REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8062621
José Carlos Guimarães Junior1
Adilson Gomes de Campos2
Marttem Costa de Santana3
Rayssa Cristina Veiga Campos4
Ana Bessa Muniz5
Ana Gabriela Bezerra da Silva Aguiar6
Maria Amélia dos Santos Peres7
Hilton Giovani Neves8
Alexsander Pippus Ferreira
Resumo
Este artigo tem como objetivo abordar os desafios enfrentados pela enfermagem que atua em áreas remotas no interior da região norte do Brasil e apresentar estratégias para melhorar a qualidade da assistência nessas localidades. Para alcançar esse objetivo, realizou-se uma revisão bibliográfica abrangente, utilizando bases de dados eletrônicas, artigos científicos e documentos relevantes. A metodologia de revisão consistiu em selecionar estudos que abordassem os desafios e estratégias da enfermagem em áreas remotas, analisando os dados e as conclusões presentes nesses estudos. A análise dos dados revelou que a escassez de recursos humanos e materiais, as dificuldades de acesso e transporte, a carência de infraestrutura adequada e as distâncias geográficas e isolamento são os principais desafios enfrentados pela enfermagem nessas áreas remotas. Em relação às estratégias, identificou-se a importância da capacitação e formação especializada dos profissionais, a adaptação às condições locais e cultura da comunidade, o uso de tecnologias e telemedicina, a colaboração interdisciplinar e parcerias, e a implantação de programas de educação em saúde. Com base nos dados analisados, concluiu-se que investimentos e políticas públicas voltadas para a enfermagem em áreas remotas são essenciais para melhorar a qualidade da assistência nessas localidades. Além disso, destacou-se a necessidade de apoio e valorização dos profissionais que atuam nessas regiões, proporcionando condições adequadas de trabalho e reconhecimento da importância do seu papel na promoção da saúde e bem-estar das comunidades atendidas.
Palavras-chave: enfermagem, áreas remotas, região norte, qualidade da assistência, desafios, estratégias, revisão bibliográfica, análise de dados, conclusões.
Abstract:
This article aims to address the challenges faced by nursing professionals working in remote areas in the northern region of Brazil and present strategies to improve the quality of care in these locations. To achieve this objective, a comprehensive literature review was conducted using electronic databases, scientific articles, and relevant documents. The review methodology involved selecting studies that addressed the challenges and strategies of nursing in remote areas, analyzing the data and conclusions presented in these studies. The data analysis revealed that the scarcity of human and material resources, difficulties in access and transportation, lack of adequate infrastructure, and geographical distances and isolation are the main challenges faced by nursing professionals in these remote areas. Regarding the strategies, the importance of specialized training and education of professionals, adaptation to local conditions and community culture, use of technology and telemedicine, interdisciplinary collaboration and partnerships, and implementation of health education programs were identified. Based on the analyzed data, it was concluded that investments and public policies focused on nursing in remote areas are essential to improve the quality of care in these locations. Furthermore, the need for support and recognition of the professionals working in these regions was emphasized, providing adequate working conditions and acknowledging the importance of their role in promoting health and well-being in the served communities.
Keywords: nursing, remote areas, northern region, quality of care, challenges, strategies, literature review, data analysis, conclusions.
Introdução
A enfermagem desempenha um papel fundamental na promoção, prevenção, tratamento e reabilitação da saúde, sendo essencial em todas as áreas geográficas, no entanto, é importante destacar a relevância da enfermagem em áreas remotas, especialmente no interior da região norte do Brasil, pois essas localidades apresentam características particulares que demandam uma atenção especial por parte dos profissionais de enfermagem.
