PERFORMANCE DO TORCEDOR DO PAYSANDU

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7813123


Lucienne Ellem Martins Coutinho1


RESUMO: Esse artigo é uma breve porção da minha tese, a qual é atravessada pela definição de performance, que me fornece a base de sustentação teórica para a pesquisa que estou realizando no Doutorado, cujo tema é a performance do torcedor apaixonado do Paysandu. O caminho que trilhei buscou mostrar um pequeno retrospecto no tempo e mostro como o futebol entrou em Belém. Utilizo autores como: Alves (2016), Gaudêncio (2007) e Costa (2007), entre outros. Destaco as noções de performance de vários autores, tais como: Schechner (2003) e o “comportamento restaurado”; além da noção de torcida como comunidade, do antropólogo Roberto DaMatta (1994). Por fim para falar do futebol enquanto linguagem utilizo: Pasolini (1971), Franco Junior (2007), Silveira (2010). Para, finalmente, abordar o tema da paixão dos torcedores do maior time de futebol da região Norte – o Paysandu.

Palavras-chave: Performance; Futebol; Paysandu.

ABSTRACT: This article is a brief portion of my thesis, which is crossed by the definition of performance, which provides me with the theoretical support base for the research that I am carrying out in my Doctorate, whose theme is the performance of the passionate Paysandu fan. The path I took sought to show a small retrospective in time and I show how football entered Belém. I use authors such as: Alves (2016), Gaudêncio (2007) and Costa (2007), among others. I highlight the notions of performance by several authors, such as: Schechner (2003) and “restored behavior”; in addition to the notion of fans as a community, by anthropologist Roberto DaMatta (1994). Finally, to talk about football as a language, I use: Pasolini (1971), Franco Junior (2007), Silveira (2010). To finally address the theme of the passion of the fans of the biggest football team in the North region – Paysandu.

Keywords: Performance; Soccer; Paysandu.

1. A bola rola “pai d’égua”

Segundo Gaudêncio (2007), o futebol chega ao Pará no período da Belle époque, no final do século XIX, época em que aqui habitava um grande número de ingleses. Tal fato devia-se às empresas que em sua maioria lhes pertenciam e estavam instaladas em terras paraenses, em grande parte voltadas à extração e comercialização do látex. 

Destaco que a Belle Époque “Papa-chibé” “paraense autêntico; aquele que se alimenta de chibé (água e farinha)”, na qual surge o futebol, é caracterizada pela realização de outros esportes que dinamizavam o lazer na “cidade das mangueiras”, em virtude das relações econômicas e culturais com a Europa, inclui-se aí a prática dos esportes: remo, boxe, natação, atletismo, que irão distinguir a vida dos paraenses, em especial dos jovens. O futebol vem, então, como mais um esporte praticado na capital, uma espécie de demonstração do contato que havia com a dita “civilização” europeia.

O futebol adentra na capital paraense como mais um modismo importado da Europa, por volta de 1896, em que algumas partidas já eram realizadas na área da Praça Batista Campos e, posteriormente, em outros espaços da cidade, como, por exemplo, o largo de São Braz, lugar onde crianças e jovens costumavam se reunir nos finais de semana e feriados para assistirem treinos, bem como partidas de futebol, estas realizadas em lugares improvisados.

Tudo o que estava voltado ao futebol estava entrelaçado ao fazer europeu; os materiais eram importados, bem como outras mercadorias, havia uma hegemonia cultural europeia, em virtude da circulação do capital financeiro, acompanhado das mercadorias que por aqui transitavam para representar o modo de vida da Europa, uma espécie de sobreposição do que era moderno em relação às tradições e costumes europeus em detrimento à cultura local.

A então denominada Parah foot-ball Association foi a primeira entidade fundada para dirigir o futebol em terras paraenses, com a pretensão de executar o calendário igual ao da Inglaterra. No entanto, houve desavenças e, consequentemente, o torneio iniciou, mas não terminou. E no dia 23 de maio de 1913 foi fundada a Liga Paraense de Foot-Ball, na rua da Indústria, atualmente a rua Gaspar Viana (COSTA, 2007, p.14).

O Campeonato Paraense passou a ter legitimidade em 1945, quando se tornou uma disputa profissionalizante, na qual teve o Paysandu Sport Club como o primeiro campeão da então “Era Profissional”. No entanto, cabe destacar que o campeonato ocorreu apenas em 1947, uma vez que o ano anterior, 1946, foi apenas para ser decidido pelos clubes e a Federação Paraense de Desportos (FPD), como bem se sabe, era o campeonato de acertos de dívidas anteriores e cotas para serem quitadas para os Clubes (COSTA, 2007 apud ALVES, et.al., 2016, p.45).

2. Escalação da Performance

Seria muito complicado tratar do termo Performance e não falar de um de seus mais brilhantes disseminadores: Richard Schechner, primeiro por ser teatrólogo, depois por ser o criador e o diretor de um grupo famoso presente no final da década de 1960, “the Performance group”, além de ser editor de The drama review (uma revista que tratava sobre o estudo da performance e do teatro). Richard Schechner (2003), considerado o pai dos Performance Studies (Estudos da Performance), que apresenta o seu estudo da arte da performance e expõe o esporte como um de seus componentes de estudo e, no interior desta, o futebol e suas torcidas.

Segundo Schechner (2003), há oito situações em que as performances podem acontecer, e que algumas vezes são completamente distintas, em outras se sobrepõem umas sobre as outras, sendo estas: Na vida diária, cozinhando, socializando-se, apenas vivendo.

Percebo que na classificação de Schechner a performance pode ser vista no cotidiano, na arte, em rituais. No entanto, este autor não quer dizer que tudo é performance, mas que pode ser visto como se fosse uma performance. Por isso, fala-se de comportamento restaurado, pois, para Schechner, todos nós performamos mais do que percebemos. A vida cotidiana, religiosa ou artística, consiste sobremaneira de rotinas, hábitos, ritualizações e de comportamentos exercidos previamente e recombinados. 

É pertinente ressaltar que, sob a ótica da teoria da performance, pode ser considerado toda ação, comportamento e/ou evento ou coisa “como” performance, desde que estas sejam analisadas em termos de “fazer”, “comportar-se”, “mostrar”. Do outro lado, sob a ótica da cultura praticante, algumas ações serão consideradas performances e outras não, dependerá da cultura e períodos distintos. Isso significa dizer que se o praticante não avalia a sua prática enquanto performance, não poderemos fazê-lo3.

Lançar o conceito de Schechner, de comportamento restaurado, sobre a performance de um torcedor apaixonado por seu time é ratificar sua afirmativa, ao reportar-me à minha infância, na qual desde pequena fui aprendendo que o futebol fazia parte da tradição dentro de nossa família, cada um com seus rituais próprios, suas superstições, suas orações, o que reforçarei tal assertiva ao longo do texto.

Meu comportamento inicial foi apreendido a partir dos ensinamentos da minha família, posteriormente, esse comportamento foi sofrendo modificações a partir de outras interações com outros grupos e pessoas ao longo dos anos.

