Bianca Rocha Prijopranoto¹,
Hellyangela Andrade Bertalha²,
Marta Adorno³
¹ ² Acadêmicas do curso de fisioterapia do Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA
³Docente do curso de fisioterapia do Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA
RESUMO:
O presente estudo foi desenvolvido analisando a biomecânica ocupacional do gari. Como método de estudo foi analisado imagens cinematográficas fotografias e vídeos, a fim de observar as modificações anatômicas durante o movimento. Além disso, enfatiza a importância da analise feita pelo fisioterapeuta durante cada fase do ato de varrer, porque a partir daí serão estabelecidas metas de prevenção e diminuição dos riscos de lesões osteomusculares. Foram utilizadas literaturas, artigos científicos relacionados ao tema. A partir dos resultados obtidos na realização da atividade de um gari notou-se uma postura considerada de risco, podendo gerar algumas patologias o que torna necessário a mudança da mesma para minimizar o risco músculo-esquelético no gari.
ABSTRACT:
PALAVRAS-CHAVES: Varrer, Gari, Lesões.
ÁREA DO CONHECIMENTO: Fisioterapia
INTRODUÇÃO
No Brasil, os garis são os profissionais da limpeza que recolhem os lixos das residências, indústrias e edifícios comerciais, além de varrer ruas, praças e parques. Também capinam a grama, lavam e desinfetam vias públicas. Existe consciência da importância do gari, mas quase nada é conhecido sobre as condições em que trabalham, e qual a repercussão desse trabalho em sua saúde. Porém a má postura, esforços repetitivos e a falta de preparo físico na execução da tarefa certamente provocarão Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORTs, esses distúrbios têm sensibilizado autoridades, médicos e fisioterapeutas do trabalho, pelo impacto social que eles ocasionam. Segundo Mendes (2007), o surgimento desses distúrbios relacionados ao trabalho pode ser devido a reações graves do organismo às exigências biomecânicas, e assim, de maneira geral, estas devem ser superiores às capacidades funcionais individuais. O tratamento de qualquer DORT deve ser sempre nos primeiros sintomas, quanto mais cedo se consegue diagnosticar uma doença, maior a possibilidade de êxito no tratamento. Sendo a coluna vertebral e o membro superior as partes do corpo mais atingidas por esses distúrbios (MENDES, 2007). Para cada pessoa a melhor postura é aquela em que os segmentos corporais estão equilibrados na posição de menor esforço e máxima sustentação, esta é uma questão individual, segundo BRUNNSTRON (1997). Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi de realizar uma análise cinesiológica e biomecânica de um profissional da limpeza, o gari.
MATERIAIS E MÉTODOS
Os métodos foram descritos tendo como amostra um voluntário do sexo masculino, com 21 anos, cujo mesmo assinou um termo de consentimento livre e esclarecido pela resolução 196/96 antes da coleta de dados, declarando estar ciente de sua privacidade, no sentido da divulgação da sua imagem. Foram feitas fotos e vídeo no centro universitário luterano de palmas – CEULP/ULBRA na cidade de Palmas-TO, utilizando como material uma vassoura da marca Maria, e uma maquina digital, Sony de 12.1 megapixels, para análise cinematográfica dos movimentos articulares de membros superiores, inferiores e troncos durante a realização de sua atividade. Para que o movimento fosse feito da forma correta o voluntário foi informado de como proceder à atividade. O sujeito foi demarcado nos seguintes pontos anatômicos: acrômio, processo coracóide, tubérculo maior do úmero, ângulo superior e inferior da escápula, espinha da escápula, epicôndilo medial e lateral do úmero, cabeça do rádio, processo estilóide do rádio, processo estilóide da ulna. Foi utilizado para a demarcação dos pontos anatômico autocolante de cor branca, nas seguintes vistas: anterior, posterior e lateral. Para desenvolvimento do trabalho foram utilizados livros, artigos e banco de dados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A presente análise descreve o método utilizado por um gari no ato de varrer ruas. Padrões de movimento com envolvimento de musculaturas diferenciadas foram percebidos após a conversão das imagens e que, portanto, mereceram ser estudado separadamente. Tem-se então: POSIÇÃO INICIAL (FASE I), POSIÇÃO II, POSIÇÃO FINAL (FASE III). A primeira fase é denominada de posição inicial e ocorre quando a vassoura está sendo mantida paralela ao tronco do trabalhador. A segunda fase é sendo aqui traduzida quando a vassoura tende a angular de paralelo a perpendicular ao solo. A terceira etapa (fase final) acontece quando o trabalhador realiza uma força sobre a vassoura, perpendicular ao solo, com intuito de puxar a sujeira disposta no solo para próximo dos pés. A quantificação dessa força fica relacionada com a quantidade e o tipo de lixo a ser removido. A seguir, têm-se as posições estáticas, quadro a quadro, com a ação de cada articulação envolvida. Apesar de serem visto nesse texto em posições estáticas, foram analisados de forma dinâmica, através do vídeo.
