Dayane Apolinário de Freitas
Fernanda Caetano Macedo Mendes
Fernanda Carvalho Coutinho do Patrocínio
Gleyce Kelly Pereira de Sousa
Priscila Carolinne Carneiro e silva
Renata da Cunha Machado
Trabalho apresentado ao Departamento de Fisioterapia, Nutrição e Enfermagem para fins de avaliação de N-2 da disciplina Fisioterapia em Cardiorespiratória sob orientação da professora Ms. Cristiane Leal de M. S. Ferraz.
Therapy Hygienists Brônquica in Carriers Cystic Fibrosis: review of literature
FREITAS, D.A.; MACHADO, R.C.; MENDES, F.C.M.; PATROCÍNIO, F.C.C.; SILVA, P.C.C.; SOUSA, G.K.P.
RESUMO
A Fibrose Cística (FC) é uma doença sistêmica hereditária causada por uma alteração no braço longo do cromossoma 7, levando a uma disfunção generalizada das glândulas exócrinas causando, com freqüência, doença pulmonar obstrutiva, quadro de má absorção gastro-esofágica e alterações eletrolíticas no suor. Objetivo: Revisão da aplicabilidade da terapia de higiene brônquica em pacientes portadores de Fibrose Cística. Métodos: Foram revisados 15 artigos científicos e 08 livros com temas convergentes para as palavras-chave Fibrose Císticas, fisioterapia, tratamento, flutter. Discussão: A fisioterapia respiratória é parte fundamental no tratamento diário de pacientes com FC, pois auxilia no prognóstico e sobrevida, prevenindo complicações geradas pela doença. Foram descritas várias técnicas como: drenagem postural, drenagem autógena, percussão torácica manual, vibração, tosse, TEF, CAR, AFE, Eltgol, EPAP e flutter, sendo que os objetivos dessas técnicas consistem na remoção de secreção brônquica. Foram analisados estudos comparativos da eficácia do flutter com outras técnicas de higiene brônquica. Considerações Finais: A fisioterapia respiratória facilita a eliminação de secreções pulmonares melhorando a sobrevida e a qualidade de vida destes pacientes, uma vez que a dificuldade de mobilização, transporte e eliminação de secreções brônquicas é um quadro característico de portadores de Fibrose Cística.
Palavras-chave: Fibrose Cística, fisioterapia, tratamento, flutter.
ABSTRACT
The Cystic Fibrosis (CF) is a systemic disease caused by an inherited change in the long arm of chromosome 7, leading to a widespread dysfunction of the glands exocrine causing often obstructive pulmonary disease, malabsorption framework of gastro-esophageal and changes electrolytic in sweat. Goal: Review of the applicability of the bronchial hygiene therapy in patients with Cystic Fibrosis. Methods: have been reviewed 15 scientific articles and 08 books with themes converging for keywords Cystic Fibrosis, physiotherapy, treatment, flutter. Discussion: The respiratory physiotherapy is part of the daily treatment of CF patients, because assists in the prognosis and survival, preventing complications caused by the disease. Various techniques have been described as: postural drainage, drainage autogenous, manual chest percussion, vibration, cough, EFT, CAR, AFE, Eltgol, EPAP and flutter, and the objectives of these techniques are the removal of bronchial secretion. Comparative studies have examined the effectiveness of flutter with other techniques of bronchial hygiene. Conclusions: A respiratory physiotherapy facilitates the removal of pulmonary secretions improving survival and quality of life of these patients, since the difficulty of mobilization, transportation and disposal of secretions brônquicas is a framework characteristic of people with Cystic Fibrosis.
Keywords: Cystic Fibrosis, physiotherapy, treatment, flutter
INTRODUÇÃO
A fibrose cística (FC), anteriormente conhecida como mucoviscidose é um distúrbio genético letal de caráter autossômico recessivo que compromete o funcionamento de praticamente todos os órgãos e sistemas do organismo, afetando principalmente o sistema respiratório e digestivo. Caracteriza-se por alterações da função das glândulas exócrinas, doença pulmonar obstrutiva supurativa crônica progressiva, insuficiência pancreática com má digestão e má absorção, desnutrição secundária, concentração aumentada de cloro e sódio no suor e infertilidade masculina na fase adulta (ROZOV et al., 2006; IRWIN e TECKLIN, 2003; ANDRADE et al., 2001; SECCO, 2004; FERNANDES et al., 2003).
