PERSPECTIVAS SOBRE ENSINO DE QUÍMICA PARA ALUNOS SURDOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7860624


Bruna Saldanha Dias Pereira¹
Greyd Cardoso Mattos²


RESUMO:

Pesquisas acerca do ensino da Química para alunos surdos no Ensino Médio, são necessárias. O aluno surdo, assim como o ouvinte apresenta grande dificuldade em aprender os conteúdos de Química. O objetivo deste implica em investigar estratégias e metodologias que são utilizadas para a inclusão e ensino de Química aos alunos surdos, matriculados no ensino médio regular. Além de descrever a literatura acerca do histórico da educação de surdos no Brasil; o ensino de Química para alunos surdos, e relatar as leis brasileiras voltadas ao direito dos alunos surdos. O método baseia-se numa pesquisa bibliográfica qualitativa, mediante análise de artigos (6) publicados na Plataforma de Periódicos da CAPES, no período de 2017 a 2022. O trabalho foi norteado pelas seguintes etapas: escolha do tema, critérios de inclusão e exclusão da amostra para busca dos artigos, procedimentos de coletas de dados, estratégias de avaliação e análise de dados. Ao todo foram encontrados 40 artigos. Os critérios de exclusão foram: publicações incompletas ou indisponíveis; publicações que não se tratavam de artigos; artigos repetidos e que não tratavam do tema proposto pela revisão. Os resultados apontam que as dificuldades no processo de ensino de Química para surdos se devem a: a) a defasagem na formação de professores; b) a comunicação; c) a ausência de recursos didáticos. Ferramentas como: softwares, práticas experimentais, jogos, atividades em grupos, ilustrações, produção de desenhos, modelos didáticos, são estratégias que apresentam-se como aliados ao processo de ensino e aprendizagem do componente curricular Química para os alunos surdos.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Química. Inclusão. Surdez.

1 INTRODUÇÃO

Sobre a Educação Inclusiva no Ensino de Química é importante destacar que se trata de um campo de pesquisa em expansão. É um tema em discussão, desde a promulgação da Lei 10.436, 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras. E o Decreto 5626/2005, que regulamenta as Leis 10.098/94 e 10.436/02 e orienta ações para o atendimento à pessoa surda e inclui a Libras nos currículos de magistério e cursos de licenciatura, e a inserção de alunos surdos em escolas de ensino regular. O reconhecimento da Libras como língua oficial por meio da Lei nº 10.436/2002, e também a obrigatoriedade do ensino dessa língua nos cursos de licenciatura foram fatos de grande contribuição no processo inclusivo.

Para Vertuan e Dos Santos (2019), todas as pessoas, independente se surdas ou ouvintes, em algum momento já passaram e/ou deveriam passar pelo processo de escolarização. Muitos desistem devido as barreiras na comunicação. Aos que insistem no processo de escolarização é observado uma dificuldade de inclusão do aluno surdo nas aulas, em especial ao componente curricular de Química.

Rocha et al (2019) destacam que promover a inclusão do aluno surdo na escola regular e garantir que seus direitos a aprendizagem sejam iguais aos dos alunos ouvintes, é uma necessidade. Nos dias atuais a inserção dos alunos surdos em sala de aula e a presença de um intérprete de Libras é uma realidade, contudo, estes permanecem exclusos do processo de ensino e aprendizagem, devido as metodologias de ensino se apresentarem, em grande maioria, exclusivamente pautadas no uso da Língua Portuguesa, quando são ínfimos os materiais e recursos didáticos que contemplam o conhecimento químico em Libras.

O componente curricular de Química, segundo Parâmetro Curricular Nacional – PNC (1999, p. 32) é entendido como uma disciplina que interage com indivíduo e a sociedade por diferentes meios onde a tradição cultural difunde saberes e a química o conhecimento científico.  “Ensinar química já não é uma tarefa fácil, independentemente de o aluno possuir, ou não necessidade educacional especial”. (FERNANDES, FREITAS-REIS, 217, p. 187).

A literatura específica tem apresentado algumas pesquisas sobre o ensino de química aos alunos surdos. Observa-se que é uma preocupação crescente entre os educadores a busca por metodologias apropriadas para promoção da aprendizagem destes alunos. Entre os artigos apresentados destaca-se o uso de metodologias ativas, voltadas ao visual e jogos. 

O interesse pelo tema, surgiu pelo contato com um aluno. Através da observação das aulas de química, percebi que seu interesse pelas ciências da natureza só aumentou com o passar do tempo. Entretanto, as dificuldades de aprendizagem encontradas ainda se apresentavam como um grande obstáculo.

Logo, esta pesquisa é importante por investigar estratégias e metodologias que são eficientes para a inclusão e ensino de Química aos alunos surdos, matriculados no ensino médio regular, a partir de experiências descritas em artigos especializados. Destaca-se que os resultados gerados por meio deste poderão ser utilizados como ponto de partida para a produção e desenvolvimento de mediações pedagógicas que promovam a inclusão e aprendizagem eficiente no ensino de Química para alunos surdos.

