A IMPORTÂNCIA DOS RITUAIS RELIGIOSOS APÓS A MORTE COMO PROTETORES DA SAÚDE MENTAL NO ÂMBITO DA PANDEMIA PELA COVID-19

THE IMPORTANCE OF RELIGIOUS RITUALS AFTER DEATH AS PROTECTORS OF MENTAL HEALTH IN THE CONTEXT OF THE COVID-19 PANDEMIC

LA IMPORTANCIA DE LOS RITUALES RELIGIOSOS DESPUÉS DE LA MUERTE COMO PROTECTORES DE LA SALUD MENTAL EN EL CONTEXTO DE LA PANDEMIA DEL COVID-19

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7847335


Pedro Henrique Santos de Jesus¹
Yann Gonçalves Fernandes da Costa²
Judith Costa Neta³
Victor Petersen Dantas Moreno4
Andrey Melo Campos5
Mathias Luca Melo Alves6
Alexandre Magno Teixeira de Melo7
Yan Alves Rocha8
Horley Soares Britto Neto9
Icaro Celso Gomes Menezes10
Déborah Mônica Machado Pimentel11
Maria Julia Nardelli12


Resumo

Objetivo: Identificar o estado da saúde mental da população afetada pela COVID-19 e verificar os índices de sofrimento e/ou processos patológicos psíquicos nesses familiares frente aos inúmeros fatores estressores no enfrentamento do luto e das despedidas. Metodologia: Estudo transversal, exploratório, analítico e quantitativo, realizado entre setembro de 2021 a janeiro de 2022, a partir de dados coletados por meio de questionários eletrônicos via e-mail e telefone, para familiares e cônjuges de pacientes que vieram a óbito por Covid-19 no Estado de Sergipe, após dados fornecidos pela secretaria do estado de Sergipe. A amostra foi composta por 220 participantes, os dados foram analisados por meio das frequências absolutas e relativas, testadas com os testes Exato de Fisher ou Qui-Quadrado de Pearson. O nível de significância adotado foi de 5%. Resultados: Foi verificado que 33,2% dos familiares frente às adversidades do luto na pandemia se automedicaram para dormir ou para reduzir os sintomas da ansiedade; 47,3% dos familiares buscaram apoio religioso; 23,2% social; 31,4% psicológico; e muitos conseguiram alento e preservação da saúde mental. Com isso, os maiores índices de impacto na saúde mental foram daqueles familiares que perderam o pai e o filho, 32,9% e 25% respectivamente. Conclusão: No processo de luto, as pessoas lidam com as perdas de diferentes maneiras. Nesse sentido, constata-se que todos os indivíduos sofreram em algum momento e encontraram formas inventivas de lidar com a perda preenchendo o processo usual de luto, de uma forma mais saudável.

Palavras-chave: Luto; COVID-19; Saúde mental; Rituais Religiosos. 

Abstract

Objecitve: To identify the state of mental health of the population affected by COVID-19 and to verify the levels of suffering and/or psychological pathological processes in these family members in the face of the numerous stressors in coping with grief and goodbyes. Methodology: Cross-sectional, exploratory, analytical and quantitative study, carried out from September 2021 to January 2022, based on data collected through electronic questionnaires via email and telephone, for family members and spouses of patients who died from Covid -19 in the State of Sergipe, after data provided by the secretary of state of Sergipe. The sample consisted of 220 participants, and the data were analyzed using absolute and relative percentage frequencies, tested using Fisher’s Exact or Pearson’s Chi-Square tests. The significance level adopted was 5%. Results: It was analyzed that 33.2% of family members faced with the adversities of grief in the pandemic self-medicated to sleep or for anxiety; 47.3% of family members sought religious support; 23.2% social; 31.4% psychological; and many managed to get encouragement and preservation of mental health. As a result, the highest rates of impact on mental health were those of family members who lost both father and child, 32.9% and 25% respectively. Conclusion: In the grieving process, people deal with losses in different ways. In this sense, it appears that all individuals suffered at some point and found inventive ways to deal with the loss, filling the usual grieving process, in a healthier way.

Keywords: Mourning; COVID-19; Mental health; Religious Rituals. 

