REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7967615
Adler Henrique Rodrigues Alves¹;
Antonio Vasconcelos Nogueira Neto²;
Israel Hidemburgo Aniceto Cintra³;
Iurick Saraiva Costa4
Resumo
O Farfante penaeus subtilis (Pérez-Farfante, 1967), conhecido vulgarmente como camarão rosa é uma espécie amplamente capturada na região norte do Brasil, e sua captura é destaque na frota industrial de arrasto de fundo. A área de captura do camarão rosa na costa norte vai da foz do rio Parnaíba (PI) até a fronteira do estado do Amapá com a Guina Francesa. Este estudo apresenta uma análise da série temporal, entre os anos 2000 até 2004, da abundância relativa do camarão rosa e suas relações ecológicas com o ambiente (físico e ambiental). No trabalho foram utilizadas técnicas de sensoriamento remoto e Sistema de Informação Geográfica. A partir da metodologia aplicada foi possível mapear a distribuição espacial e abundância do camarão rosa na plataforma continental amazônica. A base de dados forneceu observações de 8383,57 horas de arrasto, viagens com produção total de 39,991 toneladas e média de 5.683 kg/hora. A distribuição espacial dos parâmetros analisados e da abundância relativa do camarão rosa mostram que as zonas de maior captura se encontram a noroeste da plataforma, em frente à costa do Amapá, na faixa onde o substrato é de areia lamosa com declividade moderada na direção Nordeste. Essa zona principal de captura ocorre na borda do eixo de fluxo principal da Corrente Norte do Brasil e é máxima quando a pluma do Amazonas atinge a área.
Palavra-chave: Pesca industrial, Pesca de arrasto de fundo, pluma do Amazonas, sensoriamento remoto.
Introdução
Os camarões são crustáceos de fundamental importância para o sustento da pescaria em várias regiões tropicais e subtropicais pelo mundo todo. Na região da costa norte brasileira, as principais espécies comercializadas são pertencentes a família Penaeidae. As principais espécies capturadas pela frota industrial camaroneira, comercialmente denominadas camarão-rosa, são o Farfante penaeus subtilis (Pérez Farfante, 1967) e Penaeus brasiliensis Latreille, 1817, com absoluta predominância da primeira (CINTRA; ARAGÃO; SILVA, 2004; ARAGÃO, 2012).
O camarão rosa, possui distribuição geográfica entre o Mar do Caribe até a costa de Cabo Frio, Rio de Janeiro, Brasil. O P. subtilis é associado a fundos de areia, areia lamosa, areia com cascalho e calcário, lama, lama arenosa (D’INCAO, 1995; GARCIA et al., 1996; VALENTINI, 1991; COSTA et al., 2004; SANTOS et al., 2008). Sendo encontrado em profundidades de até 190 m e estando mais abundante em isóbatas de 90 m (HOLTHUIS, 1980; D´INCAO, 1995).
Observa-se que os seres vivos na natureza não possuem distribuição espacial de maneira aleatória, muito menos uniforme, no entanto, os mesmos possuem agregações em remendos e outros tipos de estruturas espaciais (LEGENDRE e FORTIN, 1989). Essas estruturas espaciais são de suma importância, devido ao fato de sua presença indica que há processos em andamento (LEGENDRE, 1998; FORTIN e DALE 2005). A variação das condições ambientais podem ser um dos fatores responsáveis pela distribuição espacial das espécies (WHITTAKER, 1956; BRAY e CURTIS, 1957). Assim, tornasse importante o estudo do camarão rosa, devido a pouco conhecimento do comportamento geoespacial do espécime na plataforma continental amazônica.
Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) podem ser definidos como tecnologias e métodos de análise de fenômenos georreferenciados, e a partir do SIG, é possível compreender seus padrões e tendências quando ocorrem na superfície do planeta em variadas escalas, sendo uma ferramenta multidisciplinar importante para análise de dados geográficos (BAKER e WHITE, 2003). Ressaltando, qualquer evento ocorre em algum lugar do espaço, e seus padrões podem ser analisados, afim de mapeamento puro (saber onde ele ocorre), ou até, tentando prever acontecimentos futuros do mesmo evento
Material e Métodos
A área de pesca de camarão-rosa fica localizada na costa norte do Brasil, especificamente a área de pesca percorre faixas dos estados do Amapá, Pará e Maranhão. Nas regiões (1) e (2) variando entre as latitudes 4°3’ a norte e 2°50’ a sul e suas longitudes variam entre 41°00’e 53°30’ a oeste de Greenwich.