Segundo Schechner (2003), performances são feitas de pedaços de comportamento restaurado, no entanto, cada performance é distinta das demais. Tal assertiva incita uma contradição: como algo pode se repetir e ser novo ao mesmo tempo? Schechner responde e diz que pode haver recombinação de comportamentos de forma infinita, porém é importante frisar que nenhum evento é capaz de copiar, exatamente, outro evento. “Não apenas o comportamento em si mesmo – nuances de humor, inflexão vocal, linguagem corporal e etc., mas também o contexto e a ocasião propriamente ditos, tornam cada instância diferentes” (SCHECHNER, 2003, p. 28).

Destaco as sete funções que Schechner atribui à performance, porém, afirma que nenhuma performance exerce todas ao mesmo tempo, mas muitas enfatizam mais de uma; elas não estão listadas por ordem de relevância, uma vez que o grau de importância é sempre relativo ao contexto. As funções são:

1. Entreter; 

2. Fazer alguma coisa que é bela;

3. Marcar ou mudar a identidade;

4. Fazer ou estimular uma comunidade;

5. Curar;

6. Ensinar, persuadir ou convencer;

7. Lidar com o sagrado e com o demoníaco. (SCHECHNER, 2003, p. 45-46).

Mergulhando nessas sete funções sob o foco da performance do torcedor(a) apaixonado(a) do Paysandu, o qual é o meu sujeito de pesquisa, dessas sete funções presentes na performance do torcedor, destacarei: a marca da identidade do torcedor performer, o estímulo à comunidade.

O torcedor traz em seu peito sua camisa também chamada de “manto sagrado”, que seria a sua segunda pele, a “tatuagem” que identifica sua pertença àquele grupo. Para um torcedor apoiar um time é muito além do que carregar as cores. “A torcida é um espaço de compartilhamento de identidades, símbolos e valores que compõem a visão social de mundo de cada torcedor. (COUTINHO, 2009, p. 1855).

Todo torcedor faz parte de uma primeira comunidade, que é a sua família. É nela que aprende os “mandamentos” do torcer, do vibrar, das regras do futebol. Posteriormente, esse indivíduo, de forma voluntária, fará parte de novas comunidades; e estas serão novas famílias. 

Roberto DaMatta (1994, p. 16) argumenta que “essa comunidade que se escolhe voluntariamente” faz uma inserção no contexto dos elos que recriam modernamente a ideia de família como um grupo que nos engloba. “Ora, tal escolha individual – personalizada e pessoalíssima – permite redefinir a identidade social num nível mais amplo”; e escreve: “Um nível que é a um só tempo nacional e cívico, pois fica além da casa e da família” ou “um nível que tem a ver com um universo feito de indivíduos e de normas universais e que se realiza concretamente na ‘rua’ – no estádio, em pleno domínio público”.

As torcidas vivem o momento – o agora é o instante. Em cada jogo as emoções são diferentes, pois ali estão vários fatores envolvidos: os seus próprios anseios; do seu time, que depende de um resultado sempre positivo; do clima, para favorecer o andamento do jogo; do gramado, para facilitar o toque de bola; da renda a ser angariada mediante a participação em massa da torcida, tudo a ser resolvido no presente. 

A execução de hino do seu clube é marca registrada, bem como as músicas criadas pelas próprias torcidas, rimas e gritos de guerra, além de movimentações de braços, pernas, cabeça. Em cada jogo é sempre uma nova performance, pois os corpos não são os mesmos do jogo anterior, cada um vem imbricado de novos anseios, desejos e sensações.

Lançar o meu olhar, a minha própria experiência enquanto torcedora e, no caso, performer nos estádios de futebol. Faz-me remeter individualmente a cada jogo de forma idiossincrática, uma vez que cada partida traz consigo seus próprios anseios. 

O performer nos estádios são os torcedores, dos quais a sua performance é autoral. Torcendo ninguém ensaia as emoções, o sentir, tudo acontece no momento presente, o script é construído antes, durante e depois de cada jogo; e nunca será apenas jogo, é coração, alma, sentimentos, emoções, tudo em uma mistura idiossincrática. 

3. Nasce a “paixão”

Para começar a falar da “Paixão”, preciso mostrar como tudo iniciou; e este iniciar se deu mediante a participação de muitas personalidades, que eram de extrema importância na sociedade paraense. Estes sujeitos sociais distintos envolviam-se com a criação de clubes de futebol.

Um dos grandes destaques é Deodoro Machado de Mendonça, que foi deputado, senador, secretario, assessor de estado, um político bem influente na sociedade Belenense da época. Várias vezes antagonistas, apoiava demais políticos daquele tempo, e sempre se fez presente no cenário político local.

Gerado e consubstanciado a partir de uma agremiação que no ano de 1913, disputava o campeonato paraense de futebol da primeira divisão, seu nome era: Norte Clube. Seu uniforme nos jogos era calções brancos e camisas pretas. Por tal fato, passou a ser chamado de “Time Negra”.

No dia 15 de novembro de 1913, a tabela apontava para o jogo entre o Norte Clube e o Guarany. O Time Negra estava realizando uma excelente campanha e possuía como meta e obrigação vencer o Guarany. Na hipótese de vencê-lo, o Norte Clube iria disputar uma partida extra contra o grupo do Remo, e nela se definiria, então, o vencedor do campeonato de 1913. O grupo do Remo (posteriormente chamado de Clube do Remo) havia encerrado seus jogos e estava à espera do jogo entre Norte Clube e Guarany.

O jogo terminou 1 x 1, com este resultado o grupo do remo sagrou-se campeão de 1913, assim, não necessitaria jogar uma partida extra. Inconformado com o resultado do jogo entre o Guarany, o Norte clube decidiu escrever e enviar um documento `a Liga Paraense de Futebol, com o pedido de anulação da mesma, alegando inúmeras ideias.

A liga recebeu então o documento e no dia 20 de novembro de 1913 reuniu-se para fazer a apreciação e o julgamento. A assembleia geral toda envolvida, julgou como “improcedente” o recurso interposto pelo time do Norte clube, o qual solicitava a anulação da partida realizada entre o referido time e o Guarany. O resultado em campo, portanto, foi validado. A decisão da liga, não agradou os integrantes do Norte Clube e tamanha foi a insatisfação que resolveram agir para que houvesse mudanças e, consequentemente, tornarem-se mais fortes, para então enfrentarem quaisquer adversários ou até mesmo superá-los.

O Norte Clube tinha como líder do movimento o jogador Hugo Manoel de Abreu Leão, que defendia a criação de uma nova agremiação para superar o grupo do Remo, este falava: “vou fundar um grupo para superar o grupo do Remo!”.

O jornal da época “Estado do Pará”, inseriu como última notícia do dia 2 de fevereiro de 1914 uma convocação aos desportistas para que ficassem atentos à fundação do Paysandu. Tais convocações renderam inúmeras presenças dos desportistas na reunião.

