REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7682374
Elisandra Eliane Huhnfleisch1
Láucia Taimara da Silva1
Oziléia Geovana Radiuk1
Andréia Maria Liberalesso2
RESUMO
O crescente número de ferramentas para obtenção de êxito nas dietas dos indivíduos vêm de encontro a novas descobertas e novos conceitos no campo da ciência aplicados à nutrição. O presente estudo tem como objetivo pontuar os princípios que fundamentam o comer intuitivo e seus resultados aplicados na prática. Como metodologia, aplicou-se uma revisão sistemática, quantitativa, qualitativa e exploratória na base de dados Google Acadêmico, no período de Janeiro de 2020 à Agosto de 2022, como palavra de busca, utilizou-se “comer intuitivo”, para a análise dos dados, considerou-se artigos científicos publicados na língua portuguesa e disponibilizados na íntegra, também foram incluídos livros físicos específicos e que não evadiram do tema proposto. Foram encontradas 77 publicações e 3 livros físicos, perfazendo um total de 80 obras, 72 não atenderam aos critérios de inclusão e 8 foram selecionadas para análise. Apesar dos estudos mostrarem que as intervenções de alimentação intuitiva ainda são pouco eficientes em perda de peso, em recorrência a insatisfação corporal, comparado às intervenções convencionais, elas têm o potencial de melhorar desfechos em saúde psíquica. Sugere-se que a alimentação intuitiva suporte vários benefícios para a saúde emocional, que são alcançáveis e sustentáveis a longo prazo, mesmo na ausência de perda de peso.
Palavras-chave: Comer Intuitivo; Dieta; Fome.
1. INTRODUÇÃO
Uma forma adaptativa de comer que recentemente ganhou reconhecimento é a “alimentação intuitiva”, definida como um estilo de alimentação que se concentra em comer motivado por sinais fisiológicos de fome e saciedade (TYLCA, 2006).
“O comer intuitivo (CI) é um estilo de comer adaptativo que promove o bem-estar físico e psicológico, com isso cabe ao indivíduo redescobrir o Comedor Intuitivo que existe dentro de cada um de si (TRIBOLE; RESCH, 2021, p. 23).”
O comedor intuitivo tem muitas vantagens, pois a forma de se relacionar com a comida possibilita emagrecer de forma saudável e a longo prazo. Com isto significa acabar com o efeito sanfona; reaprender a reparar seus sinais de fome; saciedade e apetite; lidar com as emoções que não sejam utilizando a comida; sentir prazer e não culpa ao comer, ou seja, identificar seus pensamentos que não te ajudam no processo de emagrecimento; ter mais energia e prosperar uma saúde mental e corporal (TEIXEIRA, 2017).
A alimentação intuitiva é um estilo de comer que promove uma atitude saudável em relação à comida e à autoimagem. A ideia é fazer com que o indivíduo deva comer quando estiver com fome e parar de comer quando estiver satisfeito (ALMEIDA; RURTADO, 2017).
Confiar em dietas de internet e nos chamados “especialistas” do assunto, pode fazer com que você desconfie do seu corpo e da sua “intuição”. Para comer intuitivamente, você pode precisar reaprender como confiar em seu corpo. E para fazer isso, precisa distinguir entre fome física e fome emocional (PIMENTEL, 2017).
Fome física: Este desejo biológico diz que seu corpo precisa repor nutrientes. Ele se constrói gradualmente e tem sinais diferentes, como um estômago roncando, fadiga ou irritabilidade. A fome física passa quando você come qualquer alimento. (PIMENTEL, 2017).
Fome emocional: É impulsionada pela necessidade emocional, tristeza, solidão e tédio são alguns dos sentimentos que podem criar desejos por alimentos (muitas vezes alimentos considerados não saudáveis). Comum nestes casos, pode provocar sentimento de culpa e raiva. (PIMENTEL, 2017).
Analisar o conceito do comer intuitivo ante à expectativa e realidade dos indivíduos, pois este é direcionado à todas as pessoas que conhecem ou que se propõem a conhecer os sinais sensoriais da sua mente e do seu corpo (TRIBOLE; RESCH, 2021).
