O CONCEITO DE CIVILIZAÇÃO¹

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8136554


Natalia Borges da Costa


RESUMO: O presente trabalho é uma breve explanação sobre o conceito de Civilização.

Palavras-chaves: civilização; modernidade; teoria crítica, direitos humanos.

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa é uma breve análise do conceito de Civilização a partir da seguinte citação de Braidwood:

“Mas um povo pode produzir alimentos sem estar civilizado. Em muitas partes do mundo, isso ainda ocorre. Quando os brancos chegaram à América, os índios, em muitas partes deste hemisfério, eram produtores de alimentos. Eles cultivavam milho, batata, tomate, abóbora e muitas outras coisas que os brancos nunca haviam comido. No entanto, somente os astecas do México, os maias do Yucatán e da Guatemala, e os incas dos Andes eram civilizados.”² (grifo nosso).

Mas porque alguns povos são considerados civilizados e outros não? De acordo com o Dicionário Houaiss, a palavra “povo” significa: “Conjunto de pessoas que falam a mesma língua, têm costumes e interesses semelhantes, história e tradições comuns.2 Ou seja, um povo é um conjunto de pessoas que possuem e/ou fazem parte de uma mesma cultura.

A definição de Cultura é:

“Conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos, costumes e etc. que distinguem um grupo social; forma ou etapa evolutiva das tradições e valores intelectuais, morais, espirituais (de um lugar ou período específico); civilização.”4 (grifo nosso).

É notório que Cultura é sinônimo de Civilização. E vimos anteriormente que todo povo possui uma cultura, pois se não possuísse, não seria povo. Um povo não precisa sequer habitar o mesmo território, pois as pessoas de um determinado povo estão ligadas por sua origem, religião ou qualquer outro laço: como os judeus e árabes, por exemplo. Então porque alguns povos não são considerados civilizados? Todo povo possui cultura; e civilização está diretamente ligada à cultura.

1 – CIVILIZAÇÃO

A História Tradicional reconhece que as primeiras civilizações do mundo desenvolveram-se no Crescente Fértil (onde hoje se encontra o Iraque, próximo à área onde os rios Tigre e Eufrates deságuam no Golfo Pérsico, na extremidade inferior do vale da Mesopotâmia). Elas surgiram entre 4.000 e 300 a.C. O Neolítico não acabou ao mesmo tempo em todos os lugares: acabou primeiro na Mesopotâmia e Oriente Médio. Aproximadamente 3.000 anos depois disto foi a vez da Europa Central; e a região da Grã-Bretanha permaneceu no atraso até aproximadamente 3.000 a.C.

Foi na Mesopotâmia que surgiu, primeiramente, as criações de animais, mais especificadamente cabras, em aproximadamente 10.000 a.C. Nos milhares de anos seguintes, as pessoas foram aprendendo a domesticar vários outros animais, como vacas, touros, burros, porcos, carneiros. Também inventaram redes e anzóis.5

E foi também na Mesopotâmia onde, pela primeira vez na história do homem, foram lançadas sementes sobre a terra e irigadas: a Agricultura. Por isto era tão primordial morar perto dos rios, pois assim teriam fácil acesso à água, para poder irrigar o solo e suas plantações. As primeiras grandes civilizações (Mesopotâmia, Índia, China e Egito) nasceram próximo a grandes rios. Elas construíram canais de irrigação há 7.000 anos atrás.

Como o aumento da população, as pessoas passaram a construir as primeiras casas de pedra e tijolos: a cidade mais antiga do mundo é Jericó, que hoje está no território de Israel mas sob jurisdição Palestina. Há 10.000 anos atrás Jericó já contava com 3.000 habitantes. Se a própria História Tradicional reconhece que estes povos tão antigos já eram civilizados, porque alguns povos mais recentes que eles não são considerados civilizados?

