CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA EM ALUNOS DISLÉXICOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7539077


Joana Josiane Andriotte Oliveira Lima Nyland1
 Pammera Morais Siqueira2
Davi Milan3
 João Batista Lucena4
 Fabiano Rodrigues Marques5
Rejane Bonadimann Minuzzi6
 Ismael Jung Sanchotene7
Rafael dos Santos8
Vinicius da Silva Freitas9
 Regina Lucia Napolitano Felício10
Adriana de Menezes11
Valdimiro da Rocha Neto12


RESUMO

O presente artigo pretende conceituar ao leitor a contribuição da neurociência em alunos que apresentam o distúrbio da dislexia, bem como, as causas, diagnóstico, avaliação e tratamento. Como resultado dessa pesquisa, observa-se que a dislexia não é uma doença e sim ocorre uma desordem no caminho das informações comprometendo a leitura e a escrita. Portanto, para detectar o distúrbio da dislexia, necessita do envolvimento de uma equipe multidisciplinar formada por: neuropsicóloga, fonoaudióloga e psicopedagogo clínico, se necessário a outros especialistas como: neurologista e oftalmologista, conforme o caso. São esses profissionais que devem avaliar o caso antes de qualquer confirmação de dislexia, se avaliado e diagnosticado e comprovado que realmente o indivíduo apresenta o distúrbio, deverá ser encaminhado para o processo de tratamento e medicação. E as contribuições provindas da neurociência são extremamente importantes na área educacional, principalmente em alunos que apresentam os diversos tipos de transtornos, entre estes a dislexia, pois a neurociência colabora no entendimento do cérebro humano para saber como ele funciona e apontam mudanças e a maneira correta de como ensinar os alunos que apresentam esses distúrbios. Este artigo é resultado de pesquisas bibliográficas teóricas e artigos publicados na internet em páginas de fins científicos. A conclusão a que se chega é que a dislexia se caracteriza pela desatenção na leitura e na escrita. As contribuições da neurociência são importantes, para que as equipes multidisciplinares especializadas possam entender o funcionamento do cérebro dos alunos que apresentam o distúrbio da dislexia.

Palavras – chave: Dislexia, Diagnóstico, Tratamento, Contribuição, Neurociência

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo desenvolve-se, por meio de pesquisas sobre as possíveis contribuições da Neurociência em alunos que apresentam o distúrbio da Dislexia, bem como, compreender as causas, como é realizado o processo de diagnóstico e o tratamento no indivíduo que apresenta esse distúrbio.

Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem caracterizada por problema na linguagem receptiva e expressiva, oral ou escrita. As dificuldades podem aparecer na leitura e na escrita, soletração e ortografia, na fala e na compreensão e em matemática. Problemas no processamento visual e auditivo podem aparecer, distinguindo os disléxicos como um grupo que apresenta dificuldades no processamento de linguagem. Isso significa que pessoas disléxicas têm dificuldade em traduzir a linguagem ouvida ou lida para o pensamento, ou o pensamento para a linguagem falada ou escrita. 

Tendo como objetivo geral, apresentar as possíveis contribuições da neurociência, no indivíduo com o distúrbio da dislexia, para que, o mesmo se desenvolva no ambiente escolar e social, no meio que está inserido. Amparados pelos objetivos específicos: Analisar as causas e sintomas; verificar como é realizado o processo de avaliação, diagnóstico, tratamento e qual especialista necessita para o acompanhamento; e identificar a contribuição da neurociência no desenvolvimento e aprendizagem do aluno disléxico.

Umas das maneiras de aprofundar os distúrbios, destacando a dislexia, são as contribuições que os especialistas proporcionam através se suas intervenções, e a neurociência é a área que estuda o cérebro, parte fundamental no desenvolvimento do indivíduo e com os problemas deles decorrentes.

