A GESTANTE E SUA IMAGEM CORPORAL: UMA ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA E DA PSICOMOTRICIDADE

The pregnant and hers body image: a performance of physical therapy and psychomotricity
Autoras
Cunha-Cavalcanti, Daniella Leiros
Fisioterapeuta, Especialista em Psicomotricidade e em Fisioterapia na Saúde da Mulher, Mestranda em Tocoginecologia pela USP Ribeirão Preto
Franco, Marta de Hollanda
Fisioterapeuta, Especialista em Psicomotricidade
Dados para correspondência
Daniella Leiros Cunha Cavalcanti
Rua Guia Lopes, 392 ap 13 – Vila Tibério
CEP 14050-170 Ribeirão Preto/SP
daniellaleiros@uol.com.br
Fontes de contribuição ao artigo
Vera Lucia Mattos
Clenice T. F. Demeda
Resumo
Objetivo do estudo foi realizar um apanhado sobre as alterações da imagem corporal que acontecem na mulher na gestação, relacionando as atuações da psicomotricidade e da fisioterapia. Realizou-se pesquisas bibliográficas na Base de Dados Lilacs, na rede mundial de computadores, assim como a literatura básica sobre fisioterapia, psicomotricidade e obstetrícia foi utilizada. Entendemos que o corpo é o mediador entre o sujeito pensante e o mundo, e as intensas transformações físicas e biológicas da gravidez têm grande influência psicossocial. As alterações corporais próprias da gravidez podem levar a mulher a se sentir feia, gorda, menos atraente e menos mulher. Verificamos a importante ligação entre fisioterapia e psicomotricidade, pois elas tratam do individuo e suas relações. O trabalho do fisioterapeuta, com conhecimentos de psicomotricidade, numa gestante são atividades aplicadas não como fim, mas como meio de fazer com que a mulher perceba suas dificuldades na gravidez e aprenda a lidar com elas.
PALAVRAS-CHAVE: imagem corporal; gravidez; fisioterapia; psicomotricidade
ABSTRACT
The aim of this study was to make a summary of the alterations in the corporal image that happen in the woman in the gestation, relating the performances of psychomotricity and physical therapy. We made a bibliographical research in the Lilacs Database, in the World Wide Web, as well as the basic literature of physical therapy, psychomotricity and obstetric also was used. We understand that the body is the mediator between the thinking citizen and the world, and the intense physical and biological transformations of the pregnancy have great psychosocial influence. The corporal alterations proper of the pregnancy can take the woman feel ugly, fat, less attractive and woman. We verify important link between physical therapy and psychomotricity, therefore they deal with the human being and its relations. The work of the physiotherapist, with knowledge of psychomotricity, in a pregnant are applied activities not as end, but as a form to make with that the woman perceives its difficulties in the pregnancy and learns to deal with them.
KEY-WORDS: body imagem; pregnancy; physical therapy; psychomotricity
Introdução
Com a progressão da gravidez, a união entre a mulher e o seu filho vai se aprimorando e levando a uma adaptação do corpo da mulher ao estado gravídico. Muitas mulheres, ao perceberem, inicialmente o aumento dos seios, seguido do aumento do abdômen, juntamente com o desenrolar da gestação, onde todo o corpo materno se modifica, podem sofrer uma alteração da imagem que elas fazem do próprio corpo. [1]
O corpo da mulher, desde a sua concepção, foi preparado para a gravidez. Ao longo dos anos o corpo vai se modificando, se preparando e se adaptando para a maturidade sexual e para a gestação. A fisiologia da gravidez e os sentimentos relacionados a ela estão diretamente ligados às relações da mãe com o meio em que ela vive. [2]
A gestação é um período de intensas transformações físicas e emocionais e a imagem corporal é crucial no desenvolvimento do autoconceito pessoal e é necessário que a mulher “escape” deste “discurso de beleza atual”[3], pois a gravidez trará a ela mudanças corporais importantes e a fará refletir sobre seus autoconceitos e sobre sua imagem corporal.
Nos dias de hoje, o pré-natal não se restringe apenas aos conhecimentos biológicos e técnicos, ao contrário analisa também os problemas, os conflitos, os medos e as fantasias da mulher. A melancolia da maternidade, a depressão pós-parto, a psicose puerperal e a síndrome do pânico são distúrbios psiquiátricos, freqüentes e que podem afetar a vida da nova mãe.
A gravidez não é uma condição patológica e nela ocorrem algumas alterações fisiológicas normais. Nem toda mulher grávida deve apresentar distúrbios decorrentes da gravidez e muitos dos sintomas desses distúrbios podem ser aliviados ou evitados por instrução terapêutica enquanto a mulher gera e cria seus filhos.
O corpo é o meio pelo qual o indivíduo produz suas relações com outros indivíduos e com o ambiente em que vive e que a imagem que este indivíduo tem do seu próprio corpo é chamada de imagem corporal (IC) sendo esta individual, uma característica própria do indivíduo formada a partir das experiências de vida, como emoções, sensações e experimentações do seu próprio corpo com outros corpos e objetos.
O corpo da mulher foi preparado para a gravidez desde sua concepção e que ao longo da vida, seu organismo foi se modificando, se preparando e se adaptando para a maturidade sexual. Na verdade, não se pode falar de gravidez sem se remeter à imagem de uma mulher grávida com toda a mudança física desta mulher, onde essas transformações físicas e biológicas têm grande influência psíquica e social na imagem corporal da própria gestante .
