APLICAÇÃO DO MAPA DE MATERIALIDADE ESG EM UMA TRANSPORTADORA DE CARGAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7458124


Emerson Francis Monteiro dos Santos.


RESUMO

As classificações de risco ESG (Ambientais, Sociais e Governança) medem a exposição de uma empresa a riscos ESG materiais específicos do setor e quão bem uma empresa está gerenciando esses riscos. O presente estudo utilizou o mapa de materialidade elaborada pela SASB em uma transportadora de cargas localizada no estado do Rio de Janeiro para identificar quais são os temas materiais mais importantes dentro da empresa. Como resultado identificou-se que os temas relacionados as questões ambientais, mudanças climáticas possuem um grau de importância maior para os stakeholders, além de ter um grande impacto na empresa.

PALAVRAS-CHAVE: ESG. Mapa de Materialidade. Transportadora de Cargas.

ABSTRACT

ESG (Environmental, Social and Governance) risk ratings measure a company’s exposure to material, industry-specific ESG risks and how well a company is managing those risks. The present study used the materiality map prepared by SASB in a cargo carrier located in the state of Rio de Janeiro to identify which are the most important issues within the company. As a result, it was identified that issues related to environmental issues, climate change have a greater degree of importance for stakeholders, in addition to having a great impact on the company.

Keywords: ESG. Materiality Map. Cargo Carrier.

1. INTRODUÇÃO

Matos (2020) define ESG (Ambiental, Social e Governança) como investimento responsável ou investimento sustentável, são termos abrangentes que se referem à incorporação de considerações ambientais, sociais e de governança as decisões do portfólio de investidores.

Os investidores normalmente avaliam fatores ESG usando recursos não financeiros, ou seja, informações sobre impacto ambiental (por exemplo, emissões de carbono), impacto social (por exemplo, satisfação do funcionário) e atributos de governança (por exemplo, estrutura do conselho).

A inclusão explícita por gestores de ativos de riscos e oportunidades ESG em análises financeiras tradicionais e decisões de investimento com base em um processo sistemático e fontes de pesquisa apropriadas (SILVA, 2011). Esse tipo abrange a consideração explícita de fatores ESG juntamente com fatores financeiros na análise principal de investimentos. O processo de integração foca no impacto potencial das questões ESG nas finanças da empresa (positivo e negativo), o que, por sua vez, pode afetar a decisão de investimento (COSTA et al., 2018).

As questões ambientais dizem respeito a qualquer aspecto da atividade de uma empresa que afete o meio ambiente de forma positiva ou negativa. (LOUREIRO¸ 2021). Exemplos incluem emissões de gases de efeito estufa, energia renovável, eficiência energética, esgotamento de recursos, poluição química, gestão de resíduos, gestão da água, impacto na biodiversidade, etc (DOS SANTOS, 2021).

As questões sociais variam desde aspectos relacionados com a comunidade, como a melhoria da saúde e educação, até questões relacionadas com o local de trabalho, incluindo a adesão aos direitos humanos, não discriminação e envolvimento das partes interessadas (SILVA¸2011). Exemplos incluem padrões trabalhistas (ao longo da cadeia de suprimentos, trabalho infantil, trabalho forçado), relações com comunidades locais, gestão de talentos, práticas comerciais controversas (armas, zonas de conflito), padrões de saúde, liberdade de associação, etc (FARIAS; BARREIROS, 2020).

As questões de governança dizem respeito à qualidade da gestão de uma empresa, cultura, perfil de risco e outras características. Inclui a responsabilidade do conselho e sua dedicação e gestão estratégica do desempenho social e ambiental. Além disso, enfatiza princípios, como relatórios transparentes e a realização de tarefas de gestão de maneira essencialmente livre de abuso e corrupção. Os exemplos incluem questões de governança corporativa (remuneração dos executivos, direitos dos acionistas, estrutura do conselho), suborno, corrupção, diálogo com as partes interessadas, atividades de lobby, etc.

No entanto, para consolidar as práticas ESG dentro de uma empresa é necessário realizar o mapa de materialidade do negócio. O mapa de materialidade é fundamental para elaboração do relatório de sustentabilidade que é divulgado pela empresa, pois ela identifica temas essenciais tanto para stakeholders quanto para a empresa que devem ser priorizados para implantação de práticas ESG.

