GERENCIAMENTO DE RESÍDUO TÊXTIL NA CADEIA PRODUTIVA DE ROUPA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7382632


Lucas Dias Silva; Matheus Strapasson Merenda; Vivian Giampietro Martins dos Santos;
Orientador; Alexandre Iartelli


RESUMO

Com o aumento na produção de artigos de vestuário, ocorre o impacto direto na produção e descarte de retalhos da indústria têxtil. Em 2021, ocorreu o descarte indevido de 59 toneladas de tecidos em aterros sanitários. As quantidades alarmantes têm chamado a atenção de empresas que buscam alternativas no mercado para a reutilização desses materiais. Além disso, grande parte da população desconhece a forma correta de descartar esses tecidos e acabam contribuindo para a contaminação dos solos, poluição química, entre outros impactos que prejudicam o meio ambiente. O mercado de ativos biológicos tem crescido no mundo e tem previsão de alta exponencial nos próximos anos, mas os dados obtidos nas pesquisas demonstram que ainda existe a necessidade de investimento em divulgação e incentivos para que as organizações e pessoas conheçam as formas conscientes de reduzir os impactos no meio ambiente.

Palavra-chave: TECIDO, CONFECÇÃO, DESPERDÍCIO, RECICLAGEM.

ABSTRACT

With the increase in the production of garments, there is a direct impact on the production and disposal of textile industry scraps. In 2021, 59 tons of fabrics were improperly disposed of in landfills. The alarming amounts have called the attention of companies seeking alternatives in the market for the reuse of these materials. In addition, a large part of the population is unaware of the correct way to dispose of these fabrics and end up contributing to soil contamination, chemical pollution, among other impacts that harm the environment. The biological assets market has been growing in the world and is expected to grow exponentially in the coming years, but the data obtained in the surveys show that there is still a need for investment in dissemination and incentives for organizations and people to know the conscious ways to reduce impacts on the environment.

Keywords: FABRICS, CLOTHING, WASTE, RECYCLING.

1. Introdução

O Brasil encontra-se entre os quatro maiores produtores de setor de malhas no mundo, segundo a Abit – Associação brasileira da indústria têxtil e de confecções (ABIT, 2022) e possui a maior cadeia têxtil completa do Ocidente. O país possui a cadeia produtiva iniciada na plantação do algodão, fiação, tecelagem, beneficiamento (tinturarias), confecções de roupas até os desfiles de moda e varejo.

A Abrapa (Associação brasileira dos produtores de algodão) coloca o Brasil em 5° lugar no ranking na produção agropecuária de algodão (ABRAPA, 2022), entre o período de 2021 e o primeiro semestre de 2022. Além de ser 4º maior exportador da fibra (ABAPA, 2018).

As empresas do setor têxtil têm seu polo principal em São Paulo, seguindo pelo agreste pernambucano. O estado com o maior número de tecelagens também é responsável pelo maior polo de confecções de roupas situado no centro de São Paulo.

O setor têxtil tem ganhado espaço no Brasil e no mundo, e o principal motivo é a necessidade de ter algo para vestir ou simplesmente se enquadrar na moda. O grande consumo de artigos de vestuários impacta no aumento de roupas e retalhos que são descartados em lixões. Em 2021 no Deserto do Atacama no Chile, foram descartadas cerca de 59 toneladas de roupas, apenas 34% são reaproveitadas por comerciantes locais que revendem as peças.

Um meio de tentar frear o aumento significativo de desperdício de tecido , é a implementação da economia circular, dando a matéria que seria descartada um novo uso, barateando os produtos, diminuindo a utilização de matéria prima virgem e a quantidade de material desperdiçado.

Com os números alarmantes, ativistas da causa vem tentando aprovar medidas juntamente com o congresso nacional para frear os impactos negativos no meio ambiente. Um exemplo disso é o projeto de Lei 270/22, que está em trâmite na Câmara dos Deputados com incentivos significativos para os consumidores e empresários.
Segundo a pesquisa da “Research And Markets” (MUNDOMARKETING, 2022), levando em consideração os dados desde 2019, o crescimento previsto até 2023 atinge aproximadamente 2 bilhões de dólares, reforçando a urgência de uma legislação atuante e alinhada com as causas ambientais.

