RELATO DE EXPERIÊNCIA: PROGRAMA PRIMEIRA DOAÇÃO DE SANGUE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7996192


Lia Medeiros Praia1
Margareth Rodrigues da Silva Gato2


Resumo

Este trabalho foi elaborado com base nas experiências vivenciadas com estudantes de 16 a 18 anos de idade das seguintes escolas: Sollon de Lucena; Angelo Ramazzotti; Colégio Dom Pedro II; Escola Estadual Francisco Albuquerque; Alice Salerno; Manuel S. Nunes; Adelaide T. Macedo; Maria Amélia do Espírito Santo e Maria Rodrigues. Onde foram realizadas sensibilizações através de palestras para que esse público tivesse adesão a primeira doação de sangue. Nesse sentido, busca-se descrever sobre a importância da ampliação de novos doadores das escolas de ensino médio, bem como relatar os momentos que se  seguiram para a execução do programa.

Palavras-chave: doação de sangue; estudantes; captação de doadores; programa.

Introdução

Através  de um relato de experiência, pretende-se abordar sobre o trabalho das assistentes sociais do setor de Captação e Coleta Externa da Fundação Hemoam na busca de parcerias com as Escolas de Ensino Médio, tendo por finalidade ampliar o número número de doadores na cidade de Manaus, as bolsas de sangue coletadas, assim como promover de forma pedagógica a cultura altruísta da doação de sangue.

Segundo o Brasil (2016) a visão a respeito da doação de sangue é cercada por mitos e medos sem fundamentos, como por exemplo, medo de agulha, sangue engrossar após a realização da doação e, com isso acaba por ser disseminado os mais variados medos que variam dependendo do gênero, religião, escolaridade e outros fatores.

O programa primeira doação integra-se nas atividades do setor de Captação/Coleta Externa com o intuito de preparar a sociedade para a responsabilidade social na causa da doação de sangue e a FHEMOAM, que é o único banco de sangue do Estado, precisará estar com o estoque de sangue pronto para atender a qualquer pessoa que dele necessitar. Dessa forma, o programa primeira doação amplia a parceria com as escolas secundárias em prol de uma cultura de doação de sangue altruísta. 

Destaca-se que no interior da esfera educacional, os alunos de ensino médio, não estavam como destaque das coletas externas já que necessitavam estar acompanhados de seus responsáveis, ou seja, de um preparo mais delicado para firmar coletas. No entanto, é requerido que sejam convocados perante a esse ato de responsabilidade social e, as instituições de ensino médio são potenciais colaboradores e multiplicadores na formação de uma nova cultura de doação de sangue.

Dessa forma, objetiva-se com o projeto a formalização de parcerias com as instituições de ensino médio, na cidade de Manaus-AM. Tendo em vista a busca da institucionalização, elaboração de uma agenda no ensino médio para o dia da Primeira Doação, bem como a ampliação do número de doadores cadastrados e de repetição entre o público alvo de 16 a 18 anos.

Métodos

O presente estudo trata-se de um relato de experiência com base na vivência da acadêmica do curso de graduação em Serviço Social pela UFAM na Fundação Hemoam. A vivência teve duração de 4 meses, realizada no segundo semestre do ano de 2022, durante as atividades desenvolvidas no setor de captação juntamente com a coleta externa. E no decorrer desse período, o programa foi realizado em 9 escolas seguindo a seguinte ordem: Sollon de Lucena; Angelo Ramazzotti; Colégio Dom Pedro II; Escola Estadual Francisco Albuquerque; Alice Salerno; Manuel S. Nunes; Adelaide T. Macedo; Maria Amélia do Espírito Santo e Maria Rodrigues.

Destacando que a doação de sangue no Brasil é um ato voluntário, conforme disposto na Constituição da República e na Portaria n. 158 (Diário Oficial da União 2016; 04 fev) que estabelece que não é admitido qualquer tipo de remuneração para a doação. A doação altruísta é, assim, a fonte de matéria-prima das unidades hemoterápicas.

