TRILHA ECOLÓGICA COM O USO DA BICICLETA COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA INTERDISCIPLINAR NO ENSINO MÉDIO INTEGRADO

ECOLOGICAL TRAIL WITH THE USE OF THE BICYCLE AS AN INTERDISCIPLINARY PEDAGOGICAL PRACTICE IN INTEGRATED HIGH SCHOOL.

SENDERO ECOLÓGICO CON EL USO DE LA BICICLETA COMO PRÁCTICA PEDAGÓGICA INTERDISCIPLINARIA EN LA ENSEÑANZA MEDIA INTEGRADA.


REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7793392


Jucelino Gimenez¹
Cristiano Rocha da Cunha²


Resumo

Este artigo está relacionado à elaboração e aplicação de uma sequência didática interdisciplinar (SDI) para aulas de campo, produto educacional a ser utilizado por professores e alunos do Instituto Federal de Mato Grosso- IFMT campus Várzea Grande, como instrumento facilitador da aproximação dos estudantes da realidade do bioma Cerrado, com foco na educação ambiental crítica e na aprendizagem significativa. O presente estudo teve como objetivo propor e avaliar uma SDI tendo como base central a trilha ecológica com o uso da bicicleta. A pesquisa, bem como o produto a ela relacionado, buscou dialogar com conceitos destacados no Programa de Pós-graduação em Educação Profissional e Tecnológica – ProfEPT, na linha de pesquisa sobre “Práticas Educativas em Educação Profissional e Tecnológica”, no âmbito do macroprojeto de pesquisa que trata da “Inclusão e diversidade em espaços formais extraclasse de ensino na EPT”. A metodologia utilizada trata-se de uma abordagem quali-quantitativa de natureza aplicada com objetivo exploratório descritiva, cujos procedimentos se propôs a ser do tipo pesquisa documental e pesquisa participante. Identificou-se que há poucos professores no campus VGD trabalhando aulas de campo e principalmente, interdisciplinarmente. Para dinamizar os trabalhos pedagógicos, a SDI estará disponível em um site para a utilização dos professores. As análises dos dados obtidos demonstraram que a SDI pode vir a ser eficiente para o alcance dos objetivos propostos, e assim, contribuir para uma formação unitária e integral dos estudantes do Ensino Médio Integrado.

Palavras-chave: Educação Ambiental; Aprendizagem significativa; Aula de campo.

Abstract

This article is related to the elaboration and application of an interdisciplinary didactic sequence (SDI) for field classes, an educational product to be used by teachers and students of the Federal Institute of Mato Grosso – IFMT campus Várzea Grande, as a facilitating instrument for bringing students closer to reality of the Cerrado biome, focusing on critical environmental education and meaningful learning. The present study aimed to propose and evaluate an SDI having as its central base the ecological trail with the use of bicycles. The research, as well as the product related to it, sought to dialogue with concepts highlighted in the Graduate Program in Professional and Technological Education – ProfEPT, in the line of research on “Educational Practices in Professional and Technological Education”, within the scope of the macroproject of research that deals with “Inclusion and diversity in formal extracurricular spaces of teaching at EPT”. The methodology used is a quali-quantitative approach of an applied nature with descriptive exploratory objective, whose procedures are taught to be of the documentary research and participant research type. It was identified that there are few professors on the VGD campus working field classes and mainly, interdisciplinary. To streamline pedagogical work, the SDI will be available on a website for use by teachers. The analyzes of the adopted data that the SDI can be efficient for the reach of the proposed objectives, and thus, contribute for a unitary and integral formation of the students of the Integrated High School.

Keywords: Environmental Education; Significant learning; Field class.

Resumen

Este artículo está relacionado con la elaboración y aplicación de una secuencia didáctica interdisciplinaria (SDI) para clases de campo, producto educativo para ser utilizado por profesores y alumnos del Instituto Federal de Mato Grosso – IFMT campus Várzea Grande, como instrumento facilitador para llevar estudiantes más cerca de la realidad del bioma del Cerrado, centrándose en la educación ambiental crítica y el aprendizaje significativo. El presente estudio tuvo como objetivo proponer y evaluar una SDI teniendo como base central el sendero ecológico con el uso de bicicletas. La investigación, así como el producto relacionado con ella, buscó dialogar con conceptos destacados en el Programa de Posgrado en Educación Profesional y Tecnológica – ProfEPT, en la línea de investigación sobre “Prácticas Educativas en Educación Profesional y Tecnológica”, en el ámbito de el macroproyecto de investigación que versa sobre “Inclusión y diversidad en los espacios extracurriculares formales de docencia en la EPT”. La metodología utilizada es un enfoque cuali-cuantitativo de carácter aplicado con objetivo exploratorio descriptivo, cuyos procedimientos se enseñan a ser del tipo investigación documental e investigación participante. Se identificó que existen pocos profesores en el campus de la VGD que trabajan clases de campo y principalmente, interdisciplinarias. Para agilizar el trabajo pedagógico, el SDI estará disponible en un sitio web para uso de los docentes. Los análisis de los datos adoptados que el SDI puede ser eficiente para el alcance de los objetivos propuestos, y así, contribuir para una formación unitaria e integral de los estudiantes de la Enseñanza Media Integrada.