A incidência desta doença é freqüente em todos os grupos de raças caucasianas, em cerca de 1 a cada 2.000 nascidos vivos, e menos freqüente em negros , 1 para 17.000 e raro em asiáticos 1 para 90.000, atingindo igualmente em ambos os sexos (REIS e DAMACENO, 1998). Segundo Secco (2004) 10% dos casos manifestam a doença no nascimento, em geral formas muito grave; 85% a manifestam no transcorrer do primeiro e segundo ano de vida.
A fibrose cística é causada pela mutação de um gene do braço longo do cromossomo 7 que altera a síntese protéica denominada Reguladora de Condutância Transmembrana da Fibrose Cística (RTFC) que é responsável pela secreção de cloro e sódio pelas células epiteliais para a luz brônquica através de transporte ativo. A RTFC anormalmente sintetizada impede a secreção desses eletrólitos espessando as secreções mucosas. Nas glândulas sudoríparas, dificulta a sua absorção elevando a concentração do suor (ANDRADE et al., 2001; FIGUEIRA et al., 2004).
O mecanismo fisiopatológico primário na FC é causado por uma anormalidade no transporte do íon cloro nas células epiteliais através da RTFC que é, na realidade, o próprio canal de cloro. Nas glândulas exócrinas pulmonares o fluxo de cloro alterado gera um ambiente no interior dos canais exócrinos menos hidratado, pois secundariamente o fluxo de água através das células também se altera. As secreções produzidas são viscosas, aderentes e ionicamente diferentes, dificultando o transporte (clearance) mucociliar da via aérea e facilitando a inflamação crônica destas vias e infecções bacterianas, que predispõem ao aprisionamento aéreo e modificam a complacência do sistema respiratório. Com a dilatação e hipertrofia de glândulas produtoras de muco, levando ao acometimento das pequenas vias aéreas, com posterior obstrução bronquiolar, desenvolvimento gradual de bronquiectasias e destruição progressiva do parênquima, com conseqüente redução da capacidade funcional respiratória (ANDRADE et al., 2001; ZANCHET et al., 2006; CAMARGO e QUEIROZ, 2002).
As manifestações clínicas podem ser muito variáveis e ocorre precocemente, ou na vida adulta. O envolvimento pulmonar é a manifestação mais comum e mais grave da FC. Os sinais e sintomas iniciais são taquipnéia, dispnéia, tosse crônica persistente, excesso de produção de escarro mucoso, muitas vezes purulento, esverdeado e de difícil eliminação. Pelo processo obstrutivo que ocorre, podem ser percebidos sibilo ou roncos além de se observar o diâmetro antero-posterior do tórax abaulado, principalmente em lactentes devido a hiperinsuflação. O uso da musculatura acessória na respiração e da retração intercostal, a cianose e o baqueteamento digital também podem estar presentes (REIS e DAMACENO, 1998; SECCO, 2004; GOODMAN e SNYDER, 2002; RIBEIRO, RIBEIRO e RIBEIRO, 2002). Segundo Goodman e Snyder (2002) com o tempo, a fibrose se desenvolve e uma doença pulmonar restritiva é sobreposta á doença obstrutiva. No decorrer do tempo a obstrução pulmonar leva a hipóxia crônica, a hipercapnia e a acidose. As manifestações pulmonares vão de pneumonia recorrente, bronquiectasias (dilatação anormal e irreversível de um brônquio), atelectasia (expansão incompleta dos pulmões), enfisema pulmonar (destruição das estruturas pulmonares), ate o estágio final da doença que é o cor pulmonale (insuficiência ventricular direita) (SECCO, 2004).
As complicações incluem hemoptise recorrente, impactações mucóides brônquicas, empiema, pneumotórax, fibrose pulmonar, osteoartropatia hipertrófica e shunt pulmonar (RIBEIRO, RIBEIRO e RIBEIRO, 2002).