Figura 01 – Mapa apresentando a localização da área de coleta de dados para o estudo.
Os dados utilizados foram fornecidos pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Norte (CEPNOR), Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), em formato de planilha de texto, contendo informações da espécie alvo, quantidade total desembarcada (todas as espécies), quantidade total de camarão desembarcada, tipo de embarcação, data do início do arrasto, data do fim do arrasto, latitude e longitude inicial, latitude e longitude final, tempo de arrasto, Pesqueiro e profundidade do arrasto. Referentes ao camarão rosa pescado nas áreas (1) e (2) da Figura 01.
Os dados fornecidos pelo CEPNOR possuem um intervalo temporal entre os anos2000 a 2004 e serão utilizados para delimitar área de estudo e ocorrência do P. subtilis, onde os mesmos foram filtrados devido a ocorrência demasiada de dados repetidos, ressaltando que apenas os dados do CEPNOR continham repetição nas suas linhas, onde inicialmente a planilha continha 237.346 linhas, após a filtragem restaram 2200 linhas(lances de pescas) e também foi corrigido os erros topológicos referentes as latitudes e longitudes da planilha, para que os mesmos tenham mesmas características topológicas, assim sendo possível adicionar em um ambiente SIG.
Após serem adicionados no ambiente SIG, a partir da exportação de coordenadas por texto delimitado, os dados apresentaram características pontuais, os mesmos, são sobre quando a embarcação começou a captura o espécime alvo, para delimitar a área de captura do espécime foi feito um buffer para cada ponto referente a captura, onde a distância partiu do pressuposto que as embarcações viajam a 2 nós (aproximadamente3.7km/h) quando estão pescando. Então, a distância do buffer foi estimada a partir da média das horas de pescaria vezes a velocidade de viagem do barco, partindo também do pressuposto que a embarcação teoricamente poderia ir para qualquer direção, as horas médias de duração da pescaria foram de 4.7 horas, depois do buffer, foi modelada a forma final da área de ocorrência a partir do editor de arquivos vetoriais para dá continuidade as feições que saíram pouco uniformes ou descontinuas.
Logo após, sucedeu uma interpolação dos dados pelo índice inverso da potência das distâncias-IDW, para indicar as áreas com maior volume de captura do espécime no intervalo de 2000 a 20004, o shapefile da área de estudo foi o que delimitou a região de interesse do índice, ressaltando que esse tipo de índice tem por finalidade a reconstrução automática de superfícies a partir de coordenadas X e Y. Para Bartier e Keller (1996)
O eixo Z é o ponto a ser estimado, neste caso, a produtividade do camarão, considerado o raio ou número de pontos como influência para a superfície mapeada, foi escolhido 12 pontos como área de influência para o índice. A técnica utilizada foi univariada, assumindo que a superfície é contínua. Sendo assim, a mesma não permite variações abruptas na superfície de estudo. Ou seja, um único peso contra a superfície, neste caso o eixo Z (produção de camarão). Essa metodologia permite o cientista um grau de ajuste da superfície pelo cruzamento de um polígono a partir dos eixos X e Y.
Os dados foram organizados e interpretados através do conjunto de técnicas estatísticas chamadas análises descritivas ou exploratórias. Para descrever a dinâmica da pesca do camarão rosa na plataforma continental e obter as informações sobre o desenvolvimento da produção e o esforço pesqueiro. Buscando compreender o rendimento pesqueiro, utilizou-se A Captura por Unidade de Esforço (CPUE) como o índice de produtividade dos recursos; onde a CPUE é a razão entre o somatório das capturas pelo somatório dos esforços de pesca.
A fim de verificar a ocorrência de diferenças significativas entre as CPUEs médias dos períodos, os dados foram testados para normalidade e homocedasticidade das variâncias por mês, sendo estas as premissas para a utilização da Anova, utilizou-seaAnálise de Variâncias (Anova) unifatorial (α = 0,05). Quando a Anova indicou diferenças significativas, aplicou-se o teste a posteriori de Tukey para indicar em quais períodos ocorreram essas diferenças significativas. As análises estatísticas foram realizadas através do programa Past (Hammer et al., 2001).
Resultados e discussão
A Figura 2 apresenta a distribuição dos bancos camaroeiros, em kg/tempo de arrasto (h), observados da plataforma continental do Amazonas entre 2000 e 2004. É importante ressaltar que a maior concentração de dados fica disposto no banco entre o estado do Amapá e Pará, região que representa aproximadamente 97% de todos os dados disponíveis, além de concentrar as maiores taxas de captura. Neste banco, é possível observar a presença de bolsões com alta taxa de captura, variando de 16 a 70 kg/h de camarão. No centro do encontra-se a menor taxa de captura, onde a disposição de dados foi menor e a área evitada pelos pescadores, devido sua instabilidade geológica.
Figura 2 – Distribuição da Captura por Quilo (kg) de Camarão Rosa P. subtilis (Pérez Farfante, 1967) na Plataforma Continental Norte do Brasil. Dados Coletados no Intervalo Temporal Entre os Anos 2000 a 2004.
A partir das análises adquiridas entre os meses de janeiro de 2000 à dezembrode2004, fora observado os seguintes resultados; 8383,57 horas de arrasto, viagens comprodução total de 39,991 toneladas, com média 5.683 kg/hora de arrasto (DP=2,416). Para medir a relação entre a captura e o esforço realizou-se a correlação de Pearson. Acaptura apresentou correlação significativa com o tempo de arrasto (r² 0,53), conforme a Figura 3.
Figura 3: Gráfico da correlação de Pearson, entre a produção de camarão e as horas de arrasto.
A normalidade dos dados de CPUE foi indicada pelo teste de Shapiro-wilk (W=0,942; p < 0,05) e apresentou pela análise de variância (anova) diferenças significativas(p=0,05) dentre os 4 anos avaliados, e para complemento dessa análise, utilizou-se oTeste de Tukey (Diferença Honestamente Significativa – DHS), o qual indicou em quais períodos houve diferenças significativas (p < 0,05), constatou-se que a CPUE média do ano de 2004 (7,74 ± 2,08 kg/h) foi diferente estatisticamente dos anos de 2001 (4,23±1,53 kg/h arrasto) e 2002 (4,30 ± 1,59 kg/h arrasto), conforme a figura 4.
Figura 4: Cpue anual média do camarão rosa ao entre os anos de 2001 a 2004.
Observa-se ao longo da série temporal uma flutuação nos valores da captura pelo tempo de arrasto, os dados demonstraram períodos de pico, com maior captura no primeiro semestre do ano, sendo os meses de fevereiro e março de 2004, os queapresentaram maiores valores, respectivamente 10,17 kg/h e 09,71 kg/h, enquanto em novembro de 2001 e outubro de 2002 apresentaram os menores valores respectivos de2,07 kg/h e 2,43 kg/h (figura 4). A CPUE 2 submetida ao teste de Mann-kendall (p=0,0077) apresentou uma tendência de aumento estatisticamente significante. Observado valor crescente na CPUE anual indo de 4,23 kg/h (2001) para 7,74 kg/h no último ano.
Figura 5 – Captura Por Unidade De Esforço (Cpue-2) Do Camarão Rosa PenaeusSubtilis (Pérez Farfante, 1967) Na Costa Norte Do Brasil. Dados Coletados No Intervalo Temporal Entre Os Anos De 2000 A 2004.
CONCLUSÃO
Com base nos dados coletados entre janeiro de 2000 e dezembro de 2004, pode-se concluir que a plataforma continental do Amazonas, em particular a região entre os estados do Amapá e Pará, é uma área de alta concentração de camarões. A captura de camarão apresentou correlação significativa com o tempo de arrasto, indicando que o esforço de pesca tem um impacto direto na quantidade de camarões capturados.
Além disso, a análise da série temporal dos dados demonstrou flutuações nos valores da captura pelo tempo de arrasto, com períodos de pico observados no primeiro semestre do ano. O teste de Mann-Kendall também mostrou uma tendência de aumento estatisticamente significante na CPUE anual, sugerindo que a região pode ser considerada uma área de pesca sustentável.
No entanto, a análise de variância mostrou diferenças significativas entre os anos avaliados, com a CPUE média de 2004 sendo significativamente maior do que os anos de 2001 e 2002. Isso pode indicar uma necessidade de monitoramento contínuo da região para garantir a sustentabilidade da pesca.
Em resumo, os resultados indicam que a plataforma continental do Amazonas é uma área de pesca importante para a captura de camarões, com uma tendência de aumento na captura ao longo dos anos. No entanto, é importante monitorar continuamente a pesca na região para garantir sua sustentabilidade e evitar a sobrepesca.
Referencias
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