REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7850903
Domingas Teixeira de Carvalho Neta1
Andreza Nascimento da Silva Rodrigues2
Adriele do Socorro Santos Brabo3
Dirce Nascimento Pinheiro4
Vera Lúcia de Azevedo Lima5
Elisângela da Silva Ferreira6
RESUMO
Violência Obstétrica é definida como aquela que ocorre durante o ciclo gravídico- puerperal e abortamento, podendo se desenvolver nas formas psicológica, verbal, simbólica, física e institucional, se concretizando por meio de atos de negligência, discriminação ou condutas excessivas e desnecessárias. O objetivo deste estudo foi conhecer a concepção das gestantes sobre a violência obstétrica. Trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa. Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada com 20 gestantes que já haviam engravidado pelo menos 2 vezes. Através do estudo evidenciou-se que houve um pequeno avanço no conhecimento das mulheres em relação a violência obstétrica, pois metade (50%) das participantes souberam responder o que é, esta violência. No entanto, 60% delas relataram ter sofrido maus tratos, o que mostra que em relação à prática desta, pelos profissionais ainda permanece alta. Portanto, embora este estudo aponte para uma evolução no que diz respeito ao conhecimento das mulheres sobre a violência obstétrica, mostra também que a assistência obstétrica vigente no país, ainda vai de encontro com as normas da Rede Cegonha e com as diretrizes do parto normal.
Palavras-chave: Violência. Obstetrícia. Enfermagem.
INTRODUÇÃO
A violência obstétrica é caracterizada como aquela que ocorre durante a gestação, parto, pós-parto e no abortamento, se desenvolve nas formas psicológica, verbal, simbólica, física e institucional e se concretiza por meio de atos de negligência, discriminação ou condutas excessivas e desnecessárias, e sem embasamento científico que, por muitas vezes, culminam em prejuízo para a mulher (DINIZ et al., 2015; TINÉ, 2017).
Segundo a Organização Mundial de Saúde- OMS (2014) muitas mulheres, no mundo inteiro ainda passam por situações de abusos, desrespeito e maus tratos dentro das instituições de saúde no momento do parto, o que além de violar os direitos da mulher, também ameaça o direito à vida, à saúde e a integridade física.
A pesquisa “Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado”, realizada em agosto de 2010 e divulgada no final de fevereiro pela Fundação Perseu Abramo, mostra que no Brasil, uma em cada quatro mulheres já sofreu maus tratos durante o parto, isto é, sofreu violência obstétrica, tanto em instituições públicas quanto privadas (STECK, 2016).
Na atualidade apesar da visibilidade e discussão sobre a violência obstétrica, este termo ainda não possui um conceito único, e tampouco há uma definição reconhecida nas bases legais devido à falta de instâncias que penalizam esses maus tratos sofrido pelas mulheres e, dessa forma, os seus direitos e autonomia são reduzidos (ZANARDO et al., 2017).
Essa falta de embasamento legal e, sobretudo, a falta de penalidade, no Brasil, faz com que essa violência permaneça e se dissemine dentro das instituições públicas e privadas. Portanto, enquanto não houver instâncias de penalização para tal ato, resta à mulher empoderar- se de seus direitos para lutar por respeito e dignidade.
Para Luz e Gico (2015) não há um consenso ao se falar de parto normal na atualidade, ou seja, há um universo de conceitos que envolvem questões sociais, culturais, políticas e econômicas e ocorre uma ambiguidade, entra-se numa nítida divergência, assim dificultando a diferença entre o “comum” e o “normal” dentro da assistência obstétrica.
Para tanto, essa divergência que não consegue diferenciar o comum do normal, abre precedentes para as equipes médicas e de enfermagem agirem durante a assistência ao parto de forma indevida, desconsiderando as evidências científicas, possibilitando a chance de ocorrer uma violência obstétrica.
É importante ressaltar que há diversos tipos de violências obstétricas, desde as mais veladas (como a não aceitação do acompanhante, a falta de orientação quanto aos procedimentos que serão realizados) até as mais explícitas (como, por exemplo, os xingamentos, coerção, constrangimento, desrespeito à privacidade, dentre outros), que infelizmente são praticados pela própria equipe médica e de enfermagem (SOUZA et al., 2016).
