A NOMOFOBIA EM AMBIENTE ORGANIZACIONAL DURANTE A PANDEMIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8061818


Joacimário Câmara Junior Ribeiro1
Juci Cléia Inacio dos Santos2
Maiza Gouveia Alves3
Saimon Felipe da Silva Lucas4
Chimene Kuhn Nobre5


RESUMO

O presente estudo objetiva apresentar e descrever como a nomofobia se desenvolve dentro de uma nova cultura do uso das mídias sociais através do smartphone como ferramenta de trabalho em ambientes organizacionais. Bem como, busca-se descrever a nomofobia, sua classificação; relacionar a dinâmica do trabalho como meio desencadeador para a nomofobia nos trabalhadores; compreender como a pandemia covid 19 reforçou a nomofobia e versa-se sobre o processo terapêutico.  A metodologia utilizada foi a revisão de literatura. Tenciona-se que esta pesquisa traga benefícios aos colaboradores que trabalham nas mídias sociais via smartphone e que contribuam com discussões que conduzam aos gestores novas estratégias de melhorias e qualidade de vida no local de trabalho.

Palavras-chave: Nomofobia. Smartphone. Colaboradores. Estratégias.

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo versa sobre a nomofobia, uma fobia que tem estado presente no cotidiano da sociedade. Com a entrada dos primeiros computadores e telefones na vida social começou-se a perceber mudanças significativas nos hábitos, costumes e comportamentos emocionais nas relações pessoais (MAZIERO; OLIVEIRA, 2016).  A partir dessa interação surgem os impactos e as consequências do uso abusivo dessas novas tecnologias. 

Além disso, um novo termo nasceu na Inglaterra:  nomofobia – nomo significando nomobile, ou seja, falta do dispositivo móvel e fobia significando medo. A nomofobia é considerada um transtorno da sociedade virtual e digital contemporânea que descreve um medo irracional e, muitas vezes, incontrolável de ficar sem o aparelho celular ou de não poder usá-lo por algum motivo, como ausência de internet, falta de energia ou bateria (TEIXEIRA, 2019).

Estudos demonstram que indivíduos que fazem uso excessivo de smartphones apresentam sintomas e prejuízos semelhantes aos encontrados em sujeitos com outros tipos de dependências. A esse comportamento de dependência, refere-se a ansiedade, ao desconforto ou mesmo a irritabilidade desencadeada em uma pessoa quando se encontra longe do seu celular (BIANCHESSI, 2019).

É sabido que o uso das mídias digitais por meio dos smartphones pelos clientes e organizações tem sido cada vez mais crescente nos últimos anos. O isolamento social imposta pela pandemia da COVID-19 intensificou ainda mais o uso, em vários ramos, entre eles, na relação trabalhador e clientes (SOUZA, ORTIS, 2020). 

Com a pandemia, as empresas varejistas descobriram, no âmbito digital, grandes oportunidades para criar conexões e desenvolver processos de fidelização para com seus clientes, estabelecendo configurações que misturam vendas em ambientes físicos e digitais (TEIXEIRA, 2019). Entretanto, esse uso intenso/desenfreado dos smartphones, das mídias sociais para prospectar, fechar negócios e fidelizar clientes pode significar um perigo eminente para o desenvolvimento da nomofobia. Diante do contexto apresentado, o objeto de estudo desta pesquisa refere- se à relação entre a cultura digital de vendas nas empresas como meio desencadeador para a nomofobia, sobretudo na pandemia covid-19.

Atualmente, o uso das tecnologias se tornou indispensável para o alcance de maiores resultados em vendas. Os trabalhadores se veem na obrigação do uso das mídias sociais para atraírem maiores números de clientes para comprarem em suas lojas. Essa nova forma de vender trouxe modificações nos comportamentos dos colaboradores, tais como: dependência do uso dos celulares, ansiedade, estresse e insônia, pois nos horários que deveriam descansar estão interagindo nas redes sociais com o objetivo de prospectar cada vez mais clientes (BIANCHESSI, 2019).  Paralelo a essas mudanças no comportamento dos colaboradores, discretamente, podem ou estão vivenciando o desenvolvimento da nomofobia, que segundo Souza e Ortis (2020), se caracteriza pela inquietação ou desespero consequente da impossibilidade de acesso à interação por meio de smartphones. 

