ANKYLOGLOSSIA: KNOWLEDGE OF MOTHERS AND POSSIBLE CONSEQUENCES FOR THE FIRST MONTHS OF THE BABY’S LIFE
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8002189
Cátila Neres Dos Santos1
Jennifer de Oliveira Belo2
Maria Fernanda Borro Bijella3
Chimene Kuhn Nobre4
Daniele Simone Dantas da Silva5
João Carlos Vicente de Barros Junior6
Rodrigo Jacon Jacob7
Rogerio Batista da Costa8
RESUMO
Anquiloglossia, popularmente conhecido como “língua-presa”, se trata de uma anomalia congênita que afeta o movimento normal da língua, dificultando a amamentação, a deglutição, e a fala. Diante disto, o propósito deste estudo, de caráter transversal, foi de avaliar o nível de conhecimento que as mães possuem sobre o tema, além de analisar as estruturas do freio lingual dos bebês e sua funcionalidade durante a amamentação. Para tanto, a amostra foi constituída de 40 indivíduos, porém após as explicações durante a palestra inicial, 3 (três) mães se recusaram a participar da presente pesquisa e 01 (uma) foi excluída pelo critério de exclusão (realização do pré-natal completo na USF Renato Medeiros) reduzindo a amostra para 16 binômios mãe-bebê. Após a entrevista com a mãe foi realizada a avaliação da amamentação ofertada dentro do consultório da USF e feito o exame clínico do bebê, pode-se constatar que após o nascimento 100% das crianças receberam avaliação “teste da linguinha” antes da alta hospitalar cumprindo assim o que se determina pela lei, todavia nenhuma das mães sabia explicar o motivo pelo qual este teste estava sendo realizado e quais as consequências para os binômios mãe-bebê de uma anquiloglossia. Pode-se também verificar que grande parte da amostra, 62,5%, apresentava a cortina de mucosa recobrindo o freio lingual, condição que impede a aplicação da metodologia deste teste. Nas crianças que tiveram a aplicação completa do teste, 33%, apesar de apresentarem características anatômicas de anquiloglossia, tiveram resultado inferior ao valor determinante para a cirurgia de freio lingual, o que confirma que a funcionalidade deve de fato prevalecer sobre a anatomia. Pode-se constatar que é necessária uma maior abordagem sobre o tema anquiloglossia e suas consequências nas orientações realizadas durante os grupos de gestantes e o decorrer do pré-natal para que de fato as mães possam assimilar a importância da intervenção precoce desta má formação, todavia, é necessário treinamento e habilidade do profissional avaliador de forma a evitar intervenções precipitadas.
Palavras-chave: Anquiloglossia. Conhecimento. Freio-lingual. Aleitamento materno.
1 INTRODUÇÃO
Anquiloglossia é um termo grego – Ankloglossia – onde agkilos significa curvas e glossa significa língua (BROOKES & BOWLEV, 2014).
Anquiloglossia consiste em uma anormalidade congênita do desenvolvimento da língua, pode ocorrer de forma total ou parcial, dentro da cavidade oral visualizamos um freio lingual mais curto ou uma língua fusionada na face inferior onde conecta no assoalho bucal, popularmente conhecida como “língua presa”. (ARAÚJO et al 2020)
Essa alteração começa intrauterina na quarta semana gestacional na qual ocorre o desenvolvimento da língua, por não haver apoptose a morte celular programada de restos remanescentes de tecido embrionário que permanece na face inferior da língua, gerando a formação e variação anatômica do frênulo lingual, essa condição tem uma maior incidência em recém-nascidos (SILVA VF, et al., 2019 apud GOMES, et al., 2021).
A anquiloglossia causa limitações dos movimentos da língua em diferentes graus, ocasionando problemas na amamentação em bebês, pois a sucção e deglutição estão fortemente associadas a este processo pela qual os movimentos da língua se fazem importantes visto que o reflexo de sucção do recém-nascido se dá em sua vida intrauterina prolongando aos dois meses de vida. A anquiloglossia pode gerar o desmame precoce, devido à dor que a mãe sente ao amamentar e as dificuldades de ganho de peso do recém-nascido, podendo perdurar para sua vida adulta, ocasionando impacto no desenvolvimento normal da criança, como impedimentos durante o choro, fase de lactação e futuramente na dicção, higienização da cavidade oral, constrangimento social durante a infância e adolescência. Em casos graves pode ocorrer deficiência do crescimento mandibular (MELO et al., 2021).
