TECNOLOGIAS E EDUCAÇÃO: DESAFIOS ENFRENTADOS POR ALUNOS E PROFESSORES DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19

TECHNOLOGIES AND EDUCATION: CHALLENGES FACED BY STUDENTS AND TEACHERS DURING THE COVID-19 PANDEMIC

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8034292


Jessica Dias Ribeiro1
Marcia Ribeiro Santos Gratek1
Maíra Vasconcelos da Silva Padilha2


RESUMO

Objetivo: Esse artigo buscou analisar os impactos ocasionados em consequência do ensino remoto/ emergencial durante a pandemia da COVID-19 em alunos e professores do ensino médio. Adotou-se como metodologia uma revisão integrativa da literatura, onde apresentou-se como questão norteadora da pesquisa: Quais os impactos ocasionados em alunos e professores do ensino médio durante a pandemia da COVID-19, devido às medidas emergenciais voltadas ao ensino remoto e o uso de novas tecnologias?”. A pesquisa foi realizada em novembro de 2022, sendo realizada buscas nas seguintes bases de dados: LILACS, periódicos da CAPES, SciELO e PUBMED foram utilizadas as seguintes palavras-chaves: Educação, COVID-19 e Ensino médio, realizando combinações com os termos, com o uso do operador booleano “AND”. Esta pesquisa ao final foi constituída por 10 artigos, em português, todos estes foram selecionados de acordo com os critérios de inclusão. De acordo com os resultados apresentados, foi possível comprovar que os impactos ocasionados em alunos e professores durante a pandemia da COVID-19 se deve ao uso das tecnologias e questões socioeconômicas que trouxeram muitos impactos positivos e negativos. Muitas questões se apresentam neste cenário complexo, e a falta de estudos nesta área dificulta a busca por respostas, assim é válido ressaltar a importância dessa temática e que se deve haver mais pesquisa voltadas para ela, a fim de apresentar os impactos que a pandemia causou e, ainda, causará no âmbito educacional e social.

Palavras-Chaves: Educação; Ensino Médio; COVID-19.

ABSTRACT

This article sought to analyze the impacts caused as a result of remote/emergency teaching during the COVID-19 pandemic on high school students and teachers. An integrative literature review was adopted as a methodology, where the guiding question of the research was presented: What are the impacts caused to high school students and teachers during the COVID-19 pandemic, due to emergency measures aimed at distance learning and use of new technologies? The research was carried out in November 2022, searches were carried out in the following databases: LILACS, CAPES, SciELO and PUBMED journals, the following keywords were used: Education, COVID-19 and High School, performing combinations with the terms, using the Boolean operator “AND”. This research at the end consisted of 10 articles, in Portuguese, all selected according to the inclusion criteria. According to the results presented, it was possible to prove that the impacts caused on students and teachers during the COVID-19 pandemic are due to the use of technologies and socioeconomic issues that brought several positive and negative impacts. Many questions arise in this complex scenario, and the lack of studies in this area makes it difficult to find answers, so it is worth emphasizing the importance of this topic and that there should be more research focused on it, to present the impacts that the pandemic has caused and, furthermore, will cause in the educational and social scope.

Keywords: Education; High School; Covid-19.

INTRODUÇÃO

A pandemia trouxe inúmeras mudanças ao dia a dia, por conta das medidas sanitárias e do distanciamento social, sendo a educação um dos setores mais afetados. Associado a essa ideia, houve adequações metodológicas voltadas ao ensino, o primeiro contexto é o legislativo, haja vista que o Ministério da Educação adotou como medidas preventivas a permanência dos estudantes em casa, priorizando o ensino por meio do Ensino Remoto Emergencial (ERE) (ARAÚJO, 2021). Diante deste panorama, o ensino por meio de plataformas virtuais tem-se dado de forma síncronas ou assíncronas, com disponibilização do material para os estudantes, inserindo iniciativas como tutoriais, metodologias ativas, lives, debates e utilização de redes sociais para efetivar a educação à distância (SOUZA, 2020).

