REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7851272
Lygia Nazaré Marcelo Cassiano Bezerra1
Luis Gustavo Rodrigues Saldanha2
Resumo
Esse trabalho surgiu durante a nossa caminhada no mestrado, no ano de 2022, período de reaproximação das atividades sociais, com restrições, por conta da pandemia da Covid-19, após mais de um ano isolados desse convívio. Escolas e Universidades abrindo suas portas para o ensino presencial. Foi em contato com a disciplina Elaboração de Projetos e Tecnologias, que precisou refletir sobre as TICs, Tecnologias de informação e comunicação, passando pelo uso das tecnologias digitais no ensino de artes no século XXI , perpassando o período pandêmico na sociedade e na educação brasileira. Então, necessário foi registrar esse período tão recente, mas tão intenso que aproximou muitos, mas também distanciou muitos mais do direito à educação no Brasil, fazendo um contraponto com o uso da tecnologia no ensino de artes nestes cenários e dessa forma refletir sobre um contexto social onde necessário foi se adequar a uma nova realidade, dialogando com as mudanças positivas e negativas em pauta.
Palavras chave: Era digital. Arte – Educação. Escola. Ensino-aprendizagem.
Abstract
This work arose during our master’s course, in the year 2022, a period of re-approximation of social activities, with restrictions, due to the Covid-19 pandemic, after more than a year isolated from this conviviality. Schools and Universities reopening their doors to face-to-face teaching. It was in contact with the subject Elaboration of Projects and Technologies that it was necessary to reflect about ICTs, Information and Communication Technologies, going through the use of digital technologies in art teaching in the 21st century, going through the pandemic period in society and in Brazilian education. It was then necessary to register this recent period, but so intense that has brought many closer, but also distanced many more from the right to education in Brazil, making a counterpoint with the use of technology in art teaching in these scenarios and thus reflect on a social context where it was necessary to adapt to a new reality, dialoguing with the positive and negative changes on the agenda.
Key words: Digital Age. Art – Education. Escola. Teaching-Learning.
Introdução
O século XXI inicia permeado de desafios, principalmente para rumos da educação. O advento da internet tem mudado os setores da vida humana. Muito recentemente a humanidade, em sua grande parte no planeta Terra, ficou isolada, mantendo o distanciamento físico, por conta da pandemia da Covid-19. Um período muito crítico para todos, pois o isolamento nos levou a expandir o conceito de presença. Estar conectado é, sobretudo nos dias atuais, estar presente. Não à toa as redes sociais, os aplicativos de mensagens instantâneas, as chamadas de vídeo, por diversos programas online nos aproximaram nesse período. Com a escola não foi diferente.
A tecnologia e o mundo na atualidade é algo indissociável, pois os humanos adotam, em sua grande maioria, ao mundo globalizado, através da internet, por vários benefícios que os avanços tecnológicos proporcionam a grande maioria, e por que não dizer a todos? Daí surge o grande desafio da Era Digital: alfabetizar a todos digitalmente, além de que todos tenham acesso a ela.
Para os nativos digitais é natural estar sempre conectado, muitos ainda não tem a alfabetização e já são tão íntimos do celular, já vivem plugados, conectados, desfrutando de entretenimento como jogos, assistindo a filmes, séries, vídeos, video-clips, ouvindo músicas, fazendo tik-tok…tudo na velocidade de um click.
É importante dizer, que o professor já percebeu que em sua sala de aula os alunos podem até não levar caneta, caderno e lápis de cor, mas o celular é algo que tornou parte de sua vida, não só como meio de comunicação, mas como porta aberta para todas as suas necessidades, e que a experiência vivenciada a todo momento os torna mais conhecedores das tecnologias, até mais que o professor nesse assunto. Assumir a necessidade de atualização profissional é, sobretudo, necessário para que possamos orientar a postura sensata de uso dessas tecnologias dentro e fora de sala de aula. Isso é educar para a cidadania. É, também, ser contemporâneo frente aos desafios educacionais.
Os desafios educacionais frente às mudanças sociais
Toda mudança é vista como algo positivo ou negativo e que só se adere quando é realmente necessário, pois tira da zona de conforto que se estabeleceu para o processo de adaptação. Foi justamente o que aconteceu, e ainda vem acontecendo com a escola e as tecnologias digitais, principalmente com aquelas que não tinham ou não faziam uso em seu cotidiano. Com isso, alunos e professores, bem como toda comunidade escolar passaram, e ainda passam, pelas adaptações. Todavia, há de convir que a educação formal nunca mais será a mesma depois dos anos de 2020 e 2021, uma vez que as mudanças, com consequências positivas ou negativas já nos trouxeram uma nova realidade, perspectivas e metodologias, novos conceitos e modos de ensinar.