Com a finalidade de melhor entendimento sobre as etapas do projeto, a abordagem teórico-metodológica será dividida em três dimensões de análise que estão fundamentadas nos objetivos, são elas: aumentar o número de doadores cadastrados e de repetição entre o público alvo, 16 a 18 anos. Para cada perspectiva serão apresentados os recursos metodológicos que serão utilizados em cada momento de realização do projeto.

1- Sensibilizar os doadores adolescentes. A importância da doação de sangue está na necessidade de fortalecer a doação de sangue como sendo uma prática de responsabilidade social, que cabe a todos.

2- Elaborar uma agenda de doação de sangue com as Escolas Secundaristas  da cidade de Manaus.

3- Ampliar o número de doadores cadastrados e de repetição entre o público alvo ( adolescentes de 16 a 18 anos).

A parceria entre as Escolas do Estado e o Hemoam irá resultar na elevação do estoque de sangue ou mesmo na sua manutenção, em especial para os meses de maior insuficiência, janeiro, junho e dezembro, devido ao calendário escolar do estado que por vezes retorna ao período letivo em datas diferenciadas. E a atividade com o público em questão também aumentará a busca de uma cultura diferenciada de doação de sangue na medida que tem como foco principal jovens do ensino médio, o que abarca a uma parcela dos alunos na faixa etária a partir de 16 anos. Segundo Ownby et al. 30 relatam que a idade e o nível de educação são os indicadores mais fortes da alta frequência de doações e do retorno mais rápido. Citam, ainda, que a relação entre a causa do intervalo das doações e os futuros doadores pode comprovar a importância de compreender as razões das pessoas para retornar, possibilitando o desenvolvimento do recrutamento dos doadores e a estratégia de retenção.

A partir desse pensamento seguiu-se uma ordem de momentos para a elaboração e execução do programa. No primeiro momento as assistentes sociais do setor de captação juntamente com a coleta externa da Fundação Hemoam realizaram diversas reuniões para discutir sobre a elaboração do projeto, com o objetivo de definir a temática a ser abordada, estratégias, mecanismos, materiais e também o público alvo do projeto em questão.  

Já no segundo momento foi realizada uma reunião com a equipe (tanto assistentes sociais como estagiárias) para apresentar o projeto e definir certos pontos a serem ainda avaliados pela equipe. Apresentado, no entanto,o levantamento das escolas para a elaboração do cronograma bem como a definição do público alvo que, no caso, são os  adolescentes entre 16 a 18 anos de idade.

No terceiro momento, já com o projeto definido, seguiu-se para a etapa da elaboração dos materiais, onde foram pensados para melhor transmitir o assunto a ser abordado, como também buscando atrair a atenção do público alvo em questão. Os materiais pensados e elaborados foram: a construção de slides para transmissão de forma explicativa e didática do assunto; banner nas áreas das escolas por uma semana antes da coleta e nas palestras; folders utilizados nas atividades de divulgação e no dia da doação de sangue; notebook para a apresentação do conteúdo; projetor multimídia; dinâmica com perguntas feitas aos estudantes para descontrair e gravar o conteúdo apresentado; entrega de brindes com a finalidade de marcar o momento;; impressora laser portátil multifuncional para o desenvolvimento das lista; pen drive; máquina fotográfica.

O quarto momento diz respeito à execução do projeto em si, realizado em data e horários previstos, onde foi feita de início a sensibilização com os estudantes assim como posteriormente houve a realização da coleta com os mesmos.

Por fim, o quinto e último momento diz respeito à elaboração do relatório parcial dos resultados obtidos do Programa Primeira Doação.

Resultados e Discussões

Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 1,6% da população brasileira são doadores de sangue, porém, com o surgimento da pandemia houve uma diminuição dos doadores, afetando-se no atendimento dos hospitais, cirurgias etc. Então para atrair novos doadores, Martins. et al (2021) diz que é preciso realizar campanhas e estratégias para visibilidade do problema e a disseminação das informações, juntamente com o Ministério da Saúde, o que às vezes podem não resultar em um aumento no número ou na fidelização de doadores.