A assembleia, de forma unânime, escolheu Hugo Manoel de Abreu Leão, por sinal era o mais entusiasmado com a ideia de se criar uma nova agremiação. Hugo Leão, sendo líder do movimento de criação de agremiações e presidente da assembleia, convidou Humberto Simões para ser o secretário.

Hugo Leão, ao tomar posse como presidente da sessão, esclareceu que o objetivo da referida reunião era a tão almejada criação de uma nova agremiação, qual se chamaria de Paysandu “Foot-ball club4, em homenagem ao feito glorioso e heroico da Marinha de Guerra do Brasil, ao transpor o Passo do Paysandu na guerra contra o Paraguai. 

4. Torcida apaixonada e fiel e sua performance

Teço minha escrita atrelada aos argumentos de Pasolini, quando estrutura seu posicionamento questionando o que seria uma língua? E logo ratifica, seria um ‘sistema de signos’, resposta esta que seria dado por um semiólogo. 

Cabe frisar que esse sistema não se trata apenas da língua escrita-falada, como estou agora escrevendo e você leitor lendo. Há outros sistemas de signos não-verbais que estão presentes na pintura, bem como no cinema, na moda. Pasolini (1971) nos faz olhar para o futebol também como um sistema de signos que possui uma língua, não-verbal, portanto, uma linguagem. 

E o leitor poderia se indagar perguntando: como se formariam as palavras então, no futebol? Antes de responder a essa pergunta, saliento que essa alcunha de linguagem referendada ao futebol foi proferida por um cronista esportivo que também foi jogador das Copas de 1966 e 1970, Eduardo Gonçalves de Andrade “o Tostão” que falava da necessidade de se ler cada partida de futebol como se fosse um texto, mas uma leitura para além do foco dos meios de comunicação, uma vez que estes meios escondem mais do que revelam sobre o jogo.

Silveira (et.al, 2010) se apropria da ideia de Tostão que trata o futebol enquanto linguagem e assim cria um procedimento de leitura do jogo com o intuito de fazer uma compreensão dele, para além do que os meios de comunicação impõem. 

Para tal fim, Silveira (2010) se utiliza de Franco Junior (2007) e suas leituras repletas de metáforas em seu livro “a dança dos deuses”. Nesse livro o referido autor conferi ao futebol o mesmo preceito de arte performática existente na dança, no teatro, vai mais além ao afirmar que antropologicamente dança é linguagem, assim sendo o futebol também o é. 

Comungo da visão de Saussure sobre a língua como sistema de signos ser a parte social da linguagem e que apenas um indivíduo não é capaz de mudá-la, e a fala ser a expressão individual da linguagem formada por um ato individual. “Um ato individual de vontade e inteligência”. (1995, p.22). A partir dessas colocações de Saussure, Silveira (2010) afirma que a Língua-futebol seria um sistema composto por todas as possibilidades aceitas em campo. Ele ainda salienta que não são apenas àquelas disponibilizadas nas 17 regras oficiais, mas uma somatória das outras práticas e habilidades táticas como o posicionamento, a visão de jogo, entre outros; as físicas (resistência, antecipação, velocidade etc.); e a técnica (drible, desarme, carrinho etc.) imprescindível para se jogar o futebol. O jogador instaura sua Fala-futebol, selecionando e combinando os subsídios desses acervos. 

Pensemos que esse acervo do que trata Silveira (2010) na Língua-futebol ele é uma somatória de sinais investidos em cada um dos acervos, contudo, não são totalmente acessíveis a todos os falantes. Tal fato faz com que os jogadores se estimulem a criar movimentos, jogadas, passes, que posteriormente, farão parte do acervo universal da língua-futebol, um claro exemplo a ser citado é do goleiro Rogério Ceni que nos anos 90 foi o primeiro goleiro a entrar para a história ao realizar uma cobrança de falta pela seleção brasileira, foi também o maior goleiro artilheiro da história, a partir de então os demais goleiros passaram a se arriscar nas cobranças de falta. 

Pasolini (1971) vai mais além na discussão do futebol ser uma linguagem e afirma que esta linguagem tem todas as características essenciais da escrita e falada. Como assim? Vejamos, as “palavras” do futebol são formadas tal como às da linguagem escrita-falada, estas aqui são resultados das infinitas combinações das 26 letras do alfabeto, que em italiano, nacionalidade de Pasolini, são 21 e chamadas de fonemas, que são as unidades mínimas da língua escrita-falada, conforme salienta o autor. 

Nessa lógica de raciocínio ele associou os fonemas (letras) da linguagem escrita-falada à linguagem do futebol e criou os “podemas”, que seriam a unidade mínima da língua do futebol, isto é, o fonema dos pés de cada jogador em campo, assim seriam 22 “podemas” em campo. 

As inúmeras possibilidades de combinação dos “podemas”, formam as palavras na língua-futebol, na prática seriam as várias trocas de bolas entre os jogadores em campo; e o conjunto destas formam um discurso pautado em regras gramaticais precisas, a sintaxe está presente durante a “partida” onde se difunde todo o discurso.

Os jogadores seriam os cifradores, nós torcedores seriamos os decifradores, uma vez que ambos conhecemos o código, isto é, quem não conhece o código não conhece o significado. Por isso que no senso popular dizemos que existem milhões de técnicos, porque todo torcedor conhece as regras que permeiam toda uma partida de futebol, com isso, automaticamente, cada torcedor se sente preparado para ditar estratégias para o jogo.

Seguindo esta trilha de raciocínio de cifração e decifração do jogo, por parte dos jogadores, e nós torcedores, que delineio nesse momento o raciocínio voltado ao futebol sob a ótica de ser uma dança. Toda dança é comunicação que possui como instrumento principal o corpo, “entende-se que é necessário um autocontrole excelente dos movimentos para melhor expressar-se” (SILVEIRA, 2010, p.4).

Seguindo a proposta de Franco Júnior (2007), vamos pensar o futebol enquanto “uma linguagem ao mesmo tempo natural (correr, fugir, enganar, chuta e pegar) (…) e artificial (regra para organizar a representação moderna daqueles atos primordiais) (p.349). Portanto, sob esse ponto de vista não é uma atividade restrita aos indivíduos que dominam a língua-futebol, uma vez que todos nós seres humanos a partir da fase sensório-motor como nos diria Piaget (1970), desde pequenos trazemos o instinto de correr atrás da bola, chutá-la, bem como a uma pedrinha, tal assertiva pode ser afirmada como indicativo da língua-futebol, não é à toa o ditado popular, de que o brasileiro já nasce gostando de futebol.   

O futebol é uma dança feita de movimentos conhecidos por todos, de pequeno a grande, de uma geração a outra, que varia apenas o gênero, mas a música é a mesma que orquestra os movimentos que se direcionam ao gol. 