1.1 Justificativa

O consumo desenfreado de roupas tem prejudicado cada vez mais o meio ambiente, gerando urgência na criação de soluções por parte das organizações e governantes para o controle do desperdício e uso consciente. Por muitas vezes, esses problemas são ocasionados por pessoas que desconhecem sobre o processo de descarte correto de resíduos têxteis e acabam despejando no lixo comum.

Esse artigo mostra as principais fases do processo, no qual evidencia o desperdício desde a criação do tecido até o descarte incorreto do consumidor final, a fim de demonstrar que existem alternativas de reciclagem para todos os tipos tecido e reduzir os impactos negativos na esfera ambiental.

1.2 Objetivo

Gerar conhecimento sobre o desperdício de resíduos têxteis na cadeia produtiva de roupas. O descarte e a reutilização dos resíduos.

2. Revisão bibliográfica

2.1 Tecidos

A cadeia produtiva de artigos de vestuários inicia-se no plantio de algodão e passa por diversos processos, o qual a fibra de algodão é transformada em fio, até a confecção final do tecido, ou seja, a criação de peças de roupas.

As peças de tecido que são produzidas na tecelagem, passam por etapas nas tinturarias, que são responsáveis pelo acabamento e cor das peças.

Na primeira etapa, as peças de tecido são separadas em lotes (barcas), são costuradas para formar uma peça única, essas peças são chamadas de cordas. As cordas passam por um processo de preparação ou pré-tratamento, que tem como objetivo retirar as impurezas do tecido, como óleos lubrificantes provenientes da máquina de tecelagem, cera, parafina e outras impurezas que são retirados com a lavagem.

Na segunda etapa ocorre o tingimento, onde cordas são colocadas nas máquinas de tingimento que possuem tamanhos e capacidades diferentes. Máquinas grandes comportam geralmente seis cordas, sendo cada uma de 100kg. Cada corda tem entre 4 e 6 rolos de tecido.

Nessa fase de tingimento, é muito importante a pesagem dos corantes conforme a quantidade em quilos de tecidos a serem tintos. Vale ressaltar, que cada cor possui corantes e porcentagens diferentes para cada tipo de tecido, sendo 100% algodão (CO) ou variações: Cotton 97%, algodão 3%, elastano ou moletom 50% algodão e 50% poliéster.

O tipo de corante utilizado varia conforme a composição da malha, além do tempo e a temperatura em que o tecido deve ficar em contato com os agentes químicos para a absorção da cor. Na etapa de tingimento, junto com os corantes, são acrescentados produtos de fixação da cor. Após o tingimento, as cordas passam por uma lavagem para retirar o excesso de corante, conforme a Figura 1, tornando uma peça totalmente tinta.

Figura 1 – Cordas tintas

Fonte: HJ TINTURARIA 2022

Na terceira fase, são feitos os beneficiamentos, ou seja, processos de acabamentos nas peças tintas. Nessa fase final de tinturaria, é determinante para assegurar a qualidade do tecido tinto.

2.2 Biopolimento

Processo de acabamento que utiliza enzimas para desprender fibras salientes do tecido. Neste processo, a superfície do tecido torna-se mais uniforme e com maior maciez, indicada na Figura 2. O tempo em exposição as enzimas devem ser controladas, uma vez que, o tempo e a quantidade em excesso danificam o fio, podendo gerar rupturas e pequenos buracos. Tendo a solução, para cada 1kg de malha deve-se usar 5% de enzimas.

Figura 2 – Imagem A sem biopolimento Imagem B com biopolimento

Fonte: Bio Times 1998

2.2.1 Amaciante

Amaciantes são soluções químicas que deixam a malha com um toque liso e macio. Além de deixar as peças com uma textura suave, os amaciantes ajudam a tirar os odores da peça crua e dos corantes.