1.1 – Conceito de Civilização

De acordo com o Houaiss, Civilização é:

“1) ato ou efeito de civilizar-se; 2) conjunto de aspectos peculiares à vida intelectual, artística, moral e material; 3) condição de adiantamento e de cultura social; progresso – exemplo: indígena desconhecia técnicas já dominadas pelos europeus; tipo de cultura (tecnológica, judaico-cristã)”.6 (grifo nosso)

Ora, o dicionário afirma que os indígenas não conheciam as técnicas europeias, portanto não tinham progresso e, portanto não eram civilizados. Mas o próprio dicionário então se contradiz, pois ele afirma que cultura é sinônimo de civilização; e os índios têm cultura.

Braidwood7 afirmou que os Astecas, Maias e Incas eram civilizados, mas que outros povos não. Ocorre que os Astecas, Maias e Incas também eram índios. E porque eles eram civilizados e outros não? De onde surge tamanha contradição?

De acordo com o historiador Matheus Blach8, o conceito de civilização tem em sua origem o sentimento de diferença entre os orientais e os ocidentais: quando os romanos passaram a chamar de bárbaros todos os que não eram romanos, iniciou-se uma forma pejorativa de se tratar alguém que é de outro povo. Mas foi somente no século XIX, época em que as ideias positivistas e iluministas (Projeto da Modernidade) estavam em ascensão, é que o conceito de civilização passou a ser realmente usado, justamente para dar uma legitimidade ao poder europeu em detrimento de outros povos: se alguém não fosse europeu, não era civilizado. Desta forma, as elites possuíam a desculpa perfeita para justificar suas invasões e guerras a outros povos. O conceito de civilização está diretamente ligado ao Projeto da Modernidade.

1.1.1 – Positivismo9

No século XIX, o Positivismo Jurídico emergiu dentro de certa conjuntura sócio-econômica e política e se justificou. Atualmente, é uma ideologia ultrapassada e não se legitima mais: é um modelo hermenêutico e uma circunspeção que não se harmoniza com a soma total do universo jurídico. Vivemos o tempo das angústias, o da “Pós-Modernidade”. O Projeto da Modernidade falhou em sua tarefa última, que era a de encontrar uma solução para os males que devastam a humanidade. O Direito, como conseqüência, também mostra uma grande falta de estrutura, se dividindo entre o Direito Formal e o Direito Moderno. E não está conseguindo cumprir sua tarefa última, que é a de fazer justiça.

O século XX foi a história de uma época paradoxal, cheia de catástrofes, extremismo, marcada por profundas contradições: ao mesmo tempo em que tivemos a positivação da dignidade da pessoa humana e os Tratados de Paz, tivemos as guerras, as desigualdades, os genocídios: os fracassos da Modernidade. O Século da Razão foi o que mais gerou mortes na humanidade. Mais de cem milhões de mortos somente nas guerras. O fanatismo científico da Modernidade teve como conseqüência as destruições ordenadas de grupos étnicos, pelo extermínio dos seus indivíduos. O primeiro genocídio do século XX foi o massacre do povo armênio pelos turcos otomanos, entre 1915 e 1917, 1 milhão e 500 mil armênios foram assassinados pelos turcos. Massacre este que a Turquia ainda não reconheceu. Até os dias de hoje, grande parte dos armênios crêem que o genocídio de seu povo abriu as portas para o Holocausto. “Afinal, quem é que se lembra do extermínio dos armênios?”, teria afirmado Hitler.