E essa dança é de total conhecimento da torcida do Paysandu que é uma das maiores e mais apaixonadas do Brasil. Fiel, como é conhecida, está presente em todos os jogos do Papão, como também é chamado. Desde os primeiros jogos, o Paysandu conquistou os torcedores no primeiro REXPA, à época, em número menor do que do rival, no entanto, cabe frisar que este já existia na sociedade desde 1905, enquanto o Paysandu foi criado em 1914. 

Na atualidade esses números mudaram, consideravelmente, a torcida se tornou a maior e mais fiel torcida do Norte do Brasil. Tal fato pode ser comprovado pela pesquisa realizada pela empresa Pluri Consultoria (especializada em gestão, finanças e marketing esportivo), aponta que o Pará está entre os 20 clubes mais valiosos do Brasil. 

O Paysandu aparece como único clube citado entre todos os demais da Região Norte, o Papão aparece com um total de 857.432 torcedores, pesquisa esta realizada no ano de 2022.

O torcedor está com o seu time em um relacionamento, em muitos casos, de forma incondicional. A palavra torcer (contorcer) nos leva a caminhar em direção a uma carga já estabelecida de emoções, de dor, experiências de forma geral ligadas a comportamentos de lamúria ou de reclamação (MACHADO, 2005, p.106). 

Todo torcedor carrega em si a prerrogativa de que seu time vai ganhar e com a Fiel não é diferente. Cada jogo abarca aspirações distintas, em clássicos se torna obrigação o ato de ganhar e, se isso não ocorre, surge um misto de sensações.

Para Reis (1998), o público de futebol se encaixaria em quatro categorias, que seriam: os espectadores, os torcedores, os torcedores uniformizados e os torcedores organizados. 

Na primeira categoria se encaixariam aqueles sujeitos que desempenham o papel de apenas assistir os jogos; na segunda categoria já seriam os sujeitos que, além de assistir aos jogos, elencam um time específico pelo qual vão torcer durante as partidas de futebol; já na terceira categoria estão aqueles que usam a camisa do seu time para mostrarem a preferência mediante a vestimenta; por fim, mas não menos importante, o torcedor organizado é aquele sujeito que pertence a uma agremiação de torcedores que possui uma estrutura organizacional burocrática e que não depende do clube para qual torce. (REIS apud CAMURÇA, 2019, p. 46).

Perpassando pelas falas dos meus entrevistados e sendo atravessadas por cada uma, vejo-me na obrigação falar sobre o conceito de Paixão, já que esta é pulsante em todos os relatos dos torcedores sujeitos de minha pesquisa, bem como em músicas cantadas pelos mesmos e tal fato me conduz a fazer um toque de bola entre autores que conceituam o que é Paixão. 

Olhando para a Antiguidade posso destacar que nesse período os conceitos de Amor e Paixão eram vistos sob a ótica da má influência dos princípios afetivos acerca da consciência. A razão era o único meio capaz de remover essa ingerência.

Tal concepção pode ser percebida em Platão quando este fala que a alma seria uma espécie de conjunto de aptidões seguindo uma hierarquia em que a ordem superior adviria da razão e esta seria a cúpula de todas as instâncias.   

Em Aristóteles a ênfase das paixões são os estados de alma que vêm atrelados das sensações de prazer e de desprazer. Em último caso seriam os sentimentos que possuem suas raízes na retribuição ou desilusão do desejo. (Páthos) é o que move impulsiona o homem para agir. 

As paixões humanas ou emoções, afirma o estagirita5, “são as causas que fazem alterar os seres humanos e introduzem mudanças nos seus juízos, na medida em que elas comportam dor e prazer” (ARISTOTELES, 2015, p.116). 

As reflexões de Aristóteles a respeito das paixões humanas, foram de proporções imensuráveis ao longo dos séculos e até hoje são retomadas por pesquisadores de várias áreas de estudos. Seus apontamentos sobre a referida temática orientam, direta ou indiretamente, inúmeras concepções em relação as emoções vindouras até hoje, e experimentadas em diversos campos de saber. Como recorda Meyer (2000. p. XXXIX) citando Aristóteles “as paixões estão intimamente associadas ao prazer e ao sofrimento – por conseguinte, ao apetite sensível, o qual é flutuante e por isso desestabiliza o homem”. 

Conforme afirma Figueiredo (2018, p.9) as paixões compõem uma estrutura na qual estão inseridas inúmeras variações dos estados da alma do ser humano. Continuando esse tracejar de definições relacionadas as paixões que trago a classificação de Aristóteles no que tange as 14 paixões apresentadas em sua obra a Retórica, a explanação delas será feito mediante uma breve apresentação feita por Figueiredo (2018, p.9)  

• Cólera: é um impulso de vingança, causado por injustificada negligência em relação ao outro ou aos que são seus queridos. Essa paixão reequilibra a diferença causada pela insolência, pelo despeito e pelo desprezo. Consiste na tentação de causar desgosto ao outro. Tange, portanto, ao pessoal, a questões particulares entre sujeitos. 

• Calma: é o contrário e talvez o antídoto da cólera. Configura o estado de apaziguamento após um tormento estrondoso e recria a simetria entre os sujeitos. 

• Amor: é desejar para alguém aquelas coisas que você considera boas (desejando-as para o outro e não para si) e tentar, ao máximo, fazer com que elas ocorram. É, pois, o laço de identidade com o outro. 

• Ódio: é dissociador. É a ânsia por querer causar mal ao outro. Diferentemente da cólera, o ódio diz respeito à inimizade em relação ao geral, às classes, não ao particular. Odeiam-se aos ladrões, malfeitores e carrascos: às classes, não aos sujeitos. Quem sente cólera quer que o causador de seu tormento sinta, em seu lugar, seu mal, enquanto quem sente ódio deseja que seu alvo desapareça. 

• Temor: uma dor ou distúrbio decorrente da projeção de um mal iminente que tem caracterização destrutiva e penosa. É acompanhado de uma expectativa. Temem-se, assim, os maus que podem nos arruinar ou arruinar quem nos é querido.

 • Confiança (segurança): é o oposto do medo. É acompanhada da esperança (antecipação) das coisas que levam à segurança como algo próximo, enquanto as causas do medo parecem inexistentes ou distantes. 

• Vergonha: valoriza a imagem que o outro cria de nós; é dor ou perturbação em relação ao presente, passado ou futuro, que achamos que tenderá ao nosso descrédito de acordo com a visão de outrem. Caracteriza a inferioridade que sentimos em relação ao outro. 

• Imprudência (desvergonha): também ocorre de acordo com a imagem que criam de nós, porém, essa concepção não nos traz dor alguma, pelo contrário, cria indiferença que anula qualquer possibilidade do desgosto. Deflagra a posição de superioridade em que nos colocamos em relação ao julgamento do outro. 

• Favor (obsequiosidade): bondade desinteressada em fazer ou devolver o bem ao outro. 

• Compaixão (piedade): sentimento de dor, considerado como sendo um mal destrutivo ou doloroso, que recai sobre quem não o merece. É despertada quando pensamos que nós mesmos ou alguém próximo a nós poderia sofrer tal mal, sobretudo, quando essa possibilidade parece real e alardeadora. 

