TECNOLOGIAS ASSISTIVAS: MAPEAMENTO NAS BASES ACADÊMICAS E DE PATENTES ALINHADOS A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7809292


Adriano Ventura Marques1
Doutor Gabriel Francisco da Silva2
Doutor José Osman dos Santos3


  1. INTRODUÇÃO

Neste artigo propõe-se discutir as temáticas relacionadas às tecnologias assistivas no contexto da propriedade intelectual para aplicação com estudantes com deficiência intelectual. Assim, nas últimas décadas foi vivenciado um grande desafio para que as oportunidades de aprendizado fossem niveladas para todos os alunos em fase escolar, tornando necessário modificar o pensar da educação inclusiva. 

No Brasil, os processos de construção das políticas educacionais estão amparados na evolução histórica da educação brasileira, que a partir do desenvolvimento econômico e o crescimento das indústrias no país nos anos de 1950, impulsionaram gradativamente a educação, onde pessoas com deficiência intelectual passavam despercebidas, principalmente, por atuarem em atividades artesanais ou na agricultura, que não havia a necessidade de leitura e a escrita.

É importante destacar que para garantir o desenvolvimento do potencial humano, do senso de dignidade e autoestima, com vista à sua inclusão social e cidadania, foi criada a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.416/2015), por considerar que a pessoa com deficiência possui algum impedimento, sendo de natureza, sensorial, mental, física ou intelectual, podendo bloquear sua atividade a partir do encontro com barreiras cotidianas. Esta lei possui um capítulo específico para educação, no qual o artigo 27 diz:

“A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurando sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades e aprendizagem”. (BRASIL, 2015)

Porém, mesmo com todos os esforços para o fortalecimento da educação inclusiva, o relatório realizado pela UNICEF1 (2021), expõe a situação de privação de uma em cada dez crianças com deficiência no mundo inteiro, onde se estima cerca de 240 milhões de crianças nessas condições, demonstrando que os deficientes estão em desvantagem nos índices de bem-estar, econômico e social. Já no Brasil, segundo IBGE2 (2019), 24% da população possui alguma deficiência, que de acordo com o Censo Demográfico de 2010, o país tem 2.611.536 pessoas deficientes, sendo que 54% são consideradas com grau intenso ou muito intenso.

Logo, é dever do Estado, da sociedade e da família garantir à pessoa com deficiência, com prioridade, o direito à educação, saúde, emprego, à acessibilidade, à informação, acesso às tecnologias e dignidade, segundo à Constituição Federal (1988). Portanto, o desenvolvimento de tecnologias para a melhoria da acessibilidade das pessoas com deficiência intelectual, torna-se um recurso fundamental para minimizar, neutralizar ou, até mesmo, eliminar as barreiras que impossibilitam estas pessoas de evoluírem no processo de aprendizagem e convívio social.

Neste contexto, para auxiliar os profissionais da educação e a família do deficiente intelectual, existem os recursos de tecnologia assistiva, que são dispositivos e equipamentos com objetivo de melhorar a capacidade intelectual e qualidade de vida dos deficientes intelectuais*. Tais recursos, podem auxiliar os educadores no processo de ensino e aprendizagem, uma vez que, utilizados de maneira correta e específica para o deficiente intelectual, contribuem para o avanço das habilidades e funções comprometidas em decorrência da deficiência da pessoa, sendo a TA uma alternativa para superar as barreiras, promovendo à acessibilidade, assim como a inclusão.

Em 2021, o Brasil realizou um importante avanço nas discussões sobre as tecnologias assistiva e publicou o Plano Nacional de Tecnologia Assistiva (BRASIL, 2021b), no qual a diretriz IV aborda sobre a “promoção da inserção da tecnologia assistiva no campo de trabalho, da educação, do cuidado e da proteção social”.  Analisando esta diretriz, fica evidente o interesse na promoção do uso de tecnologia assistiva em várias vertentes e sendo uma delas a educação, ou seja, aplicação nas escolas visando a qualificação, autonomia e qualidade de vida dos estudantes com deficiência intelectual. Segundo Galvão Filho (2009), a tecnologia assistiva aplicada na educação perpassa o fazer do aluno, ancora-se no desenvolvimento e criação dos caminhos para formação do cidadão, realizada pelo próprio aluno, atuando diretamente no processo de construção das suas habilidades e competências.

