SAÚDE MENTAL DE PROFESSORES E ALUNOS

MENTAL HEALTH OF TEACHERS AND STUDENTS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7561684


Davi Milan1
Rafael Soares Silva2
Evandro de Oliveira Brito3
Rosa Maria Ferreira dos Santos Almeida4
João Batista Lucena5
Adriana de Menezes6
Lucas Ferreira Rodrigues7
Ismael Jung Sanchotene 8
Wagner Charles Soares de Barros9
Douglas Zanella Sbrissa10
Fabíola Pessoa Figueira de Sa11
Edna Maria Silva Oliveira12
Vanessa Santos da Silva13
Cristina Brust14
Gislaine Schon15
Paula Paraguassu Brandão16
Fábio José Antônio da Silva17


RESUMO

Os desfechos adversos da saúde mental da sociedade exigem questionar e repensar o papel tradicional da escola, especialmente o papel do professor frente a essa dimensão crucial do desenvolvimento dos alunos. Esses profissionais colaboram diariamente no progresso dos alunos por meio das práticas dos professores em sala de aula e das relações estabelecidas cotidianamente no contexto educacional. Portanto, essa colaboração deve ir além dos conteúdos e habilidades relacionadas às disciplinas tradicionais incluídas nos currículos das escolas. O objetivo deste trabalho é compreender o papel da escola na saúde mental de alunos e professores, por meio de uma revisão de literatura. Estas estabelecem a relação professor aluno, incluindo estratégias que promovam um clima escolar positivo e detectam possíveis problemas de comunicação dos alunos com a rede correspondente. Para isso, é necessária uma abordagem da escola como uma comunidade que apoia os processos de valorização da saúde mental dos alunos, mas principalmente a inclusão dos processos de formação de professores pré e em serviço. O objetivo primordial é oferecer mais ferramentas que possibilitem o desenvolvimento e intervenção precoce frente a possíveis questões ligadas a esta dimensão.

Palavras-chave: Alunos. Educação; Professores. Saúde Mental.

ABSTRACT

Adverse mental health outcomes in society require questioning and rethinking the traditional role of the school, especially the role of the teacher in this crucial dimension of student development. These professionals collaborate daily in the progress of students through the practices of teachers in the classroom and the relationships established daily in the educational context. Therefore, this collaboration must go beyond the contents and skills related to the traditional subjects included in the schools’ curricula. The objective of this work is to understand the role of the school in the mental health of students and teachers, through a literature review. These establish the teacher-student relationship, including strategies that promote a positive school climate and detect possible communication problems between students and the corresponding network. For this, it is necessary to approach the school as a community that supports the processes of valuing the students’ mental health, but mainly the inclusion of pre and in-service teacher training processes. The primary objective is to offer more tools that enable the development and early intervention in the face of possible issues related to this dimension.

Keywords: Students. Education; Teachers. Mental health.

1. INTRODUÇÃO

Como resultado da globalização em todas as profissões, muitos problemas nasceram que afetaram negativamente a saúde geral dos indivíduos (físicos e mentais) e, consequentemente, diminuiu a produção e a produção associadas às profissões. De alguma forma, na saúde física, as pessoas estão curiosas sobre suas implicações, mas infelizmente a saúde mental e psicológica tem sido colocada em espera. 

O ensino é um campo onde os problemas decorrentes de problemas de saúde mental dos professores germinaram há muito tempo, mas não ainda visto através das lentes da pesquisa por suas implicações negativas que tem lançado no processo de ensino e aprendizagem da escola. Devido a isso, dia a dia estamos negociando com alguns slogans onde questões advindas desse campo negligenciado (saúde mental) estão chegando à superfície (as crianças chegam aos pais com queixas como se o professor conhecesse a matéria, mas não ensinasse direito, não gosta mais de seus alunos; a aprendizagem não é mais agradável, mas um processo totalmente chato; ele é distraído e assim por diante) e precisa de nossa atenção imediata. 