Sabe-se, contudo, que o professor é insubstituível para a aprendizagem, pois todo processo de ensino-aprendizado precisa ser planejado e orientado, buscar metas, habilidades e competências para que realmente os objetivos traçados sejam alcançados, se assim não fosse poderíamos justificar a educação atual como “ubíqua”(SANTAELLA 2013), qualquer pessoa com uma celular na mão faz sua pesquisa instantânea e aprende, pesquisa sem um professor, mas o que aqui se defende é construção cultural, conhecimento, informações verdadeiras, pesquisa segura, solução de problemas, interação social, troca e partilha de experiências, humanização das relações, e não um tira dúvidas que nem se sabe se é falso, sem nenhuma segurança. Nortear a educação nos moldes digitais hoje é preciso.
Era Digital e a Escola
É fato que a humanidade passa pela Era Digital. A tecnologia é um marco revolucionário na vida humana. Essa transformação traz muitos ganhos: saúde, educação, economia, qualidade de vida, longevidade, nas relações sociais…, ou seja, o avanço tecnológico é o caminho para a transformação do caminhar humano, de forma digital, melhorando, digo em parte, a vida humana em seus aspectos físicos e biológicos, através de inteligência artificial. Além de proporcionar conforto, bem-estar e entretenimento. Mas quando digo que esse processo está ‘melhorando, em parte’ a evolução humana, me refiro ao processo de exclusão que vigora no seio social na atualidade, como o analfabetismo digital, a falta de acesso a internet e mídias digitais, por exemplo, pois a exclusão vai muito além disso, impacta também em todos os setores da vida humana dos excluídos. Nunca se avançou tanto, nunca se conseguiu conquistar tantos avanços nos setores da vida humana, nunca a criatividade foi tão acessível a ‘todos’(DEMO, 2008). Hoje em um click se vai a museus, teatros, cinema, nos comunicamos em tempo real nos mais diversos lugares do planeta, se compra, se vende, se pede carro…A internet é hoje um serviço essencial, deve estar em todos os lugares.
Onde a escola está no meio de tantas transformações? A escola, em países desenvolvidos, encontra-se num terreno fértil em busca dessa reformulação. Todavia as escolas dos países subdesenvolvidos, como o Brasil, ainda estão no processo de adesão tecnológica para avançar na aprendizagem de seus alunos, uma vez que as metodologias tradicionais se tornaram obsoletas. Mesmo em meio a essa fase de implementação tecnológica nas salas de aula, a cada dia vê-se que é pertinente a mudança para acompanhar os nativos da Era Digital.
Mudar é necessário, uma vez que a liberdade de pensamento, expressão e livre criatividade na internet é solo fértil para múltiplas transformações sociais, tão rápidas quanto um click e, a escola, instituição social, está imersa nesse processo. Desfrutar de um progresso individual e coletivo, de ganhos, mas também de perdas, no ambiente escolar é pertinente, todavia como saber se a escola se nega a ousar, se o não está aberto à transformações no âmbito da escola?
De uma coisa tem-se certeza: a sala de aula já não é mais a mesma do início do século XXI. A pandemia da Covid-19 já nos mostrou que a tecnologia chegou para consolidar seu espaço na educação mundial. No Brasil, as dificuldades tecnológicas que eram por muitos impercebíveis, se tornaram visíveis, e de certa forma, tidas, agora, como necessidades.
Enquanto arte-educadores, percebemos que o professor não será substituído pela inteligência artificial, pois sua intervenção é essencial, mas deve fazer uso de tecnologias digitais em suas práticas, pois os alunos aprenderam a aprender com celulares, computadores, internet, em um click, tornando suas práticas mais atrativas, criativas, inovadoras, acompanhando os avanços tecnológicos.
Processos de ensino aprendizagem para nativos digitais
Os processos de aprendizagem devem ser orientados, sejam presenciais, remotos, ensino a distância( EAD) ou híbridos, todavia com muito mais rigor nos dias atuais . Muitas informações em um click. O meio virtual mudou o modo de ler, de ver, de escrever, de fazer arte, de se divertir…, por exemplo. A leitura, a escrita, o processo de passividade e construção na internet também devem ser prioridades na educação escolar, pois em meio a tantos avanços, também há os avanços de notícias falsas – as famosas fake News – golpes, discriminações, crimes cibernéticos, ideologias falsas, bullying, discursos de ódio…, ou seja, um campo minado, que só a maturidade de um bom mestre pode orientar seu uso. A porta aberta 24 horas por dia está aberta a ascensão e a destruição de vidas.