A psicomotricidade se ocupa do corpo em sua “globalidade” sendo uma articulação que parte do simbolismo e que possibilita conhecer o próprio corpo, os gestos, o movimento, o tônus, o espaço, as posturas, os objetos e o tempo. [4]
A fisioterapia é uma ciência da saúde que tem o objetivo de promover a saúde e prevenir doenças, deficiências, incapacidades e inadaptações de indivíduos pelas disfunções físicas, mentais e do desenvolvimento, inclusive durante a gestação, parto e puerpério, diminuindo o impacto da gravidez no organismo da mãe, fazendo com que seja mais aceita, vivida e compreendida não só pelo corpo biológico, mas também pelo corpo psíquico. [5]
Desta forma, o trabalho se propôs a realizar uma análise bibliográfica sobre as alterações da imagem corporal que acontecem na mulher durante a gestação com o objetivo de aprofundar os estudos conceituais sobre a imagem corporal através de uma revisão bibliográfica e investigar suas possíveis transformações no período gestacional, discutindo o conceito de imagem corporal, diferenciando-o do esquema corporal e relacionando as atuações da psicomotricidade e da fisioterapia durante a gestação.
Imagem Corporal: Noções e Definições
O corpo apesar de esquematicamente igual para todos da mesma espécie, é individual. O corpo é a entidade física, meio pelo qual o indivíduo produz relação com o mundo e com os outros. É uma maneira de ser, expressão da individualidade, porém não é algo somente biológico, mas o lugar onde as emoções e estados interiores se expressam. Não são apenas os dados anatômicos e fisiológicos que formam a imagem que se tem do corpo; a percepção subjetiva ao longo da vida sofre várias modificações.
O modo como o próprio corpo se apresenta para um sujeito é o que entendemos como IC. Não é simplesmente uma sensação de imaginação, mas uma percepção, figuração do próprio corpo formada na mente através das percepções internas e externas e da vivência, relação com outras pessoas.
Imagem corporal é o conjunto de sensações sinestésicas construídas pelos sentidos (audição, visão, tato, paladar), oriundos de experiências vivenciadas pelo indivíduo, onde o referido cria um referencial do seu corpo, para o seu corpo e para o outro, sobre o objeto elaborado. [6]
A IC é contínua e representativa do esquema postural. O desenvolvimento da IC vai desde o nascimento até a morte, dentro de uma estrutura complexa e subjetiva, sofrendo adaptações e transformações globais de acordo com o momento vivido, implicando na construção e reconstrução contínua, procedente do processamento dos estímulos e nunca é estável, ela está sempre em constante modificação de ação para ação. A imagem do corpo é a maneira na qual o corpo se forma e se estrutura na mente do indivíduo, apresentando-o para si próprio.
A idéia de corpo está no interior do sentimento, na disponibilidade e adaptação que temos de nosso corpo e está no centro da relação entre o que foi vivido e o universo que se vive. O corpo é o espelho afetivo-somático do sujeito em conseqüência de uma imagem que ele tem de si mesmo, do outro e dos objetos.
A imagem do corpo não é um fenômeno estático desde o ponto de vista fisiológico. A IC adquire-se, constrói-se e recebe sua estrutura pelo contínuo contato com o mundo… Não é uma estrutura e uma estruturação nas quais têm lugar permanente mudanças. Os processos que constroem a IC não só se desenvolvem no campo da percepção; têm também seu paralelo na arquitetura do campo libidinal e emocional.[7]
A IC amadurece pouco a pouco, na medida em que o bebê vai experimentando o toque, a exploração do espaço, a manipulação e o contato com objetos. A percepção da separação do seu corpo com outros corpos e objetos é gradativa.
Em uma pessoa a IC é constituída desde o nascimento até a morte do indivíduo. No decorrer da vida, a imagem corporal sofre adaptações de acordo com a fase que se está vivendo. [4] Os adultos, mesmo já constituídos, são capturados pelo olhar do outro para o restabelecimento da imagem corporal. Os bebês realmente se espelham no olhar da mãe e este olhar do outro é muito forte e marcante para ele. O primeiro momento de constituição do eu se dá na etapa do estágio do espelho que acontece mais ou menos entre os seis meses e um ano e meio de vida. As pessoas não nascem com o eu constituído, o eu é uma constituição gradativa e uma criança já tem o eu constituído minimamente.
A construção da IC se dá de acordo com a historia do indivíduo e nas suas relações com os outros. Uma pessoa constrói sua imagem do corpo com base nos contatos sociais e a elabora de acordo com as experiências com as ações dos outros onde as palavras e atitudes das pessoas podem provocar sensações e influenciar no interesse do sujeito pelas partes respectivas de seu próprio corpo.
A fase do espelho para a criança, é a associação da imagem visual do “corpo imaginário” dos sonhos e da imaginação dela, sendo a primeira experiência que a criança tem do seu corpo, experiência visual, externa.
O espelho como objeto não passa de um cristal polido e azougado em uma das faces, na qual a ilusão ótica forma as imagens que acabarão por representar quem nela se olhar refletindo-se, isto é, duplicando-se, desdobrando-se. Tenhamos em conta que para um recém-nascido o primeiro espelho será o olhar cênico da mãe, a criança está dentro dela, nesse espelho materno; depois ele poderá imitá-la (imitações precoces e alienantes), como se ele e ela fossem um, passando pela fase do transitivismo, para finalmente, ‘virar pelo avesso’ e tomar posse da sua ‘própria’ imagem, diferenciando-se dela, mas associada para sempre ao espelho.
A IC está relacionada com as emoções e sentimentos do indivíduo com os outros, com ele mesmo e com o seu ambiente, estando também relacionado com o uso de vestimentas e objetos de enfeite, além das suas relações com seu próprio corpo em sua superfície e interior, ou seja, a IC se relaciona com as relações intra e interpessoais. [8] A IC é instável, está sempre em transformações se reestruturando a todo o momento. Isto pode ser percebido pela do valor relativo e da clareza perceptiva de diferentes partes da IC, onde, uma parte do corpo é salientada ou abstraída em certos momentos.
