FABÍOLA MARIA SABINO MEIRELES*
ISABEL CRISTINA DE MENDONÇA SANTIAGO*
MIRIZANA ALVES DE ALMEIDA**
* Acadêmicas do 7º semestre do curso de Fisioterapia da Faculdade Christus.
** Fisioterapeuta (UNIFOR), Especialista em Fisioterapia Hospitalar (UFC), Especialista em Ciências Fisiológicas (UECE), Mestre em Ciências Fisiológicas (UECE) com área de concentração em Fisiologia da Respiração (UFRJ) e Doutoranda em Ciências Médicas (UFC) com área de concentração em pneumologia, especificamente em DPOC e VNI, professora das disciplinas de Fisiologia Humana I, Metodologia Científica e Trabalho de Conclusão de Curso II da Faculdade Christus.
RESUMO
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A utilização da ventilação não invasiva (VNI), como suporte ventilatório de primeira escolha, cresceu de forma significativa nos últimos anos. No Brasil é cada vez mais administrada pelos profissionais de saúde, principalmente, em pacientes com insuficiência respiratória aguda (IRA) e insuficiência respiratória crônica (IRC). Assim, é de fundamental importância publicações de trabalhos que possibilitem uma constante atualização dos profissionais de saúde sobre VNI. Dessa forma, esta revisão tem como propósito esclarecer e atualizar os profissionais de saúde sobre VNI, bem como incentivar o uso desse modo ventilatório.
CONTEÚDO: A VNI é um método de ventilação mecânica alveolar, no qual o suporte ventilatório é fornecido ao paciente sem a necessidade de intubação endotraqueal. Durante a primeira metade do século XX, predominou o uso da VNI através da ventilação não invasiva com pressão negativa (VNIPN). A partir de 1960, a VNIPN foi substituída pela ventilação mecânica invasiva (VMI). A VNI só voltou a ser utilizada com o desenvolvimento de dispositivos de interface nasais e faciais, sendo dessa vez, aplicada através da ventilação não invasiva com pressão positiva (VNIPP) que, é um método de fácil aplicação e remoção, possui eficácia clínica significativa e evita as complicações causadas pela VMI. A VNIPP pode ser fornecida em duas modalidades: contínuos positive airway pressure (CPAP) e bilevel positive airway pressure (BIPAP). Comprovou-se que em situações comuns de insuficiência respiratória, a utilização da VNIPP é a terapia mais adequada e eficiente.
CONCLUSÕES: O uso da VNI em pacientes com insuficiência respiratória, além de evitar as complicações de uma intubação endotraqueal, proporcionam uma hematose eficaz e uma melhor oxigenação para paciente hipoxemicos. Portanto, é extremamente importante, a divulgação dos efeitos benéficos da sua aplicação.
Unitermos: Ventilação Não Invasiva, Ventilação Mecânica Invasiva, Intubação Endotraqueal, Suporte Ventilatório.
NONINVASIVE VENTILATION: CONCEPTS AND GENERAL UPDATES
SUMMARY
BACKGROUND AND METHODS: To make useful the noninvasive ventilation (NIV) like a support of first choose, it grew of meaningful in the last years. In Brazil is more and more administered by health-professionals, mainly, in persons under treatment with respiratory failure (ARF) and chronic respiratory failure (CRF). Thus, is importance fundamental publications of works that has possibility of a constant update of health-professional about NIV. Of this form, this revision has like purpose be informed and update the health-professional about NIV, although to motive the use of this ventilator.
CONTENTS: The NIV is a method of mechanic ventilation alveolar, of which the ventilator support is furnished by patient without the necessity endotracheal intubation. During the first half of the century XX, it was predominant the use of NIV across of noninvasive negative pressure ventilation (NNPV). After 1960, the NNPV was substituted by invasive mechanical ventilation (IMV). The NIV only backed to be utilized with the development of gadgets nasal interfaces and faces, being this time, applied across of the noninvasive positive pressure ventilation (NPPV) which is a method of application easy retreated, possessed clinic efficient meaningful and avoids the complications caused by (IMV). The NPPV can be furnished in two modalities: continuos positive airway pressure (CPAP) and bilevel positive airway pressure (BIPAP). Proved which the commons situations breathing insufficient, the use NIVPP is the therapeutics more suitable and efficient.