O interior da região norte do Brasil abrange uma vasta extensão territorial e é caracterizado por uma grande diversidade geográfica, cultural e socioeconômica. Essa região é composta por um número significativo de municípios, que desempenham um papel crucial na prestação de serviços de saúde às comunidades locais. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE (2010), a região norte possui cerca de 450 municípios, distribuídos pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
No entanto, a realidade da saúde no interior da região norte apresenta desafios complexos. A escassez de recursos, a falta de infraestrutura adequada e as dificuldades de acesso são alguns dos principais obstáculos enfrentados pelos sistemas de saúde nesses municípios. Essas limitações impactam diretamente a qualidade e o acesso aos serviços de saúde, tornando a região norte uma área com demandas específicas e necessidades de intervenção.
Autores como Silva et al. (2019) destacam a importância de políticas públicas que visem à melhoria da saúde no interior da região norte, considerando as particularidades e especificidades locais. Além disso, Lima et al. (2018) ressaltam a necessidade de investimentos em infraestrutura, recursos humanos qualificados e estratégias de telemedicina para superar as barreiras geográficas e promover o acesso à saúde em áreas remotas.
A qualidade da assistência nessas áreas remotas é de suma importância, pois influencia diretamente a saúde e o bem-estar das populações atendidas. A enfermagem desempenha um papel crucial na promoção da qualidade da assistência, por meio do fornecimento de cuidados seguros, eficazes e culturalmente adequados.
A atuação da enfermagem em áreas remotas enfrenta uma série de desafios específicos, desde a escassez de recursos humanos e materiais é uma realidade comum nessas localidades, o que requer dos profissionais de enfermagem uma habilidade extraordinária para lidar com as limitações e buscar soluções criativas.
Além disso, o difícil acesso e transporte até as comunidades remotas impõem um desafio adicional para a enfermagem, e as distâncias geográficas e o isolamento podem dificultar o acesso a serviços de saúde especializados e o transporte de pacientes em emergências, tornando a atuação dos profissionais de enfermagem ainda mais crucial para o cuidado local.
Diante desses desafios, é fundamental ressaltar a importância da qualidade da assistência de enfermagem nessas áreas remotas. A enfermagem desempenha um papel central na promoção da saúde, prevenção de doenças, educação em saúde, administração de medicamentos, realização de procedimentos e no suporte emocional aos pacientes e suas famílias.
Uma assistência de enfermagem de qualidade nessas localidades contribui para a melhoria dos indicadores de saúde, redução da mortalidade, prevenção de doenças, promoção de hábitos saudáveis e fortalecimento das comunidades locais.
Portanto, compreender a importância da enfermagem em áreas remotas no interior da região norte é essencial para valorizar e fortalecer o trabalho desses profissionais, e a qualidade da assistência de enfermagem nessas localidades é um elemento-chave para garantir o direito à saúde das populações atendidas, promovendo a equidade e a justiça social.
Neste contexto, este artigo tem como objetivo discutir os desafios enfrentados pela enfermagem em áreas remotas no interior da região norte e apresentar estratégias e iniciativas que visam melhorar a qualidade da assistência nessas localidades; e assim, através desse estudo, busca-se valorizar e incentivar a atuação dos profissionais de enfermagem, bem como contribuir para o desenvolvimento de políticas e práticas que promovam a saúde e o bem-estar das populações em áreas remotas.
2. Objetivos
Os objetivos propostos visam fornecer uma análise abrangente dos desafios enfrentados pela enfermagem em áreas remotas no interior da região norte e apresentar estratégias efetivas para melhorar a qualidade da assistência nessas localidades, assim espera-se que os resultados deste estudo possam contribuir para a formulação de políticas e práticas de saúde mais eficazes e para o fortalecimento da enfermagem nessas regiões, garantindo um atendimento de qualidade e equitativo para as populações locais.
Assim definimos o objetivo geral: Analisar os desafios enfrentados pela enfermagem em áreas remotas no interior da região norte do Brasil e apresentar estratégias para melhorar a qualidade da assistência nessas localidades; e os objetivos específicos: Identificar os principais desafios enfrentados pelos profissionais de enfermagem que atuam em áreas remotas no interior da região norte; analisar as consequências dos desafios enfrentados na qualidade da assistência de enfermagem nessas localidades; explorar as estratégias e iniciativas atualmente utilizadas para superar os desafios e melhorar a qualidade da assistência de enfermagem em áreas remotas; avaliar o impacto dessas estratégias na qualidade da assistência e nos indicadores de saúde das populações atendidas; discutir a importância do fortalecimento da enfermagem em áreas remotas e propor recomendações para o aprimoramento das políticas e práticas de saúde nessas localidades.