O corpo sempre é modelado pela sociedade e que não é apenas uma entidade histórica ou um produto da sociedade, pois antes de ser uma imagem cultural modificada, o corpo é real e natural e é o que permite as relações entre as pessoas a fim de que o sujeito possa viver no mundo e encontrar os outros.
A nossa IC é muita influenciada pelo interesse e atenção das pessoas que nos rodeiam. Isto nos faz pensar que no processo de estruturação da IC as experiências e sensações vividas por ações e reações dos outros em nossas relações sociais são parte integrante do processo e da construção da IC.
O ser no mundo, ao construir-se, constrói também os que o circundam, pois as experiências visuais ao mesmo tempo em que constroem a IC pessoal, constroem a IC dos outros. A imagem corporal não está presa aos limites do próprio corpo, indo além dele, pois o indivíduo tem curiosidade tanto pelo próprio corpo, como pelos corpos dos outros. O sujeito quer conhecer as emoções e representações dos outros e mostrar as suas, proporcionando um intercâmbio entre as imagens corporais dos que se relacionam. [7]
O “espaço específico” que rodeia a IC tanto aproxima objetos do corpo, como o corpo de objetos, onde a emoção é o que irá determinar a distância entre os objetos e o corpo. A imagem do corpo não está ligada apenas às configurações perceptivas estimuladas pelas configurações sensoriais, mas também ao aspecto emocional que tem grande importância, podendo aproximar ou afastar o corpo de objetos externos.
“A pessoa humana reconhece-se a si mesma como um ser sensível que deseja, ama e sente dor e prazer graças ao seu próprio corpo”.
Como já foi dito anteriormente, a imagem do corpo é individual e está ligada à história pessoal do sujeito. Ela se forma com a vivência das emoções com seus cuidadores, com as relações “inter-humanas” vividas com prazer e com as experiências relacionais da representação da necessidade e do desejo. É o lugar de memória inconsciente que envia e recebe emoções, que nas primeiras fases da vida estão localizadas nas zonas erógenas, em torno do prazer e desprazer destas zonas.
A personalidade humana passa por diversas situações ao longo da vida, mudando e adaptando-se. A construção da imagem corporal é constante e tem sempre tendência a rupturas. A IC é dinâmica e se modifica devido à maturação, à dor, à doença, mutilação, insatisfação, etc., sendo influenciada por fatores sociais, libidinais e fisiológicos. Uma experiência do indivíduo provoca “instantaneamente” uma mudança em sua IC.
Uma pessoa não tem uma percepção sempre igual de seu corpo, dos seus membros e de seus órgãos internos. Temos uma ligeira sensação difusa da totalidade do corpo, como um pano de fundo, onde sobressaem determinadas partes, como figurantes em um palco. Por exemplo, quando escrevo, tenho a percepção das minhas mãos em primeiro plano, das minhas costas que começam a doer e de que me apoio no assento da cadeira. As outras partes do meu corpo estão, momentaneamente ausentes do meu campo consciente.
Há uma enorme dificuldade em diferenciar imagem e esquema corporal. Alguns autores citam estes conceitos como opostos, outros como sinônimos. Preferimos diferenciar imagem corporal de esquema corporal, onde imagem é a síntese viva de nossas experiências, é o utensílio, é o mediador entre o sujeito e o mundo e esquema é uma realidade de fato, é o corpo em sua utilização funcional, é o representante da espécie.
Como representante da IC, o EC também sofre influências das relações do indivíduo. O EC simboliza a imagem do corpo do sujeito desejante, sem ter uma relação rígida com o corpo orgânico. No que define o modelo postural do sujeito, a vida afetiva tem grande influência. O ser desejante em relação ao corpo existe desde a concepção.
Não se deve, nem se pode confundir imagem corporal com esquema corporal e confusões metodológicas e conceituais estão sendo feitas em estudos neurológicos e psicológicos com resistências a determinadas definições onde os termos “Imagem Corporal” e “Esquema do Corpo” são confundidos. É preciso atentar para isso
O esquema corporal é evolutivo, modifica-se com o tempo, pois o corpo muda de tamanho, de peso, de medidas e as capacidades funcionais do corpo também mudam. Ele mostra-se, revela-se gradativamente ao sujeito. Durante a gravidez, enquanto o corpo se transforma, a IC e o EC também se modificam, se adaptam. A gravidez é uma experiência na qual a mulher entra em contato com seu corpo de uma maneira nova e particular. Há uma nova relação com sua própria corporeidade e com o mundo externo, tornando-a diferente do que era antes, tudo se adapta. [7]
A Gestação
O corpo da mulher foi preparado para a gravidez desde sua concepção e ao longo de sua vida, seu organismo foi se modificando, se preparando e se adaptando para a maturidade sexual. [2] A fisiologia da gravidez é melhor entendida quando se interagem aspectos hormonais, relações materno-ovulares e adaptações da própria gestante. A fisiologia e os sentimentos relacionados com a gravidez estão diretamente ligados às relações da mãe com o meio em que vive.
Mesmo nas gestações planejadas e desejadas, um certo grau de ambivalência se faz presente sob a forma de dúvidas, temores, insegurança; mesmo nas gestações indesejadas, há uma busca inconsciente do filho ou da afirmação da fertilidade como valorização pessoal.
As mudanças que ocorrem no sistema reprodutivo da mulher são resultantes de mudanças no seu equilíbrio hormonal, estando relacionadas a uma série de ajustes secundários decorrentes ou não de outros sistemas. Quatro fatores são os principais responsáveis pelas mudanças gerais da gravidez, dentre eles citamos: as mudanças hormonais, o aumento no volume sangüíneo, o crescimento do feto e o aumento de peso com mudanças no centro de gravidade materno. Estes quatro fatores influenciam diretamente na transformação da imagem corporal ao longo da gestação.