A visão da neurociência vem ganhando espaços nos meios educacionais, despertando o interesse dos profissionais que atuam nesta área e buscam subsídios adequados e adaptados para aplicar nos alunos que apresentam os diversos tipos de transtornos, entre eles a dislexia.

Na procura de respostas para entender, como ocorre a contribuição da neurociência e na busca da compreensão do distúrbio da dislexia, os recursos metodológicos foram: bibliografias teóricas e artigos publicados na internet em páginas de fins científicos.

Quanto antes descobrir o distúrbio da dislexia, melhor será para evitar rótulos depreciativos ao distúrbio, dificuldades com os colegas na escola, dificuldades na leitura e escrita, também problemas de relacionamento seja familiar ou social.

2. DISTÚRBIO DA DISLEXIA

2.1 O que é Dislexia?

 É importante saber que a dislexia não é uma doença, senão um distúrbio genético e neurobiológico que independe da falta de atenção, preguiça ou má alfabetização (SANTOS et al., 2013). O que ocorre é uma desordem no caminho das informações, o que inibe o processo de entendimento das letras e, por sua vez, pode comprometer a escrita. É claro que os sintomas da dislexia variam de acordo com os diferentes graus do transtorno, mas a pessoa tem dificuldade para decodificar as letras do alfabeto e tudo que é relacionado à leitura (SANTOS et al., 2013).

A dislexia é uma síndrome estudada no âmbito da Dislexiologia, um dos ramos da Psicolingüística Educacional. A Dislexiologia, definida como ciência da dislexia, é um termo criado pelo professor Vicente Martins (2002), referindo-se aos estudos e pesquisas, no campo da Psicolingüística, que tratam das dificuldades de aprendizagem relacionadas com a linguagem escrita (dislexia, disgrafia e disortografia). 

A dislexia é de origem neurológica que dificulta a aquisição da leitura, e da escrita, trazendo prejuízos para o desempenho escolar, social, profissional e afetivo do sujeito disléxico. Acomete cerca de 10% da população, mas é possível dar condições ao disléxico para lidar com esta dificuldade (SANTOS et al., 2013). Neste sentido, o objetivo é discorrer sobre alguns aspectos da aprendizagem de leitura e escrita para que profissionais de diferentes áreas que trabalhem com crianças, na educação infantil ou séries iniciais do fundamental possam estar em alertas para possíveis sinais de dificuldade e saibam como tratar esse sujeito (SANTOS et al., 2013). Em primeiro lugar considera-se a linguagem. 

Por ser linguagem de leitura é um sistema simbólico de representação da realidade que pode se expressar por várias modalidades: gestual, oral e escrita. O homem criou códigos para expressar determinados significados: O domínio da escrita é o resultado do desenvolvimento da linguagem oral, que permeia a construção de: gestos significativos, brincadeiras de faz-de-conta, desenho e escrita. 

Vários estudos apontam uma relação significativa entre a dislexia e crianças que apresentaram atraso na aquisição da fala, sendo este, então, apontado como um fator de risco para a primeira. Isto não se dá por acaso. Um dos componentes fundamentais para o desenvolvimento da fala é também apontado, atualmente, como o componente mais afetado na dislexia: A consciência fonológica pode ser definida como a capacidade de se perceber que a fala pode ser decomposta em unidades menores (frases, palavras, sílabas e letras) e que estas unidades podem ser manipuladas para se formarem novas palavras e para se criarem sentidos (CAPOVILLA, 2000, p. 39). 

Dislexia não está associada a uma baixa de inteligência. Na verdade, há uma lacuna inesperada entre habilidade de aprendizagem e o sucesso escolar. As alterações comportamentais e emocionais são consequências do problema, pois a dislexia não é uma doença e sim um funcionamento peculiar do cérebro para o processo da aprendizagem (MARTINS, 2002).