2.2.2 Hidro extrator

O hidro extrator é uma máquina utilizada para retirar o excesso de água e amaciante das malhas. A malha passa por um processo que modela as cordas e possibilita um tecido plano e regulado na largura correta, conforme na Figura 3.

Figura 3 – Hidro extrator

Fonte: Bianco 2018

2.2.3 Termofixa

A termofixação é um tratamento térmico realizado em artigos (código vinculado a um produto) que possuem fios sintéticos, com a característica de estabilizar o encolhimento e eliminar vincos, por exemplo, o elastano. Vale ressaltar, que o excesso de termofixação pode estragar as propriedades elásticas da peça.

2.2.4 Rama

]A rama é um acabamento que possui função alargadora. Durante esse processo, o tecido é submetido a uma temperatura específica para secagem. Nessa etapa, também ocorre a termofixação.

2.2.5 Felpadeira

Processo de desfiamento superficial das fibras, são vistos principalmente em artigos de moletons, dando um aspecto flanelado e possibilitando um maior conforto térmico.

2.2.6 Calandragem

A calandragem é o processo de esticar, passar e alisar os tecidos tubulares, proporcionando um acabamento uniforme e com maior estabilidade do tecido.

Após os processos de tinturaria, o tecido retorna a tecelagem e inicia-se a quarta fase, onde é feito a avaliação dos tecidos em máquinas revisoras, indicada na Figura 4, para controle de qualidade.

Figura 4 – Máquina revisora

Fonte: Omatex (2022)

Nessas máquinas, o operador verifica em toda a extensão do rolo as peças que estão com o tingimento uniforme, se possui furos, vincos ou imperfeições no acabamento. Na revisão, é retirada uma amostra do tecido de 40x40cm, a partir de um metro da ponta do rolo. Com essa amostra, são feitos testes de gramatura e encolhimento do tecido.

O teste de encolhimento é um processo simples, de modo que a amostra é demarcada antes de submeter a uma lavagem simples. Após a lavagem, é avaliado na amostra seca, se houve alterações dimensionais. Logo, é submetida a mais um teste, em que, eleva-se a temperatura do tecido por meio de máquina de aquecimento.
Com a análise da amostra, é possível validar o encolhimento do tecido, em que é aprovado uma variação máxima de 5%, seguindo o padrão estabelecido pela empresa estudada.

Desta forma, os tecidos aprovados são direcionados às lojas de atacado e varejo, e são vendidos para empresas de confecção. Nas confecções de produção industrial, possuem etapas de produção em massa, ocasionando um desperdício considerável de retalhos.

O Processo para a produção de uma camisa segue um método para todo tipo de empresa seja ela grande ou pequena, porém se diferenciam na execução e nos recursos disponíveis para o processo, para entender melhor foi necessário fazer uma visita técnica em uma empresa grande e uma pequena, o processo se baseia em preparar o tecido, fazer uma folha piloto, cortar o tecido e se possível reutilizar o tecido cortado, esse processo pode ser observado na Figura 5.

Figura 5 – Fluxograma de um processo geral da produção de roupa

Fonte: Autoria Própria (2022)

• Preparar o tecido – Para preparar o tecido em uma empresa grande, utiliza uma máquina (Figura 6) de estender o tecido sobre uma mesa, já na empresa pequena é necessário estender o tecido manualmente. Ambas as empresas, vários rolos de tecidos são colocados um sobre o outro para criar uma camada de tecido, que varia de 10 a 20 centímetros, a camada pode ser monocolor ou multicolor dependendo da necessidade, pode ser visto na Figura 7. O ato de estender o tecido sobre a mesa é conhecido pelo termo “infestar” pelas empresas;

Figura 6 – Máquina automática de enfestar

Fonte: PLOTAG (2022)

Figura 7 – Mesa com tecido enfestado manualmente

Fonte: Arquivo pessoal (2022)