• Indignação: compreende uma dor ao avistar o destino de alguém que não o mereceu. 

• Inveja: angústia perturbadora dirigida à boa sorte de um igual. A dor é sentida, não porque se deseja algo, mas porque as outras pessoas o têm. É relacionada ao sentimento de querer tirar, ou destruir, o que é de outrem. 

• Emulação: relaciona-se ao movimento de imitação ao outro. Sentimento em relação aos bens ou conquistas de outrem, que consideramos desejáveis e que estão ao nosso alcance. É uma dor sentida, não porque as outras pessoas tenham tais bens, mas porque não os temos também, o que nos impele a querer possui-los. 

• Desprezo: antítese da emulação. As pessoas que estão em posição de serem imitadas tendem a sentir desprezo por aqueles que estão sujeitos a quaisquer males (defeitos e desvantagens). Assim, o desprezo pressupõe que o outro não merece o que tem pelo fato de ser inferior ao seu destino

Ao ler essas 14 paixões proferidas pelo estagirita, vejo pertinente salientá-las na performance do torcedor do Paysandu que vai nos jogos. Elas podem estar presentes em todos os jogos, é muito indefinido o que vai acontecer durante as partidas, claro que se fosse contar com o desejo do torcedor só existiriam alegrias, vitórias, festa, mas cada partida é uma nova partida, tudo como do marco zero, cada jogo é uma nova oportunidade de se retificar os erros, e/ou fortalecer os acertos.

A cólera é latente quando o time do Paysandu por algum deslize perde, ou empata, principalmente, dentro da Curuzu, ou também, quando no limiar da partida o árbitro do jogo age levianamente e não marca, ou o contrário, marca indevidamente, uma falta, um pênalti, um impedimento, neste momento exalta-se o xingamento, como uma atitude desprezível ao ato irregular. “Juiz ladrão por marcar falta inexistente” (Gerfeson Figueiredo, 2022); “Sim, apenas palavrões e xingando a mãe do juiz” (Vini Fagundes, 2022); 

A calma se faz latente quando tudo ocorre como o torcedor previu, antecipadamente, o Paysandu ganhou, a torcida lotou o estádio, se conquistou mais três pontos, o árbitro apitou de forma coerente e coesa “sempre fui um torcedor tranquilo […]” (Bragmar Santos, 2022); “sem roubo juiz esqueceu o cartão”. (Katia Rodrigues, 2022).  “[…] eu xingo e ao árbitro também, ainda mais quando ele não apita certo a partida. Geralmente os xingamentos não são pesados, estou dizendo por mim […]”. (Arthur Gonçalves, 2022).

Figura 1. Torcida do Paysandu

Fonte: Roberto Silva,2022

O amor se dá na relação harmônica entre os torcedores e os jogadores quando tudo está correndo bem, são vitórias adquiridas, títulos conquistados, troféus levantados “eu amo o Paysandu” (Maurilio Tavernad, 2022); “[…] é aquele amor que me tira do chão” (Mel Ramirez, 2022); eu enquanto torcedora direi, é um amor imensurável, que levo comigo por onde vou, em qualquer canto desse Brasil, demonstro esse sentimento vestindo meu manto (minha camisa) e carregando minha bandeira, como um estandarte. 

A maior prova do meu amor pelo Paysandu, foi casar carregando o escudo dele bordado em meu vestido e feito com todo o carinho que uma noiva merece, além de tê-lo mandado gravar em nossa aliança para compor o nosso rito de passagem, do meu esposo e eu, de nossas vidas de solteiros a casados, pois ele estará em nosso relacionamento, na vida de nossos filhos, em nossa casa, é um amor que passará entre nossos descendentes assim como o fizeram nossos pais e avós. O tema da festa do nosso casamento foi com a temática do Paysandu, desde o convite até a toalha das mesas e cadeiras, decoração, topo do bolo, cor do bolo, tudo respirava as cores azul e branco.

Figura 2. Casamento de bicolores

Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2020.

 O ódio se faz valer quando o Paysandu perde o jogo, principalmente, se for para o maior rival, chega a ser uma humilhação, bem como quando é escamoteado de forma leviana, além é claro de ser rebaixado para série inferior à qual pertence, suscita o ódio maior nos torcedores. “você se revolta com a possibilidade do erro do árbitro prejudicar seu time e aos jogadores, pois você acaba o vendo como inimigo pessoal” (Mel Ramirez, 2022).

O maior temor do torcedor do Paysandu é a temível derrota, mas existem times, e times, para se perder, o que não se admite em hipótese alguma é a derrota para o rival, e o time que é o maior rival é o Remo. Perder um jogo para o Remo chega a ser uma desonra, principalmente, se o jogo vale um título, porque além da derrota o torcedor vai ter que aceitar a encarnação6 depois do jogo e o resto da semana toda. 

A confiança emerge a partir do momento que o torcedor vê seu time com jogadas ensaiadas, uma defesa onde não passa nada, um centroavante participativo, um goleiro que agarra tudo, jogadores entrosados, um técnico que sabe mexer no time, todo esse conjunto harmônico resulta em conquistas de títulos, campeonatos, e faz com que a torcida cante vitória antes mesmo de rolar a bola, marque encontro com todos que compõe a torcida e organizada e desfilam pelas ruas mostrando seu orgulho. E esse confiar é uma via de mão dupla, uma vez que os jogadores também se tornam mais confiantes a partir do apoio, incondicional, de todos os torcedores, assim o desempenho é cada vez mais elevado.

A vergonha pulsa em meio a torcida, quando seu time perde para outro considerado inferior, por exemplo, final de janeiro iniciou o campeonato paraense de 2023 aqui na cidade de Belém, os três maiores times presentes na disputa são: Paysandu, Remo e Tuna Luso, os demais são todos do interior do Pará: Águia de Marabá, Bragantino, Caeté, Cametá, Castanhal, Independente, Itupiranga, São Francisco e Tapajós. 

No dia 04 de março de 2023, o Paysandu foi até Ipixuna do Pará, interior do estado, para fazer um jogo contra o time do Caeté, o qual faz parte dos times com pouco prestígio, e o pior aconteceu, o Paysandu perdeu de virada, além de perder a invencibilidade ficou na vice-liderança, atrás apenas do maior rival, Remo.

 Foi uma mega vergonha, primeiro por perder para um time dito “pequeno” que não conseguia vencer a alguns jogos precisando, portanto, de uma vitória para respirar na tabela, e o Paysandu vai lá e dá de presente os três pontos e a vitória para o Caeté. Foi um jogo que suscitou em nós torcedores muita vergonha, por ter sido uma partida com poucas jogadas certas, muitos passes errados, pouca criatividade, jogadores pesados em campo, uma defesa completamente desestabilizada, além dos gols perdidos. Foi um verdadeiro desastre. 