A indagação que norteará o estudo será:  o uso constante de uma ferramenta tecnológica (smartphone) para o trabalho, que tem benefícios produtivos em vendas, pode desenvolver a nomofobia em ambiente organizacional? 

A evolução da tecnologia fascina o mundo. Vivemos na era da informação ritmo acelerado. Onde a movimentação das engrenagens sociais, é rápida, produzindo mudanças significativas no comportamento. Às vezes distinguimos, por um lado, entre a família, a realização e a felicidade nos relacionamentos e, por outro lado, os campos do trabalho e da profissão, como se pudesse separá-los. Entretanto, eles seguem as mesmas leis e ordens na vida. Portanto o comportamento humano pode ser definido como o conjunto de todas as ações físicas e emocionais que estão associadas a um indivíduo ou mesmo a um grupo (HELLINGER, 2011).

As atividades cotidianas das pessoas necessitam de muitas tomadas de decisões, as quais envolvem o uso da internet- seja por via de computadores ou smartphones, tendo o desenvolvimento tecnológico e a globalização proporcionando uma gama de opções capazes de retirar o foco do indivíduo, fazendo com que seu raciocínio e atividades, sejam interrompidos (CANTO, 2014).

O homem passa a maior parte do seu tempo trabalhando, suas relações de companheirismo e as ligações afetivas são vínculos estabelecidos. Assim a importância de fatores psicossociais para a saúde.

A preocupação com uma melhor qualidade de vida do trabalhador tem sido motivo de discussões entre empresas. Estando direcionados para atender as necessidades do trabalho, competitividade e cumprimento das metas determinadas pela empresa, consomem mais energia física e mental (FARIA, 2017). 

O desenvolvimento desse estudo se justifica por contribuir com o debate a respeito das limitações dos fatores de riscos psicossociais no trabalho e refletir sobre a necessidade de uma abordagem ampliada e integral na atenção à saúde mental dos trabalhadores.

É imprescindível diferenciar a dependência normal da patológica na nomofobia. A dependência normal: É aquela que se tem um proveito das inovações para o crescimento pessoal, relacionamentos, sociais, trabalho, entre vários outros. Já a dependência patológica é aquela que tem comportamentos abusivos, fechando a mente para o mundo e caminhando para a solidão e o sofrimento (BIANCHESSI, 2020). 

Logo, o presente estudo objetiva apresentar e descrever como a nomofobia se desenvolve dentro de uma nova cultura do uso das mídias sociais através do smartphone como ferramenta de trabalho em ambientes organizacionais. Bem como, busca-se descrever a nomofobia, sua classificação; relacionar a dinâmica do trabalho como meio desencadeador para a nomofobia nos trabalhadores; compreender como a pandemia covid 19 reforçou a nomofobia, e versar sobre o processo terapêutico. 

Pressupõe-se que ao analisar a percepção dos trabalhadores em ambientes organizacionais que trabalham com o comércio eletrônico, seja possível identificar o nível de compreensão sobre a temática e levá-los a refletir como esse uso afeta a qualidade de vida e o bem-estar emocional e físico. Através disso conduzi-los a buscar intervenções que visem o gerenciamento adequado do uso dessa ferramenta tecnológica.

2. METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão da literatura, utilizada por seu potencial de organização, síntese de conhecimentos e identificação de lacunas que contribuem na análise crítica de um objeto de estudo proposto. Para isso, seguiu-se os seguintes passos para seu desenvolvimento: formulação da questão norteadora; busca na literatura; extração dos dados dos estudos selecionados; avaliação dos estudos; interpretação e síntese dos resultados; apresentação da revisão bibliográfica.

O levantamento bibliográfico foi realizado nas bases de dados da Biblioteca Eletrônica Científica Online (Scielo), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e também foi utilizado o mecanismo de busca do Google Acadêmico. A busca nessas bases e pelo mecanismo de busca possibilitou encontrar estudos publicados no cenário nacional.