Palabras llave: Educación Ambiental; aprendizaje significativo; clase de campo.

1.  Introdução

Por que a aula de campo interdisciplinar é importante para as práticas pedagógicas inovadoras? Porque é uma atividade extracurricular que tem como objetivo integrar a teoria e a prática, permitindo aos estudantes uma experiência de aprendizado mais significativa e contextualizada. Quando essa atividade é realizada em uma trilha ecológica, com o uso da bicicleta, com ênfase na educação ambiental crítica, os benefícios são ainda maiores. A trilha ecológica, com a utilização da bicicleta como instrumento de lazer e saúde, é uma atividade que o professor pode envolver a exploração de ambientes naturais, como floresta, cerrado e pantanal.

Durante a pedalada, os estudantes têm a oportunidade, em diversas paradas, de observar a biodiversidade local, identificar as espécies de plantas e animais, compreender os processos ecológicos que ocorrem naquele ambiente, além de refletir sobre a relação entre ser humano e natureza. São estimulados a desenvolver habilidades como o pensamento crítico, a análise de dados, a reflexão ética e a capacidade de tomar decisões informadas sobre questões ambientais. Os alunos ainda   têm a oportunidade de observar, experimentar e interagir com o meio ambiente, com o patrimônio cultural ou com outros contextos que são objeto de estudo.

Ademais, essa abordagem interdisciplinar permite que os estudantes percebam a interdependência dos conhecimentos e a relação entre os diversos campos do saber. É possível trabalhar de forma integrada com diferentes disciplinas, como Biologia, Geografia, Química, Física, entre outras, o que permite uma abordagem mais rica e complexa dos temas. Por fim, a aula de campo interdisciplinar, em trilha ecológica, com a utilização da bicicleta e com ênfase na educação ambiental crítica, contribui para a inovação nas práticas pedagógicas, pois estimula a criatividade, a curiosidade e a participação ativa dos estudantes. Essa atividade possibilita que os estudantes vivenciem a aprendizagem de forma mais lúdica e prática, o que aumenta a compreensão e a retenção dos conceitos.

1.1  Problema da pesquisa

O problema da pesquisa gira em torno do seguinte questionamento: Como aulas de campo em trilhas ecológicas com a utilização da bicicleta podem contribuir para a educação ambiental crítica de alunos no ensino médio integrado do IFMT, campus Várzea Grande? Como mencionado, acredita-se que espaços como as trilhas ecológicas, a partir de uma educação ambiental crítica, pode vir a ser um importante lócus com potencial desenvolvimento das práticas do processo formal, e que pode fazer parte do ambiente educacional de maneira funcional e viva. Assim, a hipótese apresentada é que aulas de campo em trilhas ecológicas com a utilização da bicicleta, identificada como um espaço educativo, pode contribuir para estimular um comportamento que favoreça a capacidade de ensino e do conhecimento na perspectiva da formação humana integral, embasando assim, a construção do conhecimento em suas mais variadas vertentes, como, por exemplo, no campo científico, profissional, social, artístico, cultural, ambiental, etc.

1.2   Práticas de Ensino Inovador e Qualidade na Educação.

A qualidade da educação é um tema que divide muitos especialistas e pesquisadores. Entre as várias pesquisas feitas em sites, repositórios de artigos científicos, dissertações, artigos, periódicos da Capes, encontra-se múltiplos conceitos de qualidade em educação. Para alguns, a qualidade está mais centrada nos resultados escolares (mensurados em métricas quantitativas) e para outros essa qualidade está relacionada com valores. Independente do contexto em que elas estão inseridas e de seus objetivos, as avaliações educacionais ou buscam aferir resultados passados, ou inferir resultados futuros.