Devido aos malefícios gerados pela anquiloglossia, o diagnóstico deve ser feito o mais precocemente possível. Quando confirmado o diagnóstico, para melhor conforto da mãe e bebê, a intervenção cirúrgica para a remoção do freio lingual pode ser realizada de duas maneiras: a primeira através da frenotomia, que consiste em realizar uma incisão no frênulo lingual, ou a segunda, para os casos mais graves, onde há a remoção total do frênulo, denominada frenectomia.
Pelo acima exposto, esta pesquisa objetiva verificar o nível de conhecimento que as mães possuem sobre o tema, além de analisar as estruturas do freio lingual dos bebês e sua funcionalidade durante a amamentação.
2 MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa de caráter transversal, foi autorizada pelo Comitê de Ética em pesquisa, através do CAAE 64502022.7.0000.8028 e contou com a participação de 40 sujeitos. Todavia, após as explicações sobre as fases da pesquisa, 3 (três) mães se recusaram a participar da presente pesquisa e 01 (uma) foi excluída pelo critério de exclusão (realização do pré-natal completo na USF Renato Medeiros) reduzindo a amostra para 16 binômios mãe-bebê. Das 16 crianças que participaram do exame clínico, 8 foram do gênero feminino, 8 do gênero masculino.
Como critério de inclusão foram incluídos bebês saudáveis, nascidos a termo, entre janeiro de 2020 a junho de 2022, independentemente da via de parto e que estavam sendo amamentados. Para as mães os critérios foram: ter idade superior a 18 anos na data do parto e terem realizado o acompanhamento de pré-natal completo na Unidade de Saúde da Família (USF) Renato Medeiros em Porto Velho-RO. Os critérios de exclusão considerados foram: prematuridade, complicações perinatais, presença de anomalias craniofaciais, doenças neurológicas, síndromes genéticas visíveis no momento da avaliação, ou a mãe não cumprir os quesitos de inclusão.
Os bebês e suas mães foram convidados a participarem do estudo através de agendamento de grupo de gestantes realizado pela equipe multidisciplinar da unidade. Este encontro foi agendado no auditório e nele foram realizadas uma palestra de esclarecimento sobre a pesquisa, deixando as mães confortáveis, para aceitarem ou não sua participação. Das 20 mães presentes no grupo de gestantes da equipe 063, 3 mães não aceitaram participar do levantamento por motivos particulares, e 1 foi excluída devido a não ter realizado o completo acompanhamento de pré-natal na unidade.
O estudo em questão é dividido em: história clínica; exame clínico e avaliação da amamentação. A história clínica inclui os dados de identificação, questões objetivas sobre antecedentes familiares, problemas de saúde na família, informações referentes à amamentação e oconhecimento das mães sobre o tema.
Após o preenchimento do termo de consentimento livre esclarecido foi realizada uma entrevista inicial com a mãe, com intuito de verificar o conhecimento das mesmas perante o tema de anquiloglossia e obter a história clínica. Feito isto, participaram de uma palestra onde as pesquisadoras elaboraram mídias visuais em slide e panfleto, e abordaram o tema utilizado uma linguagem simples e objetiva para informar e sanar dúvidas de conhecimento das mães sobre anquiloglossia e possíveis consequências para os primeiros meses de vida do bebê (Figura 1 e 2).
Figura 1 – Frente do panfleto educativo sobre anquiloglossia
Fonte: Autoras, 2023.
Figura 2 – Verso do panfleto educativo sobre anquiloglossia
Fonte: Autoras, 2023.
Posteriormente a palestra as mães foram direcionadas ao consultório odontológico onde foi realizada a amamentação, com objetivo de possibilitar a análise do movimento lingual durante o ato e verificar o vedamento e poder de sucção do bebê. Neste momento foi realizado o registro fotográfico e em vídeo da do processo, tomando-se o cuidado em focar apenas na região do rosto do bebê.
