THE PRODUCTION AND SYMPTOMS OF THE NEOLIBERAL INDIVIDUAL AND THE FORMATION OF OUTSIDERS AS A SUB PRODUCT OF THE PROCESS: AN ELUCIDATIVE ANALYSIS WITH THE UTILIZATION OF THE PIECE “STEPPENWOLF”
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7806844
Michelle Maria Freire de Melo1
RESUMO: O presente artigo se propõe a analisar a formação e os sintomas do sujeito neoliberal. Utiliza-se a terminologia “sintomas” no lugar de “características” porque se acredita que a sociedade neoliberal é composta por sujeitos doentes e psicologicamente abalados. Para alcançar essa proposta, será feita uma breve conceituação do liberalismo clássico e sua diferenciação em relação ao neoliberalismo, se analisará sobretudo os sintomas do sujeito neoliberal elencados por Pierre Dardot. Ainda, para melhor elucidação e contextualização desse sujeito protagonista dos tempos hodiernos, será feita uma breve análise da obra “O lobo da Estepe”, de Hermann Hesse, pela qual se evidenciará as características principais do sujeito neoliberal, a necessidade de produção artificial da felicidade e o subproduto da sociedade neoliberal-capitalista – aqui apenas referido como outsider.
Palavras-Chaves: Neoliberalismo. sujeito neoliberal. produção. sintomas. O Lobo da Estepe.
ABSTRACT: The present article aims to analyze the formation and symptoms of the neoliberal individual. The term “symptom” is used instead of “features” because it’s believed that a neoliberal society is formed by ill and psychological unstable people. To reach that proposal, there will be a brief conceptualization of neoliberalism and it’ll be analyzed the neoliberal person from Pierre Dardot’s perception. For better elucidation and context of this contemporary person, it’ll be made a brief analyses of the “o lobo da estepe” piece, from Hermann Hesse, from which will be shown the principal characteristics of the neoliberal individual, the necessity of production of artificial happiness and the sub-product of the neoliberal-capitalist society – only referred, here, as an outsider.
Keywords: Neoliberalism. neoliberal individual. production. symptoms. steppenwolf.
1 – INTRODUÇÃO
A presente pesquisa se propõe a analisar a formação e os sintomas do sujeito neoliberal, bem como a formação do subproduto do sistema capitalista neoliberal – o outsider, materializado pela figura do Lobo da Estepe, emprestada da literatura de Hermann Hesse e aqui utilizada para elucidar de quais sujeitos se está tratando – e, em certo grau, demonstrar as origens e a inspiração das reflexões aqui propostas.
Primeiramente, impende diferenciar o liberalismo clássico do neoliberalismo. Com isso, se chegará à evidenciação do processo de como se passou da domesticação de corpos para a domesticação de corpos e mentes, e como o discurso psicológico se fundiu com o discurso econômico em função do fortalecimento da sociedade capitalista.
A inclusão da dimensão psíquica no discurso econômico criou sujeitos sobre os quais, não obstante o Estado exercer alto nível de controle e vigilância, estão cobertos e cegos pela máxima da liberdade e a fantasia do sujeito “empresa de si”, o sujeito produtor em todas as esferas da sua vida, inclusive (único) responsável própria felicidade.
O contraponto disso é tão paradoxal quanto o extremo controle que se tem exercido por um Estado que se diz frugal – a artificial noção de felicidade e os meios da sua busca interiorizados pelo sujeito neoliberal são precisamente a causa de sua infelicidade e doença.
Com efeito, há a formação de indivíduos extremamente afetados pela individualização exagerada da responsabilidade – indivíduos que buscam continuamente uma felicidade inalcançável e por isso são infelizes, pois se tornam fracassados, eis que a felicidade só depende deles mesmos, então não obtê-la representa nada mais que o insucesso.
O sujeito neoliberal possui sintomas: sofrimento no trabalho e autonomia contrariada, corrosão de sua personalidade, depressão generalizada, desmoralização, a dessimbolização e a perversão comum. A utilização da terminologia sintomas busca evidenciar que esse sujeito é de fato dotado de uma patologia, causada pela sociedade hipermoderna capitalista.
Como subproduto do sujeito neoliberal há aqueles que se desligam do “rebanho”, aqueles dos quais a presente pesquisa optou por denominar “outsiders”. São sujeitos que perpassam por todos os sintomas típicos do sujeito neoliberal e que está tão imerso e dependente dessa sociedade quanto qualquer outro, mas que consegue visualizar suas problemáticas e livrar-se do véu da alienação.
Contudo, ainda que se livre do véu da alienação, será que pode o outsider libertar-se da sociedade capitalista neoliberal que o criou e sobre a qual continua inserido? A figura do outsider é aqui elucidada com a utilização de instrumentos literários contidos na obra de Hermann Hesse denominada “O Lobo da Estepe”. Com isso, pretende-se não somente fazer uma análise conceitual-doutrinária do que seria liberalismo, neoliberalismo, sujeito neoliberal e seus sintomas, entre outros conceitos, mas materializar essa análise numa representação que alcance um nível mais profundo (e visual, talvez) de compreensão do leitor.