Buscando lançar luz na qualidade da educação, buscou-se trabalhar os indicadores educacionais, foram verificados os dados do Programa de Avaliação Internacional de alunos (PISA) para   os dados da América Latina, que demonstrou no relatório de 2018 divulgado em 2019 que ainda há avanços a se   conquistar no quesito qualidade de ensino, pois somente três países (Chile, Uruguai e Costa Rica) foram bem ranqueados pelo relatório. Já para os resultados divulgados nos indicadores educacionais no Brasil, o cenário é bastante preocupante como foi constatado no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB, do ensino médio, em 2019, que é calculado com base no aprendizado dos alunos em português e matemática e no fluxo escolar.

O Estado de Mato Grosso, na região Centro-Oeste, infelizmente amarga o posto de 23º no ranking do IDEB, precisando urgentemente melhorar seus indicadores educacionais, ficando apenas com a nota de 3,6 enquanto a meta é de 4,7. Para a cidade de Várzea Grande em MT, onde se encontra o campo de pesquisa, os anos finais da rede pública não atingiu a meta, teve queda e não alcançou 6,0. Precisa melhorar a sua situação para garantir mais alunos aprendendo e com um fluxo escolar adequado.

Refletindo sobre esses indicadores educacionais em alguns países na América Latina, como o   Brasil e na cidade lócus da pesquisa, Várzea Grande, e pensando em contribuir com reflexões a partir do que foi pesquisado para que o ensino e aprendizagem atendam as necessidades dos alunos e que apareçam melhores resultados nos próximos indicadores do PISA, IDEB, Prova Brasil, é que se tem a expectativa de colaborar com esse trabalho intitulado: “Trilha Ecológica com a utilização da bicicleta como prática pedagógica interdisciplinar no ensino médio integrado”, cuja evolução resultou de pesquisa com foco na reflexão e do processo ativo dos alunos sobre a temática da educação ambiental crítica inserida no contexto da formação do estudante do médio integrado dos cursos ofertados pelo IFMT- campus Várzea Grande.

Na perspectiva de Matos, Pereira e Almeida (2014), utilizar a bicicleta para os deslocamentos diários, além de integrar amigos, proporciona autonomia, contribui para a coordenação motora e equilíbrio, e estimula a atenção, a disciplina e a concentração dos estudantes, além de efeitos positivos no desenvolvimento integral da criança e no ambiente.

A utilização da bicicleta nesse contexto educacional, em uma trilha ecológica, pode ter um grande potencial para estimular a curiosidade e a criatividade dos alunos, promover a integração entre colegas e professores, além de contribuir para uma maior compreensão do ambiente em que vivem e da relação com ele. Na perspectiva fenomenológica, que esses estudantes possam ter outros olhares, outras percepções do sentido, que possam ser estimulados a refletir sobre a sustentabilidade, a mobilidade urbana, a conservação e a preservação do bioma Cerrado. Além disso, a atividade pode contribuir para um estilo de vida mais ativo e saudável, e ainda dá para ser uma maneira divertida e agradável de explorar o ambiente local e aprender sobre as características físicas, culturais e históricas do lugar.

Dentre os autores que têm contribuído para o desenvolvimento das metodologias ativas, como práticas inovadoras de ensino, podemos destacar Paulo Freire (1987), que propôs uma abordagem crítica e participativa para a educação, e Carl Rogers (1983), que defendia a importância da aprendizagem centrada no aluno e do diálogo para o processo de construção do conhecimento.

Dessa forma, o referido trabalho em questão teve como objetivo geral elaborar uma Sequência Didática Interdisciplinar (SDI) com o intuito de aumentar a efetividade do processo de ensino e aprendizagem de tópicos em estudos da Ecologia do Cerrado que tenha como foco o aluno e a EAC, utilizando como meio de transporte a bicicleta para as aulas nas trilhas ecológicas.

Para os objetivos específicos: a) analisar se, por intermédio das aulas de campo, os estudantes do ensino médio integrado do campus Várzea Grande recebem em sua formação fundamentos de uma Educação Ambiental Crítica; b) pesquisar componentes que colaborem na elaboração de práticas educativas, como, por exemplo, aulas de campo em trilhas ecológicas; c) identificar se os conteúdos trabalhados em sala de aula em Gestão Ambiental e Biologia sobre os problemas ambientais e a sustentabilidade contribui para enriquecer e dinamizar as aulas de campo e d) Produzir um PE como SDI para auxiliar nos trabalhos pedagógicos dos professores. Reconhecendo assim, através das reflexões dos alunos, se a Educação Ambiental Crítica prevalece no EMI do campus Várzea Grande.