A docência é um campo onde este campo negligenciado não tem tido o devido espaço, professores que estão atuando como os principais pilares, não vêm com os padrões esperados desejáveis para a comunidade docente e discente. Um professor tem que ser mentalmente sadio que o torne capaz de criar uma espécie de clima dentro da sala de aula onde o aluno não deve se sentir inseguros ou algo torturante, em vez disso, devem aproveitar todas as transações que ocorrem na forma de diferentes ensinar atividades de aprendizagem com alegria e amor. Assim, quando tal atmosfera é criada na escola com a ajuda de professores em termos de boa saúde mental, desempenho dos alunos em termos de boas notas acadêmicas, menos absenteísmo, problemas de disciplina, o acúmulo de turmas por alunos não pode vir à tona.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (1948), a saúde mental é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou uniformidade. Novamente em (2004) a OMS considerou que a saúde mental é um estado de bem-estar em que o indivíduo realiza suas próprias habilidades e pode lidar com o estresse normal da vida, pode trabalhar produtivamente e frutificar plenamente e ser capaz de contribuir para a sua comunidade. 

No relatório do Surgeon General (1999) a saúde mental é um estado de desempenho bem-sucedido da função mental resultando em atividades produtivas, relacionamentos satisfatórios com outras pessoas e capacidade de adotar a mudança e lidar com a adversidade.  Os desfechos adversos da saúde mental da sociedade exigem questionar e repensar o papel tradicional da escola, especialmente o papel do professor frente a essa dimensão crucial do desenvolvimento dos alunos. 

Esses profissionais colaboram diariamente no progresso dos alunos por meio das práticas dos professores em sala de aula e das relações estabelecidas cotidianamente no contexto educacional. Portanto, essa colaboração deve ir além dos conteúdos e habilidades relacionadas às disciplinas tradicionais incluídas nos currículos das escolas. O objetivo deste artigo é compreender o papel da escola na saúde mental de alunos e professores, por meio de uma revisão de literatura.

UMA NOVA VISÃO DO PAPEL DAS ESCOLAS: O FOCO NA SAÚDE MENTAL DOS ALUNOS

No passado, as escolas visavam o desenvolvimento de competências relacionadas ao campo acadêmico e cognitivo (SULDO; FRIEDERICH; MICHALOWSKY, 2010), oferecendo uma abordagem baseada em uma visão estreita do desenvolvimento humano, onde as expectativas nos alunos e o papel da escola estavam focados apenas no futuro das crianças imersas no mundo do trabalho. No que diz respeito ao bem-estar mental e à saúde mental, haveria um desinteresse em primeira instância, o que poderia ter levado a dificuldade em definir um quadro de habilidades necessárias para ajudar o desenvolvimento humano como um “bom ser humano” (MORRIS, 2015).

A partir de uma abordagem que considera as crianças como seres humanos integrais e multidimensionais, as questões de saúde mental e bem-estar entre os jovens são elementos essenciais do desenvolvimento. Isso afeta a vida de meninos e meninas e suas famílias e outros ambientes onde eles participam regularmente, como instituições educacionais. Portanto, alunos com baixos níveis de saúde mental ou bem-estar podem experimentar dificuldades que podem levar a comportamentos problemáticos e resultados insatisfatórios (WEIST, 2003; FEINSTEIN, 2015). Os alunos também intervêm na dinâmica escolar com problemas no campo emocional devido à construção baseada nas interações sociais entre professores e alunos e entre colegas (WEIST, 2003).

Suas relações sociais também podem perturbar o clima escolar e todo o processo de aula (VIEIRA et al.,2014). Nos últimos anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em colaboração com a UNESCO, tem chamado a atenção para a saúde de crianças e adolescentes, abrangendo a dimensão física e a saúde mental e bem-estar a ela associados (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018) .

