RESISTIR PARA EXISTIR: A IRMANDADE DE PENITENTES DE LARANJEIRAS/SE

RESIST TO EXIST: THE BROTHERHOOD OF PENITENTS OF LARANJEIRAS/SE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7924146


Jorge Alberto Vieira Tavares


Resumo: Este artigo busca pesquisar questões relacionadas à resistência e existência no Vale do Cotinguiba: A irmandade de penitentes de Laranjeiras/SE. Procurando entender de que forma os penitentes vêm resistindo, onde ocorre uma preocupação, visto que, vem ocorrendo a morte de alguns integrantes, assim como também a morte dos seus mestres, a desistência por questão de bebida, indisciplina, falta de indumentária   e descontentamento. Aliado a tudo isso, existe a grande espetacularização que os grupos veem se sujeitando com o propósito de ter maior visibilidade e, por conseguinte, não desaparecer. É comum encontrarmos várias irmandades participando de eventos promovidos pelos órgãos públicos desvinculando a comunidade de suas origens. Os griôs(mestres) são considerados um objeto nas mãos dos governantes. O objetivo é mostrar de que forma os penitentes vêm resistindo, como também quais as características preservadas pelos penitentes no Vale do Cotinguiba de Laranjeiras/SE. A metodologia com base etnográfica, com técnicas de coleta de dados como observação e entrevistas.

PALAVRAS-CHAVE: Penitentes. Irmandade. Resistência. Semana Santa. Laranjeiras.

Abtract: This article seeks to investigate issues related to resistance and existence in the Cotinguiba Valley: The Brotherhood of Penitents in Laranjeiras/SE. Seeking to understand how the penitents have been resisting, where there is a concern, since the death of some members has occurred, as well as the death of their masters, withdrawal due to drinking, indiscipline, lack of clothing and discontent. Allied to all this, there is the great spectacle that the groups see themselves subjecting to in order to have greater visibility and, therefore, not disappear. It is common to find several brotherhoods participating in events promoted by public bodies, detaching the community from its origins. Griots (masters) are considered an object in the hands of rulers. The objective is to show how penitents are resisting, as well as what characteristics are preserved by penitents in the Cotinguiba Valley of Laranjeiras/SE. The methodology is based on ethnography, with data collection techniques such as observation and interviews.

KEYWORDS: Penitents. Brotherhood. Resistance. Holy Week Laranjeiras.

BREVE REFLEXÕES SOBRE OS PENITENTES

A origem e significado desta tradição são desconhecidos; talvez de origem pagã, teria sido recuperada pelo cristianismo, que em tempo de Quaresma chama os fiéis para o arrependimento e penitência. Em função dos rituais que a materializam, parece retratar, de algum modo, o percurso de Cristo até o Calvário.

Durante a celebração da Semana Santa, muitos grupos de penitentes se reúnem e saem em procissão pelo Brasil afora orando pelas almas daqueles que estão no Purgatório. Segundo a doutrina católica, mesmo para aqueles que morreram fiéis aos mandamentos de Deus, precisam de alguma purificação antes da entrada definitiva no Céu. 

É no Purgatório que as almas pagam qualquer dívida que ainda tenham com Deus e obtém a santidade necessária para entrar na alegria do Céu. O destino dos que estão no Purgatório pode ser afetado pelas ações e pela intercessão dos vivos, e é por isso que os penitentes caminham pelas ruas de várias cidades do Brasil e, especialmente durante a Semana Santa, oram pelas almas dos mortos. 

Os penitentes costumam usar túnicas longas e capuzes que cobrem seus rostos, dando um ar às vezes estranho à procissão. Mas, para Deus, os rostos dos integrantes não precisam ser vistos: eles são almas rezando por outras almas. Atualmente no Brasil estas procissões acontecem na noite da Sexta-Feira Santa (começando do zero horas do sábado, na verdade). 

O percurso realizado tem como pano de fundo visitar vários templos do município e terminando no cemitério. Em cada Igreja visitada é feita uma pausa para adoração, onde tanto os integrantes como a própria comunidade rezam juntos. Pelo momento em que esta procissão acontece, ela parece retratar, de algum modo, o percurso de Cristo até o Calvário. 