Os descritores utilizados estão de acordo com os Descritores em Ciências da Saúde (DECS): Nomofobia, Smartphone, Colaboradores e Estratégias.

Para a seleção dos estudos, optou-se pela inclusão de publicações científicas disponíveis na íntegra, em livre acesso, publicados no período entre 2010 à 2022, nos idiomas português e inglês, bem como aqueles que, após leitura do título e resumo, abordassem aspectos relacionados à temática do estudo. Foram excluídos os artigos duplicados, artigos de revisão, de reflexão/debates, comentários, editoriais e cartas.

Os estudos elegíveis foram lidos na íntegra, a fim de incluir ou não, aqueles que conseguissem responder à questão norteadora. A interpretação e síntese dos resultados encontrados apresenta os principais resultados quanto o uso constante de uma ferramenta tecnológica (smartphone) para o trabalho, que tem benefícios produtivos em vendas, pode desenvolver a nomofobia nos trabalhadores.

3. RESULTADOS

Foram selecionadas 21 publicações, entre teses, artigos e publicações científicas sobre a temática que apresentaram e descreveram como a nomofobia se desenvolve dentro de uma nova cultura do uso das mídias sociais através do smartphone como ferramenta de trabalho em ambientes organizacionais, de forma a definir quatro pontos a ser discutido, que esclarecem melhor a temática, o quais são: 1. O que é Nomofobia e classificação; 2. Psicopatologia do trabalho 3. Como a pandemia como reforçador da nomofobia. 4. A nomofobia: processos terapêuticos.

4. NOMOFOBIA: ASPECTOS CONCEITUAIS E CLASSIFICAÇÃO 

Oliveira et al. (2017), explica que o termo nomofobia teve origem na Inglaterra, fundamentada na expressão no-mobile (sem celular). A observação do fenômeno se iniciou a partir de queixas observadas relacionadas ao uso abusivo dos computadores e aparelhos celulares, além do medo de ficar sem sinal de internet, sem carga de bateria etc. 

A nomofobia se apresenta com um medo irracional de ficar sem poder se comunicar através desses aparelhos tecnológicos, sobretudo o celular que é mais utilizado, levando assim a estado de depressão e ansiedade que pode se tornar patológico (transtorno de ansiedade social, transtorno do pânico e agorafobia) (MAZIERO; OLIVEIRA, 2016). 

Citam-se alguns sintomas que caracterizam a nomofobia:

• Obsessão de verificar chamadas perdidas, mensagens, notificações, redes sociais ou e-mails; 
• Preocupação exagerada com a duração da bateria; 
• Irritabilidade ao ir a locais que não disponibilizam conexão wi-fi; 
• Acordar durante a noite para verificar se tem notificações; 
• Não se afastar do aparelho enquanto realiza outras atividades que não necessitam dele; 
• Sempre levar o celular ao banheiro (ABREU, 2022, p. 1).

Há também alguns critérios que são observados para avaliar se o uso da tecnologia deixou de ser saudável e se tornou uma dependência. 

Seguem os critérios que são avaliados para confirmar se uso do celular ou outra forma de tecnologia passa ser dependência. São eles: 

• preocupação excessiva com a internet; 
• necessidade de aumentar o tempo conectado para ter a mesma satisfação; 
• exibir esforços repetitivos para diminuir o tempo de uso da internet; 
• apresentar irritabilidade e/ou depressão; 
• quando o uso da internet é restringido, apresenta oscilação emocional; 
• permanecer mais conectado do que o programado; 
• ter o trabalho e as relações familiares e sociais em risco pelo uso excessivo de internet; 
• mentir aos outros a respeito da quantidade de tempo em que fica navegando (NABUCO et al., 2021, p. 56).

Para ser considerado nomofóbico a pessoa deve apresentar dentre os oito dos itens elencados, pelo menos os cinco primeiros ou pelo menos um dos três últimos.