Sob um mesmo prisma, Vallet (1986, p. 63-64) considera “a dislexia uma falta de organização dos símbolos preceptivo-linguísticos, em decorrência de imaturidade ou de disfunção neuropsicológica”. Em seu trabalho, o autor apresenta seis manifestações de comportamento característico da dislexia, resumidas por alguns pesquisadores: desorganização, inversões e “torções” de símbolos; disfunção da memória auditivo/visual sequencial; problemas na padronização rítmica de sons, rimas, palavras e sentenças; dificuldade de atenção focalizada; desordens de organização corporal, coordenação e integração sensorial distorções associadas na cópia, na escrita e no desenho.   

As dislexias podem ser divididas em dois tipos: central e periférica. Na primeira, ocorre o comprometimento do processamento linguístico dos estímulos, ou seja, alterações no processo de conversão da ortografia para fonologia. Na segunda, ocorre o comprometimento do sistema de análise visuo-perceptiva para leitura, havendo prejuízos na compreensão do material lido (SANTOS et al., 2013). Entre as dislexias centrais, ressaltam-se a fonológica, a de superfície e a profunda; já as dislexias periféricas incluem a dislexia atencional, a por negligência e a literal (pura) (SANTOS et al., 2013).

2.2 Causas e Sintomas e da dislexia 

Existem diversos sinais visíveis nos comportamentos e nos cadernos das crianças, que podem auxiliar aos pais e educadores identificar precocemente alguns aspectos de dislexia, sendo frequentes e mais intensos do que o esperado para a idade (MARTINS, 2002).

De acordo com Oliver (2008) alguns sintomas de dislexia podem ser percebidos desde a tenra idade quando ocorre certo atraso no desenvolvimento da linguagem da criança e esta apresenta muita dificuldade em aprender as músicas, versos e histórias, demonstrando esquecimento após ouvi-los. Além disso, há sério comprometimento na coordenação motora também.

As dificuldades básicas do aluno disléxico são: Dificuldade de alfabetização; Leitura sob esforço; Leitura oral entrecortada, com pouca entonação; Tropeços na leitura de palavras longas e não familiares; Adivinhação de palavras; Necessidade do uso do contexto para entender o que está sendo lido (MOUSINHO, 2004, p.7). 

Para Ianhez e Nico (2002) estes são sintomas da dislexia considerados mais evidentes durante toda a carreira pedagógica da criança: omissão, inversão ou confusão de fonemas. Seguem alguns itens importantes de serem observados:

  • Baixo nível de compreensão da linguagem;
  • Lentidão motora e atraso na aquisição de conhecimento do esquema corporal, orientação e sequenciação;
  • Confusão entre letras;
  • Escrita muito irregular;
  • Distúrbio do sono;
  • Enurese noturna;
  • Suscetibilidade a alergias e às infecções;
  • Tendência a hipo atividade motora;
  • Chora muito e parece inquieto;
  • Dificuldade no manuseio de dicionários e mapas;
  • Dificuldade copiar do quadro ou mesmo de livros;
  • Entender o tempo presente, passado e futuro;
  • Não utilização de sinais de pontuação gramaticais;
  • Substituições de letras.

Ao longo da pesquisa vem constando a dislexia como distúrbio e depende de causas intelectuais, culturais, Pode apresentar também alterações emocionais. Essa evidência é dita por Klein (1958, p. 369),

As experiências escolares são as primeiras experiências importantes fora do círculo familiar, envolvendo uma reparação sistemática do lar e onde a criação é confrontada com a necessidade de se ajustar a adultos e crianças estranhos e ao mesmo tempo, deve desempenhar tarefas das quais dificilmente poderá eximir-se. As atitudes com o professor, com os colegas e com o trabalho escolar constituem uma ponte importante entre as atitudes primitivas com os pais, irmãos e consigo próprio e sua expressão posterior na vida adulta.

Vários dessas características das crianças disléxicas podem ser observados no dia a dia escolar. No entanto, é preciso saber diferenciá-la de outros problemas de aprendizagem, para que o encaminhamento do aluno para diagnóstico e a orientação aos pais seja a mais correta possível (MARTINS, 2002).