Toda esta tradição vem, provavelmente, de uma procissão chamada Endoenças que acontecia em Portugal, na Quinta-Feira Santa, desde a Idade Média, com homens e mulheres se autoflagelando, com cordas e objetos de ferro, confessando seus pecados em voz alta. Por causa dos abusos praticados, a procissão das Endoenças foi abolida pelo Papa Clemente VI no século XIV.

DECURIÃO

Os grupos de penitentes geralmente são formados por homens, tendo como líder ou mestre do grupo, o decurião.  Segundo Cícera Patrícia Alcântara Bezerra, a origem da palavra decurião é:  

Na chamada antiguidade clássica, a palavra Decurião designava o segundo nível da hierarquia militar romana. Em uma centúria romana, que compreendia um quadrado de 10 X 10 soldados, cada Decurião seria responsável pela organização e pelo controle de uma fileira. As questões hierárquicas entre os “simples” soldados e os Decuriões eram bastante frouxas, o que não ocorria na relação com os Centuriões, que ocupavam um lugar distintivo dentro dessa organização militar. (BEZERRA, 2010, P.19).

Assim como o decurião na Antiguidade Clássica era responsável por organizar as fileiras dos soldados, o decurião dos penitentes é responsável por organizar o grupo, marcar as reuniões, guardar o cruzeiro 56 que representa a irmandade, saber e ensinar os benditos, além de aconselhá-los a proceder no seu dia a dia. Ao ver os elementos que compõem a penitência, podemos nos perguntar, mas o que é ser penitente?

Conforme Abelardo Montenegro, penitente é: (…) aquele que, às horas tardias da noite, junto a outros cruzeiros, ao pé das cruzes das estradas, diante de capelas e à porta dos cemitérios, e aí sob chefia do “decurião” ou do “ajudante”, reza, canta, se flagela com as costas desnudas, por meio de “disciplinas, durante certo tempo (MONTENEGRO, 2011, p. 140). Entretanto, para o grupo vai além, como afirma o decurião do grupo Santas Missões: “o penitente é uma pessoa que só pratica atos bons e tem muita fé em Deus. 

Quando precisa nós também fazemos a autoflagelação usando o cacho da disciplina” O antigo decurião do grupo Irmandade da Cruz, Joaquim Mulato, falecido em 2009 dizia: “Os penitentes passam a noite embrenhados na mata rezando terço, “entoando cantos e ladainhas, que é para andar no caminho certo”. “Quem não quiser seguir na estrada certa, fica de castigo. Não pode beber, tem que respeitar a vida alheia, o mais perigoso é o baralho”

Essas memórias e narrativas são construídas pelos diversos sujeitos como: intelectuais, pesquisadores, estudantes, jornalistas, produtores culturais, membros do poder público, membros da sociedade civil. Eles mesmos também constroem suas próprias narrativas por meio de suas memórias. O que não podemos deixar de ressaltar é que cada narrativa ou memória representa os interesses do narrador ou do grupo ao qual ele representa. 

Assim, a memória como elemento que embasa a identidade está permeada de intenções. O autor Jaques Le Goff, ao refletir sobre a memória nos afirma:  mas a memória coletiva é não somente uma conquista é também um instrumento e um objeto de poder. São as sociedades cuja memória social é, sobretudo a oral, ou que estão em vias de constituir uma memória coletiva escrita, aquelas que melhor permitem compreender esta luta pela dominação da recordação e da tradição, esta manifestação, da memória (LE GOFF, 2003, p. 470). 

Essa luta a que nos remete Le Goff fica muito clara na fala dos membros dos grupos de penitentes, que buscam demarcar o espaço da prática da penitência, construindo, por meio de suas memórias e recordações, uma narrativa dessa atividade. Entendemos aqui a categoria de espaço como:  os espaços são reticulados de práticas, são redes de ações, são constituídas ponto a ponto, como num bordado, por atividades humanas das mais variadas naturezas: técnicas, jurídicas, econômicas, religiosas, estéticas, filosóficas, literárias e políticas.

“Os espaços são tramas que são tecidas em meio a um emaranhado de práticas. Práticas em que estão investidos saberes e que implicam jogos de poder (ALBUQUERQUE Jr, 2008, pp.76 -77) ”.

Os penitentes, ao buscarem demarcar o espaço e as características da penitência, visam legitimar a prática penitencial. Nesse jogo de construção do espaço por meio das memórias vai sendo delineada uma identidade do ser penitente. Desta forma, os grupos traçam suas estratégias e em alguns pontos suas narrativas se encontram. 