Segundo o Instituto Brasil Logística – IBL (2022) setor de transporte rodoviário representou 61,1% de toda a carga transportada no Brasil. Diante do impacto que o modal tem com a emissão de poluentes na atmosfera, por exemplo, empresas do setor começaram a se movimentar no sentido de implementar práticas ESG dentro das empresas, podemos citar o exemplo da Pratus Transportes. Contudo, no meio acadêmico não foram encontrados trabalhos relacionando o mapa de materialidade ESG com o setor de transporte rodoviário.

Este estudo tem como objetivo preencher esta lacuna aplicando o mapa de materialidade em uma transportadora de cargas localizada no estado do Rio de Janeiro.

Este artigo começa contextualizando o tema ESG e transporte de cargas. Na sequência, aborda o mapa de materialidade. Posteriormente descreve sobre a metodologia do mapa de materialidade da SASB. Depois realiza a análise dos resultados obtidos com a metodologia, e por fim a conclusão do estudo.

As palavras-chave ESG e Mapa de Materialidade tem relação com o tema da pesquisa e a ferramenta utilizada no estudo e a palavra-chave transportadora de cargas foi selecionada, porque envolve o contexto ao qual o estudo foi aplicado.

2. EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1. ESG E TRANSPORTE DE CARGAS

O investimento ESG é uma forma de investimento sustentável que considera fatores ambientais, sociais e de governança para avaliar os retornos financeiros de um investimento e seu impacto geral. A pontuação ESG de um investimento mede a sustentabilidade de um investimento nessas categorias específicas (DOS SANTOS, 2021).

Outro termo comum para o processo de criação de uma carteira de investimentos sustentável é investimento socialmente responsável, ou SRI (Investimento Socialmente Responsável). Embora SRI e ESG busquem construir portfólios mais responsáveis, existem algumas diferenças entre os dois termos. ESG é um sistema de como medir a sustentabilidade de uma empresa ou investimento em três categorias específicas: ambiental, social e governança. Investimento socialmente responsável, investimento ético, investimento sustentável e investimento de impacto são termos mais gerais. Muitas vezes, “investimentos socialmente responsáveis” são medidos usando um sistema de classificação baseado em ESG.

Historicamente, certas formas de investimento sustentável variavam na forma como criavam seus portfólios. Por exemplo, o SRI usou uma abordagem exclusiva de exclusão para filtrar alguns investimentos considerados imorais, como tabaco ou álcool. O investimento ESG excluiu esses mesmos investimentos, mas também incluiu empresas consideradas como tendo um impacto positivo (DOS SANTOS, 2021).

Quanto maior o mundo do investimento sustentável cresceu, mais esses termos (entre outros) foram usados ​​de forma intercambiável (SILVA¸2011). O gestor verá provedores que oferecem um portfólio “socialmente responsável” que inclui fundos ESG (em vez de apenas excluir determinados investimentos) e outros com o mesmo título que usam uma abordagem exclusivamente excludente. É por isso que é importante analisar a metodologia usada para criar um portfólio — não importa como seja chamado (FARIAS; BARREIROS, 2020).

A RSC (Responsabilidade Social Corporativa), ou responsabilidade social corporativa, é uma prática de negócios adotada por uma empresa para melhorar uma comunidade local, o meio ambiente ou a sociedade em geral. Além de ajudar sua causa, as iniciativas de RSC podem melhorar a opinião pública de uma empresa. Os planejadores de iniciativas de RSC podem levar em consideração fatores ESG ao mapear sua estratégia de RSC (DOS SANTOS, 2021).

O movimento para investir em empresas socialmente responsáveis ​​e amigas do meio ambiente vem crescendo nos últimos anos (SILVA¸2011). Essa tendência realmente ganhou força em um ambiente em que a tecnologia e as ações relacionadas à internet lideram o mercado em alta, enquanto energia, álcool/tabaco e grandes fabricantes têm lutado (FARIAS; BARREIROS, 2020).

As empresas do setor de TRC (transporte rodoviário de cargas) têm sido confrontadas para continuarem relevantes e competitivas perante as mudanças e necessidades do mercado, que vem cobrando mais transparência e ações responsáveis das transportadoras de cargas, no sentido de mais envolvimento no meio em que está inserido. Oliveira (2022) descreve o setor como pouco inovador, predominantemente masculino e ainda poluidor.