Como solução para as taxas crescentes mencionadas acima, Feinstein (2015) destaca a educação emocional como um processo onde toda a comunidade pode ajudar a prevenir os altos níveis de problemas mentais entre os jovens. Essa ideia pode levar a benefícios vistos em ambientes como suas famílias, amigos e escolas. Esta proposta poderá ser apoiada pela iniciativa da Organização Mundial de Saúde de potenciar a promoção da saúde mental junto dos mais jovens nos contextos educativos onde as crianças e os adolescentes costumam interagir (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018).

Atualmente, a referida instituição está focada na promoção de práticas saudáveis entre a população mais jovem, sustentando a ideia de que as intervenções precoces em crianças e adolescentes são mais eficazes na redução da exposição a elementos de risco para o desenvolvimento e uma vida futura saudável (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2016). Mais especificamente, hoje é geralmente aceito que muitos problemas de saúde mental que começaram nos primeiros estágios da vida perduram ao longo dos anos ou surgem tardiamente durante a vida adulta (VIEIRA et al., 2014).

Nas primeiras décadas do século XXI, as escolas foram identificadas com um papel crítico na promoção e proteção do bem-estar e da saúde mental das crianças. As políticas e estratégias públicas focam neles principalmente devido às altas taxas de alunos que frequentam, o longo período que passam lá ao longo do dia e do ano e a relação de suas famílias com a instituição (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018). Além disso, as escolas podem se conectar com outros profissionais, organizações e instituições relacionadas à saúde mental dos alunos (MOOR et al., 2007).

Essa transformação do papel tradicional da educação e das instituições relacionadas a esse campo faz o convite para abrir a questão proposta por White (2007) sobre a função atual da escola. Com esse novo quadro, o papel atual pode estar se voltando para integrar outras esferas do desenvolvimento humano.

Para Atkins et al. (2010), para atingir esse novo objetivo, os esforços devem ser direcionados à integração da educação e saúde mental; um dos principais objetivos das escolas deve ser a promoção de níveis adequados de saúde mental nos alunos. Outros autores chegam a propor a importância de incorporar a felicidade dos alunos como uma das principais conquistas nas escolas (WHITE, 2007). A valorização da importância do bem-estar e da saúde mental nas escolas poderá beneficiar da “maximização do florescimento dos alunos e funcionários que as integram” (MORRIS, 2015, p. 14).

A transição para um quadro mais integrado na educação necessitaria de mudanças na estrutura do sistema educacional. É preciso conduzir parte da atenção para potencializar as práticas nas escolas com foco na promoção do bem-estar entre os alunos e no apoio aos portadores de necessidades especiais nessa área, considerando não apenas a inclusão dos alunos nesse processo, mas também seus pais (ATKINS et al., 2010). Esse enfoque pode potencializar uma abordagem sistêmica, onde o aluno não é o único envolvido na problemática, mas parte de uma comunidade que promove seu bem-estar e apoio.

Para a Organização Mundial da Saúde (2018), a importância da escola como papel crítico na promoção da saúde está ligada a dois fatores principais: o primeiro, a possibilidade de as crianças estarem em um ambiente saudável dentro das escolas, e o segundo, o desenvolvimento de habilidades para promover práticas saudáveis na vida dos alunos. Segundo esta organização, ambos os aspectos são comprovados para garantir uma vida futura que conduza os alunos ao bem-estar mental.

Com a concordância da importância da presença de objetivos nas escolas relacionados à promoção da saúde mental e bem-estar dos alunos, diferentes abordagens têm estudado as melhores formas de incorporar estratégias dentro das instituições de ensino (ATKINS et al., 2010). 

Assim, muitos programas escolares foram criados para melhorar essas “habilidades alternativas” que poderiam fortalecer o bem-estar mental dos mais jovens (WEIST, 2003).  Segundo os autores, toda a comunidade e as práticas educativas devem ser incorporadas no desenvolvimento de um espaço de promoção do bem-estar, incluindo “a qualidade das relações com pais, alunos e órgãos da comunidade; o ethos escolar e a natureza das políticas escolares ” (WYN et al. 2000, p. 595).

