O IMPACTO DAS MÍDIAS SOCIAIS NA AUTOESTIMA DE MULHERES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8084225


Amanda Azevedo da Silva1
Michele Rojas Anez1
Raiane Alves de Oliveira1
Chimene Kuhn Nobre2
Francléia de Nazaré Corrêa Silva2
Amanda Ely2


RESUMO

A presente pesquisa tem por objetivo levantar e analisar dados referentes aos impactos das redes sociais na autoestima das mulheres. Sendo utilizado como instrumento a pesquisa integrativa para levantamento de dados, a seleção e revisão bibliográfica acerca da temática autoestima diante da interação com as mídias sociais. Este artigo traz a discussão sobre a importância da autoestima na saúde psicológica, como consequência ao ser afetada negativamente pode ocorrer o desencadeamento de transtornos psicológicos. Pretende-se que esta pesquisa contribua com discussões que auxiliem na percepção da repercussão do uso excessivo da rede social na autoestima da mulher.

Palavras-chave: Autoimagem; Rede Social; Mulheres.

ABSTRACT

The present research aims to collect and analyze data regarding the impacts of social media on women’s self-esteem. The integrative research method is used as a tool for data collection, along with literature selection and review on the topic of self-esteem in the context of social media interaction. This article discusses the importance of self-esteem in psychological health, highlighting that negative effects can lead to the development of psychological disorders. The objective of this research is to contribute to discussions that help perceive the repercussions of excessive social media use on women’s self-esteem.

Keywords: Self image; Social network; women.

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como objetivo analisar o impacto das mídias sociais na autoestima de mulheres, abordando a problematização da padronização dos corpos femininos e relacionando dados sobre autoestima com tempo gasto na internet e seus efeitos. Portanto, o que se coloca em questão é: quais os impactos das redes sociais na autoestima de mulheres, de fato?

Vivemos na sociedade da pós-modernidade, onde o acesso à informação passou por uma importante revolução tecnológica que, consequentemente, produz novos comportamentos sociais. Dentre os principais meios de comunicação, como a rádio, televisão e a internet, as mídias sociais proporcionam um grande fluxo de informação de forma instantânea.

Como Dugnani (2020) argumenta, os meios de comunicação se tornaram uma extensão do ser humano moderno, pois possibilita acessar mais sons e imagens do que o limite dos seus próprios sentidos seriam capazes de alcançar. Por fim, aumentando a velocidade, quantidade de estímulos e mais chances de ser um potencial influenciador. 

Desta forma, as mídias sociais são capazes de ocasionar mudanças diretas em diversas esferas da sociedade, como por exemplo a forma como o comércio da beleza irá interagir com o público. Resultando em um ciclo onde o que divulgado nas mídias interfere no comércio como também o mercado é moldado pelo conteúdo das mídias. 

Atualmente, com o advento da tecnologia, as redes sociais ganharam destaque na sociedade contemporânea, trazendo de forma instantânea a visibilidade e disseminação de um padrão de beleza. Desta forma, as redes sociais contribuem para que haja maior ostentação de um físico que se encontra facilmente exposto a partir de um simples acesso a internet. Segundo Silva (2018), a hipervalorização da construção corporal é fortemente influenciada pelo compartilhamento de imagens divulgadas na mídia que reforçam e sustentam determinados formatos de corpos.

Em suma, as mídias sociais são ferramentas em desenvolvimento que criam e reproduzem cultura, com o poder de modificar a realidade e comportamento social (RODRIGUES, 2019).

A partir desses fatos, quando a imagem do corpo feminino é abordado em questão, nota-se sentidos diferentes das épocas passadas, pois segundo afirmações de Goellner (2007), o corpo feminino também sofrerá com mudanças desenvolvidas pela cultura e sociedade que se encontra em seu tempo, já que o corpo humano em si sofre com alteração de acordo com as influências do seu contexto histórico.