Após a análise cinesiológica, observou-se que a partir da fase inicial o trabalhador descreve o movimento de flexão do pescoço, sob ação do músculo esternocleidomastoídeo bilateralmente; executando as suas funções com uma contração isométrica. Já na fase II combina-se a flexão do pescoço com uma rotação para o lado esquerdo promovida pela contração do músculo esternocleidomastoídeo do lado direito (LIPPERT, 1996). Tal movimento pode acarretar no surgimento das cervicalgias, as quais podem ser divididas em dois grupos principais: aquelas causadas por alterações osteomusculares (ligamentos paravertebrais, músculos, discos, etc.) aquelas causadas por alterações neurológicas (raízes nervosas ou medula cervical). As alterações osteomusculares do pescoço geralmente resultam de uma manutenção de contração dessa musculatura aliada à falta de alongamentos no processo. A flexão da articulação glenoumeral do lado esquerdo é combinada com uma abdução e uma rotação interna, assim envolvendo os músculos: deltóide, coracobraquial, bíceps braquial, peitoral maior, agindo juntamente com eles está os paravertebrais do lado oposto ao movimento. Para que esse movimento seja realizado é necessário que o músculo trapézio gire a cavidade glenóide para cima e para frente e o músculo serrátil anterior abduza a escápula e gire a cavidade glenóide para cima. Essa associação de ação que age sobre o úmero e a escápula é denominada ritmo escápulo – umeral, exercendo forças conjugadas. (KAPANDJI, 2000). Devido o movimento realizado na articulação glenoumeral, durante a atividade do trabalhador pode se gerar a seguintes patologias: tendinite bicipital, tenossinovite, bursite, síndrome do impacto. A tendinite bicipital ocorre quando a bainha sinovial que revesti o tendão da cabeça longa do bíceps movimenta-se para frente e para trás no sulco intertubercular do úmero, gerando um desgaste desse mecanismo, ocasionando dores no ombro e inflamação do tendão geralmente causada por micro-traumatismo repetitivo. Movimentos repetitivos nessa articulação podem resultar em uma síndrome do impacto ou síndrome do ombro doloroso (KISNER & COLBY, 2005). Charles Neer em 1972 descreveu a síndrome do impacto como uma entidade clínica distinta, e para entender é necessário compreender as características anatômicas peculiares do espaço subacromial, a porção ântero inferior do acrômio, ligamento coracoacromial, processo coracóide e articulação acrômio-clavicular (LECH et al., 1992). Na borda inferior consiste na grande tuberosidade, entre essas estruturas ósseas estão o músculo subescapular, supra-espinhoso, infra-espinhoso, redondo menor, cabeça longa do bíceps e bursa subacromial. Ao manter durante o ato de varrer os ombros arredondados e uma curvatura cifótica aumentada, o gari faz com que a glenóide escapular fique posicionada de formar a reduzir o espaço de baixo do arco coracoacromial, contribuindo assim para o impacto (WHITING & ZERNICKE, 2001). A dor sentida durante a elevação do braço, pode ser uma inflamação da bursa (bursite) que cobre o manguito rotador ou uma tendinite do