O presente trabalho se apresenta como uma pesquisa qualitativa descrita em duas partes: a primeira trata-se de uma revisão bibliográfica acerca da caracterização de surdez, histórico de educação dos surdos no Brasil, legislação brasileira em relação ao aluno surdo, e a inclusão do aluno surdo em escola regular e o Ensino de Química. A segunda parte traz a discussão sobre as metodologias apresentadas para favorecer o ensino aprendizagem de Química dos alunos surdos, exposta em 6 artigos publicados na Plataforma de Periódicos da CAPES, entre o período de 2017 a 2022 relacionadas ao ensino de química aos alunos surdos.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Conceito e Classificação de Surdez

  Na legislação brasileira tanto o Decreto 5.626/2005 quanto a lei 10.436/2002, que tratam da Língua Brasileira de Sinais – Libras, utilizam como termo para tratamento de pessoas com perda de audição a palavra “Surda”. Observe o que diz a lei Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005:

Art. 2º Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras.

Parágrafo único.  Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. (BRASIL, 2005, Art. 2).

As perdas auditivas são classificadas de acordo com Silman e Silverman (1997) apud Sistema de Conselhos de Fonoaudiologia (2017) em: a) condutiva: Limiares de via óssea menores ou iguais a 15dB NA e limiares de via aérea maiores que 25dB NA, com gap aéreo-ósseo maior ou igual a 15dB; b) neurossensorial ou sensório-neural: Limiares de via óssea menores ou iguais a 15dB NA e limiares de via aérea maiores que 25dB NA, com gap aéreo-ósseo maior ou igual a 110dB; c) mista: Limiares de via óssea menores ou iguais a 15dB NA e limiares de via aérea maiores que 25dB NA, com gap aéreo-ósseo maior ou igual a 15dB.

Para determinar o grau de perdas auditivas existem diversas classificações que podem ser utilizadas. A Organização Mundial de Saúde – OMS (2014), estabelece o seguinte (Quadro 1):

Quadro 1 – Classificação do grau da perda auditiva segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2014).

Grau de Perda auditivaMédia entre as frequências 500, 1k, 2k e 4kHz (Adulto)Desempenho
Audição Normal0 – 25 DbNenhuma ou pequena dificuldade; capaz de ouvir cochichos
Leve26-40 dBCapaz de ouvir e repetir palavras em volume normal a um metro de distância
Moderado41-60 dBCapaz de ouvir e repetir palavras em volume elevado a um metro de distância
Severo61-80 dBCapaz de ouvir palavras em voz gritada próximo a melhor orelha
Profundo> 81dBIncapaz de ouvir e entender mesmo em voz gritada na melhor orelha
Fonte: Sistema de Conselhos de Fonoaudiologia, 2017.

2.2 Histórico da Educação dos Surdos no Brasil

Souza (2018) destaca que durante muitos anos o povo surdo viveu a mercê da supremacia ouvinte, o período de lutas foi intenso e o sofrimento também. Com o passar dos anos e a intensificação das buscas por seus direitos, os surdos estão conquistando seu espaço nas diversas esferas da sociedade. Lacerda (1998) cita que apenas início do século XVI, ocorreu a aceitação da educação para surdos, entretanto o ensino era voltado apenas para os filhos de nobres.

“A figura do preceptor era muito frequente em tal contexto educacional. Famílias nobres e influentes contratavam os serviços de professores/preceptores, para que ele não ficasse privado da fala e consequentemente de seus direitos legais”. (LACERDA, 1998, p.2). O objetivo dessa educação para surdos era permitir desenvolver pensamento através do ensino da fala e da compreensão da língua falada. “Pensava-se que a habilidade de falar com a voz estava intrinsecamente associada à inteligência”. (COSTA e BARBOSA, 2021, p.16). Lacerda (1998) descreve que partir desse período, surgem metodologias e propostas do que posteriormente seria conhecida como: Oralismo e Gestualismo. Goldfeld (2002, p. 34) diz que “o Oralismo percebe a surdez como uma deficiência que deve ser minimizada pela estimulação auditiva. ” Assim, o oralismo tende a realizar uma reabilitação dos surdos em direção à “normalidade”, a “não surdez”.

No Brasil, o ensino de surdos teve seu início em 1855 com a chegada do educador francês Hernest Huet. Com a finalidade de juntamente ao imperador D. Pedro II, fundar o Imperial Instituto de Surdos Mudos, no Rio de Janeiro – Lei número 939, de 26 de setembro de 1857. Esse instituto vigora até os dias de hoje com o nome de Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES. O professor esteve à frente do instituto por 5 anos, se afastando por motivos pessoais. (MAZZOTA, 2001).