Tudo isso nos leva ao questionamento sobre o que induz essa situação: será o tecnicismo e o despreparo profissional? Será puramente a falta de humanização ou a falta de reconhecimento da violência obstétrica por parte da vítima?
O despertar em trabalhar com este tema surgiu a partir do momento que ingressei no Programa de Residência Obstétrica da Universidade Federal do Pará e comecei atuar nas maternidades como campo de prática, onde passei a ver de perto algumas situações e comportamentos de profissionais que se configuraram como violência obstétrica.
Outra experiência que me fez entender a necessidade de trabalhar este tema foi minha inserção no projeto de extensão Transformador da UFPA, o qual trabalha com o objetivo de levar informações e empoderar as mulheres quantos seus direitos e ao reconhecimento da Violência Obstétrica, onde tive a oportunidade de ouvir diversos relatos de mulheres que sofreram essa violência.
Logo, o conhecimento sobre a real existência da violência obstétrica, tanto pela mulher quanto por seus familiares e pela sociedade como um todo, é o início de uma grande batalha pelo fim dessa violência que assola as mulheres em um momento que deveria se eternizar como sublime, mas que traumatiza e deixa sequelas inesquecíveis.
Ao longo da história houve diversos registros sobre relatos de sofrimento de mulheres no momento do parto com diferentes enfoques. No entanto, na atualidade estes maus tratos à mulher no ato do parto é reconhecido como violência obstétrica.
Segundo um trabalho realizado por Oliveira e Mercês (2017) as mulheres no momento do parto passam por emoções diferentes e ambíguas, uma mistura de alegria pela chegada do filho, medo de morrer, vulnerabilidade diante dos cuidados da equipe e a desconfiança de ser maltratada impunemente dentro das instituições públicas.
Na verdade, a mulher não é respeitada, sendo reduzida simplesmente a um ser reprodutivo onde perde a autonomia sobre seu corpo, enquanto ela deve ter seus direitos resguardados e ficar livre para sentir apenas as emoções positivas pela chegada de seu filho.
Com isso, há a necessidade de abordar esse assunto nas suas diversas vertentes, no que diz respeito às causas do problema, os autores da violência, o motivo de sua ocorrência e sua vítima, em que ao mesmo tempo, é velada e se faz tão presente nas instituições de assistência ao parto. Deste modo, todos estes fatores enfatizam a importância e a necessidade de se abordar e, principalmente, intervir em todas essas circunstâncias para prevenir este tipo de violência.
E partindo-se do pressuposto de que este é um assunto antigo, porém atual no que diz respeito ao seu impacto social, entende-se que esta pesquisa será de grande relevância para a sociedade, uma vez que ao conhecer as mulheres, no caso gestantes, facilita os meios de intervenções para que o conhecimento sobre o tema continue se disseminando. Além do que, contribuirá para o conhecimento da sociedade acadêmica e para o despertar de interesse pelo assunto.
Portanto, levando em consideração a relevância do tema, surgiu a seguinte problemática de pesquisa: Qual a concepção das gestantes sobre violência obstétrica? Por isto este estudo teve por objetivo Conhecer a concepção das gestantes sobre a violência obstétrica, Identificar que informações as gestantes possuem sobre violência obstétrica, Descrever o que as gestantes reconhecem como violência obstétrica e Demonstrar o reconhecimento das gestantes sobre violência obstétrica por meio de figuras e frases.