3. Metodologia de Pesquisa
A metodologia utilizada neste estudo teve como objetivo analisar os desafios enfrentados pelos profissionais de enfermagem nessas localidades e identificar as estratégias adotadas para melhorar a qualidade da assistência, e para isso, foram consultados diversos artigos científicos e documentos relacionados ao tema.
No que diz respeito à coleta de dados, realizou-se uma busca sistemática nas bases de dados eletrônicas, como a PubMed, Scopus e Lilacs, utilizando palavras-chave como “enfermagem em áreas remotas”, “desafios”, “estratégias” e “assistência de saúde”; além disso, foram analisados relatórios governamentais, documentos técnicos e diretrizes relacionados à saúde na região norte do Brasil.
No processo de seleção dos artigos, foram estabelecidos critérios de inclusão, que consistiam em trabalhos publicados nos últimos 10 anos, escritos em português e com enfoque na temática da enfermagem em áreas remotas da região norte, que após a leitura dos títulos e resumos, os artigos relevantes foram selecionados para leitura completa e análise crítica.
A análise dos dados foi realizada por meio de uma abordagem qualitativa, buscando identificar os principais desafios enfrentados pelos profissionais de enfermagem nessas áreas e as estratégias utilizadas para superá-los.
Os resultados foram agrupados em categorias temáticas, como escassez de recursos humanos e materiais, dificuldades de acesso e transporte, carência de infraestrutura adequada e distâncias geográficas e isolamento.
Durante a análise dos artigos, foram identificados diversos autores que contribuíram significativamente para o campo da enfermagem em áreas remotas, como Gomes et al. (2019) discutiram os desafios da saúde indígena no Brasil e o papel da enfermagem, enquanto Silva et al. (2018) abordaram a escassez de enfermeiros nas regiões Norte e Nordeste. Santos et al. (2017) analisaram os desafios enfrentados pelos profissionais da Estratégia de Saúde da Família em municípios de fronteira no Brasil.
Considerando as estratégias para melhorar a qualidade da assistência nessas regiões, destacaram-se a capacitação e formação especializada dos profissionais (Mendes et al., 2018), a adaptação às condições locais e culturais (Santos et al., 2019), o uso de tecnologias e telemedicina (Silva et al., 2020) e a importância das parcerias e colaboração interdisciplinar (Santos et al., 2019).
3. Desafios da enfermagem em áreas remotas no interior da região norte
A enfermagem em áreas remotas nessa região enfrenta uma série de desafios que impactam diretamente a qualidade da assistência prestada à população. essas localidades, caracterizadas por sua vasta extensão territorial, apresentam particularidades que demandam uma atenção especial por parte dos profissionais de enfermagem, assim, nesse contexto, destacam-se alguns desafios que merecem ser discutidos e enfrentados para garantir um atendimento de qualidade e equitativo.
Um dos principais desafios enfrentados pela enfermagem nessas áreas é a escassez de recursos humanos e materiais, além da falta de profissionais qualificados e em número suficiente compromete a oferta de cuidados de saúde adequados.
Autores como Silva et al. (2018) destacam que a carência de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem nessas localidades dificulta a cobertura assistencial e sobrecarrega os profissionais que estão disponíveis. Além disso, a falta de materiais e equipamentos necessários para realizar procedimentos básicos também compromete a qualidade da assistência.
Outro desafio significativo é a dificuldade de acesso e transporte, pois a região norte é caracterizada por rios de grande extensão, que funcionam quase que exclusivamente como meio de acesso as comunidades. Isso dificulta o deslocamento dos profissionais de saúde e o transporte de equipamentos e insumos essenciais.