Não se pode falar de gravidez sem se remeter à imagem de uma mulher grávida com toda a mudança física desta mulher, especialmente pelo grande crescimento abdominal. Na gravidez, há um aumento do peso da gordura, em média de 2 quilos, fora o aumento relacionado ao bebê, placenta, proteínas e líquidos. Há uma predisposição para que o acúmulo dessa gordura adquirida durante a gravidez venha a se localizar nas nádegas, coxas, abdome, membros superiores e mamas para manter as funções normais do tegumento. [10] O corpo da mulher sofre, nesta fase da vida, rápidas modificações que adquirem grandes significados de alegria e até mesmo conflitivos.
É difícil falar de corpo sem falar de mente. O corpo é o utensílio, o mediador entre o sujeito pensante e o mundo, e as intensas transformações físicas e biológicas da gravidez têm grande influência psicossocial. A IC é a representação do nosso próprio corpo na nossa mente, como o corpo se apresenta para nós. Está em constante mutação sendo influenciada por caracteres narcísicos (pessoais) e inter-relacionais (das relações com o externo). É a memória inconsciente das nossas experiências relacionais e emocionais.
A distorção da imagem corporal (DIC) pode ser definida como preocupação exacerbada com o excesso de peso, freqüentemente causando a exclusão de qualquer outra característica pessoal e avaliação do corpo como sendo grotesco e até repugnante, com a conseqüente sensação de que as demais pessoas só podem olhar para ele/ela com horror ou desprezo.
O desenvolvimento psicológico do indivíduo acompanha-o ao longo da vida, ou seja, a pessoa nunca pára de crescer psicologicamente. É marcado por vários períodos decisivos do desenvolvimento emocional que moldam as características pessoais e psíquicas da sua identidade. A mulher durante a gestação e puerpério atravessa um desses períodos que faz parte do processo normal do desenvolvimento psíquico.
Durante a gravidez, a mulher experimenta muitos conflitos emocionais relacionados às alterações físicas, hormonais e principalmente à ansiedade provocada pelo impacto de esperar um novo ser desconhecido, o que gera muitos conflitos e sentimentos contraditórios como o desejar e não desejar a gravidez, sentir o amor pelo filho e o medo de perder o amor do parceiro ou ter que dividi-lo com a criança. [11]
Estar grávida, tornar-se mãe ou até ser mãe novamente, são aspectos de uma experiência que pode ser rica, mas também ameaçadora, pois uma gravidez gera não só um lindo bebê, mas gera também ambigüidades de sentimentos e conseqüentemente, desequilíbrio emocional. [10]
Contudo, há grande importância de uma estabilidade emocional materna, que passa a contribui para o bem-estar físico e mental da mulher e do recém-nascido (RN), proporcionando uma recuperação pós-parto rápida e sadia.
Alterações na Imagem Corporal na Gestação
A gestação é um período de intensas transformações físicas e emocionais. Todo o corpo da mulher está se transformando para que ela possa abrigar o bebê, alimentá-lo e permitir o seu desenvolvimento até a hora do nascimento.
Algumas mudanças ocorrem no organismo da mulher que, de certa forma, acabam atingindo o seu estado de humor. Com o crescimento do útero, ocorre a elevação do diafragma e a distensão dos músculos abdominais e uma projeção do corpo para frente. Para manter o equilíbrio, a gestante aumenta sua base de sustentação afastando os pés e acentua a lordose lombar sendo compensada pelo aumento na cifose torácica, rotação dos ombros e projeção da cabeça para frente. Normalmente as gestantes ficam mais pesadas e a coordenação motora fica mais lenta. Devido a isso, algumas atividades podem ajudar na mudança para uma IC positiva, objetivando proporcionar melhoras na qualidade de vida.
Durante a gravidez, as mulheres passam por mudanças bioquímicas e físicas que acabam levando a alterações psicológicas. Muitas das alterações e estados emocionais são comuns e normais à gravidez, como a ansiedade. Outros, como a depressão e somatizações, pânicos são considerados patológicos. [1]
Algumas mulheres, na tentativa de amenizar a ansiedade, comem em excesso levando ao aumento exagerado do peso. Outras param de se alimentar por não conseguirem “engolir” mais nada. Essas reações podem ser tentativas inconscientes de se fazer serem “enxergadas” como sujeitos e não somente como uma barriga.
A alimentação varia de acordo com a cultura, e o aconselhamento nutricional durante a gravidez também. As práticas alimentares culturais são históricas e hoje é oposta ao que antes era preconizado. É importante a grande variedade de alimentos ingeridos, a quantidade reduzida das porções ingeridas e a grande quantidade de refeições para que o pouco ou o excesso de peso na gravidez não seja prejudicial à gestante e ao feto. Antes se acreditava que a mulher grávida deveria comer por dois. Hoje se sabe que é importante tanto a seleção de alimentos, como alimentar-se de acordo com seu apetite, sem exageros. [12]
A entidade corpo vê e é vista pelos outros corpos e por si mesma. A auto-imagem de uma pessoa só é definida quando ela se relaciona com os outros. Este é o self público, o que o indivíduo considera que os outros pensam em relação ao seu corpo, onde o corpo vivencia as imagens corporais dos corpos dos outros. O contato e o interesse por estes outros corpos são importante para o desenvolvimento do modelo postural do corpo, assim como as vestimentas podem fazer parte da imagem corporal da pessoa sendo importante para a formação da imagem corporal. Tomamos como exemplo oportuno mulheres que antes mesmo que se possa perceber que ela está grávida, ainda no início da gravidez, usam roupas “para grávidas”. [3]
O indivíduo pode excluir do seu corpo certos órgãos como incluir em sua imagem corporal, anéis, penduricalhos e até um automóvel. Os objetos referidos encontram suas representações intrapsíquicas porque recebem um montante específico de energia libídica.