Resumen

Objetivo: Identificar el estado de salud mental de la población afectada por el COVID-19 y verificar los índices de sufrimiento y/o procesos psicopatológicos en estos familiares ante los numerosos estresores en el afrontamiento del duelo y la despedida. Metodología: Estudio transversal, exploratorio, analítico y cuantitativo, realizado de septiembre de 2021 a enero de 2022, a partir de datos coletados por medio de cuestionarios electrónicos por correo electrónico y teléfono, para familiares y allegados de pacientes que acuden al óbito por Covid-19 en el Estado de Sergipe, a partir de datos proporcionados por la secretaría del estado de Sergipe. La muestra estaba compuesta por 220 participantes, y los datos se analizaron mediante frecuencias porcentuales absolutas y relativas, comprobadas mediante las pruebas exactas de Fisher o de Chi-cuadrado de Pearson. El nivel de significación adoptado fue del 5%. Resultados: Se analizó que el 33,2% de los familiares que enfrentaron las adversidades del duelo en la pandemia, se automedicaron para el sueño o la ansiedad; el 47,3% de los familiares buscaron apoyo religioso; el 23,2% social; el 31,4% psicológico; y muchos obtuvieron alivio y preservación de la salud mental. Así, los índices más altos de impacto en la salud mental fueron los de los familiares que perdieron al padre y al hijo, 32,9% y 25% respectivamente. Conclusión: En el proceso de duelo, las personas afrontan la pérdida de diferentes maneras. En este sentido, se constata que todos los individuos sufrieron en algún momento y encontraron formas ingeniosas de afrontar la pérdida llenando el proceso de duelo habitual, de una forma más saludable.

Palabras clave: Duelo; COVID-19; Salud mental; Rituales religiosos.

1. Introdução

Dados atuais sobre o mapa global da pandemia apontam, que a Covid-19 desencadeou 6.538.244 de mortes pelo mundo (Hopinks, 2022), lamentavelmente o Brasil atingiu o ranque do segundo lugar, entre todos os países, com 685.835 de óbitos (Conass, 2022), os profissionais da saúde se encontram sobrecarregados com tantos casos, e a população mantivesse-se em isolamento social, aguardando a melhora do quadro e a queda da taxa de transmissão. Diante disso, surge além dos problemas inerentes à doença pandêmica, um fator de suma importância, a saúde mental dos indivíduos saudáveis que perderam seus familiares, vítimas do Covid-19, e que não mais poderão lidar com essas questões da mesma forma.

Os rituais culturais e religiosos que ajudam a processar o luto foram cancelados, sendo necessário seguir as recomendações sanitárias tais como: velórios com poucas pessoas; caixão lacrado no sepultamento; proibição do procedimento de tanatopraxia; velório com duração máxima de 1 hora e cremação do corpo (Fiocruz, 2020).

Nesse contexto, houve alterações na dinâmica dos participantes em cerimônias, como em funerais, nos quais é comum existir contato físico entre os presentes, hábitos como o de não utilização adequada das máscaras e práticas de homenagem ao falecido, como cantos, contribuem para a disseminação do vírus, podendo desencadear dessa maneira, múltiplas contaminações e assim podendo acarretar em mais casos por Covid-19 e até mesmo óbitos, o que gera lutos sequenciais e traz mais desafios para serem superados (Wallace, Wladkowski, Gibson  & White, 2020).

Apesar do conhecimento sobre a inevitabilidade da morte, poucos estão preparados para enfrentar situações de perda, podendo o processo de luto ser doloroso, prolongado e impactar profundamente na saúde física e mental dos familiares. A partir do momento em que se observa, no processo de luto, o surgimento de complicações a saúde, tais como:  depressão; ansiedade; abuso de: álcool, drogas e medicamentos; além dos desejos ou tentativas de suicídio. Tais fatores caracterizam-se como luto complicado e percebe-se a urgente necessidade de suporte, seja ele social, psicológico ou religioso, para o processo de enfrentamento do problema de forma saudável (Nunes, Pinto, Lopes, Enes & Botti, 2016). Nesse contexto, tais mecanismos encontram-se impossibilitados ou dificultados de serem realizados, visto que grandes reuniões foram proibidas, o distanciamento físico foi aplicado e os rituais foram proibidos para conter a propagação do vírus, e dessa forma alteraram a maneira como as pessoas lidam com o sofrimento. Ademais, há registros de colapso no sistema funerário (Moore, Jones, Ripoll, Jones & Yonally-Phillips, 2020), demandando que algumas famílias permaneçam por um longo período com o falecido em casa, até a remoção do corpo (Zibel, 2020), ou mesmo exigindo a abertura de valas comuns, para atender ao aumento repentino no número de sepultamentos (Albuquerque, 2020), que intensificam ainda mais as cargas emocionais, que possivelmente deixarão cicatrizes em diversas comunidades por muitos anos.