Para pessoas nativas da Era Digital, os perigos apresentados na internet podem parecer apenas parte do percurso, não se dando a devida atenção e tendo os devidos cuidados com os usos da internet. Como qualquer outro ser humano, os nativos digitais são curiosos. Todavia a internet para eles é onipresente, está conectado é ter nas mãos todo conhecimento em um instante, é só pesquisar palavras chaves no google que a resposta é instantânea. Digo: TUDO o que quiserem saber, independente se isso vai adicionar bons ou maus conhecimentos, construções ou destruições de conhecimentos.
Orientar para que o convívio ciber social no ciberespaço deva ser, essencialmente, preservado de ética, além de que, muitas vezes, eles não sabem que tudo que se busca na internet tem um endereço eletrônico, que esse território não é uma “terra sem lei”, sem controle, sem regras. Que tudo que se posta tem destinatários, que se tem responsabilidades com o que se escreve, se produz, se pública e os problemas podem advir do mal uso das tecnologias de informação e comunicação.
Todavia, muitos profissionais da educação não se atualizaram no uso das TICs, e com isso não sabem lidar com a tal “tempestade de informações” novas que seus alunos trazem à escola, e com isso não sabem lidar com os nativos digitais no âmbito escolar que fazem em meio as aulas o uso contínuo, móvel e efêmero da cibercultura, além de que os problemas de âmbito social invadiram a escola como a dependência constante de estar conectado, sobrecarregando cognitivamente esses alunos, de forma que não prestam mais atenção nas aulas expositivas, nas conversas de troca e partilha de conhecimentos, causando impotência na aplicação de metodologias tradicionais.
É essencial que professores reformulem suas metodologias e técnicas de ensino, formulando projetos que incentivem o protagonismo estudantil e sua atuação em meio às novas tecnologias digitais, dessa forma, o professor passa a aprender e ensinar, ensinar e aprender, num movimento contínuo de troca e partilha.
Objetos de Aprendizagem X Papel do professor na atualidade
É papel do professor orientar, conduzir e fazer com que o aluno reflita no uso ativo e passivo da internet, além de que cabe ao professor buscar, selecionar, Objetos de Aprendizagem que complementem a educação com instrumentos digitais disponíveis.
Durante pesquisa sobre Objetos de Aprendizagem, encontrei uma considerável gama de conceitos. Considero que os conceitos se completam, se complementam, portanto, não assumo apenas um conceito, mas os segmentos dos conceitos ora pesquisados. Tendo em vista que eles consideram O.A como um instrumento de aprendizagem com suporte tecnológico a sua época, realidade e público-alvo, favorecendo o processo ensino-aprendizagem a todo e qualquer contexto de aprendizagem.
Mas como trabalhar com O.A em escolas que nem internet tem? Como falar em EaD onde na realidade do aluno ele não tem internet, computador, celular, dentre outros O.A? Como cobrar do professor a habilidade tecnológica quando, em muitos casos, a sua capacitação não contemplou as tecnologias digitais, ou mesmo não foi disponibizado instrumentos tecnológicos para ministrar aulas EaD?
Esses e muitos outros questionamentos são pertinentes a esse contexto, os quais surgem mostrando os efeitos negativos da falta de estrutura tecnológica em muitas redes de ensino, principalmente as redes públicas, nos interiores do Brasil, onde não há acesso à internet, professores com tecnofóbicos, ou mesmo sem capacitação. Enfim, o professor é uma das peças da engrenagem da educação integral, dele é a função de ensinar, mas é preciso que haja estrutura para isso.
A tecnologia aplicada à arte, reflexões e estratégias para o ensino-aprendizagem num cenário extra-pandêmico.
Nesta abordagem tratamos de um tipo isolamento que nada tem haver com aquele provocado pela pandemia da COVID 19, que é aquela provocada pelo uso excessivo das tecnologias, assim também como as reflexões gerais sobre o uso de ferramentas digitais no processo de ensino aprendizagem das artes plásticas e da música neste cenário.
Desde a invenção do fonógrafo por Thomas Edson no final do século XIX até os meios digitais de reprodução visual e audiovisual do nosso presente século, o indivíduo passou a ser um elemento integrante da constituição das obras de arte. Ela (e) deixa de ser um simples expectador e ganha um protagonismo no momento da sua interação com as obras, imprimindo nelas o seu ponto de vista.