As alterações corporais próprias da gravidez podem levar a mulher a se sentir feia, gorda, menos atraente e menos mulher durante a gestação. Os fatores possíveis para a diminuição do desejo sexual são os mais diversos; a sensação de que grávida é “pura” e assexuada, o medo de machucar o feto, o desejo de “vingar-se” do homem que a engravidou quando ela não queria ou até a diminuição normal desse desejo nessa fase. [13]
Contudo, os sentimentos da mulher em relação às modificações corporais estão ligados com as atitudes do parceiro frente a essas mudanças, com as alterações da sexualidade e com o próprio medo em relação à gravidez. As alterações do IC podem ser vividas de várias formas, dependentes da história de vida da mulher. É comum a sensação de que a gravidez tornou-a mais feminina, pois se sabe agora que ela é capaz de gerar um filho (onde a mulher passa a se sentir mais adulta, saindo de uma posição infantil). Em outros casos, as alterações do IC são negativas. A mulher sente-se feia e incapaz de atrair alguém
Há a tendência de superestimar seu tamanho, especialmente mulheres que foram crianças e/ou adolescentes que não tiveram uma boa “relação” com seus esquemas e imagens corporais. A insatisfação com a imagem do corpo é comum, porém o agravamento com distorção da imagem corporal (DIC) é menos freqüente. E, apesar da IC não ser uma abordagem comum, existe a preocupação de que sua alteração durante a gravidez venha a alterar a relação da mãe como o RN. Portanto, é importante trabalhar a IC durante a gravidez para que esta se torne mais apropriada e menos conflitiva. [14]
A imagem corporal é crucial no desenvolvimento do autoconceito pessoal e é necessário encontrar algo que permita a mulher escapar deste “discurso de beleza atual”, pois a gravidez trará a ela mudanças corporais e a fará refletir sobre seus autoconceitos e sobre sua imagem corporal. [3]
A prática de exercícios físicos durante a gravidez pode ser vista como escape diante das mudanças físicas deste período. No mundo atual, praticar exercícios se tornou um estilo de vida para as pessoas, incluindo mulheres em idade fértil. O desejo de continuar praticando exercícios durante a gestação atinge quase todas, senão todas as mulheres que já praticavam exercícios antes de engravidar e desejam aprender como manter suas atividades, assim como aquelas que desejam iniciar uma atividade física na gestação para serem mais “saudáveis”, manter ou adquirir uma boa forma. [12]
Psicomotricidade e Fisioterapia
A psicomotricidade estuda o sujeito através do seu corpo em movimento, a relação com seu mundo interno e externo, a percepção e ação com o meio e as pessoas, os objetos e consigo mesmo. É o termo utilizado para a realização de um movimento organizado e integrado em função das experiências vividas pelo sujeito que tem sua ação resultante de sua individualidade, linguagem e socialização. [15]
A ciência psicomotricidade diz respeito à posição global do sujeito. Pode ser compreendida como a função do ser humano que resume psiquismo e motricidade para adaptar-se ao meio que o cerca. Possui um olhar globalizado que percebe a relação entre a motricidade e o psiquismo, entre o indivíduo global e o mundo externo. É uma técnica, ou um conjunto delas cuja organização de atividades possibilita à pessoa conhecer de concretamente seu ser e seu ambiente para atuar de maneira adaptada. [16]
Tem como objetivo o desenvolvimento da capacidade motora, criativa e expressiva do sujeito a partir do corpo, levando-o a centrar sua atividade no movimento pela ação com origem nas disfunções, patologias, excitação, estímulos, aprendizagem etc. [17]
A psicomotricidade é uma disciplina educativa, reeducativa e terapêutica. Onde considera o ser humano como uma unidade psicossomática atuante sobre sua totalidade por meio do corpo e do movimento no ambiente, e também por métodos trabalhosos de intervenção principalmente corporal, com o intuito de contribuir com o seu desenvolvimento integrante. [18]
A psicomotricidade se ocupa do corpo em sua “globalidade”. Esta por sua vez é observada em três dimensões de funcionamento, a instrumental, a cognitiva e a tônico-emocional, que são fenômenos observáveis, visíveis e conscientes. A psicomotricidade é uma articulação que parte de uma ordem simbólica que possibilita conceber o corpo, os gestos, o movimento, o tônus, o espaço, as posturas, os objetos e o tempo como o dizer corporal de um sujeito; dizer este que é olhado e é dito. Deste modo, a psicomotricidade afasta-se, por um lado, do discurso que toma o corpo como sujeito em si mesmo e por si mesmo, o corpo como “coisa”; e, por outro lado, afasta-se da terapêutica do jogo corporal pelo jogo corporal por si mesmo, para constituir-se na clínica que se ocupa das perturbações psicomotoras do sujeito.
Ela observa o corpo, a motricidade e a psiquê como uma unidade, uma totalidade do ser, sendo o corpo a sede original, essencial e existencial do sujeito. O corpo reflete a totalidade orgânica, emocional e neurológica do indivíduo tendo características próprias, únicas e individuais, que apesar de organizadas, estão prontas para novas adaptações, estão disponíveis para novas aprendizagens. Estas adaptações e aprendizagens são adquiridas através da interação do ser, através do corpo, com o meio, com os objetos, com outras pessoas e consigo mesmo ao longo da vida a fim de associar o ato ao pensamento, o gesto à palavra e o símbolo ao conceito.
Pode-se então concluir que a psicomotricidade é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.