Conforme apontado por Santos et al. (2017), a falta de estradas adequadas e a ausência de transporte regular tornam o acesso a essas localidades um desafio constante, impactando a disponibilidade e a continuidade dos serviços de enfermagem.
A carência de infraestrutura adequada também é um desafio enfrentado pela enfermagem em áreas remotas; e ainda a falta de estruturas físicas adequadas, como postos de saúde e hospitais, compromete a realização de procedimentos complexos e o atendimento de casos mais graves, além da ausência de tecnologia e recursos de telemedicina dificulta a comunicação com centros de referência e a busca de apoio especializado.
Segundo Gomes et al. (2019), a infraestrutura precária impacta diretamente a capacidade de resposta dos profissionais de enfermagem e compromete a qualidade dos cuidados prestados.
As distâncias geográficas e o isolamento também representam desafios significativos para a enfermagem nessas áreas remotas; a vasta extensão territorial da região norte, aliada à presença de comunidades dispersas, torna difícil o acesso regular aos serviços de saúde.
Autores como Souza et al. (2016) ressaltam que o isolamento geográfico dificulta o acompanhamento de pacientes crônicos, o acesso a serviços de emergência e a realização de visitas domiciliares, situação essa que gera impactos diretos na continuidade do cuidado e na promoção da saúde.
A distância entre as comunidades e os centros de saúde mais próximos dificulta o acesso regular a consultas médicas, exames de rotina e medicamentos, o que compromete a continuidade do cuidado e a qualidade de vida desses pacientes; onde o isolamento geográfico também impacta o acesso a serviços de emergência. Em situações de urgência e emergência, a demora no deslocamento até os centros de referência pode resultar em agravamento do quadro clínico e até mesmo em óbitos evitáveis.
As visitas domiciliares, tão importantes para a promoção da saúde e prevenção de doenças, também são comprometidas pelo isolamento geográfico, pois as distâncias entre as residências dos pacientes e as unidades de saúde dificulta a realização dessas visitas, limitando o acompanhamento de pacientes vulneráveis, como idosos, crianças e gestantes.
Diante desse cenário, Souza et al. (2016) defendem a necessidade de estratégias específicas para superar os desafios impostos pelo isolamento geográfico; sugerindo o uso de tecnologias de telemedicina, como videoconferências e sistemas de monitoramento remoto, para possibilitar o acompanhamento dos pacientes à distância; enfatizando ainda a importância do fortalecimento da rede de atenção primária, com equipes de saúde bem capacitadas e estrutura adequada, para garantir o acesso e a qualidade dos serviços de saúde nessas áreas remotas.
Diante desses desafios, é fundamental que sejam adotadas estratégias para superar as dificuldades e melhorar a qualidade da assistência de enfermagem nessas áreas remotas.
O fortalecimento da formação e capacitação dos profissionais de enfermagem, aliado à implementação de políticas de incentivo e fixação de profissionais nessas localidades, pode contribuir para suprir a escassez de recursos humanos.
Investimentos em infraestrutura, incluindo a construção e manutenção de unidades de saúde adequadas, são essenciais para garantir condições adequadas de trabalho, além, como já mencionado, o uso de tecnologias, como telemedicina e sistemas de informação em saúde, pode auxiliar na comunicação e no suporte especializado.
4. Estratégias para melhorar a qualidade da assistência de enfermagem em áreas remotas
A melhoria da qualidade da assistência de enfermagem em áreas remotas requer a implementação de estratégias eficazes que atendam às necessidades específicas dessas localidades.
Nesse sentido, diversas abordagens podem ser adotadas visando aprimorar a atuação dos profissionais e garantir cuidados de saúde adequados. Neste tópico, serão discutidas algumas estratégias relevantes para enfrentar esse desafio.
A capacitação e formação especializada dos profissionais de enfermagem são fundamentais para o sucesso da assistência em áreas remotas. A educação continuada e a atualização constante são aspectos essenciais para lidar com as demandas específicas dessas comunidades.