Por volta de 1911, sob direção do Dr. Custódio José de Ferreira Martins, o Instituto de Surdos Mudos no Rio de Janeiro, adotou o método oral puro. Três anos depois, observa-se que programa oralista não obteve sucesso. A partir de 1930, outro diretor assumiu o governo do INES, conhecido como Dr. Armando Paiva de Lacerda que tinha como intuito normalizar o surdo de uma vez por todas, pois acreditava que a surdez era uma doença e deveria ser curada de alguma forma. Logo este modernizou o INES que passou a contar com psicólogos, médicos psiquiatras, fonoaudiólogos, limiares auditivos e linguísticos, para analisar a saúde mental e psicológica dos alunos surdos. Após muitas tentativas sem sucesso com o uso do método oral, o Instituto resolver por modificar a filosofia, em parte baseados na experiência dos países desenvolvidos como a França, os Estados Unidos e a Alemanha que iniciaram e o influenciaram com suas metodologias para o ensino de surdos e estes também desistiram de tal método e, passaram a pesquisar sobre os benefícios da Língua de Sinais para a educação dos surdos. (MOURA, 2000).

Após a Constituição Federal de 1988 a ideia de inclusão escolar começa a tomar forma no Brasil. “A Constituição dá possibilidades para a construção de novos caminhos, respeitando os direitos de todos, e isso inclui as pessoas com deficiência, suas necessidades de acessibilidade e inclusão educacional e social”. (MORI e SANDER, 2015, p.11).

2.3 A Legislação Brasileira em Relação ao Aluno Surdo

A partir da criação da Lei 8.069/90 sobre do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, dispõem sobre várias temáticas acerca da proteção da Criança e Adolescente, em seu capítulo IV, trata-se a Educação. O artigo 54 descreve que é dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente “III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV- atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade”. (BRASIL, 1990, Art. 54).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN de 1996, estabelecem as diretrizes para a Educação Especial por meio dos Art. 58°, 59° e 60° presentes no Capítulo V.

Em análise proposta por Barbosa (2007) no Art. 58º deste, a educação especial é uma modalidade de ensino que oferece e prefere que os educandos com Necessidades Educacionais Especiais – NEE sejam matriculados na rede regular de ensino. Já o Art. 59º trata dos métodos, técnicas e dos mais diversos recursos para atender as necessidades dos sujeitos com NEE. O III inciso é relevante, pois faz referência aos professores do ensino regular que ainda não são especializados para o ensino dos educandos com NEE e da extrema importância de sua especialização. No inciso IV é feita uma referência à educação especial na inserção do sujeito com NEE no mercado de trabalho, logo discute sobre o papel de prepará-lo para a inclusão além da comunidade educacional, mas também na sociedade trabalhista. Já o inciso V confere o direito aos de usufruírem de todos os projetos sociais existentes na rede pública de ensino.

Por fim o Art. 60º apresenta que o Poder Público delibera e caracteriza que outras instituições de ensino, particulares ou mesmo filantrópicas podem oferecer à comunidade serviços de educação especial, independente de qual seja a deficiência de seu alunado, além do apoio técnico e financeiro. (BARBOSA, 2007).

A lei de número 10.098 de 19 de dezembro de 2000, se refere à educação de todas as pessoas com deficiência. Ela estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Vale destacar o Art. 18:

O Poder Público implementará a formação de profissionais intérpretes de escrita em braile, língua de sinais e de guia intérpretes, para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação. (BRASIL, 2000, art. 18).

No ano de 2001, surge a Resolução do CNE/CEB N°2, de 11 de setembro, institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, mas somente seus artigos 5°, 7°, 8° e 12° com o intuito de identificar a suposta inclusão do sujeito surdo perante essas diretrizes.

Discutido por Barbosa (2007) o Art. 5º, inciso II discute sobre as dificuldades de comunicação em seus diversos tipos, pois trata da Libras que é a base de sua comunicação e a de seus pares e, também, com os ouvintes. Já no artigo Art.7° descreve que O atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais deve ser realizado em classes comuns do ensino regular, em qualquer etapa ou modalidade da Educação Básica.  Tal proposta e considerada inovadora e totalmente inclusiva. O Art. 8º por sua vez, artigo apresenta como dever do ensino regulamentado, a garantia de apoio pedagógico especializado nas classes comuns como estabelecido em seu inciso IV, e no mesmo inciso na alínea “b” esse apoio se dará por meio da atuação de professores-intérpretes de Libras e na alínea “c” pela atuação de outros profissionais, como instrutores e intérpretes de Libras – Língua Portuguesa contratados pela União. O Art. 12º atribui aos sistemas de ensino assegurar a acessibilidade do educando, inclusive, para o aluno com surdez que utiliza a Libras como meio de comunicação. O parágrafo segundo do mesmo artigo, institui que deve haver uma adaptação curricular que favoreça o aprendizado independentemente de qual abordagem adotada pelos pais desse aluno, como por exemplo, o bilinguismo, que usa a Libras e a Língua Oral, citado nesse parágrafo.