Após o registro da amamentação foi aplicado o Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua com Escores para Bebês (“Teste da Linguinha”) proposto por Martinelli. O protocolo clínico é composto por avaliação anatomofuncional e do frênulo da língua, que consiste na observação da postura dos lábios em repouso, tendência do posicionamento da língua quando elevada durante o choro, espessura do frênulo, fixação do frênulo na face sublingual (ventral) da língua e fixação do frênulo no assoalho da boca.
Sua avaliação é realizada por meio da soma de 4 itens e sua nota pode variar de 0 a 7. Foi considerada alteração do frênulo lingual nos movimentos da língua pontuação maior que 7.
Os dados foram tabulados em planilha do programa Excel, onde foi realizada a análise descritiva, para obtenção de parâmetros estatísticos básicos: distribuições absolutas e percentuais, sobre cada variável pesquisada. A seguir os dados serão apresentados utilizando-se tabelas e gráficos desenvolvidos com auxílio da plataforma Google Forms, no intuito de facilitar a discussão dos mesmos.
3 RESULTADOS
Participaram do estudo 20 bebês, no entanto, 1 bebê foi excluído pois sua mãe não fez o devido pré-natal na USF Renato Medeiros e 3 bebês não participaram pois suas mães se recusaram em participar por motivos pessoais.
Dos 16 bebês avaliados, em 10 não foi possível visualizar a espessura e o frênulo lingual (gráficos 1), pois apresentaram frênulo posterior ou submucoso recoberto por cortina de mucosa, condição esta que impede a visualização somente com a manobra de elevação das laterais da língua determinada pela metodologia deste teste. Na literatura foram encontrados relatos desta dificuldade com a necessidade de realizar uma manobra simultânea de elevação e posteriorização da língua nos lactentes com esta característica de freio, ou até mesmo aguardar de 1 e 3 meses para a visualização e assim possibilitar o correto diagnóstico. Fato que corrobora com a literatura que sugere o acompanhamento da puérpera e recém nascido por mais tempo antes da realização da intervenção cirúrgica.
Gráfico 1 – Fixação do frênulo na face sublingual da língua.
Fonte: Autoras, 2023.
Com relação aos 6 bebês nos quais foi possível realizar a aplicação completa do protocolo, foram identificados 2 bebês com características anatômicas de anquiloglossia, porém os mesmos não obtiveram interferência do frênulo da língua, pois os seus resultados foram menores que 7. Os 4 bebês restantes foram considerados normais.
Ao examinar o posicionamento da língua quando elevada durante o choro, 93.8% apresentou de forma arredondada, e 6.2% com ligeira fenda no ápice (gráfico 2).
Gráfico 2 – Posicionamento da língua durante o choro.
Fonte: Autoras, 2023.
A formato da língua, quando elevada durante o choro, influencia o movimento desta, durante a sucção não nutritiva, como pode ser observado no gráfico 2, a relação com o posicionamento da língua durante o choro apresentou-se em 68.8% e encontrava-se na linha média, sendo que a língua elevada e a língua baixa foram de 12.5%, quanto à língua na linha média com elevação nas laterais foi de 6.2%, o que nos aponta que não há anquiloglossia na maioria dos bebês avaliados tendo a posição e ponta da língua adequada para a vedação do seio materno bem como outras atividades normais da língua.
Apesar das alterações anatômicas registradas nos gráficos anteriores, observa-se que, não houve interferência do frênulo lingual, em 100% dos bebês observados, quanto ao quesito sucção. Todos apresentaram a sucção nutritiva e não nutritiva, juntamente com a coordenação entre sucção, deglutição e respiração dentro da normalidade. Almeida, em 2018, relata a importância da movimentação da língua no ato de sugar e deglutir, bem como para execução de funções relacionadas ao sistema estomatognático em seu funcionamento normal para o aleitamento em seio materno.
Conforme gráfico 3, pode-se notar que apesar de haver conhecimento sobre a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto a modalidade de amamentação exclusivamente natural pelo período mínimo de 6 meses de vida, podendo esta exclusividade ser estendida como complemento até os 2 anos de idade (Brasil, 2009), apenas (50%) das crianças fizeram uso da mesma.