Nesse sentido, em virtude da grande crise institucional instalada no setor educacional, o ERE se apresenta como uma alternativa em caráter emergencial, com o intuito de minimizar os efeitos advindos da pandemia. No entanto, Blikstein et al. (2020) ressalta que o ensino remoto não é sinônimo de aula on-line, mas configura-se como uma ferramenta que pode ser utilizada em cenários de crise. Por outro lado, as adequações metodológicas adotadas implicaram em grandes desafios, uma vez que parte dos professores e alunos não sabiam manusear as ferramentas das Tecnologias Educacional de Informação, configurando um grande entrave nacional, bem como na ausência de infraestrutura para utilizá-la de forma crítica e intencional (BRAGA, 2018; THADEI, 2018).

Assim, com o intuito de adaptar-se a esse contexto, os professores assim como os alunos foram instados a realizar suas tarefas com adoção do uso de aparatos tecnológicos e plataformas digitais. Isto exigiu que os professores se adaptassem, de maneira súbita, a executar um novo formato de ensino em novo ambiente de trabalho, com simultaneidade do espaço doméstico e laboral, agregando angústias profissionais e familiares durante este período (SOUZA, 2020).

Diante desse contexto, é possível notar que frequentemente, a saúde do professor tem sido fonte de preocupação e objeto de pesquisas, por seu desgaste psicológico, físico e emocional no decorrer do exercício de suas funções. Assim como, a aprendizagem no ambiente escolar é de importância para o desenvolvimento do aluno, visto os aspectos cognitivos e linguísticos para o ensino formal da linguagem escrita, aspectos das relações sociais a que está exposta e tantos outros elementos necessários no contexto educacional diário (TABILE; JACOMETO, 2017). 

Além disso, os professores tiveram que se adaptar rapidamente, transpondo seus conteúdos das aulas presenciais para plataformas online, na maioria dos casos, sem ter capacitação (SANTOS, 2021). Isso posto, podemos observar que o cenário da pandemia trouxe consigo novas e velhas reflexões e preocupações para o campo educacional, tais como: As condições de trabalho do docente, a qualidade do processo de ensino-aprendizagem, a relevância e o significado dos temas a serem abordados e o desenvolvimento de práticas pedagógicas centradas no estudante (MARTINS, 2020). Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo analisar os impactos ocasionados durante a pandemia da COVID-19 em alunos e professores do ensino médio devido às medidas emergenciais do ensino remoto.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com abordagem qualitativa, acerca dos desafios enfrentados por alunos e professores durante a pandemia da COVID-19. Esse tipo de estudo é um método que possibilita a síntese e a análise do conhecimento científico já produzido (SANTOS; COSTA; NOGUEIRA, 2018). Para isso, foram seguidas as seguintes etapas: I) elaboração da questão de pesquisa; II) definição dos critérios de inclusão e de exclusão; III) delineamento das informações extraídas dos estudos; IV) avaliação dos resultados; V) interpretação dos resultados; VI) construção do conhecimento (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).

O levantamento bibliográfico ocorreu no mês de abril de 2023, nas seguintes bases de dados, bibliotecas virtuais: Scientific Eletronic Library Online (SciELO); PUBMED e periódicos da CAPES. Para melhor identificação dos estudos pretendidos, utilizamos combinações dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) nos idiomas português e espanhol: “Educação”; “COVID-19” e “Ensino Fundamental e Médio” e os Medical Subject Headings (MeSH) no idioma inglês: “Education”, “COVID-19” e “Education, Primary and Secondary”. Para garantir resultados melhores, optamos por utilizar o operador booleano AND.

Foram designados como critérios de inclusão: publicações sob o formato de artigos originais, publicadas na íntegra, dos últimos 3 anos ou seja 2020 até outubro de 2022, em língua portuguesa, inglesa ou espanhola, disponibilizados em meio eletrônico gratuitamente. Enquanto os critérios de exclusão foram: repetição nas bases de dados, artigos de revisão de literatura e aqueles que não respondem à questão norteadora desta pesquisa.