A relevância do presente estudo se dá na medida em que busca instigar uma análise mais ampla sobre os desafios vivenciados pelos familiares de indivíduos falecidos pelo Covid-19. Percebe-se que, apesar do crescente número de estudos relacionados ao Covid-19, são escassos os artigos e discussões acerca das diversas dificuldades enfrentadas, principalmente no tocante ao luto por esses familiares e inexistem estudos sob esse enfoque no Estado de Sergipe. Diante do exposto, este estudo se propõe a identificar como se encontra a saúde mental desses indivíduos, os índices de sofrimento e/ou processos patológicos psíquicos dos familiares, frente aos inúmeros fatores estressores decorrentes da pandemia, no enfrentamento do luto e das despedidas.

2. Metodologia

Trata-se de um estudo transversal, exploratório, analítico e quantitativo, a pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Sergipe, para apreciação e recebeu aprovação com o parecer nº 4.799.210. A pesquisa foi realizada no período de setembro de 2021 a janeiro de 2022 e os dados foram coletados por meio de questionários eletrônicos enviados via e-mail e telefone aos contatos de familiares e cônjuges dos falecidos por Covid-19 no Estado de Sergipe, dados estes, fornecidos pela Secretaria de Saúde do Estado. A amostra foi composta por aproximadamente 600 contatos e foram utilizados como critérios de inclusão, familiares e cônjuges de pacientes que vieram a óbito por Covid-19 no Estado de Sergipe, alfabetizados, de ambos os sexos, maiores de 18 anos, sem doença física ou mental que limite a compreensão de perguntas ou respostas, obtendo-se 220 participantes, desses 76 familiares, apresentaram sofrimento mental. Foram excluídos familiares e cônjuges os quais o contato, via e-mail, telefone, não foi estabelecido. Assim como indivíduos que não se enquadram nos critérios de inclusão supracitados. 

O instrumento de pesquisa foi composto pelo Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), para rastreamento de sofrimento mental, as respostas são do tipo sim ou não, divididas em quatro áreas (Humor Depressivo/Ansioso, Sintomas somáticos, Decréscimos de energia vital e Pensamentos depressivos), o resultado final é composto pela soma de cada resposta afirmativa, que pode variar de 0 (nenhuma probabilidade de sofrimento mental) a 20 (probabilidade extrema de sofrimento mental), quando a soma for igual ou maior que sete (7), está comprovado sofrimento mental. Além disso, foi verificado as seguintes variáveis: dados pessoais dos familiares e do falecido (faixa etária, sexo, estado civil, filhos, crenças, frequência da realização dos rituais religiosos, moradia, relação com o ente falecido, assistência a saúde, situação econômica, relação do trabalho, mudança de hábitos, planos de saúde); dados clínicos (comorbidades psiquiátricas, saúde mental, condutas adotadas para melhorar a saúde mental, automedicação); dados em relação ao serviço de saúde (postura dos profissionais de saúde, comunicação do óbito, dúvidas relacionadas aos procedimentos no cenário da pandemia, período para liberação do corpo após o óbito). 

As variáveis categóricas foram descritas por meio de frequência absoluta e relativa percentual. A hipótese de independência entre variáveis categóricas foi testada por meio dos testes Exato de Fisher ou Qui-Quadrado de Pearson. O nível de significância adotado foi de 5% e o software utilizado foi o R Core Team 2022 (versão 4.1.2). 

3. Resultados e discussão

A Covid-19 afetou drasticamente o bem-estar sócio emocional e físico de bilhões de pessoas em todo o mundo (Singer, Spiegel, & Papa, 2020) e lançou a todos os indivíduos, em menor ou maior intensidade, a um processo de luto, visto que uma parcela considerável da população perdeu algum ente querido como pai, mãe, filho, amigos, colegas para o Sars-CoV-2 (Lucas, 2021). No presente estudo 21,8% dos entrevistados perderam os pais, 10% os filhos, 16,8% os avós, 10,9% bisavós, 2,3% netos e netas, 18,6% tio e tias, 7,3% sobrinhos, 16,8% primos, 10% cônjuges e companheiros, 0,9% cuidadores e 15% outros (Gráfico 1). Essas perdas geram um impacto significativo na vida dos entrevistados, visto que 35% moravam com o falecido e 82,2% afirmaram ser próximos do mesmo. 