O Holocausto, no qual cerca de 7 milhões e 500 mil pessoas morreram: 60% dos judeus da Europa, ou seja, entre 5 milhões e 500 mil e 6 milhões de judeus foram assassinados. Além deles, também foram mortos os ciganos (entre 220 mil e 500 mil), os enfermos sem cura (cerca de 200 mil), os homoafetivos, os negros e os comunistas (não existe um número seguro em relação a eles). A Razão Total nos conduziu à barbárie. Esse desejo fanático pela igualdade nos levou à homogeneidade, o desejo de que todos devem ser iguais: o pensamento nazista de que “quem não é ariano é uma peste”, nos remete à Auschwitz, onde os judeus foram mortos com o pesticida Zyklon B, veneno criado originalmente para o extermínio de insetos e roedores. Mortos como peste. Como ratos.  (Ironicamente, o Zyklon B foi criado e desenvolvido primitivamente por Fritz Haber, um judeu alemão que emigrou forçosamente em 1934). Para os nazistas, quem não tem sangue ariano não deve ser visto como ser humano. Milhões de judeus foram para os campos de concentração. Os qualificados trabalhavam como escravos nas fábricas alemãs. Outros eram executados. Os nazistas arrancavam os dentes deles sem anestesia porque queriam o ouro da obturação. Os cabelos eram usados para forrar colchões e travesseiros. A gordura do corpo deles era para fazer sabão. O Dr. Mengele usou seres humanos como cobaias: rompia os bracinhos dos bebês várias vezes para saber quantas vezes eles iriam resistir; retirava o olho de uma pessoa e tentava transplantar em outra; mutilava a genitália de um homem e tentava implantá-la em uma mulher, e muitas outras barbáries. O desprezo e o desdém nazista ao ser humano eram inacreditáveis.

É assombroso que uma cultura com uma tradição humanitária tão grandiosa pudesse ter admitido o regime nazista. Notáveis alemães, como os cientistas Planck, Einstein, Gauss, Hilbert, Freud, Weber, Simmel e Leibniz;músicos como Bach, Mozart, Beethoven, Brahms, Schubert, Schumann, Bruckner e Mahler; escritores como Thomas Mann, Heine, Lesing e Goethe; pintores como Dürer, Klimt e Friedrich; dramaturgos como Büchnner e Brecht; e filósofos como Kant, Hegel, Marx, Engels, Dilthey, Husserl, Wittgenstein, Popper e Carnap10. Homens como estes são provas de que a harmonia e a solidariedade entre os povos e as produções e invenções livres eram tradições culturais da Alemanha. Nem todos os alemães aprovaram Hitler, mas ainda assim o anti-semitismo estava positivado legalmente. O conformismo da sociedade alemã em relação ao tratamento destinado aos que eram considerados diferentes acabou resultando no regime nazista. De acordo com Augusto Cury11, dentro da psicologia, o conformismo é chamado de “Psicoadaptação”.

O fenômeno da Psicoadaptação é a falta de capacidade dos sentimentos humanos de reação com a mesma profundidade frente à apresentação do mesmo estímulo. Quando estamos expostos de formas repetidas a estímulos que nos estimulam de forma positiva ou negativa, com o passar do tempo vamos deixando de ter aquela profundidade e intensidade iniciais da reação emocional. Assim, nos tornamos psicoadaptados àqueles estímulos. A sociedade alemã perdeu sua sensibilidade com o passar do tempo em que ficaram subjugadas à publicidade nazista e contemplaram passivamente e silenciosamente os judeus sendo mortos e tratados como animais. Os efeitos da Psicoadaptação são incontáveis e excessivamente complexos. O homo sapiens se transformou num observador apático e inerte de suas próprias penúrias. Nossa espécie ficou enferma. Assim, chegamos à conclusão de que nenhum povo está isento ou imune à barbárie fascista.

O genocídio armênio e o Holocausto não foram um desvio da Razão. Não foram erros dos modernos. Estes genocídios foram a realização da história, do progresso, da igualdade étnica, da liberdade – liberdade de uns em detrimento de outros. Hitler não era um louco, ele era um moderno. Uma sociedade que buscava a homogeneidade e unidade étnica: Razão moderna de uma meta narrativa vitoriosa. A “banalização do mal” de Hannah Arendt12. E a história prevista por Voltaire, onde a Razão busca o bem, não se realizou. A Razão nos levou à ilusão.