METODOLOGIA
O estudo é do tipo descritivo, com abordagem qualitativa. A pesquisa foi realizada em uma Unidade Municipal de Saúde- UMS do município de Belém-PA, localizada no bairro do Guamá, onde é realizado o pré-natal das gestantes de baixo risco. As participantes da pesquisa foram as gestantes matriculadas para o acompanhamento pré-natal na Unidade Municipal de Saúde e que concordaram participar do estudo. Usamos como critérios de inclusão as gestantes matriculadas na Unidade Básica de Saúde para acompanhamento pré-natal e que já haviam iniciado as consultas. Grávidas de risco habitual, em qualquer trimestre da gravidez, idade igual ou superior a 18 anos e mulheres que já engravidaram mais de uma vez e que a(s) gestação (es) anterior(es) resultaram em parto normal (concepto nativivo, neomorto, natimorto), ou aborto, e que passaram pelo processo de internação hospitalar. Foram excluídas do estudo gestantes que possuíam algum déficit cognitivo, e as que não aceitaram participar da pesquisa.
Os dados foram coletados durante 3 meses, no período de junho a agosto de 2019, por meio de entrevista semiestruturada, na própria Unidade de Saúde. A abordagem foi realizada na sala de espera e logo após a gestante concordar em participar do estudo, esta foi levada até uma sala que foi disponibilizada pela UBS e dessa forma foi garantida a privacidade da participante. Além do roteiro de entrevista, também foram utilizadas figuras e frases impressas em papel A4 e coladas em cartolina, as quais foram apresentadas às participantes para as mesmas relatarem o que as imagens representam para si. Para aquelas participantes que já conheciam o tema, as imagens foram apresentadas, somente após a entrevista, e para aquelas que nunca tinham ouvido falar sobre o tema, as figuras eram apresentadas antes da entrevista. E também foi reservada uma cartolina para que as entrevistadas escrevessem uma frase ou palavra que representasse para elas, um ato de Violência Obstétrica. A participação de cada entrevista teve duração média de 15 (quinze) minutos.
O estudo contou com um total de 20 participantes. As coletas de dados foram realizadas na maioria das vezes no turno da tarde, tendo sido coletadas apenas duas vezes durante os 2 (dois) turnos, pois esta foi a disponibilidade da pesquisadora. Os dados foram registrados em um gravador digital e somente depois transcritos para o papel.
Neste estudo a análise dos dados foi realizada de acordo com a análise de conteúdo de Bardin. Foram respeitadas todas as normas estabelecidas para pesquisa envolvendo seres humanos conforme a Resolução nº 466 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde. Esse projeto foi avaliado pelo Núcleo de Ensino e Pesquisa – NEP da Secretaria Municipal de Saúde – SESMA para anuência do local de coleta de dados, a qual deu parecer favorável, foi submetido na Plataforma Brasil e avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP do Instituto de Ciências da Saúde – ICS, a qual é a Instituição responsável pela pesquisa, sob o número: 3.295.716.
Foi oferecido um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE para todas as gestantes que aceitaram participar da pesquisa, com os devidos esclarecimentos sobre a natureza, objetivos e métodos da pesquisa, garantindo assim a anuência do participante.
RESULTADOS
Participou do estudo um total de 20 mulheres, isto é, 20 gestantes, todas entrevistadas na Unidade Municipal de Saúde (UMS), na qual as mesmas fazem o acompanhamento pré-natal.
No geral, o resultado deste estudo aponta para uma pequena evolução no que diz respeito ao conhecimento das gestantes sobre a violência obstétrica, pois em comparação a outros trabalhos, como por exemplo, um estudo realizado por Oliveira e Mercês, (2017) o qual mostrou como resultado o desconhecimento das mulheres sobre o tema, metade das participantes da atual pesquisa, ou seja, 10 (50%) do total soube responder o que é a violência obstétrica, e a outra metade, conseguiu reconhecê-la após ver as imagens e frases expostas em cartolina.
No entanto, ainda é necessário continuar trabalhando na divulgação e disseminação de informações sobre o tema, pois a maioria das participantes (60%) relatou ter sofrido a violência, o que, ainda é um número considerável.
Das 10 (50%) participantes que falaram nunca ter ouvido falar sobre a violência obstétrica, 4 (20%) delas, reconheceram ter sofrido a mesma, após verem as imagens e frases exposta na cartolina que lhes foram apresentadas, o que mostra que muitas mulheres sofrem diversos tipos de abusos e não consegue reconhecê-la como tal, passando como algo normal e rotineiro.
