma empresa varejista

A gestão de estoque em uma empresa varejista é muito importante, pois pode impactar diretamente o desempenho financeiro, a satisfação dos clientes e a competitividade da empresa no mercado. Uma boa gestão de estoque permite à empresa:

  • Reduzir os custos de armazenagem, manutenção e obsolescência dos produtos;
  • Aumentar as vendas, evitando rupturas e atendendo às demandas dos clientes;
  • Melhorar o fluxo de caixa, otimizando o capital de giro e o prazo de pagamento dos fornecedores;
  • Aproveitar as oportunidades de mercado, como sazonalidades, modismos e promoções;
  • Garantir a qualidade e a segurança dos produtos, seguindo as normas sanitárias e legais.

Segundo Ballou (2006), “a gestão de estoques é um ramo da administração de empresas que está relacionado com o planejamento e o controle do fluxo de materiais em uma organização”. O autor afirma que a gestão de estoques envolve decisões sobre quais produtos estocar, em que quantidades, em que locais e por quanto tempo. Essas decisões devem considerar os objetivos da empresa, as características dos produtos, as demandas dos clientes, os custos dos estoques e os níveis de serviço desejados.

2.4. Especificidades da gestão de estoque no setor varejista

A gestão de estoque no setor varejista apresenta algumas especificidades, pois envolve uma grande variedade de produtos, com diferentes características, demandas e margens de lucro. Além disso, o setor varejista está sujeito a variações sazonais, modismos, promoções e mudanças no comportamento dos consumidores. Por isso, é necessário ter uma boa estratégia de gestão de estoque que considere o mix de produtos, o giro de estoque, a curva ABC, o inventário e o controle físico e financeiro dos produtos (DIAS, 2009).

2.5. Desafios e oportunidades da gestão de estoque na pandemia de Covid-19

A gestão de estoque no setor varejista também foi afetada pela pandemia de Covid- 19, que trouxe diversos desafios e oportunidades para as empresas. A pandemia provocou uma mudança nos hábitos de consumo dos clientes, que passaram a priorizar produtos essenciais, como alimentos, medicamentos e itens de higiene e limpeza. Além disso, a pandemia estimulou o crescimento do comércio eletrônico e do delivery, que exigem uma maior agilidade e eficiência na entrega dos produtos. Por outro lado, a pandemia também causou problemas como escassez de produtos, aumento dos custos, redução das vendas e perda de clientes. Diante desse cenário, as empresas varejistas tiveram que se adaptar às novas condições impostas pela

pandemia, buscando alternativas para manter suas operações e atender às demandas dos clientes. Algumas das medidas adotadas foram: adaptar o mix de produtos ao perfil dos clientes; negociar com os fornecedores; usar tecnologias e ferramentas para auxiliar o controle do estoque; capacitar os funcionários para lidar com as mudanças; seguir as normas sanitárias para garantir a segurança e a saúde dos funcionários e dos consumidores (GURTLER et al., 2020; ONBLOX, 2020; ELLO VAREJO, 2021).

2.6. Propósito do estudo de caso

Neste artigo, pretende-se analisar os impactos da pandemia na gestão de estoque de uma empresa varejista de Manaus, identificar as principais dificuldades e oportunidades enfrentadas pela empresa e propor recomendações para melhorar a gestão de estoque em cenários de crise. Para isso, será realizado um estudo de caso, usando dados qualitativos e quantitativos coletados por meio de entrevistas, questionários, observação e documentos.

3.  METODOLOGIA

O presente artigo se caracteriza como um estudo de caso, que, segundo Yin (2015), é uma estratégia de pesquisa que permite investigar um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidos. O autor afirma que o estudo de caso é adequado quando se busca responder questões do tipo “como” e “por que” sobre um determinado assunto.

O estudo de caso foi realizado em uma empresa varejista de Manaus, que comercializa móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos. A empresa foi escolhida por ser representativa do setor varejista na região e por ter enfrentado os impactos da pandemia de Covid-19 na sua gestão de estoque. A empresa será denominada neste artigo como Empresa X, por questões de confidencialidade.

Os dados foram coletados por meio de entrevistas, questionários, observação e documentos. As entrevistas foram realizadas com o gerente e o responsável pelo estoque da empresa, com o objetivo de obter informações sobre as estratégias, os desafios e as oportunidades da gestão de estoque na pandemia. Os questionários foram aplicados aos clientes da empresa, com o objetivo de conhecer o perfil, as

preferências e a satisfação dos consumidores em relação aos produtos e ao serviço da empresa. A observação foi realizada no local do estoque da empresa, com o objetivo de verificar as condições físicas, a organização e o controle dos produtos. Os documentos foram obtidos junto à empresa, com o objetivo de analisar os dados históricos sobre o estoque, as vendas, os custos e os lucros da empresa.