A regulamentação da profissão de intérprete pela lei 12.319/2010 é considerado outro passo importante para a garantia do direito do aluno Surdo a um intérprete no ambiente escolar.

Apenas no ano de 2002 com a promulgação da Lei nº 10.436, que reconheceu a Língua de Sinais Brasileira – Libras como língua oficial dos surdos brasileiros. Surgiram as primeiras garantias dos direitos na política e na educação. Além do reconhecimento da língua nacional da comunidade surda, permitiu o reconhecimento da comunidade surda, na forma de um grupo cultural.

Outro importante documento que merece destaque é o Decreto nº 5626/2005 regulamentou a Lei nº 10.436/2002, e estabeleceu os meios em que deve ocorrer a educação do aluno surdo. Abordando-os em nove capítulos. Que aborda a inclusão da Libras como disciplina curricular, orientando que a Libras deve ser ministrada como uma disciplina obrigatória em todos os cursos de licenciatura do ensino superior, bem como no curso de fonoaudiologia. Para Mori e Sander (2015, p.12) “A promulgação desse Decreto foi um passo notável na história da educação dos surdos no Brasil, e coloca nosso país à frente de muitos países desenvolvidos, devido à visão e prática modernas de respeito, de inclusão e acessibilidade.

Lei n°11.796/2008, esse regulamenta o Dia Nacional dos Surdos, a ser comemorado todo dia 26 de setembro de cada ano, tem com intuito preservar a cultura da comunidade surda e de sua participação na sociedade vigente. E, ainda relembrar a primeira escola que foi criada para surdos no Brasil, inclusive, no mesmo dia de setembro. (BRASIL, 2008).

Por fim temos sansão da Lei 14.191, de 2021, que insere a Educação Bilíngue de Surdos na Lei Brasileira de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei 9.394, de 1996) como uma modalidade de ensino independente — antes incluída como parte da educação especial.

2.4 A Inclusão do Aluno Surdo em Escola Regular e o Ensino de Química

A presença do aluno surdo na escola regular e inserção de Libras na grade curricular da formação superior, a regularização da formação do professor e intérprete de Libras formam importantes avanços no cenário educacional inclusivo. (LACERDA, 2006).  Na escola regular a inclusão dos alunos surdos tem gerado debates, principalmente no que se refere à diferença linguística. A inclusão depende de mudanças de valores sociais e vivência de um novo paradigma. (GUIDO, 2014).

O componente curricular de Química segundo Parâmetro Curricular Nacional – PNC (1999) é entendido como uma disciplina que interage com indivíduo e a sociedade por diferentes meios onde a tradição cultural difunde saberes e a química o conhecimento científico. Afirma sobre os conhecimentos de química que “[…] permitem a construção de uma visão de mundo mais articulada e menos fragmentada, contribuindo para que o indivíduo se veja como participante de um mundo em constante transformação […]”.

De acordo com Base Nacional Comum Curricular – BNCC (2017, p. 146) “Estudar Química no Ensino Médio ajuda o jovem a tornar-se mais bem informado, mais crítico, a argumentar, posicionando-se em uma série de debates do mundo contemporâneo”. O presente documento ressalta ainda que “O estudo da Química, nessa perspectiva, envolve a participação dos jovens e adultos em processos de investigação de problemas e fenômenos presentes no seu dia-a-dia”. (BRASIL, 2017, p.147).

De acordo com Oliveira e Benite (2015) ao se ter em sala um professor que domina apenas a linguagem científica e um intérprete que domina apenas a linguagem de sinais, a falta de associação entre as duas partes pode levar a um comprometimento no processo de ensino-aprendizagem do aluno surdo, mostrando a necessidade de uma boa relação professor-intérprete-aluno.

Para Luz (2016, p. 50) o ensino de química há uma enorme necessidade de práticas educacionais pedagógicas que contribuam para sua compreensão na linguagem específica, Libras, há necessidade também de um currículo e métodos de ensino, que levem em conta a singularidade de cada aluno. E nas narrativas obtidas pela pesquisadora tanto de professores quanto de alunos e acredita-se que dos pais também “é que a inclusão, posta da maneira em que se apresenta, não oferece qualidade”.