A necessidade de construir uma identidade de penitente – que se realiza no sentimento de pertencimento ao grupo – geralmente ligada ao grupo e voltada para a “tradição” se dá pelo fato dessa atividade viver em constante negociação, passando por momentos de aprovação e desaprovação pelos demais sujeitos, como: Igreja, intelectuais e população. Assim, os jogos podem proporcionar permanências e rupturas, permitindo, dessa forma, diferentes olhares sobre a atividade e seus praticantes.

MEMÓRIA E HISTÓRIA 

Geralmente os grupos de penitentes são observados com certa desconfiança dos curiosos. A devoção, curiosidade e medo fazem parte do ritual, onde o impacto visual do grupo é impressionante, pois quando menos se espera, surge uma cruz com várias velas acesas acompanhada por quase uma dezena de pessoas de branco, entoando cantos de lamentação.

As pessoas não pertencentes a este movimento religioso chegam ao ponto de sentirem medo dos penitentes por considerar que tais pessoas têm maior proximidade com os mortos.  Outros ingredientes que alimentam o universo imaginativo é o fato deles saírem à meia-noite, hora que é considerada por muitos como a “hora ruim”. Assim como também a prática dos penitentes para muitos é uma bruxaria disfarçada, porque eles preferem os lugares onde o diabo agia, ou seja, a capela e o cemitério. 

As práticas feitas pelos devotos eram vistas como demoníacas, pois muitas pessoas ao ouvir o som da matraca fechavam suas portas na tentativa de impedir a entrada do pai das trevas em suas casas. Sendo criado assim, uma série de mitos que enriqueceu o aspecto imaginativo dos grupos penitenciais. 

As lendas além de fornecerem a legitimidade social necessária, contribuem para a manutenção de um elemento fundamental: o mistério. Os grupos são impregnados de segredos. Em diferente momento torna-se perceptível a busca pela manutenção de elementos ritualísticos distantes dos olhares dos curiosos.

Os penitentes são divididos em dois grupos: os alimentadores de almas, que fazem orações pelas almas que chacoalham um instrumento chamado matraca. E o outro é os disciplinadores, que se martirizam com chicotes providos de lâminas na ponta causando cortes por todo o corpo, derramando sangue, com o objetivo de reduzir os pecados             

A CIDADE DE LARANJEIRAS

  A cidade em questão está próxima a região metropolitana de Aracaju, é uma das poucas cidades onde ainda se pode ver a força da arquitetura colonial. Ruas, casarios, igrejas, tudo respira a mais pura história. A cidade de Laranjeiras já foi a mais importante cidade sergipana. Berço da cultura, educação, política e da economia sergipana, a cidade era denominada a “Atenas sergipana”. O município constitui um verdadeiro museu a céu aberto, concentra grande parte das manifestações folclóricas do Estado. 

Laranjeiras está localizada no leste do estado de Sergipe em uma região denominada Vale do Cotinguiba (microrregião) do Baixo Cotinguiba juntamente com as seguintes cidades: Maruim, Riachuelo, Rosário do Catete, General Maynard, Santo Amaro das Brotas e Carmópolis. A cidade se situa numa região de morros e colinas.  Limita-se ao norte com os municípios de Riachuelo e Maruim; ao leste com Santo Amaro das Brotas; ao sul com Nossa Senhora do Socorro e a oeste com o município de Areia Branca        

FIGURA  02- Fonte: brasil-turismo.com

O rio Cotinguiba passa pelo centro histórico e na divisa do município e deságua no rio Sergipe. A sua extensão é de 163.000 Km² e sua densidade demográfica gira em torno de 162,2 habitantes por Km². Na cidade ocorre muita migração pendular (diariamente) devido a sua proximidade com a capital Aracaju (18 Km), sendo por isso considerada uma cidade dormitório, onde as pessoas saem para trabalhar, mas depois retornam. 