A nomofobia está catalogada com CID 10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde), sendo que no âmbito da psicologia, é considerada um transtorno de ansiedade (AMORIM, 2021). O que se observa é que, apesar de as pessoas apresentarem quadros de dependência de smartphone e internet bem descritos e entendidos pelos profissionais da Psicologia e Medicina, a Nomofobia ainda não foi incluída no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5).  Todavia, vem se dando muita atenção aos efeitos psicopatológicos das novas tecnologias e o interesse nesse tema vem aumentando, devendo-se atentar ao tema, para evitar que não se confunda os comportamentos normais com comportamentos patológicos, fobias e transtorno de ansiedade (BRAGAZZI; PUENTE, 2014; AMORIM, 2021).

Nesse sentido Rocha et al., (2019), enfatiza que pelo fato da nomofobia ser considerada um transtorno psiquiátrico, deveria já estar incluída no DSM-V. Assim, espera-se que os profissionais da saúde entrem num melhor consenso sobre seu diagnóstico e tratamento, haja vista sua real importância. 

Condotta (2017) entende que a dependência pelas tecnologias ainda não está integrada como uma patologia oficial no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), mas, à curto prazo, esse problema será inevitavelmente aprovado por todos e conduzirá a ciência em direção a produção de mais espaços e intervenções adequadas para promover cuidados.

5. PSICOPATOLOGIA DO TRABALHO

A preocupação com a saúde mental do trabalhador tem se tornado uma constante no ambiente laboral, suscitando o interesse das organizações em buscar maior compreensão e tratamento para os colaboradores acometidos de psicopatologias e buscando meios para prevenir as psicopatologias (HELOANI, 2016). 

Como o smartphone tornou-se uma ferramenta de múltiplas formas de contato (mensagens de texto, de áudio, vídeos, redes sociais cada vez mais numerosas e aplicativos diversos), o indivíduo pode se ver aprisionado num emaranhado tão amplo de situações de necessidade de verificação que sua vida, em variadas esferas, pode acabar sendo prejudicada (AMORIM, 2021). 

Salienta-se que, as mudanças psicológicas e emocionais podem aumentar as chances de a população desenvolver compulsões e distúrbios alimentares, ansiedade e fobias, pois precisam “descontar” de alguma forma esse estresse, esta situação a qual está passando (BRASIL, 2021). 

Segundo Lopes e Santos (2018, p. 47):e

A ansiedade é um sentimento livre e impertinente de apavoramento, preocupação é caracterizada por pensamentos inversos ou misturas de muitas informações, preocupações ou até mesmo precipitação de afazeres, esta é vista em um contexto popular quando se está em um momento ou passando por alguma coisa decorrente da excessiva excitação do sistema nervoso central, consequentemente a interpretação de uma situação de angústia, sendo o grande sintoma de característica psicológica.

Os sintomas da ansiedade são pensamentos negativos com que está por vir; o frio na barriga e o receio diante de situações de risco.  Porém ela aciona a produção de hormônios que completam energia física e mental. Uma situação competitiva, esportiva ou até mesmo uma situação de ameaça, da qual é criada uma tentativa de fuga. Esses conteúdos mentais estão na maior parte do tempo ligados ao trabalho, estudo, não planejamento de tarefas, situações repetitivas, falta de paciência no trânsito e vários outros quesitos que estão presentes em nosso dia a dia (NABUCO et al., 2021). 

6. PANDEMIA COMO REFORÇADOR DA NOMOFOBIA

Estudos analíticos apontam que a pandemia covid-19, bem como outras pandemias que já ocorreram no mundo levam a forte impacto psicossocial. E, foi evidenciado o aumento de 25%, em relação ao número de pessoas com depressão no mundo (OMS, 2022).

É importante dizer, que segundo Tenório (2021) a pandemia de COVID-19 trouxe implicações diretas na saúde ergonômica e mental dos trabalhadores. Isso decorreu da necessidade de uma adaptação generalizada para o trabalho remoto que por sua vez exige o uso de tecnologias tais como notebooks, tablets, smartphones como ferramentas para o trabalho, pois medidas de isolamento social eram indispensáveis para o enfrentamento da pandemia. Embora o referido autor tenha abordado em seu trabalho problemáticas acerca de saúde ergonômica e mental dos trabalhadores, o presente trabalho objetiva relacionar a relação das mudanças impostas pela pandemia na dinâmica laboral como porta de entrada para a nomofobia, sendo pertinente para o campo da saúde mental. 