Autores como Santos et al. (2019) ressaltam a importância da capacitação em áreas como atendimento de urgência e emergência, enfermagem obstétrica e pediátrica, além de habilidades técnicas relacionadas ao contexto local, onde essa formação especializada possibilita a prestação de cuidados mais abrangentes e qualificados.
A adaptação às condições locais e à cultura da comunidade é outra estratégia relevante para melhorar a qualidade da assistência de enfermagem, como dissertam autores como Pereira et al. (2018) “destacam a importância de conhecer as peculiaridades socioculturais e ambientais das áreas remotas, a fim de estabelecer um cuidado mais adequado e humanizado, compreendendo as práticas de saúde tradicionais, crenças e valores dos pacientes contribui para o estabelecimento de uma relação terapêutica efetiva.
Autores como Silva et al. (2020) enfatizam que a telemedicina possibilita a redução de deslocamentos desnecessários dos pacientes, além de permitir a supervisão e orientação à distância por profissionais mais experientes.
As parcerias e a colaboração interdisciplinar são estratégias importantes para superar os desafios da assistência em áreas remotas, e a integração entre diferentes profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, técnicos, agentes comunitários e outros membros da equipe, potencializa a oferta de cuidados abrangentes e de qualidade.
Silva (2019), ainda destaca a importância do trabalho em equipe na identificação de soluções conjuntas, compartilhamento de recursos e na promoção de ações integradas.
A implantação de programas de educação em saúde é uma estratégia fundamental para melhorar a qualidade da assistência em áreas remotas; onde Lima et al. (2017) ressaltam a importância de desenvolver ações educativas que visem a prevenção de doenças, promoção da saúde e o autocuidado, cujos programas podem ser desenvolvidos em parceria com a comunidade local, levando em consideração as necessidades específicas e fortalecendo o empoderamento dos indivíduos em relação à sua própria saúde.
5. As boas práticas e iniciativas bem-sucedidas em áreas remotas do interior da região norte
A implementação de boas práticas e iniciativas bem-sucedidas em áreas remotas do interior da região norte é fundamental para melhorar a qualidade da assistência de enfermagem nessas localidades; assim diversos projetos e programas têm sido desenvolvidos, proporcionando resultados positivos e impactando diretamente a saúde das populações atendidas.
Um bom exemplo de projeto bem-sucedido é o “Programa de Saúde da Família em Áreas Remotas”, desenvolvido por Mendes et al. (2018).; esse estudo relata a implantação desse programa em uma comunidade indígena na região norte, evidenciando a melhoria nos indicadores de saúde, como redução da mortalidade infantil e maior acesso aos cuidados de saúde primários.
Uma das principais características desse programa é o estabelecimento de vínculos entre os profissionais de saúde e a população local, fortalecendo a relação de confiança e facilitando o acesso aos serviços de saúde. As equipes integrantes desse projeto, realizou visitas domiciliares, promovendo ações de promoção e prevenção de doenças, realizando o acompanhamento de pacientes crônicos e oferecendo atendimento básico de saúde.
O projeto também utiliza a telemedicina como uma ferramenta complementar para ampliar o acesso aos serviços especializados, onde através da tele consulta, os profissionais de saúde das áreas remotas podem realizar consultas virtuais com especialistas, permitindo um diagnóstico mais preciso e um tratamento adequado aos pacientes.
Além disso, esse mesmo programa promove a capacitação dos profissionais de saúde que atuam nessas regiões. Mendes et al. (2018) destacam a importância de treinamentos e atualizações regulares para garantir que os profissionais estejam preparados para lidar com os desafios específicos das áreas remotas, como o atendimento em condições de infraestrutura limitada e a necessidade de adaptação à cultura local.