Porém, o desenvolvimento de tais tecnologias assistivas para o suporte e promoção da inclusão social dos deficientes intelectuais e a sustentação destes produtos tecnológicos no mercado nacional, acaba gerando certa insegurança quanto à proteção da invenção. Para tanto, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), é o órgão responsável pela divulgação e gestão do sistema brasileiro de garantia e direito de propriedade intelectual em várias linhas, como: indicações geográficas, marcas, desenhos industriais, programas de computadores e topografias de circuitos, as concessões de patentes e transferência de tecnologia.

Contudo, o avanço do estudo para prospectar as tecnologias assistivas parte da necessidade de identificar quanto está sendo gerado deste tipo de tecnologia aplicado aos deficientes intelectuais. Portanto, a realização de uma busca nos bancos de dados, registros de patentes e trabalhos acadêmicos, em todos os meios de proteção à invenção, é fundamental para o mapeamento destas novas tecnologias e tendências, observando o estado da técnica e histórico do invento, originalidade de trabalhos científicos e novos nichos de mercado para o desenvolvimento de novas tecnologias.

  1. METODOLOGIA

O presente trabalho trata-se de um estudo bibliométrico e patentométrico, com vistas a identificar trabalhos, pesquisas e produtos desenvolvidos que foram depositados na base de registro de patentes, como: Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI, World Intellectual Property Organization – WIPO (PATENTSCOPE), ESPACENET, United States Patent and Trademark Office – USPTO. Para os registros de produções científicas, foram pesquisadas as seguintes bases: Portal de Periódicos da CAPES, especificamente nos bancos de dados da Science Direct, Scopus e Web of Science – WOS, e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações – BDTD, vinculados aos aspectos inovadores e novas tecnologias assistivas, associadas ao deficiente intelectual.

Em ambas as bases de pesquisa, foi realizado uma busca orientada visando o levantamento dos termos e aplicação de operadores booleanos como fator primordial para as buscas, no qual as uniões dos fatores têm o objetivo de abranger a maior quantidade relacionada ao assunto proposto, sendo direto ou indiretamente com o tema. Assim, os termos utilizados para pesquisa foram: “assistive technology and intellectual disability”, “assistive technology and intellectual property”, “educational assistive technology” e “intellectual disability and artificial intelligence”.

Para melhor análise e identificação das tecnologias desenvolvidas mundialmente, relacionadas à proteção das inovações tecnológicas, os registros de patentes pesquisados foram filtrados por país de origem, instituição que protege, empresas desenvolvedoras e evolução anual. A partir dos termos escolhidos e aplicados nas bases elencadas, o recorte temporal foi limitado entre os anos de 2013 a 2022, obteve-se um total de 38.943 artigos, sendo 432 artigos na Scopus, 1.410 artigos na Web of Science, 29.534 artigos na ScienceDirect e 7.567 trabalhos na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações – BDTD. Para a patentometria foram encontrados nas bases de pesquisa 22.638 patentes, visto o volume dos resultados obtidos, foi realizado um recorte com base no país de origem, evolução anual de depósito. A coleta dos dados foi realizada entre 01 de dezembro de 2022 a 05 de janeiro de 2023, nos quais foram mapeados e organizados com auxílio das ferramentas das bases de patentes e com a utilização dos softwares Microsoft Excel 2019, Orange e Gephi, permitindo visualizar as correlações entre os pontos observados, contando com os gráficos e das figuras geradas pelas análises comparativas de conteúdo.

Dessa forma, esta pesquisa tem caráter exploratória em bases de dados e natureza ex-post-facto, considerando a coleta de dados a partir de condições já realizadas, ou seja, depois dos fatos ocorridos, buscando analisar os dados para posicionar o andamento das tecnologias assistivas em nível mundial.

  1. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Os gráficos e tabelas apresentados neste estudo foram desenvolvidos a partir da ferramenta Excel 2019, software Orange e Gephi, que fornece um suporte importante para análise dos dados coletados nas bases bibliográficas e de patentes.

Considerando a proposta desta pesquisa, de realizar a busca nas bases nacionais e internacionais dos trabalhos científicos e patentes registradas, utilizando os termos propostos, foi elaborada a Tabela 1, com o objetivo de detalhar as quantidades encontradas de artigos publicados e patentes registradas por base.

