UTILIZANDO A LITERATURA DE CORDEL COMO UM RECURSO DIDÁTICO PARA O ENSINO DA HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO DO MODELO ATÔMICO DE DALTON.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7826428


Claudiane Serafim de Sousa1
Janeisi de Lima Meira²


RESUMO:

Utilizou-se a literatura de cordel e a metodologia ativa, para abordar o conteúdo da disciplina de química sobre a história da evolução do modelo atômico de Dalton, a pesquisa foi desenvolvida em uma turma do 1º ano do Ensino Médio de uma Escola de Rede Pública Estadual. Os grupos de alunos realizam pesquisas bibliográficas e depois os grupos socializarem os resultados da pesquisa em sala de aula, após a socialização os grupos começaram a confeccionarem os materiais didáticos-cordéis, referentes ao modelo atômico de Dalton. Antes e no decorrer das confecções dos cordéis alguns alunos relataram que não conseguiam compreender as teorias acerca da história da evolução do modelo atômico, para eles os conceitos eram muito abstratos, era muitas informações sem sentido e que eles não conseguiam compreender o porquê que eles tinham que compreende estas teorias, e divido a isto o objetivo desta pesquisa foi utilizar a literatura de cordel como um recurso didático para abordar a história da evolução do modelo atômico de Dalton.

INTRODUÇÃO:

A literatura de cordel surgiu durante o século XVI na região da Península Ibérica. Foram os portugueses que trouxeram a literatura de cordel para o Brasil   e a mesma encontrou terreno fértil no Nordeste devido as publicações serem direcionadas ao público de baixo poder aquisitivo, que se concentrava em maior quantidade nesta região.

Em relação ao ensino de química a Literatura de Cordel segundo Alves (2008, p. 108), pode contribuir para uma educação voltada para a realidade do aluno, mediante uma visão de mundo, podendo ou não assemelhar sua, suscitando variados questionamentos estimulando o aluno a refletir sobre suas políticas, posição social, econômica e cultural dentro da realidade em que vive, assim como sobre a posição do outro nesse mesmo contexto.

É notória a rejeição que os alunos têm sobre o ensino de ciências principalmente a disciplina de química, para a maioria dos alunos a química, “… é coisa de louco, muita fórmula e memorização, muito difícil, só serve para passar no vestibular, odeio química, entre outras” (SILVEIRA; KIOURANIS, 2008, p.29).

Um dos temas que fazem parte da grade curricular dos alunos e são abordados na disciplina de química é a evolução dos Modelos Atômicos, saber a história da evolução dos modelos atômicos é de suma importância para que os alunos, consigam compreender o comportamento dos átomos como se comporta na natureza e como a matéria é constituída.

Mas, para a maioria dos alunos a história dos modelos atômicos são complexas e abstratas. Como aponta Lopes (1992), uma das possíveis incompreensões dos modelos atômicos pode estar relacionada como os livros didáticos abordam o conceito dos modelos, os livros são considerados um dos mais importantes instrumentos didáticos utilizados nas escolas. Diante disto o objetivo desta pesquisa é utilizar a literatura de cordel como um recurso didático para abordar a história da evolução do modelo atômico de Dalton.

REFERENCIAL TEÓRICO:

Para que os alunos possam desenvolver o interesse pelo estudo da Química deve-se propiciar ao aluno a capacidade de interpretar fatos e fenômenos do seu cotidiano à luz da teoria científica, e para isto faz-se necessário a compreensão   dos conceitos de átomos, mais devido o nível de abstração, não é uma tarefa habitual para os estudantes do ensino médio.

Para Johnstone (1993), Cássio et al (2012), a compreensão da estrutura da matéria é essencial para a continuidade dos estudos em Química, porque implica na transição entre os diferentes níveis de representação: macroscópico, microscópico e simbólico. 

