INCLUSÃO: AS DIFICULDADES PARA OS DOCENTES DE EDUCAÇÃO FÍSICA COM ALUNOS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA¹

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8087527


Maurício Marcelo Marciel Costa2; Odete Roseli Pereira; Wasley Barbosa Fagundes; Marcelo da Silva Reis; Rogério Eduardo Leivas de Castro; Marília de Borba Martins; Josimar Munchow Martins; Juliano Tonin; Suelen Caroline Jablonski Cruz; Rogério Giordani; Sisnando Leiria Junior; Vinícius Ferri Troleiz


RESUMO

Trabalhar com a diversidade tem exigido, antes de tudo, conhecimento com a situação enfrentada. Pois, os profissionais precisaram estar aptos e com condições para lidar com as diferenças e com a subjetividade de cada aluno, afinal cada criança é única e requer diferentes cuidados. Ao conhecer esse aluno e seus enfrentamentos, os Docentes de Educação física tem conseguido ter dimensão sobre como trabalhar e desempenhar corretamente as atividades condizentes a disciplina, eliminando algumas dificuldades, principalmente com alunos com transtorno do espectro autista. Entretanto, levando em consideração informações com essa, o objetivo principal do trabalho foi apontar as melhores estratégias que são adotadas pelos professores de educação física com alunos autista. A metodologia utilizada foi uma Revisão bibliográfica, pesquisada em artigos e livros de autores, publicado nos últimos anos. Os principais resultados da produção do trabalho permitiu entender que diante das dificuldades dos Docentes em lecionar as aulas de educação física para autistas, é necessária preparação acadêmica para disponibilizar aulas com qualidade. E as conclusões é que cabe aos docentes serem capazes de compreender o comportamento e comunicação do autista, contribuindo para a inclusão do educando na escola.

Palavras-chave: Educação física. Autismo. Inclusão.

ABSTRACT

Working with diversity has required, above all, knowledge of the situation faced. Well, the professionals needed to be able and able to deal with the differences and with the subjectivity of each student, after all, each child is unique and requires different care. By knowing this student and his confrontations, Physical Education Teachers have been able to have a dimension on how to work and correctly perform the activities consistent with the discipline, eliminating some difficulties, especially with students with autistic spectrum disorder. However, taking into account this information, the main objective of the work was to point out the best strategies that are adopted by physical education teachers with autistic students. The methodology used was a bibliographic review, researched in articles and books by authors, published in recent years. The main results of the production of the work allowed us to understand that, given the difficulties of teachers in teaching physical education classes for autistic people, academic preparation is necessary to provide quality classes. And the conclusions are that it is up to teachers to be able to understand the behavior and communication of the autistic, contributing to the inclusion of the student in the school.

Keywords: Physical education. Autism. Inclusion

1 INTRODUÇÃO

O motivo da escolha do tema foi destacar que atualmente a falta de empatia e entendimento com as pessoas com necessidades especiais, tem sido considerada a maior deficiência da sociedade. E com isso, com os direitos dessas pessoas sendo cada vez mais alcançados, torna-se obrigatório o entendimento e aperfeiçoamento dos espaços em garantir a inclusão e participação de maneira plena e assertiva nas escolas.

Nesse sentido, a importância do tema foi conforme se considera que ainda falar sobre inclusão escolar é um assunto polêmico e bastante aclamado no setor educacional, pois tem perpassado inúmeros conceitos, subjetividades e pontos de vista. Pois, conforme a presença desses alunos aumenta nas escolas, não há mais tempo para confabulações e sim de pôr em prática estratégias que permitam a garantia de ensino de qualidade para todos os alunos.

Frente a essa realidade, a relevância do assunto e sua contribuição para o campo do conhecimento foi identificar que a educação física é uma das disciplinas mais amplas, pois consegue abranger teoria e prática conforme vontade do educador. E para que as atividades sejam mais dinâmicas e interessantes, o profissional pode inovar sempre no conteúdo a ser trabalhado. Nas turmas, com a inclusão, a presença de alunos autistas ainda intimida e levanta questões e preocupações desses profissionais quanto à realização de atividades durante as aulas, gerando insegurança nesse professor.