2 – LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO – O QUE HÁ DE COMUM E DIVERGENTE ENTRE AMBOS?
Cabe fazer uma breve distinção entre liberalismo e neoliberalismo. Não obstante ter durado pouco tempo a primazia das ideias liberais, foi o suficiente para produzir mudanças em larga escala no mundo todo. Segundo Ludwig von Mises (2019, p. 25), se alguém desejar saber o que é o liberalismo e quais seus objetivos, não poderá simplesmente voltar à história e inquirir sobre o que defendiam os políticos liberais, porque em lugar algum o liberalismo conseguiu executar fielmente o que propunha seu programa.
O liberalismo, em termos gerais, é fundamentado nos dogmas do direito natural, liberdade de comércio, propriedade privada e auto regulação do mercado. Pierre Dardot (2016, p. 35) afirma que a crise do liberalismo é uma crise interna e que é errado concebê-lo como um corpo unificado. Isto é, a partir do século XIX há a intensificação de dois tipos de liberalismo – dos reformistas sociais, de um lado, e dos partidários da liberdade individual como um valor absoluto, de outro – esses conflitos deram palco à revisão dos dogmas do liberalismo em todos os países industrializados. Essa revisão levou ao desenvolvimento dos ideais socialistas ao mesmo tempo que formou o contexto intelectual e político do neoliberalismo.
Sobre a natureza da crise do liberalismo, Pierre Dardot (2016, p.36) pontua que:
Qual é a natureza dessa “crise do liberalismo”? Marcel Gauchet certamente tem razão de identificar entre seus aspectos um problema eminente: como a sociedade que se libertou dos deuses para descobrir-se plenamente histórica poderia abandonar-se a um curso fatal e, assim, perder o controle de seu futuro? Como a autonomia humana poderia ser sinônimo de impotência coletiva? Como pergunta Marcel Gauchet: “O que é uma autonomia que não se comanda?”. O sucesso do socialismo se deveria precisamente ao fato de que ele soube aparecer, sendo nisso um digno sucessor do liberalismo, como a encarnação da vontade otimista de construir o futuro.
Mas há de se ter cautela para não reduzir o liberalismo à crença nas virtudes de auto regulação espontânea do mercado. Há de pontuar também a crise da governamentalidade liberal – termo utilizado por Michel Foucault, também referido como “arte de governo”.
Michel Foucault (2018, p. 39), conceitua “a arte liberal de governar” como a arte de governar o menos possível, entre um máximo e um mínimo, mas, mais perto do mínimo. Seria complementar à Razão de Estado. É um princípio para a manutenção e desenvolvimento mais completo desta. A razão do governo mínimo é o princípio organizador da própria Razão de Estado.
Também a crise interna do liberalismo – ou da arte liberal de governar – é evidenciada por Foucault em 1979 em seu curso “O Nascimento da Biopolítica” (2018, p. 40):
Alguém falou, no fim do século XVIII, claro, de um “governo frugal”. Pois bem, creio que, de fato, entra-se nesse momento numa época que poderíamos chamar de época do governo frugal, o que não deixa, claro, de apresentar certo número de paradoxos, já que é durante esse período de governo frugal, inaugurado no século XVIII e de que sem dúvida ainda não saímos, que vemos desenvolver-se toda uma prática governamental, ao mesmo tempo extensiva e intensiva, com os efeitos negativos, com as resistências, as revoltas, etc. que se sabe, precisamente contra essas invasões de um governo que no entanto se diz frugal.
Com o advento da Primeira Guerra Mundial e as crises decorrentes dessa, houve o acirramento da revisão dos dogmas liberais. As imagens ideais de livre troca não pareciam adequadas diante do enorme desequilíbrio social e econômico havido. As repetidas crises econômicas, pouco a pouco, foram mostrando a fragilidade das democracias liberais. Surgiu, então, a necessidade de transformação do sistema liberal capitalismo – para seus defensores, uma transformação necessária a salvá-lo e não destruí-lo (DARDOT, 2016, p. 53).
Como alternativa, um “novo liberalismo” surge para definir novos limites à intervenção governamental. Segundo Pierre Dardot (2016, p. 53):
Um “novo liberalismo” mais consciente das realidades sociais e econômicas procurava definir havia muito tempo uma nova maneira de compreender os princípios do liberalismo, que emprestaria certas críticas do socialismo, mas para melhor realizar os fins da civilização liberal.