Do total das 20 participantes, apenas 8 (40%), afirmaram não ter sofrido nenhum tipo violência obstétrica, mesmo após verem as imagens. No entanto, 4 (50%) delas já haviam presenciado algum tipo de violência obstétrica com alguma colega de quarto durante a internação para o parto.
4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES
Diante da análise das entrevistas, foi traçado o perfil sociodemográfico das participantes, como segue na tabela abaixo:
Tabela 1: Perfil sócio demográfico das gestantes entrevistadas
Fonte: Elaborada pela Autora, 2019.
Em relação ao perfil social das participantes, quanto à idade, é um grupo relativamente jovem, com idade mínima de 19 anos e máxima de 36 anos, havendo certa homogeneidade entre as idades. É um público predominantemente evangélico (65%). A maioria (80%) das participantes se autodeclarou parda. Quanto ao estado civil, 85% das participantes vivem em união consensual. Como ocupação, (60%) das gestantes são do lar. Em relação à escolaridade, 45% concluiu o ensino médio, nenhuma tinha ensino superior completo e apenas 20% possuía ensino superior incompleto. No que diz respeito à renda familiar, a maioria (45%) tem uma renda mensal de menos de um salário mínimo, 30% de um salário mínimo e 25% de mais de um salário mínimo.
4.2 DADOS OBSTÉTRICOS DAS PARTICIPANTES
A tabela seguinte (Tabela 2) mostra os dados obstétricos das participantes.
Tabela 2: Dados obstétricos das participantes
Fonte: Elaborada pela autora, 2019.
Legenda: G: gravidez, P: parto.
Em relação aos dados obstétricos, a maioria (40%) das mulheres estava grávida pela segunda vez, apenas 2 (duas) estavam grávidas pela sexta vez. 11 (onze) (55%) do total das gestantes tinha tido apenas 1 (um) parto normal, e apenas 1(uma) tinha 5 (cinco) partos normais. 10 (dez) do total das participantes, isto é, metade, tinham apenas um filho vivo. Quanto ao intervalo interpartal, o menor intervalo foi de 5 (cinco)meses e o maior de 15 (quinze) anos.
4.3 ANÁLISE DAS CATEGORIAS
Por meio de critérios pré-estabelecidos e gêneros definidos a partir de agrupamentos e análise das respostas, foram elaboradas 4 (quatro) categorias e são: Compreensão das gestantes sobre a violência obstétrica; Experiências das gestantes com a violência obstétrica; Reconhecimentos da violência obstétrica por meio de frases e imagens; e Representação da violência obstétrica por meio da escrita.
4.3.1 Compreensão das gestantes sobre violência obstétrica
Esta categoria foi elaborada a partir da análise das respostas das perguntas 1 e 2 da entrevista que são: Para você o que é a violência obstétrica? E para você que atos ou atitudes dos profissionais de saúde podem ser consideradas, violência obstétrica?
A violência obstétrica pode ser representada de diversas formas, como verbal, física, humilhação de caráter sexual, abandono e negligência, dentre outras, e durante as entrevistas foi possível ouvir relatos sobre cada tipo de abuso aqui citados, como se explicita nas falas das entrevistadas.
Ao perguntar para as participantes, o que era violência obstétrica, as respostas foram semelhantes, deixando claro que, o que mais as incomodavam era o famoso “corte lá embaixo”, os toques repetidos e a forma desrespeitosa que muitas eram tratadas pelos profissionais durante a assistência ao parto, o que fica claro nas falas seguintes:
(…) Violência obstétrica, é a pessoa sofrer um abuso sem está esperando, (…) é, por exemplo, a pessoa vai ter um parto normal e querer que aquele parto seja normal, sem nenhum tipo de corte (…) e quando descobre, na verdade, a pessoa já foi cortada pra ter o filho, já foi “abusada” (G1).
É quando o médico faz coisa que a gente não quer, tipo cortar a vagina (…) G9).