Adorno afirmou que antes, a violência era vista como esperança de uma modificação, mas depois do stalinismo e do nazismo, “ou a humanidade renuncia à violência da lei de talião, ou a pretendida práxis política radical renova o terror do passado”13. Vivemos uma era que oscila entre a opressão e a liberdade: validade e faticidade. Ao mesmo tempo em que temos pessoas analfabetas e a grande desigualdade social, temos altas tecnologias. Época de paradoxos, porque a Razão governamental ainda, taciturnamente, exerce autoridade sobre a direção desta narrativa. 26 mil e 500 pessoas mortas entre 2005 e 2006 com a entrada dos Estados Unidos no Iraque. O caos iraquiano é fruto de uma ação que instrumentaliza, não importando os meios, o que importa é o fim. Império da ordem. Império do material. Um terço da população mundial sobrevive entre a vida e a morte, vivendo basicamente com 1 dólar por dia. Estão no limbo da história. Esta é a vitória do progresso. A dialética do esclarecimento não deixou de operar. Chegamos a uma sociedade cheia de direitos e vazia de justiça. Sofremos os desgastes de ter que calcular os desvios da própria Razão. Torna-se necessário reavaliar o discurso moderno. No interior do pensamento Pós-moderno, a realização do moderno se torna fundamental. O Pós não possui identidade própria, mas busca uma remissão entre renegar e superar. Uma reavaliação do moderno e de suas falsidades. O “Pós” significa uma despedida da realidade. Quanto mais progresso, mais liberdade, a exaustão do mundo, a escassez dos recursos naturais, o aquecimento global, a coisificação do meio ambiente, que não é mais natureza, é produto, porque é rentável. A Amazônia não é mais um patrimônio ecológico, ela é dinheiro, pois resulta nisso. O tempo das incertezas, do vazio, da troca de valores, do mal-estar. Do imediatismo, da nostalgia. A conversão da Razão em Razão Instrumental. A idéia de que no fundo, a Modernidade, enquanto renascimento, nasceu de novo a posição do homem no centro da história, esquecendo o teologismo, resgatando dos gregos o caminho à direção da busca pela liberdade individual do homem, que acabou se convertendo num processo de instrumentalização de tudo. A Razão se esgotou no domínio da natureza e no domínio do outro[13].

Em maio de 1968, surgiu a emergência dos direitos das minorias: antes, o respeito pela igualdade. Agora, o respeito pelas diferenças. Não se fala mais em direitos do homem, mas em direitos humanos. O Drº Luca Cavalli-Sforza, mestre emérito da Universidade de Medicina de Stanford, em 1995, editou um livro que fez com base em pesquisas genéticas em mais de 2 mil povos diferentes. Neste trabalho, ele chegou à conclusão de que “a cor dos olhos, da pele, as proporções corporais e os tipos de cabelo são vernizes passados sobre uma estrutura biologicamente idêntica”. Assim, ele continua dizendo que “não há base científica conhecida para afirmar que uma população é intelectual ou fisicamente superior à outra”14. Estamos muito acostumados a escutar e a falar em raças. Mas isso não existe. Não existe a raça negra e nem a raça branca. Já é um erro usar a palavra “negro”, pois os africanos são tão diferentes entre eles da mesma forma como os espanhóis são diferentes dos italianos, dos alemães e dos russos. Ou como os coreanos são diferentes dos japoneses. Isso é um conceito mais do que ultrapassado, uma imundície da ciência antiga. O cientista Albert Jacquard, do departamento de genética do Institut National d’Etudes Démographiques (França), afirmou o seguinte:

“Qualquer tentativa de justificar as desigualdades sociais com base em medidas tais como o Q.I., ou conceitos tais como a hereditariedade, constitui uma utilização fraudulenta das contribuições da ciência (…) A noção de brancos e negros é especialmente arbitrária, porque classifica os indivíduos a partir de sua capacidade de produzir melanina, substância que torna a pele negra. Uma vez que essa faculdade está ligada a um número muito pequeno de genes, não há realmente razão para se popularizar em torno deste fenômeno, pois a espécie humana se caracteriza por dezenas de milhares de genes. O geneticista admite assim a sua incapacidade para definir raças”15.

