GESTÃO SOCIAL NO CONTEXTO DE EMPRESAS E MERCADO: AUTOMAÇÃO E A INTELIGÊNCIA CRIATIVA E SUA RELAÇÃO COM A GESTÃO SOCIAL NO CONTEXTO ORGANIZACIONAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7838254


Camila Pereira Nunes
Carlos Henrique Michls de Sant´Anna
Felipe de Lucena Mendonça
Karina Rampche de Carvalho
Maria Carolina Marinho de Menezes Lyra


Resumo: Esse trabalho tem como objetivo pesquisar sobre a automação e a inteligência criativa e sua relação com a gestão social no contexto organizacional, a fim de refletir sobre a importância da inteligência criativa no processo de automação. Para tanto, é necessário descrever as habilidades exigidas pelo mercado de trabalho, analisando as forças que o move e apontando a essencialidade da inteligência criativa na gestão social diante do processo de automação. O estudo tem foco na dinâmica entre a geração de conhecimento e o desenvolvimento das tecnologias, levando em consideração o significado social do processo de automação. Realiza-se, então, uma pesquisa de caráter qualitativo, que visa trazer fundamentações a respeito do tema. Diante disso, verifica-se que no convívio com a automação, a inteligência criativa se torna habilidade essencial para que a gestão social faça parte do processo de mudança organizacional.

Palavras-chave: inteligência criativa; automação; gestão social; habilidades; mudança.

Introdução

O século XXI trouxe consigo transformações profundas e significativas, que afetam diversos aspectos da sociedade, como o avanço tecnológico, novas formas de comunicação, a valorização de perfis profissionais específicos e a busca por maior qualidade de vida. Nesse contexto, a gestão social busca gerenciar esse processo, focando na gestão do conhecimento necessário para lidar com a automação. O mercado de trabalho passa por transições de alto impacto, o que pode dificultar para muitas pessoas o protagonismo em suas carreiras, caso não se envolva a tempo. São mudanças desde socioculturais a mudanças tecnológicas, que movem o mercado de trabalho (ZUBOFF, 2018).

Um estudo de Oxford chamou a atenção ao apontar que, até 2030, 45% dos empregos americanos existentes poderão ser eliminados; isso pode ser considerado reflexo direto do processo de automação nas organizações (FREY; OSBORNE, 2013).

De acordo com o psicólogo Howard Gardner (1983), o cérebro humano possui diversos tipos de inteligência, e o desenvolvimento de cada uma delas depende de indivíduo para indivíduo. Com isso, ele criou a Teoria da Inteligência Múltipla. “Segundo ele, algumas pessoas nascem com inteligências específicas, enquanto outras podem desenvolvê-las por meio do aperfeiçoamento contínuo” (IBC, 2018). Inteligência, de uma maneira simples, se trata da capacidade do indivíduo de solucionar problemas por meio de seus conhecimentos. Conclui-se que, inteligência, no senso comum da nossa sociedade, está associada a problemas matemáticos e lógicos. O que Gardner propõe (1983) é que, na verdade, existem outros tipos de inteligência; e que nenhuma delas se sobressaem. Em um estudo, publicado pela Universidade de Oxford (FREY e OSBORNE, 2013), os pesquisadores criaram um algoritmo, demostrado na Tabela 1 abaixo, que conseguiu fazer o cálculo da probabilidade de um emprego sofrer automação; e estudou-se o quanto algumas dessas inteligências, futuramente abordadas no referido trabalho, são essenciais ao novo mercado de trabalho. No estudo foram destacadas três habilidades que são indicadores de um gargalo à automação: Percepção e Manipulação, Inteligência Criativa e Inteligência Social. Com essas três habilidades apontadas por Oxford, a teoria da Inteligência Múltipla e junto a observação do comportamento do novo mercado de trabalho, foi possível destrinchar inteligências essenciais a esse novo mercado; entre elas, a inteligência criativa (FREY e OSBORNE, 2013).

Tabela 1 – Variáveis que servem como indicadores de gargalos para a automação

Tabela
Descrição gerada automaticamente

Fonte: FREY, C.B. e OSBORNE, Michael (2013).

Metodologia

A metodologia proposta tem como base uma abordagem qualitativa, utilizando a reflexão fenomenológica e hermenêutica como forma de análise. Serão utilizadas fontes bibliográficas de autores considerados relevantes para a temática, buscando levantar informações sobre o tema a partir de suas obras. A coleta de dados se dará através do levantamento de artigos, livros e outros materiais bibliográficos relacionados ao assunto. A análise de dados consistirá na interpretação e reflexão crítica das fontes selecionadas, visando aprofundar a compreensão da temática pesquisada. Como resultados esperados, espera-se obter fundamentações teóricas para subsidiar a discussão e reflexão sobre a temática em questão (GARDNER, 1983).  Tal metodologia de pesquisa pode ser aplicada em diversas áreas do conhecimento, mas especificamente no contexto da Teoria da Inteligência Múltipla, encontrada no Livro Estruturas da Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas, escrito por Howard Gardner e publicado em 1983.