próprio manguito. Algumas vezes, uma ruptura parcial do manguito pode ser a causa da dor. Na flexão e extensão da articulação do cotovelo os músculos tríceps braquial, ancôneo, bíceps braquial, braquial, braquiorradial e pronador redondo agem isotonicamente para realizar o movimento (HAMIL & KNUTZEN, 1999). Ao longo da atividade, ocorre a flexão e extensão do punho que é realizada pelos músculos que se originam no antebraço e entra na mão como tendão, assim relatado por Hamil e Knutzen (1999). A sucessão de flexão e extensão forçada do punho sobrecarrega a fixação do tendão comum dos músculos extensores, causando inflamação do periósteo do epicôndilo lateral, conhecida como epicondilite lateral (MOORE, 2007). Ao segurar o cabo da vassoura, o trabalhador realiza flexão de todos os dedos (preensão), combinado com repetição de flexão e extensão do punho, devido a esse movimento na articulação do punho, pode se gerar a síndrome do punho carpal, que é uma pressão causada no túnel, localizado entre o pulso e a palma da mão, decorrente de uma inflamação dentro ou fora dele. Dentro dele passam tendões e nervos que são espremidos, durante a flexão do punho (empunhadura), provocando uma dor intensa (MOORE & DALLEY, 2007). A coluna vertebral é uma articulação que permite os movimentos de flexão, extensão, inclinação e rotação para a direita e esquerda, pela ação dos músculos: reto abdominal, oblíquo interno, oblíquo externo e os eretores superficiais e profundos da coluna vertebral (MOORE & DALLEY, 2007). Durante a realização da atividade o trabalhador realiza flexão da coluna vertebral, combinada com a rotação para o lado esquerdo, tal movimento é enfatizado pela região dorsal (LANOTTE & CALAIS, 1992). A flexão da coluna vertebral faz com que o corpo vertebral da vértebra suprajacente se incline e deslize levemente para frente, o que diminui a espessura na sua parte anterior e aumenta a sua espessura na sua parte posterior. Deste modo, o disco intervertebral toma a forma de cunha de base posterior e o núcleo pulposo é deslocado para trás. Assim, a sua pressão aumenta nas fibras posteriores do anel fibroso podendo passar através deste ocasionando hérnia discal posterior tanto na região do pescoço quanto na região lombar (KANPANDJI, 2000). Kanpandji (2000) argumenta que quando a hérnia discal alcança a face profunda do ligamento vertebral comum posterior, as suas fibras nervosas entram em tensão produzindo dores lombares ou lombalgias; posteriormente, quando a hérnia comprime o nervo vertebral é a causa das radiculalgias. Quando o trabalhador realiza simultânea a flexão da coluna, o movimento de rotação para o lado direito além de fazer com que o núcleo pulposo adote um sentido póstero-lateral, o ânulo fibroso sofre tensão nas fibras orientadas na direção da rotação e relaxamento nas fibras orientadas na direção oposta. A ação da rotação do tronco para a esquerda diariamente, ocasiona uma rotação das vértebras, consequentemente, escolioses (RASCH, 1991). O quadro abaixo apresenta a musculatura envolvida durante o movimento em cada articulação.