A evolução da motricidade é complexa e ao longo dos anos, o campo psicomotor desenvolve-se de acordo com diferentes cortes que modificam a clínica. [4]
A clínica psicomotora centra o seu olhar, a partir da comunicação e da expressão do corpo. É aquela na qual o eixo é a transferência e, nela, o corpo real, imaginário e simbólico é dado a ver ao olhar do psicomotricista. Esta concepção de sujeito, implica um corte que o lança a uma divisão no real, no imaginário e no simbólico. “A clinica psicomotriz é aquela na qual o eixo é a transferência, e nela o corpo real, imaginário e simbólico dá-se a ver ao olhar do psicomotricista”. [7]
A clínica psicomotora tem como objeto o corpo real, simbólico e imaginário e a motricidade de um sujeito em sua dimensão social, afetiva, intelectual e psicomotora. O propósito da psicomotricidade é fundamentar evolutivamente a práxis do sujeito e não redimensionar sua história para acompanhar um movimento cronológico, nem muito menos se apropriar de recursos técnicos desarticulados da realidade do sujeito.
O psicomotricista trabalha na brecha onde o inconsciente ouve o que não se fala e o corpo vê o que o olhar do outro não vê. O corpo faz o resto (objeto) e o sentido do gesto é o que é importante. O psicomotricista relaciona o saber natural e técnico com o saber mundano e moral. Relaciona o movimento e os hábitos, a habilidade e o criativo, o natural e o normativo (jurídico e normalizante).
O processo de constituição do sujeito se inicia desde o planejamento da gravidez, peculiar a conduta humana, ao envolvimento desejativo parental em relação à criança que um dia virá. O desenvolvimento do sujeito depende do outro-primordial que realize a função materna para completar o que nele falta, suprindo a precariedade do biológico, o que é fundamental para a saúde psíquica da criança. No entanto, a linguagem é quem diferencia sujeito e corpo. O corpo é um objeto que obedece às leis da mecânica, fragmento do espaço visível e mensurável e é, marcado por uma mente que pensa, “o sujeito”. O sujeito exterioriza seus pensamentos através da linguagem que pré-existe ao nascimento. O sujeito pré-existe ao corpo e subsiste após a sua morte. Então, o corpo é construído, constituído, a partir de uma história que começa e se desenvolve sem que o indivíduo possa escolher nada dele, está em sua origem, constitui-o, torna-o humano. [4]
O corpo é um lugar de inscrição, destinado a imprimir-se como cenários, cópias de outro. Desde muito cedo é possível perceber que, no indivíduo, a intuição de globalidade da forma do seu corpo desencadeia manifestações motoras jubilação, à vista do corpo do outro; e, esta capacidade de experimentar o corpo do outro como seu reforça o sentido de que “o corpo é um receptáculo”. O corpo, ainda, é um receptáculo na medida em que o indivíduo torna-se capaz de receber os “ritmos próprios” do mundo exterior, quando um gesto muda de sentido segundo o contexto.
O psicomotricista atua na prevenção, educação, reeducação e terapêutica, trabalhando com as desarmonias e patologias psicomotoras. O indivíduo, antes da atuação propriamente dita do psicomotricista é submetido a um perfil psicomotor, onde se estabelece um projeto terapêutico de acordo com os achados específicos da avaliação psicomotora. Este perfil psicomotor é baseado na leitura de macro e micro movimentos do corpo, procurando fazer um traçado das conexões existentes entre os aspectos sensoriais, motores, afetivos, emocionais, cognitivos e de desenvolvimento do indivíduo.
O profissional de psicomotricidade tem como campo de atuação o corpo do indivíduo em movimento. Ele analisa as relações que o sujeito constrói com o tempo e o espaço, ajudando-o a descobrir novas formas de utilização do seu corpo favorecendo um conhecimento pessoal com conforto e destreza corporal.
A psicomotricidade surge como um alicerce sensório-perceptivo-motor indispensável na contribuição do processo de educação e reeducação psicomotoras, pois atua diretamente na organização das sensações, das percepções e nas cognições visando a sua utilização em respostas adaptativas. A psicomotricidade evidencia a relação que existe entre os processos cerebrais e afetivo/emocionais com o ato motor. [17]
É na relação dos processos cerebrais com o ato motor que uma importante ligação entre a fisioterapia e a psicomotricidade pode ser feita. A fisioterapia e a psicomotricidade clínica tratam alterações que envolvem o tônus muscular (ponte entre o psíquico e o físico), o movimento (envolvendo o indivíduo e suas relações) e a postura (enquanto atitude de ser no mundo). Para o psicomotricista, o conceito de unidade ultrapassa a ligação entre o psíquico e o somático e assim também é para o fisioterapeuta, onde a unidade do ser está em um ser global, individual, com características próprias que se constituíram ao longo de sua vida e o sujeito é visto em sua singularidade, sua originalidade. [15]
A psicomotricidade proporciona o equilíbrio e o ajustamento da totalidade psicossomática do ser humano em suas múltiplas relações, de forma integrada, organizada e produtiva. A prática psicomotora busca desenvolver no sujeito melhores condições de consciência de si mesmo e do meio em que vive. A fisioterapia desenvolve atividades físicas e motoras a fim de que o indivíduo tenha benefícios tônico-posturais, da percepção do seu corpo (propriocepção) e de sua motricidade com uma melhor organização de suas funções psíquicas e emocionais.