De acordo com IBL (2022) o setor de transporte rodoviário de cargas representou 61,1% de toda a carga transportada no Brasil. Segundo o Barsi (2021) o Brasil se comprometeu em reduzir em 50% os gases poluentes até 2030 e neutralizar o carbono até 2050. O transporte rodoviário é um grande emissor de gases poluentes na atmosfera. Diante do impacto que o modal tem no meio ambiente, empresas do setor começaram a se movimentar no sentido de implementar práticas ESG dentro das empresas, podemos citar o exemplo da Pratus Transportes que já disponibiliza seus relatórios de sustentabilidade e consequentemente já possui seu mapa de materialidade elaborada dentro da empresa. Na literatura não foi encontrado nenhum artigo relacionado ESG, transporte de cargas e mapa de materialidade, diante disto, este estudo busca preencher esta lacuna e contribuir com o tema para este setor.

2.2. MAPA DE MATERIALIDADE

O mapa de materialidade das práticas ESG é essencial para toda a estratégia do negócio. Além de tudo, esse processo é fundamental para a elaboração do relatório de sustentabilidade cumprindo as diretrizes, ou que direcione a empresa a apresentar um panorama geral, neutro e com maior credibilidade possível em relação à empresa.

Atualmente podemos citar três metodologias que utilizam a materialidade como critério relevante:

ISE B3

O Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3 engloba a triagem dos temas materiais no início da sua rigorosa metodologia, exigindo que a organização já tenha apontado o que seus stakeholders mais se importam e o que causa mais impacto para a empresa.

GRI

A Global Reporting Initiative requisita a explanação de como foi elaborada a materialidade da empresa, apontando os temas materiais, os planos e os resultados de cada um deles.

SASB

A Sustainability Accounting Standards Board dispõe de uma ferramenta própria para o estabelecimento dos temas materiais, considerando também quais temas são mais relevantes para os investidores.

Qualquer empresa que almeja divulgar suas condutas ESG, necessitará passar por alguma dessas metodologias. Um processo de materialidade bem apresentado vai certificar que os relatórios de sustentabilidade da empresa vão abranger os temas mais relevantes para os stakeholders e para a empresa.

A materialidade possui mais um item fundamental que é importantíssimo para prever crises, implementando uma gestão dos riscos de cada área. Se, por exemplo, uma empresa estiver com uma reputação baixa em algum dos temas materiais apontados, é essencial que ela:

  • Realize uma análise sobre esse tema material;
  • Divulgue que está ciente desse problema;
  • Demonstre em seu relatório de sustentabilidade quais são seus planos e metas para o futuro.

Segundo o estudo de Madison e Schiehll (2021) o impacto da materialidade de práticas ESG demonstram uma mudança significativa nas pontuações ESG, o resultado deste estudo sugere que a materialidade da empresa afeta o valor informativo das pontuações e classificações ESG, permitindo a identificação de oportunidades de investimento em empresas com pontuações altas em questões ESG críticas para os negócios.

De acordo com a percepção dos stakeholders sobre os temas ESG mais importantes, é fundamental a empresa ter uma congruência na priorização e direcionamento de esforços e recursos para os temas que vão gerar maior valor para a empresa e seus stakeholders.

Os temas ambientais, sociais e de governança como mudanças climáticas, diversidade, inclusão, transparência tem batido na porta das empresas e percebe-se uma dificuldade das empresas de lidarem com os temas. O mapa de materialidade é uma ótima ferramenta para priorizar tanto os interesses do stakeholders, quanto da empresa (SPITZECK; ÁRABE; PEREIRA, 2016).

Para Spitzeck, Árabe e Pereira (2016) os passos importantes para construção do mapa de materialidade são:

  1. Identificar temas: via engajamento com stakeholders internos e externos, um benchmarking de sustentabilidade, e uma análise de mídia, é possível definir todos os temas que potencialmente tem um impacto no negócio.
  1. Avaliar o impacto no negócio: identificando como cada tema ajuda a, por exemplo, reduzir custos, aumentar participação no mercado ou criar um poder de precificação, a metodologia permite determinar a significância de cada tema para o negócio da empresa.
  1. Ponderação do ponto de vista dos stakeholders: pesquisas e conversas com stakeholders externos permitem entender quais temas são os mais significativos para stakeholders essenciais como clientes, ou para a maioria de stakeholders em geral.
  1. As ponderações que permitam a montagem de um mapa “impacto no negócio” x “importância para stakeholders onde temas que tem alta significância tanto para stakeholders externos quanto para a empresa são priorizados. (SPITZECK; ÁRABE; PEREIRA, 2016).