O problema da pesquisa foi questionar quais às dificuldades para os Docentes de Educação física com alunos com transtorno do espectro autista? Tendo como hipóteses que no caso das aulas de educação física, por se tratarem de, na maioria das vezes, ocorrerem de maneira externa, seja na quadra de esportes, piscinas ou espaços abertos, o cuidado com a integridade física do aluno é alarmante, ainda mais nos casos de alunos com necessidades especiais. No caso do autismo existem certas ressalvas quanto à interação social com esses alunos, além da mudança quanto à rotina e padrão que podem afetar seu humor.

Objetivo geral: Apontar as melhores estratégias que são adotas pelos professores de educação física com alunos autista. E como objetivos específicos: Explicar a educação inclusiva no que tange ao autismo; Identificar a educação física como uma experiência necessária na escola; Mencionar as dificuldades para os docentes de educação física com alunos com transtorno do espectro autista.

Nesse caso, que foi abordada como metodologia para o trabalho uma Revisão bibliográfica, de cunho qualitativo e tipo exploratório, coletada informações de autores, com publicações nos últimos anos, em sites e livros, que apresentasse informações apropriadas para ser utilizada na pesquisa.

Sendo assim, o trabalho foi desenvolvido em capítulos e subcapítulos, de maneira que cada objetivo resultou na criação de um dos capítulos do trabalho. Pois no primeiro capítulo aconteceu uma explicação da educação inclusiva, levando em consideração o comportamento do aluno autista, para que venha ser aplicado da melhor maneira possível um ensino de qualidade nas escolas.

No segundo capítulo foi apresentada a educação física como uma experiência necessária na escola, principalmente por contribuir para a inclusão do educando autista. No terceiro capítulo foram consideradas as dificuldades para os docentes de educação física com alunos com transtorno do espectro autista, permitindo esclarecer que para os professores, as dificuldades estão mais no comportamento diferenciado desses alunos, o que causa certo desconforto e acaba atrapalhando a aula em si e toda a turma de alunos.

2 A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO QUE TANGE AO AUTISMO

Devido o autismo ser considerado como um transtorno de desenvolvimento, muitas crianças têm sido excluídas, simplesmente pelo seu comportamento social, apresentado diante de outras pessoas. Pensando nesses requisitos o autismo tem sido apontado como um sintoma comportamental diferenciado, baseado em variedades de atitudes que são adotadas pela criança desde cedo.

No entanto, é levado em consideração o comportamento do aluno autista, para que venha ser aplicado da melhor maneira possível um ensino de qualidade nas escolas. De modo, que se entende que a origem do autismo acontece por meio da genética e das influências ambientais, mas, porém, não tem um conjunto de genes especifico para se deduzir de como é reproduzido o autismo, mais é possível verificar algumas características na própria criança.

Dessa forma, em entendimento sobre isso Chiari, Perissinoto e Tamanaha (2008, p.1) dizem que o autismo pode ser conceituado como “atitudes bastante específicas, como: perturbações das relações afetivas, solidão autística extrema, inabilidade no uso da linguagem para comunicação, etc.”. Portanto, nota-se que essa percepção da criança autista é 100% comportamental, o que torna uma criança diferente e que precisa de cuidados exclusivos, como por exemplo, a necessidade da dependência de uma pessoa adulta para se posicionar melhor no convívio de outras pessoas, como passeios em praças, escola, etc.

É o que Grandin e Panek (2015) chamam de uma posição social bem destacada, sem encobrir suas características e personalidades individuais de um autista, que ao ser aproveitado podem ter contribuições únicas de afetividade. Portanto, o conceito de autismo pode ser apresentado como “uma distorção do modelo familiar, que ocasiona nas alterações do desenvolvimento psico-afetivo da criança, decorrente do caráter altamente intelectual dos seus pais” (CHIARI; PERISSINOTO; TAMANAHA, 2008, p.2).

Neste caso, baseado nesse conceito a criança autista é identificada como um ser anormal, mais não por ser uma criança linda que nasceu de uma gestação tão esperada pela mãe, mais pelos seus transtornos apresentados. No entanto, para Pimenta (2018, p.1) “esse transtorno integra o de Transtorno do Espectro Autista (TEA) como uma série de quadros (que podem variar quanto à intensidade dos sintomas, gerados na rotina do indivíduo)”.

Entretanto, analisa-se que os sinais (transtorno) de autismo vão influenciar muito na vivência da criança no decorrer da sua história e construção social. Nesse sentido, a definição de inclusão baseia-se na ideia de diversidade, diferença, universalização de indivíduos dentro do mesmo espaço, neste contexto, a escola (CHIARI; PERISSINOTO; TAMANAHA, 2008).