A episiotomia, ou vulgarmente chamada de “corte na vagina” é um procedimento que foi introduzido no século 18 pelo médico irlandês Sir Fielding, e consiste numa incisão cirúrgica no períneo, que teoricamente tem como objetivo, aumentar o espaço do canal de parto e facilitar a saída do feto, no entanto, este procedimento não deve ser feito rotineiramente, já tendo estudos que corroboram com o fim da episiotomia, demonstrando que a mesma, ao invés de evitar grandes lacerações, aumentam as taxas de lacerações de 3 e 4º grau (AMORIN; MELO; KATZ, 2017).
A episiotomia de rotina e os toques vaginais repetidos e desnecessários são considerados violência obstétrica do tipo físico (DINIZ et al., 2015), como foi citado pela entrevistada seguinte, ao responder o que é violência obstétrica.
(…) O toque também são várias vezes e isso incomoda, dói, sangra
(…) (G2).
Segundo Brasil (2017) o exame de toque vaginal, só deve ser realizado de 4 em 4 horas, ou se houver alguma anormalidade com o progresso do parto ou por solicitação ao desejo da parturiente.
A fala seguinte mostra como as mulheres se sentem fragilizadas diante da assistência recebida durante o trabalho de parto e do parto, mostrando os abusos de cunho verbal por parte da equipe.
“Violência obstétrica são as piadinhas das enfermeiras quando a gente está tendo bebe, e elas ficam, “param de chorar, próximo ano tu vai esta aqui de novo”, então ficam fazendo tipo chacota, da cara da mulher que tá sentindo dor, está fragilizada (…)(G4).
A violência obstétrica na sua forma verbal é uma das formas mais prevalentes e mais fáceis de ser percebida pelas parturientes, uma vez que, as fazem se sentirem humilhadas.
Ao serem perguntadas que atos ou atitudes dos profissionais de saúde que podem ser consideradas violência obstétrica, as respostas foram enfáticas, ressaltando a violência física (episiotomia) e verbal/emocional (frases humilhantes e abusivas), como mostram a seguir:
“O corte na hora do parto normal, que já até está proibido não pode mais, esse pra mim é o pior de todos, porque a mulher não espera ser cortada para ter um filho normal” (G1).
“Cortar a vagina sem precisão, sem permissão” (G9).
Até então, era comum às mulheres referirem a episiotomia como um ato de ajuda, e aos toques como um exame obrigatório, no entanto essa realidade já está mudando. Aqui volta a serem citados os abusos verbais, as humilhações de caráter sexuais.
“Eu acho assim, a gente ouvir coisas abusivas, tipo assim, ah não é teu primeiro filho e agora tu está com esta frescura. Ah, tu já não sabia como era a dor” (G2)?
“A forma emocional, assim como eles (profissionais) falam com a pessoa, eles não sabem ser humano, eles sabem que a gente tá sentindo dor, ali, mas não sabem acalmar, tentar apaziguar, mas aí que eles falam mesmo, ainda fazem graça e rir” (G4).
“Quando a mulher tiver fazendo força, o médico irá agredir com palavras dizer que na hora de fazer era bom e agora está fazendo corpo mole” (G13).
Estes depoimentos demonstram a ausência de humanização por parte dos profissionais, o descaso e o desrespeito com essas mulheres. Isso remete uma realidade que ainda persiste no cotidiano dos serviços de saúde, ressaltando a violência de caráter institucional no que se refere à violência obstétrica (SÁ et al., 2017).
4.3.2 Experiências das gestantes com a violência obstétrica
Esta categoria foi descrita a partir do relato das participantes que já haviam vivenciado algum tipo de violência obstétrica, respondendo a seguinte pergunta: você já vivenciou algum tipo de violência obstétrica? Todas conseguiram responder, sendo que 12 (60%) das participantes relataram ter passado por algum tipo de maus tratos que configurava violência obstétrica, como segue nos relatos seguintes:
“Acho que só durante meu aborto na curetagem, porque foi muito forte, muito intenso, eu senti muita dor, não foi assim uma coisa muito delicada, (não a trataram bem), porque pensavam (os profissionais) que tinha sido provocado, (demoraram a atender), porque geralmente quando a mulher vai com princípio de aborto, com sintomas, eles nunca vem perguntar pra gente, se aconteceu alguma coisa, eles sempre pensam logo que foi provocada, eles não pensam que a gente tenha tido alguma complicação”( G1).
