IMPACTS OF PESTICIDES THE HEALTH OF RURAL WORKERS: INTEGRATIVE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7845980
Aline da Silva Gomes1
Suellen Alves de Azevedo2
Márcia Guelma Santos Belforte3
Sara Sthéphanny Silva Pereira4
Vanderlene Brasil Lucena5
Samara de Carvalho Paiva6
Anadrielly Rosa de Queluz7
RESUMO
Introdução: Nas últimas quatro décadas a agricultura tornou-se uma das atividades com maior valor econômico, onde cresceu a necessidade de aumentar a produtividade. Mas, diante desta realidade o agricultor enfrenta diversos desafios no que tange a prática inadequada que gera severas consequências ao ambiente e a saúde do agricultor. Ineficiência na irrigação e o uso inadequado e por vezes indiscriminado de produtos químicos no cultivo são precursores para o desenvolvimento de agravos como, casos de intoxicação, problemas respiratórios, desenvolvimento de cânceres e até mesmo óbito. Objetivo: Identificar os impactos à saúde dos agricultores, decorrente do uso de agrotóxicos no agronegócio. Métodos: Estudo de revisão integrativa da literatura, norteada pela questão: Qual a relação do uso de agrotóxicos com o adoecimento do agricultor? Realizadas nas bases de dados: (LILACS), (SciELO) (PUBMED), publicadas no período de 2012 a 2022. Resultados: Doze artigos foram utilizados nesta revisão, permitindo identificar a associação do adoecimento dos trabalhadores rurais com o uso contínuo, inadequado, e superestimado dos agrotóxicos, por motivos de consciência a respeito dos malefícios que trazem à saúde. Conclusão: Os agricultores são carentes a respeito do uso correto dos agrotóxicos, por serem trabalhadores com baixo índice de escolaridade, não compreendem os riscos à saúde que os agrotóxicos para si e para sua família e população. A omissão do uso de EPIs também é um fator determinante para o surgimento de problemas mais graves. E mesmo reconhecendo os sintomas de intoxicação por produtos tóxicos, os agricultores apresentam uma certa resistência na busca por atendimento.
Palavras-Chave: Agrotóxico, intoxicação, saúde.
ABSTRACT
Introduction: In the last four decades agriculture has become one of the activities with the greatest economic value, where the need to increase productivity has increased. But in view of this reality, the farmer faces several challenges regarding inadequate practice that generate severe consequences for the environment and the health of the farmer. inefficiency in irrigation and the inadequate and sometimes indiscriminate use of chemicals in cultivation are precursors to the development of diseases such as cases of intoxication, respiratory problems, development of cancers and even death. Objective: To identify the health impacts of farmers, resulting from the use of pesticides in agribusiness. Methods: Study of integrative literature review, based on the question: What is the relationship between the use of pesticides and the illness of the farmer? Performed in the databases: (LILACS), (SciELO) (PUBMED), published from 2012 to 2022. Results: Twelve articles were used in this review, allowing to identify the association of the illness of rural workers with the continuous, inadequate and overestimated use of pesticides, for reasons of conscience about the harms that bring health. Conclusion: Farmers are lacking in the correct use of pesticides, because they are workers with low education, and do not understand the health risks of pesticides for themselves and their family and population. Omission from the use of EPIs is also a determining factor for the emergence of more serious problems. And even recognizing the symptoms of toxic product poisoning, farmers exhibit some resistance in the search for care.
Keywords: Pesticide, intoxication, health.
1 INTRODUÇÃO
A agricultura brasileira tem crescido consideravelmente nos últimos anos, e o Brasil ganha destaque como um dos principais produtores de alimentos. Em 2020, a soma de bens e serviços gerados no agronegócio chegou a R$ 1,98 trilhão ou 27% do PIB brasileiro, no qual a maior parcela é do ramo agrícola, que corresponde a 70% desse valor (CEPEA, 2021).
Mas nem sempre o cenário deste ramo foi visto desta forma, por um bom tempo, a agricultura era considerada apenas como uma atividade de produção de alimentos, e ao decorrer dos anos passou a ter valor econômico, despertando o interesse em ampliar a produção para a comercialização, dando início ao uso de componentes fósseis causando poluição do solo, água e ar (FELDENS, 2018).