 A imprudência ocorre quando o torcedor age agressivamente contra outro torcedor do time rival por motivos fúteis, ou porque o adversário pertence ao maior rival que conseguiu ganhar a partida, o campeonato, o título, e o agressor acredita que se vingando do adversário vai devolver a honra ao time por aquela derrota, e essas agressões com o passar dos tempos se tornam ainda mais severas, antes eram confrontos de pedras, paus, tijolos, hoje são armas brancas, rojões, arma de fogo. Não importa as consequências, esses torcedores chegam ao extremo de ceifar a vida do torcedor rival, e utilizam termos como “abati o inimigo”, “perdeu”, entre outros, para vangloriar a “vitória” sobre o adversário. 

Figura 3: Briga entre torcedores do Paysandu e Remo

Fonte: Diário online -DOL

Aristóteles utilizar o termo favor como uma bondade desinteressada, atualmente, seriam as ações solidárias, em que muitas torcidas organizadas do Paysandu se propõem a realizá-las com o intuito de doar alimentos, presentes, roupas para famílias carentes, além de comemorações como do dia das Crianças, do Natal, da Páscoa. 

Os torcedores promovem um dia diferenciado às crianças, adolescentes, adultos, por isso costuma-se salientar a frase “é mais que futebol”, é amor, parceria, amizade, solidariedade, empatia.

A compaixão também é latente nos torcedores do Paysandu, as torcidas organizadas vivem promovendo campanha para o estímulo a doação de sangue, além das correntes do bem, com o intuito de angariar recursos em dinheiro ou cestas básicas destinados a alguém que esteja precisando com urgência. 

As mídias dão pouco destaque a essas ações promovidas pelas torcidas organizadas, mas quando é o contrário se elas se envolvem em brigas, confusões, discórdias viram notícias em destaque nos jornais escritos, na televisão, enfim, a controvérsia midiática.

Nós torcedores do Paysandu sabemos bem o que é indignação, no dia 08 de setembro de 2019, nosso time foi afanado na cara dura pela árbitro Leandro Vuaden, era uma disputa de acesso a série B no brasileirão da série C, a partida já estava no segundo tempo nos acréscimos, o Paysandu ganha de 2 a 1, quando o Vuaden marca um pênalti para o Náutico, o jogador Jean Carlos vai para a cobrança e faz o gol de empate, levando a decisão para os pênaltis, uma vez que o jogo em Pernambuco, na casa do Náutico houve empate sem gols, e como houve novo empate, a decisão seria nas penalidades. 

Após a cobrança do pênalti, Vuaden encerrou o segundo tempo, levando a partida para os pênaltis, no entanto, o time todo do Paysandu já havia se desconcentrado por ser escamoteado da forma mais vil possível, o resultado, Paysandu perdeu de 5 a 3 nas penalidades com isso restou apenas a indignação, frustração, choro, revolta, sentimentos juntos e misturados. 

Lembro como se fosse hoje, a indignação que nos restou em ver um time comemorar o acesso após ser privilegiado por um pênalti que não existiu, dentro de sua casa, estávamos ali torcedores assistindo pela tv e alguns no estádio Eládio de Barros Carvalho, popularmente conhecido como Estádio do Aflitos, por estar localizado no bairro do Aflitos, jogadores e o time todo sem ter o que fazer, apenas aplaudir o esforço do time bicolor, enxugar as lágrimas e voltar para casa àqueles que foram para o jogo, quem estava em casa era mudar o canal da tv e tentar esquecer aquela partida de futebol, mas como esquecer? Para quem torce por um time, sabe que perder já é difícil aceitar, agora perder sendo duramente roubado, dói mais que um soco, uma rejeição, fazer uma tatuagem. 

Jamais esqueceremos, fica passando na cabeça como um filme, porque era um acesso a série superior, e junto com ele imbricava-se muitos anseios, desejos, sonhos, e todos caídos por terra, tudo por um ato sem caráter de um juiz leviano e perverso, até hoje não tem um torcedor que não aparente indignação ao ver o árbitro apitando outros jogos, como bem explicitou Ricardo Gluck: “não foi um assalto, foi um latrocínio: além de nos roubar, nos matou” (entrevista concedida ao ESPN.com.br em 09 de set. de 2019).

O presidente a época Ricardo Gluck recorreu ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) com o pedido de impugnação da partida, a mídia como um todo ressaltou o pênalti marcado de forma equivoca, protocolou-se o pedido de impugnação com a seguinte explicação, por parte do presidente do Paysandu:

A fundamentação principal é que a gente entende que há um erro de direito. Você tem os erros de fato e os de direito. Nos de fato, cabe a interpretação: se a pessoa teve intenção de colocar mão na bola ou não, por exemplo. O de direito é quando não cabe interpretação. Você não pode bater um pênalti com a mão, por exemplo. Não tem interpretação, é uma questão clara. Na situação que houve, não existe nenhum elemento a favor do pênalti, todos são do não-pênalti. Ali não há o que interpretar. Ele marcou o pênalti ou por desconhecimento da regra, ou por outro motivo. (Ricardo Gluck em entrevista concedida ao ESPN.com.br em 09 de set. de 2019)

O Pleno Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), em sessão realizada na tarde do dia 20 de setembro de 2019, na cidade do Rio de Janeiro, julgou improcedente, por unanimidade 7 votos a 0, o pedido de impugnação do jogo entra Náutico e Paysandu. Lógico que nós torcedores sabíamos que seria impossível julgarem procedente a solicitação do Paysandu, mas lá no fundo de nossos corações, acreditávamos que poderia acontecer um milagre a nosso favor, mas como sabemos que o nosso time é da região Norte, os julgadores iriam fazer de tudo para não nos beneficiar, é claro. 

No final do julgamento, o resultou foi para nós não como um pênalti, mas um gol marcado a favor do adversário. E no final de tudo, amargamos mais uma derrota, agora na Justiça Desportiva, além de termos que encarar as encarnações agora não só do jogo, como do julgamento também. 

A inveja aflorou em nossos corações de forma pulsante e dilacerante no dia 10 de janeiro de 2021, quando o nosso maior rival Remo conseguiu o acesso a série b, vencendo o duelo contra o nosso time por apenas 1 gol, além de ter se beneficiado com o empate de 1 a 1 entre Londrina e Ypiranga, tudo contribuiu para o retorno do rival à segundona depois de 13 anos. 

O gol aconteceu ainda no primeiro tempo, exatos 34 minutos de bola rolando, em uma cobrança de falta, o jogador Marlon rolou a bola para o Gedoz (conhecido pelo apelido de gominho), este bateu a bola com forte intensidade, o goleiro Paulo Ricardo espalmou de forma equivocada para o meio da área e lá se encontrava o atacante Salatiel, completamente livre, sem nenhuma marcação, empurrou a bola para o fundo da rede, além de comemorar o gol, sagrava-se o herói da partida. 

O Paysandu ainda tentou empatar, mas não passou da vontade, porque o futebol deixou muito a desejar, amargamos a derrota, ainda tínhamos a oportunidade de ter o acesso,  exemplo de nosso rival, pois tínhamos mais um jogo seis dias após o REXPA, o resultado só dependeria do Paysandu, era só ganhar e correr para o abraço, enfrentaríamos o Ypiranga em Erechim, no Rio Grande do Sul, no entanto, mais uma vez o Paysandu nos decepcionou e perdeu por um gol e nos fez invejarmos ainda mais o acesso do rival à segundona.