Portanto, o padrão do corpo feminino torna-se assunto cultural para sociedade atual, visto que o crescimento instintivo da tecnologia tornou-se um dos centros para a nova sociedade atual (CAMPANIÇO, 2022).

Mas vale salientar, segundo Sherlock e Wagstaff (2018), que o uso desse material pode afetar negativamente a vida dos que o utilizam com excesso, ou seja, quanto maior é a utilização, maior os prejuízos na saúde e bem-estar. Logo, tendo prejuízos, podem acarretar instabilidade à autoestima, e observando os outros, pode proporcionar o comparativo social. Holland e Tiggemann (2016) ainda sugerem que a utilização em excesso está ligada ao fator de “internalização de ideais irrealistas e comparativos à aparência”. Os autores em avaliação de estudos afirmam que, em maior frequência, o grupo que realiza essas associações são jovens e mulheres.

Atualmente, com esta evolução da sociedade e tecnologia, o corpo vem cada vez se reestruturando de uma forma que não se sabe a definição do que é real e seu significado, quase incapazes de opor o virtual no real (TUCHERMAN, 2004).

De acordo com Rodrigues (2019), essa evolução criou uma luta contra o relógio da vida, indo contra as leis naturais e biológicas do corpo. O que mantém a mulher em uma situação de pressão para chegar em um padrão que, muitas das vezes, é irreal e inviável para corpos biológicos.

Existe uma alta relevância na discussão da temática a partir do momento em que se encaram as consequências negativas da prática do culto ao corpo. Quando a busca pela felicidade deixa de ser algo subjetivo, passando a ser baseada em uma aceitação passiva do que é imposto pelas mídias, resulta em frustração e culpa.

Considerando que as redes sociais deixaram de ser apenas aplicativos de comunicação e interação, tornando-se também um espaço que possibilita o sujeito criar personagens e enredos para a construção de novas identidades (PINHO; PRUDENTE, 2021). Assim, neste contexto é possível a tentativa de controlar a imagem que o outro terá acesso, ao exibir apenas o que é dito como belo e aceitável em fragmentos de si propositalmente postados. Este fenômeno resulta não somente na distorção do real como também em uma constante insatisfação por não ser possível acompanhar as muitas tendências que rapidamente são substituídas.

Diante deste fenômeno, as redes sociais podem ser um fator importante na causa de sofrimento psicológico, podendo por exemplo, desencadear/ agravar casos de transtornos alimentares e ansiedade. 

2. MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo apresenta caráter de natureza descritiva com abordagem qualitativa, que teve como instrumento a revisão integrativa. Sendo que a revisão integrativa é um método de pesquisa que permite uma consulta mais ampla do assunto relatado. Consiste no levantamento, seleção, fichamento e arquivamento de informações relacionadas à pesquisa. Segundo Gil (2002), “[…] tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”.

Os descritores estabelecidos para pesquisas se deram por meio de combinações em seguintes palavras chaves: “autoimagem”; “rede social”; “mulheres”; “autoavaliação” e “feminilidade”. Os descritores foram classificados a partir da plataforma DeCS – Descritores em Ciência da Saúde, que é responsável por padronizar termos científicos em pesquisa na área da saúde .

Os critérios de inclusão utilizados foram: (1) artigos publicados nos últimos 5 anos  (2) redigidos no português, espanhol e inglês. (3) trabalhos que tenham a perspectiva semelhante à pesquisa do artigo.

Já os critérios estabelecidos de exclusão foram: (01) trabalhos não finalizados,  (1) trabalhos voltados ou trazendo como base estatística o público masculino (3)  artigos que não tinham como finalidade os temas de inclusão (4) artigos que não respondiam a pergunta norteadora.

Os dados coletados tinham como objetivo analisar a problematização da padronização dos corpos femininos imposta pelas mídias. E discutir sobretudo as consequências dos impactos do uso excessivo das redes sociais na construção da autoestima de mulheres.

