CINEMA NA SALA DE AULA DE CIÊNCIAS NATURAIS: BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES® NO CONTEXTO DO PROJETO DE EXTENSÃO “CINEMA COM CIÊNCIA”

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8077327


Gerlany de Fatima dos Santos Pereira1
Jaqueline Monteiro da Silva2
Maria do Carmo Barbosa da Silva3
Michele Pantoja Simplício4
Fábio José Souza Costa5


RESUMO

O presente estudo teve por objetivo, investigar o potencial da utilização de um filme do gênero Animação, no âmbito de um Projeto de Extensão de uma universidade pública no Estado do Amapá, para alunos do Ensino Fundamental II em uma escola da rede municipal de ensino em Macapá-AP. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, desenvolvida a partir da exibição do filme clássico de Animação “Branca de Neve e os setes anões®” (1937) dos Estúdios de Walt Disney. Neste filme, o recorte utIlizado foi concernente ao tema: “Seres Vivos e Ambiente”, com os conteúdos “Classificação dos Seres Vivos: Classes mammalia, reptilia e aves”. A execução das ações aconteceu na escola Hildemar Maia no mês de junho de 2015. Os resultados mostraram as potencialidades de se trabalhar o gênero Animação para o ensino de conteúdos específicos de Ciências Naturais. Os dados foram analisados nos termos de Bardin (2011).

Palavras-chave: Ensino de Ciências. Filmes. Educação.

ABSTRACT

The present study aimed to investigate the potential of using a film of the Animation genre, within the scope of an Extension Project of a public university in the State of Amapá, for students of Elementary School in a school of the municipal teaching network in Macapá-AP. This is a qualitative research, developed from the exhibition of the classic Animation film “Snow White and the Seven Dwarfs®” (1937) by Walt Disney Studios. In this film, the clipping used concerned the theme: “Living Beings and Environment”, with the contents “Classification of Living Beings: Classes mammalia, reptilia and birds”. The execution of the actions took place at the School Elemental Hildemar Maia in June 2015. The results showed the potential of working with the Animation genre for teaching specific contents of Natural Sciences. Data were analyzed in terms of Bardin (2011).

Keywords:  Science teaching. Films. Education.

INTRODUÇÃO

Com metodologias diferenciadas inseridas no ensino, este poderá se tornar mais atraente e inovador, deixando as aulas mais interessantes, no que se refere ao aprendizado dos conteúdos pelo aluno. Mas para que essas aulas sejam mais dinâmicas o professor tem um desafio em mãos: buscar alternativas que facilitarão o aprendizado. 

Um desses recursos encontrados é a utilização de filmes nas aulas de Ciências. Trata-se de um recurso “antigo”, mas se for utilizado da maneira mais adequada, com a correlação devida dos conteúdos, se torna “atual”, por ser uma possibilidade perspicaz e que poderá chamar a atenção do aluno de forma positiva, se o filme não for trabalhado como um mero ‘passatempo’ e, sim, como um potente recurso de ensino.

Na perspectiva de trabalhar o Cinema como uma metodologia para ensinar Ciências Naturais no Ensino Fundamental, o presente estudo foi desenvolvido, como resultado das ações executadas na Escola Municipal Hildemar Maia, município de Macapá, Estado do Amapá, integrantes do Projeto de Extensão “Cinema com Ciência”, vinculado ao Colegiado de Ciências Naturais da Universidade do Estado do Amapá, no ano de 2015.

Este projeto vem sendo desenvolvido com intuito de levar conhecimento científico por meio da utilização do Cinema, notadamente, de filmes do gênero Animação, dos estúdios de Walt Disney, como uma estratégia metodológica, abordando conteúdos de Ciências Naturais por meio destes filmes e possibilitando um novo olhar acerca das narrativas cinematográficas.