As novas regras impostas pelos governos as quais envolveram a limitação à livre circulação, com restrições a determinados lugares e medidas de distanciamento social impactaram nas relações sociais de modo direto ou indireto da população mundial e consequentemente geraram reflexos nas condições de saúde mental destes. Assim, em se tratando do processo de luto, o distanciamento usual em relação à ideia da morte deixa de existir e segundo Freud em “Considerações atuais sobre a guerra e a morte” (1914), a pandemia da Covid-19 assim como o episódio da 1ª Guerra Mundial, constitui uma cena de calamidade que é sentida de modo coletivo, deixando marcas em todos aqueles que a vivenciam (Verztman & Roamão-Dias, 2020).

Gráfico 1- Relação parentesco da vítima com o entrevistado.

A não possibilidade de vivenciar o processo de despedida do ente querido pode contribuir ao desenvolvimento do luto complicado, que segundo Boelen, Spuij & Lenferink (2019), esse ocorre quando a pessoa não tem a oportunidade de se ajustar perante a perda e pode provocar no indivíduo, emoções bastantes dolorosas e de difícil superação. Pode parecer semelhante à ansiedade ou à depressão, mas é distinto por ser uma reação direta à perda. Os sintomas do luto complicado tendem a incluir saudade do que foi perdido, solidão, choque, negação, raiva, ruminação e desconfiança (Bertuccio & Runions, 2020). Os funerais e atos religiosos após a morte são vistos como uma forma de ajuste do indivíduo e suporte social, a impossibilidade da realização rituais fúnebres pode influenciar em todas as etapas do ciclo do luto, o ciclo de Kübler-Ross (Kübler-Ross & Kessler, 2020), podendo culminar em um luto complicado. 

Este ciclo, também conhecido como do luto, é composto por cinco estágios (Figura 1): negação, raiva e culpa, barganha, depressão e em última instância, aceitação (Mortazavi, Assari, Alimohamadi, Rafiee & Shati, 2020), que podem ser vivenciados pelo indivíduo com maior ou menor intensidade e a vivência desse processo de forma crônica pode provocar transtornos mentais (Otani et al., 2017).

Figura 1: Five stages of the Kübler–Ross grief cycle (KÜBLER-ROSS e KESSLER. 2020).

A presente pesquisa mostrou que o sofrimento dos entrevistados ocorreu antes da morte do ente querido, uma vez que 32,3% avaliaram o tratamento de assistência à saúde como insatisfatório, e dos familiares que descreveram sofrimento mental, 44,7% afirmaram uma assistência inadequada. Em relação às explicações sobre a causa da morte do paciente, 47,4% dos familiares que apresentaram sofrimento, relataram ter recebido informações insuficientes. Além disso, observou-se que quando ocorreu o óbito, 41,8% desses apresentaram demora e/ou dificuldades na liberação do corpo e desse montante os familiares que apresentaram exaustão psíquica, 44,7% relataram que houve empecilhos na liberação do corpo do ente querido, dessa forma, são condições que levaram e causaram a negação da morte, 1º etapa do ciclo, por um tempo prolongado.

Dessa maneira, estudos mostraram que familiares de pacientes internados na UTI correram risco de morbidade psicológica durante e após a internação hospitalar (Gesi et al., 2020). O ambiente da UTI pode ser uma experiência bastante traumática para pacientes e familiares, visto que há situações em que ocorre, muitas vezes, incapacidade de comunicação, com seus entes queridos conectados a máquinas, ventiladas ou entubada, assim como visitas rigorosamente controladas e também eventos críticos, incluindo a morte, podem acontecer de modo que não há tempo para os parentes serem informados sobre o ocorrido e realizarem uma possível despedida (Allie et al., 2018). As estimativas de prevalência de luto patológico (LP) em familiares de falecidos em UTI são bastante variáveis, podendo ser de 5% a 52%, avaliada em média seis meses após o óbito (Mayland, Harding, Preston  & Payne, 2020).