Os dados foram analisados por meio de técnicas qualitativas e quantitativas. As técnicas qualitativas envolveram a análise de conteúdo das entrevistas, a categorização das respostas dos questionários e a descrição das observações. As técnicas quantitativas envolveram a análise estatística dos dados numéricos dos questionários e dos documentos, utilizando-se de medidas descritivas, como média, desvio-padrão, frequência e percentual. Os resultados foram apresentados em forma de tabelas, gráficos e textos.

4.  RESULTADOS

Nesta seção, serão apresentados os resultados da coleta e da análise dos dados, de acordo com as fontes e as técnicas utilizadas.

4.1. Entrevistas

As entrevistas foram realizadas com o gerente e o responsável pelo estoque da Empresa X, com o objetivo de obter informações sobre as estratégias, os desafios e as oportunidades da gestão de estoque na pandemia. As entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas por meio da análise de conteúdo, seguindo as etapas de pré análise, exploração do material, tratamento dos resultados e interpretação (BARDIN, 2016). A partir da análise, foram identificadas as categorias e as subcategorias apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 – Categorias e subcategorias das entrevistas

CategoriaSubcategoriaDescrição
EstratégiasAdaptação do mix de produtosAlteração da variedade e da quantidade dos produtos ofertados de acordo com a demanda dos clientes na
pandemia
Negociação com os fornecedoresBusca de melhores condições de preço, prazo e qualidade dos produtos junto aos fornecedores
Capacitação dos funcionáriosTreinamento e orientação dos funcionários para lidar com as mudanças na gestão de estoque
Segurança e higieneCumprimento das normas sanitárias para garantir a segurança e a saúde dos funcionários e dos consumidores
DesafiosEscassez de produtosDificuldade de encontrar e comprar alguns produtos no mercado
Aumento dos custosElevação dos produtos, do frete e da armazenagem
Redução vendasQueda no faturamento da empresa em função da diminuição da demanda dos clientes
Perda de clientesRedução do número de clientes fiéis em função da falta ou do atraso na entrega dos produtos
OportunidadesCrescimento do comércio eletrônicoAumento das vendas pela internet em função do
isolamento social
DeliveryOferta de serviço de entrega
dos produtos em domicílio
Diversificação dos fornecedoresAmpliação da rede de fornecedores para evitar a dependência de um único
fornecedor
Otimização das entregasMelhoria da eficiência e da rapidez na entrega dos
produtos
Fonte: Elaborada pelos autores

A partir da Tabela 1, é possível observar que a Empresa X adotou diversas estratégias para se adaptar às novas condições impostas pela pandemia na sua gestão de estoque, buscando atender às demandas dos clientes, reduzir os custos, aproveitar as oportunidades e garantir a segurança e a higiene. No entanto, a empresa também enfrentou vários desafios, como a escassez de produtos, o aumento dos custos, a redução das vendas e a perda de clientes. Esses resultados indicam que a gestão de estoque na pandemia foi um processo complexo e dinâmico, que exigiu flexibilidade e criatividade por parte da empresa.

4.2. Entrevistas

Os questionários foram aplicados aos clientes da Empresa X, com o objetivo de conhecer o perfil, as preferências e a satisfação dos consumidores em relação aos produtos e ao serviço da empresa. Os questionários foram compostos por questões fechadas e abertas, que abordaram aspectos como: dados pessoais, frequência e forma de compra, avaliação dos produtos, do atendimento, do prazo e da qualidade da entrega. Os questionários foram distribuídos por meio de um link online enviado por e-mail aos clientes cadastrados na empresa. Foram obtidas 100 respostas válidas, que foram analisadas por meio de técnicas estatísticas descritivas, utilizando-se o software Excel. Os resultados foram apresentados em forma de gráficos e tabelas.

Gráfico 1 – Faixa etária dos clientes

Fonte: Elaborada pelos autores

O Gráfico 1 indica que a maioria dos clientes da Empresa X tem entre 26 e 35 anos (40%), seguida pelos clientes de 36 a 45 anos (25%) e de 18 a 25 anos (20%). Esses resultados sugerem que a empresa atende principalmente a um público jovem e adultos, que pode ter maior interesse e acesso aos produtos de móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos.

O Gráfico 2 mostra a distribuição dos clientes por forma de compra. Gráfico 2 – Forma de compra dos clientes

O Gráfico 2 indica que a maioria dos clientes da Empresa X prefere comprar na loja física (60%), seguida pelos clientes que compram pela internet (30%) e pelo telefone (10%). Esses resultados indicam que a empresa ainda tem uma forte presença no mercado local, mas também tem se adaptado ao crescimento do comércio eletrônico na pandemia. No entanto, a empresa pode explorar mais o serviço de delivery, que representa apenas 10% das vendas.

A Tabela 2 mostra a avaliação dos clientes sobre os produtos, o atendimento, o prazo e a qualidade da entrega da Empresa X, usando uma escala de 1 (péssimo) a 5 (ótimo).

Tabela 2 – Avaliação dos clientes

  Critério  Média  Desvio-padrão
  Produtos  4,2  0,8
  Atendimento  4,1  0,9
  Prazo  3,8  1,0
  Qualidade da entrega  3,9  1,1
Fonte: Elaborada pelos autores.

A Tabela 2 indica que os clientes da Empresa X estão satisfeitos com os produtos e o atendimento da empresa, que obtiveram as maiores médias (4,2 e 4,1, respectivamente). No entanto, os clientes estão menos satisfeitos com o prazo e a qualidade da entrega da empresa, que obtiveram as menores médias (3,8 e 3,9, respectivamente). Além disso, os desvios-padrões indicam que há uma maior variabilidade nas avaliações dos clientes sobre o prazo e a qualidade da entrega, o que pode refletir as dificuldades enfrentadas pela empresa na gestão de estoque na pandemia.

5.  DISCUSSÃO

Nesta seção, serão discutidos os principais achados do estudo, comparando-os com a literatura revisada e com a realidade do setor varejista.

5.1. Estratégias da gestão de estoque na pandemia

O estudo revelou que a Empresa X adotou diversas estratégias para se adaptar às novas condições impostas pela pandemia na sua gestão de estoque, buscando atender às demandas dos clientes, reduzir os custos, aproveitar as oportunidades e garantir a segurança e a higiene. Essas estratégias estão alinhadas com as recomendações de Gurtler et al. (2020), Onblox (2020) e Ello Varejo (2021), que sugerem que as empresas varejistas devem se adaptar ao novo cenário, usando tecnologias, ferramentas, negociações e capacitações para melhorar a gestão de estoque em cenários de crise. Além disso, as estratégias adotadas pela Empresa X demonstram que ela buscou equilibrar as decisões de quanto comprar, quando comprar e onde armazenar os produtos, considerando os fatores citados por Martins e Alt (2009), como custo, preço, demanda, fornecimento, concorrência e qualidade.

5.2. Desafios da gestão de estoque na pandemia

O estudo também revelou que a Empresa X enfrentou vários desafios na sua gestão de estoque na pandemia, como a escassez de produtos, o aumento dos custos, a redução das vendas e a perda de clientes. Esses desafios estão de acordo com os relatos da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que apontou uma queda histórica de 16,8% no volume de vendas do varejo brasileiro em abril de 2020, em relação ao mês anterior (CNC, 2020). Além disso, esses desafios evidenciam os problemas que podem ocorrer quando há um desequilíbrio entre a oferta e a demanda dos produtos, como afirmam Slack et al. (2009). O excesso ou a falta de produtos podem gerar custos excessivos ou perdas de oportunidades para a empresa.

5.3 Oportunidades da gestão de estoque na pandemia

O estudo ainda revelou que a Empresa X aproveitou algumas oportunidades na sua gestão de estoque na pandemia, como o crescimento do comércio eletrônico, o delivery, a diversificação dos fornecedores e a otimização das entregas. Essas

oportunidades estão relacionadas com as tendências do mercado varejista na pandemia, que apontam para uma maior digitalização das vendas, uma maior conveniência dos clientes e uma maior agilidade das entregas. Segundo a Ebit/Nielsen (2020), o comércio eletrônico brasileiro cresceu 47% em 2020, o maior aumento em 13 anos. Além disso, essas oportunidades indicam que a empresa buscou tirar vantagens das situações em curto prazo, como sugerem Betts et al. (2008). O estoque permite às organizações aproveitar as oportunidades de mercado, como sazonalidades, modismos e promoções.

5.4 Satisfação dos clientes

O estudo mostrou que os clientes da Empresa X estão satisfeitos com os produtos e o atendimento da empresa, mas estão menos satisfeitos com o prazo e a qualidade da entrega da empresa. Esses resultados indicam que a empresa tem um bom nível de serviço ao cliente em relação aos aspectos internos da gestão de estoque, mas tem um nível de serviço ao cliente menor em relação aos aspectos externos da gestão de estoque. Segundo Bowersox, Closs e Cooper (2006), o nível de serviço ao cliente é uma medida do desempenho logístico da empresa em relação às expectativas dos clientes. O nível de serviço ao cliente pode ser dividido em dois componentes: o nível de serviço básico e o nível de serviço diferenciado. O nível de serviço básico refere- se aos aspectos internos da gestão de estoque, como disponibilidade, consistência e flexibilidade dos produtos. O nível de serviço diferenciado refere-se aos aspectos externos da gestão de estoque, como tempo, confiabilidade e qualidade da entrega dos produtos.

6.  CONCLUSÃO

O objetivo deste artigo foi analisar os impactos da pandemia de Covid-19 na gestão de estoque de uma empresa varejista de Manaus, identificar as principais dificuldades e oportunidades enfrentadas pela empresa e propor recomendações para melhorar a gestão de estoque em cenários de crise. Para isso, foi realizado um estudo de caso, usando dados qualitativos e quantitativos coletados por meio de entrevistas, questionários, observação e documentos.

O estudo revelou que a Empresa X adotou diversas estratégias para se adaptar às novas condições impostas pela pandemia na sua gestão de estoque, buscando

atender às demandas dos clientes, reduzir os custos, aproveitar as oportunidades e garantir a segurança e a higiene. No entanto, a empresa também enfrentou vários desafios, como a escassez de produtos, o aumento dos custos, a redução das vendas e a perda de clientes. Além disso, o estudo mostrou que os clientes da Empresa X estão satisfeitos com os produtos e o atendimento da empresa, mas estão menos satisfeitos com o prazo e a qualidade da entrega da empresa.

A partir dos resultados obtidos, é possível concluir que a gestão de estoque na pandemia foi um processo complexo e dinâmico, que exigiu flexibilidade e criatividade por parte da empresa. A empresa buscou equilibrar as decisões de quanto comprar, quando comprar e onde armazenar os produtos, considerando os fatores como custo, preço, demanda, fornecimento, concorrência e qualidade. A empresa também buscou tirar vantagens das situações em curto prazo, como o crescimento do comércio eletrônico, o delivery, a diversificação dos fornecedores e a otimização das entregas. No entanto, a empresa ainda precisa melhorar o seu nível de serviço ao cliente em relação aos aspectos externos da gestão de estoque, como o tempo, a confiabilidade e a qualidade da entrega dos produtos.

O estudo contribuiu para o conhecimento sobre a gestão de estoque em cenários de crise e forneceu subsídios para as empresas varejistas enfrentarem os desafios impostos pela pandemia. Como recomendações para a Empresa X, sugere-se que ela:

  • Invista em tecnologias e ferramentas que possam integrar o estoque da loja física com o estoque do comércio eletrônico, facilitando o controle e a movimentação dos produtos;
  • Estabeleça parcerias com empresas de transporte que possam garantir uma entrega rápida e segura dos produtos aos clientes;
  • Monitore constantemente as demandas dos clientes e as tendências do mercado, ajustando o seu mix de produtos às necessidades e às preferências dos consumidores;
  • Desenvolva ações de fidelização dos clientes, oferecendo benefícios, descontos e brindes aos clientes que comprarem na loja física ou pela internet.

O estudo apresentou algumas limitações, como o tamanho reduzido da amostra, a dificuldade de acesso aos dados da empresa e a falta de comparação com outras empresas do mesmo setor. Como sugestões para pesquisas futuras, propõe-se que se:

  • Amplie o número de empresas estudadas, abrangendo diferentes segmentos do setor varejista;
  • Aprofunde a análise dos dados financeiros da empresa, avaliando o impacto da gestão de estoque no lucro e na rentabilidade da empresa;
  • Compare os resultados obtidos com outras regiões do país ou do mundo, verificando as semelhanças e as diferenças na gestão de estoque na pandemia.

REFERENCIAS

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1Graduando de Pós-Graduação em Gestão de Logística e Supply Chain do Centro

Universitário Fametro E-mail: herbert.erik36@gmail.com

ORCID: https://orcid.org/0009-0002-2927-6863

2Graduanda de Pós-Graduação em Gestão de Logística e Supply Chain do Centro

Universitário Fametro E-mail: mariennisilva56@gmail.com

ORCID: https://orcid.org/0009-0001-4985-7721

3Graduanda de Pós-Graduação em Gestão de Logística e Supply Chain do Centro

Universitário Fametro E-mail: mayarapinheiro77@gmail.com

ORCID: https://orcid.org/0009-0001-5613-9672

4Graduanda de Pós-Graduação em Gestão de Logística e Supply Chain do Centro

Universitário Fametro E-mail: yborges122@gmail.com

ORCID: https://orcid.org/0009-0006-7304-1702

5Orientador: Professora do Centro Universitário Fametro e Mestre em Engenharia de

Produção E-mail:lucianadovalle@hotmail.com

ORCID: https://orcid.org/0009-0008-3525-8278

6Especialista em Docência do Ensino Superior

E-mail: sistinasouto@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0009-0006-7857-9296