Dessa forma, o objetivo do estudo foi investigar o potencial da utilização de um filme do gênero Animação, no âmbito de um Projeto de Extensão de uma universidade pública no Estado do Amapá, para alunos do Ensino Fundamental II em uma escola da rede municipal de ensino em Macapá-AP.

Em termos metodológicos, trata-se de uma pesquisa qualitativa, desenvolvida com a utilização do filme de animação “Branca de Neve e os setes anões®6”. 

Os dados foram analisados mediante análise de conteúdos, nos termos de Bardin (2011) e discutidos com a literatura vigente para a área do ensino de Ciências da Natureza.

O Cinema e sua relação com a educação, a ciência e a sociedade

“Desde o início, o cinema proporcionou romance e escapismo, como um tapete mágico que afastava as pessoas da dura realidade – panaceia nos anos da Depressão americana e ópio do povo durante a II Guerra Mundial, como aliás, nas décadas seguintes” (BERGAN, 2012, p. 11).

A ciência e a cultura, especialmente relativas ao mundo ocidental, com muita frequência são retratadas nas produções cinematográficas. A sétima arte, símbolo da modernidade, tornou-se um instrumento extraordinário de comunicação, difundindo o conhecimento, fazendo circular novas ideias, divulgando e, ao mesmo tempo, constituindo valores culturais. As várias instituições e práticas sociais nas diferentes épocas e sociedades têm sido constantemente objeto de interesse das equipes produtoras dos filmes. Em particular, grande parte de sua produção tem se empenhado na projeção de imagens sobre a ciência – tida aqui como conjunto organizado de conhecimentos relativos a certa categoria de fatos ou fenômenos – e sobre a cultura – tomada como conjunto de modos de vida criados, adquiridos e transmitidos de uma geração para outra entre os membros de uma sociedade (SOUTO, 2013, p. 19-20).

Não são apenas os documentários e ficções científicas que expressam o conhecimento produzido pelo ser humano, até mesmo em filmes dramáticos e comédias é possível notar o envolvimento da ciência em nossa cultura (VIANA, 2009). Em concordância com esse pensamento, Souto (2013, p. 20) menciona que “O conjunto das estruturas sociais, científicas, filosóficas e religiosas, acrescido das manifestações intelectuais e artísticas que caracterizam uma dada sociedade, ao ser retratado nos múltiplos gêneros, faz dos filmes um valioso instrumento para o estudo da cultura e da história da ciência”. Nesse sentido,

[…] o cinema passa a ser um espaço de ensino e aprendizagem de fundamental importância para a formação das gerações presentes e futuras, afirmando-se como um novo sistema de linguagem no registro da realidade social, e instrumento de validade científica para ser usado na educação escolar (HOLLEBEN, 2008, p. 4).

“Embora cresçam a cada dia a necessidade e o interesse dos meios de comunicação em apresentar programas destinados à divulgação científica, a quantidade de pesquisa nessa área ainda é muto pequena” (TRIVELATO, 2013. p. 41). O que torna tão importante, o desenvolvimento de ações, projetos e pesquisas voltadas para a finalidade de desenvolvimento da educação científica, utilizando-se do cinema como ferramenta de ensino.

Nos meios de comunicação, assim como em outros espaços não formais de educação científica, os saberes científicos são selecionados e passam por processos de reorganização, para que possam ter sentido a um grande número de pessoas de diferentes perfis que assistem aos programas televisivos, ouvem reportagens de rádio e leem jornais e revistas (TRIVELATO, 2013. p. 41-42).

Assim, notamos uma importante relação do Cinema com a Educação e o imbricamento deste com inúmeros aspectos sociais, culturais, históricos, sendo uma ferramenta de potencial ilimitado para se trabalhar com os processos de ensino e aprendizagem de Ciências.

O cinema como ferramenta no ensino de Ciências

Trabalhar com filmes como elemento incentivador da aprendizagem não é algo tão novo. Desde o surgimento do Cinema se tenta construir uma parceria entre este e a Educação. Têm-se diversas experiências da utilização deste recurso, porém, o seu uso tem sido mais comum nas Ciências Humanas. Talvez porque as áreas específicas de Ciências Naturais e suas Tecnologias estejam mais arraigadas ao modelo tradicional de ensino (XAVIER et al., 2010).