• Preparar folha piloto – A folha piloto é uma folha de papel do tamanho da mesa que é estendido sobre o tecido preparado, essa folha contém moldes de peças de roupa. Empresas de grande porte utilizam software CAD (Figura 8) para melhor aproveitamento do espaço gerando um menor desperdício de retalhos, as empresas de pequeno porte utilizam canetas esferográficas, moldes de papel (Figura 9), experiência e a “expertise” do operador dessa função;

Figura 8 – Foto de um Software CAD para plotagem

Fonte: Arquivo pessoal (2022)

Figura 9 – Papel com moldes para a criação do piloto

Fonte: Arquivo pessoal (2022)

• Corte do tecido – O tecido é cortado conforme os moldes do piloto, para esse processo empresas de grande porte utilizam máquinas automáticas (Figura 10), existem máquinas que dispensam o uso do papel piloto e tem a localização dos moldes em seus sistemas, já empresas de pequeno porte utilizam máquinas de corte manuais para cortar a camada de tecido seguindo o piloto (Figura 11);

Figura 10 – Máquina automática de cortar

Fonte: PROCUT (2022)

Figura 11 – Corte manual do tecido

Fonte: Arquivo pessoal (2022)

• Reutilização do tecido – Depois de cortar o tecido e retirar as peças, sobram-se retalhos de tecidos, aqueles maiores de 1m² podem ser reaproveitados e os menores são descartados, ambos tipos de empresas farão o processo em escala reduzida da produção de roupas com esses retalhos, seguindo novamente o passo a passo, porém diferenciando nas suas capacidades e limitações.

Para entender melhor o processo, foi disponibilizado dois fluxogramas que demonstram a que tipo de processos o tecido pode ser submetido para virar uma camisa e ao destino dos retalhos que podem ser aproveitados e aos que são descartados, na Figura 12 vemos esse processo pela empresa grande, e na Figura 13 pela empresa pequena.

Figura 12 – Fluxograma de um processo industrial da produção de roupa (empresa grande)

Fonte: Autoria Própria (2022)

Figura 13 – Fluxograma de um processo industrial da produção de roupa (empresa
pequena)

Fonte: Autoria Própria (2022)

Os próximos passos irão variar dependendo da necessidade do produto final, as peças abertas podem passar por alguns processos antes de serem costuradas e ficarem prontas para serem entregues e vendidas, os processos que podem ser submetidos são:

• Silk: Técnica de estamparia que utiliza quadros cobertos por um tipo de tela vazada, quando adicionado tinta, discorre pelo vazamento da tela, passando para o tecido e assim formando uma peça conhecida como estampada;
• Flocagem: Uma técnica parecida com a do silk, porém se utiliza uma cola no lugar da tinta e que por um processo estático é adicionado fibras têxteis dando uma sensação de toque camurça;
• Sublimação: É um processo químico que passa a estampa de um papel (transfer) para o tecido, o processo se assemelha com o de uma prensa térmica;
• Bordado: Uma técnica de costura feito a mão ou por máquina, que forma desenhos e figuras utilizando uma variedade de tipos de linha.

3. Reciclagem do tecido

Atualmente os tecidos passam por uma reciclagem para voltar ao mercado em fora de outros produtos:

• Jeans – estofado para indústria automobilística;
• Malha 100% algodão – Fios, barbantes e artesanatos; • Poliéster – Fios, barbantes e plásticos para todos os usos;
• Composição mista – manta acústica.