Nesse contexto, em um estudo envolvendo 282 familiares de falecidos em UTI, a prevalência de LP aos seis meses foi de 52,1%. Em nossa pesquisa foi verificado que 82,7 % dos falecimentos ocorreram no hospital e 17,3% em casa, e dentre os familiares que tiveram indícios de luto patológico, 85,5% deles relatam que seu ente querido faleceu no hospital e 14,5% relatam falecimento em casa. Outrossim, uma questão de suma importância salientada em diversos estudos pelos familiares de vítimas da Covid-19, principalmente em UTI, foi a má comunicação com os profissionais da saúde (Downar et al., 2020), devido principalmente às estratégias de isolamento dos pacientes e profissionais, assim como à sobrecarga dos hospitais e a escassez de recursos humanos. 

A morte, embora faça parte do ciclo vital do ser humano, ainda se apresenta como um grande desafio aos profissionais da saúde devido à falta de preparo acadêmico e pela ilusão salvacionista que impera nos currículos de formação e que busca negar a morte (De Jesus et al., 2022). Vivenciá-la, no âmbito do desenrolar da tarefa do cuidado, implica, muitas vezes, em grande sofrimento psíquico ocasionados por sentimentos de falha, fracasso pessoal e profissional. Os resultados desse sofrimento psíquico são expressos nas atitudes de distanciamento emocional, silêncio, choro e isolamento que associados aos questionamentos sobre a finitude, em vista de todo o cenário de pandemia, geram quadros de ansiedade que espelham em sua grande maioria mecanismos de defesa como a negação e a racionalização (Beraldo, Almeida, & Bocchi, 2015).

Em um estudo desenvolvido no Reino Unido e Irlanda, muitos familiares se sentiram culpados por não terem sido capazes de estar com a pessoa que estava morrendo e dizer ‘adeus’, e frustrados por não terem sido capazes de garantir que os desejos de seus entes queridos fossem respeitados no final da vida. Assim, não ser capaz de ‘ver a jornada’ do paciente moribundo significava que famílias enlutadas muitas vezes tinham dúvidas após a morte, com relatos de aumento de perguntas de membros da família sobre os cuidados recebidos, incluindo raiva pelas restrições e sentimentos de injustiça, levando a dificuldades em aceitar a morte. Um clima geral de aumento da solidão, isolamento social, medo e ansiedade entre as comunidades, implicaram negativamente na saúde mental de muitos familiares de pacientes enlutados (Pearce et al., 2021). No questionário aplicado no presente estudo muitos familiares tinham dúvidas se a causa do falecimento foi devido a Covid-19 realmente, 22,1% dos que apresentaram pontuação no SRQ-20 acima de 7, relataram dúvidas, e 78,9% com SRQ-20 acima de 7, não tiveram dúvidas.

As realizações das cerimônias religiosas podem reduzir a culpa sentida pelos entes queridos. Entretanto, em muitos países houve o colapso dos serviços funerários, que levaram muitas famílias a abandonarem os corpos de seus entes nas ruas, que, somados a impossibilidade da despedida, a ausência do velório e caixão lacrado contribuíram com o luto patológico e a depressão pós perda (Oliveira et al., 2020). Sendo assim muitos indivíduos desenvolveram raiva por longo período, 2° etapa do ciclo, dos sobreviventes da pandemia e dos governantes dos seus respectivos países por não terem colaborado ou adotado medidas para frear a pandemia. Estima-se que para cada morte de COVID-19, nove pessoas são afetadas pelo luto (Pearce et al., 2021).

Os indivíduos começaram a relembrar o que poderiam ter feito de cunho religioso, médico e preventivo, durante os vários anos da pandemia de COVID-19, para que o ente querido não se contaminasse e não falecesse com a doença, tornando o 3º estágio do luto, negociação, prolongado, o que levou muitos familiares a terem emoções negativas.

A não realização de cerimônias religiosas juntamente com a falta de apoio de outros familiares, que não puderam estar presente no momento por causa das normas de distanciamento social, puderam fazer com que o familiar enfrentasse tudo sozinho e muitos desenvolveram depressão, e não apenas sintomas depressivos presente na 4º etapa do ciclo do luto. Nesse sentido, no questionário aplicado foi verificado que 33,2% dos familiares se automedicaram para dormir ou para reduzir a ansiedade após a morte do familiar, sendo 70,3% com ansiolíticos, 4,1% antipsicóticos, 60,8% antidepressivos, 16,2% com drogas de abuso lícitas (cigarro e/ ou álcool), 1,4% drogas de abuso ilícitas; 8,1% estabilizadores do humor, e 6,8% com outros (Gráfico 2).