[…] há mais de um século o cinema encanta, provoca e comove bilhões de pessoas em todo o mundo. Dentre estes bilhões de pessoas que regularmente foram, vão e irão assistir a filmes na sala escura do cinema, certamente estão incluídos milhões de professores e alunos. Apesar de ser uma arte centenária e muitas vezes ao longo da história ter sido pensado como linguagem educativa, o cinema ainda tem alguns problemas para entrar na escola (NAPOLITANO, 2003, p. 7).

De acordo com Viana (2009), é notória a influência de diferentes concepções sobre o ensino de Ciências na prática pedagógica. Nota-se que ao longo da história, esta prática tem sido marcada pela passividade do aluno e por um ensino teórico e pouco aplicável. Daí a importância de se pensar sobre como o ensino de Ciências vem sendo desenvolvido nos dias atuais.

Segundo Xavier et al. (2010) a novidade trazida pela utilização do Cinema na sala de aula pode quebrar a rotina e transformar-se em elemento não somente de curiosidade, mas, sobretudo, de motivação e participação ativa no desvelar da realidade, de mútua troca e construção de saberes e vivências no campo educacional. Assim sendo, Viana (2009, p. 29) salienta que “inserir um filme em sala de aula significa possibilitar uma aprendizagem significativa e também uma interpretação crítica da realidade a que estão submetidos os alunos”.

Moreira (2010), ao se referir à teoria ausubeliana, diz que a aprendizagem significativa caracteriza-se pela influência mútua entre o novo conhecimento e o conhecimento prévio7. Nesse processo (não-literal e não-arbitrário) o novo conhecimento passa a ter novos significados para o aluno e o conhecimento prévio é enriquecido, tornando-se mais diferenciado, mais elaborado em termos de significados, e adquire mais estabilidade. O autor ainda ressalta que:

Em contraposição à aprendizagem significativa, em outro extremo de um contínuo, está a aprendizagem mecânica, na qual novas informações são memorizadas de maneira arbitrária, literal, não significativa. Esse tipo de aprendizagem, bastante estimulado na escola, serve para “passar” nas avaliações, mas tem pouca retenção, não requer compreensão e não dá conta de situações novas (MOREIRA, 2010, p. 5).

A partir de alguns dos elementos pertencentes à teoria de David Ausubel, coaduna-se aqui com a visão de Pereira e Padilha (2014a, p. 257) que entendem que esta teoria 

[…] ao delinear o processo de aprendizagem – no qual destaca o conhecimento prévio do aluno como o elemento mais importante neste processo – proporciona subsídios fundamentais para o reconhecimento do educando como sujeito que aprende, bem como das possibilidades de transformação da realidade na qual estamos imersos, por intermédio do aprendizado e da necessidade latente de não transformar em desigualdades escolares, as diferenças sociais, econômicas, culturais e cognitivas existentes nos universos escolares.

Nesse sentido, as reflexões das autoras assumem como pressuposto o fato de que a teoria ausubeliana admite a ênfase no processo de aprendizagem como processo de atribuição de significado e sentido, levando em consideração os conhecimentos prévios dos alunos. Assim, entendem que “[…] no ensino de Ciências (e nas demais áreas do conhecimento) esta teoria destaca-se como elemento basilar para a construção de conhecimentos nos alunos, sobretudo, conhecimentos científicos (PEREIRA; PADILHA, 2014a, p. 257)”. Ainda sobre isso, Trivelato e Silva (2011, p. 43) mencionam que “Torna-se importante que o professor aprenda a trabalhar os aspectos positivos da TV e do Cinema sobre os negativos, aproveitando esse recurso didático para tornar a aprendizagem cada vez mais significativa”.