É na escola que a criança tem oportunidade de mostrar o seu modelo de relacionamento familiar. Ao vivenciar o fracasso escolar as crianças com dificuldades em aprender, que de certa forma apresentam problemas emocionais, desenvolvem situações desagradáveis que podem variar de intensidade de acordo com as condições do ego da criança e a dinâmica familiar (SANTOS et al., 2013).

2.3 Diagnóstico, Avaliação e Tratamento

Após uma análise minuciosa dos sintomas de dislexia, é necessário realizar um diagnóstico. O diagnóstico deve ser feito no período de alfabetização por volta dos 6 ou 7 anos.

Somente um diagnóstico multidisciplinar avaliará com precisão o que está acontecendo com o indivíduo. De acordo com Fox (2009), a dislexia deve ser avaliada por uma equipe multidisciplinar da área da saúde e os professores são considerados parceiros fundamentais. A equipe multidisciplinar analisará o paciente como um todo, detectando ou excluindo todas as possibilidades de dislexia (MARTINS, 2002). 

No período de alfabetização, se o indivíduo apresentar alguns sintomas concernentes ao transtorno de leitura, é necessário encaminhá-lo a um psicopedagogo que é um profissional preparado para realizar uma avaliação mais detalhada junto ao aluno nesta fase escolar (SANTOS et al., 2013).

Após identificar o problema, a criança deve ser avaliada por uma equipe multidisciplinar, formada por neuropsicóloga, fonoaudiologia e psicopedagogia clínica e se, necessário, será encaminhado a outros especialistas como neurologista, oftalmologista e outros, conforme o caso (MARTINS, 2002). Os profissionais envolvidos devem verificar todas as possibilidades antes de qualquer confirmação de dislexia. Nessa perspectiva, de acordo com Oliver (2008, p.68):

“O psicopedagogo avaliará o paciente encaminhando para detectar distúrbios fonoauditivos, que exigirão encaminhamento a um fonoaudiólogo e a um otorrino. Havendo deficiência na visão, poderá ser indicado um oftalmologista. Também, certamente, o psicopedagogo o encaminhará a um neurologista, para que exames sejam realizados”.

Tal avaliação é feita por um especialista em neuropsicologia, e engloba o exame formal das habilidades de linguagem oral, de linguagem escrita (de leitura, de escrita e de matemática), habilidades cognitivas e de funções executivas, a fim de determinar a discrepância entre o que a criança deveria ter alcançado e o que de fato alcançou no processo de alfabetização (MARTINS, 2002). Este exame é feito aplicando-se provas e testes que mensuram tais habilidades a partir de critérios baseados na idade cronológica, mental e no grau de escolaridade (CAPELLINI, 2006).

O fonoaudiólogo também exerce um papel muito importante. A terapia fonoaudiológica pode ajudar as crianças a falarem mais claramente, a perceber e a discriminar os sons das palavras, habilidades que contribuem para desenvolver a compreensão da leitura e encorajar o paciente. O principal trabalho de intervenção na dislexia feito por este profissional é o de consciência fonológica e correspondência grafema-fonema e vice-vice, promovendo a habilidade de discriminação e manipulação dos segmentos da fala (MARTINS, 2002). 

As atividades que um fonoaudiólogo utiliza para promover o desenvolvimento da consciência fonológica trabalham a consciência de palavras, a consciência de rimas e de aliterações, a consciência de sílabas e ainda a consciência de fonemas sempre aumentando gradualmente os níveis de complexidade, do modo que a criança possa se beneficiar ao máximo de cada atividade (CAPOVILLA & CAPOVILLA, 2007).

É importante ressaltar nesse processo, o relato de escola, dos pais e observar o histórico familiar e o desenvolvimento do paciente, pois essa avaliação não só investiga as causas das dificuldades como permite um encaminhamento correto a cada caso, através de um relatório por escrito (CAPOVILLA & CAPOVILLA, 2007).