Como o ato de varrer decorre de movimentos repetitivos, rítmicos e de força constante seguida nem sempre de um relaxamento realizado, observou-se além das lesões já citadas a possibilidade de ocorrência de L.E.R., no caso de iniciantes e de DORT ao tratar-se de garis experientes, podendo ocorrer: as tendinites de punho e ombro, em função da empunhadura errada, da ausência de recuperação de braço e de alongamentos antes da atividade; extravasamento de líquido sinovial, principalmente no punho, como decorrência do despreparo físico quanto a empunhadura e equipamento utilizado (vassoura); e os problemas cervicais no pescoço e ombro, devido a manutenção de contração dessa musculatura aliada a falta de alongamentos no processo. As constatações anteriores delineiam um quadro não só dessas lesões, mas também como sugere Miranda (2000), ao se intensificar os esforços, podem ocorrer mais gravemente espondilose e radiculopatia cervical no pescoço; mialgia do trapézio, tendinite do bíceps e do supra-espinhoso, artrose acromioclavicular e glenoumeral no ombro; osteoartrose distal e artrose carpometacarpal no punho e mão, além de fraturas por stresse ocasionadas por tendinites; distensões musculares; degeneração tendínea; miopatias inflamatórias e síndromes compartimentais. Inúmeras lesões podem ser evitadas com a adoção de posturas corretas nas atividades do dia-a-dia, com isso a fisioterapia ergonômica desempenha papel importante na manutenção da saúde do trabalhador, tendo a função de prevenir os distúrbios provocados pela má postura durante a realização da atividade (WISNER, 1987). A atividade de um gari, descrita no estudo, envolve longos períodos de tempo para que se cumpra a carga horária de uma trabalhador (8 h. diárias) e uso de determinados grupamentos musculares de forma contínua e rítmica nos locais com pouca quantidade de lixo e de forma vigorosa, quando a demanda de lixo é aumentada; o ato de varrer realizado com postura e movimentação dos membros superiores de forma incorreta, ocasiona lesões por esforço repetitivo. Segundo Caillet (2001) durante o ato de varrer deve-se adotar a posição que evite a flexão da coluna, movimentos laterais e que mantenha os braços menos erguidos. Sendo que se deve assegurar que o cabo é suficiente para alcançar o solo sem se inclinar e se isso não ocorrer, modificar o cabo já que será impossível evitar a sobrecarga na coluna. As mãos devem segurá-lo mantendo a altura do peito e do quadril e deve-se mover o mais perto possível dos pés e utilizar o movimento dos braços sem seguir com a cintura, assegurando que a coluna vertebral não se incline e rode.
CONCLUSÃO
A partir dos resultados desse estudo nota-se que o surgimento de LER/DORT é devido à realização dos movimentos repetitivos o que exigi maior participação dos membros superiores e da sobrecarga postural devido à má postura do trabalhador. Conclui-se que é de fundamental importância adotar uma postura correta na realização da atividade de varrer. O artigo também destacou que os fisioterapeutas desempenham papel importante na execução da atividade do trabalhador já que habilitam reabilitam e evitam lesões no corpo, lesões essas, que merecem atenção pela sua relevância e pelos danos que causam ao gari, sabendo que os principais acometimentos são cervicalgiais, dorsalgiais, hérnia disco, tendinite, lesões musculares, síndrome do impacto, bursite e inflamações.
REFERÊNCIAS
CAILLET, René. Síndrome da dor lombar. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.
GRAY, Henry. Anatomia. Tradutores: Antonio Gomes Correa de Pinho et al. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.
HAMILL, Joseph e KNUTZEN, Kathleen M. Bases Biomecânicas do Movimento Humano. Tradução Lilia Breternitz Ribeiro. São Paulo: Manole, 1999.
KAPANDJI, A. I. Fisiologia Articular – Tronco e Coluna Vertebral. v.3, 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
KISNER, C.; COLBY, A. Exercícios Terapêuticos. 4ªed. São Paulo: Manole, 2005.
LAMOTTE, A; CALAIS, G. B. Anatomia para o movimento. v.1. São Paulo: Manole, 1991.
LECH, O.; SEVERO, A. Ombro e cotovelo. In: HEBERT, S.; XAVIER, R. Ortopedia e
Traumatologia – Princípios e Prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 124-
154.
LIPPERT, Lynn. Cinesiologia Clínica para Fisioterapeutas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1996.
MENDES, René. Patologia do Trabalho. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2007.
MIRANDA, E. Bases de Anatomia e Cinesiologia. 3ª ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2003.
MIRANDA, Edalton. Bases de Anatomia e Cinesiologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2000.
MOORE, K. L; DALLEY, A. F. Anatomia Orientada para Clínica. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
WHITING, W.C.; ZERNICKE, R.F. Biomecânica da Lesão Musculoesquelética. 1ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
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