3.1 Formas de reciclar o tecido:

3.1.1 Mecânica

Esse é um processo já consolidado no mercado brasileiro feito por cooperativas que ajudam com a diminuição do descarte incorreto dos resíduos de tecido e colabora com aumento de empregos, esse processo se for utilizado apenas tecidos 100% algodão ou 100% poliéster pode transformar o material novamente em matéria prima reutilizada, o processo que o tecido deve passar será de:

• Separação – Primeiro os tecidos devem ser separados por tipo (100% algodão, 100% poliéster e mistura de algodão com poliéster), depois devem ser separados por cor, pois o mercado consome tecido em maioria apenas uma cor, esse processo colabora com a criação de emprego pois deve ser um processo manual;
• Trituração – O tecido é colocado em uma máquina que corta o tecido, deixando em tamanhos menores;
• Desfibragem – Os pedacinhos de tecido são encaminhados para uma máquina que fará um processo de desfibrar o tecido, ou seja, separar as fibras do tecido.
• Cardagem – Nesse processo as fibras são desembaraçadas, limpas e trançadas transformando em mechas;
• Fiação – Essas mechas podem ser fiadas para atingir o diâmetro necessário,
nesse ponto este fio já pode ser vendido, muito usado para tricô e artesanato;
• Tecelagem/Malharia – O fio pode passar por um processo de tecelagem ou por um processo de malharia e virar novamente tecido, podendo ser vendido.

3.2.1 Química

Esse é um processo novo, pouco usado, que em maioria se está em processo de estudo, este método consegue separar os componentes de um tecido feito de algodão com poliéster, infelizmente por seu um processo químico ele gera resíduos químicos que são prejudiciais ao meio ambiente caso não sejam descartados corretamente, para os tecidos de composição mista (algodão com poliéster), se deve passar pelos processo mecânicos de separação, trituração e desfibragem, depois passando pelo processo químico de:

• Solução iônica – O tecido desfibrado é colocado em uma solução iônica que reage com o algodão dissolvendo-o;
• Separação – O poliéster pode ser removido da solução, pois ele não reagiu com a solução iônica, o poliéster desfibrado pode voltar ao mercado têxtil ou ser derretido e ser vendido;
• Fiação – A solução de celulose que sobrou pode ser submetida a uma fiação úmida que gera fibras bem resistentes para serem vendidas como fio reciclado;
• Tecelagem/Malharia – O fio pode passar por um processo de tecelagem ou por um processo de malharia e virar novamente tecido, podendo ser vendido como tecido reciclado.

4. Legislação têxtil

Com diversas possibilidades de processos na produção têxtil, é importante existir a atuação de organizações como a ESG, que possuem direcionamentos para boas práticas de fabricação e tem papel fundamental no âmbito empresarial e social.

A falta de investimento em educação, pontos de coletas eficientes e até mesmo fiscalização, faz com que o acúmulo de resíduos em lugares inapropriados e em aterros sanitários sem a separação devida atinjam números irreversíveis e danosos para a contaminação do solo.

Foi publicado pela Prefeitura de São Paulo (2022), que no Brasil são produzidas cerca de 170 mil toneladas de resíduos têxteis anualmente e 60% são descartados de formas irregulares e danosas para o meio ambiente, como por exemplo, aterros sanitários e a queima.

Com os números alarmantes, a necessidade de se criar direcionamentos e investir na educação de empresas e pessoas é visto com urgência.

Por isso, a ESG – Environmental, Social and Governance – ou, em português, ASG, referindo-se à Ambiental, Social e Governança foi desenvolvida em pacto com a ONU em 2004 para criar metas e direcionar as empresas com boas práticas socioambientais.

A partir da implementação da ESG, houve uma virada de chave na avaliação das empresas, sem levar em conta apenas as formas tradicionais e holísticas.

A classificação ESG avalia os direcionamentos ambientais da empresa e a sua contribuição com as métricas ecológicas definidas, de acordo com o ramo da empresa.

4.1 Classificação de empresas

Com a diversificação dos segmentos do comércio, os critérios de curto e longo prazo para a classificação ESG são personalizados de acordo com os objetivos empregados por setorização.

Para manter os índices de qualidade e atingir as metas, as empresas possuem analistas responsáveis pelo monitoramento frequente dos dados, assim, realizando a classificação nas quais se enquadram.

Essas classificações são atualizadas em períodos regulares, o que permite com que os analistas validem os avanços e retrocessos de acordo com as metrificações.