“Sim, (…) muita piadinha, muito risinho, as enfermeiras se juntaram e começaram falar, faz força, faz força, para o ano tu vai tá aqui de novo” (…) (G4).
“Eles (profissionais) falaram assim, quando tu foi fazer tu gostou, agora na hora de fazer força, tu não quer fazer”. (ainda a marca 10 anos depois). (G6).
“No meu primeiro parto eu tinha 16 anos, me cortaram, me deixaram sozinha numa sala, não deixaram minha mãe ficar comigo. Me chamaram de foguenda, e algumas palavras muito feias que eu não quero dizer” (G9).
“Ano que vem estará aqui de novo, na hora de fazer tu gostou, agora tá gritando”. Empurraram minha barriga (achava que era normal, não havia reconhecido como violência obstétrica). (G15). (só reconheceu que havia sofrido violência, após ter visto as imagens e frases).
O cuidado durante o parto deve oferecer assistência, apoio e proteção, com o mínimo de intervenções necessárias, no entanto, tem-se no modelo vigente, uma assistência obstétrica agressiva, sem respaldo científico e que viola os direitos humanos básico das mulheres (SANTOS; SOUZA, 2017), como é perceptível nos relatos das participantes.
4.3.3 Reconhecimentos da violência obstétrica por meio de frases e imagens
Foi perceptível o impacto das mulheres ao verem as imagens e frases que representavam a violência obstétrica, mesmo aquelas que já tinham conhecimento da mesma e se impactaram com algumas frases. Houve aquelas em que tinham passado por situação semelhante, no entanto, até então, não a reconhecia como tal violência, e houve até quem se emocionasse em presenciar tal desrespeito com a mulher em um momento que deveria ser inesquecível, do ponto de vista positivo. Segue algumas falas das entrevistadas após verem as imagens e lê as frases:
“Aqui já está gerando uma violência verbal, e a gente fica até com medo de questionar ou falar alguma coisa… pelo menos eu ficaria muito, com muito medo. Dessas frases a que mais mexe com a gente é essa “ano que vem você estará aqui de novo” é como se a gente fosse uma máquina de fazer filho, (…)(G1).
“É uma violência absurda, eles falam pra colocar pressão” (G11).
“Revolta, ouvi todas essas frases. Falaram que se eu não ajudasse meu bebê ia morrer, fiquei desesperada, pois pensei que se acontecesse algo com meu filho, eu seria culpada, eu estava fazendo errado” (G16).
Nessas falas evidenciaram-se o domínio do profissional sobre o corpo da mulher, tirando todo seu protagonismo no momento do parto, sendo substituído pelo medo de ser maltratado, de não estar colaborando e até sentem-se culpadas caso venha ocorrer alguma intercorrência com seu filho.
A banalização da violência obstétrica na assistência ao parto na sua forma institucional é corriqueiramente confundida com boas práticas profissionais, já que, teoricamente, seria para o bem da paciente, seria uma forma de autoridade com a intenção de conseguir a “colaboração” da paciente (AGUIAR; D’OLIVEIRA; SCHRAIBER, 2013).
“É um descaso, é uma coisa que a gente não espera passar” (G3).
“Representa vergonha, vergonhoso” (G17).
“Tudo isso aqui é uma violência, as mulheres deveriam ser tratadas com carinho e não com violência já vi muitas mulheres passando por situação humilhante, quando fui ter meus filhos”. (Chorou ao ver as imagens e lê as frases) (G19).
Em uma revisão integrativa realizada por Souza et al., (2016) os tipos de violência obstétrica mais comuns citadas no estudos foram os atos de: humilhar, xingar, coagir, fazer piadas ou comentários desrespeitosos dentre outros, se assemelhando com os resultados deste estudo.