Cavalcante et al (2021) cita Chassot (2003) que descreve a Química como ciência Central, uma vez que está vinculada a qualquer processo desde os mais simples aos mais complexos. O conhecimento químico evolui, e a apropriação dos seus conhecimentos possibilita, a interpretação do mundo diante suas transformações constantes. Com o objetivo de construir habilidades e melhorar a vida das pessoas. A química possui conceitos e simbologias próprias, que a maioria dos alunos tem dificuldades de compreensão, tornando esse processo mais complexo, principalmente aos alunos surdos

Lacerda (2006), Cavalcante (2021), Luz (2016) e outros chegam ao consenso de que o ensino de Química, será significativo, assim que o professor flexibilize suas estratégias pedagógicas, utilizando metodologias que utilizem o visual e envolvendo-se de fato no processo de inclusão.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica realizada mediante análise de artigos periódicos disponíveis na Plataforma CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, acessados no período de 01 a 05 de agosto de 2022. A pesquisa deu ênfase aos trabalhos voltados ao ensino de química para surdos inclusos no ensino médio. Publicados no período de 2017 a 2022.

A opção por este tipo de pesquisa deu-se com o intuito de identificar e refletir sobre o que tem sido discutido nos trabalhos que abordam o ensino de química para surdos. O trabalho foi norteado pelas seguintes etapas: escolha do tema, critérios de inclusão e exclusão da amostra para busca dos artigos, procedimentos de coletas de dados, estratégias de avaliação e análise de dados. Os artigos encontrados na Plataforma CAPES foram analisados, assim como os resumos dos trabalhos, a fim de identificar os conteúdos das pesquisas, as dificuldades relacionadas ao ensino de Química para surdos e deficientes auditivos e quais metodologias tem sido utilizada para auxiliar o processo de ensino aprendizagem de química por alunos surdos.

Os trabalhos foram selecionados a partir da ferramenta de busca da biblioteca virtual da CAPES/Periódico. O critério de seleção incluiu artigos, com texto online acessível, na íntegra, em língua portuguesa, durante o período de 2017 a 2022 – período dos últimos 5 anos da publicação, além de abordar a estratégias para o ensino de química para alunos surdos. Os critérios de exclusão foram: publicações incompletas ou indisponíveis, publicações que não se tratavam de artigos, artigos repetidos e que não tratavam do tema proposto pela revisão. As buscas foram realizadas utilizando os seguintes descritores: “química + surdos” (38), “ensino de química + surdos” (35) e “química + surdos + inclusão” (17).  Alguns artigos se repetiram, na procura pelos descritores, ao todo foram encontrados 40 artigos diferentes. Na figura 1 a seguir está descrito uma síntese desse processo.

Figura 1 – Síntese do procedimento para obtenção da amostra.

Fonte: Elaboração própria.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os trabalhos selecionados na busca foram lidos, analisados e na sequência elaborou-se o quadro 2 para inserção dos dados gerais dos trabalhos discutidos tais como: título do estudo, ano de publicação, revista na qual o estudo foi publicado e autores do trabalho, revelando um panorama geral da temática para posterior avaliação crítica dos resultados encontrados.

As 6 (seis) pesquisas têm o ensino de química para alunos surdos como ponto de partida. “A química, como disciplina, permite que o aluno desenvolva muitas habilidades, como o reconhecimento e aplicação dos limites éticos e morais, a interpretação de fatos químicos e contribui para a formação cidadã”. (LOPES JUNIOR, et al, 2022, p. 27).

Logo faz-se necessário repensar estratégias afim de garantir a assimilação coerente dos objetos de conhecimento de química ministrados em sala de aula conforme reforça Freitas e Paz (2021, p.2).

Quadro 2Desenho das amostras selecionadas         

AutoresAno de PublicaçãoRevista PublicadaTítulo
Schuindt, Matos e Silva2017Actio: Docência em CiênciasEstudo de caso sobre as dificuldades de aprendizagem de alunos surdos na disciplina de Química
Fernandes e Freitas-Reis2017Química Nova EscolaEstratégia Didática Inclusiva a Alunos Surdos para o Ensino dos Conceitos de Balanceamento de Equações Químicas e de Estequiometria para o Ensino Médio
Rocha, Almeida, Soares, Silva2019Educação EspecialQ-LIBRAS: um jogo educacional para estimular alunos surdos à aprendizagem de Química
Ferreira, Barros e Sampaio2020Góndola, Enseñanza y Aprendizaje de las CienciasQuímica com sinais: O ensino visual da química para alunos surdos por meio de Website
Freitas e Paz2021Research, Society and DevelopmentAplicação didática inclusiva no ensino de Química para um aluno surdo
Lopes Júnior, Quaresma, Silva, Monteiro, Araújo e Santos2022Insignare ScientiaA química na educação inclusiva e seus desafios na escola do campo no município de Igarapé Miri
Fonte: Elaboração própria.

Pensar na perspectiva de inclusão de química a alunos surdos é um desafio. Faz-se necessário o planejamento de metodologias que envolvam a inclusão no processo de aprendizagem. Isto é ressaltado nos 6 artigos selecionados, os artigos citados são de cunho qualitativo. Nas pesquisas foram realizados levantamentos de dados por meio de observação e realização de entrevistas, com a finalidade de investigar a situação de ensino de química para os alunos surdos. Os artigos assemelham-se em recomendar a utilização de diferentes recursos didático-pedagógicos para auxiliar a aprendizagem dos alunos surdos.