Tabela 1 – Resultado das buscas nas bases Nacionais e Internacionais

Fonte: Elaborado pelos autores (2023)

3.1 Bibliometria

Assim, para a análise bibliométrica, a prospecção dos dados nas bases elencadas (CAPES e BDTD), aplicou-se os filtros: ano, país e subárea, para que fosse observado a relação entre os termos abordados e os quantitativos de trabalhos publicados. Analisando os dados na tabela 1, observa-se que no termo “tecnologia assistiva” foram encontrados 3.838 trabalhos na base BDTD, sendo 2.867 dissertações e 971 teses de doutorado, considerando apenas 1,5% dos trabalhos destinados à educação especial. Contudo, no termo “tecnologia assistiva” associado com a palavra and, foram encontrados 2.283 trabalhos, em que os termos associados fazem referência às questões da propriedade intelectual, educação e deficientes intelectuais. Com a aplicação dos filtros nos dados pesquisados, o Gráfico 1 demonstra a distribuição anual dos trabalhos científicos, quais foram as ocorrências encontradas ao se analisar a quantidade de pesquisas publicadas em cada ano.

Gráfico 1 – Distribuição anual dos trabalhos científicos

Fonte: Elaborado pelos autores (2023)

Foram encontrados 31.324 documentos publicados no período de 2013 a 2023 com os termos aplicados nos Periódicos CAPES, onde foram pesquisadas em três bases: Scopus, Science Direct e Web of Science. A base com maior quantitativo de publicações foi a Science Direct com 94,8% do total de trabalhos publicados utilizando os quatro termos propostos. Percebeu-se que nos anos de 2013 a 2023, o termo “Educational Assistive Technology”, houve um contínuo crescimento nas quantidades de publicações, com aumento médio anual de 10%. O ano com maior crescimento registrado foi em 2021, sendo 18% em relação ao ano anterior e 57% maior em relação a 2013. Um fato que deve ser abordado, é que em 2021 o mundo estava em situação pandêmica, com isolamento social e as questões relacionadas à educação estavam em evidência, pois desde o início da pandemia, em 2019, os centros educacionais foram fechados. Para os outros três termos utilizados, o que obteve um pequeno crescimento foi o “Assistive Technology and Intellectual Property”, representando 17% dos trabalhos publicados, registrando um crescimento médio anual de 8% e com o ano de 2019 com o maior crescimento registrado de 28%. Entretanto, os termos “Assistive Technology and Intellectual Disability” e “Intellectual Disability and Artificial Intelligence” representam 4,7% e 1,4% do total de publicações, registrando um crescimento médio anual de 7% e 16%. Assim, observa-se que o número de publicações referentes ao deficiente intelectual, em inglês “Intellectual Disability”, foi muito abaixo em relação ao termo “Assistive Technology”, sendo apenas 6,1% do total encontrado. Desta forma, para buscar um melhor entendimento dos números de publicações encontradas, foi elaborado o gráfico 2, que exibe quais foram as subáreas com os maiores números de pesquisas publicadas.

Gráfico 2 – Subáreas com maior número de pesquisas

Fonte: Elaborado pelos autores (2023)

As subáreas apresentadas no Gráfico 2, são as oito subáreas com maior número de pesquisas e, analisando-as, as mais exploradas pelos pesquisadores, torna-se possível montar um cenário com foco no objetivo desta pesquisa. A subárea com maior número de publicações registradas foi a “Medicine” com 31% do total, considerando todos os termos aplicados. Nota-se que a subárea “Social Science” representa 26% dos trabalhos publicados, seguidos por “Health Professions and Nursing” (10%); “Psychology” (9%); “Computer Science” (10%); “Engineering” (7%); “Business, Management and Accounting” (7%) e “Agricultural and Biological Sciences” (0,3%).  Estratificando os resultados por termos, o “Educational Assistive Technology” apresentou os maiores quantitativos de trabalhos publicados, representando 78% do total publicado no período e o termo “Assistive Technology and Intellectual Property” com 15%, no qual os dois termos aplicados com a palavra “Intellectual Disability” representam apenas 7% do total. 

O Gráfico 3 apresenta a distribuição das publicações por país considerando os termos e os doze países mais relevantes em números de trabalhos publicados. 