Além disso, nós temos o Projeto Genoma: os maiores cientistas do planeta estão agregados nele. O propósito deste Projeto é fazer um mapeamento dos 3 bilhões de parelhas de base ADN que combinam o código genético de um ser humano. Isto é, estes cientistas investigam tudo sobre a genética humana. Mas eles não irão investigar as “raças”. O geneticista Sérgio Danilo Pena, Presidente do Programa Latino-americano do Genoma Humano declarou o seguinte (sobre o conceito de raça): “do ponto de vista genético, o conceito é furadíssimo. Simplesmente não existe. A desmoralização do conceito de raças é unanimidade entre os geneticistas.”17 Isto posto, os cientistas são unânimes: não existem raças.

No Brasil existe um racismo encoberto e que está enlaçado ao conceito de miscigenação, ou seja, o conceito de que somos conseqüência da “mistura” de três “raças”, a branca, a negra e a índia. No século XVIII, pessoas como o Drº Raimundo Nina Rodrigues e o Conde Arthur de Gobineau(inclusive, foi o Conde Gobineau que usou pela primeira vez a expressão “raça ariana”)18, expressavam o ideal de que o Brasil padecia porque era um país de “mestiços” e fracos biologicamente, já que herdaria as piores coisas das três raças: a ambição do português, a tristeza do negro e a preguiça do índio. Atualmente, no século XXI, esse racismo se inverteu: fala-se no lucro em possuirmos nossas “raças” misturadas. E as pessoas ainda citam as vantagens de cada uma, como por exemplo: a mulata é boa na cama, o negro é bom no futebol, o índio é bom no vocabulário, o branco é bom na inteligência. Em primeiro lugar, não existe “raça pura”. Há milhares e milhares de anos os grupos humanos estão se misturando intensamente. O que é muito bom, porque um grupo genético que não se mistura enfraquece tanto, que pode sumir. Em segundo lugar, esse conceito de “mistura de raças” é racismo, pois usa a falsa concepção de raça. É impossível misturar o que não existe. Em terceiro lugar, o famoso lema de que o Brasil é uma mistura de raças só serve para ocultar e dissimular a discriminação étnica que existe aqui.

Por causa da ignorância, o racismo ainda está vivo. A maioria dos indivíduos não conhece estas informações científicas. Ademais, o preconceito tem origens tão fortes e profundas que acaba fazendo com que as pessoas se transformem em irracionais. Infelizmente, as classes dominantes manipulam o racismo. Ele é usado para fazer um povo guerrear contra outro povo; ou também para conservar as desigualdades, pois quando todos acreditam no racismo, um povo continua aceitando ser submisso, pois se sente inferior.

O que melhora nossas vidas e enriquece a humanidade, é justamente o fato de que, não somos inferiores e nem superiores a ninguém, e maravilhosamente diferentes e semelhantes – ao mesmo tempo. Todos nós somos alemães e somos judeus. Porque somos humanos.

 “Pelo direito de sermos iguais, quando a diferença nos inferioriza; e pelo direito de sermos diferentes, quando a inferioridade nos descaracteriza.”19

1.1.2 – Iluminismo

O conceito de civilização também se baseou no iluminismo20, através do empirismo e da apropriação da teoria darwiniana de evolução pelas ciências sociais, resultando na falsa ideia de que da mesma forma que o homem evolui biologicamente, a sociedade também evolui para as que são consideradas civilizadas.