O programa tem como propósito intervir sobre essa realidade e contribuir para ampliação, fidelização de doadores de ensino médio com a idade de 16 a 18 anos através da disseminação de informações acerca das dúvidas que giram em torno do processo da doação de sangue. A respeito do assunto apresentado, fez-se destaque sobre os seguintes pontos: 

1. A Fundação Hemoam, pois é caracterizada por se o único Hemocentro do Estado do Amazonas, a atender os 61 município adjacentes, e abastece tanto hospitais públicos, quanto privados; 

2. A importância de doar sangue, pois uma única doação pode salvar até 4 vidas e, isso é possível porque o sangue é separado em 4 componentes, sendo eles: crioprecipitado, hemácias, plaquetas e plasmas; 

3. Ser um ato de amor e solidariedade para com o próximo; 

4. Critérios para doar sangue, pois é necessário que o doador esteja em boas condições de saúde, ter idade entre 16 a 69 anos, pesar mais de 50 quilos e está bem alimentado e ter dormido bem na noite anterior à doação; 

5. Os intervalos entre doações, onde homens podem doar a cada 2 meses e mulheres a cada 3 meses;   

6. Os impedimentos temporários (fumar, bebida alcoólica, tatuagem,piercing, resfriado, viagem, vacina, gravidez) entre outros; 

7. Os impedimentos definitivos (câncer, transplantados, HIV, diabetes etc; 

8. Mitos e verdades que observamos no campo de estágio referente  a doação de sangue,  por exemplo:doar sangue engorda? Ou doar sangue emagrece? Engrossa ou afina o sangue?Doar sangue dá coceira? É viciante? Causa doenças? Doar sangue salva vidas? É um ato de solidariedade? Doar sangue salva quem? ganha lanche? Doar sangue é gratuito?; 

9. Cuidados de pós-doação,pois é necessário cuidado e, não carregar peso nas primeiras horas,  não realizar atividade física no dia da doação, beber muito líquido entre outros;

10. Benefícios de doar sangue, como: meia entrada em cinema e shows, inscrição em concursos isentos, e também quem realizar a doação tem uma folga prevista na CLT, além de realizar exames de sangue e ser acompanhado por um médico. E a partir da terceira doação, pode adquirir a carteirinha do doador, quanto mais doar sangue, as carteirinhas vão mudando de cor, como rosa e azul, prata, ouro e por fim diamante.

O profissional de Serviço Social deve utilizar, segundo Vasconcelos (1997), prática reflexiva possibilitando ao usuário a análise e desvendamento da situação vivenciada pelo mesmo por meio de reflexões estimuladas pelo assistente social, de forma que o usuário consiga captar, na medida do possível, o movimento da realidade social e, consequentemente, participar do processo de transformação dessa realidade enquanto ser histórico. Esse processo deve ser coletivo, em grupo, pois possibilita a troca de experiência entre os sujeitos. Do mesmo modo, Mioto (2006) fala que a atuação profissional do assistente social na saúde se estrutura sustentada no conhecimento da realidade e dos sujeitos para os quais são destinados, na definição dos objetivos, na escolha de abordagens e dos instrumentos apropriados às abordagens definidas. A ação profissional, portanto, contém os fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos construídos pela profissão em determinado momento histórico e os procedimentos técnico-operativos.

Partindo dessas sinalizações, ao fim da sensibilização foi realizada uma dinâmica com a participação dos estudantes. E essa dinâmica consistia em responder perguntas referentes a doação de sangue, sendo que o primeiro que respondesse corretamente a pergunta ganharia um brinde.

Destaca-se que a doação de sangue no Brasil é um ato voluntário, conforme disposto na Constituição da República e na Portaria n. 158 (Diário Oficial da União 2016; 04 fev) que estabelece que não é admitido qualquer tipo de remuneração para a doação. A doação altruísta é, assim, a fonte de matéria-prima das unidades hemoterápicas.