2.  Metodologia

2.1  Caracterização do Tipo de Pesquisa

A pesquisa trata-se de uma abordagem quali-quantitativa de natureza aplicada com objetivos exploratório descritiva, cujos procedimentos serão do tipo pesquisa documental e pesquisa participante e realizada em dois momentos: a bibliográfica e a de campo. Na bibliográfica, inicialmente realizou-se o levantamento sistemático das publicações sobre a temática ensino extramuros da escola (aula de campo) nos principais bancos de dados – Scielo –   “Aula de campo no ensino de geografia: uma análise crítica” (Scielo) – https://www.scielo.br/j/raega/a/mJWpTfHmCCrcXbmXvJfySyj/?lang=pt, portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) -“Aula de campo: reflexões sobre o processo de ensino-aprendizagem em Geografia” (CAPES) – https://www.periodicos.ufjf.br/index.php/licere/article/view/9325, e Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – “A aula de campo como metodologia de ensino na Geografia: uma análise de experiências no ensino fundamental” (Biblioteca Digital de Teses e Dissertações) – http://repositorio.unesp.br/handle/11449/120276, a fim de compor um quadro teóricoconceitual sobre as relações de ensino e aprendizagem de ensino formal em Trilha Ecológica em contexto do Cerrado com a utilização da bicicleta.

Na pesquisa de campo, foram utilizados questionários com questões abertas e na escala Likert, para identificar a percepção dos docentes quanto ao trabalho interdisciplinar em aulas de campo, se há ocorrência e quais desafios encontram para essa atividade. Aos estudantes também foram produzidas questões na escala Likert e aberta para que identificassem se os conteúdos trabalhados em sala de aula essas atividades realizam-se. Ao fim da pesquisa, foi proposto uma aula de campo interdisciplinar em trilha ecológica com o uso da bicicleta. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e aprovada em junho de 2022 sob n.º do parecer 5.469.631, atendendo os princípios dispostos na resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

Na visão de Marconi e Lakatos (2017), a pesquisa aplicada caracteriza-se por seu interesse prático, isto é, que os resultados sejam aplicados ou utilizados, imediatamente, na solução de problemas que ocorram na realidade. Nesse sentido, Assis (2009) igualmente destaca que a pesquisa aplicada interessa-se pela aplicação, utilização e consequências práticas dos conhecimentos. Destina-se a aplicar os conhecimentos científicos para a solução dos mais variados problemas individuais ou coletivos. Concretiza-se por meio das “ciências aplicadas” e “tecnológicas”. Uma das práticas possíveis de aula de campo é a trilha ecológica utilizando a bicicleta como veículo de locomoção, capaz de se constituir como ferramenta pedagógica para desenvolver não somente os conteúdos na área da Biologia, mas promover a interdisciplinaridade em relação à educação ambiental crítica, como justifica Carvalho (2014), “… há uma crescente necessidade de buscar e inserir novas estratégias didáticas a fim de facilitar o trabalho do professor e o processo de aprendizagem dos alunos”.

A utilização da bicicleta nesse contexto educacional, em uma trilha ecológica, pode ter um grande potencial para estimular a curiosidade e a criatividade dos alunos, promover a integração entre colegas e professores, além de contribuir para uma maior compreensão do ambiente em que vivem e da relação com ele. Na perspectiva fenomenológica, que esses estudantes possam ter outros olhares, outras percepções do sentido, que possam ser estimulados a refletir sobre a sustentabilidade, a mobilidade urbana, a conservação e a preservação do bioma Cerrado. Além disso, a atividade pode contribuir para um estilo de vida mais ativo e saudável, e ainda dá para ser uma maneira divertida e agradável de explorar o ambiente local e aprender sobre as características físicas, culturais e históricas do lugar.

Mediante a experimentação em trilhas, aplicação essa que alia teoria e prática, é possível o desenvolvimento da pesquisa e da problematização em sala de aula, despertando a curiosidade e o interesse do aluno. Isso transforma o estudante em sujeito da aprendizagem, possibilitando que o mesmo desenvolva uma relação de respeito e cuidado com a natureza onde está inserido. Dessa maneira, a dinâmica da trilha ecológica, utilizando a bicicleta como ferramenta metodológica, possibilita a sensibilidade para a educação ambiental, enquanto potencializa a melhoria da saúde do corpo e da mente e proporciona uma manifestação reflexiva e crítica acerca da atitude do ser humano em relação à natureza. O link da SDI está disponível para acesso de professores que queiram utilizá-lo como ferramenta opcional nas suas práticas pedagógicas https://jugimenez.github.io/cerrado-trilha-ecologica/.