Diante disso, até pouco tempo atrás, apenas os professores que possuíam algum tipo de afinidade enveredavam-se para a Educação Especial e buscavam formação específica pertinente. No entanto, com a demanda crescente de alunos especiais nas escolas de ensino regular, não houve espaço apenas para identificação com a temática, mas sim uma necessidade de adaptar-se às diferenças e promover o ensino de qualidade e igualitário a todos os alunos.

De modo, que “os alunos autistas entram na grade curricular normal da escola, e têm direito a um monitor acompanhando sua rotina de aprendizado em todas as disciplinas” (ASSIS; SOUZA, 2015, p.3). Entretanto, existem algumas preocupações por parte do professor de educação física, sobre os alunos autistas. Explica Assis e Souza (2015, p.7) que:

O (Grupo Autismo de Jataí) em Jataí- GO, composto por pais de autistas, familiares e profissionais como, psicólogos, professores, fisioterapeutas, professores de Educação Física, pedagogos e etc. Nas reuniões quinzenais do grupo, são discutidas maneiras de lidar com essas crianças para que cada vez mais haja uma melhor adaptação tanto da sociedade ao autista quanto do autista à sociedade. Entretanto, em uma entrevista realizada com alguns professores, elencou uma lista de limites e dificuldades, como a falta do professor de apoio nas aulas de Educação Física e o exacerbado número de alunos por turma. Ao mesmo tempo, os professores afirmaram que o trabalho com os autistas é tranquilo. Para os coordenadores, o trabalho com esses alunos autistas está focado no professor de apoio para contribuir com a interação e o desenvolvimento do aluno.

Nesse sentido, percebe-se que a escola ter uma criança autista na escola, trata-se de um trabalho de todo o corpo docente. No entanto, atualmente, com a Lei n° 12.764, que determina a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, onde os autistas passaram a ser considerados oficialmente com pessoas com deficiência e garantindo-lhes todos os direitos a políticas de inclusão do país, entre elas, as educacionais. Sendo assim, toda escola pública, estando preparada ou não, é obrigada a acatar a inclusão de estudantes com esse tipo de deficiência (BRASIL, 2012).

E quanto às dificuldades elencadas pelos profissionais da educação encontra-se a falta de orientação sobre inclusão sobre autismo, assim como a falta de pessoas com conhecimento capacitado, a própria ausência da família do autista neste processo e também a pouca interação e comunicação entre docentes a respeito dos alunos autistas. Para os professores, as dificuldades estão mais no comportamento diferenciado desses alunos, o que causa certo desconforto e acaba atrapalhando a aula em si e toda a turma de alunos. Percebe-se, portanto, uma culpabilização ou responsabilização indevida do indivíduo, ou seja, como se a culpa do indivíduo ser autista fosse dele mesmo, sendo que este é um problema que envolve toda a sociedade. A ênfase no déficit está no indivíduo deficiente e/ou diferente, ou seja, sucessos e fracassos ficam sob-responsabilidade dos indivíduos, sobrepondo os aspectos biológicos às condições histórico-culturais, destituindo assim essas pessoas da sua humanidade. Pois, se encontra às vezes mais limites do que possibilidades (ASSIS; SOUZA, 2015, p.8). Em outras palavras a escola ainda tem dificuldades em incluir os alunos com Transtorno do Espectro Autista nas aulas de educação física por conta da ideia pré-concebida que essa disciplina exige um alto desempenho físico e na esportivização. A maioria dos professores não acata a ideia de que o movimento pode ser considerado como ferramenta que oportuniza a adaptação e inclusão (KLEIN, 2015).

Com isso, perde-se a oportunidade de expandir as aquisições de novas habilidades motoras e sociais desses alunos. Pois, existem situações em que não é adequada a inclusão de pessoas com transtorno do espectro autista e demais deficiências durante a prática da educação física no ensino regular:

(1) Quando este aluno é extremamente destrutivo/desagregador e/ou perigoso para outros estudantes; (2) quando este estudante não permite que os colegas alcancem suas metas por causa da inclusão; (3) quando este estudante não alcança suas metas ou se dispersa por estar incluída na aula regular de Educação Física; (4) quando este aluno não está recebendo um programa de Educação Física apropriado, orientado para suas necessidades únicas; e (5) quando o ambiente não é seguro para este estudante (COSTA; GORGATTI, 2008, p. 20).