A emulação vigora até hoje, quando pensávamos em ter um Centro de Treinamento (CT) inspirado no ninho do Urubu, por exemplo, seu CT é um dos mais modernos do Brasil, ele é utilizado tantos pela equipe de futebol profissional quanto por suas categorias de base. O sonho do CT começou a se tornar realidade em 2020, com o apoio financeiro dos torcedores, colaboradores e abnegados, localizado no bairro de águas lindas em Ananindeua, aspiravam a construção de um Parque Ambiental, em um espaço de 30 mil metros de preservação. No entanto, o sonho está acabando, o CT foi penhorado pela justiça, como garantia de uma dívida contraída pelo Paysandu, durante a gestão do ex-presidente Luiz Omar Pinheiro, feita pelo diretor de futebol a época “Louro”. Naquela época o Paysandu passava por uma grande crise financeira e vários abnegados tiraram do seu próprio bolso dinheiro para ajudar nas despesas. 

Ao final da Gestão de Pinheiro o Paysandu conseguiu o acesso a série b, mas houve uma nova eleição e a atuação gestão, na época, não foi reeleita e a presidência foi assumida pelo ex-jogador do Paysandu Vandick Lima que confessou a dívida após uma auditoria interna. Passado tempo, em 2018 o ex-diretor “Louro”  procurou a presidência de Tony Couceiro para tratar do referido assunto, como não houve retorno positivo, o caso tornou-se ação judicial. O atual presidente Maurício Ettinger já admitiu o fato do processo e em entrevista concedida afirma que o Paysandu já entrou com recurso para o embargo da penhora e acredita no resultado favoreceu ao time, apenas aguardar o tempo. E enquanto o tempo passa, vamos sonhando e nos inspirando no ninho do urubu.

O desprezo é latejante nas torcidas, infelizmente, em pleno ano de 2023, ainda presenciamos cenas de machismo, preconceito, misoginia, importunação sexual, homofobia, racismo dentro das torcidas, no mundo todo, constantemente, as mídias noticiam fatos envolvendo situações que denegram a imagem de mulheres, negro, homossexuais. 

A nível mundial muitos jogadores que fazem parte de times europeus sofrem com atitudes preconceituosas as mais comuns são: os racistas jogarem banana no campo e ainda imitarem os movimentos de um macaco. 

A nível mundial e local não apenas os jogadores sofrem, mas os torcedores também, ou a torcida escolhe um jogador do time rival para sofrer racismo, ou o fazem com os torcedores, essas situações acontecem principalmente, entre torcidas rivais, como Flamengo e Fluminense, Palmeiras e Corinthians, aqui em Belém, entre Remo e Paysandu.

Além das situações de preconceito racial, há aqueles contra as mulheres líderes de torcida, as mulheres presentes nas arquibancadas, os homossexuais, as mulheres árbitras e bandeirinhas. Aqui em Belém as líderes de torcida de Remo e Paysandu, respectivamente, “Azulinas” e “Bicolindas”, fizeram uma manifestação, em 2019 no clássico REXPA, na qual pediam mais respeito às mulheres que vão aos estádios, carregavam uma faixa com a frase “Respeite a Mulher onde ela estiver”, mesmo assim o ato não impediu que os machistas presentes na torcida do Remo cantassem músicas com palavras que denegriam o público feminino. 

De acordo com o levantamento realizado pela Kantar ibope no ano de 20227, cujo foque são as mídias digitais, as mulheres representam cerca de 44% da base de fãs de futebol no Brasil, isso quer dizer que uma grande parte do público nos estádios é composta pelo sexo feminino, no entanto, p machismo ainda impera nas arquibancadas. 

Infelizmente, poucos avanços ocorreram para atender as necessidades das mulheres nos estádios, o ambiente dos estádios paraenses ainda é direcionado a masculinidade, entretanto, o poder público tem tomado algumas medidas a exemplo da Lei 9.622 que foi sancionada no Pará em junho de 2022, com o intuito de criar campanha permanente contra a importunação sexual nos estádios paraenses a partir de orientações, além da garantia da presença de uma viatura exclusiva para o atendimento às mulheres no dia de jogos. 

As mudanças são lentas, mas se forem colocadas em prática tornarão os estádios um ambiente digno de nós mulheres podermos irmos e virmos sem sermos incomodadas, sem precisarmos ter a presença masculina para termos respeito, lugar de mulher é onde ela quiser, vestida do jeito que lhe agrada, da forma que lhe convém.

O desprezo sempre parte daquele que se acha superior ao outro, nos estádios é a figura masculina sempre querendo ser superior. O negro é um ser humano que lutou e luta ao longo de toda história para ter o seu valor, é digno de estar presente em todo lugar, fazendo o que desejar sem ser diminuído, o racismo deveria ser julgado como um crime hediondo, assim teríamos a erradicação de tantas cenas absurdas de racismo. 

Para a homofobia a Lei 10.948 de 2021 está aí para punir toda discriminação praticada contra homossexuais, bissexuais, transexuais, que prevê a multa e a reclusão de um a três anos. Basta de tanta intolerância somos todos seres humanos, mas que temos pensamentos diferentes e é essa a beleza do mundo de podermos ser iguais mais ao mesmo tempo diferentes, viva a liberdade com zero preconceito.

Salientar essas 14 paixões aristotélicas de forma sucinta, mas que estão todas descritas no livro II, nos ajuda a compreender bem melhor as mais diversas nuances que transmudam o juízo do homem. Trueba Atienza (2009, p.152 apud FIGUEIREDO, 2020, p.11) afirma que a partir das evidências deixadas no corpus Aristotélico, as paixões ou emoções, são consideradas afecções psicofísicas que estão associadas as alterações fisiológicas que envolvem tanto as sensações de dor quanto de prazer. Tais alterações são estabelecidas tanto na alma quanto no corpo daquele que está ao capricho de uma das paixões. 

Cabe salientar que se entende o sentido de dor e prazer para além do psíquico que adentra ao campo sensorial. Os estados e processos cognitivos se manifestam a partir, do desencadeamento, dos sentidos de dor e prazer. Estando desencadeados os estados de dor e prazer, consequentemente, manifestam-se os estados e processos cognitivos, o sentimento instaura um estado mental naquele que o sente, assim este sujeito começa a criar significações cognitivas, como: sensações ou percepções; impressões sensíveis ou racionais; além de crenças ou julgamentos.