Banhado pela bacia do rio Sergipe, o referido município está situado no Vale do Cotinguiba, região onde predomina relevo caracterizado por baixas colinas de tabuleiros dissecados, com solo do tipo massapé de textura argilosa (vertissolo e chernossolos) rico em calcário e magnésio. O domínio climático garante regularidade nas temperaturas e a pluviosidade concentra-se entre os meses de junho e agosto. A cidade não possui prédios, porém, é caracterizada por muitas ruas construídas com pedras de sabão e algumas são consideradas estreitas. Sua infraestrutura destinada para o turismo, infelizmente ainda é bastante precária, mesmo sendo conhecida como cidade histórica e folclórica.

A população da cidade é estimada em 30.000 habitantes. Sendo na sua grande maioria caracterizada por negros (que segundo o IBGE) são pessoas que se autodeclaram preto e pardo. Mais de 80% da população do município residem na zona urbana, enquanto 20% residem na zona rural. Segundo o censo de 2020, 49% da população de Laranjeiras é constituída por homens e 51% por mulheres. Comparando a população alfabetizada com a analfabeta, podemos perceber que existem mais alfabetizados, 25.000 habitantes do que analfabetos, 5.000 habitantes. 

Laranjeiras, tradicionalmente teve como principal fonte de renda a indústria açucareira e o fabrico de álcool. Atualmente, a estrutura produtiva do setor primário ainda é liderada pela monocultura da cana-de-açúcar e pastagens. Em segundo plano, o cultivo de outros produtos da cultura agrícola e pecuária. A agricultura desenvolvida na maioria dos povoados é de subsistência, ou seja, produzida para o seu próprio consumo e a monocultura da cana-de-deaçúcar, atende à demanda de emprego.

Desde os primórdios da formação do município, o espaço religioso cristão constituiu o alicerce do território de Laranjeiras, onde a elite açucareira dos séculos XVII, XVIII e XIX, construiu diversas capelas nos engenhos, majoritariamente através do uso da mão de obra de escrava. É nesse cenário que a ideia de profano se estabeleceu naquele território pela manifestação dos rituais afro-brasileiros, entre conflitos e alianças compartilhadas entre o catolicismo e as religiosidades de matrizes africanas que foram incorporadas às narrativas de diversos folguedos. 

Sendo assim, as atividades sacro-profanas no município remontam o passado e se afirmam no presente, sobretudo nas narrativas dos folguedos (Santos, 2017 p. 213). As irmandades de penitentes têm origem secular, segundo mestres locais. As características das procissões expressam resquícios do catolicismo repressivo, das punitivas fogueiras da Inquisição e da religiosidade quaresmal e popular dos tempos coloniais. 

Nesse sentido, resquícios também das diferentes impugnações que esse catolicismo popular passou a sofrer desde os tempos iniciais da modernidade. Tanto da parte da Igreja quanto da parte do Estado. De fato, observa-se uma religiosidade de resistência na fé simples que os anima. Quanto mais reprimida, mais fortalecida como meio de exorcização do mal e do maligno. Os penitentes situam-se no limiar da vida e no pórtico da morte.

FIGURA 03- Edson Araújo

A IRMANDADE DE PENITENTES DE LARANJEIRAS/SE

Todos os anos durante a Semana Santa, é destino de visitantes de Sergipe e turistas de todo o país, que são atraídos pelos atos religiosos da Semana Santa. Dentre as atrações podemos mencionar os penitentes que não é adepta dos rituais de autoflagelo, mas de cânticos denominados benditos, sendo a irmandade constituída por 18 homens, onde é visível a ausência das mulheres, que geralmente desenvolvem atividades domésticas, sendo que os integrantes são acompanhados de matracas(instrumentos que chama atenção da comunidade, onde é comum os penitentes utilizarem uma expressão que diz: “irmãos meus, lembrai-vos das almas do purgatório, com um Pai nosso e uma Ave Maria” e outros instrumentos musicais, sai pelas ruas históricas repleta de prédios com arquitetura barroca dos templos religiosos, dos grandes casarões, igrejas e museus. 

É durante a caminhada que pedem perdão para as almas dos aflitos, como: suicidas, vítimas da violência, acidentados etc. A comunidade acompanha a procissão secular, observando por detrás das janelas ou envoltas na escuridão ao longo das ruas que são iluminadas com cantos e o barulho das matracas. Cumpre salientar que, antigamente a comunidade não assistia à passagem dos penitentes, onde muitos fechavam as portas, porque simplesmente acreditavam que os penitentes tinham relação com o diabo.  