Gráfico 3 – Quantitativo de publicações por país

Fonte: Elaborado pelos autores (2023)

Dentre os países analisados, os Estados Unidos representam 40% das publicações, seguido da Itália (13%), Brasil e Inglaterra (11,2%), Austrália e Canadá (6%), Índia e Espanha (5%), Rússia e Holanda (1%), Japão (0,5%) e França (0,3%). Analisando os trabalhos publicados nos Estados Unidos e estratificando com base nos termos pesquisados, observa-se que o termo “Educational Assistive Technology” representa 72% dos trabalhos publicados no país e os termos aplicados com “Intellectual Disability and Artificial Intelligence” e “Assistive Technology and Intellectual Disability” representaram cerca de 28% dos trabalhos publicados. Importante salientar que a Espanha e Inglaterra, possuem a segunda colocação em trabalhos publicados com o termo “Intellectual Disability and Artificial Intelligence”, ambos com 12,4% do total no termo aplicado. Já a Itália, destaca-se quando aplicado o termo “Assistive Technology and Intellectual Disability”, representando cerca de 25% dos trabalhos publicados.

3.2 Patentes

Contudo, aprofundando a pesquisa e analisando os quatro termos propostos nas bases de pesquisa relacionadas com o registro de patentes, aplicado os filtros: ano, seções e países, foram encontradas 22.638 patentes, considerando as bases ESPACENET, PATENTSCOPE, USPTO e INPI, sendo levantados dados nacionais e internacionais. Para melhor visualização dos dados encontrados, o Gráfico 4 apresenta a evolução anual do registro de patentes. 

Gráfico 4 – Evolução anual do registro de patentes

Fonte: Elaborado pelos autores (2023)

Analisando os dados pesquisados nas bases de registro de patentes, com a aplicação dos quatro termos, verifica-se que o termo “Assistive Technology and Intellectual Disability” representa 29% das patentes registradas, diferentemente dos dados apresentados no mesmo termo na bibliometria. O maior percentual de crescimento de registro de patentes ocorreu do ano de 2013 para 2014, com 25%. O segundo maior ano de crescimento foi registrado em 2018, com 18% em comparação com 2017. Analisando dentro do espaço temporal pretendido, o crescimento entre 2013 a 2021 foi de 35%. Assim, o fato de ao longo de 9 anos crescer somente 35% o registro de patentes, dentro da aplicação dos quatro termos de pesquisa, justifica-se por conta da queda em -57% do quantitativo de registro de patentes em 2021, que como abordado anteriormente, a questão da pandemia pode ter agravado os processos de registro e concessão de patentes, ponto que deve ser abordado e analisado em outro trabalho. Contudo, no ano de 2020 foi registrado a maior quantidade de registro de patentes, cerca de 3.606, impulsionados pelos volumes nos termos “Assistive Technology and Intellectual Disability” (29%), “Intellectual Disability and Artificial Intelligence” (24%) e “Educational Assistive Technology” (26%), demonstrando que as questões sobre inteligência artificial foram impulsionadas, a partir de 2013, em conjunto com as questões da deficiência intelectual, crescendo 80% o volume de registro de patente até 2021. Entretanto, as tecnologias assistivas e propriedade intelectual, sofreram uma queda nos registros de patentes em -65% em 2021 comparado com o ano anterior, representando a maior queda entre os quatro termos.

Ampliando a análise das patentes, o estudo da produção tecnológica por país é parte fundamental para que se possa monitorar as tecnologias que estão sendo criadas ao redor do mundo. Na Figura 1, são apresentados os 22 países identificados na pesquisa e suas respectivas quantidades de depósitos de patentes, dentro dos quatro termos.

Figura 1 – Registro de patentes por país

Fonte: Elaborado pelos autores (2022)

Assim, os Estados Unidos representam 69% dos registros de patentes realizados, fato este pelo grande volume de publicações no USPTO e PATENTSCOPE, seguido pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual – OMPI com 15%, Austrália com 5%, Organização Europeia de Patentes com 3%, Canadá com 2% e o Brasil representando apenas 1%. Deve-se registrar que os termos Inteligência Artificial e Tecnologia Assistiva foram os únicos que apresentaram registros de patentes no INPI, sendo que os demais termos não têm registro.