Após as sensibilizações feitas com os estudantes, foi marcado uma data onde ocorreria a coleta de sangue dos mesmos e, conforme o quantitativo, as coletas variaram entre externas como internas. E em algumas das escolas que foram realizadas as  palestras e coletas se obteve bons resultados, pois os estudantes perceberam a importância da doação e dessa forma fizeram suas doações de sangue de forma altruísta e solidária. 

Conclusão 

No Amazonas o sangue que abastece as emergências e urgências do setor público e privado da capital e do interior provêm da Fundação Hemoam, no qual, a sua finalidade é garantir sangue, prestando assistência à saúde e mantendo a vida do usuário com qualidade e dignidade.

Diante dessa realidade é preciso potencializar a pedagogia da doação de sangue, como uma ação de responsabilidade social, na contramão das imagens míticas e crenças que permeiam o ato da doação tais como: doar sangue engrossa ou afina o sangue, trás dependência, entre outras. Assim como é necessário combater a visão da troca. Dessa forma, a partir da experiência acerca do programa Primeira Doação feita com estudantes de ensino médio entre a idade de 16 a 18 anos, mostrou ser um programa de grande potencial e que deve continuar a ser executado continuamente tanto nas escolas que o programa foi iniciado como também procurar atingir outras novas para que assim, possa fazer com que cresça o número de doadores de repetição assim como ganhar novos doadores de primeira vez. 

Destarte, o desafio encontra-se em não apenas em sensibilizar da forma mais atrativa esse público adolescente para que este entenda desde cedo que a doação de sangue é responsabilidade de todos nós, assim como também fazer com que os mesmo procurem ser doadores regulares para que dessa forma possa se eleve a quantidade de bolsas de sangue. Nesse sentido, o trabalho realizado através das assistentes sociais juntamente com as estagiárias não deve parar e sim, a cada dia buscar novas ferramentas e estratégias para conseguir atrair a atenção desse público alvo, tendo em vista a nossa missão de garantir sangue e assistência com qualidade para salvar vidas.

Por fim,  essa  experiência  foi  de grande valia para a formação acadêmica, visto que  foi  possível  perceber  o  importante  papel  a  ser desempenhado  por  ela  e  um  futuro  muito  próximo quando ingressar no mercado de trabalho.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer (Internet]. Rio de Janeiro: INCA; c2016
[citado 2016 Fev 16]. Disponível em: http:http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?i=322.

BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria n° 158, de 4 de fevereiro de 2016. ( diário oficial da união). https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/prt0158_04_02_2016.html

HEMOAM. Fundação Hospitalar de Hemoterapia e Hematologia do Amazonas. Disponível em: https://www.hemoam.am.gov.br/. Acesso em: Maio de 2023.

LABOISSIÈRE, Paula. Agência Brasil. Publicado em 14 de junho, 2018. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2018-06/pelo-menos-16-da-populacao-brasileira-doa-sangue-jovens-sao-maioria

MARTINS, Vidigal Fernandes. Doação de sangue no Brasil: uma abordagem histórica. E-Locução/ Revista Cientifica da FAEX, 2021, p. 436-460. Disponível em:   https://periodicos.faex.edu.br/index.php/e-Locuca/article/view/402.  Acesso em 5 de maio 2023. 

MIOTO. Regina Célia Tamaso; NOGUEIRA, Vera Maria Ribeiro. Sistematização, Planejamento e Avaliação das Ações dos Assistentes Sociais no Campo da Saúde. In: MOTA, A. E.; BRAVO, M. I

S.; UCHOA, R.; NOGUEIRA, V.; MARSIGLIA, R.; GOMES, L.; TEIXEIRA, M. (Org.). Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006.

Ownby HE, Kong F, Watanabe K, Tu Y, Nass CC. Analysis of donor return behavior. Retrovirus Epidemiology Donor Study. Transfusion 1999; 39: 1128-35.

VASCONCELOS, Ana Maria de. Serviço Social e Prática Reflexiva. In: Em Pauta – Revista de Serviço Social da UERJ, Rio de Janeiro, n. 1, UERJ, 1993.


1Discente
2Assistente Social