O aumento e a demanda por alimentos nas últimas décadas passaram a exigir cada vez mais cuidados na cadeia produtiva dos alimentos, visando maior rendimento e controle de doenças (CASTRO, 2009). Esta trajetória recente da agricultura é resultado de vários fatores como o próprio cenário do país, que apresenta recursos naturais diversos, extensas áreas agricultáveis, disponibilidade de água, calor e luz de forma abundante para o crescimento biológico. Outro fator que fez a diferença nestes últimos 50 anos foram os investimentos em pesquisa agrícola com inovação nas ciências, tecnologias adequadas à produção (EMBRAPA, 2016).
A adoção desse novo padrão tecnológico, intensificou a utilização massiva de agrotóxicos, que já era utilizado desde a revolução verde na década de 60, ampliando e implantando sistemas de monoculturas, com uso intensivo de fertilizantes importados, sementes geneticamente modificadas e uma variedade de químicos na produção (CASTRO, 2009).
Atualmente, o Brasil tem cerca de 3 mil produtos agrotóxicos autorizados para comercialização, sendo que em 2021 foram liberadas quase 500 novas substâncias, e desde então, houve aumento de problemas a saúde como, intoxicações agudas e crônicas que evoluíram para óbito em alguns casos, que estão diretamente relacionadas com o uso dessas substâncias químicas (LAGE, 2021; CARNEIRO et al., 2015). Entre os anos de 2010 e 2020, 1.987 pessoas perderam suas vidas por intoxicação aguda por agrotóxicos, o que é sabidamente uma informação subestimada, perante as doenças crônicas decorrentes do uso desses venenos (CARNEIRO e SANTORUM, 2022).
Os agrotóxicos, ou defensivos agrícolas, pesticidas, praguicidas, veneno. São algumas das inúmeras nomenclaturas relacionadas a um grupo de substâncias químicas utilizadas no controle de pragas. Tão vasta quanto a quantidade de denominações são a lista de efeitos nocivos dos agrotóxicos à saúde humana (BOHNER, ARAÚJO, NISHIJIMA; 2013).
A intoxicação por agrotóxicos pode ocorrer em várias etapas, como durante a diluição do produto, o manejo até a área a ser dispensado, ou na aplicação do produto seja ela por meio terrestre ou aéreo, diante deste, o agricultor não está isento de contaminação durante sua atividade laboral (NEVES et al., 2021), principalmente em casos onde não há o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), seja por ausência deste equipamento ou por desinformação por parte do trabalhador (RODRIGUES; FERÉS, 2021).
A aplicação de agrotóxicos ocorre principalmente por meio de pulverização seja ela manual ou por meio de aviação, o que causa a poluição do ar nos ambientes de trabalho associando-se a uma extensa gama de doenças do trato respiratório que acometem desde o nariz até o espaço pleural (BRASIL, 2010), pode afetar as vias aéreas causando obstruções pulmonares e desenvolvendo síndromes tóxicas, podendo evoluir para um quadro de doença pulmonar obstrutiva crônica – DPOC (BRASIL, 2010).
Os impactos a saúde dos agricultores a respeito de contaminações por agrotóxicos é diretamente proporcional a quantidade e intensidade de aplicação de tais pesticidas, sendo assim quanto maior for o uso de agrotóxicos durante o plantio, maior será a taxa de contaminação (RODRIGUES; FERÉS, 2021) do ar, água, solo e nos alimentos que chegam à mesa (GOMES, 2016).
Diante do exposto e da crescente liberação de agrotóxicos no Brasil e no mundo, faz se necessário discutir sobre o tema diante da escassez de informações e da necessidade de se pontuar sobre os efeitos destes agentes químicos na saúde humana. Por este motivo, este estudo tem por objetivo investigar os principais riscos decorrentes do uso de agrotóxicos nos âmbitos da saúde do trabalhador e discutir fatores associados ao uso prolongado de agrotóxicos e sua relação ao uso do Equipamento de Proteção Individual (EPIs), que contribuem para o adoecimento desse agricultor.