A tecnologia aplicada às artes plásticas
Pela ação da tecnologia, ao nível do seu desempenho, o indivíduo passou a ser mais um elemento disponível na panóplia de elementos que integram a raiz da constituição das obras de arte. A sua importância deixou de ser meramente vista como pertencendo ao mundo da finalização/destino da arte – a obra passou a integrá-lo de um ponto de visto diferente, o seu papel deixou de ser passivo e passou a ser ativo (BERNARDINO, 2011, p.03)
Bernardino (2011) no seu trabalho Arte e tecnologia: intersecções reflete sobre o isolamento dos indivíduos e o seu afastamento das referências de tempo e espaço provocados pela sua conexão com os ciberespaços os remetendo a ausência de algo físico/real, imaterial, um lugar distante da realidade palpável, onde relações sociais, culturais consequentemente os remetem para a percepção subjetiva dessa virtualidade do espaço e do tempo, onde o virtual é uma extensão do real. As imagens fazem a mediação da realidade, transformando a concepção de espaço, que antes era concreto, material, numa grandeza imaterial provocando a consciência de outra realidade – o que nos torna inevitavelmente dependentes da tecnologia para compreender a “nova realidade”. (BERNARDINO, 2011, p.04)
Nesta perspectiva podemos nos prover da tecnologia digital para proporcionar ao aluno (a) todo o arcabouço artístico, catalogado, nos mais diferentes espaços virtuais como um museu itinerante, onde são expostos os objetos artísticos, seja música, dança, exibições visuais e audiovisuais e a literatura.
Fróis (2011) repercutiu as estratégias de alguns museus da Europa em promover mudanças nas formas de comunicação com seus visitantes, introduzindo atividades mais inclusivas como forma de mediação educacional, entre elas estão: atividades interativas e práticas; o teatro; os jogos, as visitas orientadas para as escolas; as publicações didáticas, os dispositivos interativos móveis com aplicação multimídia; entre outros. Seguindo a ideia do autor, de maneira didática, a exposição dos objetos artísticos, poderia ser refletida a partir da expressão Conceitos de fora3, desenvolvido pelo professor (a). Na perspectiva de Fróis (2011), estes conceitos estudam as atitudes e comportamentos dos públicos de museus que servem para compreender e justificar as mediações educacionais nos museus de arte. “São três os conceitos que se entrecruzam e permitem compreender a relação que os indivíduos estabelecem com as artes: regressão; divertimento; e aprendizagem”. (FRÓIS, 2011, p. 267, grifo nosso)
REGRESSÃO
Parece haver um esquecimento reiterado acerca da importância da sensibilidade estética dos indivíduos; por vezes esquecemos que, por exemplo, o tato está relacionado com a dimensão emocional: sentir, tocar são termos reportados a um mundo das sensações, das respostas emocionais prévias à produção das ideias (FRÓIS, 2011, p. 267).
Uma das experiências dos indivíduos com relação às obras de arte pode ser compreendida como regressão, no sentido estrito da palavra, regressão como fenômeno psicológico, pode ser compreendida como uma experiência negativa, mas no viés da proposta, este recurso possibilita um avanço nessas mediações educacionais da arte em diversas situações: “… como as que ocorrem quando sonhamos, no devaneio, na recepção das formas artísticas das obras de arte, e, de modo claro, na criação artística”. (FRÓIS, 2011, p. 267).
A proposta é remeter o/a espectador(a) ao universo artístico no qual se pretende mostrar. Fróis (2011) analisa a possibilidade de regressão positiva, a partir do trabalho da artista suíça Pipilotti Rist4, que trabalhou na área do cinema e da música, segundo ele, o trabalho da artista através da cor e do som implicava diretamente nas emoções dos indivíduos.
As suas obras são, pelo modo como utiliza o som, as imagens e o espaço imaginativo, envolvendo de modo harmónico as sensações e as cenas com as preocupações do nosso tempo, expõe o corpo ao ambiente e a revelação das relações do corpo com a mente. (FRÓIS, 2011, p. 268).
DIVERTIMENTO
A diversão e o divertimento são técnicas não religiosas de dominar o medo e a angústia. Casimiro5 (1977).