Há uma distinção discreta entre “novo liberalismo” e “neoliberalismo”. Vejamos, o primeiro buscou reexaminar o conjunto dos meios jurídicos, morais, políticos, econômicos e sociais que permitem a realização de uma “sociedade de liberdade individual”. Segundo esta linha, a agenda do Estado ainda deve pôr em prática a confiança nos mecanismos autorreguladores do mercado e a fé na justiça dos contratos entre indivíduos (supostos) iguais, contudo, sendo passível de restrição dos interesses individuais para proteger os coletivos – mas o faz tão somente para garantir as condições de realização dos fins individuais. Já o segundo se parece muito com o “novo liberalismo”, mas, ainda que admita a intervenção do Estado nos direitos individuais, se opõem a qualquer ação que entrave o jogo da concorrência entre particulares (DARDOT, 2016, p. 63).
O neoliberalismo, assim, busca produzir condições ótimas para que o jogo de rivalidade entre particulares satisfaça em tese os direitos coletivos, mas sem intervir diretamente nesse jogo de rivalidade. Nesse sentido, combina a reabilitação da intervenção pública com a preservação de um mercado pautado primordialmente na livre concorrência, além de reconhecer, diferentemente do liberalismo clássico, que o mercado não constitui um dado da natureza, mas um produto artificial da história e resultado de uma construção política.
3 – A PRODUÇÃO E SINTOMAS DO SUJEITO NEOLIBERAL
Com o advento do neoliberalismo, há uma condição nova do homem. Surge o estereótipo do “homem hipermoderno”, marcado pela imprecisão, flexibilidade, precariedade, fluidez e outras características adiante pontuadas.
Fato é que, atualmente, muitos psicanalistas recebem em seus consultórios pessoas cujos sintomas revelam uma nova configuração (comum) de sujeito. Trata-se do sujeito neoliberal, próprio da era capitalista – o homem competitivo, imerso até o último fio de cabelo no cenário de competição criado e fomentado pelos dogmas neoliberais.
Segundo Pierre Dardot (2016, p. 318), o homem moderno se dividiu em dois – conforme os dois impulsos que ocorreram paralelamente na modernidade, quais sejam, da democracia política e capitalismo – de um lado, o cidadão dotado de direitos inalienáveis e, de outro, o homem econômico guiado por seus interesses.
Há na modernidade um adestramento de corpos e gestão das mentes, com vistas a produzir o homem ideal ao contexto neoliberal – o homem produtivo. E não se está referindo aqui apenas à produção material, eis que o homem produtivo é aquele que produz em todos os domínios da sua vida, incluindo a produção do próprio bem-estar, prazer e felicidade. Todas as esferas do sujeito produtivo, portanto, passam a depender quase que exclusivamente dele mesmo, segundo esse discurso.
Na nova política, o indivíduo, por ser considerado em sua liberdade, é também tido como um “delinquente potencial” (DARDOT, 2016, p. 320), isto é, consiste em um sujeito movido por seu próprio interesse. Como contraponto, foi erguido contra esse sujeito, como forma de controle, um esquema de vigilância de “todos por cada um e cada um por todos”. Sobre a necessidade de vigilância, Pierre Dardot pontua (2016, p. 320):
Mas, podemos nos perguntar, por que vigiar os sujeitos e maximizar o poder? A resposta impõe-se por si só: para produzir a maior felicidade. A lei da eficácia é intensificar os esforços e os resultados e minimizar os gastos inúteis. Fabricar homens úteis, dóceis ao trabalho, dispostos ao consumo, fabricar o homem eficaz é o que já começa a se delinear, e de que maneira, na obra benthamiana.
Imperioso destacar ainda que permeia sobre o sujeito neoliberal o discurso de gozo e desempenho, pelo qual o indivíduo é compelido a dar-se um corpo que o faça ir além das suas capacidades naturais de produção e prazer (DARDOT, 2016, p. 349). Esse dispositivo põe em patamar comum toda a coletividade de sujeitos neoliberais. Todos são iguais à medida de nenhuma questão biológica ou fator externo/do ambiente pode ser obstáculo frente ao comprometimento pessoal de tornar-se produtor de si.
No neoliberalismo, portanto, há a aproximação (e quase fusão) dos enunciados psicológicos com os enunciados econômicos. Essa é a principal diferença em relação ao homem econômico clássico, cuja alma ainda dependia do corpo – os traços corporais eram os primeiros na classificação e distribuição de indivíduos. Ou seja, no liberalismo as limitações corporais importavam, porque não se tinha a manipulação do elemento da psique.
Sobre o governo do sujeito neoliberal, relevante pontuar o que dispõe Dardot (2016, p. 363):
Portanto, ver na situação presente das sociedades apenas o gozo sem obstáculos, que é identificado ora com a “interiorização dos valores de mercado”, ora com a “expansão ilimitada da democracia”, é esquecer a face sombria da normatividade neoliberal: a vigilância cada vez mais densa do espaço público e privado, a rastreabilidade cada vez mais precisa dos movimentos dos indivíduos na internet, a avaliação cada vez mais minuciosa e mesquinha da atividade dos indivíduos, a ação cada vez mais pregnante dos sistemas conjuntos de informação e publicidade e, talvez sobretudo, as formas cada vez mais insidiosas de autocontrole dos próprios sujeitos.