Quanto ao nível de ensino é importante ressaltar os seguintes aspectos:

Podemos afirmar então, que independentemente do nível do estudo, seja no ensino médio ou superior, é necessário que discentes sejam capazes de interpretar todos os níveis teóricos para o entendimento da natureza e a interpretação de seus fenômenos, utilizando imagens que possam auxiliar na transição entre as evoluções do átomo. (GALAGOVSKY E ADÚRIZ-BRAVO, 2001)

Contudo segundo Chassot (2003), as concepções de ciências desde as origens da Química até os dias atuais, vem passando por inúmeras transformações, de maneira que a ideia mais aceita atualmente põe fim a convicção da ciência ser universal. 

Para Queiroz (2006, p. 49) “[…] o conhecimento não é acabado e pronto, mas sim contínuo e historicamente produzido num contexto social. A ciência, nessa perspectiva, desconstrói a visão de neutralidade e imparcialidade de seus resultados e inferências”. Como afirma os Parâmetros Curriculares Nacionais, em especial para o ensino de química:

 “O aprendizado de Química pelos alunos de Ensino Médio implica que eles compreendam as transformações químicas que ocorrem no mundo físico de forma abrangente e integrada e assim possam julgar com fundamentos as informações advindas da tradição cultural, da mídia e da própria escola e tomar decisões autonomamente, enquanto indivíduos e cidadãos.” (BRASIL. MEC, 1999, p. 31).

É importante que os estudantes do Ensino Médio tenham compreensão dos conhecimentos químicos, pois a mesma é uma ciência da natureza, está presente no cotidiano dos alunos de forma direta ou indireta, no entanto as metodologias reprodutivas que são utilizadas no ensino de química excluem a relação da química com o cotidiano dos alunos, fazendo com o que eles não conseguem associar o conteúdo estudado em sala de aula com os fenômenos presentes em sua volta (AQUINO et al., 2014; SILVA, 2014).

Entre os recursos didáticos exististes a literatura também é um recurso que pode ser utilizado no ensino de química, mas são pouco utilizados em sala de aula, porque durante a formação de professores não á discurso deste recurso é dando mais ênfase a outros recursos, como por exemplo, a experimentação (SIEMSEN; SANTOS; SILVA, 2014).

A utilização destes recursos coaduna no diálogo, na troca de experiências, no processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Nessa perspectiva as abordagens utilizando os recursos didáticos e metodologias diversificadas para o ensino têm como finalidade tornar as aulas mais participativas, prazerosas e significativas para os alunos.

METODOLOGIA:

O Projeto de Pesquisa foi realizado na Escola Estadual do Ensino Médio Paulo Hannemann, na cidade de Pau D’arco-PÁ, em uma turma do 1º ano do ensino médio, que tem aproximadamente 24, de vinte e quatro alunos matriculados em cada turma, a pesquisa é oriunda do Projeto de Mestrado EM ENSINO EM CIÊNCIAS E SAÚDE PPGECS- UFT. Deve se ressaltar que a pesquisa só foi realizada após a aprovação do comitê de ética e também as assinatura dos termos de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE , e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE .

Para a realização da pesquisa, utilizou-se a metodologia ativa, e como afirma Barbosa; Moura, (2013, p.55):

aprendizagem ativa ocorre quando o aluno interage com o assunto em estudo – ouvindo, falando, perguntando, discutindo, fazendo e ensinando – sendo estimulado a construir o conhecimento ao invés de recebê-lo de forma passiva do professor. Em um ambiente de aprendizagem ativa, o professor atua como orientador, supervisor, facilitador do processo de aprendizagem, e não apenas como fonte única de informação e conhecimento (BARBOSA; MOURA, 2013, p.55).

Segundo Barbosa e Moura, (2013), a metodologia ativa, podem contribuir, promovendo um ambiente ativo de aprendizagem, é fundamental, valer-se de recursos metodológicos que agucem e propiciem a participação ativas dos alunos.

CONTEÚDO ABORDADO, DIVISÃO DOS GRUPOS E ETAPAS PARA A ELABORAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO.