Fróis (2011) considera o divertimento uma necessidade essencial ao ser humano. Ele se faz presente nas interações que estabelecemos com os objetos da arte contemporânea e com os locais em que as obras habitam. “É provável que as atividades lúdicas do homem e as diversões em geral sejam resíduos de uma certa atitude mágico-religiosa por intermédio de uma lenta dessacralização” (FRÓIS, 2011, p. 268).
Neste sentido podemos apresentar os objetos de maneira lúdica, despertando a memória afetiva dando “asas” à imaginação através dos meios tecnológicos e virtuais disponíveis. Fróis (2011, p. 264) afirma que recursos utilizados como a fotografia e o som, por exemplos, possibilita a compreensão da complexidade temporal e espacial em que os fatos ocorreram de uma maneira que não haja um excesso de informação, evitando o excesso de estimulação que prejudicam a experiência da fruição.
APRENDIZAGEM
Os processos que, geralmente, utilizamos para aprender são muito semelhantes; o cérebro humano possui plasticidade ininterrupta, contínua, de adaptação a circunstâncias em mudança e sempre atento à aquisição de novos dados ao longo da vida. (FRÓIS, 2011, p. 268).
Consideramos agora, neste processo, o conceito de aprendizagem. Os neurocientistas utilizam este conceito aprendizagem para descrever as consequências envolvidas nos processos neurológicos de recepção e processamento de dados quando as informações chegam ao organismo, e como elas são elaboradas no momento desta chegada. O autor conclui que no contexto em que estamos analisando a fruição artística, a conexão entre aprendizagem e a emoção é mais profunda do que se pensa e que essa contribuição da neurociência altera a relação e a maneira como operamos emocionalmente e cognitivamente quando processamos a atuação artística, Fróis (2011, p. 264).
Finalizamos agora as nossas anotações relacionadas sobre o tema em aberto e salientamos dois aspectos que resultam da reflexão realizada. Primeiro, sublinha-se que quando falamos em democratização cultural, importa pensar, de facto, nos indivíduos e desenvolver programas nos museus de arte, de hoje, que visem o fortalecimento da relação das pessoas com os mesmos. Uma das vias possíveis é a do estreitamento das concatenações entre conteúdos propostos pelos museus e necessidades dos que procuram os museus. Como escreveu Gilles Lipovestky (2010), os museus como entidades culturais (tal como a escola) têm uma missão relevante: a de organizar e facultar ferramentas que permitam aos indivíduos ir mais além, de se superar, de ser “mais”, cultivando as suas paixões, o seu imaginário criativo em qualquer esfera de acção e de criação em que atuam. Segundo importa aprofundar, a teorização sobre as mediações educacionais assenta na investigação fundamental daquilo a que apelidamos do “real”, que advém do trabalho dos actores em cena, oriundos das ciências da educação, da comunicação, da psicologia, das neurociências, da sociologia, da museologia, da curadoria e da história arte. (FRÓIS, 2011, p. 269)
A tecnologia aplicada ao ensino de música
Os sons invadem o ambiente e nosso cérebro seleciona aquilo que queremos ouvir. Através da tecnologia moderna (computadores, aparelhos eletrônicos de som, rádio) podemos escolher as músicas de nossa preferência.
BEYER; KEBACH
Desde a infância e ao longo de nossas vidas, interagimos com manifestações culturais de nosso meio e vamos aprendendo a demonstrar nosso prazer e gosto por diversos elementos, dentre eles, a música, através da qual nos comunicamos na vida cotidiana, quer por meio da internet, do rádio, televisão, discos, vídeos, ou de outros modos. Com isso vamos, gradativamente, dando forma às nossas maneiras de admirar, de gostar, de aprender, de julgar, de apreciar e também, de fazer as diferentes manifestações culturais de nosso grupo social, ou seja, sem saber, vamos nos educando esteticamente no convívio com as pessoas e as coisas. Refletiremos estas reflexões deste trabalho, destacando a música midiática como fazendo parte desta premissa.
Para Silva (2009), as pessoas, especialmente os adolescentes, consomem o que está em evidência na mídia, portanto, podemos entender que o gosto musical desses adolescentes tem sido influenciado em grande parte por este meio (televisão). “Os adolescentes dedicam grande parte do seu tempo à música e se envolvem predominantemente com aquelas que circulam nos meios de comunicação.” (SILVA, 2009, p. 40).
Segundo Amaral Martins (2011), o termo mídia, de origem latina, é usado para se referir a um vasto e complexo sistema de comunicação. Esse termo, no sentido literal da palavra, é o plural da palavra “meio” que corresponde em latim a “média” e “médium” respectivamente. É importante lembrar que o termo mídia já está empregado no sentido plural, tornando-se dispensável usar o termo no plural “mídias”.