Gráfico 3 – Demonstrativo de quais tipos de amamentação a criança faz uso
Fonte: Autoras, 2023
Quando estas mães foram questionadas sobre a motivação do uso da introdução da amamentação mista, 50% relatou a volta precoce ao mercado de trabalho, 37,5% por suspeitar que a falta do aumento de peso da criança não estava compatível com a idade e apenas 12;8% justificou o uso da amamentação artificial devido à real falta de leite materno. Este resultado corrobora com o encontrado na literatura, que destaca, a necessidade de retorno ao trabalho, como fator prejudicial à manutenção da alimentação natural.
Gráfico 4 – % de indivíduos em cada tempo de intervalo entre as mamadas.
Fonte: Autoras, 2023.
Ao avaliar o Gráfico 4, verifica-se uma predominância do maior intervalo entre as mamadas, na amostra estudada. Neste quesito, 3 (18,8%) crianças de idade menor que 1 ano, realizaram as mamadas em um intervalo menor ou igual a 1 hora e 13 crianças, porém todas com idade superior a 1 um ano (81,3%) realizaram as mamadas no tempo igual ou superior a 2 horas entre as mamadas.
Brasil, em 2009, ressaltou não haver restrições de tempo durante a amamentação caracterizada como “mamada em livre demanda”. Neste documento é claro a preconização do tempo da dupla, mãe-bebê, para o esvaziamento eficaz da mama, condição importante para o aumento adequado de peso do bebê, e para a manutenção da produção de leite de forma a atender às demandas do mesmo. Nele também é destacado, para a saciedade da criança, o valor do leite final da mamada por ser, este, o mais calórico.
É comum ouvir relatos das mães se queixando de uma dor discreta, logo que iniciam a amamentação e que vai desaparecendo ao longo da mamada. Essa dor se dá devido à forte sucção do bebê na auréola, porém, esta não poderá progredir para uma dor moderada ou grave pois caso ocorra, já pode ser ocasionada por pega inadequada no mamilo que por sua vez em grande maioria acaba cometendo vermelhidão, fissuras e rachaduras na mama. Apesar destas fissuras e rachaduras serem bem comuns no início da lactação não devem ser consideradas normais, e requerem intervenção, pois suas complicações podem levar ao desmame precoce ou a introdução de uma amamentação mista.
Nesta pesquisa, as mães foram questionadas se seus bebês mordiam o mamilo durante a sucção ou se elas conseguiam ouvir estalos da língua durante o ato. Como resultado, obteve-se 15 respostas negativas (93.5%) e somente 1 (6.2%) positiva, todavia, durante o exame visual da amamentação, 100% da amostra apresentou característica de normalidade da pega, tal como movimentos da língua do bebê ao fazer a compressão do seio para extração do leite materno.
Na análise sobre a fixação do frênulo na face sublingual da língua, verifica-se, no gráfico 5, que 62.5% não puderam ser avaliados, pois os mesmos estavam recobertos por cortina de mucosa, 31.3% no terço médio, 6.2% entre o terço médio e o ápice e nenhum no ápice.
Gráfico 5– Fixação do frênulo na face sublingual da língua.
Fonte: Autoras, 2023.
Quanto ao posicionamento da língua durante o choro, 93.8% apresentaram-se de forma arredondada, e 6.2% com ligeira fenda no ápice ou em formato de coração.
A forma da língua, quando elevada durante o choro, influencia o movimento desta durante a sucção não nutritiva, e o ponto de fixação do frênulo na língua influencia o ritmo da sucção durante a amamentação (MARTINELLI, 2013).
O gráfico 6, ilustra os valores obtidos na relação do posicionamento da língua durante o choro. Nele 68.8% foram registrados na linha média, 12.5% para a língua elevada, 12,5% para língua baixa e apenas 6.2% para língua na linha média com elevação nas laterais. Este resultado aponta que não foi encontrada anquiloglossia na maioria dos bebês avaliados, tendo a posição e anatomia da língua adequadas para a vedação do seio materno e atividades normais da língua.