Ao contrário da ideia que a maioria das pessoas possui, o professor de educação física vai muito além da promoção de atividades esportivas. Como afirma Bezerra (2017) o profissional de educação física atua também como instrutor da promoção à socialização, através de atividades que valorizem aspectos individuais e a participação do aluno.

Para que ocorra esse despertar nos alunos e que mantenha sempre a rotina de aulas animadas e enérgicas, o professor cerca-se de alternativas lúdicas e dinâmicas para ofertar de uma forma mais interessante o engajamento dos alunos nas atividades propostas, com brincadeiras, mantendo as crianças ativas e participativas dentro e fora do seu ambiente escolar (BEZERRA, 2017).

Mas, porém, “já nas crianças autistas esse processo não é tão simples, pode ser longo e trazer grandes frustrações aos pais, familiares e educadores, que acabam desacreditando no brincar, como propício ao desenvolvimento”. Portanto, o importante é associar a criança autista de modo que mesmo com um dado ou quebra-cabeça que for utilizado na escola, ela aprenda brincando.

Além disso, os alunos autistas, independente da idade, tendem a ter dificuldade com interação o que dificulta sua qualidade de vida significativamente. Apresentam dificuldade em fazer amigos, de participar regularmente esportes e ter o suporte de um cuidador na escola são as principais condições que impedem o autista de manter uma saúde estável (BREMER; CROZIER; LLOYD, 2016). As crianças autistas costumam apresentar, também, condições associadas a desordens sensoriais, entraves para prestar e/ou manter a atenção, como também deficiências na coordenação motora (BLOCK; GROFT, 2003).

2.1 A atividade física: Inclusão

Apesar desses problemas, a atividade física para crianças autista tem inúmeras vantagens, pois ajudam a reduzir o comportamento agressivo, no aprimoramento da aptidão física, desenvolvimento social, físico e motor, além de melhorar a qualidade de sono, reduzindo assim a ansiedade e depressão. A partir disso há uma significativa melhora na concentração, memória, performance acadêmica e a percepção de si mesmo, aprimorando, assim, a saúde mental do indivíduo (BREMER; CROZIER; LLOYD, 2016).

Silva et al (2018) esclarece que o profissional de educação física necessita estar atento aos déficits de interação pessoal, comunicação e a inúmeras outras características próprias de cada aluno autista. Essas particularidades são as que demandam atenção e devem ser sempre observadas. Essas características podem se apresentar como isolamento, agressividade, desinteresse, pode agir como surdos sem emissão de som quando algo lhes foge da rotina.

Os problemas que a criança com transtorno do espectro autista apresenta em relação à comunicação e interação não devem ser esquecidos pelo profissional, mas sim tornar-se seu principal objetivo, pois apesar do exercício ser um elemento importante, o foco do trabalho educacional ainda concentra-se nos aspectos cognitivos e sociais a serem aprimorados no decorrer do ano letivo e na formação desse indivíduo conforme cada aula de educação física.

Além disso, o fato de colocar crianças com autismo na sala de aula regular, sem realizar nenhuma mudança na estrutura da escola, no método de ensino, no tempo escolar não possibilita o acontecimento real da inclusão, ou seja, se não houver essas mudanças ainda continuará existindo a exclusão dentro da própria sala de aula (ASSIS; SOUZA, 2015, p.10).

E um dos pontos importante com um aluno autista tem a ver também com o vínculo socioafetivo a ser criado com o professor. Esse educador não deve apenas direcionar tarefas e elaboradas com a intenção de promover competição ou desempenho, mas que estimulem os alunos na realização do processo dando-lhes as condições necessárias para a sua execução. De maneira, que a educação física é vista como uma experiência necessária na escola, que justamente envolve a inclusão do educando.

3 A EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA EXPERIÊNCIA NECESSÁRIA NA ESCOLA

Neste caso, a educação física também auxilia na psicologia, pois complementa com outras disciplinas, contribuindo assim para o desenvolvimento intelectual e moral de crianças, sendo capaz de investir na formação do indivíduo através da educação física escolar. De modo, que a educação física como disciplina ajuda a desenvolver o respeito entre alunos e professores, além do dar voz às opiniões dos alunos, que geralmente não podem ser expressas em outros momentos, exceto durante as dinâmicas em sala de aula, com sua interação em um ambiente sociável com seus colegas (GUTSTEIN; OLIVEIRA; SANTOS, 2020). Como pode ser visto na imagem (1) a seguir, analisa-se:

Figura 1. A educação física na escola

Fonte: JUNIOR (2020).