3. METODOLOGIA

Segundo Vergara (2007), os tipos de pesquisa podem ser identificados por meio de duas classificações: quanto aos fins e quanto aos meios.

Quanto aos fins, uma pesquisa pode ser exploratória, descritiva, explicativa, metodológica, aplicada e intervencionista. Assim sendo, este estudo é classificado como uma pesquisa descritiva, pois evidencia atributos definidos e bem delineados de uma população ou fenômeno e, para tal finalidade, abrange metodologias padronizadas e bem organizada de coletas de seus dados.

Com relação aos meios, Vergara (2007) identifica como pesquisa de campo, de laboratório, documental, bibliográfica, experimental, ex post facto, participante, pesquisa- ação e estudo de caso. Este estudo é foi considerado um estudo de caso, pois investiga um cenário que engloba um estudo aprofundado das práticas da empresa, com relação ao tema apresentado no estudo.

Foi aplicado a estrutura SASB que classifica as questões ESG em 5 dimensões (Meio Ambiente, Capital Social, Governança, Capital Humano, Modelo de Negócios e Inovação, Liderança) e 26 questões gerais. O SASB identifica questões relevantes para cada setor e suas respectivas indústrias, usando uma ferramenta chamada mapa de materialidade, que inclui as questões dos riscos e oportunidades ESG dentro de modelos de negócios específicos.

Foi utilizada a plataforma Scopus para busca de artigos relacionados ao tema da pesquisa.

4. ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS DADOS

4.1. ESTUDOS RELACIONADOS ESG, MAPA DE MATERIALIDADE E TRANSPORTE RODOVIÁRIO

Foi realizada uma busca na plataforma Scopus no contexto metodológico aonde não retornou nenhum estudo relacionado ao tema da pesquisa com as palavras-chave ESG AND “mapa de materialidade” AND “transportadora de cargas” conforme podemos observar na figura 1.

Figura 1 – Busca das palavras-chave na plataforma Scopus

Fonte: Scopus (2022)

4.2. APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO: EMPRESA DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO

A transportadora de cargas objeto de estudo foi fundada em 1978 e em 2015 empresa foi adquirida pelo grupo com 20 anos no mercado, é uma empresa de participação em outras sociedades de transportes rodoviários de cargas e que se destaca por sua atuação no segmento fármaco, farmoquímico e aduaneiro com veículos refrigerados e secos.

A transportadora tem sua matriz na cidade do Rio de Janeiro, estado do Rio de Janeiro, e atua principalmente no Sudeste e Centro-Oeste. Possui 143 funcionários e engloba uma frota com mais de 70 veículos contando com toco, truck, carretas baús carga seca e refrigerada; truck e carretas abertas, veículos com plataformas, porta container.

4.3. APLICAÇÃO DO MAPA DE MATERIALIDADE

Este estudo tem como objetivo aplicar o mapa de materialidade ESG em uma transportadora de cargas.

Para elaboração das etapas foi criada uma equipe especializada formada por multiprofissionais com frente temática da empresa que estão diretamente relacionadas à temas sociais e de governança, propondo certificar processo participativo. Em cada frente temática foi indicado no mínimo 1 ponto específico de acordo com a disponibilidade para participar dos fóruns de discussão que foram definidos durante o processo. As 11 equipes especializadas formada por multiprofissionais é composta da seguinte forma:

  • 5 Grupos de Estudos ESG.
  • 1 Comitê de Cliente.
  • 1 Equipe multidisciplinar de Diversidade.
  • 1 Equipe multidisciplinar de Ética e Segurança da Informação.
  • 1 Equipe multidisciplinar de Iniciativas Sociais.
  • 1 Equipe multidisciplinar de Recrutamento e Seleção.
  • 1 Universidade Corporativa.

No Quadro 1 podemos observar o plano de ação para implantação do mapa de materialidade.