Gráfico 6 – Posicionamento da língua durante o choro.
Fonte: Autoras, 2023.
Lima et al. (2018) apresentou em seu estudo 20 crianças com diagnóstico de anquiloglossia, (60%) pertenciam ao gênero feminino, enquanto (40%) ao gênero masculino. Em relação ao histórico familiar, 50% dos recém-nascidos que receberam diagnóstico de anquiloglossia possuíam algum membro na família com alteração no frênulo lingual. Na presente pesquisa (12,5%) das crianças que possuíam anquiloglossia são do gênero feminino, com histórico familiar de um ou mais parentes com algum tipo de alteração no frênulo lingual. Este mesmo perfil foi verificado na pesquisa atual, como ilustrado no gráfico abaixo (7):
Gráfico 7– Representativo de quais membros da família possuíram alteração no frênulo lingual.
Fonte: Autoras, 2023.
4 DISCUSSÃO
Notou-se que o conhecimento das mães que participaram da referida pesquisa era de grande escassez, esta desinformação sobre o tema: Anquiloglossia pode estar associada a falta de informação sobre o assunto nas mídias do próprio governo, na orientação das gestantes e dentro das unidades de saúde.
A grande maioria das mães que participaram da pesquisa associava a pega inadequada ou fissura mamilar apenas como uma dificuldade durante a amamentação e não como sendo causada pela língua presa. O reflexo de sucção deve manifestar-se logo ao nascimento prolongando-se até os dois meses de idade, contanto a amamentação é um processo que se estende bastante durante os primeiros anos de vida da criança (PROCÓPIO et al., 2017), já a Organização Mundial de Saúde preconiza que o aleitamento materno ao lactente seja exclusivo até os seis meses de idade e complementar a dois anos ou mais de idade (BRASIL, 2014).
Mesmo sendo de conhecimento das mães sobre a importância da amamentação exclusiva até os seis meses de idade foi avaliado que (37,5%) das crianças fizeram o uso de amamentação mista, e (12,5%) fizeram o uso de amamentação artificial nos primeiro seis meses de vida, elevando assim a caracterização de uma amamentação não nutritiva.
A sucção é classificada em dois tipos: sucção nutritiva, onde se obtém nutrientes por meio da amamentação, e sucção não nutritiva, que proporciona à criança a sensação de aquecimento e proteção, o mesmo é feito através de dedos, madeira e/ou chupetas (SANTOS et. al., 2009 apud DA ROCHA & GONÇALVES, 2019).
Em 2018 Almeida, destaca a importância da movimentação da língua no ato de sugar e deglutir, bem como para execução de funções relacionadas ao sistema estomatognático em seu funcionamento normal para o aleitamento em seio materno, e quando da ocorrência de seu funcionamento anormal, podem aparecer efeitos nocivos a saúde da criança, como má nutrição, comprometimento da fala, entre outros, se não for tratada de forma precoce.
4.1 Anquiloglossia versus a amamentação.
Quando os arcos faríngeos se encontram na linha média, onde surgem a protuberância lingual lateral, inicia-se a formação da língua na quarta semana gestacional do feto. As protuberâncias linguais laterais crescem rapidamente e se encontram umas com as outras juntamente com o tubérculo ímpar criando assim uma massa na qual a mucosa dos dois terços da língua anterior é formada. Com a formação da base da língua, ocorre a apoptose e reabsorção do músculo esquelético em desenvolvimento na região anterior ventral, onde normalmente ocorre a formação do frênulo lingual, que se dá devido a uma faixa fina de tecido que se mantém como o único elo de ligação, gerando a anquiloglossia de inserção anteriorizada do freio lingual, mais larga ou encurtada (PROCÓPIO et al., 2017).
Oliveira et al. (2019) afirma que embora o assunto sobre a anquiloglossia seja controverso na literatura, muitos autores apontam a mesma como um fato prejudicial ao aleitamento materno, isso acontece devido a limitação do movimento da língua, gerando um selamento ineficaz da boca do bebê junto ao seio da mãe ocasionando assim a ineficácia da transferência adequada do leite materno ao bebê.