Os resultados desse programa têm sido promissores, demonstrando uma melhora significativa nos indicadores de saúde das populações atendidas, onde a presença de equipes de saúde da família nas áreas remotas tem contribuído para a redução da mortalidade infantil, o controle de doenças crônicas e a promoção de hábitos saudáveis, e atuação da enfermagem nesse contexto foi fundamental para o alcance desses resultados, com a realização de visitas domiciliares, educação em saúde e acompanhamento integral das famílias.
Outra iniciativa relevante é o programa “Saúde Fluvial“, relatado por Souza et al. (2019), que visa levar assistência de enfermagem às comunidades ribeirinhas da região norte por meio de embarcações adaptadas.
Esse programa utiliza embarcações equipadas com consultórios médicos e odontológicos, permitindo a realização de consultas, exames e procedimentos de enfermagem diretamente nas comunidades ribeirinhas; essa estratégia possibilita que os profissionais de saúde alcancem populações que, de outra forma, teriam poucas ou nenhuma oportunidade de receber cuidados de saúde.
Além do atendimento direto, o programa também enfatiza ações de promoção da saúde e prevenção de doenças, onde equipes de enfermagem realizam atividades educativas, orientando as comunidades sobre higiene, vacinação, planejamento familiar e cuidados básicos de saúde; oferecendo assim um processo de empoderamento dos moradores locais, tornando-os agentes ativos na promoção do autocuidado e da melhoria da saúde.
O programa “Saúde Fluvial” é reconhecido por sua efetividade na redução das desigualdades em saúde e na promoção do acesso equitativo aos serviços de enfermagem; e assim, por meio dessa iniciativa, Souza et al. (2019) relatam melhorias significativas nos indicadores de saúde das comunidades ribeirinhas, como a diminuição da mortalidade infantil e o controle de doenças transmissíveis.
Esse projeto reflete a importância de adaptação das estratégias de atendimento de enfermagem às particularidades e necessidades das populações em áreas remotas, garantindo o acesso aos cuidados de saúde de forma digna e eficiente.
Através dessa iniciativa, os profissionais de enfermagem conseguem superar as dificuldades de acesso e transporte, levando cuidados de saúde às comunidades mais distantes e isoladas; essas boas práticas e iniciativas bem-sucedidas têm demonstrado a importância da enfermagem na promoção da saúde e no enfrentamento dos desafios em áreas remotas.
As boas práticas e iniciativas bem-sucedidas em áreas remotas do interior da região norte têm proporcionado resultados positivos e impacto na qualidade da assistência de enfermagem, e assim a implementação de programas específicos, a atuação da enfermagem com base em evidências e a valorização do trabalho em equipe são aspectos fundamentais para enfrentar os desafios e promover a saúde nessas localidades.
Alguns programas merecem destaque nessa pesquisa, tais quais;
Programa Mais Médicos: O Programa Mais Médicos, criado em 2013, tem como objetivo levar profissionais de saúde, incluindo enfermeiros, para áreas remotas e de difícil acesso.
Essa iniciativa visa suprir a escassez de profissionais de saúde nessas regiões e garantir o acesso aos cuidados primários, onde a atuação dos enfermeiros atuam na realização de consultas, atendimentos básicos, vacinações e ações de promoção da saúde.
Durante a implementação do Programa Mais Médicos, ocorreram chamadas públicas para a seleção de profissionais de saúde, incluindo enfermeiros, que demonstrassem interesse em atuar nas áreas remotas, onde essa mobilização resultou em um aumento significativo do número de enfermeiros presentes nessas localidades, ampliando o acesso aos serviços de saúde e melhorando a qualidade da assistência.
Programa de Saúde da Família (PSF): O Programa de Saúde da Família é uma estratégia do Sistema Único de Saúde (SUS) que busca reorganizar a atenção básica à saúde. Os enfermeiros desempenham um papel central nesse programa, atuando como gestores das equipes de saúde da família, realizando visitas domiciliares, realizando atendimentos clínicos e promovendo ações de prevenção e promoção da saúde.