Gráfico 2- Medicamentos usados pelos entrevistados após a morte de ente querido.

Além disso foi observado, que após a morte do ente querido, muitos familiares apresentaram alterações de seus hábitos, como o sono, alimentação, concentração, higiene e humor, sendo que 90,8% dos parentes que apresentaram desgaste mental, tiveram alteração do sono, 86,8% da alimentação, 84,2% da concentração, 36,8% da higiene e 71,1% do humor (Gráfico 3). Nesse contexto, o luto patológico pode confluir com outros transtornos como o depressivo maior e o de ansiedade generalizada. Dessa forma, verifica-se a importância de se rastrear os sintomas e outros transtornos associados e fazer o encaminhamento para o psiquiatra o mais cedo possível. 

Gráfico 3- Alterações dos hábitos

Em relação ao desenvolvimento de depressão, foi percebido em um estudo no Irã, que uma consequência ligada ao Covid-19 foi o suicídio. Tirar a própria vida, apesar de ser um ato individual geralmente afeta toda uma família, podendo gerar o chamado “efeito cascata”. Em 7 de abril de 2020 foi relatado em Teerã/ Irã, o primeiro caso de suicídio relacionado a Covid-19, tratava-se de um filho de um pai que havia falecido de Covid-19 que, de acordo com os familiares da vítima, a falta de rituais religiosos de luto e a infelicidade das pessoas ao redor causaram a depressão que levaram ao suicídio do menino, e, alguns dias depois, a mãe não suportando a perda do filho e do marido também se suicidou (Pirnia, Dezhakam, Pirnia, Malekanmehr, Rezaeian, 2020). Nesse sentido, em nosso estudo foi percebido que os familiares que perderam os pais totalizaram 21,8% dos casos; filhos, 10% dos casos, sendo que os maiores índices de impacto na saúde mental foram daqueles familiares que perderam o pai e o filho, 32,9% e 25% respectivamente (Gráfico 1).

Sendo assim, a 5° etapa do ciclo do luto, aceitação, não foi alcançada pela maioria dos familiares, e desenvolveram um luto patológico e aqueles que conseguiram levaram mais tempo que o normal para alcançar. Além disso, a possibilidade de várias mortes na mesma família pela mesma doença tornou a situação mais árdua (Mortazavi, Assari, Alimohamadi, Rafiee & Shati, 2020). Foi verificado que a maioria dos familiares perderam 1 ou 2 parentes, o que representa 56,4% e 36,7% respectivamente, dentre aqueles que apresentaram SRQ-20 positivo, 41,9% perderam um filho, 50% dois filhos, 2,7% três filhos, quatro ou mais, 5,4%. 

A perda de um ente querido ou de alguém próximo não se trata apenas de uma separação eterna, mas também, de uma mudança em todos os aspectos da vida. Didaticamente a perda pode ser dividida em primária, secundária e múltipla. A perda primária é ligada a eventos importantes que causam uma grande mudança na vida, como a morte, a perda secundária são consequências da perda primária e as perdas múltiplas são várias perdas primárias em sequência como ocorreu em algumas famílias nessa pandemia (Allie et al., 2018). A morte de um ente querido pode levar a perda de companheirismo, intimidade sexual e figura familiar, sendo essa perda múltipla, o tipo de perda que expõe o indivíduo a uma sobrecarga de luto (Zheng, Ma, Zhang & Xie, 2020).

Na pandemia de Covid-19 algumas pessoas também vivenciaram o chamado luto antecipatório, o qual ocorre pelo processo angustiante de piora progressiva da doença e pode ser emocionalmente desgastante para aqueles que o experimentam (Zhai & Du, 2020). Com a cobertura de notícias 24 horas por dia sobre a disseminação exponencial da Covid alguns indivíduos podem questionar ansiosamente se eles ou um ente querido inevitavelmente adquirirão ou até morrerão do vírus (Wallace et al., 2020). Além de lamentar possíveis sustos de saúde ou resultados fatais, muitos já estão sofrendo com as perdas antecipadas de grandes marcos ou eventos como formaturas, reuniões de família e casamentos. Como a segurança física e a saúde médica estão na vanguarda das preocupações da nação, não é incomum que as pessoas tenham se sentido culpadas ou egoístas por sofrer perdas não relacionadas à saúde, no entanto, não importa qual seja a perda real ou prevista, as reações são reais e válidas (Bertuccio & Runions, 2020).