3.  Resultados e Discussões

3.1  Questionários aplicados aos professores participantes da pesquisa.

O questionário aplicado aos professores participantes foi elaborado com o objetivo de identificar as percepções e fragilidades que estes possuíam em relação às aulas trabalhadas interdisciplinarmente quando se tratam de Educação Ambiental Crítica e a Aula de Campo. Os dados referentes ao diagnóstico são apresentados e discutidos abaixo, por meio de gráficos e descrições. Responderam a esse documento 09 professores.

Foram aplicadas aos professores 5 questões na escala Likert e 5 questões abertas.

Na questão 01 – Você busca desenvolver suas práticas docentes de forma interdisciplinar?

Conforme o gráfico 01 (Figura 1) abaixo, 60% dos participantes responderam que às vezes desenvolvem práticas interdisciplinarmente e 40% responderam que buscam sempre desenvolver essa prática.

Fonte: Questionário aplicado aos docentes.

Essas considerações levam à constatação de que existem diversas razões pelas quais os docentes podem não trabalhar interdisciplinarmente em suas práticas. Algumas dessas razões podem incluir a falta de formação, estrutura curricular rígida, falta de tempo, resistência a mudanças e dificuldade em encontrar colaboradores. Freire (1996) argumenta que a educação deve ser crítica e libertadora e que a fragmentação do conhecimento em disciplinas estanques é prejudicial ao processo de aprendizagem. Ele também defende a importância da interdisciplinaridade como uma forma de promover a compreensão holística do mundo e das complexas relações que o constituem.

Na questão 02 – Em sua opinião, os alunos recebem fundamentos essenciais sobre a educação ambiental crítica durante a realização do curso ofertado pelo IFMT campus VGD? Conforme o gráfico 02 (Figura 2) abaixo, 60% dos participantes responderam que sim e 40% responderam que as vezes o campus trabalha a educação ambiental crítica na contextualização da aprendizagem.

Gráfico 02 – Figura 2

Fonte: Questionário aplicado aos docentes.

A resposta reflete o espaço que a educação não formal recebeu e tem recebido por parte dos profissionais da educação nos últimos tempos. Na perspectiva de Barro e Santos (2010, p. 06), “a educação não formal socializa os indivíduos, desenvolvem hábitos, atitudes, comportamentos, modos de pensar e de se expressar no uso da linguagem, segundo valores e crenças da comunidade. Sua finalidade é abrir janelas de conhecimento sobre o mundo que circunda os indivíduos e suas relações sociais”. Porém, para a pesquisa, a pergunta não se aplica a aula de campo, pois considera a mesma como ensino extramuros da educação formal.

Na questão aberta onde a pergunta era: “Para você, o que é educação ambiental crítica?”

As respostas foram as seguintes:

i) É a compreensão da importância de pensar nas ações, e de como elas interferem no meio ambiente. Um exemplo são ações que visam a redução de geração de resíduos sólidos, na tentativa de minimizar o impacto causados por eles;
ii) Preparar os jovens para um mundo mais ético;
iii) É a educação que permite o aluno ser protagonista na construção do seu conhecimento;
iv) É uma educação ambiental voltada para a compreensão das verdadeiras causas dos danos ambientais, com a discussão de possíveis ações para mudanças

As respostas tem respaldo aos escritos de Layrargues (2004), que diz que “Ao ressignificar o cuidado para com a natureza e para com o Outro humano como valores ético-políticos, a educação ambiental crítica afirma uma ética ambiental, balizadora das decisões sociais e reorientadora dos estilos de vida coletivos e individuais”.

Em outra questão, a pergunta foi: “Você considera a interdisciplinaridade uma prática pedagógica capaz de contribuir para promoção da integração e interação entre as disciplinas da formação técnica e geral?” Justifique sua resposta.

Respostas dos docentes:

i) (… Sim. Com a temática educação ambiental, diversos conceitos são trabalhados, de diversos componentes curriculares. Isso possibilita maior assimilação por parte dos discentes, possibilitando melhor aprendizagem…);
ii) (…Uma complementa a outra…);
iii) (…Eu acredito, pois a desenvolvimento de um profissional, cidadão multifacetado irá favorecer o dialogo e o respeito em diferentes setores da nossa sociedade o irá permitir a esse indivíduo contribuir de forma mais efetiva na tomadas de decisões em grupo…);
iv) (…Sim. Os fatos do mundo e da vida são necessariamente interdisciplinares. Não há como discuti-las isoladamente a partir de uma única ciência…).