A partir dos dados encontrados por país, apresenta-se na Figura 2 os principais inventores e requerentes de patentes, no qual foi considerado no mínimo quatro depósitos por inventor e por requerente, em que destaca-se o inventor Kwon Soon Tae, um pesquisador afiliado ao Korea Atomic Energy Research Institute – KAERI, diretor executivo de uma grande corporação no setor de tecnologia, e o requerente One Trust LLC, empresa que desenvolve tecnologias para grandes e pequenas empresas, focada em fornecer dados confiáveis para a tomada de decisão.

Figura 2 – Relação dos principais inventores e requerentes de patentes

InventoresRequerentes

Fonte: Elaborado pelos autores (2023)

Para melhor entender os resultados apresentados até o momento, foi aplicado o filtro IPC, sendo um sistema de classificação internacional de patentes, cujas áreas tecnológicas são divididas em classe/seção. Com o intuito de apresentar um cenário geral dos depósitos de patentes que envolvem os quatro termos, o Gráfico 5 apresenta as quantidades de patentes por seção, que serão discutidos os resultados analisando o código IPC de cada seção de classificação e suas subseções em que foram feitos os registros de patentes.

Gráfico 5 – Patentes registradas por seções

Fonte: Elaborado pelos autores (2023)

Observa-se no Gráfico 5 que as seções G (49%), H (28%) e A (13%), são as que apresentam os maiores quantitativos de registro de patentes e para melhor visualização das subseções com maior representação, foi elaborado o Quadro 1. 

Quadro 1 – Seções e Subseções com maior representatividade 

Fonte: Elaborado pelos autores (2023)

Nota-se que o IPC com maior quantitativo de registro de patente foi o da classe G06, conforme descrito acima, correspondendo às tecnologias para métodos de cálculos, sistemas tecnológicos e processamentos de dados. Deve-se enfatizar, que o código G06N apresenta os maiores quantitativos de registro de patente com aplicação dos quatro termos de pesquisa. Seguindo a análise, o código G06F, aparece como segundo maior com quantidade de registro, onde são patentes que processam dados e que possam ser manipulados pelo computador especialmente adaptado para exercer determinada função, como produtos nas áreas de machine learning. A seção H (Eletricidade), tem uma correspondência com a seção G na parte elétrica e seção A na parte terapêutica, sendo todas as aparelhagens elétricas e as estruturas mecânicas dos aparelhos e circuitos elétricos. Na seção A (Necessidade Humana), pelo fato de os termos estarem alinhados às tecnologias adaptativas, considerando os aspectos cognitivos, surgiu um quantitativo elevado nesta seção médica, onde os registros estão voltados para equipamentos e utilidades para medicina.

Avançando com a análise dos dados, no registro das patentes são disponibilizados diversos tipos de dados, sendo estes estruturados e não estruturados. Para os dados não estruturados são registrados o título, resumo e descrição da patente. Assim, a peculiaridade destes dados dificulta a estratificação e análise, diferentemente dos dados estruturados. Porém, para auxiliar na segmentação de dados textuais, utiliza-se a ferramenta de mineração de texto, que utiliza abordagens baseadas em processamento de linguagem natural, em que são encontrados padrões e tendências com base nos dados não estruturados das patentes.

Na Figura 3, são demonstradas as 50 palavras que surgiram com maior frequência nos títulos das patentes, predominando os termos: métodos, sistemas, dispositivo, aparelho, tratamento e dados. Os termos com menor número foram: educação, técnicas, reconhecimento e transtorno. Para o processamento dos textos, foram aplicadas stopwords definidas na ferramenta e removidos as palavras sinônimas dos termos aplicados na pesquisa.

Figura 3 – Nuvem de palavras encontradas no título.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023)

Na Figura 4, apresenta-se a formação de uma rede de classificações (IPC) nas patentes analisadas com base na aplicação dos quatro termos. Cada nó da rede montada representa uma subseção ou subgrupo da IPC e as arestas correspondem às ocorrências simultâneas com outras subseções ou subgrupos na mesma patente. Assim, quanto maior o nó, maior a ocorrência com outras subseções

Figura 4 – Rede de ocorrência simultânea entre subseções (IPC).