Dessa maneira, quanto maior o envolvimento dos pais na vida da criança, por meio de uma postura de apoio e de confiança em seus filhos, melhor serão os resultados do tratamento, pois a forma como os pais reagem perante a essa situação poderá agravar ou ajudar a sua recuperação (SANTOS et al., 2013).

Portanto é imprescindível que os pais forneçam ajuda, apoio, compreensão e encorajam seus filhos, mas que tenham paciência também, pois a criança que apresenta dislexia demonstra mais dificuldades em suas tarefas, não as realizando de forma rápida (SANTOS et al., 2013). Assim, é necessário que a criança sinta e perceba que as pessoas a sua volta estão auxiliando-a, transmitindo-lhe mais segurança. Os pais precisam mostrar à criança que estão interessados na sua dificuldade, pois quanto mais ajuda, afeto e compreensão ela receber, mais ela se sentirá capaz para evoluir e superar suas dificuldades (SANTOS, 2013).

Ao diagnosticar a dislexia, o encaminhamento define um tratamento detalhado conforme cada caso, pois o profissional que assume o caso, já saberá o problema e terá acesso a dados importantes sobre o paciente. Na visão de Oliver (2008, p. 68):

“Depois de se obter o resultado de todos os exames necessários, é que será verificado se realmente há dislexia. Havendo, será então estabelecido o melhor tratamento, principalmente adaptado a cada paciente, para que se tenham melhores resultados”.

Compreendendo as causas, as potencialidades e as individualidades do indivíduo, o profissional que estiver acompanhando diretamente o paciente, pode seguir a linha que achar mais conveniente. Os resultados irão aparecer de forma firme e gradativa (CAPOVILLA & CAPOVILLA, 2007).

3. NEUROCIÊNCIA: CÉREBRO HUMANO

3.1 O Estudo da Neurociência

Neurociências é o estudo científico do sistema nervoso, cujo objetivo é investigar o seu funcionamento, sua estrutura, seu desenvolvimento e suas alterações, agregando suas diversas funções. Acrescentam-se ainda na sua definição, as ciências naturais que estudam princípios que descrevem a estrutura e atividades neurais, buscando a compreensão dos fenômenos observados (CAPOVILLA & CAPOVILLA, 2007).                                           

Um dos grandes referenciais da mudança educacional da última década, não traz nenhum nome teórico específico, mas sim está pautado nos avanços neurocientíficos, representados pela palavra “Neurociências”, que conforme Herculano-Houzel (2004), ainda é uma ciência nova tendo em torno de 150 anos, mas que a partir da década de 90 alcançou um maior auge e vem proporcionando mudanças significativas na forma de perceber o funcionamento cerebral.

Estudos recentes vêm sendo realizados nas áreas de Neurociências, a fim de demonstrar como o cérebro aprende, e os resultados quando aplicados no meio educacional são considerados satisfatórios. E uma das contribuições para a educação é que se traz para a sala de aula, juntamente com seus educadores e alunos, as novas descobertas dessa ciência, para serem aplicadas na sala de aula visando à aprendizagem e a maneira de se ensinar (HERCULANO–HOUZEL, 2004).

Em geral, o uso comum do termo cérebro se refere ao encéfalo como um todo. Em rigor, o termo cérebro refere-se aos hemisférios cerebrais e às suas estruturas intra-hemisféricas. Muito se pode aprender a respeito do cérebro. Ele está no centro da aprendizagem e é a parte mais desenvolvida e a mais volumosa do encéfalo (HERCULANO–HOUZEL, 2004). Quando cortado, apresenta duas substâncias distintas: uma branca, que ocupa o centro, e outra cinzenta, que forma o córtex cerebral. O córtex cerebral está dividido em mais de quarenta áreas funcionalmente distintas (cada qual responsável por uma função, como visão, audição, linguagem, coordenação motora, etc…). Nele estão agrupados os neurônios.