É preciso, pois, identificar a face sombria da normatividade neoliberal, que se embasa numa vigilância cada vez mais densa tanto do espaço público como privado. Isso lembra o que Foucault chama de “paradoxo governo frugal”, referido no tópico anterior – isto é, desde o liberalismo, observa-se uma intervenção e controle cada vez maior (marcado pelo contraponto dos movimentos de resistência) de um governo que se diz frugal.
Em contraponto ao sujeito liberal clássico, o sujeito neoliberal é “empresa de si”. Resultado de uma combinação da concepção psicológica do ser humano, do dogma econômico essencial da concorrência, da representação do indivíduo como “capital humano” e do vínculo social como “rede”. Não há limitações orgânicas para o sujeito neoliberal, ele é o produtor do sucesso ou fracasso de todas as esferas da sua vida.
Sobre a inclusão da concepção psicológica do ser humano dentro da equação que produz a fórmula do sujeito neoliberal, preceitua Pierre Dardot (2016, p. 350):
A psicologização das relações sociais e a humanização do trabalho caminharam durante muito tempo de mãos dadas, com as melhores das intenções. Ergonomistas, sociólogos e psicossociólogos quiseram dar uma resposta à aspiração dos trabalhadores a viver melhor no trabalho e até mesmo a encontrar prazer nele. Ao mesmo tempo, a dimensão subjetiva tornou-se tanto uma realidade em si como um instrumento objetivo de sucesso da empresa. A “motivação” no trabalho apareceu, então, como o princípio de uma nova maneira de conduzir os homens no trabalho, mas também os alunos nas escolas, os doentes nos hospitais e os soldados no campo de batalha. A subjetividade, feita de emoções e desejos, paixões e sentimentos, crenças e atitudes, foi vista como a chave do bom desempenho das empresas.
Houve, pois, o cruzamento de um discurso psicológico com o discurso econômico, que embasou cientificamente a ideologia da escolha. Contudo, o dispositivo desempenho/gozo surgiu de uma outra conjunção que busca não identificar a forma com que o indivíduo e empresa, cada um com suas próprias escolhas, podem se adaptar um ao outro, mas de que forma o sujeito psicológico e o sujeito da produção podem se identificar.
Nessa esteira, o ponto de fusão entre o discurso psicológico e o discurso econômico passa a ser a norma de competição entre sujeitos (entre empresas de si), é dessa conjunção que resulta o dispositivo desempenho/gozo. É nesse ponto de união que os objetivos da empresa e os objetivos individuais deixam de apenas se adaptarem um ao outro e passam a identificar-se. É a partir dessa fusão que também é produzido o sujeito neoliberal.
Byung-Chul Han defende que, como contraponto dessa sociedade do desempenho multitarefas – que tem como protagonista a figura do homem produtivo – , surge uma sociedade do cansaço e esgotamento excessivo. Para o autor “o excesso da elevação do desempenho leva ao infarto da alma” (HAN, 2019, n.p.).
O autor segue afirmando que a sociedade de hoje não é primordialmente uma sociedade disciplinar, mas uma sociedade de desempenho sob o manto de uma sociedade de liberdade. Nas palavras de Han (2019, n.p.):
O verbo modal que define a sociedade do desempenho não é o “dever” freudiano, mas o poder hábil (Können). Essa mudança social traz consigo uma reestruturação também no interior da psique. O sujeito do desempenho pós moderno possui uma psique bem diferente do sujeito obediente, abordado pela psicanálise de Freud. O aparato psíquico de Freud é dominado pelo medo e pela angústia frente à transgressão. Desse modo, o eu se transforma num lugar de medo e angústia. Mas isso já não se aplica ao sujeito de desempenho da pós-modernidade. Esse é um sujeito da afirmação. Se o inconsciente tivesse necessariamente ligado com a negatividade da negação e da repressão, o sujeito de desempenho neoliberal já não teria inconsciente. Seria um eu pós freudiano. O inconsciente freudiano não é uma configuração atemporal. É um produto da sociedade disciplinar repressiva, da qual nós estamos nos afastando cada vez mais.
O sujeito do desempenho da modernidade tardia não está sujeito a nenhum trabalho compulsório. Se suas máximas são a lei, obediência e o cumprimento do dever, de um lado, do outro está a máxima igualmente relevante da liberdade e boa vontade. O sujeito do desempenho não ouve o chamado do outro, mas ouve a si mesmo, como empreendedor de si que é. Ocorre que, paradoxalmente a essa liberdade pregada, não há emancipação e libertação do sujeito. A dialética misteriosa dessa estranha liberdade se transforma em novas formas de coação (HAN, 2019, n.p.).