O termo – mídia é originário do latim médium. Conceito utilizado no campo da física, o médium caracteriza o meio que proporciona a transmissão e a percepção de determinadas formas ou elementos. É possível escutar uma música porque o som é transmitido pelo ar. Assim, o ar é o médium que permite ao músico transmitir o som de uma harpa ou de um saxofone e aos ouvintes escutarem a música. O plural de medium é a média que significa meios (AMARAL; MARTINS, 2011, p. 07).
E ainda,
Mídias são meios, e meios, como o próprio nome diz, são simplesmente meios, isto é, suportes materiais, canais físicos, nos quais as linguagens se corporificam e através dos quais transitam. Por isso mesmo, o veículo, meio ou mídia de comunicação é o componente mais superficial, no sentido de ser aquele que primeiro aparece no processo comunicativo (SANTAELLA, 2003, p. 25).
Com base nessas referências, conceituamos e exemplificamos os diversos tipos de mídia. Como mídia eletrônica, temos a televisão, o rádio, o telefone celular, o computador, o videogame, entre outros. Percebemos a presença desses objetos cada vez mais constantes no nosso dia a dia e através delas nós nos mantemos conectados com os noticiários mais recentes ou, simplesmente, nos manter interagindo com o que acontece com um grupo de amigos.
Grande parte da informação que atinge atualmente a população mundial é transmitida pelas mídias eletrônicas que, no último século, proliferaram até assumirem o poderio absoluto dos meios de comunicação. Esse advento tecnológico provocou, sobretudo, a convergência desses veículos que alimentados pela existência de redes e satélites passaram a interagir, fundindo textos, imagens e sons (ARAÚJO, 2011, p. 17).
O mesmo autor afirma que o termo mídia pode também ser empregado no sentido de imprensa, grande imprensa, jornalismo, meio de comunicação, veículo, e também, segundo o dicionário Aurélio (2001), mídia é a designação genérica dos meios, veículos e canais de comunicação, como, por exemplo: jornal, revista, rádio, televisão, outdoor etc.
Não podemos deixar de destacar a televisão, como um veículo midiático de grande importância e influência sobre o cotidiano das pessoas. Considerada por muitos autores como um dispositivo midiático ou dispositivo audiovisual, segundo Machado (2003), a televisão transmite noticiários locais, regionais e mundiais que divulgam diversos temas da sociedade em que vivemos e promovem os cantores que estão em evidência no cenário musical. “A televisão é o mais importante veículo de comunicação de massa do Brasil nestes últimos 58 anos. Ela se tornou uma espécie de ícone da sociedade brasileira no século XX, caracterizando uma hegemonia audiovisual” (ARAÚJO, 2011, p. 26).
Convergência Digital
Falando agora sobre convergência digital. Esta convergência é a tendência em unificar os vários produtos e serviços em um só aparato tecnológico, com o objetivo de facilitar a vida do usuário, que pode, assim, fazer diversas tarefas em um só aparelho, como, por exemplo, filmar, fotografar, compartilhar arquivos, trocar mensagens, agenda contatos, navegar na internet, entre outras atividades. Em se tratando de convergência digital, destacamos o aparelho celular, como sendo o melhor exemplo dessa tecnologia e por ser também o dispositivo midiático que mais presente no cotidiano de muitos adolescentes, os quais utilizam para diversas tarefas, dentre elas ouvirem música.
Atualmente é comum ver por aí crianças adolescentes e jovens utilizando diversos tipos de dispositivos midiáticos, que aliados à tecnologia possuem inúmeras e diversas maneiras de utilização, onde os mesmos possibilitam e facilitam o acesso mais rápido e prático da música (ARAÚJO, 2011, p. 18).
Araújo (2011) afirma ainda, que esses exemplos reforçam a ideia da presença da mídia em todos os setores da sociedade, uma vez que faz parte do cotidiano nos diversos e diferentes espaços da vida social, seja para comunicação, propagação, interação, lazer ou entretenimento.
Em suma esta música popular massiva refere-se, de modo geral, a um repertório compartilhado mundialmente, através dos dispositivos midiáticos e está ligada intimamente à produção, à circulação e ao consumo das músicas conectadas à indústria fonográfica, permitindo, com isso, a compreensão de que apesar de popular, a música massiva, em sentido estrito, compreende as condições de produção e reconhecimento inscritas nas indústrias culturais.