CONCLUSION: The use of NIV in patients with breathing insufficient, over there to avoid the complications of a endotracheal channel adjusts an haematosis effective the best oxygen for hypoxemicis patients. Therefore, is important extremely to make public beneficial effects this system.
Key Words: Noninvasive Ventilation, Invasive Mechanical Ventilation, Endotracheal Intubation, Ventilatory Support.
VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA: NOÇÕES GERAIS E ATUALIZAÇÕES
INTRODUÇÃO
A ventilação não invasiva (VNI) é um método de ventilação mecânica alveolar, no qual o suporte ventilatório é fornecido ao paciente sem a necessidade de intubação endotraqueal. Podendo ser aplicada através da pressão negativa (VNIPN) ou através da pressão positiva (VNIPP) contínua ou intermitente. 1, 2, 3, 4
A utilização da VNI, como suporte ventilatório de primeira escolha, cresceu de forma significativa nos últimos anos e no Brasil é cada vez mais administrada pelos profissionais de saúde, principalmente, em pacientes com insuficiência respiratória aguda (IRA) e insuficiência respiratória crônica (IRC). Isto se dá, principalmente, devido ao aumento no número de trabalhos publicados que documentam as vantagens do uso desse método pelo desejo dos profissionais de saúde de evitar as complicações causadas pelo uso da ventilação mecânica invasiva (VMI). A aplicação da VNI é comum tanto nas Unidades da Terapia Intensiva (UTI’s) como na assistência ventilatória domiciliar (Home Care), tendo em vista a existência de respiradores portáteis. 1, 5, 6, 7
Assim, é de fundamental importância publicações de trabalhos que possibilitem uma constante atualização dos profissionais de saúde sobre VNI. Dessa forma, este trabalho tem como propósito esclarecer e atualizar os profissionais de saúde sobre VNI, bem como de incentivar o uso desse modo ventilatório.
Para tanto, foram realizados levantamentos bibliográficos em artigos de periódicos científicos e livros publicados entre os anos de 1997 e 2008. Os assuntos procurados foram: Ventilação não Invasiva, Ventilação Mecânica Invasiva, Intubação Endotraqueal e Suporte Ventilatório.
HISTÓRICO
No decorrer de toda a primeira metade do século XX, predominou o uso da VNI sendo feita, principalmente, através da VNIPN. A partir de 1960, o uso da VMI foi substituindo, gradualmente, a VNIPN, pois demonstrava ser um método mais eficaz e protetor para ventilar. Por isso, a VNI só voltou a ser utilizada a partir do desenvolvimento de dispositivos de interface nasais e faciais (por volta de 1980), sendo dessa vez, aplicada através da VNIPP. A VNIPP apresentou menor custo, eficácia, conforto e segurança em relação à VMI, que se associa à complicações comprometedoras da evolução clínica de pacientes graves. 1, 2, 3, 4, 5
Atualmente, não há dúvida de que a aplicação da VNI em pacientes com IRA ou IRC diminui a necessidade de intubação, reduz a mortalidade e o custo do tratamento, além de diminuir o trabalho muscular respiratório e melhorar as trocas gasosas por recrutamento de alvéolos hipoventilados. Esses fatores são os responsáveis pela maior freqüência da sua aplicação. 1, 3, 9
VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA X VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA
Além de ser um método de fácil aplicação e remoção e, possuir eficácia clínica significativa, a VNI possui algumas vantagens em relação a VMI, como diminuição da necessidade de intubação (tendo em vista que a presença do tubo pode causar lesão à mucosa da via aérea, causando ulceração, inflamação e edema, ou ainda em casos extremos, estenose da via aérea) redução da necessidade de sedação, redução da duração da hospitalização e uma menor taxa de mortalidade, utilizando ainda recursos que mantêm a fala, a deglutição, permitem que o paciente expectore secreções e preservam as funções de defesa do aparelho muco ciliar. 4, 5, 7, 10, 11, 12