A coação do desempenho que sofre o indivíduo força-o a produzir cada vez mais, de modo que jamais se chega ao ponto de repouso da gratificação. Isso produz um sentimento constante de carência e culpa, considerando que, ao passo que está sempre concorrendo consigo mesmo, busca sempre superar-se, até sucumbir. A realização do sujeito do desempenho é, ao mesmo tempo, a sua destruição.
Vimos, em síntese e em breves linhas, o processo de produção do sujeito neoliberal e sua diferença em relação ao sujeito liberal clássico. Passemos, agora, a identificar os “sintomas” do sujeito neoliberal.
É curioso o termo “sintoma” utilizado por Pierre Dardot, ao invés de, por exemplo, adotar tão somente a expressão “característica”. Não parece a adoção do termo “sintoma” ter sido de forma ocasional, à medida em que, ao decorrer de sua obra, é possível concluir que a sociedade hipermoderna é, de fato, uma sociedade composto por indivíduos diagnosticados psicologicamente doentes, em geral. Mas chegaremos nesse ponto.
Um dos sintomas do sujeito neoliberal, segundo Pierre Dardot (2016, p. 353) é o sofrimento no trabalho e a autonomia contrariada. Esse sintoma tem relação direta com a individualização da responsabilidade na realização dos objetivos. O trabalhador se vê sozinho diante de tarefas impossíveis, frente à exigência de maior produtividade em menor tempo de trabalho e ao mesmo tempo tem que lidar com patologias mentais como estresse, ansiedade, depressão, tudo em decorrência do discurso de que o sujeito é o único responsável em produzir seu sucesso.
Não bastasse isso, o sujeito empresarial vincula seu sucesso conjugado com o da empresa. Nesse cenário, qualquer mínimo “erro” ou situação que saia do planejado produz efeitos devastadores. A incerteza e a brutalidade da competição fazem com que o sujeito leve isso como um fracasso pessoal e motivo de vergonha, que o conduz ao sofrimento no trabalho.
Outro sintoma que merece destaque é a corrosão da personalidade. Sobre este ponto, Dardot (2016, p. 355) afirma que a experiência acumulada ao longo da vida profissional perde seu valor, dando lugar somente às competências imediatamente utilizáveis – isso justificaria a exclusão dos sêniors da vida profissional. Isso dá ao trabalhador a sensação de que tem que começar sempre tudo de novo e reafirmar seu valor, o que, por sua vez, produz um eu maleável, sempre aberto a dispensar o que acumulou em prol da experiência nova. Sua experiência acumulada não tem mais valor se não corresponde à demanda imediata. Pensamento semelhante se vê na obra de Walter Benjamin em que analisa as obras de Baudelaire. Este, de acordo com Benjamin, expressa a condição em que se encontra o poeta na sociedade capitalista – nessa sociedade o poeta necessita vender seus poemas e, nessa esteira, os reduz (e a si mesmo) ao estatuto desvalorizado de mercadorias. Essas mudanças significam o enfraquecimento de uma tradição transmitida entre gerações, sustentada e compartilhada pela sociedade (FURTADO, 2012, p. 352).
Constitui sintoma, também, a depressão generalizada do sujeito neoliberal. O culto desmedido ao desempenho e produtividade conduz normalmente as pessoas a provarem sua insuficiência e assumirem formas depressivas em grande escala. Nesse cenário, a depressão se mostra como o lado correlato ao desempenho, uma resposta ao dogma de que o sujeito é o único responsável pelo próprio sucesso ou fracasso. O indivíduo que não aguenta a concorrência com os demais (e consigo mesmo) a que está exposto é tido como uma pessoa fraca. O discurso do sucesso leva fatalmente à estigmatização dos fracassados – sendo estes os incapazes de produzir a própria felicidade.
Para Han (2019, n.p.) o sujeito do desempenho pós-moderno, diante da quantidade exagerada de opções que possui, não é capaz de estabelecer ligações intensas. Na depressão, todas as ligações e relacionamentos, inclusive a ligação consigo mesmo, se rompem – nesse ponto a depressão se diferencia do luto, pois este decorre de forte ligação libidinosa com um objeto. A depressão não tem objeto, e, por isso, não tem uma orientação definida.
Dardot fala em “doença da responsabilidade” ao se referir a essa depressão generalizada, e evidencia seu caráter patológico, pontuando que:
O remédio mais propalado para essa “doença da responsabilidade”, essa usura provocada pela escolha permanente, é uma dopagem generalizada. O medicamento faz as vezes da instituição que não apoia mais, não reconhece mais, não protege mais os indivíduos isolados. Vícios diversos e dependências às mídias visuais são alguns desses estados artificiais. O consumo de mercadorias também faria parte dessa medicação social, como suplemento de instituições debilitadas.