A partir da coleta de dados foi realizada a análise de forma qualitativa, visando identificar concordâncias entre as categorias de conceitos iniciais da pesquisa, classificando os estudos com características que convergem como estratégia na busca da resposta do problema apontado e dos objetivos traçados a princípio.  

3. RESULTADOS

Dentre os trabalhos científicos utilizados na pesquisa estão classificados artigos e livros por meio de plataformas de estudos científicos como SciELO e Google acadêmico. Ao todo foram escolhidos 21 artigos, que serviram como inspiração para a apresentação do tema abordado nesta pesquisa.

Nota-se que o assunto apontado é colocado em pauta pelos pesquisadores desde o início da utilização em massa dos meios tecnológicos. Assim, com a chegada das mídias sociais, foi notório para especialistas que este novo hábito traria consequências futuras. Baseado  nesta interpretação é possível citar fenômenos que são influenciados e/ou potencializados pela dinâmica real versus virtual, como exemplo: a baixa autoestima, distúrbios alimentares, ansiedade e depressão.  

Contudo, é válido afirmar que as construções de padrões estéticos somente se intensificaram com o fácil acesso virtual. Porém antes mesmo da evolução da tecnologia, a sociedade já determinava a mulher ideal através de padrões comportamentais. Por isso os modelos estimados do que é belo é firmemente cingido por um determinado tempo e espaço histórico, povo, economia; sendo uma construção social mutável e não universal. 

4. PADRÕES DE BELEZA NA ATUALIDADE

A história do corpo é um reflexo do desenvolvimento da cultura da sociedade, este ao longo do tempo conta a história da humanidade. Portanto é a sociedade e sua cultura que vão construir particularidades de acordo com o corpo atual, para definição de um corpo ideal marcado por determinada época. Essas definições estabelecem padrões a serem seguidos, sejam eles: saúde, beleza e comportamento. São referências para alcançarem e se constituírem como homens e mulheres. Assim as construções de padrões de beleza formaram a história do corpo, sempre estabelecendo sentidos e acrescentando na história corporal (BARBOSA, 2011).

Os padrões de beleza na sociedade têm sido um tema amplamente discutido e debatido ao longo dos anos. A definição de beleza é influenciada por uma série de fatores, incluindo cultura, mídia, história e normas sociais. No entanto, esses padrões são altamente mutáveis e evoluem ao longo do tempo. Historicamente, os padrões de beleza variaram em diferentes culturas e épocas (RODRIGUES, 2019)

De acordo com Barbosa (2011), na Grécia antiga o corpo era objeto de culto e desejo. Como a sociedade era marcada pelos jogos olímpicos havia em torno da exposição da nudez uma idealização para ressaltar e vangloriar o homem em seu aspecto bonito e saudável, exibindo a beleza dos corpos masculinos como representação de virilidade e beleza. Por sua vez, a beleza feminina não era exposta em público, em momentos que a mulher realizava aparições nas ruas da cidade, ela deveria utilizar roupas que não expusessem seu corpo.

Posteriormente ao advento do cristianismo uma nova concepção adentra a sociedade, a visão de beleza do corpo passa a ser a expressão do pecado. Desse modo, o corpo passa a ser escondido e reprimido. O padrão idealizado é um corpo sofredor, que abre mão dos prazeres voltando seu foco aos deveres religiosos. O corpo nu não poderia ser mostrado nas esferas públicas. Restringe-se aos prazeres do corpo até mesmo a intimidade de um casal, como forma de dominação religiosa (BARBOSA, 2011).

Também na idade média, o cristianismo dominou sobre a visão de corpo, repudiando qualquer forma de sexualização e prazer. Ao mesmo tempo, durante esse período surgem as primeiras aparições dos trovadores, a figura do cavaleiro andante em busca de um amor intenso e livre das regras religiosas. Mostrando através das cantigas medievais a possibilidade de enaltecer as características femininas da época. Porém, no século XIX, a imagem feminina sofre restrições, com direitos apenas à reprodução e reverência ao marido, ou seja, um ser submisso (BARBOSA, 2011).

