PIOMETRA EM CACHORROS: UMA REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8140364


Raul da Silva Rovesta1
Vinícius Henrique Ribeiro de Sá Macedo2
Denise de Fatima Rodrigues3


RESUMO

O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica e tem como objetivo delimitar sobre a piometra e todos os seus aspectos fisiopatológicos, diagnóstico, tratamento e prevenção. A piometra é um distúrbio reprodutivo muito comum em cadelas com mais de 8 anos de idade, no qual os efeitos fisiológicos da progesterona no útero desempenham um papel importante para a sua evolução. A terapia tradicional é a ovariohisterectomia. A principal vantagem da ovariohisterectomia sobre o tratamento médico é que ela é curativa e preventiva para a recorrência da piometra. No entanto, a cirurgia está associada ao risco de anestesia e torna a cadela estéril. Entretanto para a intervenção de forma adequada é fundamental a investigação criteriosa para determinação da terapia indicada. 

Palavras-chaves: Piometra. Fisiopatologia. Diagnóstico. Tratamento.

ABSTRACT

The present study is a literature review and aims to delimit about pyometra and all its physiopathological aspects, diagnosis, treatment and prevention. The pyometra is a reproductive disorder very common in bitches older than 8 years old, in which the physiological effects of progesterone in the uterus play an important role for its evolution. The traditional therapy is ovariohysterectomy. The main advantage of ovariohysterectomy over medical treatment is that it is curative and preventative for pyometra recurrence. However, the surgery is associated with the risk of anesthesia and renders the bitch sterile. However, for an adequate intervention, a careful investigation is fundamental to determine the indicated therapy. 

Key words: Pyometra. Pathophysiology. Diagnosis. Treatment.

INTRODUÇÃO

A Piometra ou endometrite purulenta crônica é uma doença metaestral comum que afeta principalmente cadelas com mais de 8 anos de idade. A doença geralmente ocorre após o estro e geralmente durante a fase lútea. A patogênese da piometra é apenas parcialmente compreendida, mas é geralmente reconhecido que o desequilíbrio hormonal primário ou resposta anormal a concentrações normais de estrogênios e progesterona afeta as células epiteliais do útero e facilita a adesão bacteriana, colonização e crescimento (EVANGELISTA; BIEGELMEYER, 2020).

Trata-se de uma condição caracterizada por inflamação uterina e inflamação uterina com acúmulo de exsudato purulento no lúmen uterino, associado à infecção bacteriana que resulta em doença sistêmica. Pode afetar várias espécies animais. Em cadelas, a piometra é uma doença com risco de vida que afeta nulíparas idosas, durante a fase lútea, quando há fase lútea, quando há níveis plasmáticos mais altos de progesterona níveis plasmáticos de progesterona (FREITAS et al., 2021).

 Os estrogênios aumentam o crescimento das células uterinas e a vascularização endometrial. Além disso, aumentam a sensibilidade uterina e a reação à progesterona. A progesterona resulta em proliferação endometrial e secreção glandular uterina, diminuição da contração miometrial e induz o fechamento do colo do útero. As bactérias comuns encontradas no útero de cadelas e gatos saudáveis ​​refletem a flora bacteriana da vagina e do colo do útero. Em geral, a Escherichia coli é o patógeno mais comumente isolado de cadelas com piometra (EVANGELISTA; BIEGELMEYER, 2020).

A patogênese da piometra em cadelas é complexa e é afetada por vários fatores, incluindo infecção bacteriana, atividade neutrofílica, motilidade uterina e concentração de imunoglobulinas. O tratamento cirúrgico é mais seguro e eficaz porque a fonte de infecção e os produtos bacterianos são removidos e a recorrência evitada. O tratamento farmacológico pode ser possível em animais reprodutores jovens e saudáveis ​​ou em um paciente para o qual a anestesia e a cirurgia são perigosas (LOPES et al., 2020).