Quadro 1 – Plano de ação para implantação do mapa de materialidade

Fonte: Autor (2022

4.3.1. Descrição dos Temas Materiais

Neste estágio, foram definidos os temas sociais, ambientais e de governança da empresa. Um tema material é um tema que interfere e afeta significativamente as ponderações, decisões, ações e desempenho de uma empresa e/ou seus stakeholders no curto, médio e/ou longo prazo.

Para esse propósito, foi empregue o mapa de materialidade do SASB (Sustainability Accouting Standards Board) que indica visualmente como 26 questões gerais de sustentabilidade se apresentam em 77 indústrias.

Todos os integrantes da equipe especializada, individualmente, definiram cada tema como relevante ou não relevante ao segmento que a empresa está inserida. No total foram definidos 16 temas materiais relevantes e todos foram ratificados em um fórum estabelecido com todos os integrantes, como podemos observar no Quadro 2.

PilarTema MaterialDetalhamento
AmbientalCondições ClimáticasIntegrar medidas para redução de emissões
AmbientalPráticas AmbientaisAssegurar o manejo sustentável de resíduos,
água e energia
GovernançaÉtica Empresarial e
Reputação
Garantir ética, integridade, reputação,
transparência e governança corporativa
GovernançaInovaçãoInovar produtos e serviços com foco em
sustentabilidade e longevidade do negócio
GovernançaResiliência do Modelo de
Negócio
Garantir a sustentabilidade do Modelo de
Negócio
SocialAmbiente de TrabalhoPrezar por um clima organizacional
colaborativo e harmonioso
SocialCapacitação e
Desenvolvimento
Proporcionar ações de desenvolvimento
técnico e humano
SocialCuidado com as PessoasGarantir o bem-estar dos colaboradores e um
ambiente seguro e isento de riscos
SocialEngajamento,
Diversidade e Inclusão
Valorizar um ambiente de trabalho diverso,
respeitoso e digno
SocialFornecedoresGarantir o responsible buying
SocialGeração de RiquezaContribuir para o mundo através da geração de
riqueza
SocialPráticas Justas com
Colaboradores
Assegurar políticas de remuneração e
benefícios
SocialSatisfação dos ClientesAtuar com excelência técnica buscando a
satisfação dos nossos clientes
Fonte: Autor (2022)

4.3.2. Ponderações do impacto no negócio

Após a definição dos temas materiais, é fundamental apontar a importância de cada tema para o negócio da empresa. Portanto, foi elaborada uma análise multicritério para ponderar se o tema material influencia no negócio e em qual grau se dá essa influência.

Para Spitzeck, Árabe e Pereira (2016), categoriza-se valores tangíveis (econômico-financeiro) e valores intangíveis alavancados apoiado em estratégias sustentáveis, detalhados nas figuras 2 e 3.

Figura 2 – Alavancagens de Valor Tangível (Econômico-Financeiro)

Fonte: Spitzeck, Árabe e Pereira (2016)

Figura 3: Alavancagens de Valor Intangível

Fonte: Spitzeck, Árabe e Pereira (2016).

Desta maneira, com base na identificação das alavancagens de valor, foram criados 6 parâmetros distintos a serem ponderados, considerando uma pontuação de 0 a 3, para a análise da significância do ponto de vista do negócio produzidas nos fóruns com todos os integrantes das equipes especializadas. Os parâmetros são:

  • O tema influência (positiva ou negativamente) a margem do negócio?
  • O tema influência (positiva ou negativamente) o faturamento do negócio?
  • O tema influência (positiva ou negativamente) a avaliação do negócio?
  • O tema influência (positiva ou negativamente) o valor da marca?
  • O tema influência (positiva ou negativamente) a gestão de riscos?
  • O tema influência (positiva ou negativamente) a gestão de stakeholders?

Para a pontuação da análise multicritério, foram definidas 4 escalas.

  • 3 Influência diretamente.
  • 2 Influência indiretamente.
  • Potencial influencia em casos específicos.
  • Não tem relação.

A tabela 1 mostra o resultado das ponderações do impacto no negócio da empresa.