Durante décadas o público consumidor de produtos e acessórios cosméticos, girava em torno das classes de elite da sociedade. Somente no século XX com o advento do processo de industrialização teve início a produção e comercialização de itens cosméticos em grande escala acessível a toda população em geral. Nesse período a publicidade e os veículos de comunicação passaram a vender uma imagem de beleza acessível às classes mais baixas da sociedade. Intensificando a busca por intervenções estéticas, busca pela magreza e um ideal padronizado por uma imagem jovem, esbelta e firme (LIPOVETSKY; SERROY, 2015).

A partir disso surge a cultura do consumismo e a exposição constante aos ideais do ser belo marca o modo como a sociedade demarca seu modelo de beleza, tornando o corpo um produto passível de mudanças e remodelações para ser encaixado dentro do padrão do corpo jovial (LIPOVETSKY; SERROY, 2015). A remodelação da imagem é afetada pela busca permanente da juventude, passando a encarar o processo de envelhecer como uma etapa que pode ser adiada por meio da manutenção corporal. O consumo exacerbado é reflexo de uma sociedade hedonista marcada pela individualidade e busca inerente pelo prazer e embelezamento de si mesmo.     

Um superconsumo de produtos estéticos que tem por contrapartida um culto ao corpo inquieto, obcecado, sempre insatisfeito, marcado pelo desejo anti- idade, anti peso, antirrugas, por um trabalho interminável de vigilância, de prevenção, de correção de si (LIPOVETSKY; SERROY, 2015, p. 211).

Com o início da globalização percebe-se o bombardeamento de informações, publicidades midiáticas ressaltando imagens de corpos que correspondem a um padrão de beleza contemporâneo. Ocasionando no aumento da busca por atividades físicas nos centros de academia, aumento de intervenções cirúrgicas, regimes sem acompanhamento profissional  e consumo exacerbado de produtos cosméticos (LIPOVETSKY; SERROY, 2015). 

Atualmente, o que é comercializado nas redes são padrões de vida de falsa produtividade e positividade tóxica, onde tudo é perfeito e basta querer. Contudo, sabe-se que não é cabível a todos uma rotina que conta com três horas de treino na academia, acompanhamento nutricional, intervenções estéticas, por exemplo. 

5. O USO EXCESSIVO DAS REDES SOCIAIS VERSUS A AUTOESTIMA 

De acordo com Escobar (2022), a média de tempo diário de acesso a internet aumentou mais de meia hora nos últimos 5 anos, tendo como crescimento de 4,20 bilhões de usuários conectados as redes sociais virtuais. 

Conforme Moromizato (2017), o uso do acesso à internet cresceu exponencialmente, chegando a 2,5 bilhões no mundo inteiro.  E consequentemente, apesar dos benefícios, os efeitos negativos tornam-se uma preocupação de saúde mental. E é por conta desse uso exacerbado que é notável a conexão entre a saúde mental e as redes sociais que ocasionam os comportamentos sedentários pelo baixo convívio social entre as pessoas, desenvolvendo os transtornos mentais. 

Escobar (2022) menciona que os efeitos negativos podem desencadear problemas referentes à ansiedade, estresse e depressão. Além da pressão na construção de estereótipos, podendo causar a não aceitação da autoimagem corporal e transtornos alimentares.

Por conta dessa pressão na construção de estereótipos, a mídia e o uso excessivo das redes sociais se associam na responsabilidade na propagação dos distúrbios de imagem corporal e alimentar. Porém, vale pontuar o papel da sociedade de retroalimentar o individualismo moderno centrado na valorização e promoção de normas estéticas que acabam somando no resultado negativo ao final (LIPOVETSKY; SERROY, 2015).