Na pesquisa realizada por Schuindt, Matos e Silva (2017) com o objetivo identificar quais eram as suas percepções e dificuldades na disciplina de química. Foi realizado a observação de aulas de química e entrevista com 20 alunos surdos, onde foram selecionados 3 que atendiam os critérios da pesquisa – possuir surdez total, não utilizar aparelho auditivo, compreender ao menos parcialmente a Língua Portuguesa.

Os resultados encontrados pelos autores supracitados revelaram que o maior obstáculo de aprendizagem em Química é: a) Diferença linguística; b) Falta de conhecimento de Libras pelo professor de química; c) Dificuldade na compreensão de sinais de terminologias químicas já existentes ou na criação de novos sinais; d) Não formação acadêmica específica dos intérpretes; e) Ausência de materiais didáticos em Libras e de metodologias que façam uso de imagens como recursos didáticos. Concluem que: “A necessidade de materiais didáticos elaborados de acordo com as características do grupo é crescente, bem como a inserção desses nas práticas pedagógicas inclusivas”. (SCHUINDT, MATOS e SILVA, 2017, p. 296)

Fernandes e Freitas-Reis (2017) para ensinar o conteúdo de “balanceamento das equações” em duas turmas da 2º série do ensino médio, com alunos surdos e ouvintes de escolas diferentes, traçou uma estratégia baseada no visual. Esta foi planejada em 2 etapas:

I) Construção da sequência didática junto aos surdos – essa etapa contou a presença de 4 convidados surdos e um intérprete da universidade. As aulas foram planejadas de forma a exemplificar as situações que envolvem o tema proposto, com utilização de materiais baratos: papel, lápis, isopor, copos, balança, etc.;
II) Aplicação da proposta didática em sala de aula do ensino regular com alunos surdos incluídos – Os alunos trabalhavam em grupos mistos de surdos e ouvintes, após a explicação do conteúdo os alunos eram convidados a representar em forma de desenho uma equação de balanceamento proposta pelo professor.

Os autores citam ainda que explorar o visual despertou uma imensa vontade de aprender nos alunos surdos e ouvintes. Assim concluem que “a presente pesquisa indica a viável e promissora possibilidade de se pensar em recursos facilitadores da aprendizagem do surdo e, nesse sentido, a adoção de recursos visuais junto à experimentação pode ser um deles”. (FERNANDES e FREITAS-REIS, 2017, p. 192-193).

Outra pesquisa baseada em práticas visuais é descrita por Lopes Júnior, et al (2022) que propuseram construir recursos didáticos na perspectiva de contribuir com o processo de ensino e aprendizagem dos alunos surdos, a fim de auxiliá-los nas aulas de química em escola regular do município de Igarapé Miri-PA. Inicialmente foi realizado um levantamento nas 12 escolas do município do quantitativo de alunos com deficiência auditiva. Destas 10 eram de ensino fundamental e 2 eram de ensino médio, sendo um total de 23 alunos surdos matriculados em sala de aula, distribuídos em escola do campo e da cidade. A segunda parte da pesquisa foi desenvolvida em duas turmas regulares do ensino médio com um aluno do 1º ano e dois alunos (as) do 2º ano. Foi realizado observação de aulas e entrevistas com alunos surdos, coordenação pedagógica, professores, intérpretes e pais.

Mesmo sem laboratórios de química nas escolas, foi proposta a realização de atividades para o desenvolvimento dos conceitos químicos voltados para a realidade dos educandos surdos:

a) Atividades experimentais com materiais de baixo custo, tipo: copos, potes, alimentos, etc.
b) Jogos lúdicos intitulado “Jogo da agilidade” com utilização de materiais de papelaria como: papel, tesoura, cola, canetinha, etc. A atividade foi desenvolvida da seguinte forma: participam dois alunos surdos, ou um surdo e um ouvinte. Assim, são utilizados os sinais químicos em libras dos conteúdos ministrados. Nesse sentido, ao fazer os sinais em libras, há papéis coloridos que contêm o que está sendo sinalizado, e o aluno surdo ou ouvinte devem estar atentos a qual sinal, em química, é reproduzido, e bater com a mão no papel que representa o conceito químico abordado. Exemplo: o papel continha a fórmula química de (H2O + CH3CH2OH), o qual estava representando a mistura homogênea; em outros papéis, a mistura heterogênea (H2O + Óleo). Após sinalizar em Libras alguns desses conceitos, como mistura simples, o participante que entendesse qual era o papel colorido que estava representando a mistura simples (na fórmula química), batia com a mão e mostrava. Se estivesse certo, ganharia o jogo, de acordo com seus acertos.