Fonte: própria, 2023

Etapas do processo para a confecção do material diádico “cordel”

FONTE: própria

Materiais utilizados para elaboração do modelo atômico de Dalton utilizando a literatura de cordel como um recurso didático.

Algumas fotos dos materiais que foram utilizados para a elaboração da literatura de cordel.

Fotos: próprios

Materiais utilizados:

Computadores (sala de informática na escola).
Papel A4.
Lápis de escrever
Lápis de cor
Canetas
Canetinhas
Grampos Galvanizados
Clipes galvanizados
Mimi pregadores de madeira.
Barbante
Régua.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

Tendo como ênfase pensar em metodologias que contribua no diálogo entre o ensino de ciência-química e artes, está pesquisa utilizou a literatura de cordel para abordar a “história da evolução do modelo atômicos de Dalton, pois  a literatura de cordel apresenta diversas potencialidade como um recurso didático, como diz Oliveira, (2021), possui : a diversidade de temas, a musicalidade, o caráter interdisciplinar, a valorização da cultura popular, a ludicidade, assim como a presença de uma linguagem simples.

Diante disto foi proposto para os alunos, a utilização de uma atividade utilizando a literatura de cordel, mas antes disto os alunos foram divididos em 5 grupos, sendo três (3) grupos composto por quatro (4) alunos, um (1) por cinco (5) alunos e um (1) grupo, composto por três (3), alunos. Após a formação dos grupos de alunos começou a realização da pesquisa bibliográfica acerca da história da evolução do modelo atômico de Dalton.  Depois da realização da pesquisa bibliográfica realizada pelos grupos de alunos, cada grupo socializou em sala de aula os resultados obtidos da pesquisa.

Mas antes dos grupos começarem a confeccionar os cordéis, como alguns alunos não conheciam o que era a literatura de cordel, foi demonstrado para todos os alunos uma breve introdução como por exemplo que o cordel teve origem na região nordeste do Brasil no século XIX, e posteriormente se expandiu para outras regiões do país, que tem como principal característica o uso de rimas em estrofes bem estruturadas, dentre outras.

Após a socialização da pesquisa bibliográfica os grupos confeccionaram os cordéis, sobre a história da evolução do modelo atômico de Dalton, os cordéis foram produzidos pela uma turma 1º Ano em uma Escola de Ensino Médio da Rede Pública, como pode ser observado nas imagens abaixo.

Dalton

E assim vamos começar

Explicando em fora de rima o modelo atômico

Bola de bilhar

John Dalton foi um químico

Meteorologia ele estudou

Foi um dos primeiros cientistas

A concluir que a matéria

De átomo de formou

Em 1808, o seu estudo publicou

Descrevendo o átomo

Como maciço e indestrutível

De acordo com a teoria da Dalton

Ele é indivisível

Fundador da primeira teoria atômica

Esférico seria o átomo

Dalton, Chegando ele a conclusão que

A pressão total de uma mistura de gás

É igual a soma das pressões parciais.

Essas afirmações foram fundamentais

Servindo de base para os cientistas conhecerem o átomo e suas característica.

1:  Material confeccionado pelos alunos 1º ano do ensino médio

E como pode-se verificar no material didático produzido pelos alunos do 1º ano do ensino médio o modelo atômico “conhecido como bola de bilhar” na maioria das vezes é descrito como, sendo esférico, maciço, indestrutível e indivisível.

2: Material confeccionado pelos alunos 1º ano do ensino médio

Nos cordéis confeccionados como pode ser analisado, os grupos de alunos estão sempre destacando que o modelo atômico de Dalton é indivisível, isto porque, deve-se ressaltar quer na maioria das vezes as Teorias atômico de Dalton (1803) é resumido da sequente forma:

1- A matéria é constituída de partículas indivisíveis chamadas átomos. 2- Todos os átomos de um mesmo elemento têm as mesmas propriedades (…) as quais diferem das propriedades de todos os outros elementos. 3- Uma reação química consiste (…) num rearranjo dos átomos de um conjunto de combinações para outro (Brady e Humiston, 1986, p. 21)

Segundo Gatto (2017), Dalton elaborou a terceira teoria através de sua Lei   das Proporções Múltiplas, que afirma:

Quando dois elementos químicos formam vários compostos, fixando-se a massa de um dos elementos, as massas do outro elemento variam numa proporção de números inteiros e, em geral, pequenos (Feltre, 1997, p. 295).

