A TERAPIA COMO COADJUVANTE EM SITUAÇÕES DE ABUSOS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7478366


Erica Lorranne Arraz dos Santos
Teresa Sales Gomes  
Andrew Lucas Da Silva Tôrres
Petrus Vinicius Tôrres
Ruth Raquel Soares de Farias


Resumo 

A violência é um fenômeno social e de saúde pública, com maior exacerbação quando acontece na infância, provocando um impacto no desenvolvimento e uma catastrófica repercussão no comportamento na vida adulta. O objetivo deste artigo é trazer os tipos de violência que acontecem na infância e adolescência, destacando como onde acontece esses tipos de violência, que a maioria são no ambiente familiar, com os cuidadores, sejam pais ou familiares próximos. E como a terapia pode auxiliar no comportamento dessas crianças e no melhor tratamento. A compreensão e construção de forças e virtudes tornam-se urgentes, pois funcionam como um parachoque das desordens psicológicas e a chave para a construção da resiliência.

Palavras-chaves: Violência doméstica, maus tratos, crianças e adolescentes.

Abstract 

Violence is a social and public health phenomenon, with greater exacerbation when it occurs in childhood, causing an impact on development and a catastrophic repercussion on behavior in adult life. The purpose of this article is to bring up the types of violence that occur in childhood and adolescence, highlighting how these types of violence occur, which most are in the family environment, with caregivers, whether parents or close family members. And how therapy can help in the behavior of these children and in the best treatment. The undertanding and buiding strengths and virtues become urgente, as they function as a buffer against psychological disorders and the key to building resilience. 

Keywords: Domestic violence, abuse, children and adolescents. 

Introdução

A violência sexual e psicológica infanto-juvenil tem aumentado em escala exponencial, alcançando diferentes sociedades e grupos sociais. Perpassam relações interpessoais e espaços familiares e trazem consequências sérias para o desenvolvimento infantil, assim como o comprometimento das relações familiares. As crianças e adolescentes vítimas de abusos levam para a fase adulta marcas físicas e psicológicas significativas ao desencadear problemas sociais, de baixo-autoestima, além de problemas de tolerância e respeito, assim como a capacidade de solução de conflitos. 

Entre as violências que podem acometer crianças e adolescentes são: negligência e abandono, bullying, cyberbullying, abuso sexual dentre outras. No entanto, essas violências têm sido apresentadas como um grave problema de saúde para as crianças e adolescentes por não saberem lidar com as situações externas, e também de não ter um apoio emocional saudável, assim como pela falta de conhecimento dessas questões. 

Muito se discute a importância de poder tratar os traumas que o ser humano sofre, principalmente em questão das crianças e adolescentes, a forma como os pais tratam a criança na primeira infância diz muito como vai ser o desenvolvimento dessa criança no futuro. Pois diz respeito muito a atenção, carinho, cuidados e amor que os pais dão à criança, e quando acontece alguma alteração de voz do progenitor com a criança, reforço negativo ou punição muito elevada, a criança pode ficar assustada e se sentir humilhada. 

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que 20% das mulheres foram vítimas de abuso sexual na infância e 30% das primeiras experiências sexuais são forçadas. Entretanto, mesmo com esses índices assustadores, há subnotificação desses dados, há uma quantidade e qualidade dos dados disponíveis em todo mundo são relativamente inferiores ao real, e sua comparação é difícil em virtude das definições, metodologias de coleta de informações, notificações e legislações diferentes. No Brasil, apenas 10% dos casos de abusos sexuais e psicológicos contra crianças e adolescentes são relatados. 

Contudo tem-se a certeza de que há um caminho longo a trilhar na construção do enfrentamento da violência infantil, especialmente nas situações que envolvem o abuso. Assunto com o qual o presente estudo tem como temática central analisar a terapia como coadjuvante nos traumas psíquicos e em situação de abusos na infância e adolescência.

Objetivamos com este estudo pontuar algumas prováveis causas da violência intrafamiliar, os comportamentos e consequências que podem ser relacionados a ela, considerando principalmente os aspectos psicológicos do sujeito agressor e das vítimas, elencar quais fatores colabora para a recorrência da violência no âmbito familiar e quais as possíveis dificuldades que possam estar interferindo nas ações já criadas e em andamento para diminuir este problema social. 

Com isso o estudo propõe contribuir com a sociedade, refletindo sobre possíveis estratégias de promoção e prevenção da saúde através de informações de interesse público, no intuito de reforçar e valorizar a qualidade de vida e o bem-estar físico e psíquico de todos os indivíduos. 

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica qualificativa que, segundo Minayo (5), “a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”. Foi utilizado a literatura integrativa. 