Norman Geisler e Frank Turek, em sua obra “Não tenho fé suficiente para ser ateu”, fizeram uma abordagem do evolucionismo X criacionismo21. Os biólogos naturalistas ensinam que a vida é gerada pelas leis naturais espontaneamente, sem nenhuma intervenção inteligente, com base em elementos químicos inanimados. Até o século XIX isso era plenamente plausível, pois os cientistas da época não possuíam a tecnologia para investigar as células e descobrir a complexidade das mesmas. Mas atualmente, a teoria naturalista vai contra tudo o que é conhecido sobre os sistemas biológicos e as leis naturais.22

Nossas observações da vida estão se prostrando ao princípio antrópico da biologia; ao mesmo tempo em que nossas observações espaciais estão cedendo ao princípio antrópico da física. O principal problema para os naturalistas, evolucionistas, materialistas, ateus ou darwinistas é explicar como surgiu a primeira vida. Infelizmente, para eles, a primeira vida não é “simples”. Isso ficou muito óbvio com a descoberta do DNA.

A vida consiste muito mais do que apenas elementos químicos. Se a “vida simples” existisse, seria muito fácil criá-la: misturaríamos elementos químicos num tubo de ensaio e só. Ocorre que a vida inclui uma específica complexidade que vem somente de uma mente. O materialismo é falso: a própria razão não existiria num universo materialista.

Não existe nenhuma lei natural que possa criar a complexidade específica, isto é, a informação. Somente a inteligência é capaz de criá-la. A vida mais “simples” que existe equivale a 1.000 conjuntos da Enciclopédia Britânica: ou seja, ela consiste em uma maravilhosa complexidade específica.

A ciência está baseada na filosofia e é uma busca pelas causas. Só existem 2 tipos de causas: a inteligente e a natural. Os darwinistas, antes de olharem as evidências, excluem as causas inteligentes. É muito óbvio que 1.000 enciclopédias precisam de um projeto para existirem: elas exigem uma causa inteligente.

Acredita-se na geração espontânea de vida pela fé: ela nunca foi observada (é ela que o darwinismo exige, para que sua teoria tenha início). A crença darwinista no naturalismo ou materialismo também é um artigo de fé, à luz das evidências teleológicas e cosmológicas de que este universo é teísta. O darwinismo é apenas uma religião disfarçada de ciência.

Existem apenas 2 possibilidades: Ou Deus existe ou Deus é uma criação da mente humana. Ou Deus nos criou ou nós criamos Deus. O darwinismo é uma criação da mente humana: é preciso muita fé para ser um darwinista, pois é preciso acreditar que sem nenhuma intervenção inteligente23:

1) A origem do universo foi alguma coisa que surgiu do nada;
2) O projeto do universo foi uma ordem que surgiu do caos;
3) A vida surgiu da matéria inorgânica, ou seja, a personalidade surgiu da não-personalidade e a inteligência surgiu da não-inteligência;
4) Novas formas de vida surgiram baseadas em formas de vida já existentes, sendo que existem evidências contrárias, tais como:
a) Limitações genéticas;
b) Mudanças cíclicas;
c) Complexidade irredutível;
d) Isolamento molecular;
e) Não viabilidade das formas tradicionais;
f) Registro fóssil.24

As evidências não ajudam a macroevolução. Acrescentando Deus, teríamos a macroevolução teísta: havendo evidências para Deus e para a macroevolução, poderíamos mesclar as duas. Mas infelizmente, para os darwinistas, não há evidência de que a macroevolução tenha acontecido. Deus poderia ter conduzido a evolução entre espaços não interligáveis se existisse um registro fóssil com milhões de formas transicionais de um lado, mas criaturas de complexidade irredutível do outro.