Abordagens que consideram a escola como uma comunidade sustentam a ideia de práticas relacionadas ao bem-estar introduzidas em todo o processo escolar, uma vez que todos os atores têm um papel ativo na criação de um ambiente voltado para a saúde mental (WYN et al., 2000). O acento no trabalho colaborativo é essencial, principalmente quando se fala em bem-estar mental, pois para Splett et al. (2013), uma abordagem interdisciplinar é mais substancial e mais completa quando se pensa em todo o processo de valorização dos alunos ‘ bem-estar mental.

Além disso, os programas de saúde mental focados nas escolas visam a maior parte de seus esforços para melhorar as habilidades que permitem às crianças fortalecer seu estado de saúde mental em vez de enfatizar os problemas, como as intervenções tradicionais têm feito (WEIST, 2003).

A maioria das iniciativas propostas para incorporar intervenções de saúde mental dentro das escolas, além de considerar essas instituições como comunidades, leva em conta a importância desses processos serem realizados por atores pertencentes às escolas como condição para o sucesso (WEIST, 2003). Seguindo essa ideia, Weist (2003) afirma a importância de reconhecer os atores cruciais responsáveis pela implementação das reformas para introduzir a melhoria do bem-estar dos alunos nas escolas. Ele afirma que “os agentes de mudança mais óbvios nas escolas são os professores, pois eles controlam o ambiente de primeira importância para o aprendizado das crianças, as salas de aula” (ATKINS et al., 2008).

O PAPEL DOS PROFESSORES NA SAÚDE MENTAL DOS ALUNOS

Para alcançar a nova abordagem da educação apoiando o bem-estar e a esfera da saúde mental, as escolas tiveram que repensar as formas de trabalho e o papel dos profissionais que enfrentam este novo objetivo com os alunos, e os métodos para criar uma comunidade. Assim, mesmo quando a importância dos professores sempre foi central na educação, hoje em dia também deve ser explorada as necessidades de seus alunos em campos alternativos.

De acordo com Moor et al. (2007), uma das características que tornam o papel do professor tão crucial é o contato diário com seus alunos, diferentemente de outros profissionais. Além disso, embora a relação entre alunos e professores seja a mais óbvia e possa ser percebida de imediato, esses profissionais costumam interagir com seus pais que auxiliam em suas aulas. Esse fato lhes dá a possibilidade de entregar e receber em primeira mão informações sobre diferentes aspectos dos alunos, como seu bem-estar e saúde mental.

Além da relação que os professores podem desenvolver, eles sempre estiveram ligados à sua principal função: ensinar. Este é um dado importante quando falamos de novos horizontes nos objetivos das escolas e como eles podem ser incorporados à vida dos alunos nas instituições de ensino. Além disso, os professores passam um tempo considerável com os alunos em suas salas de aula, onde têm a possibilidade de visualizar o desenvolvimento das crianças no dia a dia. Assim, ao repensarmos o papel da escola no bem-estar mental de crianças e jovens, é fundamental repensar o papel, as consequências e as possibilidades que os professores oferecem para apoiar seus alunos no que diz respeito às questões acadêmicas.

A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO

A interação cotidiana entre alunos e professores têm um poder incomensurável: eles podem estabelecer uma relação entre professor e alunos que pode desempenhar um papel vital no desenvolvimento da saúde mental dos alunos. Nas últimas décadas, pesquisadores vêm estudando como esse vínculo pode afetar a vida dos alunos, não apenas em seus aprendizados, mas ampliando os efeitos estudados para o desenvolvimento das crianças em outras áreas (SABOL; PIANTA, 2012).