Estudos têm relatado que pacientes com FC apresentam diminuição da força muscular, o que pode contribuir para a fadiga durante o exercício e atividades diárias. Além da diminuição de massa muscular e depleção nutricional, o declínio da função pulmonar também pode acentuar a intolerância ao exercício (ZIEGLER et al., 2007).
Existem também manifestações não pulmonares que se caracterizam pela anormalidade eletrolítica do suor onde as glândulas sudoríparas secretam suor muito salgado que, em certas crianças, deposita-se na testa sob a forma de cristais de sal. Algumas vezes essa anormalidade é evidenciada pelo sabor salgado percebido pelos pais ao beijarem a criança. As glândulas salivares podem aumentar de volume e secretar saliva mais espessa, com concentração iônica mais elevada. Os pacientes usualmente apresentam má digestão e má absorção, que se tornam clinicamente aparentes após ter sido destruído aproximadamente 90% do pâncreas exócrino. Pode causar diarréia crônica, com fezes volumosas, gordurosas, pálidas de odor característico levando à desnutrição calórica protéica (RODRIGUE e PEREIRA, 2006; SECCO, 2004; RIBEIRO, RIBEIRO e RIBEIRO, 2002).
Usualmente a FC é diagnosticada na infância. Cerca de apenas 8% dos casos são diagnosticados após os 10 anos de idade (LEMOS et al., 2004). Segundo Dornelas et al. (2000) o diagnóstico clínico de FC deve ser cogitado diante dos seguintes elementos : 1) presença de FC na irmandade ou em parentes ou referência de um óbito inexplicável na família com quadro clínico compatível com FC; 2) presença de ílio meconial ; 3) infecções respiratórias de repetição; 4) a ocorrência de doença pulmonar obstrutiva crônica não relacionada ao tabagismo; 5) diarréia crônica; 6) déficit pôndero-estatural; 7) edema e anemia. O que realmente firma o diagnóstico é o teste do cloro no suor com aumento da excreção de cloro e/ou sódio no suor que ocorre devido a uma falha de reabsorção desses minerais pelas células dos ductos das glândulas sudoríparas (DORNELAS et al., 2000; FARBER e RUBIN, 2002).
Segundo Reis e Damaceno ( 1998) o resultado de um teste de suor com a concentração de cloro acima de 60 mmlo/L, até prova em contrário, é considerado como diagnóstico de FC, porem esse exame deve ser interpretado adequadamente no contexto da idade do paciente, do quadro clínico apresentado pelo paciente e da experiência do médico em diagnosticar FC.
A avaliação laboratorial é feita cultura de escarro para detectar bactérias; por radiografias para achados de hiperinsuflação, por tomografia computadorizada que revela alterações de bronquiectasia e pela espirometria que mostra taxas reduzidas de fluxo aéreo incluindo um volume expiratório forçado diminuído no primeiro segundo (VEF1), relação VEF1/capacidade vital forçada (CVF) diminuída e fluxo máximo no meio da expiração (FMME) diminuído. A relação entre volume residual e a capacidade pulmonar total frequentemente está aumentado (GOLDMAN e AUSIELLO, 2005). Camargo e Queiroz (2002) afirmam que a avaliação da função pulmonar é obrigatória nessa doença com finalidade de avaliar a intensidade do envolvimento pulmonar e devem ser realizadas pelo menos uma vez ao ano.
A Organização Mundial da Saúde recomenda as seguintes ações nos países em desenvolvimento: triagem neonatal para determinar a incidência e identificar os recém-nascidos afetados; implementação dos laboratórios para identificar as mutações da FC; desenvolvimentos de centros de diagnósticos e tratamento com equipe multidisciplinar; estabelecimento de uma organização nacional envolvendo familiares, amigos dos fibricísticos e outros voluntários; estabelecimento de um registro nacional; divulgação sobre esta condição para profissionais da saúde, autoridades públicas e população geral; e aumento da colaboração entre os grupos e outras organizações (incluindo a indústria farmacêutica) (ALVAREZ et al., 2004).