Os filmes do gênero Animação, de acordo com Costa e Barros (2014), permitem ao mesmo tempo diversão e aprendizado, já que cada personagem é um animal, constituindo-se em uma rica oportunidade para o campo da Zoologia, uma vez que permite múltiplas abordagens sobre os diferentes grupos, habitats, nichos ecológicos, comportamentos, alimentação e hábitos de vida de peixes, mamíferos, aves, insetos, além das subdivisões e particularidades de cada grupo animal. Os autores destacam ainda as possibilidades “para que os professores trabalhem abordagens morfológicas, ecológicas, etológicas, entre outras, dependendo do nível de abstração e criatividade de cada um dos docentes” (COSTA; BARROS, 2014, p. 85).

Deste modo, a utilização do Cinema como estratégia pedagógica e educacional pode ser um recurso de grande importância para o processo de ensino e aprendizagem, não somente pela apresentação dos conteúdos disciplinares, mas também por possibilitar a formação do caráter integral do indivíduo (BARROS; GIRASOLE; ZANELLA, 2013). Pereira; Padilha e Costa (2015) ao utilizarem o cinema como possibilidade metodológica para o ensino de Ciências, destacam que os filmes, adentram o ensino escolar, e são vistos como força potencial no processo de ensino e aprendizagem, uma vez que estes podem contribuir para que os estudantes aprendam Ciência de diferentes maneiras. Visão compartilhada pelos autores do presente texto.

A revolução no Cinema: “Branca de Neve e os sete Anões®

Branca de Neve e os Sete Anões® é um filme estadunidense do gênero romance e aventura lançado no natal de 1937. É o primeiro longa-metragem de animação dos estúdios Disney e o primeiro totalmente a cores no mundo, sendo baseado no conto de fadas publicado em 1812 “Branca de Neve”, dos Irmãos Grimm (IMDB, 2015). Trata-se de “[…] uma arriscada aposta do mestre da animação, Walt Disney” (CINEMATECA PORTUGUESA-MUSEU DO CINEMA, 2015, p. 2).

Disney começou a planejar a adaptação do conto em 1933, quando já conquistara a fama graças à criação do Rato Mickey e a uma série chamada “Sinfonias Ingênuas” (CINEMATECA PORTUGUESA-MUSEU DO CINEMA, 2015). A produção “sofreu várias revisões e o trabalho de animação que começou a ser feito em 1935 foi, a certa altura, abandonado inteiramente porque Disney não estava contente com os resultados, querendo explorar mais e melhor as diferentes personalidades dos 7 anões” (CINEMATECA PORTUGUESA-MUSEU DO CINEMA, 2015, p. 2). 

O filme foi também uma revolução técnica porque para o fazer o estúdio de Disney teve de criar uma câmara especial a fim de dar o mais completo efeito de “relevo” do desenho, com as personagens bem distintas da paisagem. Os rivais de Disney chamaram ao filme “a loucura de Disney”, pensando que ele iria ficar arruinado. Mas essa «loucura» ou «sonho» (não é o sonho «que comanda a vida»?) para cuja concretização Disney teve de contrair um empréstimo de um milhão de dólares, tornou-se o filme mais rentável nos Estados Unidos até à estreia de «E Tudo o Vento Levou». Só nos primeiros três meses foi visto por 20 milhões de pessoas, e até 1987, com as sucessivas reposições que permitiram a que todas as gerações seguintes o tenham podido ver, o filme tinha dado de lucro 330 milhões de dólares. É obra, hem? para um «sonho maluco» (CINEMATECA PORTUGUESA-MUSEU DO CINEMA, 2015, p. 2).

A história contada no filme é a de uma princesa cuja madrasta, invejosa da sua beleza, a manda matar, mas o carrasco compadece-se dela e deixa-a fugir para a floresta, onde encontra refúgio numa pequena casa que se descobre habitada por 7 anões que trabalham numa mina de diamantes (CINEMATECA PORTUGUESA-MUSEU DO CINEMA, 2015). 