Quanto ao processamento e análise dos dados e discussão dos resultados, utilizamos a análise de conteúdo de Bardin (2016), a qual é definida como um conjunto de técnicas de análise das comunicações utilizada para obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo, indicadores. Para seguimento desta análise, o conteúdo das questões foi organizado e estruturado seguindo as fases sequenciais: pré-análise, exploração do material e o tratamento dos resultados: inferência e a interpretação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após busca nas bases de dados, foram localizados 813 artigos. Destes foram excluídos 2 artigos devido a duplicidade, por título foram excluídos 763 e após leitura dos resumos, foram excluídos mais 15 por não atender os critérios. Foram selecionados 30 artigos para leitura na íntegra, com amostra final de 10 artigos, conforme detalha o fluxograma da Figura 1. 

Figura 1 – Fluxograma do processo de seleção dos artigos para revisão integrativa.

Fonte: Elaborado pela autora (2023).

Realizou-se a leitura crítica, na íntegra, de todo o conteúdo dos estudos, com o objetivo de definir o que se fazia indispensável para a obtenção de uma pesquisa aprofundada. Esta pesquisa ao final foi constituída por 10 artigos, em português, e todos foram selecionados de acordo com os critérios de inclusão. Neste sentido, foi elaborado um quadro, o qual apresenta os artigos incluídos, abrangendo além do título dos artigos, os autores e ano de publicação e os principais achados, conforme quadro abaixo.

Quadro 1 – Sistematização dos artigos científicos selecionados nas bases de dados.