Isto é, a depressão faz surgir uma necessidade de dopagem generalizada que, por sua vez, cria vícios e dependências a mecanismos artificiais de produção de uma felicidade aparente – seja pelo consumo exacerbado ou a própria utilização de medicamentos antidepressivos.
Dentre outros sintomas pontuados por Dardot, esses elencados acima são os que se optou por destacar e desenvolver aqui. Ao lado deles, o autor cita também a desmoralização, a dessimbolização e a perversão comum.
Byung-Chul Han (2019, n.p.), afirma que a crescente sobrecarga do indivíduo na pós modernidade fragmenta e destrói a atenção. A despeito da demanda da produtividade, sinaliza que a “multitarefa” não representa uma evolução da qual somente seria capaz o homem da sociedade pós-moderna, mas antes um retrocesso.
Segundo o autor, a multitarefa está amplamente disseminada entre os animais, consistindo em técnica de atenção necessária para sobreviver na vida selvagem. Isto é, um animal, por exemplo, ao fazer atividades como a própria refeição, deve manter-se atento para ele próprio não acabe sendo comido por outro, e o faz muitas vezes ao mesmo tempo em que vigia sua prole – ou seja, o animal está obrigado a dividir sua atenção por questão de sobrevivência.
Assim, o aprofundamento contemplativo seria próprio do ser humano – exceto pelo fato de que este se aproxima cada vez mais da vida selvagem. A preocupação pelo bem-viver dá lugar à preocupação pela sobrevivência. A sociedade pós-moderna, segundo Han, tem uma tolerância muito pequena para o tédio. Nas palavras do autor:
E visto que ele tem uma tolerância bem pequena para o tédio, também não admite aquele tédio profundo que não deixa de ser importante para o processo criativo. Walter Benjamin chama esse tédio profundo de “pássaro onírico, que choca o ovo da experiência”. Se o sono perfaz o ponto alto do descanso físico, o tédio profundo constitui o ponto alto do descanso espiritual. Pura inquietação não gera nada novo. Reproduz e acelera o já existente. Benjamin lamenta que esse ninho de descanso e repouso do pássaro onírico está desaparecendo cada vez mais na modernidade.
Uma vez diagnosticada a figura do sujeito neoliberal e identificados seus sintomas, se buscará aqui elucidá-los através da sua contextualização pela análise da obra “O Lobo da Estepe”, de Hermann Hesse.
4 – UMA ANÁLISE DA OBRA “O LOBO DA ESTEPE” A PARTIR DOS SINTOMAS INICIADOS NA MODERNIDADE E DESAGUADOS NA FORMAÇÃO DO SUJEITO NEOLIBERAL E A PRODUÇÃO DE “OUTSIDERS” COMO SUBPRODUTO DO SISTEMA CAPITALISTA NEOLIBERAL
O filósofo Walter Benjamin, em ensaios escritos sobre Baudelaire, objetiva fornecer um estudo que revele a imagem histórica do século XIX. Para Benjamin, não cabe mais à arte contemporânea a função de conforto ou consolo, mas de denunciar a alienação dos sujeitos decorrente das transformações sofridas pela sociedade capitalista (FURTADO, 2012, p. 349).
Walter Benjamin descreve Baudelaire como a representação do declínio da figura clássica do artista. O poeta, segundo Benjamin, expressa a condição em que se encontra o poeta na sociedade moderna capitalista – Baudelaire é reconhecido como exemplar estético da modernidade, não por apenas capturar os temas e problemáticas desta, mas por assumir em seu trabalho a atitude do artista contemporâneo (FURTADO, 2012, p. 353).
Propõe-se na presente pesquisa que a obra “O Lobo da Estepe” cumpre com a função da arte moderna descrita por Benjamin – qual seja, a de denunciar a alienação dos sujeitos decorrentes da sociedade capitalista, ao passo que deslegitima o senso comum.
E, tal como Benjamin afirma que Baudelaire expressa a condição que se encontra o poeta na sociedade moderna, defende-se aqui que Hermann Hesse busca expressar a condição que se encontra o intelectual, de um modo geral, no contexto da sociedade moderna capitalista – ou sociedade neoliberal. É a interpretação que se faz aqui.
O Lobo da Estepe desestabiliza a percepção do leitor e o instiga à reflexão, lançando sobre ele a verdade coberta pelo véu da naturalização de estruturas e comportamentos. A obra é narrada em torno do personagem Harry Haller, um homem de 50 anos que acredita que sua integridade depende de sua vida solitária, que se equilibra em meio a um abismo de problemas sociais e individuais, diante dos quais a sua personalidade se torna cada vez mais ambivalente – afirma que nele habita o homem e o lobo.