O uso da VMI, embora seja um método que fornece um suporte ventilatório eficiente, oferece um grande número de complicações, devido ao seu caráter invasivo. Dentre essas: desconforto associado à presença do tudo endotraqueal, causando inabilidade para se alimentar e se comunicar, que provocam ansiedade e aumentam a necessidade de sedação; ferimento agudo da traquéia e estruturas circunvizinhas; alteração na função de defesa do aparelho muco ciliar, uma vez que o tubo endotraqueal oferece uma canalização direta do ar, deixando o paciente exposto a infecções nasocomiais graves, como, pneumonia, sinusite e otite e, ainda, aumento do tempo de internação e maior índice de mortalidade. 2, 4, 5, 7, 10, 11, 12
Porém, a VNI possui também algumas desvantagens que nem sempre permitem o seu uso, pois neste método a necessidade de colaboração do paciente, a dificuldade de chegar às vias aéreas inferiores, principalmente em pacientes com hipersecreção brônquica, a possibilidade de retenção de secreção e os problemas com as interfaces (fuga de ar e o risco de remoção acidental da máscara), fazem com que a VNI se torne ineficaz na correção imediata das alterações gasométricas, além da possibilidade de causar úlceras faciais e hipersensibilidade alérgica à máscara. Mesmo assim, a VNI continua sendo a terapia mais adequada em inúmeros casos. 1, 2, 4, 11, 13
INDICAÇÕES GERAIS
A utilização da VNI é indicada, principalmente para pacientes portadores de IRA, IRC, edema agudo pulmonar cardiogênico (EAPC), doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), asma, doença neuromuscular, doenças deformantes do tórax, hipoventilação por obesidade, síndrome da apnéia/hipopnéia obstrutiva do sono (SAHOS), neoplasias com ordem de não-intubação, pneumonias, hipoventilação pulmonar, durante o período pós-operatório de cirurgias toracoabdominais, deficiência orgânica sistólica, na insuficiência respiratória pós-extubação e no desmame, bem como na ventilação domiciliar. 1, 3, 12, 14
CONTRA-INDICAÇÕES GERAIS
Embora seja indicada como o suporte ventilatório de primeira escolha em diversas ocasiões (como as citadas anteriormente), a VNI possui algumas contra-indicações absolutas: instabilidade hemodinâmica, deficiência diastólica, período pós-parada cardiorespiratória, hipoxemia, hipercapnia, fadiga muscular respiratória, pulmão muito complacente, agitação psicomotora, síndrome do pânico, instabilidade neurológica, redução do nível de consciência, higiene brônquica ineficaz, cirurgia, trauma, deformidade facial, hemoptise, epistaxe maciça, pneumotórax não drenado, pacientes com a parede do tórax muito rígida, período pós-pandreal, grande quantidade de secreção traqueobrônquica e obstrução das vias aéreas superiores. Porém, há ainda, algumas contra-indicações relativas: o baixo grau de colaboração do paciente, história de angor ou pacientes que tenham sofrido infarto agudo do miocárdio recente e a falta de autonomia para remoção da máscara quando se fizer necessário. 1, 2, 3, 5, 7, 13, 14, 15
MODOS DE VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA
Existem duas formas de administração da VNI:
VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA COM PRESSÃO NEGATIVA