2 METODOLOGIA
2.1 Tipo de estudo
Trata-se de uma pesquisa de revisão integrativa da literatura.
2.2 Local da Realização da Busca dos Estudos
A busca foi realizada nas bases eletrônicas de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Public/publisher Medline (PUBMED). Usando os Descritores em Ciências da saúde (DeCs) e os operadores Booleanos AND e OR.
Tabela 1. Estratégia de busca.
2.3 Critérios de Inclusão e Exclusão
Para compor a amostra, foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: artigos originais publicados no período de 2012 a 2022, disponíveis eletronicamente que abordassem o tema em questão. Foram excluídas revisões de literatura, anais de eventos científicos, relatos de experiência, dissertações e teses. Os critérios de inclusão e exclusão foram aplicados e possibilitaram selecionar 16 artigos para compor a amostra do estudo.
3 RESULTADOS
Para organização e simplificação dos dados, foi usado o diagrama de fluxo PRISMA 2020.
Figura 1. Diagrama do resultado da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão do estudo. Imperatriz, MA, 2022.
Figura elaborada com base no diagrama PRISMA.
No desenvolvimento do presente artigo, identificou-se inicialmente um total de 849 estudos, que após passarem por um sistema de filtragem foram reduzidos a 16 artigos sendo estes pré-selecionados para leitura completa. Mais adiante, após a leitura minuciosa, foram excluídos 4 artigos, delimitando a pesquisa em 12 artigos com grande relevância para a temática e construção deste trabalho, conforme apresentado na figura 1.
Quadro 1. Quantitativo de artigos encontrados nas bases de dados., Imperatriz, MA, 2022.
Para esclarecer ao leitor as informações sobre as publicações científicas para a melhor compressão dos artigos e autenticidade do mesmo, foi elaborado um quadro contendo as descrições dos artigos analisados.
Quadro 2. Sinopse dos artigos incluídos na revisão integrativa. Imperatriz, MA, 2022.
4 DISCUSSÃO
A maior parte dos artigos encontrados foram publicados em 2021 (4 artigos), seguidos pelos anos de 2020 e 2019 (ambos com 3 artigos) e nos anos de 2017 e 2016 (1 artigo em cada), todos os artigos foram publicados no Brasil. As produções apontam os principais fatores relacionados com o adoecimento dos trabalhadores rurais por uso de agrotóxicos, os dados indicam direta relação com o baixo índice de escolaridade, carências de informações sobre os riscos da exposição a esses produtos tóxicos, não uso dos equipamentos de proteção individual (EPI) e a ausência de políticas governamentais direcionadas à saúde deste trabalhador.
4.1 Perfil dos Trabalhadores Rurais
Diante dos artigos analisados, oito (8) deles relatam sobre o perfil demográfico dos trabalhadores rurais, a respeito da sua vulnerabilidade.
Os dados apontam que a maioria dos agricultores são homens, na faixa etária entre >39 e ≤ 60 anos, destacam que esse fator está diretamente relacionado com a realidade sociocultural, já que em comunidades rurais os homens são destinados desde a infância a um trabalho mais braçal enquanto as mulheres seguem em atividades domésticas. O nível de escolaridade também é comentado quando relacionado ao adoecimento dos agricultores, já que a baixa escolaridade pode comprometer a compreensão do agricultor, sobre as informações a respeito do uso correto dos agrotóxicos, e sobre os perigos nele presente, deixando-os em uma posição ainda mais vulnerável, esses dados são semelhantes aos encontrados por Alves et al. (2021); Magalhães e Caldas (2019).
Alves et al. (2021) destaca em seu estudo que 82,92% dos agricultores rurais são casados e que o trabalho é predominantemente familiar. Quando avaliado o nível de escolaridade entre os agricultores. Foi visto que o baixo nível foi predominante, e 14,63% afirmaram que cursaram apenas entre a 1ª e a 4ª série do ensino fundamental, 66,6% não concluíram sequer o ensino fundamental, e ainda há aqueles que afirmaram não saber ler.