A fisioterapia é uma ciência da saúde que estuda, previne e trata disfunções cinético-funcionais dos órgãos e sistemas do corpo humano, geradas por alterações genéticas, traumas e/ou doenças adquiridas. Ela fundamenta suas ações em mecanismos terapêuticos próprios utilizando conhecimentos biológicos, psicológicos e sociais do ser humano. [9]
O objetivo fundamental da fisioterapia é promover a saúde e prevenir doenças, deficiências, incapacidades e inadaptações de indivíduos pelas disfunções físicas, mentais e do desenvolvimento. O fisioterapeuta deve ter consciência de que a escolha e aplicação de seu tratamento devem estar inseridas nos contextos econômico, social e biológico do indivíduo. No entanto, são utilizadas técnicas terapêuticas de avaliação do movimento e da postura como também meios físicos e naturais para tratar, habilitar e reabilitar seus movimentos, fazendo com que atinjam a sua máxima funcionalidade e qualidade de vida possíveis.
O fisioterapeuta pode atuar em diversas áreas como a ortopédica, a neurológica, na cardiologia, entre outras, sendo que na área de ginecologia e obstetrícia que tem o objetivo de fornecer uma assistência integral à saúde da mulher podendo atuar em clínicas, ambulatórios, hospitais, serviços de saúde pública ou no ambiente de trabalho da mulher.
O fisioterapeuta é o profissional capacitado para atuar nas disfunções ginecológicas e urológicas, antes e após cirurgias ginecológicas, na reabilitação de mamas (pré e pós cirurgias) e durante a gestação (alterações fisiológicas, biomecânicas e emocionais), na preparação para o parto, durante o parto e no pós-parto. Especificamente em obstetrícia que é a área destinada à gestação, parto e puerpério, o fisioterapeuta atua nas alterações associadas à gestação, na preparação para o parto, no apoio durante o trabalho de parto e durante o pós-parto. [5]
A fisioterapia tem diversos meios para auxiliar o bom desenvolvimento de uma gravidez sem intercorrências e riscos ao desenvolvimento do feto. A elaboração de um tratamento preventivo para gestação, visa diminuir o impacto da gravidez no organismo materno, fazendo com que seja mais aceita, vivida e compreendida não só pelo corpo biológico, mas também pelo corpo psíquico. Os exercícios de percepção corporal, relaxamentos, alongamentos, massagens terapêuticas e posturas são os mais utilizados pelo fisioterapeuta. O fisioterapeuta orienta e prepara a gestante para enfrentar as transformações que decorrem da gravidez, orienta quanto à fisiologia da gravidez, os hábitos que devem ser adotados, a preparação física da gestante, a prevenção de problemas e a manutenção da saúde no período pré-natal, durante o parto e no pós-natal. A fisioterapia tem como finalidade preparar fisicamente a gestante para que possa enfrentar convenientemente a mudança fisiológica que se produzirá nela, para que assim, possa aproveitar ao máximo a sua gestação.
Antes que se inicie um programa fisioterapêutico, a gestante deve realizar exame pré-natal, sendo este a única exigência admitir uma gestante no serviço de fisioterapia. O médico deve liberar a gestante para a realização de exercícios e atividades físicas e o fisioterapeuta deve escolher atividades a serem realizadas somente após uma avaliação fisioterápica criteriosa com exercícios adequados ao seu período de gestação devendo proporcionar atividades agradáveis e seguras, respeitando a individualidade de cada gestante.
A fisioterapia obstétrica tem como objetivo promover uma melhor postura no período pré e pós-natal, preparar os membros superiores (MMSS) para os cuidados do bebê, promover uma maior percepção corporal e uma IC positiva; preparar os membros inferiores (MMII) para o aumento do peso a ser suportado e para alterações circulatórias ocorridas na gestação, melhorar a percepção e o controle da musculatura do assoalho pélvico (períneo), promover um preparo cardiovascular seguro, informar sobre as mudanças que ocorrem durante a gestação e no parto, minimizar e/ou evitar transtornos como algias da coluna, varizes, hemorróidas e edema nos MMII, preparar fisicamente para o trabalho de parto e orientar atividades e exercícios progressivos seguros para o pós-parto. [5]
É de atuação do fisioterapeuta ampliar as possibilidades do indivíduo através do auto-conhecimento de sua imagem corporal, de seu esquema corporal, da percepção corporal e de melhorar a propriocepção para seu equilíbrio postural. [19]
Os exercícios corporais para uma gestante aplicados por um fisioterapeuta com conhecimento da psicomotricidade são exercícios aplicados não como fim, mas como meio de fazer com que a gestante perceba suas dificuldades e aprenda a identificar e a lidar com elas de uma maneira mais flexível, vencendo-as e acreditando ser capaz de dominar seu corpo através do movimento. Ou seja, uma mulher grávida que não consegue se adaptar às mudanças físicas do seu corpo sente-se uma verdadeira “pata”, desajeitada, inábil, desengonçada, incoordenada. Se isto não for trabalhado, ela irá encarar a gestação como uma fase ruim causando insegurança, baixo auto-conceito e isolamento. [10]
Wallon Apud ABREU (2004) [20] afirma que “um dos grandes passos a ser realizado pela sociedade é aquele que deve unir o orgânico ao psíquico, o corpo à alma, o indivíduo ao seu corpo sociocultural”.
Conclusão
Através de estudos bibliográficos sobre a imagem corporal e suas transformações no período gestacional, foi possível verificar que durante esse período realmente ocorrem transformações na mulher em relação a sua IC, como conflitos, medos, fantasmas da mulher, além das mudanças orgânicas. Devido a isso se observou a necessidade de um acompanhamento psicomotor no pré-natal além daqueles que já são realizados, já que a gestação é um período de alterações físicas e emocionais intensas e a IC é fundamental no desenvolvimento do autoconceito pessoal, pois trás mudanças corporais importantíssimas que leva a mulher refletir sobre sua IC antes e depois da gestação. O acompanhamento psicomotor no pré-natal não se limita apenas aos conhecimentos biológicos e técnicos-específicos, mas analisa o tônus como uma ligação entre o psíquico e o físico, o movimento envolvendo o indivíduo e suas relações e a postura enquanto atitude de ser no mundo, não se limitando apenas no pré-natal, mas incluindo também no pós-natal. Vimos que a psicomotricidade estuda o sujeito através do seu corpo em movimento, esta pode ser compreendida como a função que resume psiquismo e motricidade para adaptar e desenvolver no sujeito, melhores condições de consciência de si mesmo no meio em que vive.