Em 1838, o médico Scottish John Dalziel descreveu a VNIPN, usando um tanque para gerar, manualmente, a pressão negativa. Após 38 anos, em 1876, a primeira couraça foi desenvolvida por Ignez Von Hauke, e se tratava de uma concha de aço que cobria a parte anterior do tórax. Já em 1928, Philip Drinker criou o pulmão de aço (cilindros metálicos que submetiam pacientes à pressão negativa) com força elétrica. O uso do pulmão de aço em pacientes com poliomielite, durante o surto dessa doença, reduziu em 50% o índice de mortalidade dos pacientes com insuficiência respiratória. Porém, em 1931, J. H. Emerson reproduziu o pulmão de aço, sendo este modelo mais simples e operado de forma manual, tornando-se o modelo predominante para a sustentação da ventilação em pacientes com paralisia ou insuficiência respiratória, decorrentes da poliomielite. Entretanto, apesar da significante redução da mortalidade, esses aparelhos eram muito pesados, sem portabilidade e extremamente desconfortáveis ao paciente. 3, 5
Mesmo o uso do tanque se mostrando mais eficaz do que o da couraça, (visto que a pressão negativa nele é aplicada em todo o tórax e abdome, na couraça esta é aplicada somente na região anterior do tórax e abdome), ele foi caindo em desuso gradualmente, à medida que foram sendo desenvolvidas vestes e couraças cada vez mais confortáveis que possibilitavam uma melhor aplicabilidade desse método, pois o uso do tanque era bastante desconfortável ao paciente. Atualmente, a aplicação da VNI, utiliza aparelhos mais leves e portáteis. 3, 5
Na técnica da VNIPN aplica-se uma pressão subatmosférica em torno do tórax e abdome do paciente, para que na inspiração a pressão alveolar seja menor do que a pressão atmosférica. Dessa forma ocorre o aumento da pressão transpulmonar, fazendo com que o ar chegue aos pulmões através da boca, provocando a expansão do pulmão e da caixa torácica. A expiração ocorre de forma passiva através do recolhimento elástico dos pulmões e retorno da pressão da caixa torácica para níveis atmosféricos. A eficácia da VNIPN depende da complacência da parede torácica e abdominal e do tamanho da superfície corporal que o aparelho irá englobar. Este modo ventilatório ainda possui as desvantagens quanto ao desconforto para o paciente e dificuldades de manuseio deste pela equipe. 3, 5
São as principais indicações da VNIPN: falência respiratória em doenças neuromusculares, deformidades da caixa torácica e doenças com hipoventilação central. 3, 5
VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA COM PRESSÃO POSITIVA
A VNIPP começou a ser utilizada em 1930, por Alvan Barach, para tratar o EAPC, e em seguida, foi aplicada em pacientes com DPOC. No início da década de 1980, o pneumologista italiano C. E. Sullivan administrou a VNIPP, através da aplicação de um mesmo nível de pressão positiva nas vias aéreas durante a inspiração e a expiração, do inglês, continuous positive pressure (CPAP) por meio de máscara nasal (oferece mais liberdade ao paciente ao permitir a fala), em pacientes portadores da SAHOS ou máscara facial (menos tolerada, mas necessária em pacientes que demonstram fuga excessiva de ar pela cavidade oral ou nasal). As máscaras nasal e facial possuem volumes de espaço morto de 150ml e 250ml, respectivamente, que não interferem na eficiência da ventilação. 5, 3, 15, 16
Em seguida, o desenvolvimento de uma forma variante para o fornecimento da pressão positiva nas vias aéreas, ou seja, a aplicação de dois níveis de pressão positiva às vias aéreas, um maior na inspiração (inspiratory positive airway pressure – IPAP) e outro menor na expiração (expiratory positive airway pressure – EPAP), do inglês, bilevel positive airway pressure (BIPAP), além de aumentar a utilização desse modo ventilatório, melhorou a adaptação do paciente ao tratamento. Permitindo tratar, de forma mais eficiente, pacientes com hipoventilação alveolar, apnéias centrais e DPOC. Em vista de toda essa evolução, pacientes com falências crônicas que utilizavam a VNIPN, foram substituindo-a gradualmente, pelo uso da VNIPP. 3, 15, 16
Além de ser de fácil instalação e possuir um menor custo, o uso da VNIPP resulta em muitos benefícios para o paciente. Evita a fadiga muscular tanto em doenças restritivas como obstrutivas, através da diminuição do trabalho muscular inspiratório; melhora a ventilação pulmonar, contribuindo para a produção de surfactante alveolar; equilibra a relação ventilação x perfusão e reduz o shunt, melhorando as trocas gasosas; redistribui o liquido extravascular pulmonar; além de promover um aumento da capacidade residual funcional, reduzindo o trabalho respiratório e melhorando a complacência pulmonar. Entretanto, a pressão aplicada através da máscara facial deve ser manipulada com bastante cuidado, pois se esta ultrapassar 25-35 cmH2O pode haver a abertura do esfíncter esofagiano superior, causando uma distensão gástrica e levando o paciente ao risco de broncoaspiração. 3, 6, 8, 12, 14, 15
Na VNIPP o ar é fornecido aos pulmões através de uma interface conectada a um respirador que emite o fluxo às vias aéreas do paciente, gerando uma pressão positiva. O controle dessa pressão pode ser feito de acordo com a necessidade do paciente, respondendo aos seus próprios estímulos ou pré-determinado pelo terapeuta através de ajustes feitos no equipamento utilizado. Os respiradores possuem ainda, um tempo de rampa, que corresponde ao período de tempo em que a máquina fornece a pressão de forma gradual até alcançar o nível de pressão desejada, para oferecer o suporte ventilatório desejado pelo paciente. A VNIPP pode ser fornecida em duas modalidades: o CPAP e o BIPAP. 3
O modo de funcionamento CPAP possui apenas um nível de pressão, que varia entre 0 e 20 cmH2O. A pressão é fixa e pré-estabelecida, de acordo com o exame de polissonografia com titulação da pressão, porém a pressão eficaz, em geral, situa-se na faixa de 5 a 13 cmH2O. Atualmente, o CPAP possui aparelhos que funcionam nos modos (Tabela I): 16
Tabela I: Modos de funcionamento do CPAP.
»Tradicional: fornece uma pressão fixa e pré-determinada de acordo com a necessidade de cada paciente, porém, em geral, a pressão que demonstra maior eficácia é em torno de 5 a 13 cmH20. 16
» CFLEX: promove um alívio na expiração, ou seja, mesmo sendo um CPAP, ele possui a flexibilidade de durante a expiração aliviar a pressão que está programada no aparelho para ser fornecida ao paciente de forma contínua. O alívio da pressão é proporcional ao fluxo expiratório de cada paciente e antes do final da expiração e início de outra inspiração, ocorre o retorno à pressão de CPAP prescrita para o tratamento, favorecendo um suporte ventilatório adequado. 17, 18
» Auto-CPAP: detecta eventos anormais durante o ciclo respiratório e de forma automática, auto-regula o nível de pressão positiva a ser ofertada ao paciente no momento em que ele necessita. A necessidade do paciente pode variar durante a mesma noite ou em noites diferentes e o aparelho é programado para ajustar a pressão dentro de uma faixa de variação pré-determinada. Indica-se que a pressão varie 4 pontos abaixo e 2 pontos acima, daquela determinada pela titulação (a titulação é feita durante a o exame de polissonografia para informar a pressão que deve ser oferecida pelo CPAP). Mas é possível que se utilize toda a faixa de variação que o aparelho oferece, entre 3 e 20 cmH2O, caso o paciente não tenha feito a titulação. 16, 19
Pacientes portadores de SAHOS devem, sempre, ser tratados com CPAP durante quatro a seis semanas, antes da cirurgia, pois a sua aplicação promove uma redução do edema das vias aéreas superiores e diminui possíveis complicações clínicas da doença. Entretanto, o seu uso deve ser estimulado tanto durante o período pré-operatório como pós-operatório em pacientes com SAHOS, pois controla não só as complicações relacionadas com a doença, mas também as que têm relação com a anestesia. A opção pela traqueostomia só deve ser feita em casos graves, quando o paciente não se adapta ao CPAP ou quando o método administrado não foi efetivo. 19