Estes serão as figuras mais queridas dos pequenos (e grandes) espectadores que os descobriram, e a elas cabem os melhores momentos do filme (a cena do baile com Branca de Neve, e aquela em que eles estão a dormir, são as mais divertidas) e uma das mais populares melodias, «Heigh Ho!» (na versão dobrada que vamos ver é «Eu Vou!»), que entoam quando se dirigem para o trabalho, chefiados pelo «Mestre» e acompanhados pelos resmungos do «Rezingão». Outras bonitas canções estão a cargo de Branca de Neve (CINEMATECA PORTUGUESA-MUSEU DO CINEMA, 2015, p. 2). 

Considerado uma verdadeira revolução, e uma das maiores obras artísticas do Cinema mundial, o clássico “[…] é um espectáculo total, cheio de alegria, ternura, emoção e divertimento, um filme «imortal» que continua a agradar tanto hoje como ontem”. 

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente Projeto de Extensão é realizado mediante abordagem qualitativa no contexto de uma pesquisa-ação. No que concerne à abordagem qualitativa, de acordo com Soares (2003, p. 19), “Por meio deste tipo de abordagem, o pesquisador interpreta os fatos, procurando solução para o problema proposto”. Já Para Minayo (2008, p. 57), as pesquisas qualitativas “Caracterizam-se pela empiria e pela sistematização progressiva de conhecimento, até a compreensão da lógica interna do grupo ou do processo em estudo”.

No que diz respeito à pesquisa-ação, Barbier (2007, p. 53) menciona que este tipo de pesquisa tem por finalidade “[…] servir de instrumento de mudança social […] a pesquisa ação postula que não se pode dissociar a produção de conhecimentos dos esforços feitos para levar à mudança”. Franco (2005, p. 485) alude que “Se alguém opta por trabalhar com pesquisa-ação, por certo tem a convicção de que pesquisa e ação podem e devem caminhar juntas quando se pretende a transformação da prática”. 

A execução das ações que resultaram nesse texto aconteceu na Escola Municipal Hildemar Maia, localizada na av: Cônego Domingos maltês, nº 52, Bairro do Trem, Macapá-AP, com uma turma de 7º ano (722-B) tendo ocorrido nos dias 10 e 12 junho de 2015.

Para o desenvolvimento das atividades foi realizada, primeiramente uma sessão com o filme “Branca de Neve e os setes anões® seguido de recortes de trechos para melhor ser trabalhado, com a finalidade de demonstrar os conteúdos de Ciências presentes no filme e posteriormente, trabalhar esses conteúdos relacionando-os ao mesmo. O tema abordado foi “seres vivos e ambiente” com os sub-temas “classificação dos seres vivos: classes mammalia, reptilia e aves.

No segundo momento (12 de Junho) elaboramos uma revisão dos assuntos já estudados em apresentação de slides, onde fizemos recortes de trechos de curta-metragem dando ênfase aos animais da floresta (répteis, aves e mamíferos) com explicação dos seus aspectos gerais. Para tanto, realizamos uma aula expositiva-dialogada evidenciando exemplos destas classes no filme, suas características, peculiaridades, hábitats e curiosidades.

Após a aula, ocorreu a realização de uma dinâmica, que consistia em um jogo com um dado (intitulado “dado dos seres vivos”) que continha imagens das classes de mamíferos, aves e répteis e ao ser lançado, conteria perguntas concernentes às respectivas classes de seres vivos. Assim, optamos por dividir a classe em dois grupos (A e B), os quais competiram respondendo às perguntas, e assim marcava mais pontos a equipe que respondesse o maior número de respostas certas. 

Os dados aqui apresentados foram analisados mediante análise de conteúdos nos termos de Bardin (2011).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao trabalhar o filme “Branca de Neve e os setes anões®”, o recorte utIlizado foi concernente ao tema: “Seres Vivos e Ambiente”. Com os conteúdos “Classificação dos Seres Vivos: Classes mammalia, reptilia e aves”. A execução das ações aconteceu na escola supracitada, no mês de junho de 2015. 