As teorias são importantes, pois é através delas que é possível, por exemplo explicar de forma racional, como também elaborar e escrever os materiais e as substâncias, isto é, no contexto do ensino de ciências-química, as teorias precisam explicar o que as leis estão afirmando, ou seja, as teorias devem coadunar com as evidências experimentais disponíveis.

Mas na maioria das vezes os alunos têm dificuldades em compreender o que é Lei e o que uma teoria, o cordel contribui para que os alunos compreendessem o que é uma teoria, mas especificamente “a teoria da História da evolução do modelo atômicos de Dalton”.

Isto porque no decorrer da realização das confecções dos cordéis os alunos sempre falavam que para eles era por deveras complicado entender a teoria acerca do modelo atômico de Dalton, mas que depois que eles estavam confeccionados os condíeis ficou mais fácil compreender através das rimas por exemplo, um aluno relatou, que “parecia que tudo agora fazia sentido que já havia estudado a história dos modelos atômicos, mas que parecia um emaranhado de teorias que não fazia nem sentido”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

A utilização da literatura de cordel como um recurso didático, contribui para a capacidade criativa dos alunos, a percepção da importância da Ciências-Química, em seu cotidiano, estimula a percepção referente a expressividade do cordel na cultura brasileira, é também despertar o senso crítico científico nos educandos e além disto durante o projeto foi possível analisar que a utilização do cordel também propiciou o aprendizado dos alunos acerca da História da Evolução dos Modelos Atômicos.

REFERENCIAS:

BARBOSA, E. F. & MOURA, D. G. Metodologias ativas de aprendizagem na Educação Profissional e Tecnológica. B. Tec. Senac, Rio de Janeiro, v. 39, n.2, p.48-67, maio/ago. 2013.

BRADY, J.E. e HUMISTON, G.E. Química geral. 2ª ed. Trad. de C.M.P. dos Santos e R.B. Faria. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1986. v. 1.

FELTRE, R. Química (Química Geral). 4ª ed. São Paulo: Editora Moderna, 1997. v. 1.

GATTO, Marcos Antônio. O modelo atômico de Dalton: uma proposta de situação de estudo articulando história da ciência e ensino. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Oliveira, D. A. S. (2021). O cordel no ensino de química: Perspectivas do uso no processo de ensinoaprendizagem. (Trabalho de Conclusão de Curso). Universidade Federal do Oeste da Bahia, Barreiras, BA. Disponível em <

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CHASSOT, A. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. 3. ed. Ijuí: Unijuí, 2003.

QUEIROZ, M. M. A. Projeto escola ativa: os desafios de ensinar ciências naturais em classes multisseriadas da zona rural de Teresina-Piauí. 2006. 194 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2006.

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SIEMSEN, G. H.; SANTOS, R. SILVA C. S. Articulação entre Poesia e Experimentação na sala de aula de Química do Ensino Médio: uma primeira experiência no contexto do PIBID. In: Encontro Nacional de Ensino de Química, 17, 2014, Ouro Preto. Anais..Ouro Preto: ENEQ, 2014, Ouro Preto.


1Universidade Federal do Tocantins (UFT)- serafim.sousa@mail.uft.edu.br
2Universidade Federal do Tocantins (UFT)- janeisi@mail.uft.edu.br. O presente artigo faz parte do projeto pesquisa como um dos requisitos do Programa de Pós-Graduação em Ensino em Ciências e Saúde (PPG-ECS) da Universidade Federal do Tocantins (UFT), nível mestrado.