As respostas corroboram com o pensamento de Fazenda (2011) que diz que “a interdisciplinaridade caracteriza-se pela colaboração existente entre as disciplinas e pela intensa troca, visando um enriquecimento mútuo”.

Solicitamos aos professores que ao final deixassem sugestões para melhoria ou implantação da educação ambiental crítica nos cursos técnicos integrados no IFMT campus VGD. Abaixo algumas transcrições das ideias sugeridas à pesquisa.

i) (…Melhor integrar os conteúdos e cursos, podemos juntar com a gestão ambiental da gestão pública e do curso de edf, por meio de projetos de pesquisa, extensão e ensino;…)

ii) (…Parceria com outras instituições, parcerias com chacareiros, sitiantes e até mesmo fazendas…)

iii) (…Penso que poderíamos criar um EVENTO anual para discutir MEIO AMBIENTE – TIpo: COP IF – Poderíamos fazer um estudo sobre as principais decisões da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas – trazendo para o nosso pedaço de mundo…)

iv) (…Mais recursos de tempo para os docentes, espaço para desenvolver as atividades e recursos financeiros…)

v)(…Podemos usar a metodologia STEAM , pois acredito que com essa metodologia iremos caminhar para construção de uma educação ambiental crítica…)

vi) (…Melhor divulgação de ações já existentes no campus. Tem um ponto de coleta de pilhas e baterias, mas nunca vi ninguém utilizar esse ponto de descarte…)

vii) (…Colocar em prática os planos de ensinos..)

As sugestões dos professores nessa pesquisa são construções de propostas para enfrentamento desse desafio que é trabalhar a EAC interdisciplinarmente no EMI, tanto pelo papel social que ocupam, como pela capacidade de influência exercida sobre a opinião da comunidade. Portanto, para transpor esses desafios é necessário contextualizar o conhecimento acadêmico e, na prática, retratar uma educação ambiental na perspectiva de Layrargues (2004), que é “promover a compreensão dos problemas socioambientais em suas múltiplas dimensões: geográficas, históricas, biológicas, sociais e subjetivas; considerando o ambiente como o conjunto das inter-relações que se estabelecem entre o mundo natural e o mundo social, mediado por saberes locais e tradicionais, além dos saberes científicos”.

Aplicação da sequência didática

Imagem 01. Registro do momento da primeira parte da aplicação da SD.

Na primeira aula, o professor dividiu a turma em grupos de até seis alunos, onde foi trabalhado o pré-conhecimento do aluno sobre educação ambiental. Foram distribuídas para cada equipe, leituras sobre crise ambiental e os impactos causados pelos resíduos sólidos e restos da construção civil descartados inadequadamente. Depois de lerem e terem debatidos os diversos assuntos, os conteúdos serviram de temas geradores para que os estudantes possam relacionar a matéria de sala de aula e o que eles irão perceber na aula de campo. O professor solicitou que os grupos socializassem a discussão em sala.

Durante a apresentação, os grupos elaboraram questionamentos com possíveis explicações sobre quais fatores que influenciaram os impactos causados pelo resíduo sólido, porém não deixaram claro qual seria a hipótese que defendiam. Assim, foi preciso questionar cada equipe sobre o que haviam pensado e formulado, e com isso pode-se compreender que o problema da crise climática é ocasionado, com raras exceções, pela ação antrópica.

Imagem 02. Registro do momento da segunda parte da aplicação da SD.

Fonte: Acervo pessoal do pesquisador.

Na segunda aula, foi apresentado aos estudantes diversas imagens, uma que representava a zona urbana, outra, uma queimada, uma área de monocultura, uma trilha. Então foi solicitado aos alunos que indicassem se a foto representa ou não o que eles entendem por meio ambiente.

No decorrer das explanações dos alunos, nota-se que há uma consciência de educação ambiental tradicional que se dá pela soma das mudanças individuais: quando cada um fizer a sua parte.

Após os relatos dos alunos, foi exposto para a turma alguns conceitos de Educação Ambiental Crítica, abordando não somente os impactos ambientais, mas também os impactos sociais, as injustiças e desigualdades ambientais, com isso, reforçou a discussão da primeira aula. Também foi possível relacionar o conteúdo estudado à formação profissional dos estudantes. Concluímos o conteúdo teórico com o estudo dos ecossistemas, apresentando os biomas mato-grossenses.