O cérebro fabrica uma infinidade de neurônios e sinapses. Apesar do “estoque”, haverá uma seleção daqueles que serão inicialmente utilizados, sendo o restante mantido. Se os estímulos recebidos são positivos, há um fortalecimento seletivo da população de sinapses. Se não houver estímulos, pode haver um enfraquecimento. Os estímulos internos e externos são de fundamental importância para o desenvolvimento do cérebro humano (BARBOSA, 2007, p.65).

Os neurocientistas, fazem diversas classificações para os tipos de neurônios que o cérebro humano possui. Para Presa (2007),

[…] só de neurônios sensoriais (os que processam os cinco sentidos) têm-se cinco tipos, quais sejam: visuais, auditivos, táteis, olfativos e gustativos. Somente entre os neurônios sensoriais visuais têm-se três subtipos, quais sejam: neurônios visuais para cores; neurônios visuais para formas e neurônios visuais para a percepção do movimento dos objetos e das coisas. Percebe-se que nessa linha, encontram-se centenas de tipos de neurônios. (PRESA, 2007, p.27). 

Assim sendo, são muitos os profissionais que estudam o cérebro humano, mas são os neurocientistas que realizam pesquisa em Neurociência. Especialistas como médicos, psicólogos, enfermeiros e, também, educadores e pedagogos têm se interessado quanto às contribuições do sistema nervoso para os processos de aprendizagem.              

3.2 Contribuição da Neurociência para a Educação 

Para a educação, a Neurociência contribui no sentido que, para essa abordagem científica, cada indivíduo é único, com um significado e identidade singular. As neurociências colaboram no entendimento do cérebro humano para saber como ele funciona e apontam mudanças em como ensiná-los (HERCULANO–HOUZEL, 2004).

Estes avanços ocorreram devido à neuroimagem, ou seja, o imageamento do cérebro. As contribuições provindas das neurociências despertam interesse de vários segmentos e entre estes a Educação, no sentido da maior compreensão de como se processa a aprendizagem em cada indivíduo. Principalmente daqueles que apresentam alguns tipos de distúrbios, entre eles a Dislexia (SANTOS et al., 2013).

A neurociência é um tema atual que vem construindo elos entre a neurologia com a pedagogia. A interseção, portanto, entre neurociência e educação é a neuroeducação (OLIVEIRA, 2011), que propõe um espaço em comum e permite concluir que a aprendizagem é consequência da neuroplasticidade:

[…] o cérebro humano não finaliza seu desenvolvimento, mas reestrutura-se, reorganiza-se constantemente; ideias novas sobre a cognição e o desenvolvimento podem dar novas direções para a educação; a neuroeducação é uma proposta que vem crescendo e se constituindo num campo de intersecção entre educação e neurociência (OLIVEIRA, 2011, p. 7). 

Ao professor em formação interessa saber sobre os conhecimentos acerca do desenvolvimento e funcionamento do cérebro. As discussões atuais em relação à Neurociência propõem propriedades para motivar, ensinar e avaliar os alunos de uma forma equivalente ao funcionamento cerebral (BARBOSA, 2007). 

O órgão responsável pela aprendizagem é o cérebro, por isso a educação ganha, nesse momento, uma importância nas discussões da Neurociência, pois as práticas e/ou estratégias pedagógicas utilizadas durante o processo de ensino e aprendizagem influenciam na organização do sistema nervoso, resultando em novos comportamentos e atitudes (OLIVEIRA, 2011). 

Dentro dessa abordagem, procura-se mostrar o que é neurociências, suas contribuições para a área educacional, destacando os alunos que apresentam os distúrbios da dislexia, bem como a contextualização da Neuropedagogia com o processo ensino-aprendizagem (HERCULANO–HOUZEL, 2004).     