Já em relação ao projeto inteligente (criação), quais seriam as evidências favoráveis?25

1) Um universo que tenha explodido e começado a existir do nada;
2) Um universo com aproximadamente 100 constantes ajustadas e capacitadoras da vida no planeta Terra;
3) Vida:
a) Que surgiu baseada em vida existente (nunca se observou que ela surgiu espontaneamente);
b) Que consiste em milhares e até milhões de volumes de complexidade específica detectáveis empiricamente, ou seja, ela é muito mais do que apenas os elementos simples que possui;
c) Que muda ciclicamente e apenas dentro de um definido limite; ela não pode ser modificada gradualmente ou ser construída, ou seja, ela é irredutivelmente complexa;
d) Que possui isolamento molecular entre tipos básicos, ou seja, no nível molecular não existe progressão ancestral;
e) Que deixou registros fósseis de criaturas plenamente formadas que aparecem repentinamente, não mudam e desaparecem repentinamente.26

Os fatos sugerem que a criação é verdadeira (ao contrário da macroevolução). Os ateus realmente precisam se esforçar muito para não chegar a esta óbvia conclusão. É exatamente por isso que eles têm muito mais fé do que os teístas. Não há nada de errado em ensinar isto nas escolas, pois são citações científicas. Isto não é uma guerra entre ciência e religião, é uma guerra entre ciência boa e ciência ruim. No momento, a maioria dos estudantes estão estudando uma ciência ruim, pois estão aprendendo somente a evolução. Não há nada de ilegal em ensinar a evidência “surge”, mostrando aos alunos a complexidade da vida mais “simples”, diferenciando a micro e a macroevolução, além de diferenciar ciência forense e ciência empírica.

Nossos estudantes, em sua maioria, ainda estão sendo doutrinados numa teoria decadente e falha, que se baseia muito mais nas pressuposições filosóficas do que nas observações científicas. O que deveria ser feito nas instituições de ensino de todo mundo é: dar aos alunos todas as evidências científicas (contrárias e favoráveis) e assim eles seriam livres para fazerem suas escolhas. Eles deveriam ser ensinados a pensar sozinhos e criticamente. Mas os darwinistas fazem tudo o que podem para que isso não aconteça: eles suprimem as evidências, pois nesta área eles perdem a fé, eles não têm fé para crer que os estudantes acreditarão na teoria deles quando enxergarem todas as evidências.

CONCLUSÃO

Braidwood afirmou que somente os incas, astecas e maias eram civilizados. Cremos que ele afirmou isto somente porque é inegável a grandiosidade daqueles povos: como não chama-los de civilizados? Tenochtitlán, por exemplo (capital asteca), era uma das maiores cidades do mundo no século XVI: maior do que qualquer cidade da Espanha à época. Mas o fato dele afirmar que os outros índios não eram civilizados mostra que ele somente ratifica um tipo de pensamento moderno que já se encontra mais do que ultrapassado, pois já vimos o quanto o Projeto da Modernidade falhou, absurdamente.

O conceito de civilização, muito mais do que tendencioso, é extremamente danoso ao ser humano. Não podemos mais repetir os erros do passado. É necessária uma conscientização coletiva para que tal conceito venha a ser alterado. O primeiro passo para eliminar o caráter de comparação que existe no conceito de civilização é parar de ver a própria civilização como um elogio (pois civilizado para nós é alguém que é educado, com boas maneiras, que não é um bárbaro). Afinal de contas, temos sempre que trazer à memória de que foram os civilizados espanhóis que massacraram os povos incas e astecas. Quem é o bárbaro, afinal de contas? Basta de comparações. Não existe mais ou menos evoluído. Não existe melhor ou pior.

“Um dia vai chegar o tempo, em que nós pensaremos todos os pensamentos, de todos os pensadores de todos os tempos, e veremos todos os quadros de todos os grandes pintores, e riremos de todas as graças de todos os humoristas, e cortejaremos todas as mulheres, e ensinaremos a todos os homens.”27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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JACQUARD, Albert. Depoimento.Em: Racialismo.Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Racialismo>. Acesso em 10 de setembro de 2007.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitanismo multicultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. Introdução: para ampliar o cânone do reconhecimento, da diferença e da igualdade, p.56.