FIGURA 04- Folha Laranjeirense- Penitentes mantém tradição em Laranjeiras.

RESISTÊNCIA DA IRMANDADE DE PENITENTES DE LARANJEIRAS/SE

       As manifestações culturais existentes em Laranjeiras/S têm raízes na Idade Média trazidas pelos colonizadores. Em 1976 foi criado o Encontro Cultural de Laranjeiras com o objetivo de estudar, pesquisar e divulgar o folclore e as várias manifestações populares, que ocorreram no mês de janeiro durante a festa de Reis.

     Vem ocorrendo debates com grande preocupação acerca da extinção de algumas manifestações culturais deste município. Como exemplo, temos a Chegança que é um grupo que consiste em uma dança que revive um combate entre mouros e cristãos em alto mar. Essa dança quase foi extinta, ficando durante seis anos sem ser executada por motivo de doença do seu piloto, o mestre Oscar. (O Zé Rolinha que comanda a Marujada, conseguiu reativar o grupo). 

    Embora a cultura se mova, o povo mantém vivos hábitos, costumes, tradições e manifestações que servem para identificar a sua cultura. Existe um processo de transformação, uma vez que os padrões culturais brasileiros mudam muito, ocorrendo a aquisição de novos elementos culturais e o abandono de outros. Tem que fomentar projetos junto às escolas que trabalham o resgate e a preservação da história e da cultura através dos grupos e suas manifestações.

      Documento do governo de Sergipe, 1972,plano de reestruturação, preservação e valorização do patrimônio histórico-cultural de Laranjeiras/Se revela preocupação com fatores externos que atentam contra a continuidade da multiplicidade de manifestações populares. 

1-Substituição das formas tradicionais de diversão por modelos importados da sociedade urbano-industrial;

2-As dificuldades econômicas dos organizadores de classe baixa, nem sempre encontram na sociedade local a ajuda financeira necessária para a aquisição da indumentária e instrumental; 3-Desinteresse das classes economicamente mais favorecidas que nem sempre prestigiam as apresentações folclóricas por não dar valor. Para a Ecléa Bosi, o desenraizamento é a mais perigosa doença que atinge a cultura. Do ponto de vista antropológico, ele ocorre pela migração, em que não perdem só a área territorial, mas tudo que está nela: festas e a louvação a Deus. O folclore (manifestação popular) é a fonte de resgate do saber popular. 

        Assim como a maioria das manifestações culturais, a irmandade de penitentes de Laranjeiras, está preocupada em relação a sua existência. Essa preocupação está atrelada a morte de alguns integrantes, principalmente dos seus mestres, a desistência por questão de bebida, indisciplina, falta de indumentária e descontentamento. 

       Aliado a tudo isso, existe a grande espetacularização que os grupos veem se sujeitando com o propósito de ter maior visibilidade e, por conseguinte, não desaparecer. É comum encontrarmos várias irmandades participando de eventos promovidos pelos órgãos públicos desvinculando a comunidade de suas origens. Os griôs(mestres) são considerados um objeto nas mãos dos governantes. 

       No momento presente, observamos uma grande parte da cultura popular sofrendo uma pressão sem precedentes para ser espetacularizada. Infelizmente a desigualdade de poder, o baixo índice de cidadania e carência material dificultam a decisão do grupo de recusar ofertas para a apresentação.  

As manifestações populares são encaradas ora como atraso, ora como fonte de emancipação, e consideradas ambíguas por serem tecido de ignorância e ao mesmo tempo de saber, com desejo de emancipação e com capacidade de se conformar ao resistir, e de resistir ao se conformar. (CHAUÍ, 1989   Pág.40.).

REFERÊNCIAS

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ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura 28 a 30 de maio de 2008 Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil. 

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SANTOS, Roberto Sousa. A luta do poder simbólico sobre a dominação: das missões as paroquias sergipanas. 1ª ed. Aracaju: IFS, 2019.

SANTOS, Mesalas Ferreira. Tempo, Folguedos e Narrativas nos circuitos da cultura popular em Sergipe. Aceno, Vol. 4, N. 7, p. 210-224. Jan. a Jul. de 2017. ISSN: 2358-5587. Cultura Popular, Patrimônio e Performance (Dossiê)

tjorgealbertovieira@gmail.com-mestrando em Culturas Populares- PPGCULT-UFS