Para os pesquisadores Lopes Júnior, et al, (2022) a experimentação tem um papel fundamental no ensino de química e ressalta que a falta de laboratório didático não é uma justificativa da não prática de atividades didáticas experimentais, uma vez que pode ser utilizado materiais adaptados em determinados ambientes. Com relação aos jogos lúdicos como o “jogo da agilidade” e ao experimento mostrado sobre mistura homogênea e heterogênea, houve uma aprendizagem de desenvolvimento no âmbito das inter-relações com os outros.

Logo “a prática metodológica em sala de aula potencializa, estimula os alunos surdos e ouvintes, havendo momentos de partilhas de saberes de forma dinâmica e atraente, nos quais observou-se que ocorreu a inclusão nesses espaços educativos”. LOPES JÚNIOR, et al, (2022, p.42).

Com base num estudo realizado por Pinto e Oliveira (2018) em que foi constatado que dos assuntos de química que causam maior dificuldade de aprendizagem para os alunos surdos destacam-se “Funções inorgânicas”; Freitas e Paz (2021) descreveram um estudo de caso em que desenvolveram uma estratégia de ensino inclusiva abordando o assunto “Identificação das funções inorgânicas: Ácidos e Bases” segundo a Teoria de Arrhenius, para uma aluna surda do 1º ano do ensino médio do Instituto Federal da Bahia, Campus Guanambi. Os encontros com a aluna eram realizados 3 vezes por semana, com duração de uma hora e meia. Os materiais que integraram o artifício pedagógico no processo didático foram: clipes coloridos e papel.

Freitas e Paz (2021, p. 5) apresentam proposta didática que foi conduzida pela monitora da disciplina de Química, com conhecimento em Libras, e pelo professor. Toda a ação foi baseada na pedagogia visual através de analogias entre os clipes coloridos e as fórmulas moleculares das funções ácidos e bases com o auxílio das fichas modelo. No final de cada intervenção pedagógica, a aluna foi instruída a resolver as atividades do assunto abordado. A estudante foi orientada a representar com clipes as fórmulas de diversos ácidos e bases, sendo auxiliada pelo sistema de datilologia presentes nas fichas modelo. Posteriormente o processo de compreensão da discente através da análise comparativa dos resultados obtidos com a resolução das atividades de química antes e depois do artifício didático foram avaliadas. Concluiram que a intervenção empregada com foco lúdico e comparativo, através do uso clipes coloridos relacionados às fórmulas moleculares das funções químicas, possibilitou a discente assimilar a ideia que o cátion de um ácido é fixo, ou seja, será sempre o íon H+, e, na base a parte fixa da fórmula é o ânion poliatômico, hidroxila (OH), tomando como base a Teoria de Arrhenius. (FREITAS e PAZ, 2021, p. 7).

Dentre os diversos recursos e métodos empregados na educação Rocha, et al (2019, p.12) cita a tecnologia: “A utilização de ferramentas tecnológicas na educação proporciona um elo entre o ensino e a aprendizagem, rompendo o tradicionalismo centrado no professor, que é baseado somente na exposição de conteúdos. 

A pesquisa de Rocha, et al (2019) teve como objetivos proporcionar a aprendizagem de conteúdos químicos a alunos surdos, por meio do desenvolvimento de um jogo para celulares chamado Q-LIBRAS, bem como auxiliar a assimilação destes conteúdos de forma atrativa e interativa, tanto entre alunos surdos como ouvintes. O jogo contempla 60 (sessenta) questões de Química, sendo dez de cada um dos seguintes tópicos: metais, ametais, gases nobres, Hidrogênio, propriedades periódicas e ligações químicas. Ao jogar, o aluno deve responder a essas questões escolhendo a alternativa correta dentre quatro disponíveis. Um importante aspecto do jogo Q-LIBRAS é a utilização de Libras (o software V-Libras) para a apresentação das questões, bem como para interação com os alunos. Os autores na fase final de elaboração do teste contariam com a participação de alunos surdos de Ensino Técnico, para participar dos testes. E assim os autores poderiam realizar possíveis correções e eventuais ajustes antes de ser disponibilizado gratuitamente pela Internet.

Para Ferreira, Barros e Sampaio (2020) as Tecnologias da Informação e Comunicação – TICs, tem exercido um efeito muito positivo nas salas de aula desde que utilizado de forma pedagógica, multidisciplinar e consciente. Pois, reforçarão as ideias expressas de forma oral pelo professor e utilizarão recursos extremamente visuais, facilitando a compreensão de conteúdos abordados, complementando o aprendizado tanto dos alunos surdos, quanto dos ouvintes. Propuseram o ensino visual da química para alunos surdos através de um website. Desenvolveram um website chamado Química com Sinais, com a ajuda de professores de química do ensino médio. 