Harry é um homem que não entende e nem compartilha das alegrias do mundo, de modo que o mais próximo que se podia chamar de felicidade era encontrado apenas em obras de ficção, já que a vida lhe parecia absurda. Ele vê as pessoas se divertindo em bares, cafés e todo tipo de diversão em massa e conclui que, se o mundo tem razão quanto ao que chama de diversão, então ele é louco. “Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem ar nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível”, afirma Harry (HESSE, 2020, p. 41).
O Lobo da Estepe tinha natureza dual – de homem e de lobo. Em trecho do livro, Hesse narra (2020, p. 52):
Era uma vez o um certo Harry, chamado o Lobo da Estepe. Andava sobre duas pernas, usava roupas, e era um homem, mas não obstante era também o lobo da estepe. Havia aprendido uma boa parte de tudo quanto as pessoas de bom entendimento podem aprender, e era bastante ponderado. O que não havia aprendido, entretanto, era o seguinte: estar contente consigo e com a sua própria vida. Era incapaz disso, daí ser um homem descontente. Isso provinha, decerto, do fato de que, no fundo de seu coração, sabia sempre (ou julgava saber) que não era realmente um homem, e sim um lobo da estepe.
Segue afirmando que muita gente que existe se assemelha ao Harry, especialmente muitos artistas – todas essas pessoas são dotadas de duas almas, dois seres em seu interior, há neles uma parte divina e uma satânica, capacidade para ventura e para desgraça, tão hostis e contrapostas como eram o homem e o lobo dentro de Harry. Todas essas pessoas não possuem propriamente uma vida, isto é, sua vida não possui forma, e sua existência é um movimento de fluxo e refluxo. A existência pode ser dolorosamente cruel se não estivermos propensos a ver a beleza de raros acontecimentos que por vezes brilha sobre o caos da vida (HESSE, 2012, p. 56).
O Lobo da estepe era uma figura independente, ninguém poderia mandar nele e jamais faria algo para agradar aos outros – havia alcançado sua meta. Mas essa liberdade ao mesmo tempo representava a morte de Harry: estava só. O mundo havia o deixado em paz e livre de tal maneira que ninguém mais se importava com ele, sequer ele mesmo. Havia chegado o momento em que a independência (alcançada pela solidão) já não era mais o objetivo de Harry, mas sua sentença.
Nesse ponto é possível identificar a primazia da liberdade e individualidade da sociedade neoliberal. A perda do senso de comunidade como o contrapeso de ser livre e dono de si, sem responder a ninguém, sem agir pensando no outro, mas somente em si. A angústia da solidão como consequência de algo que parecia a priori um bom objetivo de se ter – a liberdade.
Vê-se também em Harry a perda da identidade referida no tópico anterior, bem como sua inclusão na multidão que vive uma depressão e descontentamento generalizado. Além da angústia de não ver graça na dimensão contemplativa da vida. Ao mesmo tempo, é um outsider, à medida em que sequer a produção artificial da felicidade (bares, festas, cafés e mesmo medicamentos) é capaz de tirar seu sentimento de constante angústia.
E, por isso, Harry tem fortes inclinações suicidas – mais adiante, ele chega a planejar sua própria morte – tamanha é a ausência de sentido que vê na vida e nas coisas. Intelectual tal como era, atingiu um nível de conhecimento e clareza que revelou a artificialidade do que se concebia como alegria e diversão, e, por isso, nada lhe saciava.
Se o produto do sistema é o sujeito neoliberal, por um lado, seu subproduto é o outsider, por outro – aquele indivíduo que é construído no meio alienado e sua clareza da realidade é chega a um nível em que nem os contrapesos do sistema que burlam uma alegria artificial é capaz de prendê-lo à ideia fantasiosa de felicidade.
O sistema capitalista neoliberal cria um sujeito produtivo-autodestrutivo cego à sua autodestruição. Cada indivíduo se mata o suficiente para manter-se vivo – é o exemplo de que se tem com inclinações ao alcoolismo, uso exacerbado de medicamentos ou qualquer substância que faça sentir distante da realidade que o corrói. Como subproduto, se tem vez ou outra o outsider, o sujeito consciente da sua autodestruição, mas que, muitas vezes, se enfraquece na luta contra o sistema – ou julga uma luta impossível – e acaba por esvaziar o sentido de tudo.
Hermann Hesse também evidencia a problemática da sociedade burguesa, ao conceituar o burguês como um estado sempre presente da vida humana. Concebe o burguês como uma tentativa de transigência, de busca por um equilibrado meio-termo entre os inúmeros extremos e opostos pares da conduta humana (HESSE, 2020, p. 62).
Por situar-se no meio-termo e não no centro do embate entre a dualidade presente na conduta humana, consegue fazer da sociedade moderna seu habitat natural. Hesse afirma que o burguês não representa outro papel no mundo senão o de “rebanho de cordeiros entre lobos erradios” (HESSE, 2020, p. 63).