Destacamos, portanto, os smartphones, computadores, tablets, entre outros – utilizados didaticamente – como tecnologias interessantes neste processo de ensino aprendizagem de música . O uso dessas ferramentas tecnológicas propagam as músicas ouvidas pelos alunos serviu, também, como objeto de investigação durante a pesquisa e podem ser usados como objetos de aprendizagem (AO) para quem tiver interesse em ensinar música, utilizando-se das alternativas disponibilizadas pela música midiática.
As TDIC6
Chamorro, Gitahy, Terçariol, Santos (2017), em seu artigo “Educação musical e as tecnologias digitais: o uso de objetos de aprendizagem e a percepção dos docentes” apresentaram resultados de uma pesquisa de mestrado. Nela, buscavam compreender a utilização de objetos de aprendizagem como recursos para o ensino na educação musical. O estudo permitiu compreender como os professores lidam com sua formação para o ensino de música nas escolas, e como podem utilizar tecnologias digitais nesse ambiente. Constataram, ainda, que os professores apresentam dificuldades em lecionar música na escola e como o uso de tecnologias digitais contribui para a formação das crianças e dos professores.
Com relação à capacitação dos professores, as autoras evidenciam a importância da formação continuada nesta era tecnológica, explicitando que, em pleno século XXI, é quase impossível pensar o mundo sem as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), e que as crianças entram em contato com essas tecnologias desde muito pequenas e os professores podem utilizá-las a fim de tornar a aula mais interessante. As TDIC são um excelente meio para cativar as crianças. Proporcionam motivações extras e ajudam no desenvolvimento escolar. É possível, ainda, usar as tecnologias como meio lúdico, didático e educativo, podendo ser adotadas como auxílio para outros componentes curriculares. Destacando as TDIC nos processos de ensino e de aprendizagem da música, podemos utilizar os objetos de aprendizagem (OA), recursos digitais que dão suporte ao aprendizado.
Objetos de Aprendizagem (AO)
A pesquisa procurou compreender a utilização de objetos de aprendizagem como recursos nos processos de ensino e aprendizagem da educação musical. As autoras consideram as TDIC como recursos tecnológicos que auxiliam em várias áreas da vida. São tecnologias que reúnem, distribuem e compartilham informações na pesquisa, no ensino e em muitas outras áreas. Na educação, a tecnologia é usada de uma maneira muito ampla. Pode ser por intermédio de televisão, aparelho de som, rádio, etc., ou, também, por meio de tecnologias mais recentes como internet, videoconferência, aulas em EaD (Educação a Distância), realidade virtual, objetos de aprendizagem, entre outros.
Concluímos que os objetos de aprendizagem são recursos facilitadores para o processo de aprendizagem e devem ter um propósito educacional definido que detenha a atenção, e estimule a reflexão do estudante.
Abrindo um paralelo para a fundamentação desta prática, Bueno, Costa, Bueno, (2012) no seu artigo “A educomunicação7 na educação musical e seu impacto na cultura escolar”, analisaram a inter-relação comunicação/educação em contextos de ensino/aprendizagem de música inseridos em um programa de complementação curricular promovido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, na cidade de Curitiba, no ano letivo de 2009. Por meio da análise de conteúdo de documentos e entrevistas realizadas com estudantes e professores, foi constatada a ocorrência de uma educação musical de qualidade, foi observada, também, uma melhora na fluência musical em momentos significativos de composição; melhoras, inclusive, na performance e na apreciação musical. Estes momentos foram sustentados pelo desenvolvimento teórico e técnico e permeados por interações humanas significativas.
A interação educação/comunicação encontrou na escola regular um local propício para a efetivação e manifestações da educação musical neste contexto escolar. Os autores concluíram que, apesar destes avanços, essa inter-relação comunicação/educação ainda não aconteceu de forma intencional, planejada e sistematizada, fato que nos levou à reflexão sobre a importância do trabalho interdisciplinar do educador musical em consonância com as músicas midiáticas para a efetivação de um processo de ensino/aprendizagem de música em harmonia com as novas sensibilidades humanas advindas de uma sociedade condicionada pelas tecnologias da informação e da comunicação.
Considerações finais:
As tecnologias digitais têm seu espaço consolidado na sociedade brasileira, todavia ainda está distante de grande parte da população, principalmente das mais pobres e afastados dos grandes centros urbanos. O que tornou ainda mais desigual o processo ensino-aprendizagem durante a pandemia da Covid-19, quando as aulas presenciais foram substituídas por aulas online ou, em muitos lugares, sem atividades.