Podemos notar através de evidências em exames de imagens de ultrassom que a anquiloglossia impede o movimento correto de sucção, impedindo a extração do leite no mamilo, para que essa sucção ocorra de forma correta a língua deve subir em direção ao palato para criar um vácuo, no momento em que a língua abaixa, o vácuo aumenta gerando uma expansão no mamilo liberando o leite para cavidade oral (MELO et al.,2011), visto que bebês com anquiloglossia não conseguem a eficácia deste movimento sendo limitado pelo frênulo lingual .
Nos primeiros dias de vida do lactente, verifica-se pela literatura, uma associação entre a anquiloglossia e a queixa de sensibilidade da mãe e dificuldade de sucção do recém-nascido, sendo portanto, um fator de risco para o sucesso da amamentação. A sucção do recém-nascido é mais rápida/mais superficial e com as bochechas contraídas. O que acaba ocasionando dor, fissuras, desconforto materno impedindo a liberação de ocitocina, hormônio fundamental para a amamentação (MARTINELLI et al., 2013).
O papel do aleitamento natural se faz de extrema importância, pois o mesmo tem a função na maturação da musculatura perioral, no desenvolvimento apropriado da respiração, deglutição e logo depois a oclusão. Diante disso, a dificuldade ao amamentar o recém-nascido pode prejudicar seu correto desenvolvimento do sistema estomatognático (OLIVEIRA et. al., 2019).
Visto que a relevância de uma intervenção odontológica para com os casos de anquiloglossia pode favorecer um melhor desempenho da língua, não prejudicando as inúmeras funções desta estrutura. No desenvolvimento do tratamento, é fundamental o procedimento cirúrgico, com o objetivo de uma melhor flexibilidade lingual, aliado ao tratamento fonoaudiológico objetivando o restabelecimento da fonação e fisiologia normal de deglutição, com isso, otimizando o aleitamento materno. (GOMES, 2021).
4.1.1 FALTA DE UMA PADRONIZAÇÃO ENQUANTO A APLICAÇÃO DO MÉTODO DE AVALIAÇÃO DA ANQUILOGLOSSIA X CONHECIMENTO DAS MÃES.
Apesar da Coordenação de Saúde da Criança e Aleitamento Materno recomendar a utilização do Protocolo Bristol (Bristol Tongue Assessment Tool). A lei não regula um protocolo obrigatório e nem cita por qual profissional deve ser feito o correto diagnóstico da anquiloglossia. Na literatura, foram encontradas divergências de opiniões quanto às consequências de um frênulo alterado, bem como quanto à necessidade de intervenção cirúrgica. A frenotomia, também conhecida como “pique na língua”, ainda é motivo de grande discussão quanto a sua indicação, quando deve ser realizada e qual profissional estaria habilitado para realizar o procedimento (MARTINELLI et al., 2013).
A existência de um protocolo consistente pode diminuir o número de controvérsias relacionadas às possíveis alterações do frênulo da língua e suas interferências nas funções orofaciais.
Em um estudo que avaliou o conhecimento de profissionais da área de saúde, sobre o diagnóstico e conduta clínica para o tratamento da anquiloglossia em bebês, Pinto et,. al (2019) constataram que houve pouca adesão dos profissionais de saúde com respeito à pesquisa, haja vista que de 84 selecionados no início da pesquisa somente 21 profissionais devolveram os questionários respondidos, podendo fazer uma inferência que a pouca adesão pode estar associada ao desconhecimento dos mesmos a respeito do assunto, gerando insegurança e desinteresse para o preenchimento do questionário, outro ponto de questionamento seria a abordagem ministrada deste tema, durante o curso de graduação nas diferentes áreas da saúde, podendo gerar um conteúdo teórico e prático insuficiente para aplicação na atividade profissional, especialmente nas Unidades Básicas de Saúde.