Dentro do PSF, os enfermeiros desempenham um papel fundamental, onde são responsáveis por coordenar as equipes de saúde da família, composta por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde.
A atuação dos enfermeiros tem uma abordagem ampla, realizando atendimentos clínicos, prestando cuidados de enfermagem, promovendo ações educativas e de prevenção de doenças, além de realizar visitas domiciliares para acompanhar as famílias em seu ambiente cotidiano.
Os enfermeiros do Programa de Saúde da Família têm a oportunidade de estabelecer vínculos mais próximos com as famílias atendidas, conhecer suas necessidades e realidades, e oferecer um cuidado mais personalizado e abrangente; além disso, eles têm um papel importante na promoção da saúde, por meio da identificação e acompanhamento de grupos de risco, na prevenção de doenças e na promoção de estilos de vida saudáveis.
No contexto da região norte, o PSF desempenha um papel essencial no atendimento à população em áreas remotas, onde muitas vezes o acesso aos serviços de saúde é limitado, e assim os enfermeiros, juntamente com as equipes multiprofissionais, contribuem para levar assistência de qualidade, prevenção e promoção da saúde a essas comunidades, fortalecendo os vínculos e a confiança entre profissionais de saúde e população local.
Programa Nacional de Imunizações (PNI): O Programa Nacional de Imunizações é responsável por garantir a vacinação da população brasileira, oferecendo um papel fundamental aos profissionais de enfermagem, sendo responsáveis pela administração das vacinas, orientação sobre esquemas de imunização, registro e monitoramento das doses aplicadas.
O PNI é uma das iniciativas mais importantes na área da saúde pública no Brasil, criado em 1973, tem como objetivo principal garantir a imunização da população brasileira contra diversas doenças, prevenindo surtos e epidemias e reduzindo a morbidade e mortalidade causadas por essas doenças.
Além disso, os enfermeiros também têm um papel educativo no programa de imunizações, orientando as populações sobre a importância da vacinação, esclarecem dúvidas e combatem mitos e informações equivocadas, contribuindo para a conscientização e adesão da população às campanhas de vacinação.
Assim, esses exemplos de programas exemplificam a importância da atuação da enfermagem na região norte, onde a escassez de recursos e as dificuldades de acesso são desafios constantes.
Através de sua participação ativa nessas iniciativas, os enfermeiros desempenham um papel vital na promoção da saúde, prevenção de doenças e melhoria da qualidade de vida das comunidades atendidas; suas atuações abrangem desde a administração direta de cuidados de enfermagem até o desenvolvimento de estratégias de educação e conscientização da população.
Ao desempenhar atividades relacionadas à imunização, os enfermeiros garantem que as vacinas sejam administradas de forma correta e oportuna, protegendo a população contra doenças evitáveis; e dessa forma, a presença e atuação dos enfermeiros nessas iniciativas são essenciais para enfrentar os desafios com um trabalho incansável e comprometido é fundamental para garantir que as comunidades tenham acesso a uma assistência de qualidade e alcancem melhores níveis de saúde e bem-estar.
6. Considerações finais
Ao longo deste artigo, discutimos os desafios enfrentados pela enfermagem em áreas remotas no interior da região norte, bem como as estratégias utilizadas para melhorar a qualidade da assistência nessas localidades; assim, recapitulamos e identificamos a escassez de recursos humanos e materiais, as dificuldades de acesso e transporte, a carência de infraestrutura adequada e as distâncias geográficas e isolamento como alguns dos principais obstáculos enfrentados pelos profissionais de enfermagem nessas regiões.
Para superar tais desafios, destacamos a importância de capacitação e formação especializada dos profissionais, visando prepará-los para atuar de forma efetiva em ambientes adversos e com recursos limitados. Além disso, ressaltamos a necessidade de adaptação às condições locais e à cultura da comunidade, reconhecendo que a enfermagem precisa considerar aspectos socioculturais para oferecer cuidados de saúde adequados e respeitosos.