Foi realizada, primeiramente uma sessão com o filme em questão, seguida de “recortes” de trechos para melhor se trabalhar os conteúdos. Estes recortes têm a finalidade de demonstrar os conteúdos de Ciências presentes no filme e posteriormente, trabalhá-los relacionando-os ao mesmo. Posteriormente, foi elaborada uma revisão dos assuntos já estudados em apresentação de slides, onde recortes de trechos de curta-metragem deram ênfase aos animais da floresta (répteis, aves e mamíferos) com explicação dos seus aspectos gerais. Para tanto, uma aula expositiva-dialogada foi executada, evidenciando exemplos destas classes no filme, suas características, peculiaridades, hábitats e curiosidades.

Em seguida procedeu-se uma dinâmica, que consistia em um jogo com um dado (intitulado “dado dos seres vivos”) que continha imagens das classes de mamíferos, aves e répteis e ao ser lançado, conteria perguntas concernentes às respectivas classes de seres vivos. Assim, a classe foi dividida em dois grupos (A e B), os quais competiram respondendo às perguntas, e assim marcava mais pontos a equipe que respondesse o maior número de respostas corretas. 

A partir das atividades realizadas com a turma, observamos um maior envolvimento dos alunos na aula e, também, uma melhora significativa na relação aluno-aluno, aluno-professor. Inicialmente, quando dissemos o filme o qual seria trabalhado, alguns alunos se mostraram contrariados em assisti-lo, considerando-o “muito infantil”. Mas foi mencionado que a partir da exposição de “Branca de Neve” nós iríamos trabalhar assuntos relacionados a disciplina Ciências.

Durante a exibição do filme foi possível ouvir de poucos alunos, murmúrios do tipo: “já estou cansado”, “esse filme ainda vai demorar?”. No entanto, boa parte parecia entusiasmada com as cenas de animação e humor presentes e prestaram atenção tanto no enredo quanto nos conteúdos propostos.

No dia da aula, os alunos ficaram atentos à rápida explanação dos conteúdos (embora já tivessem estudado com a professora da classe de Ciências). A turma foi bastante participativa, pois os alunos questionavam e faziam comentários sobre suas experiências e curiosidades sobre o assunto, o que torna o aprendizado mais proveitoso, já que os alunos também aprendem uns com os outros.

Em outra aula, realizamos a dinâmica com a turma. A princípio, os alunos se mostraram hesitantes em participar, mas aos poucos se envolveram na atividade, resultando em um bom rendimento da classe. A proposição da dinâmica com o dado proporcionou uma atividade mais divertida, e consequentemente uma maior interação entre os alunos, bem como com as acadêmicas, o que tornando o aprendizado mais gratificante e motivador para os envolvidos no processo. 

Nesse contexto, observamos que a utilização do Cinema ocorreu de forma lúdica, e foi fundamental para promover uma aula mais atrativa, possibilitando, além disso, que o próprio educando construa seu conhecimento. Nesses termos, as Diretrizes Curriculares de Ciências para o Ensino Fundamental, da Secretaria de Educação do Estado do Paraná (SEED-PR), mencionam que:

O lúdico é uma forma de interação do estudante com mundo, podendo utilizar-se de instrumentos que promovam a imaginação, a exploração, a curiosidade e o interesse, tais como jogos, brinquedos, modelos e exemplificações realizadas habitualmente pelo professor entre outros. O lúdico permite uma maior interação entre os assuntos abordados, e quanto mais intensa for essa interação, maior será o nível de percepções e reestruturações cognitivas realizadas pelo aluno” (SEED-PR, 2008, p. 42).