Sabol e Pianta (2012) estudaram diferentes abordagens utilizadas para analisar a relação professor-aluno. A teoria dos sistemas desenvolvimentais propõe os atores educacionais como diferentes elementos que se inter-relacionam na proximidade e se impactam: as crianças fariam parte de um grupo dinâmico de sistemas, o que permite a interação com outros componentes desses sistemas. Essas interações influenciam as crianças em diferentes níveis, dependendo de sua proximidade. Portanto, professores e crianças se impactam pelo nível proximal e, por meio da relação cotidiana, se desenvolvem na escola (PIANTA; HAMRE; STUHLMAN, 2003).

As últimas tendências de pesquisa sobre a relação professor-aluno incluíram em seus quadros a abordagem da teoria do apego, originalmente orientada para o estudo da relação entre crianças e seus pais ou, caso contrário, seus cuidadores principais. Isso pode ser um exemplo da relevância que a relação professor-aluno está ganhando no campo educacional.

Seguindo essa tendência, Howes (2001) analisou a relação professor-aluno com base em duas teorias: uma versão adaptada do apego à relação professor-aluno e a teoria do contexto social, constatando que, mesmo partindo de uma relação de apego não segura com seus pais, os alunos poderiam construir um vínculo seguro com os professores nos primeiros anos (HOWES, 2001, p.193).

Com a constante interação no ambiente educacional, os professores podem até assumir o papel de “outro significativo” para seus alunos (MORRIS, 2015). Essa relação pode se tornar ainda mais estreita quando os alunos estão em meio a problemas que preocupam suas famílias, principalmente os pais descuidados: os alunos podem buscar apoio em atores alternativos (LEAVEY, ROTHI & PAUL, 2010).

Uma das consequências necessárias do estabelecimento dessa relação positiva entre o professor e o aluno é seu impacto no bem-estar mental dos alunos. Alguns autores afirmam que essa relação impacta diretamente na saúde mental do aluno quando o apoio é sua principal característica (HAMRE & PIANTA, 2001). Essa “nova vinculação” proporcionada pelo professor pode oferecer outros ganhos ligados à melhoria do processo de aprendizagem e dos resultados das crianças e suas habilidades sociais, relacionamento com os pares e até na melhoria de desempenhos disruptivos (PIANTA; STUHLMAN, 2004). 

Outros efeitos positivos desse vínculo podem ser um declínio nos níveis de agressividade dos alunos (HUGHES et al., 2000). A relação como fator protetor para crianças em ambientes desafiadores, mostrando resultados promissores em pesquisas envolvendo ambientes agressivos, pais negligentes, discriminação racial, entre outras questões (SABOL & PIANTA, 2012).

A PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL NA SALA DE AULA

Tradicionalmente, o papel do professor tem sido o de “entregar” aos alunos conteúdos sobre diferentes disciplinas que possam aprimorar suas habilidades acadêmicas no que diz respeito ao ingresso no sistema de trabalho. Ultimamente, a prática tem sido introduzida nas escolas para reforçar os aprendizados em uma combinação de teoria e prática. Para Morris (2015), o ensino de práticas de bem-estar mental nas escolas deve ter um processo semelhante:

deveríamos ensinar aos alunos como estar bem, como fazer o bem-estar (…) a gente tem que fazer com que os alunos experimentem. Ao ensinar sobre os benefícios do exercício, os professores precisam fazer com que os alunos se exercitem para ver esses benefícios por si mesmos. Suponha que alguém esteja ensinando habilidades cognitivas (como aquelas sobre resiliência). Nesse caso, o professor tem que fazer com que os alunos as pratiquem e as apliquem em situações da vida real: não adianta só falar ou entregar uma ficha de trabalho (p. 14).

Nas escolas, criar espaços e práticas para melhorar o bem-estar dos alunos é uma das funções cruciais dos professores, fazendo um trabalho colaborativo com a comunidade escolar no planejamento da abordagem desta disciplina (WYN et al., 2000). Assim, promover o bem-estar mental dos alunos em sala de aula estaria relacionado à criação e manutenção de um clima de sala de aula positivo.

A DETECÇÃO DE PROBLEMAS DE SAÚDE MENTAL

Dentre todas as novas possibilidades que se abrem com a nova perspectiva proposta, “a utilização da escola como plataforma de conscientização, facilitação da detecção precoce e encaminhamento de casos para atenção à saúde mental tem se destacado como uma alternativa promissora” (VIEIRA et al., 2014, pág. 2).

Os professores podem estar entre as primeiras pessoas a ouvir o chamado de alarme dos alunos com problemas que afetam o seu bem-estar e até identificar alguns dos sinais que enviam, e que por vezes podem ser ignorados em casa. Para Vieira et al. (2014), isso pode acontecer porque a escola é um dos principais lugares onde os alunos podem expressar suas lutas relacionadas ao seu estado de saúde mental, e isso torna os professores testemunhas privilegiadas devido ao seu contato em sala de aula.

Comportamentos indisciplinados no clima da sala de aula, problemas na esfera social entre alunos com problemas de saúde mental e seus pares, e dificuldades ou mudanças radicais em seus resultados acadêmicos podem indicar problemas no bem-estar mental dos alunos (ROTHI et al., 2008). A convivência cotidiana poderia, por exemplo, permitir que os professores reconheçam sinais de problemas de saúde mental como a depressão devido a sintomas que podem se manifestar no ambiente educacional e que podem ser atribuídos a características relacionadas às mudanças que surgem durante a adolescência.

Devido à relação que os professores podem estabelecer com os pais através da educação dos seus filhos, os pais também veem os professores como um recurso para procurar apoio ou aconselhamento quando têm dúvidas sobre o bem-estar mental dos seus filhos. Assim, o papel do professor é fundamental como primeira porta dos alunos na identificação de sintomas específicos para receber atenção profissional na esfera da saúde mental. Podem impedir a exposição dos alunos a situações perigosas ou apoiá-los na obtenção de ajuda para evitar um possível colapso mental.

Com a premissa de Weist (2003) de escolas como comunidades dentro de comunidades mais proeminentes, o contato de escolas e organizações ou profissionais que atuam na intervenção em saúde mental permite que os professores se tornem uma ponte entre as instituições de ensino e de saúde. Com isso, a visualização de problemas de saúde mental ganha espaço para questões relacionadas diretamente a questões de desempenho acadêmico:

Há evidências de que jovens que apresentam transtornos “internalizantes” como depressão, ansiedade e trauma, problemas interpessoais e problemas de desenvolvimento podem ser encaminhados para serviços com menos frequência. Em contraste, os alunos que apresentam comportamentos de atuação, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade ou problemas acadêmicos óbvios são mais propensos a serem encaminhados (SPLET et al., 2013, p.250).

Portanto, para Vieira et al. (2014), é essencial aprimorar as habilidades dos professores para ajudá-los a identificar entre seus alunos cujo bem-estar mental pode estar apresentando dificuldades e gerar vínculos da comunidade para uma intervenção prática com profissionais de saúde mental. Essa terceira proposta para o papel do professor pode ser a mais polêmica de todas as apresentadas devido à relutância dos profissionais da área educacional em “rotular” os alunos por se reconhecerem como profissionais da educação e não da saúde mental. Os professores podem não ter as competências para apontar a chave do problema que o aluno pode estar apresentando. Além disso, outros professores podem ser contra a inclusão de questões de saúde mental entre suas tarefas (MORRIS, 2015). 

No entanto, essa proposição não pretende transformar os professores em profissionais de saúde mental, mas ferramentas que os ajudem a captar algumas pistas sobre o bem-estar de seus alunos.

Alguns autores também mencionam o viés dos professores em fazer encaminhamentos alusivos a problemas de saúde mental focando apenas suas preocupações com os resultados acadêmicos das crianças (VIEIRA et al., 2014), sem dar atenção a outras esferas que normalmente poderiam estar funcionando. Isso pode levar a uma extrema terceirização da responsabilidade ao relacionar as causas do insucesso dos alunos a dificuldades inexistentes relacionadas ao seu bem estar mental.