Na terceira aula, como atividade, foi solicitado aos alunos para escolherem um local da cidade, próximo ao seu bairro ou ao campus, no qual ocorra algum tipo de atividade humana. Em seguida, que eles identifiquem as alterações ambientais ocorridas, as relações entre os seres vivos e a relação ser humano-natureza que ocorriam e ocorrem naquele local. A avaliação da atividade foi feita em forma de questionário com perguntas abertas.

Obs.: As respostas que convergiam foram compiladas e colocadas em nuvens de palavras. A nuvem foi construída utilizando o Infogram (figura 3).

Figura 3

Fonte: Feito com Infogram em fev/2023.

Foi feito a análise textual discursiva das respostas dos alunos, e primeiramente nota-se que há um conhecimento consciente dos problemas ambientais, porém, nos termos geralmente usado em Química, como CO2, NH4, etc., alguns estudantes desconheciam esses termos por ainda estarem no 3º semestre e as aulas de Química só começam a partir do 4º semestre, sendo estes peças importantes para compreender certos fenômenos da Natureza. Nem todos tiveram respostas para as perguntas, demonstrando a importância da aula de campo para a formação do conhecimento.

No entanto, nas suas respostas, não ficou prejudicado o objeto de pesquisa que era a crise climática e os impactos sociais na vida das pessoas. Nota-se, portanto, que apesar da pouca idade, há uma escrita muito competente por parte desses adolescentes que conseguiram ancorar o conhecimento prévio com o de sala de aula e ressignificaram a aprendizagem. Isso vem ao encontro do que diz Ausubel (1968, p. 8) “[…] uma ciência aplicada que tem um valor social, interessada não em leis gerais da aprendizagem em si mesmas, mas em propriedades de aprendizagem, que possam ser relacionadas a meios eficazes de deliberadamente levar a mudanças na estrutura cognitiva”.

Questionário avaliativo da SDI e da metodologia aplicada na Trilha Ecológica.

Esse questionário com perguntas abertas foi elaborado e aplicado, aos estudantes participantes, com o intuito de avaliar a metodologia de ensino utilizada nesse estudo. Os dados obtidos são apresentados e discutidos a seguir, por meio de descrições. Dos estudantes participantes que foram para a trilha de bicicleta, seis (6) responderam ao questionário, sendo quatro (04) do sexo masculino e dois (02) do sexo feminino. As perguntas desse instrumento foram elaboradas baseadas na aula de campo. As respostas que convergiam foram compiladas em nuvens de palavras. A nuvem foi construída utilizando o Infogram conforme Figura 4.

Figura 4

Fonte: Feito com Infogram em fev/2023.

Os resultados do questionário acenam que os objetivos propostos com a utilização dos métodos e procedimentos na aula de campo com a utilização da bicicleta, na perspectiva da educação ambiental crítica, foram bem aceito pelo público-alvo dessa pesquisa e que permite conceber que ensinar e aprender interdisciplinarmente da forma como foi trabalhado é bem mais interessante e prazeroso.

Desse modo a questão da interdisciplinaridade se impõe como necessidade e como problema fundamentalmente no plano material histórico-cultural e no plano epistemológico. Seguindo esse princípio, Frigotto (2008), nos diz que “a necessidade da interdisciplinaridade na produção do conhecimento funda-se no caráter dialético da realidade social que é, ao mesmo tempo, una e diversa e na natureza intersubjetiva de sua apreensão”.

Na avaliação de uma das professoras que participaram da aula de campo: “A realização da trilha com o uso de bicicletas, envolvendo outras disciplinas, foi uma atividade muito edificante e produtiva. Primeiramente porque proporcionou uma didática/vivência diferenciada do tradicional abordado em sala de aula, segundo porque houve uma interação multidisciplinar entre outras áreas do saber, como biologia e química, e também favoreceu a prática de uma atividade física. Portanto, uma ação aparentemente simples, gerou muito bem estar e aprendizado, pois a prática é muito mais dinâmica e favorece de forma ímpar o processo de ensino-aprendizagem. Assim, a aula de campo fica também mais atrativa e corrobora para uma visão mais crítica sobre as questões ambientais dentro das várias áreas do conhecimento. Sempre que puder, farei parte de ações como essa, pois a interação e a aprendizagem desenvolvida são extremamente significativas e marcantes para todos os envolvidos”.