4.3.4 Representação da violência obstétrica por meio da escrita
Este foi o momento em que deu-se uma cartolina para a participante escrever de próprio punho uma frase ou palavra que representasse a violência obstétrica para ela. Apenas 12 participantes aceitaram fazer parte deste momento. Aqui elas escreveram o que realmente sentem/sentiram ou como se sentiram/sentiram diante de uma violência desnecessária.
“Na hora não senti dor, né? Você está prejudicando você e seu bebê” (G2).
“Não chora, ano que vem você está aqui novamente” (G4).
“A violência obstétrica é muito triste” (G6).
“A violência obstétrica é desumano” (G7).
“Está demorando muito, vamos “empurrar” a barriga dela” (G11).
“Agora tá gritando, é? Na hora de fazer não gritou” (G14).
O parto é um momento marcado por vários anseios que podem trazer benefícios ou danos psicológicos, e não é raro ser visto como um momento marcado pelo medo da dor, do desconhecido, pela insegurança e desinformação, o que muitas vezes são determinantes socioculturais que influenciam na escolha pelo tipo de parto (BARBOSA; FABBRO; MACHADO, 2017).
Essas frases mostram por meio dos escritos os sentimentos que essas mulheres experimentaram durante suas experiências com o parto normal, o que deixa marcado negativamente para o resto da vida, como se referiu a entrevistada G6 a qual relatou que demorou 10 anos para engravidar novamente, por medo de se repetir tudo que ela passou no primeiro parto, e tem aquelas que falaram que não queriam mais parto normal, que estavam providenciando um parto cesariano por medo de passar pela violência obstétrica novamente.
A violência obstétrica passa pelo viés da banalização por parte dos profissionais, dessa forma, se naturalizando as práticas obsoletas e desumanas, e muitas vezes os próprios profissionais da saúde não conseguem reconhecer que praticam este tipo de violência, vendo seus atos e condutas como rotinas hospitalares normais.
Contudo, este trabalho mostra que aos poucos o conhecimento sobre a violência obstétrica dissemina-se entre as mulheres, pois, já no presente estudo, 50% dessas sabiam o que era violência obstétrica. Embora seja uma pequena parcela, já se aponta para uma evolução.
CONCLUSÃO
No que se refere ao conhecimento das mulheres sobre a violência obstétrica, considerando o resultado deste estudo, pode-se perceber um avanço, no entanto, no que se refere à prática da mesma, por parte dos profissionais, ainda há muito que se trabalhar para mudar essa realidade, uma vez que, mais da metade das entrevistadas relataram ter sofrido maus tratos durante a assistência ao parto.
Quanto ao conhecimento das mulheres, este estudo evidencia que ainda há necessidade de enfatizar a educação em saúde durante o pré-natal, com o intuito de informá-la sobre seus direitos no ciclo gravídico-puerperal para que não ocorra a violação de seus direitos, tornando a violência obstétrica algo banal e rotineiro.
No entanto, é importante lembrar que a mudança dessa realidade deve ser feita em conjunta, uma vez que, é necessário envolver o profissional de saúde nesse processo, visto que ele é o “agressor”, e trabalhar a formação deste profissional é indispensável para que traga uma assistência humanizada desde sua formação acadêmica.
Este estudo demonstra que alguns comportamentos no modelo de assistência obstétrica vigente no país tem violado os direitos sexuais, reprodutivo e de gênero, indo de encontro com os princípios da Rede Cegonha e com as Diretrizes do Parto Normal, que algumas vezes são infringidos.
Dessa forma, a melhor forma de humanizar a assistência ao parto, é investir em capacitações profissionais por meio da educação continuada e também na formação acadêmica, isto é, durante a graduação e especializações, bem como investir em educação em saúde com o intuito de levar informações até às mulheres sobre seus direitos sexuais e reprodutivos e sobre a dualidade, parto humanizado X violência obstétrica, para que essas possam reconhecer e denunciar este tipo de violência.
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1Enfermeira Obstetra
2Mestre em Epidemiologia
3Mestre em Epidemiologia
4Doutora em Doenças Tropicais
5Doutora em Enfermagem
6Doutora em Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia