A PRAXE DA GESTÃO ESCOLAR NA ESCOLA ESPÍRITO SANTO II, CURUÁ – PARÁ

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7942825


Mauricio Alan de Freitas Cardoso


RESUMO

O presente artigo problematiza a gestão educacional aplicada na Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental da comunidade Espírito Santo, Curuá, Pará. Tem como objetivo principal analisar o trabalho da gestão e as dificuldades enfrentadas no seu dia a dia. A reflexão realizada neste trabalho também busca mostrar o gestor como impulsionador da democratização da educação. Ao longo da discussão, a problematização se aprofunda nos desafios de ser gestor dentro da realidade da escola. A linha de pesquisa utilizada foi a bibliográfica baseada na leitura e reflexão de textos que tratam do assunto.  Ao final, baseado na contribuição dos autores trabalhados, concluiu-se que o gestor tem um papel socialmente importante na expansão do ensino e na busca de novas possibilidades educativas para a escola e que para superar os desafios reais da gestão, sugere-se incorporar na sua prática uma administração democrática e uma relação mais efetiva e direta com os pais dos alunos.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão Educacional, Espaço Escolar, Gestor.

Introdução

Este trabalho evidencia de maneira qualitativa o trabalho da gestão escolar na Escola Espírito Santo II, Curuá, Pará. Tem como objetivo analisar minuciosamente, o trabalho da gestora frente à escola-lócus bem como diagnosticar os principais problemas que inviabilizam o trabalho da mesma.

A escolha da instituição deve-se ao fato da mesma estar inserida numa comunidade rural com uma distância significativa da sede municipal.

A escola é de pequeno porte, conforme padrões do Ministério da Educação (MEC), sua estrutura física (em madeira) contempla quatro salas de aulas anexadas aos demais compartimentos básicos como banheiros, cozinha e secretaria. Sua construção ocorreu no ano de 2010. E atualmente atende a uma clientela de 108 alunos da comunidade e outras comunidades próximas. Seu quadro funcional é constituído de 20 funcionários entre, professores, serventes, vigias, secretaria e a própria gestora.

O trabalho da gestora naquele estabelecimento assim como nos demais situados na zona rural exige um esforço maior no que diz respeito a aquisição de recursos materiais e apoio pedagógico advindos da Secretaria Municipal de Educação (SEMED), tais dificuldades não se deve apenas ao fato da sua localização como também pela pouca relevância dada às escolas situadas nos âmbito rural.

Com base nos relatos obtidos com a realização desta pesquisa poderemos analisar, ao longo do desenvolvimento teórico deste artigo, os percalços mais comuns vivenciados pela gestora no seu cotidiano escolar.

Para Santos (2008) A escola por meio de sua gestão, concretiza diretrizes emanadas pela política que estabelece parâmetros de ação e de forma dominante determina o tipo de homem/cidadão que deve ser formado. Nesse sentido, como também interpreta e subsidia todos os mecanismos que conduzem o processo de ensino.

Conforme Savane (1996), a gestão da educação é responsável por garantir a qualidade da educação entendida como um processo de medição que visa e constitui a formação dos cidadãos. Compreende-se nesse viés a educação como uma mediação que se realiza num contexto social e que refaz a partir do aprendiz e numa harmoniosa reciprocidade entre este e seu mediador.

A organização do trabalho na sociedade, segundo Fortuna (2008) por ser uma ação social e política gera práticas contraditórias, uma vez que serve tanto para organizar o trabalho de forma autoritária, quanto para fazê-lo de uma maneira democrática e participativa.

Para Paro (2000) a gestão educacional envolve um conjunto de ações que devem responder às necessidades educacionais e atender os interesses amplos de sua clientela levando em conta as especificidades do processo pedagógico escolar, contribuindo para a superação das necessidades sociais impostas pela forma na qual a sociedade se organiza.

Cabe a esta referência salientar sobre a relevância do que se ensina, partindo das finalidades de querer aprender e com quais objetivos estes saberes são passados. Todas essas decisões necessitam-se, portanto, muito bem pensadas e tomadas como as melhores dentre o existente, para que a formação que decorre da educação seja a melhor e a mais humana possível. Assim compreende-se a gestão como a coordenação de uma prática que concretiza uma linha de ação ou um plano que serve de orientação de um processo de mudanças a serem efetuados.

O trabalho do gestor envolve a infusão de atividades culturais, nas quais os envolvidos no processo educativo se sentem, eles próprios, responsabilizados e simultaneamente comprometidos na organização de um programa dinâmico de ensino.

A partir do conceito de gestão, percebe-se a sua importância em organizar, dirigi e administrar o trabalho como âmbito escolar. Garantindo uma educação comprometida com o domínio dos conteúdos que habitam ao mundo do trabalho, cidadãos comprometidos com a sabedoria de vida em sociedade, respeitando as diferenças, na construção do mundo mais justo e humano para todos, pois seu foco principal é a formação do indivíduo com valores e práticas construtivas.

Conforme Freitas (1998), por trás da figura do profissional gestor, que responde aos interesses da sua instituição, está um ser humano, constituído a partir da sua historicidade profissional acadêmica. Além disso, o gestor nunca poderá exercer apenas a função administrativa, pois deve ser em sua essência a figura de educador, equilibrando questões administrativas e pedagógicas.

Desenvolvimento

A praxe da gestão no espaço escolar

Nesse momento serão apresentados os resultados da pesquisa que teve como objetivo analisar o trabalho da gestora e as dificuldades enfrentadas no seu dia a dia.

Diante dos relatos obtidos constatou-se um grande empenho da gestão em amenizar os problemas mais evidentes naquele espaço, um deles é a ausência dos pais na escola além do descaso do principal órgão responsável pelo desenvolvimento da educação no município (SEMED), a falta de autonomia da gestão em relação a tomadas de decisões, uma vez que todos os acordos deverão ser aprovados pelo coordenador da Secretaria de Educação, além disso, ainda há falta de estrutura física para atender de forma satisfatória as necessidades dos alunos, sem contar no grau de instabilidade da mesma no exercício de sua função em virtude da intromissão de organismos políticos.

Escola e família: uma parceria que dá certo

Todos nós sabemos que para alcançarmos as metas almejadas no processo de aprendizagem dos nossos alunos é importante levar em conta o papel da escola contemporânea no que se trata do entérico afetivo, uma vez que os recursos necessários para uma boa gestão sempre leva em conta seus elementos essenciais como escola, participação dos funcionários, dos pais, dos alunos e da comunidade.

É importante que a família esteja presente na vida de seus filhos em todos os âmbitos e que se faz referência especial ao aspecto escolar. Essa participação direta da família traz uma influência positiva no rendimento e na qualidade dos conteúdos internalizados pelo discente.

Como em qualquer outro lugar, a escola é uma extensão da vida familiar, isso porque nesse espaço a relação afetiva dos alunos com o corpo administrativo e demais integrantes do quadro funcional refletirá na sua vida social posterior.

No decorrer da pesquisa, pouco se observou a presença dos pais naquele ambiente, e quando questionada sobre a relevância dos pais na vida escolar dos alunos esta foi taxativa ao afirmar que:

“Um bom diretor deve mobilizar e envolver a comunidade escolar no esforço de melhorar o ensino-aprendizagem de seus alunos. Tenho feito tudo que posso para buscar um do bom efetivo dessa parceria, no entanto, vejo pouco esforço dos pais em buscar a escola para confirmar essa parceria”.

Nas palavras da gestora observa-se interesse numa relação amigável e harmoniosa, porém ainda é pouco o tempo de sua gestão, espera-se que no decorrer dos meses essa aproximação seja paulatinamente alcançada.

Gestão Educacional e a presença da autonomia

É importante que as escolas e os professores tenham autonomia em suas decisões. A direção da escola, por sua vez, deve reunir o corpo docente para comunicar as normas legais, diretrizes pedagógicas e as possíveis mudanças na rotina de trabalho.

Nesse sentido, a gestora foi categórica ao afirmar que:

“Apesar das nossas decisões serem tomadas em comum acordo com os demais membros do processo, professores, serventes, vigias, secretário e alunos, nem sempre nossos anseios são acatados por nosso órgão maior SEMED, é indispensável acertar apenas o que é definido por lá, haja vista que a nossa realidade é bem peculiar”.

Assim, o poder de decisão deixa de ser do grupo para ser de apenas um elemento que está bem longe do contexto daquela comunidade. Para SANTOS (2000), a educação como processo de conscientização ou desalienação representa a conquista da autonomia.

É evidente que a gestão está associada ao fortalecimento da democratização do processo pedagógico, pela participação responsável de todas as decisões necessárias e sua efetivação, mediante seu compromisso coletivo com resultados educacionais cada vez mais precisos e significativos.

O fato daquela escola está inserida no processo de legalização pela Secretaria de Educação do Estado (SEDUC), implica em sua alienação quase que na sua totalidade, somente as decisões menos relevantes são tomadas pela gestora. Isso de certo modo lhe causa constrangimento e indignação pelo corpo docente e apoio.

É consenso entre os autores renomados que as instituições escolares por prevalecer nelas o elemento humano, precisam ser democraticamente administrados, de modo que todos os seus integrantes canalizem esforços para a realização de objetivos educacionais comuns.

Outro fator inegável é a certeza de que uma gestão democrática pode melhorar o que é específico da escola, isto é, o seu ensino. Aí está um grande diferencial entre as realidades urbanas e rurais e essa especificidade não é levada em conta pelo órgão responsável pelo ensino naquela comunidade.

A atuação do gestor mediante a realidade da escola

É notório no âmbito educacional que o gestor é um profissional que chegou à educação vindo das áreas tidas como “mais técnicas”. Sua atuação surgiu da necessidade de gerenciar o processo escolar, principalmente voltado à qualidade e a excelência educacional, o que perpassa desde o processo educativo até as questões eminentemente administrativas.

Numa escola o gestor atua diretamente nas decisões pedagógicas e estruturais e aí está um dos principais problemas enfrentados pela atual gestora. Este refere-se a falta de estrutura e também da falta de espaço naquele ambiente pesquisado.

A infra-estrutura escolar é um fator determinante para o andamento do processo educativo no nosso município, como em muitos do país a falta de um bom espaço para a prática escolar tem causado um grave entrave na qualidade e no rendimento do ensino.

Quando questionada sobre a estrutura do prédio, a gestora respondeu com clareza e precisão:

“Não dá para admitir que uma escola que atenda uma demanda bastante significativa não contemple ao menos os espaços básicos para a aplicação das disciplinas e de conteúdos indispensáveis ao seu aprendizado. Aqui não temos um computador para que possamos mostrar corretamente esse instrumento indispensável no mercado de trabalho. Isso infelizmente é o de menos relevância, ao lado da falta de uma quadra para as atividades físicas e de um refeitório para acomodar as crianças no momento das refeições. Isso de fato é um transtorno”.

Diante da resposta obtida, observa-se atentamente que a gestora tem convicção de que dirigir uma escola implica em conhecer bem seu mundo real, observar e avaliar constantemente o desenvolvimento do processo de ensino, analisar com objetividade os resultados, fazer compartilhar as experiências docentes bem sucedidas, mas tudo isso aliado à boas condições de trabalho certamente ocorrerá a aquisição de bons êxitos.

Os princípios mencionados acima implicam procedimentos de uma gestão comprometida com aquisição de recursos materiais baseados nas informações reais, bem como na análise global dos problemas emergentes. Analisar os problemas significa também verificar a qualidade das aulas, o cumprimento dos programas, a qualificação e a experiência dos professores, as características socioeconômicas e culturais dos alunos, os resultados do trabalho que a equipe propôs atingir, a saúde dos alunos, a adequação entre métodos e procedimentos didáticos e muitos outros aspectos de ordem pedagógicos.

A instabilidade do gestor diante da interferência de agentes políticos

No município de Curuá, assim como em muitos outros de pequeno porte, a política sempre interferiu diretamente na escolha do cargo de gestor escolar. Assim é comum que entre um pleito eleitoral e outro haja mudanças na administração das escolas deste município.

Infelizmente essa prática na maioria das vezes, dificulta o prosseguimento de ações benéficas tomadas por gestora que outrora não mais estarão à frente de seus projetos são poucos os sucessores que dão continuidade às ações passadas, geralmente inicia-se uma nova conjuntura administrativa e o ciclo torna-se um constante recomeço.

Tais mudanças desencadeiam prejuízos significativos de ordem pedagógica e estrutural em todos os educandários tanto na zona rural urbana quanto rural. Nesse aspecto a gestora, de forma contundente afirmou:

“Não vejo estabilidade na função do gestor hoje estou aqui com boas ideias para pôr em prática, no entanto, fico na incerteza se o meu tempo de permanência será suficiente para ver o resultado de todos os projetos idealizados”.

Os relatos da gestora causaram até comoção, haja vista esta que não só os funcionários, mas os alunos, pais e comunidade criaram um vínculo afetivo com a pessoa que está à frente da administração escolar e de repente tudo o que se planejou e o que se construiu tende a sofrer alterações e até paralisações.

Para Paro (2000) É indubitável que uma gestão de qualidade na escola poderá ser atingida na medida em que se consiga o real envolvimento dos sujeitos na área e participação de todos os segmentos da comunidade escolar, com indispensável apoio dos governantes, dos políticos, dos administradores do setor público e da sociedade para que se obtenha a qualidade desejável.

Diante das incertezas na atuação do gestor cabe às escolas planejar-se a partir de sua realidade, integrando questões administrativas com as demais preocupações político-pedagógicas, mediante a problemática, faz-se necessário que a nossa legislação vigente propicia a prática da gestão participativa, democrática, a fim de contribuir para a autonomia e a estabilidade administrativa da autonomia.

Conclusão

Este trabalho produziu uma análise de grande alcance sobre os principais problemas enfrentados pela gestora da escola, alvo deste estudo, foram questões bastante comuns às demais escolas da zona rural deste município de Curuá.

Embora a gestora estivesse há pouco tempo atuando naquela instituição, constatou-se um harmonioso entrosamento entre funcionários, alunos e gestores. Diante dos projetos idealizados pela gestora sabe-se que a sua realização ocorrerá à longos passos uma vez que a escola conta com uma estrutura de má qualidade e de pouca acomodação. Mesmo diante dos contratempos foi nítida a boa vontade e a determinação não apenas da gestora como também de todos os demais funcionários. Certamente esse fator é o que determinará a aquisição de um ensino de boa qualidade.

Para superar os desafios reais da gestora, sugere-se incorporar na sua prática uma administração democrática e uma relação mais efetiva e direta com os pais dos alunos. Nesse aspecto é importante que haja um bom entrosamento entre, família e comunidade, não esquecendo de pensar nos alunos em primeiro plano pois seu bem estar é uma propriedade de qualquer escola que se preze.

Espera-se que pesquisas como estas sirvam como um suporte pedagógico para a gestora e também como um princípio norteador e avaliador do seu trabalho na certeza de que uma boa escola é o produto da ação de bons diretores.

Em virtude do exposto, reafirma-se como súmula desta pesquisa que a gestão é uma prática social e política, principalmente porque já não se concebe mais a democracia como um produto acabado, mas como um processo em permanente construção, historicamente definido.

REFERÊNCIAS

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e terra, 1997.

FORTUNA, M.L de A. Sujeito, o grupo e a gestão democrática na escola pública. Revista de educação profissional, Recife. Disponível em: http://www.ufpe.br/daepe/n2_5htm7. Acesso em: 20 de Mai. de 2008.

FREITAS, D.N.T de. A. A gestão educacional na intervenção das políticas federal e municipal. Revista da faculdade de educação, São Paulo, v.24, n.2, p.29-50, 1998.

PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. 3.ed. São Paulo: Ática, 2000.

SANTOS FILHO. J.C. dos. Democracia institucional na escola: discussão teórica. Revista de administração escolar e planejamento educacional. Disponível em: http://www.ufpe.br/daepe/revista.html. Acesso em 20 de Mai. de 2008.
SAVANI, D. Educação: do sensu comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1996.