Todavia, as tecnologias digitais no período anterior a pandemia já eram bem presentes na realidade dos brasileiros, mas nos cursos de licenciatura ainda eram escassos ou ausentes, o que tornou muitos profissionais da educação desconhecedores dos usos das TICs, dificultando ainda mais o acesso à educação de qualidade.
O papel da Educação nesse conflito social é extremamente importante. Para isso, no que tange ao Brasil, políticas públicas para educação e tecnologia devem ser priorizadas, todavia o mais importante é propor aprimoramento aos profissionais de educação já atuantes, pois muitos não tiveram formação inicial que abraçasse o viés tecnológico em sala de aula, outros são tecnófobos, pois suas metodologias foram engessadas na forma tradicional e presos nelas porque deu certo em muitos períodos de sua vida profissional, se negando ao novo, tão incerto. Além de proporcionar, em cursos de licenciatura, formação inicial com componentes curriculares que ensine o professor a inserir em suas práticas ferramentas tecnológicas.
Em suma, são inúmeros os fatores que promovem desigualdades no âmbito educacional, mas, com toda certeza, o mais difícil deles e o que perpassou no período pré, durante e pós pandêmico é o investimento em estrutura tecnológica onde todos tenham acesso.
Referências
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1Professora, Arte-educadora, pedagoga, pesquisadora, poeta, contista e contadora de histórias. Mulher marajoara das letras e das artes, nascida na cidade de Soure. Atua como professora efetiva da Secretaria de Educação do Estado do Pará – SEDUC em escolas de ensino médio no Município de Soure e atua também como professora efetiva da SEMED no município de Salvaterra / PA, ministrando as disciplinas de Língua Portuguesa, Literatura e Arte. Elaborou e executa Projeto de Criação Literária na Escola “Minhas Palavras”, tendo como um dos vários intuitos, inserir jovens estudantes na produção literária. É Mestra em Artes(UFPA), atua na educação e na vida em favor das causas humanas, principalmente pelas causas do seu território de fala e vivências: Soure- Marajó.
2Músico, regente e professor de artes/música. É professor efetivo de artes da rede municipal e estadual Ensino do Município de Mãe do Rio. Tem experiência no ensino de Artes, com ênfase em Música. Já desenvolveu diversos trabalhos como professor, coordenador e regente de banda em diversas Escolas, projetos sociais e escolas de música em Belém e no interior do estado. Como pesquisador, tem atuado na linha de pesquisa: Processos de ensino, aprendizagem e criação em artes, com trabalhos defendidos e aprovados com conceito excelente, onde desenvolveu pesquisas voltadas para o ensino de música na educação básica, com apresentação de atividades musicais para os alunos do ensino fundamental baseadas nas escuta dos alunos no seu cotidiano.
3 “… a expressão conceitos de fora, utilizada pelo filósofo José Gil na sua Última Lição, proferida em 2010 na universidade de Lisboa, quando se referiu ao método de descrição que utilizou em relação ao Quadrado Negro de Malevitch”. (FRÓIS, 2011, p. 267).
4Nascida em 1962, Rist trabalhou na área do cinema e da música. Há já duas décadas que ocupa um lugar importante na arte contemporânea, e tem disponibilizado os seus trabalhos em ecrãs gigantes por diversas cidades, em billboards e outdoors, de grandes dimensões. (FRÓIS, 2011, p. 268).
5In, (FRÓIS, 2011, p. 268).
6TDIC são tecnologias que têm o computador e a Internet como instrumentos principais e se diferenciam das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) pela presença do digital, sendo uma evolução delas, que por sua vez utilizam recursos de tecnologia para o processamento de informações, incluindo softwares, hardwares, tecnologias de comunicação e serviços relacionados, mas não de maneira digital exclusivamente. (Disponível em:https://sae.digital/tdic-no-ambiente-escolar/#:~:text= TDIC%20são%20tecnologias%20que%20têm,informações%2C%20incluindo%20softwares%2C%20hardwares%2C. Acesso em: 21 de Setembro de 2022).
7O estudo analisou a inter-relação comunicação/educação em contextos de ensino/aprendizagem de música inseridos no seguinte programa de complementação curricular: Programa Viva a Escola, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, na cidade de Curitiba, no ano letivo de 2009. BUENO, P. R.; COSTA, R. M. C. D.; BUENO, R. E. A educomunicação na educação musical e seu impacto na cultura escolar. Educ. Pesqui., São Paulo, Ahead of print, nov. 2012. Disponível em: Acesso em: 17 abr. 2021.