Várias manifestações clínicas e doenças devem ser lembradas no diagnóstico diferencial de FC, tais como: insuficiência pancreática, pancreatite, refluxo gastro-esofágico, diarréia crônica, esteatorréia, ascíte, fibrose, cirrose, colecistite, colelitíase, colestase (RIBEIRO, RIBEIRO e RIBEIRO, 2002).
A profilaxia para o controle das manifestações respiratórias da FC é feita através do estabelecimento de um programa de fisioterapia respiratória que ajuda no tratamento dos pacientes com excesso de secreções brônquicas, tolerância reduzida ao exercício, falta de ar, inflexibilidade da parede torácica, e dor de origem músculo esquelética (SECCO, 2004; PRYOR e WEBBER, 2002). O tratamento deve ser individualizado, com ênfase nos aspectos clínicos e gravidade de cada caso contando com uma abordagem multidisciplinar, com apoio de equipe multiprofissional (RODRIGUES e PEREIRA, 2006).
Os objetivos gerais do tratamento da FC são: educação continuada do paciente e dos familiares em relação à doença; profilaxia das infecções com um programa vacinal completo; detecção precoce e controle da infecção pulmonar; fisioterapia respiratória e melhora na obstrução brônquica; correção da insuficiência pancreática; apoio nutricional, com orientações em relação à dieta e suplementação de vitaminas; monitoramento da progressão da doença e de suas complicações; aconselhamento genético familiar; apoio psicológico para o paciente e familiares; acesso irrestrito às medicações e informação para os pacientes e familiares sobre os avanços nos conhecimentos sobre a FC, mantendo uma atitude otimista em relação à doença (RIBEIRO, RIBEIRO e RIBEIRO, 2002).
O objetivo do presente artigo é fazer uma revisão da aplicabilidade da terapia de higiene brônquica em pacientes portadores de Fibrose Cística.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma revisão bibliográfica realizada nos períodos de setembro a novembro de 2007, onde foram selecionados 15 artigos científicos datados desde o ano 1998 a 2007 no idioma português e 05 foram excluídos, pois não estavam de acordo com estudo proposto. Tais artigos foram pesquisados na internet nos sites Scielo e Bireme, com a palavra-chave Fibrose cística, Tratamento, Fisioterapia e Flutter. Além disso, realizou-se a pesquisa bibliográfica em 08 livros do acervo da Biblioteca Central da Universidade Católica de Goiás – UCG, com a palavra-chave Fibrose Cística.
DISCUSSÃO
A importância da fisioterapia respiratória no tratamento da FC foi reconhecida na década de 50, e é considerada desde então, como parte fundamental no tratamento diário desta enfermidade e deve ser instituído logo após o diagnóstico (SECCO, 2004). Não se deve eleger uma técnica fisioterapêutica como sendo a melhor de todas, pois o sucesso do tratamento está na associação das técnicas e na monitorização freqüente da terapia (RIBEIRO, RIBEIRO e RIBEIRO, 2002). Deve-se estabelecer um programa de tratamento vigoroso e contínuo visando à profilaxia das infecções e complicações, melhora do prognóstico e aumento da sobrevida (RIBEIRO, RIBEIRO e RIBEIRO, 2002). Este programa envolve técnicas e recursos que são destinados a auxiliar a mobilização e depuração das secreções, promovendo melhora na função pulmonar, diminuindo a ocorrência de infecções e consequentemente desacelerando o processo de deterioração proteolítica do pulmão (RODRIGUES e PEREIRA, 2006).
TERAPIA DE HIGIÊNE BRÔNQUICA
A drenagem postural tem fundamentação no princípio físico da gravidade sobre as secreções de um segmento ou lobo por meio da verticalização do brônquio segmentar ou lobar que o ventila para assistir na eliminação de secreções brônquicas (PRYOR e WEBBER, 2002; FELTRIM e PARREIRA, 2001; RODRIGUES e PEREIRA, 2006).
O posicionamento específico segmentar das vias aéreas respiratórias deve ser capaz de possibilitar que a gravidade atue na drenagem do excesso de secreção, fazendo com que esta se desloque das ramificações brônquicas segmentares para as lobares e a partir destas para os brônquios principais e traquéias para assim ser eliminada pela tosse (SECCO, 2004).