Corrêa e Silva Junior (2009) tratam em seu texto da relação da ciência com o lúdico, e criticam:

Um grande equívoco na educação e no ensino de ciências é a utilização em larga escala do ensino transmissão, que não permite ao aluno formar sua própria opinião, não o aproxima da natureza, nem mesmo permite que através dos modelos didáticos seja despertada a curiosidade, para que ele aprenda a usar o método científico na solução de problemas (p. 3).

Para os autores em questão “O lúdico no ensino contribui para que o aluno atinja níveis mais complexos em seu desenvolvimento cognitivo, desperta o interesse, a criatividade e o gosto pela ciência” (CORRÊA; SILVA JUNIOR, 2009, p. 3). Eles destacam ainda que o lúdico “Seria uma das formas de vencer a grande barreira entre a população e o conhecimento científico, tornando-se parte da vida da comunidade, colaborando na solução de questões rotineiras dos cidadãos” (CORRÊA; SILVA JUNIOR, 2009, p. 3).

Foi com um sentido lúdico que todos os envolvidos participaram da atividade, gerando competição entre os grupos envolvidos (A e B). Estes sabiam que não haveria entrega de premiações, mas sim uma equipe vencedora, a qual respondesse o maior número de perguntas corretas. Durante a dinâmica os alunos mostram-se empolgados pelo assunto e em responder as perguntas, o que fez com que a atividade pudesse ser concretizada com sucesso. Além disso, puderam compreender a relação do filme com os conteúdos abordados.

Em função da adaptação criada para o filme da Disney, foi possível trabalhar com o tema “Seres vivos e ambiente” e os conteúdos “classificação dos seres vivos: classes mammalia, reptilia e aves”, com abordagem nas características gerais, peculiaridades e o hábitat desses animais presentes no filme, uma vez que na versão original dos irmãos Grimm, não existiam animais da floresta. 

Ao utilizar o Cinema como uma estratégia metodológica, percebemos que os alunos deixam de ser meros expectadores e passam a ser sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem, assumindo assim o papel de investigadores e questionadores do conhecimento, uma vez que ao assistir ao filme o farão com outro olhar, o olhar de pesquisador, o qual percebe o filme como uma forma de investigação de conceitos científicos. 

Tomaim (2004) esclarece que diante do filme o pesquisador não mais olha com recolhimento ou distração, mas o aborda na posição de um observador atento às associações de imagens e sons, a cada vestígio de significação como se buscasse um tesouro perdido em meio à experiência perceptiva do cinema.

No entanto, o uso do Cinema na sala de aula, por si só, não traz a garantia de uma aula satisfatória, diferenciada. É preciso que o professor, ao trabalhar com filme deixe claro os objetivos da aula e a relação deste com os conteúdos ministrados, e não o utilize apenas como um passatempo ou “válvula de escape”, caso contrário não haverá construção de conhecimento e tampouco uma aprendizagem significativa. 

Assim, de acordo com Barros, Girasole e Zanella (2013), é fundamental conhecer o filme primeiramente em sua intenção, incluindo linguagem e abordagens sociológicas e psicológicas. Dessa forma poderemos relacionar as características mais importantes desses canais de comunicação, juntamente com o campo que pretendemos atingir em termos de informação.

Na aprendizagem significativa, segundo Moreira (2010), o aluno não é um receptor passivo. Ao contrário, este deve fazer uso dos significados que já internalizou, de maneira substantiva e não arbitrária, para poder captar os significados dos materiais educativos. Nesse processo, à medida que está progressivamente diferenciando sua estrutura cognitiva, está também fazendo a reconciliação integradora de modo a identificar semelhanças e diferenças reorganizando e construindo seu conhecimento. 