Para Dias, (2022, p. 33):
O ato de comer do indivíduo é voltado para a atenção plena, que vai de encontro com outro conceito “mindfulness”, que significa um estado mental capaz de autorregular a atenção para o momento presente, numa atitude aberta, curiosa, ampla e tolerante a tudo que se passa na mente e no ambiente. Praticar a atenção plena permite que tenhamos mais consciência dos nossos pensamentos, sentimentos e ações.
É importante que as pessoas aprendam a identificar sua fome biológica, respeitando suas escolhas alimentares sem julgamento, conhecendo a sua fome, saciedade, vontade e sentindo o prazer que a comida proporciona. A abordagem do CI tem três pilares essenciais, sendo eles: permissão incondicional para comer; comer para atender as necessidades fisiológicas e não emocionais e seguir os sintomas internos de fome e saciedade (TITONI; DALTOÉ; DEMOLINER, 2021).
Um ponto essencial dentro do CI é aprender a sentir saciedade, avaliando os sinais que o corpo proporciona quando está satisfeito, comendo com atenção plena o alimento que está sendo ingerido. Desse modo, é necessário aprender a lidar com as emoções sem fazer uso da comida, principalmente quando se trata de sentimentos negativos, pois o emocional reage de diferentes formas, podendo causar excesso de fome ou escassez. Sendo assim, a alimentação intuitiva é um estilo de comer que promove uma atitude saudável em relação à comida e à autoimagem. Vale ressaltar que o CI não ignora as diretrizes e necessidades nutricionais, mas incentiva que as atitudes tomadas em relação à saúde sejam feitas com o objetivo de honrá-la, trazendo satisfação física e psicossocial nas escolhas saudáveis e, ainda, incentiva a visão da nutrição como um ato social, cultural, afetivo e emocional (TITONI; DALTOÉ; DEMOLINER, 2021).
Tendo em vista esse recente conhecimento, tornou-se necessário o aprofundamento nos estudos do conceito do Comer Intuitivo, criado por Tribole e Resch (2021). Estudou-se os princípios que fundamentam o comer intuitivo e seus resultados aplicados na prática. Comer Intuitivo da teoria à prática: uma revisão sistemática com objetivo de evidenciar o comer intuitivo e o disfuncional.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A Filosofia desde a época de Descartes preocupa-se com o conceito de intuição…intuição seria a apreensão imediata da realidade por coincidência com objetivo. Isso pode ser traduzido como uma forma de conhecimento que penetra o interior do objeto de forma imediata, sem que a pessoa recorra à análise ou tradução do conhecimento (ALVARENGA, ET AL., 2015).
Conforme Alvarenga, et al., (2015, p. 237-238):
O termo intuição vem do latim intuition, da união “in” (em, dentro) e “tuere” (olhar para, guardar); é também, provavelmente, uma inflexão do francês intuition: contemplação, conhecimento imediato, pressentimento que nos permite adivinhar o que é ou deve ser. Intuição é definida, portanto, como capacidade de entender, identificar ou pressupor coisas que não dependem de um conhecimento empírico, ou de conceitos racionais; sem uma avaliação mais específica e auxílio do raciocínio.
O Comer Intuitivo (CI), ou Intuitive Eating, é um conceito criado por duas nutricionistas americanas Evelyn Tribole e Elyse Resch. Trata-se de uma abordagem baseada em evidências que ensinam as pessoas a terem uma relação saudável com a comida e se tornarem conhecedoras dos seus próprios corpos. A proposta é que as pessoas aprendam a confiar na sua habilidade de reconhecer suas sensações físicas e emocionais e desenvolvam uma “sabedoria corporal” para atender suas várias necessidades (ALVARENGA, 2015).
De acordo com Tribole e Resch (2021, p. 237-262), o comer intuitivo é um trabalho interno – trata-se de prestar atenção nas mensagens do corpo através da consciência interoceptiva, no livro “Intuitive Eating” a alimentação intuitiva trata-se de prestar atenção ao próprio corpo e baseia-se em pilares descritos como 10 Princípios:
01- Rejeitar a mentalidade de dieta: Jogue fora os livros de dieta e artigos de revistas que oferecem a falsa esperança de emagrecer de modo rápido, fácil e permanente. Rejeite a cultura da dieta que promove o emagrecimento e perpetua as mentiras que fizeram você se sentir um fracasso sempre que uma dieta parava de funcionar e você recuperava todo o peso perdido. Se ainda restar uma pequena esperança de que apareça uma dieta melhor, você não estará livre para redescobrir o Comer Intuitivo.
02- Respeitar a sua fome: mantenha seu corpo fisiologicamente alimentado com a energia e os nutrientes necessários, senão você pode desencadear um estímulo primário para o comer excessivo. Quando atinge o ápice da fome, todas as intenções de uma alimentação moderada e consciente se tornam efêmeras e irrelevantes. Aprender a respeitar esse primeiro sinal biológico prepara o terreno para a reconstrução da confiança em si mesmo e na comida.
03- Fazer as pazes com a comida: Peça uma trégua e pare de brigar com a comida! Dê a si mesmo permissão incondicional para comer. Dizer que “não pode” ou “não deve” comer determinado alimento pode provocar fortes sensações de privação, que, por sua vez, despertam desejos incontroláveis e eventuais episódios de compulsão. Quando você enfim “se rende” aos seus alimentos proibidos, o ato de comer se dá com tamanha intensidade que em geral leva a excessos como a Última Ceia e a uma culpa avassaladora.
04- Desafiar o policial alimentar: Grite um sonoro “NÃO” para os pensamentos que teimam em dizer que você “fez bem” em ingerir poucas calorias ou que “fez mal” em comer bolo de chocolate. O policial alimentar monitora o cumprimento das regras irracionais criadas pela cultura da dieta. A delegacia fica localizada no fundo da sua mente e seu alto-falante dispara sarcasmos e negatividades, frases de desesperança e acusações com o objetivo de provocar culpa. Expulsar o policial interior é um passo fundamental para a retomada do Comer Intuitivo.
05- Descobrir o fator satisfação: Os japoneses têm a sabedoria de incluir o prazer como um dos objetivos de uma vida saudável. Na ânsia por entendermos a cultura da dieta, muitas vezes ignoramos uma das dádivas fundamentais da existência: o prazer e a satisfação que se pode ter em comer. Quando comemos o que realmente desejamos, e num ambiente convidativo, o prazer desfrutado atua como uma força poderosa no sentido de promover satisfação e contentamento.
06- Sentir a sua saciedade: Para respeitar sua saciedade, você precisa confiar que se permitirá os alimentos que desejar. Preste atenção nos sinais do corpo que avisam que você está ficando com fome e observe aqueles que mostram que você está satisfeito. Faça uma pausa no meio da refeição para perceber o sabor da comida e o nível da sua fome naquele momento.
07- Lidar com as suas emoções com gentileza: Primeiro reconheça que a restrição alimentar, tanto física como mental, pode por si só provocar a perda de controle e isso pode dar a sensação de fome emocional. Descubra formas gentis de se consolar, cuidar, se distrair e de resolver seus problemas. Ansiedade, solidão, tédio e raiva são emoções que todo mundo experimenta ao longo da vida. Cada uma delas tem seu gatilho e seu alívio. A comida não resolve nenhum desses sentimentos. Ela pode trazer conforto a curto prazo, distrair da dor ou até anestesiar, mas não resolverá nada. Um dia você terá que lidar com a origem do problema.
08- Respeitar o seu corpo: Aceite seu modelo genético. Assim como quem calça 38 não considera usar um sapato 36, de nada adianta (e ainda é desagradável) ter uma expectativa semelhante em relação ao tamanho do seu corpo. Acima de tudo, respeite seu corpo para se sentir melhor sobre quem você é. É difícil rejeitar a mentalidade de dieta se você tem uma visão irreal e crítica do formato e do tamanho de seu corpo. Todo corpo merece ser tratado com dignidade.
09- Movimentar-se – sentindo a diferença: Esqueça o exercício raivoso – aquele que só quer expurgar o corpo da gordura. Simplesmente se mexa e sinta a diferença. Mude o foco para a sensação de movimentar o corpo em vez de pensar em queimar calorias. Focar em como se sente ao se exercitar (se tem mais energia, por exemplo) pode ser a diferença entre sair da cama para uma caminhada vigorosa pela manhã e apertar o botão soneca do despertador.
10- Honrar a sua saúde com uma nutrição gentil: Faça escolhas alimentares que respeitem sua saúde e seu paladar e ainda proporcionem bem-estar. Lembre-se que você não precisa ter uma alimentação perfeita para ser saudável. Ninguém desenvolve uma deficiência de nutrientes ou uma doença por causa de um único lanche, uma única refeição ou pelo que comeu em um único dia. É o que você come com regularidade que importa. O que conta é o progresso, não a perfeição.
Como atua a alimentação intuitiva: A alimentação intuitiva é um estilo de comer que promove uma atitude primordial do indivíduo (TRIBOLE; RESCH, 2021).
Ainda, segundo Tribole e Resch (2021, p. 373) “Adotar o comer intuitivo exige compromisso e uma decisão bastante conscientes. Isso significa abandonar velhas maneiras de sobreviver e se abrir para uma nova forma de encarar a vida”.
Quando adota-se o Comer Intuitivo e responde aos sinais inatos de preferências fisiológicas e alimentares, entra em contato com seu corpo, seus pensamentos e seus sentimentos. Em última análise, essa consciência e essa sensibilidade podem se estender para o resto da vida. Sabemos que o CI é um profundo processo de transformação individual, há muito a ser feito em termos sociais e políticos para desmontar os sistemas de opressão sobre todos os corpos (TRIBOLE; RESCH, 2021).
Figura 1 – Imagem da opressão dos corpos
Disponível em: Instagram – @claudimeirerossi. Acesso em: 05 Out. 2022.
Quando adota-se o Comer Intuitivo e responde aos sinais inatos de preferências fisiológicas e alimentares, entra em contato com seu corpo, seus pensamentos e seus sentimentos. Em última análise, essa consciência e essa sensibilidade podem se estender para o resto da vida. Sabemos que o CI é um profundo processo de transformação individual, há muito a ser feito em termos sociais e políticos para desmontar os sistemas de opressão sobre todos os corpos (TRIBOLE; RESCH, 2021).
3. METODOLOGIA
O presente estudo, foi baseado em uma revisão sistemática qualitativa, quantitativa e exploratória, conforme os conceitos a seguir:
A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas sim com o aprofundamento da compreensão a partir de um grupo social, de uma organização etc. Os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa se opõem ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Assim, os pesquisadores baseados em métodos qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida social, uma vez que o pesquisador não pode fazer julgamentos, nem permitir que seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa (GOLDENBERG, 1999, p. 3).
Seguindo ensinamentos de Richardson (1989, p. 7), o método quantitativo caracteriza-se pelo emprego da quantificação, tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento dessas através de técnicas estatísticas, desde as mais simples até as mais complexas. Conforme supra mencionado, ele possui como diferencial a intenção de garantir a precisão dos trabalhos realizados, conduzindo a um resultado com poucas chances de distorções. De uma forma geral, tal como a pesquisa experimental, os estudos de campo quantitativos guiam-se por um modelo de pesquisa onde o pesquisador parte de quadros conceituais de referência tão bem estruturados quanto possível, a partir dos quais formula hipóteses sobre os fenômenos e situações que quer estudar. Uma lista de consequências é então deduzida das hipóteses. A coleta de dados enfatiza números (ou informações conversíveis em números) que permitam verificar a ocorrência ou não das consequências, e daí então a aceitação (ainda que provisória) ou não das hipóteses. Os dados são analisados com apoio da Estatística (inclusive multivariada) ou outras técnicas matemáticas. Também, os tradicionais levantamentos de dados são o exemplo clássico do estudo de campo quantitativo (POPPER, 1972, p. 7).
A pesquisa exploratória é normalmente o passo inicial no processo de pesquisa pela experiência e um auxílio que traz a formulação de hipóteses significativas para posteriores pesquisas. A pesquisa exploratória não requer a elaboração de hipóteses a serem testadas no trabalho, restringindo-se a definir os objetivos e buscar informações sobre determinado assunto e estudo (OLIVEIRA, 2018).
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A prevalência do sobrepeso e da obesidade vem aumentando no mundo em todas as faixas etárias. Além disso, vem atingindo principalmente as mulheres (LIMA; ET AL., 2015). A obesidade pode trazer malefícios para a saúde e para a qualidade de vida, além de contribuir para o desenvolvimento de patologias e condições como câncer, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo 2, osteoartrites, incapacidade para o trabalho e dispneia do sono (SEIDEL; HALBERSTADT, 2015).
Está relacionada, também, ao aumento de custos do serviço público de saúde, principalmente nos casos de obesidade mórbida e quando se leva em conta o custo associado às comorbidades que a acompanham (OLIVEIRA; SANTOS; SILVA, 2015).
Embora dietas com déficit calórico sejam recomendadas no tratamento da obesidade, a maioria dos pacientes recuperam o peso perdido em até 5 anos (ABESO, 2016). Considera-se que o ambiente moderno seja “obesogênico” não apenas pelo fato de dispor de grande oferta de alimentos com alta densidade calórica, mas também por despertar um sentimento de incapacidade dos indivíduos lidarem com tais alimentos sem ser pela ideia de restrição ou de dieta (RIDDER E COLABORADORES, 2014).
Além disso, o estado nutricional pode influenciar na satisfação corporal (AINETT; COSTA; SÁ, 2017), visto que com o aumento do índice de massa corporal (IMC), a insatisfação corporal tende a aumentar (SPOOR; MADANAT, 2016).
Em oposição à estratégia de dietas, foi desenvolvido o comer intuitivo, abordagem que objetiva a reconexão do indivíduo com seu corpo e com os sinais que ele envia. Desta forma, visa a sintonia entre corpo, mente e comida, levando a uma mudança na relação do sujeito com os alimentos. O comer intuitivo envolve esse processo que visa a sintonia entre mente, corpo e comida (TRIBOLE; RESCH, 2012).
Nessa linha, o estímulo ao prazer em comer vem sendo levantado como uma estratégia para estimular escolhas alimentares saudáveis, mostrando-se, inclusive, similar a estratégias tradicionais de educação nutricional, focadas majoritariamente nos benéficos à saúde (TRUDEL GUY E COLABORADORES, 2019).
Ao contrário do pressuposto de que tal motivação levaria a comer irrestritamente, a falta de culpa acerca do prazer em comer pode resultar em maior reflexão acerca dos alimentos desejados e à autonomia nas escolhas alimentares, podendo ser uma estratégia na promoção de hábitos saudáveis, em consonância com uma nutrição gentil (SABATINI E COLABORADORES, 2019).
Adicionalmente, mesmo não sendo parâmetros de avaliação do comportamento alimentar, indivíduos que comem mais intuitivamente tendem a apresentar melhoras na saúde mental, pressão arterial e níveis de colesterol, mesmo sem perda de peso (VAN DYKE E DRINKWATER, 2014).
A literatura traz evidências de que a presença de insatisfação corporal por excesso de peso é associada ao pior hábito alimentar, com maior consumo de alimentos ultraprocessados (OLIVEIRA E COLABORADORES, 2019). Embora não haja dados que suportem uma relação de causa e efeito, tal fato deve ser levado em conta, dado às possíveis repercussões à longo prazo, visto que o consumo elevado de ultraprocessados é associado à maior risco de doenças cardiovasculares, coronarianas e cerebrovasculares (SROUR E COLABORADORES, 2019).
Em todos os estudos a abordagem tradicional de dieta sempre promoveu maior perda de peso, além disso, mantiveram essas perdas pós intervenção (BACON E COLABORADORES, 2005; MENSINGER E COLABORADORES, 2016).
A abordagem da alimentação intuitiva não resulta em perda de peso significativa, mas pode ajudar na manutenção do peso, particularmente em longo prazo, e na melhoria da saúde psicológica (VAN DYKE E DRINKWATER, 2014).
Somente à medida que os indivíduos internalizam um novo conjunto de atitudes e comportamentos, haverá qualquer chance razoável de sucesso a longo prazo da perda de peso (BROWNELL, 1999).
Com base nos achados, 77 publicações em base de dados do Google Acadêmico, no período de Janeiro de 2020 à Agosto de 2022, e 3 livros físicos, perfazendo o total de 80 obras, após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 5 artigos e 3 livros físicos, num total de 8 obras selecionadas para leitura na íntegra, conforme figura 2.
Figura 2 – Fluxograma Resultados Quantitativo Sistêmico
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2022.
Evidencia-se através destes estudos uma prevalência dos indivíduos a se auto boicotam seus sentidos e necessidades corporais, deixando-se sucumbir pelos sentimentos emocionais, causando problemas em sua saúde física, psíquica e emocional, é evidente o quanto há de se aplicar estudos para melhorar e aprimorar o conceito do comer intuitivo, buscando assim, primar sempre pela saúde plena dos indivíduos (JARDIM, 2019).
5. CONCLUSÃO
O comer intuitivo é uma abordagem nova e deve ser visto como um método ainda em fase de experimentação, no qual a ordem em que serão trabalhados os princípios devem ser adaptados para cada indivíduo.
Os indivíduos mudam o comportamento alimentar quando estão preparados, sendo assim o comer intuitivo pode ser contraindicado dependendo da situação e do próprio comportamento alimentar preexistente, mas principalmente em casos de transtornos alimentares.
Ainda, são necessários muitos estudos adicionais para aumentar a amplitude e a profundidade dessas descobertas.
Apesar dos estudos existentes mostrarem que as intervenções de alimentação intuitiva são pouco eficientes em perda de peso em recorrência, a insatisfação corporal, comparado às intervenções convencionais, elas têm o ”potencial” de melhorar desfechos em saúde psíquica. Sugere-se que a alimentação intuitiva suporte vários benefícios para a saúde emocional, que são alcançáveis e sustentáveis a longo prazo, mesmo na ausência de perda de peso (TRIBOLE; RESCH, 2021).
Por fim, cabe ressaltar que as publicações disponíveis ainda são insuficientes em número e não embasados suficientemente em conhecimentos científicos publicados, necessitando de estudos clínicos randomizados (Medicina, Psicologia e Outras Ciências), considerado como uma das ferramentas mais poderosas para a obtenção de evidências para a prática clínica.
REFERÊNCIAS
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JARDIM, Anna Carolina; PEREIRA, Viviane Santos. Metodologia qualitativa: é possível adequar as técnicas de coleta de dados aos contextos vividos em campo. 2009. 47º SOBER CONGRESSO – Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – Universidade Federal de Lavras.
Disponível em: https://cursodegestaoelideranca.paginas.ufsc.br/files/2016/03/Artigo-sobre Pesquisa-Qualitativa.pdf. Acesso em: 08 Out. 2022.
LIMA, Rayanne Silva Vieira; Et al. Relação entre comer intuitivo e insatisfação corporal em pessoas com excesso de peso. RBONE-Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, v. 14, n. 87, p. 661-670, Jul/Ago 2020. ISSN: 1981-9919 (eletrônico). Disponível em: www.ibpefex.com.br – www.rbone.com.br. Acesso em: 08 Out. 2022. OLIVEIRA, 2018 – Conceito de Pesquisa Exploratória. Metodologia Científica. Página inicial. Disponível em: https://www.metodologiacientifica.org/tipos-de-pesquisa/pesquisa-exploratoria. Acesso em: 12 Out. 2022.
RESENDE, Thainá Richelli Oliveira; ET AL. Correlação da insatisfação corporal e o comer intuitivo em jovens universitárias praticantes de exercício físico. RENEF, v. 3, n. 3, p. 51-51, 2020. ISSN: 2526-8007. Disponível em: https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/renef/issue/view/267. Acesso em: 08 Out. 2022.
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1,2Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI – Curso NTR 0321 – Prática do Módulo V – 19/09/2022.