Conforme a figura (1) é possível verificar a importância à inclusão do indivíduo através da educação física escolar. Nesse sentido, considerando a idoneidade da disciplina de Educação Física, é imprescindível o professor ter experiência para poder ensiná-la, ou seja, deve ser qualificado e apto a exercer essa função, em que deve estar habituado com as escolas da comunidade, a fim de promover o desenvolvimento social do educando (GUTSTEIN; OLIVEIRA; SANTOS, 2020).

Tendo em vista, que a qualidade da educação está também relacionada à infraestrutura escolar, que evidencia as desigualdades na sociedade. Assim, variados centros escolares precisam de quadras esportivas, refeitórios, laboratórios e outros espaços relevantes para o ensino e a aprendizagem.

A comunidade escolar tem um papel muito importante na qualidade do ensino e todos podem se beneficiar dessa parceria. Para isso, as escolas podem criar projetos que integrem as famílias às escolas e estimulem a participação, ensinando aos alunos o senso de comunidade e inclusão na sociedade (FREIRE, 1996). Valorizar o professor é fundamental para a construção de um novo cenário na educação, criando experiências incríveis na formação do indivíduo por meio da educação física no ambiente escolar.

4 AS DIFICULDADES PARA OS DOCENTES DE EDUCAÇÃO FÍSICA COM ALUNOS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

O autismo é um transtorno do desenvolvimento que pode ser notado até os três anos de idade e pode ser notada pelos pais, a partir de alguns sinais que essas crianças podem começar a apresentar, a exemplo de dificuldade para falar, não se comunicar de maneira verbal, mostra-se mais inibida uma vez que o autismo é também um transtorno que ocasiona desintegração social. “Isso pode acarretar desafios para os profissionais de educação que lidam com essas crianças que apresentam atrasos no desenvolvimento, no qual um destes desafios é o de identificação do autismo quanto ao desenvolvimento do indivíduo” (GONÇALVES; SANTOS, 2021, p. 2).

Pois, ao entender que as crianças que possuem transtorno do espectro autista têm dificuldade de concentração, para alguns docentes de educação física isso é uma das principais dificuldades para lecioná-los. Paralelo a isso, vale destacar que a criança diagnosticada autista pode muito beneficiar-se com a prática de atividades físicas, tendo em vista que o estímulo motor pode dar a essas crianças maior firmeza, mais praticidade, bem como promove ainda o engajamento, bem como estimular a capacidade de trabalho em equipe. Sobre o assunto Gonçalves e Santos (2021) destacam que:

Como o professor é considerado uma referência para o aluno, à formação enfatiza a importância de seu papel em ensinar todos os seus alunos, tanto na construção do conhecimento, como na formação de atitudes e valores do cidadão. Deste modo, a formação vai além dos aspectos instrumentais de ensino, podendo ser bem complexa, como por exemplo, o professor pode não ter formação sobre a área da inclusão, mas, anteriormente pode já ter tido experiências e práticas pedagógicas ao vivenciar o contato com a inclusão, e isto também é de grande valia, e ajudaria a lhe dar condições preparatórias para trabalhar com situações do dia-a-dia com uma turma que tenha alunos de inclusão, por exemplo, com o TEA.

Nesse caso, valem apontar que as crianças que sofrem de transtorno do espectro autista possuem determinadas limitações no tocante à realização de movimentos, limitações e dessa maneira é imprescindível que os docentes de educação física busquem estratégias para driblar as limitações dos alunos, tendo em vista possibilitarem qualidade de vida aos alunos através das atividades esportivas. Ressalta-se, ainda, que “muitos desses profissionais entendem-se despreparados para atuar com os estudantes com deficiência e os recursos disponíveis, muitas vezes se mostram escassos” (GONÇALVES; SANTOS, 2021, p. 3).