Como fisioterapeutas vimos a necessidade de uma relação de atuação com os conhecimentos da psicomotricidade no período gestacional, já que a fisioterapia tem diversos meios para auxiliar o bom desenvolvimento de uma gravidez sem intercorrências, e a psicomotricidade trabalha onde o inconsciente ouve o que não se fala e o corpo vê o que o olhar do outro não vê. Ou seja, a psicomotricidade evidência a relação que existe entre os processos cerebrais e afetivo/emocionais como ato motor, e é nessa relação que é importante a ligação entre a fisioterapia e a psicomotricidade, pois elas tratam alterações que envolvem o psiquismo e o físico, o individuo e suas relações. O trabalho de um fisioterapeuta com os conhecimentos da psicomotricidade aplicados a uma gestante são exercícios e atividades que não são aplicados como fim, mas como meio de fazer com que a mulher perceba suas dificuldades durante o período gestacional e aprenda a identificar e a lidar com elas, passando a acreditar que a mesma é capaz de dominar seu corpo através do movimento, caso não seja trabalhado ela poderá encarar a gestação com insegurança, com diminuição do autoconceito e isolamento.
Referências Bibliográficas
[1] MALDONADO, Maria Tereza. Psicologia da gravidez, parto e puerpério. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 46.
[2] CUNHA_CAVALCANTI, Daniella L. Análise do processo álgico no parto cesário. Monografia de Graduação. Orientador: Verônica Laryssa Smith. Universidade Potiguar. Natal, 2004. p. 106.
[3] KNIJNIK, Jorge Dorfman; SIMÕES, Antônio Carlos Simões. Ser é ser percebido: uma radiografia da imagem corporal das atletas de handebol de alto nível no Brasil. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo: USP, v. 14, n. 2, p.196-213. Jul./dez. 2000.
[4] LEVIN, Esteban. A clínica psicomotora: O Corpo na Linguagem. Tradução Julieta Jerusalinsk. 4.ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
[5] STEPHENSON, Rebecca G. & O´CONNOR, Linda J. Fisioterapia aplicada à ginecologia e obstetrícia. Tradução Ângela Cristina Horokosky. 2. ed. Barueri: Manole, 2004. p. 520.
[6] MATARUNA, L. Imagem corporal: noções e definições. Disponível em: . Acesso em: 22 mar. 2005, p. 1, 3.
[7] YAÑEZ, Zulema G. Escritos da criança: psicomotricidade e seus conceitos fundamentais. n. 4. 2.ed. Porto Alegre: Centro Lydia Coriat, 2001.
[8] SCHILDER, P. A imagem do corpo: as energias construtivas da psique. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
[9] DOLTO, F. A imagem inconsciente do corpo. São Paulo: Perspectiva, 1992.
[10] SOUZA, Elza Lucia Baracho Lotti de. Fisioterapia aplicada a obtetrícia e aspectos de neonatologia: uma visão multidisciplinar. 2. ed. Belo Horizonte: Health, 1999. p. 353.
[11] ÁVILA, Ângela Amâncio de. Soccorro, doutor! atrás da barriga tem gente. São Paulo: Atheneu, 1998.
[12] ARTAL, Raul; WISWELL, Robert A.; DRINKWATER, Barbara L. O exercício na gravidez. Tradução Ruth Moreira Leite. 2.ed. São Paulo: Manole, 1999. p.332.
[13] Federação Brasileira de Ginecologia e obstetrícia – FEBRASGO. Tratado de obstetrícia. Rio de Janeiro: Revinter, 2000. p.913.
[14] SEGAL, Adriano; CORDEAL, Marcus Vinícius; CORDÁS, Táki Athanassios. Aspectos psicossociais e psiquiátricos da obesidade. Revista de Psiquiatria clínica. São Paulo: USP, v. 19, n. 2, p. 81-82, 2002 tab.
[15] MATTOS, Vera Lúcia. Tópicos: o que é psicomotricidade. Disponível em: Acesso em: 02 ago. 2004.
[16] DE LIÈVRE; STAES. Psicomotricidade. Disponível em: . Acesso em: 25 maio 2004.
[17] BERRUEZO. Psicomotricidade. Disponível em: . Acesso em: 25 maio 2004.
[18] MUNIÁIN. Psicomotricidade. Disponível em: . Acesso em: 25 maio 2004.
[19] CADORE, T; et al. Programa fisioterapêutico de melhora na qualidade de vida a crianças deficientes visuais da escola estadual de ensino médio andré leão poente do município de Canoas. Disponível em: Acesso em: 02 out. 2004.
[20] ABREU, Berenice Ferreira Leonhardi de. Os vários caminhos da psicomotricidade. Disponível em Acesso em 14 set. 2004.

2 comentários em “A GESTANTE E SUA IMAGEM CORPORAL: UMA ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA E DA PSICOMOTRICIDADE”

  1. ednardo soares da costa

    qual a data que esse artigo foi publicado queria usar ele como referência bibliográfica.

  2. Olá Pessoal, além deste canal a revista tem uma sala de bate-papo exclusiva para fisioterapeutas trocarem informações seja por texto, seja por voz, além de arquivos, artigos e muito mais. Se você também precisar fazer uma reunião com sua equipe, temos salas apara até 99 pessoas simultâneas inteiramente grátis. Conheça nossa plataforma em: bit.ly/fisio-discord

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