Os efeitos fisiológicos decorrentes do uso da CPAP são: aumento do débito cardíaco, fornecimento do oxigênio, prevenção de colapso alveolar, por fornecer uma pressão contínua de distensão, diminuição da pós-carga do ventrículo esquerdo, melhora da capacidade residual funcional, diminuição do trabalho inspiratório e expiratório, proporcionando uma diminuição do esforço ventilatório. Com isso, vem sendo muito utilizado para o tratamento de complicações pulmonares presentes nas cirurgias cardíacas e abdominais, mostrando-se eficaz na normalização das funções pulmonares e diminuindo as complicações que, geralmente, ocorrem nos pós-operatório 1, 4, 7, 8, 14, 15
A utilização da VNIPP através do modo CPAP com pressão de 3 a 5 cmH2O em pacientes DPOC, em geral, causa a diminuição do esforço inspiratório, fazendo com que o trabalho muscular respiratório ocorra em níveis aceitáveis. 1, 3, 14, 20, 21
O fato do modo de funcionamento BIPAP oferecer um nível menor de pressão na expiração, em relação à pressão aplicada na inspiração, torna este um método mais confortável. Visto que reduz o esforço respiratório, provocado pela pressão positiva, durante a expiração. Além de possibilitar uma ventilação mais eficiente nos casos de hipoventilação alveolar, pois permite aplicar uma pressão inspiratória maior, que não seria tolerada em níveis contínuos. Na atualidade, existem no mercado, os mais diversos e variados modelos de BIPAP, porém, existem algumas funções básicas desse tipo de respirador que são comuns a todos os modelos, desde os mais sofisticados aos mais simples. São elas (Tabela II): 16, 22
Tabela II: Modos de funcionamento do BIPAP.
S: é o modo espontâneo, esse modo não possui freqüência respiratória, o paciente é quem ativa a respiração e possui dois níveis de pressão. 4
S/T: é o modo espontâneo temporizado, possui uma freqüência respiratória que oferecerá suporte a respiração espontânea, ou seja, só será implementada se o paciente não respirar espontaneamente, assim, se o paciente não fizer apnéia a máquina não entra. Este modo também possui dois níveis de pressão. 4
T: é o modo temporizado, possui freqüência respiratória do tipo mandatória, já que as respirações espontâneas estão em freqüência reduzida. Assim, nesse modo o aparelho não espera pelo paciente, ele entra de mesmo que o paciente não faça apnéia. Durante aplicação desse modo, o suporte ventilatório oferecido ao paciente é maior do que aquele oferecido através da aplicação do CPAP, sendo que a pressão é aplicada em dois níveis. 4
Estudos, comprovam que o uso da BIPAP com IPAP = 15 cmH2O e EPAP = 5 cmH2O promove uma melhora mais rápida da troca gasosa e da dispnéia, e reduz ainda a relação tempo x pressão do diafragma em relação ao uso da CPAP nasal com pressão igual a 10 cmH2O em pacientes com EAPC. A aplicação da VNI pelo modo BIPAP através de máscara nasal, aumenta também a força dos músculos respiratórios em pacientes DPOC e eles passam a tolerar melhor o exercício físico e reduzem a dispnéia após serem tratados com VNI. 4, 10, 23, 24
Em pacientes com DPOC, durante o desmame da VMI através do uso da VNIPP quando comparado ao desmame convencional, observou-se uma diminuição significativa da incidência de pneumonia, assim como, redução do tempo de ventilação mecânica e de internação na UTI, proporcionando uma maior probabilidade de sobrevida ao paciente. E após extubação, evita uma possível reintubação do paciente. 7, 10, 12, 13
VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA COM PRESSÃO NEGATIVA X VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA COM PRESSÃO POSITIVA
É importante ressaltar que, mesmo sendo mais recente que a VNIPN, a utilização da VNIPP vem recebendo uma atenção cada vez mais significativa, tanto na literatura quanto na aplicação clínica. Isso se dá, devido às inúmeras limitações que a VNIPN possui, tais como, desconforto ao paciente, limitações em posicioná-lo, problemas com o encaixe correto, falta de portabilidade dos aparelhos e uma tendência, em potencial, de provocar apnéia obstrutiva do sono e também, devido as diversas formas de suporte ventilatório oferecidas pela VNIPP, dessa forma VNIPN está cada vez menos difundida em nosso meio e caindo em desuso. 1, 3, 5
Comprovou-se que em situações comuns de insuficiência respiratória, como é caso do EAPC e da DPOC descompensada, a utilização da VNIPP é a terapia mais adequada e eficiente. No EAPC, a utilização do CPAP e do BIPAP, reduz de forma significativa o uso da VMI, diminuindo assim, a mortalidade e na DPOC o uso do CPAP melhora a hiperinsuflação dinâmica e a compressão das vias aéreas. 4, 10, 24, 25
Apesar de ser reconhecida como um método de ventilação de eficácia significativa, a eficiência da VNIPP depende da indicação do equipamento adequado, do tipo de paciente assistido, da disponibilidade dos aparelhos oferecidos pela instituição, escolha da interface, o modo ventilatório, o posicionamento adequado e do grau de conhecimento e treinamento da equipe que assiste ao paciente. Todas esses pontos são relevantes para o conforto do paciente e a melhora da mecânica muscular, contribuindo para os resultados desejados com a terapia. 2, 7, 11, 12, 14, 15, 25
CONCLUSÃO
A partir dessa revisão pode-se constatar que os pacientes que fazem o uso da VNI como suporte ventilatório, estão sempre em vantagem, seja pelo maior conforto ou pela menor necessidade de sedação, pela manutenção das defesas das vias aéreas ou, simplesmente, por evitar as complicações de uma intubação endotraqueal. 20
Apesar das limitações que a VNI possui, acredita-se que o seu sucesso se dá devido a grande tolerância que os pacientes apresentam, resultando em uma hematose eficaz e proporcionando uma melhor oxigenação para paciente hipoxemicos. No entanto, precisa-se monitorar de forma cautelosa os pacientes em VNI, pois a manutenção desse modo ventilatório deve ser reconsiderada se, no desconforto respiratório, não houver resposta após algumas horas de tratamento. 4, 20
Assim, concluiu-se que a divulgação dos efeitos benéficos da aplicação da VNI em pacientes com insuficiência respiratória, em especial, aqueles em fase de exacerbação, é extremamente importante. Não só pelo conforto que esse suporte ventilatório proporciona ao paciente, mas, principalmente, por evitar a intubação imediata. Pois, uma vez que traqueostomizados, esses pacientes são de difícil desmame e ainda ficam expostos às inúmeras complicações causadas pela VMI.
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24. CARVALHO, W. B. de; JOHNSTON C. Efeitos da ventilação não-invasiva com pressão positiva no edema agudo de pulmão cardiogênico. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo – SP, v. 52, n. 4, p. 193, jul/ago 2006.
25. NÁPOLIS, L. M.; JERONIMO, L. M.; BALDINI, D. V.; MACHADO, M. P.; SOUZA, V. A. de; CARUSO, P. Conhecimento da disponibilidade e sobre o uso da ventilação não invasiva em unidades de terapia intensiva de hospitais públicos, privados e de ensino da região metropolitana de São Paulo. Jornal Brasileiro de Pneumologia, São Paulo – SP, v.32, n. 1, p. 29-34, jan/fev 2006.
ADOREI ESSE ARTIGO!
ELE EXPLICA O QUE TEMOS QUE SABER PARA QUEM NUNCA TEVE OU ESTÁ INICIANDO CONTATO COM UM VENTILADOR PARA VNI.
OBRIGADA!