E se tratando dos cuidados necessários para o relacionamento com essas crianças, vale mencionar as habilidades especiais que são demandadas, é nesse contexto que se insere os programas voltados para a formação dos professores que vão lidar com crianças que têm Transtornos Globais do Desenvolvimento, sob uma perspectiva de prestar assistência total a essas crianças, garantindo-lhes o direito à educação de modo que não seja posto em detrimento em razão dos problemas que enfrentam, garantindo que possam frequentar escolas que estejam preparadas para receber essas crianças acompanhando o ritmo delas, prestando a assistência necessária de modo que essas crianças sejam alfabetizadas e tenham garantido o direito à alfabetização prevista na constituição.

É o exemplo como as atividades lúdicas nas alunas de educação física, encontra-se uma ocasião potencial, pois, pelas atividades lúdicas, pelo convívio com outras crianças, a criança com TEA pode aprender a dar e receber ordens, a esperar sua vez de brincar, a emprestar e tomar brinquedos emprestados, a compartilhar momentos bons e ruins, a fazer amigos, a tolerar e respeitar, desenvolvendo sua sociabilidade (OLIVEIRA et al; 2021, p. 4).

Sendo assim, o lúdico é fundamental no cotidiano do educando e pode-se perceber na atuação do Docente, quanto o lúdico faz diferença no momento da aprendizagem para o aluno autista, e todos aprendem de forma descontraída e prazerosa, mas os jogos e brincadeiras tem que estar inclusa sempre neste processo. No entanto, ao compreender sobre a adaptação dos alunos com transtorno do espectro autista nas aulas de Educação Física, Gonçalves e Santos (2021, p.3) observam que:

Essa dificuldade dos docentes de Educação Física em lidar com alunos autistas, podem envolver diversos fatores e muitos podem se perguntar: como irão avaliar estes alunos com notas no final do semestre? Atenderão os alunos com TEA em suas aulas ou atenderão o restante da turma? É possível incluir todos? As adaptações das atividades das aulas serão somente para o aluno com TEA ou os demais alunos irão fazer a mesma atividade adaptada? Isso tudo se torna um dilema complexo, pois o professor fica muitas vezes sem saber como agir. E é neste momento que se apresenta importantes pistas para aqueles que têm a responsabilidade ética e legal de garantir condições concretas de inclusão escolar aos estudantes que demandam estratégias diferenciadas para serem tratados e educados de maneira da qual necessitam.

E em se tratando da desaceleração do processo de desenvolvimento desses alunos com transtornos globais do desenvolvimento, pode reafirmar a necessidade que esses alunos têm de cuidados especiais, atenção maior e uma estrutura adaptada ao seu ritmo de desenvolvimento no ambiente educacional.

Vale acentuar que nessa área é tudo muito impreciso, não há tantas evidências quanto ao sucesso total de um tratamento para cujo aluno que sofre de transtornos, no entanto qualquer progresso, por menor que seja é relevante e demasiado satisfatório, uma vez que os avanços são mínimos nesse processo de construção com esses alunos, mais precisam ter resultados e ser eficiente para a educação.

E é relevante que o professor de Educação Física procure uma formação que lhe permita preparar cursos e treinamentos para seus alunos. Além de ter ciências sobre um ensino pedagogicamente adequado a cada nível de desenvolvimento de seus alunos, levando-o a um melhor desempenho e à melhor saúde possível com a menor quantidade de riscos, levando em consideração suas características e história de vida (GOMES et al., 2010).

Deste modo, compreende a pedagogia do movimento, os processos de aprendizagem motora e os efeitos do corpo no desenvolvimento socioafetivo dessa disciplina também é essencial para o curso de graduação em Educação física. Nesse sentido, Carvalho, Garcia Junior e Santos (2007, p.4) apontam:

As aulas de Educação Física podem ter um papel que vai além das pistas, quadras, piscinas ou ginásios, sendo o de conscientizar o aluno sobre a importância da prática regular, e por toda a vida, de atividades físicas que não apenas previnam a obesidade, como também lhe proporcionem prazer e bem-estar, motivação e autoconfiança, até mesmo para os alunos com necessidades especiais.

Sendo assim, o papel do professor de educação física remete em um profissional com curso superior responsável por desenvolver hábitos físicos, prescrever atividades, orientar e supervisionar aquelas que se enquadrem no âmbito da atividade física ou do esporte. Porém, para que esses profissionais tenham sucesso é imprescindível que atuem com ética, pois a prática da ética aumenta a credibilidade dos profissionais na sociedade e aumenta seu valor profissional (BOTTCHER, 2019).