Portanto, a atividade se mostrou válida não só porque levou uma novidade para a sala de aula, mas, sobretudo porque buscou valorizar o conhecimento que os alunos já detinham sobre os conteúdos. Ao mesmo tempo, permitiu que vissem o filme em outra perspectiva, e que percebessem o Cinema além do entretenimento, sendo fonte de inúmeras informações, que se bem utilizadas, podem resultar em conhecimento científico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso do Cinema em sala de aula pode ser um recurso metodológico eficaz, contando que o professor se disponha a utilizá-lo da maneira adequada, para que a aula com filmes não se torne desvinculada dos conteúdos. Este recurso pode ser uma excelente forma de contribuir para uma expressiva melhoria no ensino de Ciências, que ainda ocorre de forma descontextualizada da realidade dos alunos, que o enxerga como algo desconexo de seu cotidiano.

Considera-se que trabalhar com o recurso fílmico trouxe uma experiência diferente, uma vez que pôde-se perceber que esta, pode viabilizar a exploração de importantes conteúdos de Ciências (embora em um filme possa ser trabalhado muitas outras áreas do conhecimento, tais como história, geografia, sociologia, arte, filosofia, áreas das exatas, entre outras). Por meio dessa abordagem torna-se mais fácil atrair a atenção do aluno e estimular o seu interesse pelo conhecimento.

É preciso redirecionar o olhar que é dado ao ensino de Ciências. É necessário que o docente consiga “enxergar ciência” nas mais variadas perspectivas, sejam elas, filmes, fotografias, poesias, enfim, as artes estão aliadas às Ciências, basta conseguir enxergar isto. Considera-se aqui, que a partir do momento em que o docente encante-se a si próprio pelo ensino de Ciências, ele seja capaz de “contaminar” – no sentido não pejorativo da palavra – os que estão ao seu redor. Ao contaminar seus alunos com sua paixão, dedicação e amor (por quê não?) pelas Ciências, acredita-se que uma nova e tão almejada perspectiva para tornar a aprendizagem de Ciências algo significativo, poderá ser alcançada. 

A tão falada ruptura de paradigmas começa, quando o cada ser humano se permite. Se permite viver e vivenciar contextos e situações de mundo, da vida cotidiana. Se permite experimentar! O desafio aqui lançado é exatamente este, o de “se jogar” ao amor pelo que quer que seja que nos chame a atenção em relação ao conhecimento, experimentar o novo, mesmo que não pareça tão novo. No caso dos autores deste texto, ao amor pelo Cinema e pelas Ciências Naturais foi o que motivou a experimentar essa perspectiva. Tente você também, Professor! Seja de Ciências ou de quaisquer que sejam as áreas do conhecimento. Lance-se ao novo! 

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XAVIER, Carlos Henrique Gurgel; PASSOS, Carmensita Matos Braga; FREIRE, Paulo de Tarso Cavalcante; COELHO, Afrânio de Araújo. O uso do cinema para o ensino de Física no ensino médio. Revista Experiências em Ensino de Ciências (EENCI), Mato Grosso, v. 5, n. 2, p. 93-106, 2010.


6Snow White and the seven dwarfs®, título original da obra, de produção de Walt Disney, lançado em 1937 nos Estados Unidos, tendo aproximadamente 1h e 20 min de duração.

7Diz respeito ao conjunto de conceitos que cada pessoa traz consigo, ou seja, aqueles conhecimentos que tem sobre os conteúdos concretos que se dispõe a aprender; conhecimentos prévios que compreendem tanto os conhecimentos e informações acerca do conteúdo em si, como conhecimentos relacionados com ele (PEREIRA; PADILHA, 2014b, p. 966).


1Professora Adjunta da Universidade do Estado do Amapá (UEAP), Colegiado de Licenciatura em Ciências Naturais. Doutora e Mestra em Educação em Ciências e Matemáticas (Universidade Federal do Pará – UFPA. Coordenadora do Projeto de Extensão Cinema com Ciência

2Licenciada em Ciências Naturais – UEAP

3Licenciada em Ciências Naturais – UEAP

4Licenciada em Ciências Naturais – UEAP

5Professor da rede estadual de ensino, Governo do Estado do Amapá (GEA). Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas – Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Mestre em Zoologia UFPA/Museu Paraense Emílio Goeldi.