Por fim, mesmo considerando a importância da participação dos professores na detecção de alunos com dificuldades relacionadas ao bem-estar mental, outro motivo para se opor a essa nova função pode estar associada às possíveis falhas na implementação de estratégias em sala de aula. Estão relacionados com a falta de domínio dos professores quando se fala em bem-estar mental e saúde mental (SEVERSON, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A saúde mental e o bem-estar dos alunos é uma questão que vem sendo incorporada na educação nas últimas décadas para entrar no cotidiano das crianças como objeto de estudo e prática. Como comunidade, as escolas devem trabalhar para promover práticas associadas à prevenção de problemas nessa esfera. Devido ao tempo gasto com os alunos, o papel do professor torna-se crucial para atingir esse objetivo.

Este trabalho propôs a contribuição que os professores podem dar ao bem-estar mental de seus alunos, incorporando novas tarefas ao seu cotidiano. Mesmo quando as possibilidades de ação são ilimitadas, este artigo se concentrou em três contribuições principais.

A primeira contribuição pode ser feita através da relação que professores e alunos desenvolvem, uma vez que os professores podem gerar um vínculo seguro com as crianças – a segunda fala sobre a promoção de práticas saudáveis nos alunos em suas escolas e salas de aula cotidianas. A terceira é a possibilidade de os professores serem observadores de sinais que possam conversar com eles sobre questões de saúde mental que seus alunos possam estar experimentando.

Para cumprir esses três novos requisitos, é imprescindível a formação de professores em saúde mental e bem-estar, considerando o possível desconhecimento desses assuntos. As autoridades percebem essa dificuldade em campo, mas também existe a crença entre os professores de falta de habilidades para se tornarem atores capazes de apoiar seus alunos na promoção e prevenção de aspectos que possam afetar seu bem-estar mental.

No entanto, é fundamental atentar para as possíveis barreiras que podem dificultar o desenvolvimento e a implementação da formação e das práticas docentes relacionadas à saúde mental de seus alunos, como a falta de tempo e a postura dos docentes diante desse novo foco na educação. 

REFERÊNCIAS

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1Professor mediador da Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo); professor de educação básica na rede de ensino em Quintana-SP; pesquisador na Unesp – Campus – Marília – SP.
2Pós-Doutor em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares (UFRRJ); Pós-Doutor em Química pelo IQSC-USP
3Mestrado Profissional em Recursos Hídricos – UFPA; Doutorando em Engenharia e Tecnologia Ambiental – UFPR
4Pós Graduação em Psicopedagogia Clínica e Educacional
5Mestrando em Educação – Instituto Federal do Rio Grande do Norte/RN
6Especialização em Psicopedagogia – Universidade Federal Fluminense – Niterói – RJ
7Mestrando em docência em educação em Ciência e Matemática – UFPA
8Doutorando em Ensino em Ciências pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) Instituição: Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)
9Mestrado em Filosofia – Universidade Federal de Tocantins – (UFT)
10Mestre em Diversidade Cultural e Inclusão social – FEEVALE- Novo Hamburgo
11Mestre em Ciências Ensino de Ciências Professora Auxiliar IIUniversidade Estácio de Sá (UNESA) Campus Centro I – Presidente Vargas
12 Doutoranda em avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco (USF) – Especialista em Avaliação Psicológica Instituição: Universidade Federal do Amapá
13Doutoranda em enfermagem e Biotecnologia pela UNIRIO
14Mestrado em Ciências do Movimento Humano – Universidade de santa Catarina-UDESC e doutoranda – Universidade de santa Catarina-UDESC
15Mestrado em Ciências da Educação Especialista em Alfabetização e Letramento
16Programa de Pós-graduação em Enfermagem e Biociências – PPGEnfBio pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) Instituição: Universidade Estácio de Sá (UNESA)
17Doutorado em Educação Física Instituição: Universidade Norte do Paraná