A autoestima e a satisfação com seu corpo estão alinhadas, e a partir do momento que a rede social entra nesse meio, torna-se uma ligação perigosa, visto que a mídia hiper valoriza a exposição do corpo belo. Além de ser a mesma que estabelece pelos seus meios a alimentação nada colaborativa para quem deseja se encaixar em tais padrões, sendo responsável pela forma irrealizável desta rotina de vida (CARVALHO; SPAMER, 2022).

A relação existente entre o uso excessivo das redes sociais e autoestima, está atrelado a forma como o indivíduo enxerga a si próprio e aos demais. A constante exposição às redes sociais exibem apenas um recorte do que os indivíduos querem que as outras pessoas vejam. As pessoas passam a avaliar a si próprias e sua autoestima a partir da ótica da exposição na internet (SILVA, 2021).        

Deste modo percebe-se que o consumo excessivo das redes sociais resulta em uma preocupação a ser considerada.  Tal influência que as mulheres recebem pode ocasionar alterações em suas atitudes e comportamentos. Assim podendo até mesmo idealizar-se diante ao espelho, despertando o desejo de sentir-se aparente, com corpo esbelto, mas logo após, voltando à realidade, tendo o resultado oposto, ativando efeito rebote.

Tendo como consequência o desencadear de grandes prejuízos na composição da autoestima, porque a busca pelo belo ideal pode ter como resultado a insatisfação com o real. 

6. PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS DA BAIXA AUTOESTIMA

A autoestima remete ao conceito formado sobre si em suas diversas habilidades e competências. Comumente, entre os aspectos mais discutidos e considerados pelo senso comum são as representações do próprio sujeito sobre seu corpo. Contudo, o termo correto para este aspecto é a autoimagem, sendo a noção que o sujeito construiu acerca do próprio corpo, desde o tamanho, forma, e sentimentos associados a ele. 

A autoestima como foi citado anteriormente, é moldada pela percepção do sujeito sobre si a partir das vivências absorvidas. Por isso é através da comparação, um dos principais mecanismos da mídia, que gera a insatisfação da imagem corporal nas mulheres, conforme pontua a autora Fernandes (2019).   

Sobre o tema, a pesquisa de monografia realizada pela autora Fernandes (2019) aborda o “Impacto Das Mídias Sociais Sobre A Insatisfação Corporal E Risco De Transtornos Alimentares E Depressão” realizada com 647 estudantes. Os resultados apontam que:

O uso das mídias sociais foi observado na maioria da amostra estudada sendo maior o tempo gasto no Instagram. O maior tempo gasto no Instagram ao longo dia esteve associado a maiores escores de insatisfação corporal, depressão, ansiedade, estresse e de comportamento alimentar de risco para transtorno alimentar. O mesmo ocorreu em relação ao Facebook, exceto para o transtorno alimentar (FERNANDES, 2019, p. 55). 

Assim, a insatisfação corporal na contemporaneidade  é comumente associada a padrões disfuncionais de funcionamento psicológico, como por exemplo a depressão e transtornos alimentares.   

E quando o indivíduo idealiza um padrão de corpo que não se adequa ou se aproxima com o seu, muitas vezes gera sentimentos e pensamentos negativos para si, ou seja, a baixa autoestima. De acordo com Gomes (2021), a baixa autoestima pode ocorrer pela ausência de relações sociais reais e o grande consumo de conteúdo de influenciadores nas redes sociais. 

Ou seja, sujeitos com cada vez menos contato com pessoas de corpos e vivências reais, cede cada vez mais espaço para se comunicar ou entreter de forma virtual, tornando-os públicos vulneráveis à influência dos padrões de beleza.

Segundo Gomes (2021), uma das causas da insatisfação consigo é o transtorno de imagem corporal que ocorre quando há uma lacuna entre o corpo desejado e o corpo real, ou seja, é definido como uma autoavaliação distorcida da sua imagem. 