Estes resultados corroboram com o estudo de Buralli et al. (2021) e Richartz (2021) no fator idade, pois relatam que o agricultor tem em média 44 anos e que cerca de 15% dos deles nunca frequentaram a escola, onde a maioria apresentava baixa escolaridade, contando apenas com ensino fundamental incompleto, apresentando dificuldades na leitura e compreensão das medidas de segurança estabelecidas nos rótulos dos agrotóxicos. Corroborando também com os dados de Corcino et al. (2019) em relação à faixa etária e a escolaridade, mas em contrapartida discordam em relação a atuação feminina nesse meio, onde segundo os autores, as mulheres são fundamentais na organização e execução do trabalho agrícola e por se encarregaram de tarefas domésticas que incluem a aplicação de agrotóxicos no domicílio e a lavagem de roupas e acessórios utilizados no campo, estão mais expostas a esses agroquímicos.
Bartolotto et al. (2020) diz que a escolaridade está associada às melhores condições de saúde e que indivíduos com menor índice de escolaridade apresentam mais risco de contaminação pois pode estar diretamente relacionado com a atividade desempenhada, uma vez que os trabalhadores com menos estudo ficam encarregados das funções mais insalubres. Concordando com Buralli et al. (2021) que aponta que a maioria dos entrevistados em sua pesquisa não reconhecem e aceitam os riscos dos agrotóxicos à saúde ou considera-os como indispensáveis à produção agrícola, relativizando o problema da exposição, minimizando ou mesmo negando seus perigos.
Em discordâncias aos demais, quando se trata das cidades mais vulneráveis à contaminação por agrotóxicos, Corcino et al. (2019), Abreu e Alonso (2016) evidenciam que o uso de agrotóxicos é feito por trabalhadores de qualquer idade e que a diferença significativa de idade está presente apenas nos proprietários e não nos trabalhadores. Porém, concordam que os homens são mais expostos do que as mulheres por atuarem na manipulação, preparação, aplicação e limpeza dos equipamentos. E que a baixa escolaridade junto ao analfabetismo é um dos pressupostos para os maiores indicadores de notificações, intoxicações e óbitos, bem como, uma maior recusa ao uso dos EPIs.
Os achados de Ristow et al (2020) condiz com os de Corcino (2019) em relação a exposição associada à educação, já que a dificuldade de leitura dos rótulos desses produtos é considerado um fator de risco ao trabalhador, tornando necessário o treinamento para minimizar os riscos da contaminação por este produto. Outro dado evidenciado no estudo de Corcino et al. (2019) trata sobre a renda dos participantes da pesquisa ser menor ou igual a 2 salários mínimos, sendo a média estimada em 2,75 salários mínimos, salientando que 8,7% dos participantes ganham menos que um salário e que há diferença significativa entre a renda dos proprietários e trabalhadores, repercutindo diretamente nas condições de moradia, alimentação, lazer, educação e outros.
4.2 Uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)
Um aspecto que merece destaque sobre o uso de agrotóxicos são as práticas de uso, ou a inexistência delas, dos Equipamentos de Proteção Individual no manejo dos agrotóxicos e a resistência no uso de EPIs está diretamente ligada com o adoecimento no meio rural, visto que essa é a única medida de segurança nesse meio. Como é demonstrado no estudo de Richatz et al (2021) e Cardoso et al. (2021), a insuficiência de informações e entendimento sobre os riscos a saúde é um dos motivos associadas ao não uso de equipamentos de proteção individual, onde revelam a prática incomum do uso de EPIs por motivos de desconhecimento entre a relação do uso dos equipamentos com a promoção a saúde. Em contrapartida Ristow et al (2020) apresenta em sua pesquisa um achado intrigante onde relata que não identificaram associação entre o uso de EPIs e intoxicação, mas que este fator ocorre por causalidade reversa, quando os trabalhadores rurais que já foram intoxicados passam a usar o EPI.
Corcino et al (2019) e Magalhães e Caldas (2019) relatam que os agricultores não usam os equipamentos de proteção individual por motivos de desconforto, o que deixa evidente a falta de preparo dos trabalhadores rurais, o que corrobora com Buralli et al. (2021) que ao analisar o relato dos agricultores sobre a importância do treinamento para manipulação de agrotóxicos, observou quatro concepções diferentes e verificou a descrença quanto à proteção do EPI por parte de alguns participantes.