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

O resultado mostra que as subseções que tiveram maior relação foram: computadores baseados em modelos (G06N), sistemas de processamento de dados (G06F), sistemas adaptados (G06Q), leitura de dados gráficos (G06k) e reconhecimento de imagens (G06V). Os pares tecnológicos com maior influência na mesma patente foram os procedimentos de controle de transmissão de dados (H04L 29/08) e transmissão de imagens ou sua reprodução transitória (H04N). Contudo, analisando a rede formada, observa-se a formação de dois grandes clusters de colaboração, sendo: processamento de dados e controle e transmissão de dados e imagens.

  1. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo utilizou diversas técnicas para que fossem analisados os quatro termos propostos, em que foi aplicado a técnica bibliométrica para análise dos artigos publicados, mineração de textos e redes sociais para que fosse possível a identificação do volume de tecnologias que estão sendo desenvolvidas consonantes a tecnologia assistiva. Para tanto, foi realizado o mapeamento das patentes, estratificando os principais requerentes e inventores, assim como a identificação dos principais países que estão desenvolvendo e protegendo as inovações. Também foi realizado, com base em uma metodologia pré-estabelecida, o tratamento dos dados levantados de diversas bases com ferramentas de software de código aberto e gratuito para coleta. Assim, a pesquisa relacionada às tecnologias assistivas e os deficientes intelectuais possibilitou a criação de indicadores quantitativos e qualitativos de bibliometria e patentometria em resposta às situações apresentadas na introdução deste artigo.

Os dados bibliométricos apresentados mostraram um cenário de crescimento ao longo dos anos, mesmo considerando a pandemia nos anos de 2020 e 2021, em que ficou evidente que o termo tecnologia assistiva educacional (traduzido) foi o que obteve o maior volume de artigos, demonstrando que os aspectos para uma educação inclusiva estão sendo abordados. Entretanto, os dados apresentam uma concentração em um único país, os Estados Unidos, com um volume muito grande na subárea de medicina, em que o Brasil aparece muito distante nos dados apresentados. Ainda considerando a bibliometria e os termos pesquisados, a evolução das quantidades de artigos para o termo inteligência artificial e deficiência intelectual (traduzido), demonstra que no período determinado nesta pesquisa não houve crescimento, ficando linear os quantitativos apresentados, uma vez que a inteligência artificial se encontra em processo de evolução e consolidação dos direitos relacionados à propriedade intelectual.

As patentes mais relevantes relacionadas aos quatro termos pesquisados podem ser consideradas como patentes mais citadas por outros depósitos. Dentro do período de pesquisa estabelecido foram identificadas 834 citações por patentes. As seções de registro de patentes que apresentaram maior quantitativo foi a seção G – Física, especificamente as subseções G06N e G06F, que abordam processamento de dados e imagens, ficando evidente o forte relacionamento com a seção H – Eletricidade e a seção A – Necessidades Humanas. A formação de uma rede de patentes com ocorrência simultânea foi fundamental para que pudesse visualizar as principais relações entre seções e subseções IPC de patentes, demonstrando dois clusters muito fortes na área de processamento de dados e transmissão de dados e imagens.

Por fim, a partir da análise bibliométrica e patentometria dos termos propostos, permitiu a formação de um cenário para poder compreender o desenvolvimento das tecnologias assistivas em questão, considerando os campos tecnológicos e aspectos do registro de patentes a nível mundial. Foram apresentadas neste trabalho diversas áreas e desenvolvedores de tecnologia e o resultado deste trabalho poderá corroborar para novos projetos, orientando aos novos pesquisadores e desenvolvedores de tecnologia as principais lacunas e oportunidades.

Contudo, todo trabalho não é considerado finito e este estudo apresentado não está isento de limitações, mesmo tendo os dados pesquisados em bases confiáveis. Portanto, as condições aqui apresentadas oferecem oportunidades para a expansão desta pesquisa ou novos estudos, visando expandir a pesquisa relacionada aos deficientes intelectuais, agregando novas bases de dados, combinando com o uso da inteligência artificial para contornar as limitações, com isso, ampliando o fator de inclusão das pessoas com esta condição. 

  1. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 

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1O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) foi criado com o objetivo de atender às necessidades das crianças no pós-guerra, em 11 de dezembro de 1946, pela Organização das Nações Unidas (ONU).
2Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), criado com objetivo de pesquisar e disponibilizar dados e informações para a sociedade civil e os órgãos governamentais.


1Universidade Federal de Sergipe – UFS
2Universidade Federal de Sergipe – UFS
3Instituto Federal de Sergipe – IFS