O ambiente escolar é propício para o diálogo entre a neurociência e o ensino-aprendizagem, pois é na escola que parte dos conhecimentos são desenvolvidos, e muitos deles iniciaram-se na escola (HERCULANO–HOUZEL, 2004). Esse diálogo é possível porque a neurociência traz esclarecimentos sobre as estruturas cerebrais, os distúrbios e dificuldades de aprendizagem, a cognição, o sistema nervoso, os mecanismos biológicos, as emoções e motivações. 

As intervenções pedagógicas modificam as conexões cerebrais na plasticidade da aprendizagem cognitiva e emocional, ou seja, o cérebro pode ser modificado pelas intervenções pedagógicas, pois sabemos que a aprendizagem é decorrência da neuroplasticidade. Se inseridos no dia a dia, esses estímulos podem resultar no que chamamos de aprendizagem significativa, tornando o processo prazeroso dentro da escola (HERCULANO–HOUZEL, 2004). Ao entender o funcionamento cerebral, será possível acumular saberes para solucionar problemáticas construídas em sala. Tornando o professor o ponto chave para potencializar e/ou aguçar as inteligências dos alunos, levando-os à dúvida e à curiosidade (BARBOSA, 2007).

O crescimento mais acentuado da estrutura cerebral ocorre nos primeiros anos de vida, fase decisiva para um bom desenvolvimento do cérebro, onde se instalam diferentes habilidades imprescindíveis para a aprendizagem escolar (SANTOS et al., 2013). “Prejuízos na estimulação do desenvolvimento nessa idade, por serem de caráter irremediável, promovem empobrecimentos nas aprendizagens futuras, e podem comprometer o desenvolvimento pleno da pessoa, do cidadão, do trabalhador” (MALUF, 2013, p.21).

A Neurociência sendo uma aliada da educação possui fundamentos importantes para as práticas pedagógicas do professor e pode apontar intervenções para o docente em sala de aula. Nesse sentido, o educador deve buscar uma interlocução com a Neurociência em razão da sua contribuição para a atividade de ensino (HERCULANO–HOUZEL, 2004).

E para que haja qualidade na educação deve-se atentar para os estilos de aprendizagem de cada aluno, ou seja, cada aluno possui caminhos que facilitam sua aprendizagem. São situações que envolvem: ambiente, emoções, aspectos sociológicos, físicos e psicológicos, com isto adota uma educação contextualizada que conceitua o aluno como sendo um ser ativo, construtor de seu próprio conhecimento. Para o aluno que apresenta o transtorno da dislexia, a intervenção da neurociência vai contribuir no processo de aprendizagem desse aluno (BARBOSA, 2007).

4. CONCLUSÃO

A dislexia é um transtorno de aprendizagem de alto impacto na vida escolar e acadêmica. Quando não diagnosticado e não realizado um tratamento adequado pode interferir também na vida pessoal e futuramente profissional. Diante disso, o diagnóstico precoce pode auxiliar as práticas interventivas visando à melhoria do desempenho escolar.

Uma intervenção multiprofissional que promova a psicoeducação dos pais, escola e criança, bem como desenvolva habilidades necessárias para superar as dificuldades desse transtorno, tornam-se práticas imprescindíveis para o sucesso em seu tratamento. A escola mostra-se como um ambiente de extrema importância nesse processo, o qual deve refletir sobre sua relação de ensino aprendizagem. Permeando os trabalhos terapêuticos e escolares estão os pais, peças-chaves de uma aliança favorável para a criança.

Sendo assim, pensar em intervenções na dislexia é pensar em uma reestruturação ambiental e profissional capaz de promover pontes para o desenvolvimento de habilidades por meio de métodos, de materiais e de intervenções específicas à realidade de cada aluno.

O estudo acerca da neurociência: cérebro humano, em sua complexidade, é uma tarefa que exige a contribuição dos saberes da área neurocientífica. O cérebro humano é uma estrutura destinada a aprender e a sala de aula é o lugar privilegiado de pesquisa e experiências.