A partir da manifestação desses processos, o sujeito, cujo juízo e corpo sofreram alterações passionais, é lançado a posições e determinações em relação ao mundo e à questão relacionada ao desencadeamento das paixões. Isso, por fim, gera os desejos ou impulsos que remetem ao movimento/ ação daquele sujeito em relação à problemática que alterou seu campo emocional em um nível psicofísico. (FIGUEREDO, 2000, p. 11)

O torcedor do Paysandu vive sua Paixão não só nos estádios, nas competições, esse viver dá-se em qualquer lugar, momento, como nos diz Aristóteles “as paixões humanas ou emoções fazem alterar os seres humanos e introduzem mudanças nos seus juízos, na medida em que elas comportam dor ou prazer (ARISTOTELES, 2015, p.116). 

Essa Paixão que faz o torcedor, e não é qualquer um, mas aquele vai torcer pelo seu time no estádio. Sair da sua casa sozinho, em grupo, com a família, amigos, vizinhos, torcida organizada (…). Vai para o estádio em pleno domingo 11h00 da manhã, para esperar a partida começar as 16h00. Pega chuva, ou sol, atola os pés na lama, ou o carro dá prego, fica atolado, come o churrasco compartilhado da dona Mariazinha. 

Aquele que enfrenta fila, o empurra e empurra, corre na rampa para pegar o lugar com o melhor ângulo do campo, bebe uma água para refrescar o calor, ou tira a camisa para secar após o “toró” de toda tarde, ou dia inteiro, ou de todos os dias essa é a nossa cidade das mangueiras. 

Para aqueles que não amam o futebol pode ser um absurdo, mas para o torcedor apaixonado isso é o mínimo para oferecer. Todos vestem seus “mantos sagrados”, ou vão mais além, realizam a conversão semiótica como diria Paes Loureiro (2007), os sujeitos, objetos ou ideias se reorganizam e se configuram de outra maneira ou situação cultural.            

Figura 4 – Torcedor do Paysandu em sua performance.

Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora, 2019

A principal cor da camisa do Paysandu é a listrada em azul e branco, mas com o passar dos tempos surgiram novos designer, cores fazendo alusão a copa, aos países, à manifestação religiosa que é o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, além dos acessórios como bonés, cabeças de lobos, os cocares de penas, suas bandeiras tremulam na brisa leve e quente da tarde de domingo em Belém do Pará, me refiro ao domingo, por ser o dia em que todos vão a campo, uma vez que durante a semana já se torna mais inviável devido escola, trabalho, faculdade. 

Falar do Paysandu é sentir um arrepio na espinha, é deixar cair uma lágrima, é lembrar da euforia nas conquistas, e da tristeza nas derrotas, é lembrar do mosaico feito por todas as mãos unidas por um único objetivo, ser o décimo segundo jogador em campo. 

Em dias de clássico que é a disputa entre as duas maiores e rivais torcidas, aqui em Belém em REXPA, disputa entre Remo e Paysandu, a emoção é diferente, nós torcedores vamos à campo com o único objetivo, vencer o rival, e tudo é diferente, desde a entrada, jamais vou esquecer do meu primeiro clássico, lembro-me como hoje, aquela muvuca para entrar, aquele aperto, pois todos queremos entrar e a hora já se torna nossa inimiga, ela não só passa rápido como voa, e são milhares de pessoas querendo entrar ao mesmo tempo, e comigo não foi diferente, estava na companhia de meu primo Gilmar Filho, e meu irmão, Welber Coutinho, este entrou pelo portão dos sócios torcedores, lugar mais tranquilo e sossegado. 

Meu primo e eu que não sócios passamos pelo “tornado” de pessoas, no meio da agitação, entra a polícia com a cavalaria, e o temido spray de pimenta, jamais esquecerei aquela sensação de ar faltando, peito apertando, narinas fechando, minha bandeira pendurada em meu pescoço ficou presa em outra pessoa causando quase meu engasgo, se não fosse meu primo me protegendo, creio que seria muito pior, aqueles minutos pareceram horas, mas chegamos a catraca de entrada, e o ar começou a ficar mais intenso, o coração desacelerando, e enfim, conseguimos entrar, lá nos esquecemos toda a agonia da entrada e a euforia do jogo nos embebia de entusiasmo. Muitos poderiam perguntar: e valeu a pena? Eu responderia citando Fernando Pessoa (1959) “tudo vale a pena se a alma não é pequena. Quem quer passar além do bojador tem que passar além da dor.”  

Àqueles que pertencem a torcida dita organizada precisam chegar antes de todo mundo e pendurar sua faixa para mostrar aos jogadores em campo, que eles se fazem presente e estão ali incentivando, apoiando, mas também cobrando, criticando, as vezes xingando porque ninguém é de ferro. Na arquibancada ou nas cadeiras, é a dança das mãos, dos braços, dos gestos de aprovação e desaprovação de algum lance, de uma falta, de um cartão, de uma briga. O corpo singular é um corpo coletivo como diria Le Breton (2009), esse corpo coletivo é um corpo alterado pelas sensações, emoções, êxtase, euforia. Aflora a noção de “intercorporeidade” de Merleau-Ponty (1964), na qual o corpo, o gestual e a expressividade são intentos que implicam o jogo constante das interações, espelhamento e permanência do outro. O incentivo chega em ritmo de funk, samba, marchinha, brega, o hino não oficial, as torcidas organizadas criam suas próprias músicas para tatuar na memória cada membro pertencente ao mesmo.

A ações do corpo alterado do torcedor se ativam a partir do ajuntamento da torcida e reverbera de uma ponta a outra do estádio é como se fosse um tsunami de movimentos, assim começa o ritual de incentivo do torcedor da fiel, o jogo começa é um misto de emoções, o sentar dá lugar ao movimento em riste, para observar cada lance, questionar um passe errado, reclamar da posição deste ou daquele jogador.  

A torcida fiel é a decifradora das jogadas, sabe quando o time está mal, ou se está bem, cobra providencias porque está incentivando não só nos estádio, mas é sócio torcedor e paga um valor estimado para ajudar o Paysandu na melhoria do gramado, cadeira, arquibancada, banheiros de sua casa, a Curuzu, é aquele que chora nas derrotas e também nas vitórias e conquistas de títulos; é aquele que sai do estádio para comemorar pós jogo, independente do resultado apoia, incondicionalmente, porque estamos falando não só de futebol, mas de sentimentos, emoções, pertença, laços que unem indivíduos desconhecidos em um único proposito de gritar gol e cantar como diz a música: “ quero, gritar Campeão…”   

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1Doutoranda em Artes na Universidade Federal do Pará (UFPA), docente na esfera municipal de ensino de Belém do Pará. Orientadora Profª. Drª. Giselle Guilhon Antunes Camargo.


2Disponível em: https://artepapaxibe.wordpress.com/dicionario/. Acesso em: 8 abr., 2020. 

3Cf Guilhon, 2006, p. 7.

4Costa (2018, p. 194).

5Assim era chamado Aristóteles por ter nascido em Estagira, região da Macedônia.

6Enquanto gíria que significa zoar, tirar sarro com outra pessoa.  Dicionário Papa Xibé ArtePapa Xibé (wordpress.com). Acesso em 03 de mar. de 2023. 17:24

7Disponível em observatórioracial.com.br