Na percepção da professora participante, os resultados foram alcançados por meio da motivação ativada pelo dinamismo da aula de campo que mantém o comportamento dos alunos direcionado para a vontade de aprender. Como destaca os autores Morais e Paiva (2009), “as aulas de campo são oportunidades em que os alunos poderão descobrir novos ambientes fora da sala de aula, incluindo a observação e o registro de imagens e também oferecem a possibilidade de trabalhar de forma interdisciplinar, pois dependendo do conteúdo, podem-se abordar vários temas”. Para esses autores, essa forma de trabalhar estimula os estudantes a se envolverem mais na aprendizagem devido à possibilidade de interagir com a realidade ao qual se estuda e observar os resultados desse processo.

A observação participante e as percepções do professor pesquisador presentes no diário de campo permitem também perceber os contributos desse processo metodológico para o ensino de conteúdos interdisciplinares. A avaliação realizada com os alunos no final da SDI permitiu fazer a reflexão de que a aula de campo foi bem aceita e surtiu bons efeitos ao público-alvo, conforme se observa nos resultados descritos.

Apesar de todas as dificuldades impostas pelo cenário das escolas públicas brasileira, é possível ofertar um ensino mais dinâmico, interessante e que faça mais sentido a quem aprende. E o caminho para isso é a inserção de metodologias alternativas e/ou diferenciadas em sala ou extra sala de aula.

Para os autores Morenos e Heidelmann (2017), “as metodologias alternativas constituem um “novo universo” para o professor que pode usá-las para elaborar uma aula mais interessante, centrada em uma realidade que produz maior engajamento do aluno, ao mesmo tempo em que pode proporcionar um maior suporte para o acompanhamento das atividades escolares”. Além disso, a frequência de seu uso diminui o trabalho expositivo em sala de aula e amplia o espaço para novas discussões e atividade.

Sendo assim, respaldado pela literatura e pelos resultados obtidos, arriscamos inferir que esse trabalho de pesquisa nas Práticas Educativas em Educação Profissional e Tecnológica faz parte desse “novo universo” de processos alternativos de ensino, e que possui grande potencial para tornar o método de ensino e aprendizagem mais dinâmico, interessante e significativo para estudantes e professores.

4. Considerações Finais

O desenvolvimento dessa pesquisa permitiu elaborar e validar uma sequência didática interdisciplinar mediada pela “inclusão e diversidade em espaços formais e extra sala de ensino na EPT” para estudantes do Ensino Médio Integrado. Com isso, foi possível realizar uma análise reflexiva a respeito do processo de aprendizagem dos estudantes partícipes, pois a utilização de uma aula de campo em trilha ecológica com a utilização da bicicleta proporcionou uma nova forma de aprender, dinâmica e interessante, na qual estes estiveram mais envolvidos.

A pesquisa identificou que as fragilidades dos estudantes em aprender conteúdos de educação ambiental crítica ainda é natural nas escolas brasileiras assim como no campus VGD não tratar das diferentes dimensões da educação ambiental, cujo conteúdo são fragmentado nas aulas de Ciências da Natureza (Biologia, Química e Física) e consequentemente há poucos professores no campus trabalhando aulas de campo e principalmente, interdisciplinarmente, como ficou nítido na pesquisa. Isso interfere diretamente no entendimento e na compreensão dos conteúdos ministrados.

Constatou-se com a elaboração, aplicação e validação da SDI que é possível trabalhar aulas de campo em trilhas ecológicas e “ensinar” educação ambiental crítica com viés interdisciplinar com a utilização da bicicleta, diferente do tão difundido ensino tradicional, e mais ainda, “ensinar” tirando o professor do centro das atenções e colocando os estudantes como protagonistas de seu aprendizado. Salienta-se aqui que, o potencial das metodologias ativas em proporcionar maior envolvimento com os conteúdos, de modo que o público-alvo sentiu-se parte do processo de ensino e aprendizagem, o que foi possibilitado devido ao conhecimento científico inerente dessa metodologia.

Enfim, é preciso investir, de modo responsável, em políticas públicas que fomentem as propostas interdisciplinares e que deem amparo aos professores, valorizando-os e colocando-os como protagonistas do processo e pesquisadores de sua própria prática pedagógica, contribuindo para uma formação integral e humana dos estudantes, possibilitando a eles uma compreensão acerca da Educação Ambiental Crítica.

Referências

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Ausubel, D. P. (1968). Educational psychology: a cognitive view. Nova York: Holt, Rienehart and Winston.

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¹ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6849-9501
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²ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6018-5105
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