SCHMIDT, Mario. Nova História Crítica. Editora Nova Geração: São Paulo, 2007.

STOLCKE, Verena. Pluralizar o Universal: Guerra e Paz na Obra de Hannah Arendt.Rio de Janeiro: Mana, vol. 8, abril 2002.


¹Trabalho apresentado ao Professor Vlademir Luft (2014) e grande parte deste é parte de um outro trabalho sobre a Teoria Crítica apresentado ao Professor Aloisio Krohling (2007).
²BRAIDWOOD, Robert John. Homens pré-históricos, 2ª edição, Brasília: Editora UNB, 1988, p. 156.
³Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Versão 2.0 – Setembro de 2006. Copyright © 2001 Instituto Antônio Houaiss. Produzido e distribuído por Editora Objetiva Ltda.
4Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Versão 2.0 – Setembro de 2006. Copyright © 2001 Instituto Antônio Houaiss. Produzido e distribuído por Editora Objetiva Ltda.
5SCHMIDT, Mario. Nova História Crítica. Editora Nova Geração: São Paulo, 2007.
6Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Versão 2.0 – Setembro de 2006. Copyright © 2001 Instituto Antônio Houaiss. Produzido e distribuído por Editora Objetiva Ltda.
7BRAIDWOOD, Robert John. Homens pré-históricos, 2ª edição, Brasília: Editora UNB, 1988, p. 156.
8BLACH, Matheus. Sobre o conceito de Civilização. Disponível em: http://www.sobrehistoria.org/sobre-o-conceito-de-civilizacao/ Data de acesso: 20/05/2014.
9Parte de um trabalho apresentado por esta aluna sobre a Teoria Crítica, ao professor Aloisio Krohling (2007).
10SCHMIDT, Mario. Nova História Crítica. Editora Nova Geração: São Paulo, 2007.
11CURY, Augusto Jorge. Nunca desista dos seus sonhos.Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
12STOLCKE, Verena. Pluralizar o Universal: Guerra e Paz na Obra de Hannah Arendt.Rio de Janeiro: Mana, vol. 8, abril 2002.
13GIARDULLO, Paulo. Corpo em carrinho de mão na Rocinha lembra Auschwitz. Disponível em: <http://www.duplipensar.net/artigos/200x/corpo-em-carrinho-de-mao-na-rocinha-lembra-auschwitz.html>. Acesso em 10 de setembro de 2007.
14BITTAR, Eduardo C. B. O Direito na Pós-Modernidade.Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.
15Revista Veja, 18/01/1995.
16JACQUARD, Albert. Depoimento.Em: Racialismo.Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Racialismo>. Acesso em 10 de setembro de 2007.
17Jornal do Brasil, 05/07/1992.
18SCHMIDT, Mario. Nova História Crítica. Editora Nova Geração: São Paulo, 2007.
19SANTOS, Boaventura de Sousa. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitanismo multicultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. Introdução: para ampliar o cânone do reconhecimento, da diferença e da igualdade, p.56.
20BLACH, Matheus. Sobre o conceito de Civilização. Disponível em: http://www.sobrehistoria.org/sobre-o-conceito-de-civilizacao/ Data de acesso: 20/05/2014.
21Parte de um Trabalho apresentado por esta aluna sobre o Evolucionismo, à Professora Sheila Mendonça (2013).
22GEISLER, Norman; TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. São Paulo: Editora Vida, 2006.
23GEISLER, Norman; TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. São Paulo: Editora Vida, 2006.
24Idem.
25GEISLER, Norman; TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. São Paulo: Editora Vida, 2006.
26Idem.
27Brecht, Bertolt. Galileu, Brecht e a utopia de liberdade. Disponível em: http://lemad.fflch.usp.br/node/300 Data de acesso: 20/05/2014.