Dentre as práticas com maior risco de contaminação Freitas e Garibotti (2020), destacam que muitas destas substâncias são aplicadas simultaneamente na produção agrícola, o que denota a necessidade de identificação dos efeitos sinérgicos dessas misturas, já que comumente são realizadas a pulverização e a diluição com maior riscos de intoxicação, devido ao grande contato com os agrotóxicos e as técnicas inadequadas no manejo e aplicação decorrente da falta de informação e o não uso dos EPIs.
A exposição de agricultores a diferentes agrotóxicos por longo tempo foi evidenciada por Corcino, et al., (2021) e Ristow, et al., (2020) e pode ser explicado no trabalho de Buralli et al. (2021) em que o percentual de agricultores que relataram agravos à saúde decorrentes do uso de agrotóxicos, seja em si próprio ou em familiares, foi de 37% e que mesmo não realizado testes laboratoriais a maioria das intoxicações crônicas por agrotóxicos são silenciosas. Abreu e Alonzo (2016) explicam que os risco de intoxicação por agrotóxico no manejo são elevados, pois as substâncias tóxicas estão mais concentradas, sendo assim o respingo e/ou inalação podem causar intoxicações agudas e desenvolver agravos a longo prazo, essa situação é ainda mais crítica quando associada a ausência do uso correto dos EPIs.
4.3 A relação entre o uso de agrotóxico e os problemas a saúde
Apesar dos riscos e da consciência por parte dos agricultores, foi observado por vários autores que a subsistência da agricultura depende desses insumos. Murakami et al (2017) aponta em seu estudo que a percepção dos agricultores quanto ao uso do agrotóxico é que eles reconhecem a importância do uso de proteção para lidar com agrotóxicos, entretanto parece não ser este risco considerado ao lidarem com os produtos, fazendo com que o trabalho apresente risco a saúde, e reconhecendo que o produto possui aspectos positivos quando se trata da otimização no trabalho. Entendem que o produto gera uma série de consequências ao bem-estar do trabalhador rural, e este dano é relacionado com o uso inadequado dos produtos e também com o uso de múltiplos agentes tóxicos, o esforço físico intenso, a alta toxicidade e a não utilização de EPIs também são fatores culminantes para o adoecimento.
Para Ristow et al (2020) reconhecer os riscos à saúde associado ao uso dos agrotóxicos é um fator importante para a precaução e busca de informação sobre o uso seguro desses produtos químicos. Esta mesma ideia é defendida por Richartz et al (2021) e Buralli et al (2021) no que tange ao conhecimento sobre os agrotóxicos principalmente em casos de intoxicação, e a importância da adoção de medidas preventivas que possam evitar possíveis contaminações. Este mesmo dado também foi mencionado no estudo de Corcino et al (2019) principalmente em relação a busca de atendimento médico em casos de contaminação.
Bortolotto et al (2020) cita que as pessoas que moram em torno das lavouras também apresentam efeitos dessas substâncias, apesar de os mais afetados serem os que trabalham com contato direto a agrotóxicos, toda população é suscetível a contaminação por meio do ar, água e solo. Dado este revelado no estudo de Freitas e Garibotti (2020) onde os dados apontam que a maioria dos casos de intoxicação ocorreram em residências próximas a lavouras indicando a existência de problemas de armazenagem e descumprimento da distância entre a lavoura e as residências.
Além da exposição ocupacional os agricultores, suas famílias, e os consumidores dos produtos sofrem diretamente com o uso dos agrotóxicos. É o que aponta Murakami et al (2017) de que a exposição frequente a agrotóxicos provoca intoxicações crônicas identificadas pelos transtornos psiquiátricos, perda auditiva e polineuropatias. achados semelhantes foram encontrados nos estudos de Ristow et al (2020) que comenta a respeito dos efeitos agudos à saúde, destacando problemas respiratórios, falta de ar, intoxicação, enfisema pulmonar, câncer de pele, câncer no pâncreas e na cavidade nasal, e doença de alzheimer, cefaleia, tontura, vômito, mialgia, e irritação na pele. Richartz et al (2021) complementa que a população reconhece de forma geral os sintomas de intoxicação, mas em compensação desconhece os danos trazidos à saúde decorrente da exposição crônica aos agrotóxicos.