A vulnerabilidade e distorção de imagem sucedem por conta da forma que a imagem corporal é construída, na mente, nos pensamentos e nas ações relacionadas ao corpo. Portanto, ele se auto avalia pelo real e o que pretende se tornar, isso faz com que a autoestima decline com certa flexibilidade, por conta da ausência de estaticidade. Deste modo, constitui uma autoimagem altamente crítica e influenciável pelo olhar interessado.

De acordo com Associação Americana De Psiquiatria et al (2014), às pessoas que possuem os transtornos alimentares estão extremamente preocupadas com questões ligadas ao seu corpo. Os mesmos sofrem com comportamentos repetitivos e comparações, podendo causar ansiedade e histeria.

Os comparativos muitas vezes ocorrem com figuras que apresentam a positividade, frequentemente, na vida, onde se tornam metas e expectativas a serem alcançadas. Por conta da imagem social do que é representado com sucesso. 

Segundo Fernandes (2019) o transtorno alimentar se caracteriza por uma desordem na alimentação ou em atos relacionados. Que em sua consequência altera a absorção da alimentação, assim afetando seu bem estar físico e psicossocial.

A autora Gomes (2021), menciona que os transtornos alimentares, são definidos em anorexia, transtorno alimentar restritivo/evitativo, transtorno de compulsão alimentar, bulimia, transtorno de pica e ruminação e disfunções de ordem biopsicossociais, que afetam em sua maioria o público feminino.

De acordo com Associação Americana De Psiquiatria et al (2014), às doenças psicológicas possuem diversos elementos a se associar, seja ele de origem psicológica ou sociocultural, genéticas, influências do próprio indivíduo ou familiar, que podem variar em questões de episódios e sintomas.

Segundo Fernandes (2019),  em observação da pesquisa, a frustração com a imagem corporal foram associadas em maior quantidade na anorexia e na bulimia, sendo como público predominante, o feminino. Nota-se a percepção de restrição alimentar ou o comer compulsivo seguido do vômito, através da associação da magreza com saúde e obesidade com doença.

Conforme a Associação Americana de Psiquiatria et al (2014) , a anorexia se dá pela recusa do alimento voluntariamente e a constante prática de exercícios que levam a grande perda de peso, tem como motivação a aversão ao ganho de peso.

No transtorno de bulimia também ocorre a preocupação excessiva com o peso, porém se manifesta na ingestão compulsiva de alimentos, seguido da culpa e uso de métodos como laxantes, dietas, exercícios, entre outros para evitar o ganho de peso (RODRIGUES, 2019).

Outro fator é a depressão, Segundo Sparti et al. (2019) e que de acordo com o Fortes e colaboradores (2014),  os comportamentos depressivos e ansiosos podem estar correlacionados aos riscos dos transtornos alimentares. A depressão foi definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “tristeza, perda de interesse e prazer, sentimento de culpa e baixa autoestima, perturbações do sono e do apetite, cansaço e baixa concentração”. A depressão pode ter como causa diversos aspectos como: genéticos, comportamentais, neurológicos e até mesmo ambientais. 

De acordo com a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatísticos de Transtornos Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria, os transtornos de ansiedade são “transtornos que compartilham características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionadas”. A relação da ansiedade com o uso das redes sociais é sensação de alívio, distração dos próprios pensamentos, validação e conexão com os outros usuários (CRUZ,  2020). 

Os distúrbios psicológicos desencadeados da comparação e da busca pelo sucesso tem virado assunto nos veículos de notícias. Segundo Fernandes (2019), a satisfação e a busca pelo inalcançável são advindas da baixa autoestima, sendo construído pela sociedade e reforçado pelas redes sociais.

Portanto o uso excessivo das redes sociais exerce um papel entorpecedor na vida do usuário, que por vezes passam a dispensar horas do dia frente a tela. Como consequência, o consumo de diversas informações cada vez menos reais (corpos perfeitos, produtos milagrosos, felicidade em tempo integral, entre outros) traz sobretudo influência negativa na autoestima de mulheres.  