Isso será potencializado quando o professor se apropriar dos conhecimentos neurocientíficos em relação ao cérebro. São necessários momentos que possibilitem a formação docente através de estudos científicos transportados para a prática cotidiana do ensino. Deste modo é possível que se conheça como acontece o processo de aprendizagem e assim se realize um bom planejamento pedagógico com resultado positivo voltado para os alunos que apresentam os diversos tipos de transtornos entre estes a dislexia.

REFERÊNCIAS

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CAPELLINI AS, Padula NAMR, Ciasca SM. Desempenho de escolares com distúrbio específico de leitura em programa de remediação. Pró-Fono Rev Atual Científica. 2006; 16(3): 261-74.

CAPOVILLA, Alessandra G. S.; CAPOVILLA, Fernando C. Alfabetização: método fônico. 4. ed – São Paulo: Memnon, 2007. 

CAPOVILLA, A. & Capovilla, F. Problemas de leitura e escrita. São Paulo, SP: Memnon, 2000.

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IANHEZ. Maria Eugenia e NICO, Maria Ângela. Nem sempre é o que parece: como enfrentar a dislexia e os fracassos escolares. São Paulo: Elsevier, 2002.

HERCULANO–HOUZEL, Suzana. O cérebro nosso de cada dia: descoberta da neurociência sobre a vida cotidiana. Rio de Janeiro: Vieira& Lent, 2004.

KLEIN, M. O desenvolvimento do funcionamento mental. Jornal Internacional de Psicoánalise 1958. Disponível em: www.teses.usp.br. Acessado em 25 dez. 2022. 

MALUF, M. I. Nova dimensão da aprendizagem. Revista Psique. São Paulo, ano VII, edição 91, p. 20-21, jul. 2013.

MARTINS, Vicente. Linguística aplicada às Dificuldades de Aprendizagem relacionadas com a linguagem: dislexia. Disgrafia e disortografia. S.P. Olho”Água. 2002.

MOUSINHO, R. Conhecendo a dislexia. Disponível em: http://www.fonolexus.com.br/artigos/DISLEXIA.pdf.>. Publicado em: abril de 2004. Acessado em 22 dez. 2022.

OLIVEIRA, Gilberto Gonçalves de. Neurociência e os processos educativos: Um saber necessário na formação de professores. 2011. 147 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de Uberaba. Uberaba, 2011.

OLIVER, Lou. Distúrbios de aprendizagem e de comportamento. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2008.

PRESA, Luis Alberto Passos. Apostila de déficit neurológico de aprendizagem. Faculdade Martha Falcão, 2007.

SANTOS, I.J, et al. Dislexia: Uma dificuldade na aprendizagem. Nativa-Revista de ciências sociais do Norte de Mato Grosso. V.1, n.2, 2013.

VALLET, R. E. Dislexia: uma abordagem neuropsicológica para a educação de crianças com graves desordens de leitura. São Paulo: Manole Ltda, 1986.


1Especialização em Neuropsicopedagogia – Universidade de Marília/SP
2Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED/CE
3Especialista em educação e pesquisador – Unesp Campus de Marília/SP
4Mestrando em Educação – Instituto Federal do Rio Grande do Norte/RN
5Licenciatura Plena em Educação Física – Instituto Federal de Educação do Tocantins – IFTO/TO
6Mestrado em Diversidade Cultural e Inclusão Social – FEEVALE/RS
7Doutorando em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde – Universidade Federal do Pampa/RS
8Mestrando em Tecnologias Emergentes em Educação – Miami University of Science and Technology/EUA
9Doutorando em Ciências da Reabilitação – Centro Universitário Augusto Motta/RJ
10Mestrado em Educação – Universidade Estácio de Sá/RJ
11Especialização em Psicopedagogia – Universidade Federal Fluminense/RJ
12Licenciatura Plena em Letras – Universidade Federal do Pará/PA