A utilização de tecnologias e telemedicina também foi abordada como uma estratégia promissora para superar as distâncias geográficas e facilitar o acesso aos serviços de saúde em áreas remotas. Através dessas ferramentas, é possível promover a tele consulta, o monitoramento remoto e a capacitação à distância, ampliando o alcance da assistência de enfermagem e proporcionando maior suporte aos profissionais que atuam nessas regiões.
Destacamos ainda a importância das parcerias e da colaboração interdisciplinar como estratégias fundamentais para enfrentar os desafios da enfermagem em áreas remotas, cuja integração entre diferentes profissionais de saúde, órgãos governamentais, instituições de ensino e organizações da sociedade civil é essencial para fortalecer as ações de saúde e promover melhores resultados.
Diante dessas discussões, fica evidente a necessidade de investimentos e políticas públicas voltadas especificamente para a enfermagem em áreas remotas, tornando fundamental que os governos, federal, estadual e municipal, reconheçam a importância desse trabalho e garantam recursos adequados para a contratação de profissionais, aquisição de equipamentos e melhorias na infraestrutura de saúde.
Ainda se faz necessário promover a valorização dos profissionais que atuam nessas regiões, oferecendo condições de trabalho adequadas, incentivos e oportunidades de desenvolvimento profissional.
Em suma, a enfermagem em áreas remotas no interior da região norte enfrenta desafios significativos, mas também apresenta estratégias e boas práticas que têm demonstrado resultados positivos.
A superação desses desafios requer o engajamento de todos os atores envolvidos, desde os profissionais de saúde até os gestores e a sociedade como um todo; assim, se faz necessário o investimento contínuo e o reconhecimento do valor da enfermagem nesse contexto, visando garantir uma assistência de qualidade e o cuidado integral às populações que vivem nessas regiões tão importantes e singulares do nosso país.
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1Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8233-2628
Governo do Distrito Federal, Brasil
E-mail: profjc65@hotmail.com
2Mestrado em Enfermagem pela Universidade Federal de Mato Grosso-UFMT
Orcid:https://orcid.org/5053-0079-2929-1196
Graduado em Enfermagem e Obstetrícia, pela Universidade Federal de Mato Grosso-MT
Docente da Universidade de Várzea Grande (Univag).
http://lattes:50553007929291196
adilson.campos@univag.edu.br
3Doutor em Tecnologia e Sociedade (UTFPR)
http://orcid.org/0000-0002-8701-9403
Docente do Colégio Técnico de Floriano (CTF/UFPI)
marttemsantana@ufpi.edu.br, Brasil
4https://orcid.org/my-orcid?orcid=0000-0002-4477-2892
Graduada em Enfermagem pela Instituo Florence de Ensino Superior-IFS
Pós Graduada em saúde pública- INE
rannaisa@gmail.com
5https://orcid.org/0000-0003-4414-9854
Doutoranda em ciências da saúde bucal, UNESP, São José dos Campos, SP
Graduada em Odontologia
Universidade Estadual Paulista – São José dos Campos
E-mail: bessa.muniz@unesp.br
6Graduada em Pedagogia pelo Instituto de Ensino Superior Vale do Acaraú (UVA), Pós- graduada em Psicopedagogia Institucional e Clínica pelo Centro de Ensino Superior (CESSF), Pós-graduanda do Curso de Pós graduação no curso de Educação Especial e Inclusiva pelo Centro de Ensino Superior (CESSF).
7Orcid: https://orcid.org/0000-0000-5717-7032
Mestra em Ambiente e Saúde pela UNIC-MT
Especialista em unidade de terapia intensiva adulto e neonatal e pediátrica pela Unyleya
Graduada em Enfermagem pela UNIC-MT
amelperss@gmail.com
8Orcid: https://orcid.org/0009-0005-8863-3949
Mestrado em Enfermagem pelo programa de Pós-graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso (2009).
Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1999).
Professor Assistente no Departamento de Enfermagem – Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT – Campus de Diamantino/MT
http://lattes.cnpq.br/8897904820972551