Além disso, a falta de rituais religiosos, resultaram no luto marginalizado, o qual é desprovido de reconhecimento cultural ou social (Siegel, Hayes, Vanderwerker, Loseth  & Prigerson, 2008). Embora a morte seja a conclusão natural do ciclo vital, a rapidez desse evento, sua difusão em massa e a consequente interrupção de rituais e práticas funerárias socialmente compartilhadas, por outro lado, certamente limitaram a capacidade funcional dos familiares das vítimas de processar morte, isso contribuiu para a dor prolongada, aumentando assim o risco de luto complicado que resultaram em transtornos psicológicos. Essa situação, sem dúvida, contribuiu para comprometer áreas essenciais do funcionamento mental e físico dos indivíduos (Mayland, Harding, Preston, Payne, 2020).

4. Conclusão

O impacto social da pandemia, desencadeou piora substancial na saúde mental dos indivíduos e o luto é um fator contínuo e importante da pandemia da Covid-19, que afeta direta ou indiretamente toda a sociedade, seja indivíduos contaminados com o vírus, amigos e parentes do contaminado e profissionais da saúde. Nesse contexto, alguns processos de luto relacionados ao distanciamento social, incertezas à infecção e a incapacidade de implementação de rituais religiosos/ funerais como usual foram prejudicados. 

O processo de luto não tem uma linha do tempo clara, as pessoas lidam com as perdas de diferentes maneiras criativas e nesse cenário constata-se que todos os indivíduos sofreram em algum momento e, encontrar formas criativas de lidar com a perda preenche o processo usual de luto, e o torna menos danoso a saúde mental, mesmo não completando as 5 etapas do ciclo de Kübler-Ross, e mesmo as vivenciando de forma prolongada. Dessa forma, é importante para que o processo de luto na pandemia seja saudável, que haja uma boa e satisfatória assistência dos profissionais de saúde em relação ao tratamento dos pacientes e na comunicação do óbito, um empenho para que os trâmites na liberação do corpo seja feito de forma eficaz, segura e eficiente, também é necessário rastrear os sintomas de luto patológico e outros transtornos associados e fazer o encaminhamento para o psiquiatra ou psicólogo o mais cedo possível e as pessoas podem criar e encontrar maneiras criativas de expressar sua angústia e sofrimento por meio de redes sociais, da arte, música, jardinagem, escrita, conversa com amigos e familiares, através de apoio psicológico, religioso, social, e outros meios.

Ademais, dada a necessidade crescente de apoio a esse processo é indispensável que os formuladores de políticas, financiadores, profissionais da saúde, assistência social e serviços comunitários trabalhem juntos para desenvolver um modelo sustentável de recursos, a fim de amenizar esses empecilhos entre a pandemia e o luto. Para que, assim, não se forme uma nova pandemia: onde a saúde mental seja a principal afetada.

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¹ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3728-4567
Universidade Tiradentes, Medicina. Aracaju-SE, Brasil.
²ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7217-809X
Universidade Tiradentes, Medicina. Maceió-AL, Brasil.
³ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8433-8409
Universidade Tiradentes, Enfermagem. Aracaju-SE, Brasil.
4ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8072-6618
Universidade Tiradentes, Medicina. Aracaju-SE, Brasil.
5ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8781-9849
Universidade Tiradentes, Medicina. Aracaju-SE, Brasil.
6ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5701-0918
Universidade Tiradentes, Medicina. Aracaju-SE, Brasil.
7ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2490-3813
Universidade Tiradentes, Medicina. Aracaju-SE, Brasil.
8ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2185-1416
Universidade Tiradentes, Medicina. Aracaju-SE, Brasil.
9ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3141-7488
Universidade Tiradentes, Medicina. Aracaju-SE, Brasil.
10ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2664-3923
Universidade Tiradentes, Medicina. Aracaju-SE, Brasil.
11ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2102-7125
Universidade Federal de Sergipe. Aracaju-SE, Brasil.
12ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5203-2069
Universidade Tiradentes. Aracaju-SE, Brasil.