Diante dessas considerações esse estudo se justifica pelo interesse de aprofundar o conhecimento acerca dessa condição clínica, bem como todas as suas particularidades, tem como objetivo delimitar sobre a piometra e todos os seus aspectos fisiopatológicos, diagnóstico, tratamento e prevenção. Foi realizada uma revisão de literatura composta por artigos e livros identificados nas bases de dados eletrônicos.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A piometra canina é uma doença do útero em cadelas intactas, sexualmente maduras, geralmente diagnosticada de 4 semanas a 4 meses após o estro. A doença costuma causar mudanças sutis nos estágios iniciais; portanto, o diagnóstico geralmente é feito tardiamente no processo da doença. Muitos estudos indicam um aumento da incidência de piometra em cadelas nulíparas e em cadelas com mais de 4 anos de idade. Ademais, deve ser incluída no diagnóstico diferencial de qualquer cadela intacta, independentemente dos sinais apresentados (ROSSI et al., 2021; COSTA et al., 2020).

As cadelas com piometra conforme Costa et al (2020) podem apresentar corrimento vaginal presente (piometra de colo aberto) ou sem corrimento vaginal (piometra de colo fechado). A piometra de colo uterino fechado é uma emergência médica que requer intervenção rápida para prevenir sepse avassaladora e o potencial de morte do paciente.

Segundo Nascimento et al (2021), a Piometra, que significa literalmente “útero cheio de pus”, é uma doença comum em cadelas e gatas adultas intactas e um diagnóstico menos frequente em outras espécies de pequenos animais. Em geral, a doença é caracterizada por uma infecção bacteriana supurativa aguda ou crônica do útero após o estro com acúmulo de exsudato inflamatório no lúmen uterino e uma variedade de manifestações clínicas e patológicas, local e sistêmica. 

 A doença se desenvolve durante a fase lútea, e a progesterona desempenha um papel fundamental para o estabelecimento da infecção por bactérias oportunistas ascendentes. O patógeno mais freqüentemente isolado de piometra uterina é Escherichia coli (E. coli). Uma ampla gama de sinais clínicos está associada à doença, que pode ser fatal em casos graves (LOPES et al., 2020).

De acordo com Nascimento et al (2021) e Lopes et al (2020) é importante procurar atendimento veterinário imediato quando houver suspeita de piometra porque o estado do paciente pode se deteriorar rapidamente e a intervenção precoce aumenta as chances de sobrevivência. O diagnóstico geralmente é direto, mas pode ser desafiador quando não há corrimento vaginal e sinais clínicos obscuros. A ovariohisterectomia cirúrgica (OHE) é o tratamento mais seguro e eficiente, mas alternativas médicas podem ser uma opção em alguns casos.

A piometra é uma doença importante, principalmente em países onde a castração eletiva de cães e gatos saudáveis ​​geralmente não é realizada. A doença geralmente afeta cadelas de meia-idade a mais velhas, com idade média ao diagnóstico de 7 anos, e tem sido relatada em cães de 4 meses a 18 anos de idade. Em gatas, a piometra não é tão comum, o que se acredita depender de menor dominância de progesterona devido à sazonalidade e à ovulação induzida (OLIVINDO et al., 2021; OLIVEIRA et al., 2021).

Para Nascimento et al (2021) existem diferenças relacionadas à idade e à raça na ocorrência de piometra em cães, ou seja, algumas raças desenvolvem a doença mais cedo e em maior proporção do que outras raças. A clara predisposição racial sugere que fatores de risco genéticos estão envolvidos no desenvolvimento da doença. Ainda conforme o autor, recentemente, foi identificado no Golden Retriever, raça com maior risco de piometra, uma associação significativa em todo o genoma a uma região do cromossomo 22, localizada no gene ABCC4. As descobertas sugerem uma função causal potencial desse gene, que codifica uma prostaglandina transportadora, para o desenvolvimento da piometra, mas que a complexa doença provavelmente é promovida por vários fatores de risco genéticos.

A intervenção com tratamentos exógenos com hormônios esteróides, como progestagênios, ou compostos de estrogênio que aumentam a resposta à progesterona estão associados a um risco aumentado da doença. A gravidez é ligeiramente protetora em cães, um efeito que também é influenciado pela raça. Acredita-se que a hiperplasia endometrial cística (CEH) aumente a suscetibilidade uterina à infecção. Em gatos, pouco se sabe sobre fatores de risco e fatores de proteção, mas a terapia hormonal anterior (ou seja, progesterona exógena) está associada a um risco aumentado (ROSSI et al., 2021; COSTA et al., 2020). 

De acordo com Costa et al (2020), a complexa patogênese da piometra ainda não é completamente compreendida, mas envolve fatores hormonais e bacterianos. Embora a maioria dos estudos tenha sido feita em cães, acredita-se que o desenvolvimento seja semelhante em gatos. O ambiente uterino durante a fase lútea é adequado para a gravidez, mas também para o crescimento microbiano. A progesterona estimula o crescimento e a proliferação das glândulas endometriais, aumento da secreção, fechamento cervical e supressão das contrações do miométrio. A resposta leucocitária local e a resistência uterina à infecção bacteriana também diminuem. 

As concentrações circulantes de estrogênio e progesterona geralmente não são anormalmente elevadas na piometra, e acredita-se que o aumento do número e da sensibilidade dos receptores hormonais inicia uma resposta amplificada. Os corpos lúteos e cistos foliculares simultâneos são mais frequentemente encontrados em cadelas com piometra, sustentando um efeito hormonal sinérgico. Acredita-se que a proliferação patológica mediada pela progesterona e o crescimento das glândulas endometriais e a formação de cistos (isto é, CEH) predispõem à piometra, mas os dois distúrbios podem se desenvolver independentemente (COSTA et al., 2020).

Ainda conforme Costa et al (2020) pode haver acúmulo de líquido estéril no lúmen uterino, com ou sem crescimento das glândulas endometriais e a formação de cistos, o que é definido como hidrometra ou mucometra ou, mais raramente, hemometra, dependendo do tipo de líquido e de seu conteúdo de mucina. Os sinais clínicos são geralmente subclínicos ou leves quando não há infecção bacteriana do útero. A hiperplasia endometrial pseudo placentacional, com endométrio organizado em um padrão semelhante à placenta, tem sido associada à piometra, mas seu papel no desenvolvimento não é conhecido com precisão.

Segundo a pesquisa de Lopes et al (2020), E coli é o patógeno predominante isolado de piometra uteri, mas outras espécies também podem ocorrer tal como Staphylococcus spp, Streptococcus spp, Pseudomonas spp, entre outros. Mais de uma espécie bacteriana pode estar envolvida e, às vezes, as culturas são negativas. A piometra enfisematosa é causada por bactérias produtoras de gás. Um útero saudável elimina as bactérias que entraram durante a abertura cervical, mas a capacidade de depuração varia dependendo do estágio do ciclo estral. 

Em geral, Rossi et al (2021) descreve que a infecção durante a fase lútea leva mais frequentemente ao crescimento das glândulas endometriais e a formação de cistos/piometra em comparação com outras fases do ciclo estral. A infecção é provavelmente ascendente porque as mesmas cepas estão presentes no trato gastrointestinal, mas a disseminação hematogênica também pode ocorrer. As E. coli são habitantes naturais da flora vaginal e têm maior capacidade de aderir a receptores específicos em um endométrio estimulado por progesterona. A glicosilação do endométrio também pode facilitar a adesão bacteriana. Certos sorotipos de E. coli são mais comuns e geralmente exibem as mesmas características de virulência que os isolados de infecções do trato urinário. A capacidade de produzir biofilme pode ser importante para E. coli na piometra. O mesmo clone bacteriano pode frequentemente ser isolado do útero e da bexiga na piometra.

As bactérias e produtos bacterianos são potentes indutores de inflamação local e sistêmica. As endotoxinas, componentes lipopolissacarídeos de bactérias gram-negativas, como E. coli , são liberadas na circulação durante a desintegração bacteriana e induzem febre, letargia, taquicardia e taquipnéia. As concentrações mais altas de endotoxina podem causar choque fatal, coagulação intravascular disseminada e falência generalizada de órgãos (ROSSI et al., 2021).

De acordo com a pesquisa de Costa et al (2020), a piometra tem sido associada à endotoxemia e bacteremia, e a infecção disseminada pode afetar vários órgãos. Aproximadamente 60% das cadelas e 86% das gatas com piometra sofrem de sepse (disfunção orgânica com risco de vida causada por uma resposta desregulada do hospedeiro a um processo infeccioso). Por essa razão, a doença é considerada uma emergência médica e é importante procurar atendimento veterinário imediato porque o estado de saúde do paciente pode se deteriorar rapidamente.

No que tange a apresentação clínica, Freitas et al (2019) refere que tipicamente, animais de meia-idade a idosos apresentam-se até 2 meses a 4 meses após o estro com uma história de vários sinais associados ao trato genital e doença sistêmica. Um corrimento vaginal contínuo ou intermitente muco purulento hemorrágico está frequentemente presente, mas pode estar ausente se o colo do útero estiver fechado. 

A doença sistêmica costuma ser mais grave se o colo do útero estiver fechado, e o útero pode ficar distendido. Os sinais sistêmicos clássicos são anorexia, depressão/letargia, polidipsia, poliúria, taquicardia, taquipneia, pulso fraco e membranas mucosas visíveis anormais. Também, febre, desidratação, vômitos, dor abdominal à palpação, anorexia, anormalidades na marcha e diarréias estão presentes em aproximadamente 15% a 30% das cadelas com a doença (COSTA et al., 2020). 

Os sinais clínicos mais comuns em gatas são corrimento vaginal, letargia e distúrbios gastrintestinais, como anorexia, vômito e diarréia. O corrimento vaginal pode estar ausente ou oculto por hábitos de limpeza exigentes em até 40% das gatas afetadas. A perda de peso, desidratação, polidipsia/poliúria, taquicardia, taquipnéia, dor abdominal à palpação, mucosas anormais (pálidas, hiperêmicas ou tóxicas) e aparência descuidada são outros achados associados à piometra felina (EVANGELISTA; BIEGELMEYER, 2020).

De acordo com Oliveira et al (2021) a doença é fácil de reconhecer em casos clássicos, mas pode ser mais desafiadora quando não há corrimento vaginal (colo do útero fechado) e a história e o quadro clínico é obscuro. A piometra deve ser um diagnóstico diferencial em cadelas e gatas admitidas com sinais de doença após o estro, mas a doença pode ocorrer a qualquer momento durante o ciclo estral. O diagnóstico preliminar é baseado na história e nos achados dos exames físico e ginecológico, análises hematológicas e bioquímicas do sangue e ultrassonografia e/ou radiografia do abdome. A cultura bacteriológica do corrimento vaginal não é útil para o diagnóstico porque os mesmos micróbios estão presentes na vagina de animais saudáveis. A palpação abdominal cuidadosa, para evitar a ruptura de um útero frágil, pode identificar um útero aumentado.

O diagnóstico por imagem é valioso para determinar o tamanho uterino e para descartar outras causas de aumento uterino. A radiografia frequentemente identifica uma grande estrutura tubular no abdome caudoventral. A ultrassonografia tem a vantagem de detectar fluido intrauterino, mesmo quando o diâmetro uterino está dentro da faixa normal, e de revelar alterações patológicas adicionais do tecido uterino e dos ovários, como cistos ovarianos ou hiperplasia endometrial cística, que podem afetar negativamente o resultado do tratamento médico (OLIVEIRA et al., 2021).

Na piometra enfisematosa, o útero cheio de gás é visível no diagnóstico por imagem. Raramente são necessárias técnicas de diagnóstico por imagem mais avançadas. Os diagnósticos diferenciais incluem mucometra, hidrometra e hemometra que podem ter apresentação clínica e achados ultrassonográficos semelhantes. A citologia vaginal geralmente mostra degeneração leucocitária grave, neutrófilos e alguns macrófagos, plasmócitos e linfócitos, mas a fagocitose bacteriana nem sempre é visível. A vaginoscopia é útil para determinar a origem de um corrimento vaginal e para excluir outras patologias, mas geralmente não é realizada no cenário clínico emergente. O diagnóstico de piometra é verificado por exame macroscópico e histológico pós-operatório do útero e ovários e exame microbiológico do conteúdo uterino (ROSSI et al., 2021; ALMEIDA, 2021).

Para Almeida (2021), relacionado à utilização de teste clínico-patológico e parâmetros laboratoriais, configuram elementos primordiais. As anormalidades de parâmetros hematológicos e bioquímicos são geralmente investigadas, com exames complementares realizados dependendo do estado de saúde. A leucocitose, com neutrofilia e desvio à esquerda, e monocitose são achados característicos da piometra, juntamente com anemia regenerativa normocítica e normocrômica. A disfunção renal é comum, para a qual contribuem a endotoxemia, a disfunção glomerular, o dano tubular renal e a diminuição da resposta ao hormônio antidiurético.  A cistite e proteinúria concomitantes geralmente desaparecem após o tratamento da piometra, mas a proteinúria grave que persiste pode predispor à insuficiência renal. Os mediadores inflamatórios circulantes e as proteínas de fase aguda geralmente estão aumentados. Um estado de hipercoagulabilidade geralmente está presente.

Segundo Rossi et al (2021) o tratamento cirúrgico é mais seguro e eficaz porque a fonte de infecção e os produtos bacterianos são removidos e a recorrência evitada. As técnicas assistidas por laparoscopia foram desenvolvidas, mas não são comumente usadas e apenas em casos leves.O  tratamento médico (farmacológico) pode ser possível em animais reprodutores jovens e saudáveis ​​ou em um paciente para o qual a anestesia e a cirurgia são perigosas. Em pacientes com doença grave ou quando complicações, como peritonite ou disfunções orgânicas, ou o colo do útero está fechado, o tratamento médico não é recomendado e a cirurgia é o tratamento de escolha. 

Os candidatos ao tratamento médico precisam ser cuidadosamente selecionados para melhor prognóstico de recuperação e subsequente fertilidade.  A cultura microbiológica e os testes de sensibilidade são pré-requisitos para a seleção ideal da terapia antimicrobiana, para a qual as amostras são obtidas da vagina cranial ou do útero no pós-operatório (ROSSI et al., 2021).

A remoção da infecção conforme Rossi et al (2021) é fundamental e a cirurgia não deve ser adiada desnecessariamente devido ao risco de endotoxemia e sepse quando o útero permanece in situ. A anestesia e o manejo perioperatório estão focados na manutenção da função hemodinâmica, função e proteção gastrointestinal, controle da dor, oxigenação celular, nutrição e cuidados de enfermagem. 

De acordo com Oliveira et al (2021), certos medicamentos podem aliviar a resposta inflamatória. Um OHE padrão é executado com algumas modificações. O útero pode ser grande, friável e propenso a ruptura, e é importante manusear os tecidos com cuidado. A cavidade abdominal deve ser protegida contra vazamento acidental de pus através de laceração uterina ou abertura das trompas de falópio/bolsa ovariana, fechando o útero com zaragatoas umedecidas de laparotomia. Os vasos no ligamento largo são geralmente ligados. 

O material purulento é completamente removido do coto de tecido cervical remanescente, que não é suturado. A urina para cultura bacteriana pode ser obtida por cistocentese quando a bexiga é exposta. O abdome é rotineiramente fechado, mas se estiver contaminado com pus, ele deve ser removido e o abdome lavado com vários litros de solução salina fisiológica aquecida e uma drenagem de sucção fechada (ou aberta) considerada. As amostras para cultura bacteriana são adquiridas antes do fechamento abdominal, se necessário. Para verificação do diagnóstico, é realizado exame macroscópico e histopatológico do útero e ovários (OLIVEIRA et al., 2021).

Para o manejo médico (farmacológico), a seleção cuidadosa do paciente é fundamental para garantir o melhor resultado possível (isto é, resolução da doença clínica e manutenção da fertilidade). Os candidatos adequados são cadelas e gatas reprodutoras jovens e saudáveis ​​com colo do útero aberto e sem cistos ovarianos. É importante que os pacientes estejam estáveis ​​e não gravemente enfermos, pois pode levar até 48 horas para o efeito do tratamento de algumas drogas utilizadas (ROSSI et al., 2021).

Para Oliveira et al (2021) e Rossi et al (2021) as contraindicações incluem doença sistêmica, febre ou hipotermia, restos fetais intrauterinos, disfunções orgânicas ou complicações, como peritonite e sepse. Efeitos adversos de medicamentos podem ocorrer, e endotoxemia e sepse podem rapidamente transformar uma piometra clinicamente estável em uma emergência. 

A hospitalização é, portanto, recomendada para permitir monitoramento rigoroso, tratamentos de suporte e intervenção rápida. Sinais clínicos, redução e eliminação do corrimento vaginal; o tamanho do útero; e as anormalidades laboratoriais se normalizam gradualmente em 1 a 3 semanas. A ovariohisterectomia cirúrgica pode ser necessário sem demora se surgirem complicações ou o estado geral de saúde se deteriorar e em casos refratários. Os antimicrobianos isolados para o tratamento da piometra podem reduzir a doença e prevenir sua progressão, mas não resultam na cicatrização uterina (EVANGELISTA; BIEGELMEYER, 2020).

As estratégias de tratamento médico segundo Freitas et al (2019) são minimizar os efeitos da progesterona impedindo sua produção e/ou ação, eliminar a infecção uterina, promover relaxamento do colo uterino e expulsão do pus intraluminal e facilitar a cicatrização uterina. As drogas comumente utilizadas são a prostaglandina F natural (PGF) ou seu análogo sintético cloprostenol, agonistas da dopamina (cabergolina e bromocriptina) ou bloqueadores dos receptores de progesterona (aglepristona). 

Os protocolos disponíveis para tratamento puramente médico da piometra incluem terapia antimicrobiana sistêmica, frequentemente recomendada por 2 semanas ou mais. A duração efetiva mais curta da terapia antimicrobiana adjuvante, no entanto, não foi determinada, e 5 dias e 6 dias foram suficientes em 2 estudos usando aglepristona. O medicamento antimicrobiano e o protocolo de administração devem ser baseados em cultura bacteriana, testes de sensibilidade e farmacocinética/farmacodinâmica para alcançar o efeito ideal. O tratamento de suporte adicional, incluindo fluidos intravenosos e suplementação de eletrólitos, é fornecido dependendo dos exames físicos e dos resultados dos testes laboratoriais (EVANGELISTA; BIEGELMEYER, 2020).

O prognóstico de sobrevivência e fertilidade para Costa et al (2020) é considerado reservado a bom. A reprodução no ciclo estral subsequente é consistentemente recomendada após o tratamento médico, para evitar a recorrência. O sucesso médio relatado em longo prazo (resolução da doença clínica) do tratamento médico é de aproximadamente 86%. O prognóstico para fertilidade após tratamento médico é geralmente considerado bom, com uma taxa média de fertilidade de 70% (intervalo de 14% a 100%) relatada em cães e de 60% em gatos. A taxa média de recorrência relatada em cães é de 29% e de 0% a 14% em gatos. As taxas de fertilidade após o tratamento com aglepristona são maiores em cadelas mais jovens (<5 anos) e naquelas que não apresentam nenhuma outra patologia uterina e ovariana.

Segundo Evangelista e Biegelmeyer (2020) o diagnóstico e tratamento da piometra precocemente é favorável, e métodos diagnósticos não invasivos são necessários.  A cirurgia eletiva tem a vantagem de ser realizada em animal sadio e prevenir a piometra e outras doenças uterinas. Como existem muitos efeitos colaterais negativos da esterilização, todos os prós e contras de tal intervenção precisam ser avaliados minuciosamente em cada indivíduo.  Se a reprodução no primeiro estro após o tratamento médico não for possível, recomenda-se um monitoramento rigoroso para descartar anormalidades que possam surgir durante a fase lútea. Os bloqueadores dos receptores de progesterona ou prostaglandinas podem prevenir o desenvolvimento de piometra em pacientes de alto risco. Alguns investigadores recomendam adiar o estro subsequente após o tratamento médico da piometra, para promover a cicatrização uterina. 

CONCLUSÃO

Durante a elaboração desse artigo, pode-se concluir que a piometra é uma doença que requer muita observação para ser detectada e requer um estudo clínico aprofundado a fim de poupar a vida do animal e oferecer boa qualidade de vida durante o prognóstico. Quando não identificada em seu estágio inicial, pode desencadear desfechos insatisfatórios para o animal, podendo chegar até mesmo ao óbito. Por essa razão é muito importante que o profissional saiba identificar os primeiros sintomas para evitar a evolução da doença.

O médico veterinário deve ter uma conduta investigativa que parta dos exames clínicos, laboratoriais e anamnese. O exame físico é indispensável e é importante que ele seja complementado com exames com fins diagnósticos, como laboratoriais e de imagens. Assim que detectada, o tratamento é iniciado. Quando possível o uso de tratamentos medicamentosos e um acompanhamento antes, durante e depois o tratamento é recomendado. Caso a doença esteja em estágio avançado à cirurgia é indicada para poupar o sofrimento do animal visando sua rápida recuperação. A ovariohisterectomia cirúrgica é a técnica cirúrgica mais indicada, porém, é uma técnica que oferece risco.

REFERÊNCIAS

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EVANGELISTA, Vivian; BIEGELMEYER, Patrícia. Castração e prevenção à piometra em cadelas e gatas. In: BIOLÓGICAS E SAÚDE. 2020.

COSTA, Sarah Priscila Araujo; MARIANO, Daiane Barbosa; MONTEIRO, Rodrigo Casemiro Pinto. Estudo retrospectivo da casuística de piometra em cadelas atendidas em hospital veterinário escola no período de cinco anos. Revista Saúde-UNG-Ser, v. 13, n. 2 ESP, p. 81, 2020.

FREITAS, Ivina De Almeida et al. Piometra em cadela shih-tzu-relato de caso. Revista Multidisciplinar em Saúde, v. 2, n. 3, p. 27-27, 2021.

FREITAS, Patricia Maria Coletto et al. Particularidades nas cirurgias do sistema reprodutor da espécie canina. Rev. Bras. Reprod. Anim, v. 43, n. 2, p. 346-355, 2019.

LOPES, C. E. et al. Insights on the genetic features of endometrial pathogenic Escherichia coli strains from pyometra in companion animals: Improving the knowledge about pathogenesis. Infection, Genetics and Evolution, v. 85, p. 104453, 2020.

NASCIMENTO, Gilka Zaione et al. Piometra aberta em cadela de 07 meses. Salão do Conhecimento, v. 7, n. 7, 2021.

OLIVEIRA, Luisa Biagini et al. Piometra em cadela: relato de caso. ANAIS CONGREGA MIC-ISBN 978-65-86471-05-2, v. 17, p. 113-117, 2021.

OLIVINDO, Rodrigo Fernando Gomes et al. Perfil e perspectiva dos tutores de cães, do Hovet Público, sobre os benefícios da castração. Pubvet, 2021.

ROSSI, Lucas Ariel et al. Aspectos clínicos, laboratoriais e cirúrgicos de 15 casos de piometra em cadelas. Research, Society and Development, v. 10, n. 9, p. e35110918004-e35110918004, 2021.


1Graduando do curso de Bacharel em Medicina Veterinária Faculdade Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio(CEUNSP), Salto, SãoPaulo, Brasil – E-mail:
Raul_rovesta@yahoo.com.br
2Graduando do curso de Bacharel em Medicina Veterinária Faculdade Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio(CEUNSP), Salto, SãoPaulo, Brasil
3Docente orientadora do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio(CEUNSP), Salto, SãoPaulo, Brasil