Resultados e Discussão

De acordo com Brynjolfsson e McAfee (2014), a sede por avanços tecnológicos e inovação ainda cresce exponencialmente, trazendo cada vez mais tecnologias sofisticadas balançando o mercado de trabalho e tornando os trabalhadores redundantes. Um exemplo prático desta realidade são os carros autônomos (sem motorista) desenvolvidos pela Google, mostrando que tarefas manuais, como dirigir, poderão em breve ser automatizadas. O mercado de trabalho tradicional, de fato, está chegando ao fim. As organizações com foco na gestão social buscam novas propostas de conectividade e tecnologia, sem deixar de lado a atenção em questões sociais e ambientais. 

Na verdade, a automação já está presente entre nós desde o século XVIII com a famosa Revolução Industrial, quando houve a substituição do trabalho braçal e artesanal pelo uso de máquinas. A diferença, é que atualmente não só o trabalho braçal e artesanal é substituído; mas alguns trabalhos intelectuais são substituídos pelas máquinas cada vez mais inteligentes. Um exemplo clássico da automação é a substituição dos bancários por caixas eletrônicos, o primeiro caixa multibanco (ATM) foi patenteado na década de 1930 nos Estados Unidos; no Brasil, a tecnologia chegou em 1983, quando os bancos brasileiros começaram a investir em sistemas informatizados. Atualmente, pode-se ver essa tecnologia de atendimento informatizado em diferentes tipos de estabelecimentos, desde restaurantes fast-food, como o Mcdonalds, a cafeterias, como a Cacau Show e até em alguns supermercados, por exemplo, (BRYNJOLFSSON e MCAFEE, 2014).

 De acordo com Brynjolfsson e McAfee (2014), todo trabalho considerado linear, repetitivo, programável, parametrizável, corre o risco de sofrer automação. 

O valor para o ser humano muda de tempos em tempos, o que hoje tem valor, amanhã pode não ter mais; e isso que nos diferencia das capacidades de uma máquina. Existem sim algoritmos capazes de fazer diferentes conexões, por exemplo, Cooper (2000) desenvolveu um software que compõe música em diferentes estilos, entretanto, o valor é relativo e variável. Mesmo que um software consiga criar valor, ainda existem grandes e fortes argumentos que impossibilitam chamar uma máquina criativa.  O grande desafio das organizações é realizar a gestão do conhecimento criativo e entender a importância da gestão social diante do contexto da automação. 

Conclusões

Na era da informação, onde as mudanças tecnológicas, culturais e sociais crescem de modo acelerado e se refletem em todos os aspectos da sociedade, as pessoas nesse processo é que fazem a diferença. O mercado de trabalho se mostra cada vez mais competitivo e a procura de profissionais com um diferencial. Na era digital, a gestão social é a chave essencial para não só sobreviver à automação, mas fazer parte do processo e saber utilizá-lo a favor das organizações. A Internet inaugurou uma nova fase de adoção de tecnologia, que pode ser traduzida como a era digital. Se na primeira fase desse movimento havia organizações responsáveis ​​por popularizar o uso da tecnologia na sociedade, nessa nova era surgiram outras organizações, reinventaram a forma de fazer negócios e criaram indústrias e negócios até então inimagináveis (COLLINS e LAZIER, 1992). Nesse convívio com a automação, o maior aliado da gestão social é a inteligência criativa; habilidade essencial para, em vez de sobreviver ao processo de mudança, ter papel ativo e essencial nele. Conclui-se que, na dinâmica entre a gestão de conhecimento organizacional e o desenvolvimento das tecnologias, levando em consideração o significado social do processo de automação, a inteligência criativa se torna habilidade essencial para que a gestão social faça parte do processo de mudança organizacional.

Referências

BRYNJOLFSSON, Erik e MCAFEE, Andrew. Race Against the Machine: How the Digital Revolution is Accelerating Innovation, Driving Productivity, and Irreversibly Transforming Employment and the Economy. 2011.

COLLINS, Jim e LAZIER, William. Beyond Entrepreneurship: Turning Your Business into an Enduring Great Company. USA: Prentice Hall Press, 1992.

COOPER, David J. Understanding Common Lisp, 2000.

FREY, C.B. e OSBORNE, Michael. The Future of Employment: How Susceptible are Jobs to Computerisation? Oxford University, 2013.

GARDNER, Howard. Teoria da Inteligência Múltipla, 1983. 

IBC. O que são múltiplas inteligências? 2018. Disponível em: https://www.ibccoaching.com.br/portal/coaching-e-psicologia/o-que-sao-multiplasinteligencias/. Acesso em: 03 abr. 2023.

ZUBOFF, Shoshana. The Age of Surveillance Capitalism: The Fight for a Human Future at the New Frontier of Power. 2018.