Para a confecção do site consideraram que ele deveria ser de fácil acesso, deveria possuir um tradutor online de Libras, pois ao aluno ativar o tradutor e passar o mouse sobre as frases, ela será traduzida automaticamente para Libras. Possuir atividades individuais complementares em forma de vídeos e jogos relacionados a vários conteúdos de química. Todo o site é traduzido para Libras de forma simultânea com a ajuda do aplicativo Hand Talk. Segundos os idealizadores por meio deste os alunos surdos podem participar e aprender de forma efetiva os conteúdos apresentados pelos professores.

Foi proposta a utilização do site a uma aluna surda, matriculada no 3º ano do ensino médio, ao intérprete de Libras que a acompanha e ao professor de química de uma escola estadual de Maracanaú-CE.  A aluna relatou que a vídeo aula em Libras e o uso de visuais auxiliou a mesma a compreender o conteúdo e o site influenciou o seu grau de entendimento, através das imagens. O intérprete e apontou algumas necessidades na didática pautada na ausência da linguagem visual. Para o professor, a ferramenta também foi um grande auxilio, pois facilitou a compreensão da aluna. (FERREIRA, BARROS e SAMPAIO, 2020).

Diante os trabalhos discutidos é a clara evidência de que estratégias que envolvem experimentação, atividades visuais e uso de tecnologias são métodos de ensino eficazes no processo de ensino de química a aluno surdos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS/CONCLUSÕES

Junto as políticas públicas a história da educação dos surdos vem se modelando com o passar dos anos. A preocupação com a inclusão e aprendizagem do aluno surdo no ensino regular, é cada mais frequente. Isto tem ocasionado um aumento de pesquisas acerca do tema. No entanto, quando se fala em ensino de Química para alunos surdos, pode-se afirmar que apesar de crescentes pesquisas, ainda é limitada o quantitativo de pesquisas sobre o tema.

Este trabalho teve como objetivo investigar estratégias e metodologias que são eficientes para a inclusão e ensino de Química aos alunos surdos, matriculados no ensino médio regular, a partir de experiências descritas em artigos especializados, disponíveis na Plataforma CAPES de Educação Básica, no período de 2017 a 2022.

Após a análise do conteúdo dos artigos é possível afirmar que as dificuldades no processo de ensino de Química para surdos se devem a diversos fatores, dentre os quais se encontram: a) a defasagem na formação de professores – uma vez que estes saem da faculdade considerados aptos para o magistério, todavia não são preparados para lidar com a perspectiva inclusiva, ainda mais em se tratando de aluno surdo; b) a comunicação – o professor depende de um intérprete quando possuem um aluno surdo na sala; c) a ausência de recursos didáticos  que visam a melhoria das aulas de Química e proporcionem aprendizagem.

A pesquisa demonstrou que os aspectos lúdicos e educativos acompanhados de uma orientação pedagógica cabida contribuem como ferramentas significativas na construção do conhecimento de Química. Em se tratando do aluno surdo é possível alcançar altos resultados de aprendizagem quando explorado os outros sentidos como tato e visão.

A utilização de ferramentas como softwares, práticas experimentais, jogos, atividades em grupos, ilustrações, produção de desenhos, modelos didáticos, entre outras. Se apresentam como aliados ao processo de ensino e aprendizagem do componente curricular Química para os alunos surdos.

É possível observar na revisão literária realizada a necessidade da compreensão e respeito da história, cultura e diferenças dos indivíduos surdos por parte dos educadores. É notado ainda uma preocupação voltada para inclusão não só desses indivíduos, mas de todos os outros que acabam de uma forma ou de outra sendo excluídos das escolas.

É inegável que a presença do intérprete acompanhando o aluno surdo, é de importância máxima para sua aprendizagem. Pois este, é um elo de comunicação do aluno surdos com os colegas, professores e toda a comunidade escolar. Fica evidente a necessidade de estratégias de ensino condizentes com as peculiaridades dos alunos surdos, afim de igualar seus direitos e oportunidades educacionais a dos alunos ouvintes.

Os professores de Química para promover a inclusão e aprendizagem dos alunos surdos, devem planejar aulas que além de desenvolver as habilidades e competências previstas no currículo, promovam ainda a autonomia e protagonismo do aluno surdo. Ainda há muito o que ser feito em prol da educação de surdos no Brasil. Espera-se que este estudo possa contribuir nas investigações futuras, no que diz respeito à temática de estratégias e metodologias no ensino da Química para alunos surdos, tornando-os cidadãos críticos, capazes de compreender a cidadania, e buscando prestigiar cada vez mais os conhecimentos científicos e os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizado no contexto educacional atual.

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¹Acadêmica do Curso de Licenciatura em Química, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM, bruna.saldanha1@gmail.com.
²Professora da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM, greyd@ufvjm.edu.br.