Os materiais adquiridos foram reunidos pelas seguintes fontes: livro “Desenvolvimento Humano” de Diane E. Papalia e Ruth Duskin Feldman, “A violência sexual infantil na família do silêncio à revelação do segredo” de Suzana Braun, o artigo Trauma e Infância: Considerações sobre a Vivência de Situações Potencialmente Traumáticas e outros artigos relacionados como por exemplo “ A violência infantil: atuação do psicólogo no processo de auxilio à criança” e no artigo “A violência infantil no Brasil e suas consequências”. Foram mencionados os tipos de violência na infância e adolescência, sendo eles, psicológicos, físicos, morais, sexuais, na busca pelo entendimento e contribuição para temática da violência doméstica e infantil.

A vistoria dos dados se deu pela ferramenta da análise de Minayo pelo descobrimento da construção de um trauma que consiste em pensar nas consequências da violência na infância e adolescência, de acontecimentos considerados traumáticos. 

O estudo dos dados se deu pela técnica de análise temática de Minayo, definida como conquista dos núcleos de sentidos, que constituem uma comunicação acerca da constância ou da presença de algum significado para o objeto que será observado. Esse método é constituído pela orientação de dados obtidos, a exploração do material e o descobrimento dos resultados e interpretação, visando responder às questões da pesquisa.

É importante ressaltar a relevância desse estudo de Minayo em relação ao uso do mesmo dentro das técnicas desenvolvidas para a terapia no combate a esses casos de violência.

No Brasil, as políticas de proteção e atendimento a crianças e adolescentes foram sedimentadas pela lei número 8.069, de 13 de julho de 1990, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Brasil, 1990). Em seu quinto artigo, o ECA determina que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”, sendo “dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente” (artigo 70). Quando há violação desses direitos é necessário comunicar a autoridade competente para que as medidas de proteção sejam adotadas. 

Resultados e Discussão 

Os psicólogos que atuam na rede de atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual devem estar capacitados para oferecer psicoterapia de acordo com as diretrizes da WHO e da ISPCAN. No entanto, a falta de capacitação desses profissionais é uma realidade indicada pelo próprio CFP (2009), resultado da abordagem escassa da violência sexual em cursos de graduação (Gonçalves & Ferreira, 2002), incluindo o de Psicologia. Dessa forma, torna-se necessário o investimento em tecnologias de capacitação profissional para esses profissionais, visando capacitá-los para a realização de avaliações psicológicas, bem como tratamentos psicoterápicos baseados em evidências para crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. 

O número de casos de violência contra crianças e adolescentes, foi crescendo na Pandemia, através da convivência com a família e por meio do isolamento, a partir deste isolamento social, as crianças ficaram sem contato com outras crianças, isso também acarretou ansiedade e depressão, além dos casos de violência intrafamiliar.

Esses casos foram contabilizados entre estupro, maus-tratos, violência doméstica, exploração sexual e morte violenta intencional. Segundo essa pesquisa, 67% dos casos de violência contra crianças acontecem em casa, em sua grande parte, cometidos pelos próprios familiares. O que foi agravado devido isolamento obrigatório e a ausência de um ambiente como a escola, por exemplo, para notar os sinais encontra-se a justificativa tanto do aumento da violência quanto para a falta de denúncias no período de maior isolamento. 

As crianças que sofreram algum tipo de abuso costumam manter certos padrões em seu modo de agir, como mostrar sinais de ansiedade, tiques e comportamento obsessivo. Podendo apresentar sintomas conflitantes, por exemplo: ela pode ficar sonolenta e letárgica, ou então extremamente agitada, irritada, mudando o comportamento de um momento para outro. O aumento expressivo da violência no período estudado revela a necessidade de programas e políticas específicos que visem sua redução e prevenção, bem como estudos que aprofundem a compreensão deste fenômeno. 

Considerações Finais

O tema do abuso sexual de crianças e adolescentes tem sido cada vez mais pesquisado, tendo em vista a relevância de se conhecer e compreender melhor os diversos aspectos que o envolvem para identificar situações, reconhecer os aspectos envolvidos e oferecer um trabalho adequado para superação do trauma. 

Contudo, tomando por base o conceito de abuso sexual e sua causalidade multifatorial, envolvendo aspectos históricos, sociais e psicológicos, com ênfase nas consequências intrapsíquicas e intersubjetivas, faz-se extremamente necessário que os profissionais busquem ampliar a visão e aprofundar as pesquisas acerca do assunto, a fim de trabalhar com um suporte teórico adequado, consciência e respeito às vítimas e suas famílias.

Para finalizar, é preciso considerar que o espaço terapêutico possibilita uma oportunidade de mudança no cenário psíquico daqueles que sofreram abuso sexual, uma vez que se apresenta como um novo continente, no qual se pode reorganizar vínculos e trabalhar de forma a reconstruir algo saudável para o psiquismo.

A responsabilidade pela política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente, segundo o ECA (Brasil, 1990), é de competência governamental, não governamental, da união, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, cabendo a esses a articulação necessária. Embora importante, a nomeação de diferentes instâncias responsáveis pelas políticas de atendimento pode acabar diluindo tal responsabilidade a ponto de nenhuma delas se perceber realmente responsável.

Referências

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