Inevitavelmente, tais medidas fizeram com que os trabalhadores da área de vendas pensassem o meio como continuariam a vender, bater metas e manter sua saúde financeira, ou seja, novas estratégias precisam ser adotadas. Desse modo, as estratégias deveriam ser pautadas em um viés revolucionário ou evolucionário de transformação (PEREIRA et al., 2017). Com isso, as vendas de produtos e serviços os quais anteriormente eram realizadas comumente em lojas físicas, relativamente tiveram que migrar para o atendimento virtual utilizando-se como ferramenta de trabalho redes sociais e WhatsApp praticamente imediatamente. 

Além disso, inovar não era mais uma opção para os trabalhadores, pois o cenário pandêmico modificou o comportamento dos consumidores pelo meio de consumir e, portanto, também dos trabalhadores de vendas como vender.  Por fim, o processo de inovar resulta, principalmente, da capacidade de descobrir novas possibilidades para adquirir e conservar o aproveitamento (NASSIF et al., 2020).

Durante a pandemia de Covid-19, muitos setores da sociedade foram afetados, entre eles, os fatores sociais, como falta de dinheiro, moradia, e acesso aos insumos necessários para cuidar da saúde, aumento da jornada sem aumento dos rendimentos, custos adicionais para os trabalhadores, trazendo impactos negativos afetando diretamente a saúde mental e qualidade de vida das pessoas, suscitando assim, ações de prevenção à saúde do trabalhador (SOUZA, 2021). 

Outro problema que afetou a saúde mental das pessoas durante a pandemia foi a fobia, que é um medo persistente, desproporcional e irracional de um estímulo que não oferece perigo real ao indivíduo. Ela envolve ansiedade antecipatória, medo dos sintomas físicos e esquiva e fuga. Quando o medo excessivo apresenta estímulo definido, denomina-se fobia específica (LOTUFO NETO, 2011). 

No contexto da pandemia covid-19, devido ao distanciamento social as pessoas passaram a utilizar cada vez mais o celular. O aumento desse tipo de dispositivo, pode se tornar um grave problema. Além disso, como já dito nesse estudo, as pessoas desenvolveram medos inexplicáveis, muitas vezes considerados fobias. Um tipo de fobia que teve um destaque no decorrer da pandemia foi a nomofobia, que se trata, do medo de ficar sem o celular e da tecnologia em geral. Ela se manifesta atrás do sentimento de angústia, de obsessão pelo aparelho celular ou computador, etc. (MAZIERO; OLIVEIRA, 2016). 

De acordo com King et al., (2014), não se pode negar a expressiva a mudança nos hábitos das pessoas com o surgimento e avanço da tecnologia móvel, sobretudo o seu uso constante e até abusivo durante a pandemia covid-19, o que trouxe consequências no âmbito clínico, cognitivo-comportamental, social e ambiental.

7. A NOMOFOBIA: PROCESSOS TERAPÊUTICOS 

Segundo pesquisas, a terapia cognitiva comportamental (TCC) demonstra resultados suficientes no tratamento de distúrbios de controle de impulso e mais psicopatologias, como o vício em tecnologias baseado em King et al., (2014). De acordo com Melo et al., (2019), o ser humano desenvolve crenças por meio das relações sociais e também age de acordo com pensamentos automáticos, que por sua vez gera uma emoção e consequentemente um comportamento. 

Além disso, é fundamental dizer que a maneira que o indivíduo interpreta as informações do ambiente produzirá um comportamento disfuncional ou funcional segundo a interpretação. Significa que o aspecto cognitivo do indivíduo produz crenças e esses comportamentos. Entendido isso ocorre que muitos trabalhadores interpretam o uso de tecnologias (smartphones, computadores, tablets) de maneira disfuncional conduzindo para o desenvolvimento da dependência patológica da tecnologia (MELO et al., 2019).