O autor questiona como que podem os burgueses parecerem dominar o mundo, mesmo quando postos contra a parede. Como poderia algo tão débil em sua origem manter-se de pé? E responde (2020, p. 64):
A resposta é a seguinte: por causa dos lobos da estepe. Com efeito, a força vital da burguesia não se apoia de maneira alguma nas particularidades de seus membros normais, porém, na dos extraordinários e numerosos outsiders, que, em consequência, a querem rodear com a vaga indecisão e a elasticidade de seus ideais. Convive sempre na burguesia uma grande multidão de naturezas fortes e selvagens. Nosso Lobo da Estepe, Harry, é um exemplo característico. Ele que se desenvolveu muito mais do que se espera de um burguês, ele que conhece as delícias da meditação e também as sombrias alegrias do ódio e do ódio contra si mesmo, ele que despreza a lei, a virtude, o senso comum, é no entanto um prisioneiro forçado da burguesia e não pode escapar a ela. E assim em torno do núcleo da burguesia se sobrepõem amplas camadas de humanidade, muitos milhares de vida e inteligências, cada uma das quais surgida certamente da burguesia e disposta a uma vida sem reservas, mas que continua dependente da burguesia por sentimentos infantis e um tanto contagiada em sua debilidade pela intensidade vital; embora desterradas da burguesia, continuam de certo modo pertencendo a ela, obrigadas a ela e a seu serviço, pois à burguesia assenta perfeitamente a máxima do Grande: “Quem não está contra mim está comigo!”.
O Lobo da Estepe é distinto do burguês como o outsider é distinto do sujeito neoliberal, por causa do alto nível de desenvolvimento de sua individualidade paralelamente à visão esclarecida de mundo. Mas, assim como o Lobo da Estepe também possui características típicas do burguês e não consegue se desprender da burguesia, o outsider perpassa por todos os sintomas do sujeito neoliberal, e, mesmo esclarecido de sua autodestruição, mantém-se prisioneiro do sistema capitalista neoliberal, por não conseguir (ainda) desatar as amarras. Quem sabe um dia?
5 – CONCLUSÃO
Com o advento do neoliberalismo houve a criação de um sujeito neoliberal, marcado pela produtividade, coberto por um discurso de “empresa de si”, consubstanciado na máxima do desempenho/gozo.
O sujeito neoliberal é aquele que produz em todas as facetas de sua vida, sendo o responsável por produzir, inclusive, a própria felicidade. Ocorre que esse discurso encobre uma série de problemáticas relacionadas a individualização exacerbada da responsabilidade, que ganham seu grau máximo frente à concorrência desmedida – em relação aos outros e consigo mesmo – a que está inserido esse indivíduo multitarefas.
A sociedade neoliberal é, em verdade, uma sociedade doente, que sobrevive de meios artificiais que dão remotamente uma sensação de pseudofelicidade.
A pretexto de um discurso que prega emancipação, aproxima-se cada vez mais de uma vida selvagem e perde-se a humanidade, à medida que a dimensão contemplativa da vida é deixada de lado para dar lugar a uma dimensão de multitarefas e constante estado de alerta. O que não é útil e produtivo é totalmente dispensável na sociedade atual.
Como subproduto do sistema capitalista neoliberal que cria esse sujeito, há a criação do outsider, materializado na presente pesquisa através da figura do Lobo da Estepe. Um sujeito que perdeu o sentido da vida e está imerso numa angústia profunda que não é superada por qualquer meio comum de satisfação pessoal – precisamente porque descobre a artificialidade desses meios. O outsider é, ao mesmo tempo, opositor do sistema e preso a ele.
REFERÊNCIAS
DARDOT, Pierre. A nova razão do mundo [recurso eletrônico]: ensaio sobre a sociedade neoliberal; tradução Mariana Echalar. – 1. ed. – São Paulo: Boitempo, 2016.
FOUCAULT, Michel. O nascimento da biopolítica. Lisboa: Edições 70, 2018.
FURTADO, Rafael Nogueira. Baudelaire e a modernidade: um diálogo entre Walter Benjamin e Michel Foucault. Revista Kínesis, Vol. IV, n° 07, Julho 2012, p. 345-361.
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução de Enio Paulo Giachini. 2ª Edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.
HESSE, Hermann. O lobo da estepe. Tradução e prefácio de Ivo Barroso. 46ª Edição. Rio de Janeiro: Record, 2020.
MISES, Ludwig. Liberalismo – segundo a tradição clássica. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.
MOURÃO, Elder João Teixeira. Charles Baudelaire: modernidades segundo Walter Benjamin. Cadernos Benjaminianos, [S.l.], n. 5, p. 11-16, jun. 2012. ISSN 2179-8478. Disponível em: <http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/cadernosbenjaminianos/article/view/5340/4748>. Acesso em: 12 jul. 2021. doi:http://dx.doi.org/10.17851/2179-8478.0.5.11-16.
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Pará