Os pacientes com FC têm alta incidência de refluxo gastroesofágico que ocorre exacerbação deste com a fisioterapia pelo posicionamento, especialmente com a posição da cabeça para baixo (PRYOR e WEBBER, 2002).
A drenagem autógena é uma técnica de higiene brônquica ativa que utiliza inspirações e expirações lentas e controladas ajudando a maximizar o fluxo aéreo das vias aéreas para melhorar a eliminação do muco e a ventilação. A técnica é descrita em três fases: deslocamento, que consiste em respiração a baixos volumes pulmonares para mobilizar o muco periférico; coleta, que são respirações a volume corrente para coletar o muco nas vias aéreas; e remoção, através da respiração ou volumes pulmonares mais altos, promovendo a expectoração de secreções das vias aéreas centrais. Um huffing a partir do alto volume pulmonar é então incentivado para eliminar as secreções da traquéia. Esta técnica é geralmente praticada na posição sentada (PRYOR e WEBBER, 2002; FELTRIM e PARREIRA, 2001).
A percussão torácica é definida como a aplicação sobre a parede torácica e, em especial, sobre a zona a ser tratada proporcionando a propagação de ondas, onde aumenta a pressão intratorácica, desprendendo o muco que se acumulou. Tem como objetivo o deslocamento de secreção das paredes brônquicas e das regiões mais periféricas para as contrações. As modalidades de administração são: tapotagem, percussão cubital, punho-percussão e dígito percussão (FELTRIM e PARREIRA, 2001; REGENGA, 2000; RODRIGUES e PEREIRA, 2006).
A vibração consiste na aplicação de movimentos ritmados que se executam na parede torácica do paciente apenas durante a fase expiratória, aumentando o nível de fluxo expiratório para se conseguir o deslocamento das secreções já soltas, das vias aéreas de pequeno calibre para as de maior calibre, pois serão mais facilmente expectoradas através da tosse (SECCO, 2004).
A tosse é uma ação reflexa de defesa do organismo onde ocorre uma expiração forçada explosiva atuando como um mecanismo mecânico de defesa da árvore traqueo-brônquica tendo como função a remoção de substâncias estranhas e secreções acumuladas na árvore brônquica. A tosse pode ser espontânea, provocada (reflexa), ou voluntária. Em fisioterapia respiratória, a tosse constitui o término de uma seqüência de toda sessão para a remoção de secreção brônquica, independente do método utilizado. No paciente com FC há uma impactação nas paredes brônquicas devido à secreção ser muito espessa (RODRIGUES e PEREIRA, 2006; FELTRIM e PARREIRA, 2001; SECCO, 2004).
A técnica de expiração forçada (TEF) é a combinação de uma ou duas expirações forçadas (“huffs”) e períodos de controle da respiração. Essa técnica te como objetivo ajudar na mobilização das secreções através da manipulação das pressões torácicas e da dinâmica das vias aéreas (PRYOR e WEBBER, 2002; RODRIGEUS e PEREIRA, 2006).
Pryor e Webber (2002) afirmam que o ciclo ativo da respiração (CAR) consiste no controle da respiração, exercícios de expansão torácica e técnica de expiração forçada. É usada para mobilizar e eliminar o excesso de secreções brônquicas, mostrando-se eficaz na sua eliminação e na melhora da função pulmonar. Não causa aumento da hipoxemia, nem aumento da obstrução ao fluxo aéreo.
Aumento do fluxo expiratório (AFE) é um aumento do volume expiratório, em velocidade ou quantidade, com objetivo de mobilizar, deslocar, eliminar as secreções traqueo-brônquicas. Pode ser ativo, ativo-assistido ou passivo. Essa aceleração torna o fluxo turbulento, modificando a propriedade do muco, facilitando sua eliminação. O AFE de velocidade rápida permite eliminação de secreção de vias aéreas proximais e o de velocidade lenta permite mobilização de secreções distais (FELTRIM e PEREIRA, 2001).