Tabela 1 – Resultado das ponderações do impacto no negócio da empresa

Fonte: Autor (2022)

4.3.3. Ponderação do ponto de vista dos stakeholders

Na sequência, foi elaborada uma segunda análise multicritério para ponderar se o tema material influência na percepção dos stakeholders, buscando definir quais temas são os mais significativos para os grupos que tem interesse ou são afetados pelas atividades que a empresa executa e suas decisões.

Os stakeholders foram predefinidos na empresa em que os estudo de caso foi aplicado da seguinte maneira:

  • Clientes
  • Parceiros
  • Colaboradores
  • Fornecedores
  • Sociedade (ambiente externo)

Diante disso, foram criados 5 parâmetros distintos a serem ponderados, considerando a mesma pontuação, para a análise de significância do ponto de vista dos stakeholders realizada em fórum com todos os integrantes das equipes especializadas. As questões para ponderação do ponto de vista dos stakeholders foram:

  • O tema tem afeta significativamente (de forma positiva ou negativa) para os clientes da empresa?
  • O tema tem afeta significativamente (de forma positiva ou negativa) para os parceiros da empresa?
  • O tema tem afeta significativamente (de forma positiva ou negativa) para os colaboradores da empresa?
  • O tema tem afeta significativamente (de forma positiva ou negativa) para os fornecedores da empresa?
  • O tema tem afeta significativamente (de forma positiva ou negativa) na sociedade ou no meio ambiente?

O resultado da análise das ponderações do ponto de vista dos stakeholders podem ser observados na tabela 2.

Tabela 2 – Análise das ponderações do ponto de vista dos stakeholders.

Fonte: Autor (2022)

4.3.4. Estruturação do Mapa de Materialidade

Diante das análises, foi criado um mapa de materialidade: “impacto no negócio” x “importância para stakeholders”, na qual temas que apontam grande interesse tanto para stakeholders quanto para a empresa devem ser priorizados para elaboração implantação das práticas ESG.

Os temas de grande interesse para os stakeholders, mas não para a empresa, devem entrar no plano de comunicação e nos relatórios de sustentabilidade. Já os temas de grande interesse para a empresa, mas não para os stakeholders, devem ser gerenciados internamente almejando a criação de valor (SPITZECK; ÁRABE; PEREIRA, 2016).

O resultado do mapa de materialidade podemos observar na figura 4.

Figura 4 – Mapa de materialidade da empresa de transportes.

Fonte: Autor (2022)

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Com base nos resultados do mapa de materialidade, pode-se observar que os temas que mais tem prioridades para a empresa de transporte rodoviário são:

  • Condições climáticas
  • Ambientais
  • Ética Empresarial e Reputação
  • Inovação
  • Capacitação e Desenvolvimento

Identifica-se que os temas materiais das condições climáticas e ambientais, temas que tem prioridades de atuação segundo o mapa de materialidade. O resultado observado pode ter relação o que Barsi (2021) discorreu, onde o Brasil se comprometeu a reduzir em 50% os gases poluentes até 2013 e neutralizar o carbono até 2050 e pelo transporte rodoviário ter uma grande contribuição na emissão desses gases, podendo contribuir substancialmente neste ítem.

Quanto ao tema de Ética Empresarial e Reputação, Inovação e Capacitação e Desenvolvimento pode ter relação com que Costa et al (2018) descreve sobre o impacto da contribuição ética da empresa com seus stakeholders, no que diz respeito a pressão de investimentos sustentáveis dos investidores.

Com base no mapa criado é possível construir um programa com práticas ESG por tema material, com horizontes de curto, médio e longo prazo nos temas mais significativos ponderando o impacto do tema material no negócio e a ponderação do ponto de vista dos stakeholders.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se observar neste estudo, que nos últimos anos o tema ESG tem se firmado e tendo cada vez mais importância na hora dos investidores decidirem onde vão alocar os seus recursos.

No entanto, além de reagir as movimentações do mercado financeiro, leis e consumidor, as empresas que integram o tema ESG no seu negócio precisam materializar suas práticas para colher frutos importantes como valor de marca, captação de recursos, além de oportunidades e parcerias.

Desta forma, este estudo atingiu o objetivo proposto aplicando o mapa de materialidade em uma transportadora de cargas e indicando temas materiais que devem ser priorizados, e que são mais relevantes para os stakeholders e que tem um grande impacto no negócio da empresa.

REFERÊNCIAS

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