Considerando que o vício tecnológico ou a nomofobia é estabelecido principalmente no âmbito cognitivo, a terapia cognitivo-comportamental pode ser uma solução viável. Essa dependência é construída quando os pacientes sentem que não tem suporte social e familiar suficiente e saudável, provocando, então, as conhecidas cognições desadaptativas (as quais são avaliações psíquicas ou filtros de interpretação) sobre si e o mundo. O plano de ação terapêutico incluiria a reestruturação cognitiva em associação às tecnologias (smartphones, tablets, computadores) que um indivíduo utiliza com mais frequência, atividades comportamentais e terapia de exposição cujo indivíduo fica off-line por tempos cada vez mais extensos (AMORIM, 2021).

Adiante, a nomofobia pode produzir vários agravos, especificamente como: o Phubbing, ação de se distanciar do que está em volta e centralizar-se somente no mundo virtual; Cibercondria, busca por doenças e sintomas na internet, investigando identificar manifestações de alguma patologia e Depressão Facebook, constituída como uma tentativa de se provar para os outros, satisfazer a todos na rede social e relacionado com a inveja, gera a depressão (SILVA; CASTRO, 2017). 

Ademais, dentro do complexo da nomofobia, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) é sugerida como método psicoterapêutico, pois como dito, lida com a cognição do indivíduo e a maneira como ele ver os vários acontecimentos da sua existência, dos seus semelhantes e do cosmo ao seu redor. A TCC no nomofóbico vai buscar compreender as razões que levaram o sujeito a depender do smartphone e os motivos da fobia vivida por ele por estar ausente do smartphone, percebendo também o momento em que o uso do aparelho se tornou prejudicial para ele (SILVA; SOUZA, 2018).

Outra terapia indicada é Mindfulness (atenção plena), a qual consiste numa prática voltada a concentrar-se totalmente no momento presente. Trata-se de uma cultura mental focada no esforço e na concentração correta. A pessoa encoraja-se a estar totalmente percebendo a realidade do momento presente. Não se trata de uma técnica nova, ela é antiga e muito eficaz. Por meio dessa técnica, o indivíduo consegue compreender a realidade e desenvolve a liberdade de se livrar de hábitos compulsivos. Sua prática se fundamenta na postura, respiração, pensamento, meditação. A técnica Mindfulness tem sido indicada e considerada eficaz como intervenção terapêutica no tratamento de patologias e transtornos mentais (VORKAPIK; RANGÉ, 2013). 

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Destacou-se, nesse estudo, o uso constante de uma ferramenta tecnológica (smartphone) e o desenvolvimento da nomofobia no ambiente organizacional, sobretudo no período da pandemia covid-19.

Pode-se verificar em todas as publicações consultadas que a dependência é construída quando os colaboradores sentem que não tem suporte social e familiar suficientemente saudável, provocando dependência do uso dos celulares, ansiedade estresse e insônia, pois nos horários que deveriam descansar estão interagindo nas redes sociais com o objetivo de prospectar cada vez mais clientes.

Paralelo a essas mudanças nos comportamentos dos colaboradores, discretamente, podem ou estão vivenciando o desenvolvimento da nomofobia, que se caracteriza pela inquietação ou desespero consequente da impossibilidade de acesso à interação por meio de smartphones. 

Pode-se constatar que, de forma geral, que durante a pandemia covid-19, com o maior uso das tecnologias em ambiente organizacional, houve um reforço da mudança nos hábitos das pessoas com o surgimento e avanço da tecnologia móvel, sobretudo o seu uso constante e até abusivo durante a pandemia, o que trouxe consequências no âmbito clínico, cognitivo-comportamental, social e ambiental.

No que tange o plano de ação terapêutico, recomenda-se a reestruturação cognitiva em associação às tecnologias (smartphones, tablets, computadores) que um indivíduo emprega com mais frequência, atividades comportamentais e terapia de exposição cujo indivíduo fica off-line por tempos cada vez mais extensos, além de terapias voltadas a concentrar-se plenamente no presente, meditando e buscando viver o momento e a percepção da realidade.

Recomendam-se pesquisas adicionais que apresentem terapias para o problema, aprofundando ainda mais a temática.

REFERÊNCIAS

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