A Expiração Lenta Total com a glote aberta em decúbito infralateral (ELTGOL) consiste em uma expiração lenta, iniciada ao nível da capacidade residual funcional e realizada até o volume residual. O paciente deve ser posicionado com a região a ser desobstruída apoiada na maca. Quando o decúbito lateral não pode ser assumido a técnica recebe o nome de ELTGO. A técnica é ativa, mas pode ser utilizada pelo paciente de maneira autônoma (FELTRIM e PEREIRA, 2001).
A expiração com pressão positiva nas vias aéreas (EPAP) consiste da auto-aplicação de uma pressão positiva na expiração, através de uma máscara, na qual é acoplada uma válvula, e nesta a resistência expiratória é fixada (RODRIGUES e PEREIRA, 2006). Um manômetro é inserido no sistema entre a válvula e a resistência para monitorizar a pressão, que deve ser entre 10 e 20 cmH20 durante a metade da expiração (PRYOR e WEBBER, 2002). Devido à pressão positiva expiratória, um maior volume de ar chega às vias aéreas periféricas durante a inspiração, evitando o colapso e permitindo uma movimentação do ar de trás dos tampões mucosos, pelo aumento da ventilação colateral. O aumento da pressão desloca o muco em direção às vias centrais, de onde podem ser eliminados (RODRIGUES e PEREIRA, 2006).
A ação da oscilação de alta freqüência (Flutter) na desobstrução brônquica, em portadores de FC, tem o objetivo preventivo associado a uma maior independência do paciente. O grande diferencial do Flutter é por ser portátil, pequeno e de fácil manuseio (VILLELA, FABRIANI e MAYWORM, 2007).
Durante a expiração, a esfera de metal oferece uma resistência ao ar expirado, abrindo e fechando a passagem do ar, provocando um aumento da pressão no interior dos brônquios, que permite que as vias aéreas permaneçam abertas por mais tempo. Associadamente à pressão positiva expiratória (em torno de 5 a 25 cmH2O), é gerado uma vibração oscilatória da parede brônquica (8 a 26Hz) e uma aceleração intermitente do fluxo expiratório. Com isso, o muco torna-se incapaz de acompanhar os movimentos das paredes dos brônquios e então acaba sendo desprendido. Graças a suas propriedades tixotíxicas, o muco perde a sua viscosidade sobre o efeito das vibrações (RODRIGUES e PEREIRA, 2006).
É indicado para todos os pacientes com excessiva produção de secreções pulmonares e apenas contra-indicado quando ocorre a falta de cooperação do paciente (VILLELA, FABRIANI e MAYWORM, 2007).
As terapias de higiene brônquica devem ser usadas de acordo com a necessidade do paciente e respeitando algumas precauções como: Hemoptise, refluxo gastroesofágico, cor pulmonale, hipoxemia, dispnéia intensa, pneumotórax, broncoespasmo, febre e fadiga da musculatura respiratória, que são complicações provocadas pela doença (PRYOR e WEBBER, 2002).
ANÁLISE COMPARATIVA DO FLUTTER VERSUS PRINCIPAIS TÉCNICAS DE TERAPIA DE HIGIENE BRÔNQUICA NA FIBROSE CÍSTICA
Morgado (2003) em um estudo bibliográfico comparando o Flutter com as principais técnicas de higiene brônquica na FC relata que estudos realizados por Pryor e cols. (1994) compararam o uso da técnica do ciclo ativo da respiração com Flutter em um grupo de 16 pacientes com FC. Ambos os tratamentos resultaram em uma melhora no VEF1 e na saturação de oxigênio, porém no tratamento onde o ciclo ativo foi usado sozinho, houve um aumento significativo na expectoração.
Em outro estudo, o mesmo autor relata que em 1998, Winden e cols., avaliaram os efeitos do Flutter em comparação com a respiração com pressão positiva expiratória (EPAP) em 22 crianças com FC. Esses pacientes foram divididos em dois grupos: 12 usaram o Flutter e 10 a máscara de PEP. Os efeitos na produção de secreção e os resultados dos testes de função pulmonar foram similares em ambos os tratamentos. Uma diminuição da saturação de O2 foi observado em 1 paciente com o uso do EPAP e em 6 que utilizaram o Flutter. Durante as duas semanas do tratamento não foi observado nenhuma superioridade do Flutter sobre o EPAP na expectoração ou na melhora do teste de função pulmonar. Ao serem inqueridos sobre qual método preferido, 10 pacientes indicaram EPAP e 11 o Flutter.