NTítuloAutores / AnoPrincipais Resultados
A1Pandemia da COVID-19: insatisfação com o trabalho entre professores(as) do estado de Minas Gerais, Brasil.SILVA et al., 2021Inquérito epidemiológico do tipo websurveys, concluíram que medidas de vigilância sobre o trabalho e a saúde docente devem ser adotadas, especialmente no contexto da pandemia. O monitoramento contínuo da saúde dos profissionais da educação precisa ser direcionado sob o enfoque da saúde coletiva e da vigilância em saúde do trabalhador, e configura-se como importante procedimento de proteção à vida destes profissionais
A2A Educação Física na Área das Linguagens e as relações com a BNCC em tempos de distanciamento socialBIELAVSKI et al., 2021Estudo Exploratório concluiu que diante do momento atípico que estamos vivendo atualmente, compreenderam o ensino remoto, de forma on-line, como um recurso importante nesse cenário, com o objetivo de manter as aulas, assim como o vínculo dos alunos e professores com as escolas. Porém, devido às grandes dificuldades, como por exemplo, a disponibilidade de acesso à internet, às tecnologias e as demais adversidades enfrentadas pelos alunos e professores em relação ao desenvolvimento de sua prática pedagógica, entende-se que o ensino remoto não substitui o ensino que é desenvolvido presencialmente.
A3Educação física, saúde e multiculturalismo em tempos de covid-19: uma experiência no ensino médioGODOIA et al., 2021Relato de experiência concluiu que as aulas foram desenvolvidas por meio das tecnologias digitais, de maneira síncrona ou assíncrona, com atividades e tarefas que os alunos realizaram pela plataforma Google Sala de Aula. Utilizamos diferentes estratégias metodológicas nas aulas on-line, como: tempestade de ideias, discussões em grupo, mesa-redonda com convidados externos, trabalhos individuais e de grupo, produção de textos e de vídeos pelos estudantes e seminário.
A4Violência contra crianças e adolescentes e pandemia – Contexto e possibilidades para profissionais da educaçãoOLIVEIRA et al., 2022Paradigma complexo concluiu que o estudo traz importantes implicações como a construção de apoio e ações estratégicas intersetoriais com foco na escola, visto ser um equipamento que tem mantido contato com crianças e adolescentes, inclusive para apoio a visitas, respeitando condições sanitárias para aqueles em que não for possível contato remoto, assim como a educação permanente dos profissionais de saúde, educação e assistência social sobre sinais suspeitos de violências contra crianças e adolescentes em tempos de pandemia; construção de protocolos de ação intersetorial frente a esses casos; construção de pergunta-padrão sobre segurança no domicílio para crianças e adolescentes; divulgação em massa de canais de denúncias de violências contra crianças e adolescentes à comunidade; desenvolvimento de ações promotoras de saúde mental a crianças, adolescentes, famílias e comunidades em tempos de pandemia.
A5A pandemia de COVID-19 e mudanças nos estilos de vida dos adolescentes brasileirosMALTAI et al., 2021Estudo transversal concluiu que os dados apresentados neste estudo sugerem mudança de comportamento entre adolescentes brasileiros durante a pandemia, como aumento do consumo de alimentos congelados, doces e chocolates, bem como do comportamento sedentário, e redução da prática de atividade física. Contudo, no período da pandemia, o consumo de hortaliças aumentou e o consumo de salgadinhos de pacote e de álcool reduziu. Tornam-se importantes o apoio e o suporte dos familiares, bem como políticas públicas que reforcem os comportamentos saudáveis e a continuidade dos cuidados, especialmente entre os adolescentes
A6Vida sem escola e saúde mental dos estudantes de escolas públicas na pandemia de Covid-19VAZQUEZ et al., 2022Estudo transversal destaca a importância da escola na vida dos estudantes e os desafios colocados para promoção da saúde mental no ambiente escolar, o que exigirá maior articulação entre as políticas públicas de educação e saúde, além de recursos e a preparação a serem mobilizados para enfrentar esta nova realidade
A7Experiências do tempo vivido: reflexões de jovens estudantes do interior do Brasil sobre a vida na pandemia de COVID-19 e a escola como espaço de sociabilidadeSILVA; BRIGATI; PAN, 2021Relato de experiência concluiu que através de uma experiência prática junto a jovens estudantes de uma escola pública, buscou-se explicitar suas compreensões acerca da vivência da pandemia de Covid-19. Suas compreensões explicitam algumas controvérsias em relação ao tempo vivido: vontade de viver o presente e anseios sobre o futuro; a busca por um certo otimismo e gratidão, sem deixar de reconhecer a gravidade do que se vive; reconhecimento da importância de ficar em casa contraposta à fadiga de cumprir esta medida, entre outras.
A8Ensino remoto em tempos de pandemia: covid-19 suas implicações na interação professor-estudante – uma perspectiva FreireanaRECH; PESCADOR, 2022Pesquisa teórica concluiu que o ensino remoto é uma das maneiras de manter o vínculo do estudante com a escola, seja pela utilização das tecnologias digitais de comunicação, por meio de ambientes virtuais/eletrônicos, ou por meio de formato impresso, porém, certamente, muitas contribuições poderiam advir de pesquisas empíricas com o intuito de investigar se a aprendizagem com a utilização de atividades pedagógicas não presenciais se dá da mesma forma que a possibilitada em sala de aula presencialmente, com professor e colegas juntos no mesmo tempo e espaço físico.
A9O Desenvolvimento das Competências Socioemocionais no Ensino Médio em Tempos de Pandemia da COVID-19BENTO et al. 2022Análise da sequência didática concluiu que é notório que a sequência didática é essencial no processo de ensino e aprendizagem acerca das competências socioemocionais e contribuem nesta volta escalonada dos alunos, mediante o ensino híbrido, quando se mesclam períodos de aulas remotas com períodos presenciais, visto que os estudantes que retornam para sala de aula neste contexto pandêmico estão precisando de acolhimento e amparo para lidar com novas configurações sociais/educacionais e os professores, para além de conteúdos programáticos, poderão transmitir, pela via da relação, modos de enfrentamento e de manejo das dificuldades.
A10Educação e pandemia: a percepção dos professores e professoras da escola estadual Lauro BarreiraSILVA; TEIXEIRA, 2021Pesquisa descritiva de caráter qualitativo concluiu que o ensino remoto não se apresenta como um caminho isonômico para a materialização do fazer educacional escolar. É notório que determinados grupos de estudantes, especialmente aqueles em vulnerabilidade econômica, são os mais afetados por essas medidas.

Fonte: Elaborado pela autora (2023).

A fim de apresentar os impactos positivos e negativos em alunos e professores encontrados, foi elaborada uma tabela com código do artigo, impactos positivos e impactos negativos com o intuito de abranger e facilitar a explanação dos dados encontrados. Nesse contexto, é possível observar que dos 10 artigos utilizados para construção destes estudos, nove artigos apresentados trazem impactos negativos, cinco apresentam impactos positivos e negativos, onde os negativos prevalecem e 1 apresenta apenas impactos positivos, conforme quadro abaixo.

Quadro 2 – Impactos positivos e negativos em alunos e professores.

NIMPACTO POSITIVOSIMPACTOS NEGATIVOS
A1


Não possuir celular ou computador; acesso à internet sem qualidade; interferência familiar; dificuldade de concentração; pouca participação dos alunos; falta de compreensão sobre como funciona as tecnologias; indiferença em relação a satisfação com o trabalho; sentimentos negativos relacionado ao trabalho; 80% dos professores insatisfeitos com o trabalho durante a pandemia.
A2Gama de tecnologias disponíveis; ferramentas digitais que facilitam o trabalho; ensino remotoDesigualdades sociais e econômicas que impossibilitam o acesso; falta de qualidade quando o acesso é possível; professores inseguros pela falta de retorno dos alunos durantes as aulas online. 
A3Maior utilização das TDIC; várias estratégias de ensino; poder convidar pessoas externas para participar da aula; desenvolvimentos de habilidades criativas para o uso das tecnologias.50 a 60% de participação nas aulas online; dificuldade de anexar trabalhos pelos alunos.
A4Maior vulnerabilidade para violência; impactos na saúde mental.
A5Aumentos no consumo de hortaliças; redução no consumo de salgadinhos de pacote; não houve alterações no consumo de cigarros de bebidas.Adolescentes menos ativos fisicamente; maior tempo de tela; problema de sono; alimentação inadequada; ganho de peso; perda de aptidão respiratória; aumento do comportamento sedentário. 
A610,5% Sintomas depressivos graves; 47% sintomas de ansiedade grave; maior tempo de tela; inversão de sono.
A7Poder se dedicar a atividades de prazer como ouvir música e assistir séries; ter tempo para aprender algo novo.Tristeza por tantas mortes; medo; incerteza do futuro.
A8Menor convivência afetiva; menos diálogo.
A9Ensino híbrido ponto positivo do retorno pós pandemia
A10
Vulnerabilidade econômica; falta de acesso à internet; falta de acesso aos aparelhos digitais como celulares e computadores.

Fonte: Elaborado pela autora (2023).

O distanciamento social e a implementação do ensino remoto tornaram imprescindível, ainda que sem conhecimento ou familiaridade suficientes, o uso de ferramentas digitais de informação e comunicação. A adoção dessa modalidade de ensino exigiu dos professores a adequação do ambiente domiciliar e a reestruturação dos planejamentos de ensino em um contexto de “disponibilidade irrestrita” de tempo para responder às demandas de estudantes e familiares. Longe de um cenário ideal para o desenvolvimento do ensino remoto, os professores enfrentam diferentes desafios (SILVA et al., 2021).

Em adição, Bielavski et al.  (2021), afirmam que por mais que a necessidade de um modo de ensino emergencial tenha mostrado uma gama de tecnologias e ferramentas que crescem a cada dia e facilitam o trabalho, inclusive algumas que podem ser adotadas para o pós-pandemia, é preciso compreender as diferentes realidades que se encontram no país. Frente a isso, se torna importante salientar as desigualdades sociais e econômicas que podem impossibilitar o fácil acesso às diversas tecnologias e ferramentas que emergem junto ao ensino de forma remota, e quando esse acesso é possível pode-se observar a falta de qualidade.

Ao encontro disso, Silva e Teixeira (2021) apontam que é notório que alguns grupos de estudantes, especialmente aqueles em vulnerabilidade econômica, são os mais afetados por essas medidas. Por exemplo, enquanto alguns desses alunos são excluídos do ensino remoto pela falta de acesso à internet ou aparelhos compatíveis para exercerem as atividades, outros sofrem com abusos domésticos e com a falta de alimentação até então providenciada apenas pelas escolas.

Considerando o momento vivenciado atualmente, o ensino remoto é visto, como um recurso importante nesse cenário, com o objetivo de manter as aulas, assim como o vínculo dos alunos e professores com as escolas. Porém, devido às grandes dificuldades, como por exemplo, a disponibilidade de acesso à internet, às tecnologias e as demais adversidades enfrentadas pelos professores em relação ao desenvolvimento de sua prática pedagógica, entendemos que o ensino remoto não substitui o presencial (BIELAVSKI et al., 2021).

Ademais, Godoia et al. (2020), escreveram um relato de experiência há cerca do projeto de ensino “O que podem os corpos em tempos de pandemia?” onde apresentam atividades realizadas remotamente com estudantes do ensino médio do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), onde apresentam conceitos de saúde, bem-estar, qualidade de vida, riscos e vulnerabilidades, dicas para manter a saúde física e mental durante a pandemia, vulnerabilidades de indígenas, negros, mulheres e população LGBTQIA+ na pandemia e imagem corporal.

Perante isso, foi possível observar pontos positivos e pontos negativos, os principais pontos negativos é que nem todos os estudantes participavam das aulas on-line, a participação média era de 50 a 60%, outra dificuldade foi que alguns estudantes não conseguiram anexar os vídeos pedidos nas aulas online na plataforma e acabavam enviando-os por redes sociais como o WhatsApp, isso demandou um esforço para localizar esses trabalhos, para dar retorno aos alunos. Sobre os pontos positivos desse relato de experiência, podemos citar: maior utilização das TDIC no processo de ensino-aprendizagem, diversas estratégias de ensino, participação de convidados externos à instituição nas aulas, abordagem de temas sociais relevantes e produção cultural dos estudantes, desenvolvendo habilidades criativas com o uso das tecnologias (GODOIA et al., 2020).

Nesse sentido, Oliveira et al. (2022), apontam que o afastamento da escola, inclusive pela dificuldade de acesso remoto a adolescentes pelos professores, foi entendido como principal elemento para maior vulnerabilidade às violências. Os impactos à saúde mental de crianças e adolescentes a partir de possíveis vivências conflituosas e/ou violentas foram reforçadas, o cuidado interprofissional e intersetorial necessita vislumbrar esse desafio e propor ações a curto e médio prazo.

Outrossim, Malta et al. (2021), apontam em seu estudo evidências cientificas de Wang et al. (2019), Brazendale et al. (2017) e Pietrobelli (2020), tais autores sugerem que quando as crianças e os adolescentes estão fora da escola, eles são fisicamente menos ativos, têm maior tempo diante das telas, apresentam problemas de sono e pioram a alimentação, o que resulta em ganho de peso e perda da aptidão cardiorrespiratória. Além disso, Malta et al. (2021) buscaram conhecer o impacto da pandemia sobre a saúde dos adolescentes brasileiros foram avaliados 9.470 jovens, vale ressaltar que esta foi a primeira pesquisa brasileira que avaliou a mudança no estilo de vida dos adolescentes brasileiros durante o distanciamento social em consequência da pandemia de COVID-19.

Neste contexto, as mudanças observadas foram: aumento do consumo de hortaliças e de alimentos não saudáveis, como pratos congelados, chocolates e doces, redução do consumo de salgadinhos de pacote, redução da prática de atividade física e aumento do comportamento sedentário. Não houve alteração quanto ao uso de cigarros e ocorreu diminuição do consumo de bebidas alcoólicas (MALTA et al., 2021).

Em continuidade, Vazquez et al. (2022), realizou um estudo em escolas brasileiras localizadas nas periferias dos municípios de São Paulo e Guarulhos, onde estudantes do ensino fundamental e médio fizeram parte, buscando avaliar os possíveis impactos e associações da pandemia sobre a saúde mental desses jovens, os quais apresentaram triagem positiva em 10,5% para sintomas depressivos graves e 47,5% para sintomas ansiosos graves. Ao encontro disso, presume-se que a ausência da rotina escolar tenha aumentado o tempo de tela e a inversão do sono, além de outras mudanças no cotidiano dos jovens, impactando no aumento dos sintomas de depressão e ansiedade principalmente em jovens do sexo feminino.

Para Silva, Brigati e Pan (2021), por meio de uma experiência vivenciada entre os meses de abril e junho de 2021 em uma escola pública de uma cidade no interior do estado de São Paulo, observaram que jovens relataram muitas dificuldades em relação ao momento vivenciado. Os participantes demonstraram tristeza por tantas mortes, medo de contrair o vírus e/ou ter alguém de sua família contaminado. Ainda neste estudo, os autores supracitados apontaram evidências de pontos positivos apresentados pelos jovens como poderem se dedicar mais às atividades prazerosas, como ouvir música e assistir séries ou aprender algo novo, como cozinhar, revelando uma dupla realidade vivenciada no período pandêmico. 

Considerando o que fora apresentado, pôde-se perceber que por meio da modalidade de ensino remoto diminui-se às vivências e relações dialógicas e afetivas que permitem ao estudante conhecer suas capacidades e possibilidades, tendo percepção sobre si através da mediação e apoio do professor. Pois é através de aulas presenciais que se ampliam as possibilidades para um ambiente propício, pois o convívio escolar permite a convivência social, e muitas vezes é onde os estudantes encontram relações afetivas. Sabe-se que a educação a distância possui qualidades específicas em nível de graduação, porém em contrapartida jamais possibilitará processos formativos consideráveis como o ensino presencial nas etapas da educação básica para o desenvolvimento cognitivo, motor, social e afetivo do estudante (RECH; PESCADOR, 2022).

Embora as tecnologias possam ser uma ferramenta explorada pelos professores, os desafios ainda são grandes para transformar, por exemplo, o celular em ferramenta para estudo. Um estudo com professores indonésios mostrou que para muitos deles o uso de tecnologias tem sido um exercício árduo, que causa ansiedade nessa fase de adaptação durante a pandemia. Habituados com as práticas tradicionais de ensino, os professores encontram-se diante do desafio de preparar e apresentar diferentes temáticas com o uso de tecnologias digitais de comunicação e informação (SILVA et al., 2021; BIELAVSKI et al., 2021).

Assim, neste cenário pandêmico, a falta de acesso de muitos estudantes aos recursos necessários como celulares, computadores e redes de internet, e/ou pela necessidade de buscar trabalho frente ao agravamento da crise econômica pré-existente e persistente e/ou, ainda, pela falta de estímulo familiar para continuidade dos estudos, muitos jovens deixaram de frequentar a escola neste período (SILVA; BRIGATI; PAN, 2021).

Nesse contexto, ter domínio das tecnologias tornou-se essencial para manter esse processo, e é um desafio não apenas para os professores, mas para toda a comunidade escolar. O uso da tecnologia nas salas de aula, assunto que há algum tempo vem sendo discutido, intensificou-se para mediar o processo do ensino remoto, esta modalidade de ensino se tornou a alternativa mais viável para manter o vínculo do ensino com os alunos na maioria das realidades (BIELAVSKI et al., 2021; RECH; PESCADOR, 2022).

Frente ao exposto, torna-se importante salientar que as aulas foram desenvolvidas de diferentes formas com o auxílio de diversas ferramentas tecnológicas, porém as mesmas, em sua maioria, necessitam que estudantes e professores tenham acesso à internet e aparelhos tecnológicos para a transmissão e acompanhamento do trabalho. É importante salientar que dados da Agência Brasil (2020) expressam que um a cada quatro brasileiros não tem acesso à internet, o que, em números totais, representa cerca de 46 milhões (BIELAVSKI et al., 2021).  Ademais, os resultados obtidos por um estudo realizado por Silva; Teixeira (2021) permite compreender que as medidas adotadas pelo governo, como a mudança drástica do ensino presencial ao remoto, excluiu um número expressivo de seus estudantes, especialmente aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade econômica.

Perante o exposto, é válido ressaltar que houve também nesse período envio das atividades em formato impresso em remessas quinzenais ou mensais principalmente nas escolas públicas. Essa opção se apresentou baseada no pressuposto de que haveria situações em que professores e estudantes teriam limitações e, portanto, dificuldade para acesso às tecnologias digitais para realização das atividades pedagógicas. Diante desse cenário, toda a comunidade acadêmica ajudou, os professores passaram a planejar e elaborar atividades que eram impressas pelas escolas e, depois, disponibilizadas para retirada na escola pelos estudantes ou seus responsáveis. Mais tarde, depois de realizar tais atividades em casa, essas eram devolvidas à escola e voltavam às mãos dos professores para registro e avaliação (RECH; PESCADOR, 2022).

Além do mais, Silva, Brigati e Pan (2021), apontam que um dos grandes desafios enfrentados pelos jovens foi a controvérsia de muitas situações, como vontade de viver o presente e anseios sobre o futuro, a busca por um certo otimismo e gratidão, sem deixar de reconhecer a gravidade do que se vive, reconhecimento da importância de ficar em casa contraposta à fadiga de cumprir esta medida, entre outras. Em continuidade, é válido apontar que Rech e Pescador (2022), apontam em seu artigo uma reflexão de Paulo Freire (1996), que ressalta sobre a prática dos educadores, para que não seja apenas uma atividade mecânica, pois os conteúdos das atividades a distância acabaram sendo adaptados de tal forma, que grande parte dos professores estão com o foco em conseguir enviar atividades e dar conta dos conteúdos programáticos de sua turma ou disciplina, são situações que faz com que a prioridade da qualidade do ensino fiquei de lado.

Outro estudo aponta que diante da situação enfrentada, em decorrência da Pandemia da COVID-19 é notório que a sequência didática é essencial no processo de ensino e aprendizagem acerca das competências socioemocionais e contribuem na volta dos alunos para a sala de aula, de maneira escalada, mediante o ensino híbrido, quando se mesclam períodos de aulas remotas com períodos presenciais. Visto que os estudantes que retornam para sala de aula neste contexto de pandemia, estão precisando de acolhimento e amparo para lidar com novas configurações sociais e educacionais e os professores, para além de conteúdos programáticos, poderão transmitir modos de enfrentamento e de manejo das dificuldades encontradas neste retorno (BENTO et al., 2022).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os resultados apresentados, foi possível comprovar que os impactos ocasionados em alunos e professores durante a pandemia da COVID-19 se deve ao uso das tecnologias e questões socioeconômicas que trouxeram muitos impactos positivos e negativos. Nesse contexto, foi possível compreender os desafios enfrentados pelos professores e alunos durante este período de caos na humanidade, com isso pode-se afirmar que a educação foi e, ainda, é um dos setores que mais sofreu impactos frente à pandemia.

É importante salientar que a pandemia da COVID-19 não é a primeira a existir, e infelizmente muitos pesquisadores acreditam que não será a última, isso é válido para apontar a importância de pesquisas que envolvam esta temática sobre os problemas existentes nas atuais políticas educacionais em resposta à pandemia, como também, investigar os impactos futuros dessas medidas. Muitas questões se apresentam neste cenário complexo, e a falta de estudos nesta área dificulta a busca por respostas, assim é válido ressaltar a importância dessa temática e que se deve haver mais pesquisa voltadas para ela, a fim de apresentar os impactos que a pandemia causou e, ainda, causará no âmbito educacional e social.

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1Bacharelado em Enfermagem. Faculdade Gamaliel. Tucuruí, Pará, Brasil.
2Licenciatura em Pedagogia. Universidade do Estado do Pará (UEPA). Tucuruí, Pará, Brasil.