Pois, há muito se fala que a escola, como instituição educacional, forma pessoas para a vida. A origem das instituições de ensino, aliás, está diretamente relacionada à necessidade de formar pessoas com condutas específicas para a vida em sociedade. Todavia, nunca se falou tanto em aproximar o ensino das disciplinas escolares aos sonhos ou projetos de vida dos alunos, como ocorre agora. Afinal, a questão básica que todo professor ou gestor educacional deve responder diariamente ao tomar as suas decisões profissionais e desenvolver as atividades educacionais é: o que realmente vale a pena ensinar na escola? Ou o que os alunos necessitam aprender atualmente? A intencionalidade do ato pedagógico é um dos princípios da docência e, portanto, deve permear todas as decisões e intervenções profissionais na escola. Diante da missão de ensinar para a vida, a essência da intenção pedagógica reside na ideia de que todas as atividades realizadas pelos alunos devem estar carregadas da vida cotidiana e do próprio ser dos alunos. Afinal, a vida dos alunos é o ponto de aplicação das aprendizagens e, portanto, deve ser o contexto do ensino da disciplina de Educação física, que vai ser lecionada pelo professor (JÚNIOR, 2020, p.2).

Tendo em vista, que o papel do professor de Educação física nas escolas, assim como os outros docentes, é buscar por meio da prática de esportes ou demais jogos, exercer o seu papel na escola, qual seja de um especialista na potencialização das habilidades dos alunos, para que estes desenvolvam suas diversas capacidades de maneira simultânea à melhora de suas condições vitais (BOTTCHER, 2019).

E ainda através do trabalho do profissional de educação física, os indivíduos passam a desenvolver gosto pelas atividades esportivas, estas fundamentais para o bom funcionamento do corpo humano, além de passarem a compreender a importância do labor em conjunto, essencial para manutenção das sociedades. Nesse segmento, pensa-se que:

A mera informação tem se mostrado insuficiente para a alteração ou construção de comportamentos favoráveis à proteção e à promoção da saúde do educando, e cabe à Educação Física escolar a responsabilidade de lidar de forma específica com alguns aspectos relativos aos conhecimentos procedimentais, conceituais e atitudinais característicos da cultura corporal de movimento (BRASIL, 1998, p.36).

No entanto, cabe também ressaltar que existem diversas correlações entre os esportes coletivos e os jogos, pois a prática dos jogos pré-esportivos é muito ampla em muitas ocasiões, desde o aprendizado do esporte ou até o aquecimento antes da prática esportiva. Jogos e esportes têm diferenças, no esporte as regras são mais rígidas no sentido de que há um conjunto de regras que são seguidas pelos atletas e elaboradas pelas comissões organizadoras, no caso dos jogos as regras podem ser mais flexíveis e combinadas com uns aos outros durante o jogo. Mas é fundamental esclarecer que qualquer atividade física realizada para os alunos, mesmo o autista precisa ser como estratégia, capaz de influenciar o conhecimento do aluno.

CONCLUSÃO

Diante dos assuntos abordados no decorrer de trabalho é possível destacar que o problema e os objetivos foram alcançados, a fim de trazer o entendimento sobre a educação do aluno com transtorno aspecto autista. De modo, que possibilitou entender que as dificuldades para o docente de educação física com alunos autistas são várias, principalmente por ser um aluno que tem dificuldade de comunicar de maneira verbal, dificultando a sua integração social, e até mesmo a troca de aprendizado entre os outros alunos.

No entanto, para adquirir uma educação especial de qualidade, com os alunos com transtorno aspecto autistas, é fundamental existir professores preparados para lecionar esses educandos a fim de adquirir um aprendizado do conteúdo, como também influenciar na inclusão do mesmo.

Além disso, a ideia é que o próprio docente ele tenha criatividade e responsabilidade no conteúdo que ele irá ensinar para os alunos, compreendendo que a disciplina de educação física ela pode ir além das pistas, quadras ou ginásio de uma escola, como por exemplo, a prevenção da obesidade. Sendo assim, o papel do professor reflete muito na adaptação do aluno na escola, ou seja, a inclusão do aluno autista tem uma participação eficaz do docente e de toda a escola e também a própria família.

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1Artigo científico apresentado ao Grupo Educacional IBRA como requisito para a aprovação na disciplina de  TCC.

2Discente do curso Licenciatura em Educação Física.