Em um terceiro estudo comparando a eficácia do Flutter com a fisioterapia convencional na limpeza das vias aéreas Konstan e cols. (1999) avaliaram 18 pacientes com FC. Esses pacientes foram submetidos a três modalidades de tratamento: drenagem postural associada a vibração e percussão, tosse voluntária vigorosa e o Flutter. Cada seção durou 15 minutos, e para que houvesse uma variação mínima entre esses pacientes, todas as técnicas foram supervisionadas e administradas pelo mesmo fisioterapeuta. Após duas semanas de tratamento, demonstrou-se que o volume de secreção expectorada nas seções com o Flutter foi significativamente maior em comparação com a tosse e a drenagem postural. Além da efetividade na remoção das secreções, essa técnica pode promover uma maior independência no tratamento diário desses pacientes, podendo melhorar a aderência dos pacientes com a fisioterapia respiratória.
Em outro estudo a cerca dessa comparação foi realizado por Gordon e cols. (1999) em 20 pacientes com FC que foram admitidos no hospital com exacerbação da doença pulmonar. Os pacientes foram divididos em dois grupos, dos quais 12 receberam o Flutter, 8 a fisioterapia respiratória convencional. Antes de começar o tratamento, os pacientes receberam terapia por broncodilatadores. O estudo foi realizado por 14 dias com quatro seções diárias de fisioterapia respiratória, com duração de aproximadamente 20 minutos. Os efeitos foram avaliados através do teste de função pulmonar que foi realizado na admissão, no 7° dia e no 14° dia. Ao final de uma semana foi observada uma melhora na função pulmonar dos pacientes que utilizaram o Flutter, porém após duas semanas, não houve diferença significativa em ambos os grupos. Nesse estudo também foi demonstrado que o Flutter pode ser tão efetivo quanto a fisioterapia respiratória convencional no tratamento a curto prazo dos pacientes portadores de FC com exacerbação de sua doença pulmonar.
Morgado (2003) relata ainda em um estudo feito por App e cols (1998) que compararam a eficácia da drenagem autogênica e do Flutter em 14 pacientes com FC os quais foram submetidos a quatro semanas de cada terapia duas vezes ao dia. Um grupo de pacientes realizou primeiramente drenagem autogênica e depois o Flutter e no outro grupo essa seqüência foi invertida. No começo e no final de cada semana a função pulmonar foi mensurada antes e depois de 30 minutos da fisioterapia, tendo sua secreção coletada no final das sessões e posteriormente pesadas e analisadas quanto a sua viscoelasticidade. A função pulmonar não se modificou e a viscoelasticidade foi significativamente menor depois do tratamento com Flutter do que com a drenagem autogênica. Entretanto, a diferença não foi considerada estatisticamente significativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os portadores de FC apresentam dificuldade de mobilização, transporte e eliminação de secreções brônquicas, podendo levar a repercussões tanto na atividade sóciolaboral quanto na qualidade de vida destes pacientes, sendo assim, a fisioterapia respiratória é de suma importância para a melhoria da mesma e maior sobrevida, já que as técnicas fisioterapêuticas facilitam a expectoração de secreções pulmonares prevenindo possíveis complicações. Portanto cabe ao fisioterapeuta traçar um plano de tratamento adequado para cada paciente visando alcançar o objetivo almejado.
Verifica-se a necessidade de realizar novos estudos sobre o uso de terapia de higiene brônquica em portadores de fibrose cística uma vez que há carência de estudos de caso nessa área.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ALVAREZ, A. E. et al., Fibrose cística em um centro de referência no Brasil: características clínicas e laboratoriais de 104 pacientes e sua associação com o genótipo e a gravidade da doença, J Pediatr, vol. 80, n° 5, 2004, p. 371 – 379.