Além dos sintomas já citados, Magalhães e Caldas (2019), Bortolotto et al (2020) e Cardoso et al (2021) apresentam fatores como cólicas abdominais, fraqueza, visão alterada, xerostomia, deficiência cognitivas, doenças degenerativas do sistema nervoso central, disúria, cãibras, e ciclo menstrual irregular, como sintomas diretamente ligados ao uso de agrotóxicos. Brust et.,(2019) reafirma que os produtores que atuam na preparação e manuseio dos agrotóxicos apresentam sintomas como cefaléia, erupções cutâneas, prurido e intoxicação agroquímica.
Murakami et al (2017) demonstram que o uso de agrotóxico está relacionado diretamente com o desenvolvimento de alguns tipos de câncer, como o câncer de cérebro, de próstata, rins, linfoma, leucemia, esse flagelo também é presente em crianças no pré e pós-natal.
A respeito da procura por atendimento em casos de intoxicação Cardoso et al (2021) comenta que a procura por serviços de saúde tem aumentado. Freitas e Garibotti (2020) diverge desta ideia, pois relata que a procura só ocorre em casos de intoxicação aguda, com o intuito de cessar os sintomas, mas que em casos crônicos a procura só é feita em casos graves.
Corcino et al (2019) alerta sobre a falta de atenção por parte da vigilância a esses agricultores que por muitas vezes já apresentaram quadros de intoxicação e mesmo assim foram negligenciados pelo sistema de saúde. Cardoso et al (2021) concorda quando fala da invisibilidade dos agricultores por parte dos profissionais da saúde devido a longa distância a ser percorrida para uma assistência a domicílio.
5 CONCLUSÃO
Mediante aos artigos encontrados foi possível confirmar trabalhador rural é vulnerável a intoxicação por agrotóxicos por inúmeros motivos relacionados principalmente com o tempo prolongado de exposição a esses insumos, que o uso de agrotóxicos no plantio, provoca sérios agravos à saúde, não só a saúde do agricultor, mas também aos familiares e a população rural devido a contaminação por meio do solo, água e ar.
O trabalhador rural é vulnerável a intoxicação por agrotóxicos por inúmeros motivos relacionados principalmente com o tempo prolongado de exposição a esses insumos. Também foi verificado que apesar de alguns agricultores terem consciência dos riscos do uso destes insumos e da importância do EPI, há um distanciamento entre o saber e a prática do fazer. E ainda há aqueles que devido a baixa escolaridade não sabem sobre os riscos que os agrotóxicos trazem a saúde por não compreenderem as instruções nos rótulos, e pela superestimação do uso de EPIs, negligenciando a importância do uso mesmo por questões de desconforto, e alto custo.
Foi observado que as intoxicações agudas são as comuns, como cefaléia e náuseas. Já as intoxicações crônicas são várias, contudo, percebeu-se que há escassez de informações, e ressalta-se a importância da realização de pesquisas na área.
Diante disto, é evidente a carência dos agricultores a respeito de ações por parte governamentais, direcionadas à educação em relação ao uso correto dos agrotóxicos, e sobre os perigos que eles apresentam, também se faz necessário o esclarecimento sobre a importância do uso dos Equipamentos de Proteção Individual para prevenção de agravos, e por fim enfatizar sobre o reconhecimento dos sintomas de intoxicação e a necessidade da busca nas unidade de saúde sempre que apresentar algum indício de adoecimento.
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1Acadêmica do curso de Enfermagem da Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão. Email: alinegomeszi60@gmail.com
2Docente da Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão. Email: suellen.azevedo@unisulma.edu.br
3Docente da Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão. Email: marcia.belfort@unisulma.edu.br
4Docente da Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão. Email: sara.pereira@unisulma.edu.br
5Coordenadora dos laboratórios da Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão. Email: laboratorio@unisulma.edu.br
6Acadêmica do curso de Fisioterapia da Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão. Email: samaradecarvalhopaiva@gmail.com
7Acadêmica do curso de Fisioterapia da Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão. Email: anadrielly.q@gmail.com