Embora, o dentista atue na cavidade bucal essencialmente, sendo, portanto, um dos profissionais que poderia realizar tanto o diagnóstico como determinar o tratamento da anquiloglossia, em 2018, houve um posicionamento oficial da odontologia solicitando a revogação da Lei de triagem neonatal da anquiloglossia (FIDALGO, 2022). A Associação Brasileira de Odontopediatria se posiciona oficialmente contrária à obrigatoriedade de aplicação do “Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua em Bebês” (Teste da Linguinha) na triagem neonatal e, no atual estágio de conhecimento científico sobre o tema, considera prudente restringir a avaliação da possível interferência do freio lingual na amamentação aos casos individuais em que seja constatada dificuldade de amamentação nas primeiras semanas de vida, já fora da maternidade. Sendo considerada somente em caso de evidência de que a anquiloglossia seja a causa da dificuldade de amamentação (ABO, 2021).
Deste modo, é sugerido que as lactantes sejam acompanhadas por pediatras, odontopediatras e enfermeiros neonatais que estimulem a prática do AM e sejam habilidosos e capacitados em diagnosticar onde existe a limitação/dificuldade de maneira correta, tornando-se um momento satisfatório e salutar para ao binômio mãe-bebê.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a investigação literária, embora exista uma tendência de associação entre a anquiloglossia e as dificuldades no aleitamento materno, fica claro a necessidade de mais estudos clínicos e maior padronização dos instrumentos metodológicos avaliativos para melhorar as evidências nas futuras pesquisas.
O diagnóstico precoce precisa de profissionais capacitados e habilidosos para que o “teste da linguinha” não promova intervenções cirúrgicas desnecessárias. Fica clara a necessidade de uma avaliação detalhada onde a função predomine sobre a anatomia, onde a mãe seja esclarecida e compreenda o real motivo desta avaliação e suas possíveis implicações no desenvolvimento da criança.
Ao final desta pesquisa, apesar de uma amostra pequena, fica nítido a necessidade de mais estudos clínicos que acompanhem as crianças diagnosticadas para esse procedimento por um maior período de tempo, antes da efetiva intervenção cirúrgica, além da necessidade de intensificar a discussão deste tema durante as consultas de pré-natal e acompanhamento puerperal pode proporcionar a redução de desmame precoce com introdução de amamentação mista ou artificial ainda nas primeiras semanas de vida, evitando assim, consequências para a saúde geral da mãe e do bebê. (MELO, 2021).
ANKYLOGLOSSIA: Knowledge of mothers and possible consequences for the first months of the baby’s life
ABSTRACT
Ankyloglossia, commonly known as “tongue-tie,” is a congenital anomaly that affects the normal movement of the tongue, resulting in difficulties with breastfeeding, swallowing, and speech. Therefore, the purpose of this cross-sectional study was to evaluate mothers’ level of knowledge about the condition and analyze the lingual frenum structures of infants and their functionality during breastfeeding. The sample initially consisted of 40 individuals, but after the initial lecture, three mothers refused to participate, and one was excluded based on the exclusion criterion (complete prenatal care at Renato Medeiros Health Unit), reducing the sample to 16 mother-infant pairs. Following the mother’s interview, an assessment of breastfeeding offered within the health center was conducted, along with a clinical examination of the infants. It was found that 100% of the children underwent a “tongue-tie test” before discharge from the hospital, as required by law, but none of the mothers could explain the purpose of the test or the consequences for the mother-infant pair in cases of ankyloglossia. Additionally, a significant portion of the sample (62.5%) had a mucosal curtain covering the lingual frenum, which prevented the application of the test methodology. Among the children who underwent the complete test (33%), despite presenting anatomical characteristics of ankyloglossia, their results were below the threshold value for lingual frenum surgery, confirming the importance of functionality over anatomy. It can be concluded that a greater emphasis on ankyloglossia and its consequences is necessary during prenatal care and gestational groups, to ensure that mothers understand the importance of early intervention for this condition. However, this requires trained and skilled professionals to avoid premature interventions.
Keywords: Ankyloglossia. Knowledge. Lingual Frenum. Breastfeeding.
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1 Acadêmica de Odontologia. E-mail: catilaneres@hotmail.com.
2 Acadêmica de Odontologia. E-mail: jenni.belo@hotmail.com.
3 Orientadora, Doutora em Odontopediatria, Professora do curso de Odontologia da UNIRON, E-mail: mfbijella@hotmail.com.,
4 5 6 7 8 Professor do curso de odontologia da Uniron