2. ANDRADE, E. F. et al., Avaliação evolutiva da espirometria na fibrose cística, J Pneumol, vol. 27, n° 3, mai-jun, 2001, p. 130 – 136.
3. CAMARGOS, P. A. M.; QUEIROZ, M. V. N. P., Pico de fluxo expiratório na avaliação da função pulmonar na fibrose cística, J Pediatr, vol. 78, n° 1, 2002, p. 45 – 49.
4. DORNELAS, E. C. et al., Estudo do quadro pulmonar de pacientes com fibrose cística, J Pediatr, vol. 76, n° 4, 2000, p. 295 – 299.
5. FARBER, J. L.; RUBIN, E., Patologia, 3ª ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2002.
6. FELTRIM, M. I. Z.; PARREIRA, V. F., FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA: Consenso de Lyon 1994 – 2000, São Paulo, Revista Kinerea, n° 29, 2001.
7. FERNANDES, K. A. et al., Relação entre alterações funcionais e radiológica em pacientes com fibrose cística, J Pneumol, vol. 29, n° 4, jul-ago, 2003, p. 196-201.
8. FIGUEIRA, F. et al., Pediatria, 3° ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2004.
9. GOLDMAN, L.; AUSIELLO, D., Tratado de medicina interna, 22°ed., Rio de Janeiro, Eusevier, 2005.
10. GOODMAN, C. C.; SNYDER, T. K., Diagnóstico diferencial em fisioterapia, 3° ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2002.
11. IRWIN, S.; TECKLIM, J. S., Fisioterapia cardiopulmonar, 3° ed., São Paulo, Manole, 2003.
12. LEMOS, A. C. M. et al., Fibrose cística em adultos: aspectos clínicos e espirométricos, J Bras Pneumol, vol. 30, n° 1, 2004, p. 9 – 13.
13. MORGADO, E. S., A utilização do Flutter VRP1 no tratamento do paciente com fibrose cística, Revista F&T, vol. 7, n° 37, fev-mar, 2003, p. 32 – 33.
14. PRYOR, J. A.; WEBBER, B. A., Fisioterapia para problemas respiratórios e cardíacos, 2° ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2002.
15. RENGA, M. M., Fisioterapia em Cardiologia – da UTI à Reabilitação, São Paulo, Rocca, 2000.
16. REIS, F. J. C.; DAMACENO, N., Fibrose cística, J Pediatr, vol. 74, supl. 1, 1998, p. 76 – 94.
17. RIBEIRO, J. D.; RIBEIRO, M. A., G. O.; RIBEIRO, A. F., Controvérsias na fibrose cística – do pediatra ao especialista, J Pediatr, vol. 78, supl. 2, 2002, p. 171 – 186.
18. RODRIGUES, R. H. M.; PEREIRA, R. M. N., FIBROSE CÍSTICA: uma abordagem fisioterapêutica, Lato & Sensu, vol. 7, n° 1, junho, 2006, p. 151 -157.
19. ROZOV, T. et al., Validação lingüística dos questionários de qualidade de vida em fibrose cística, J Pediatr, vol. 82, n° 2, 2006, p. 151 – 156.
20. SECCO, T. F. V., Fibrose cística: a importância da fisioterapia respiratória, Lato & Sensu, vol. 5, n° 2, nov., 2004, p. 246 – 251.
21. VILLELA, M. M. F.; FABRIANI, C. B.; MAYWORM, S. H., Aplicabilidade da oscilação de alta freqüência (Flutter) na desobstrução brônquica em portadores de fibrose cística, Revista F&T, vol. 10, n° 57, jul-ago, 2007, p. 26 – 28.
22. ZANCHAT, R. C. et al., Influência do método reequilíbrio tóracoabdominal sobre a força muscular respiratória de pacientes com fibrose cística, J Bras Pneumol, vol. 32, n° 2, 2006, p. 123 – 129.
23. ZIEGLER, B. et al., Capacidade submáxima de exercício em pacientes adolescentes e adulto com fibrose cística, J Bras Pneumol, vol. 33, n° 3, 2007, p. 263 – 269.