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Se mostra de alta relevância a discussão da temática a partir do momento em que se encaram as consequências negativas da prática do culto ao corpo. Quando a busca pela felicidade deixa de ser algo subjetivo, passa a ser baseada em uma aceitação passiva do que é imposto pelas mídias, resultando em sentimentos de frustração e culpa.

Considerando que as redes sociais deixaram de ser apenas aplicativos de comunicação e interação, tornando-se também um espaço que possibilita o sujeito criar personagens e enredos para a construção de novas identidades (PINHO, PRUDENTE, 2021). 

Assim, neste contexto é possível a tentativa de controlar a imagem que o outro terá acesso, ao exibir apenas o que é dito como belo e aceitável em fragmentos de si propositalmente postados. E com auxílio de ferramentas de edições e photoshop, levam as mulheres a pequenos resquícios de alívio, por acreditar que sempre precisam estar belas iguais aos influenciadores digitais.

Apesar de muitas vezes a ação não ser consideravelmente direta com intenção, as reações positivas como curtidas podem causar, muitas vezes, nas mulheres a sensação de felicidade. Pois representa o reconhecimento tão esperado,  isso ocorre por conta da busca da aceitação dos demais. 

A utilização dos filtros e as cirurgias estéticas são os caminhos mais rápidos no momento. Para este mundo, a modificação da aparência real para perfeição é a única aceitável e inquestionável, visto que é comum para sociedade que prega apenas o belo para fazer o sucesso.

Este fenômeno resulta não somente na distorção do real como também em uma constante insatisfação por ser impossível acompanhar as muitas tendências que rapidamente são substituídas. Visto que as redes sociais são vitrines de beleza para compra e venda. Essa busca faz com que o público mais afetado, feminino, desenvolva dietas inadequadas e estilos de vida não saudáveis em busca do emagrecimento ou aumento da massa corpórea. 

Diante deste fenômeno, com o reforço das redes sociais, a pressão estética exercida pela família e amigos pode ser um fator importante na causa de sofrimento psicológico. Podendo por exemplo, desencadear/ agravar casos de baixa autoestima, ansiedade e de transtornos alimentares.  Sendo os mais comuns nessas situações a anorexia e bulimia por conta das reduções e aumento de peso sem apoio profissional.

A importância de compreender que os padrões de beleza construídos e modificados constantemente não são de corpos reais, é essencial. Porque resulta em definir e potencializar não só a beleza interior, mas a saúde psicológica e a aceitação que “perfeição” é interminável e inatingível. Salientando que as imagens e as mensagens das redes sociais não são necessariamente uma representação precisa da realidade. As mídias sociais podem ter um impacto significativo em como nos percebemos e como nos sentimos em relação a nós mesmos.

A partir dos objetivos do estudo realizado dos impactos das mídias sociais na autoestima de mulheres, considera-se que foram alcançados. Percebeu-se a influência do uso excessivo das redes como potencializador para o surgimento de transtornos como ansiedade, depressão e transtornos alimentares. 

Isto posto, é revelado o carecimento de estabelecer relações mais saudáveis com o uso das redes, frente às repercussões negativas no bem estar e saúde psíquica. Em comparativo com a época da Antiga Roma, onde se muito buscava o culto ao corpo como também a uma mente intelectualizada, por leituras, meditações entre outros. Hoje há uma desvalorização do mérito intelectual, em exemplo se torna muito mais atrativo se tornar um influenciador digital do que estudar por muitos anos para obter uma profissão.  

Com isso percebe-se a necessidade de maiores investigações a respeito da temática tratada e disseminação de informações concernentes ao manuseio adequado das redes sociais. 

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1Acadêmicas de Psicologia. Artigo apresentado à Uniron, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Uniron, Porto Velho/RO, 2023.
2Professoras Orientadoras. Professoras do curso de Psicologia da Uniron. E-mail: Chimene.nobre@uniron.edu.br