Para ter uma classificação ESG, as empresas devem:

• Monitorar e divulgar os dados dos critérios ESG acordados;
• Sistema de gestão eficaz contra riscos ESG;
• Estar de acordo ou gerar controvérsias com práticas que ferem às recomendações da ESG e trazem risco;
• Sólido sistema de supervisão de gestão e compreensão dos riscos.

As empresas que obtiverem uma boa classificação e desempenho, possuem maiores chances de antecipação de riscos, geração de valores e maior chance de negócios futuros.

Para isso, é necessário que os governantes e empresas invistam em boas práticas e conhecimento social sobre as causas ambientais.

4.2 Indústria Têxtil e as práticas ecológicas

Em pesquisa feita pela Accenture sobre a preocupação ecológica no mercado têxtil, obtiveram os seguintes resultados:

• De abril para dezembro de 2020, consumidores que preferem comprar produtos sustentáveis cresceu de 45% para 66%;
• 69% afirmam que as marcas deveriam facilitar e incentivar o consumo consciente.

Com o crescimento do mercado ecológico e preocupação cada vez maior dos consumidores, a indústria da moda vem se atentando com os materiais utilizados e o conceito de que roupas ecológicas são de baixa qualidade e durabilidade estão ficando para trás.

Os dados alarmantes já fizeram esse mercado dar passos significativos para repensar suas ideologias fabris e investir em boas práticas sustentáveis, inclusive com os direcionamentos e metas fixados pela ESG.

Segundo a empresa de pesquisa “Research And Markets”, o crescimento mundial do setor deve passar de $6,3 bilhões de 2019 para $8,2 bilhões em 2023. Entre 2025 e 2030, esse número pode chegar a $15,2 bilhões.
Dessa forma, é possível ver que as empresas que não aderirem os acordos firmados pela ONU, práticas sustentáveis sugeridas pela ESG entre outros critérios, dificilmente se manterão competitivas no mercado.
Alinhados com o senso de urgência informado pelas organizações, o congresso nacional vem atuando para reforçar a legislação no âmbito ecológico e social.

4.3 Legislação

Conforme a Lei nº 12.305/2010, o descarte de resíduos têxteis de forma incorreta é considerado crime ambiental, pois podem gerar diversos problemas para o planeta e a humanidade, muitas das vezes irreversíveis.

As principais frentes afetadas são:

• Mudanças climáticas;
• Poluição química ;
• Em caso de incineração, prejuízos à saúde humana, devido aos químicos utilizados nos tecidos.

4.4 Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10)

Nos termos atuais da Lei, a política reversa têxtil no Brasil já é regularizada de acordo com o volume produzido de resíduos e o grau de criticidade ao meio ambiente e a humanidade.

A obrigatoriedade da logística reversa abrange fabricantes e comerciantes de: agrotóxicos, pilhas, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas, produtos com embalagens plásticas, metálicas ou de vidro, entre outros.

Os direcionamentos são alinhados com as políticas ambientais, que sugerem alternativas para combater os impactos negativos da produção têxtil, como por exemplo:

• Reduzir a quantidade gerada através de métricas do controle de qualidade, a fim de reduzir os desperdícios;
• Reutilizar materiais que estão aptos para a logística reversa.
Além disso, existem outros projetos de Lei em trâmite no congresso nacional para que a legislação atue em todas as frentes da causa.

4.4.1 Projeto de Lei 270/22: Em trânsito na Câmara dos Deputados

Com os impactos ecológicos agressivos que a indústria tem causado ao meio ambiente, o projeto de Lei tem como objetivo incentivar a reversão de resíduos têxteis após o descarte.
Além disso, conta com ações para atrair colaborares, empresários, distribuidores, comerciantes e consumidores para gerar valores e redes de apoio à causa.

O projeto prevê recompensas, incentivos tributários e campanhas educativas para empresas do ramo têxtil.

4.4.2 Recompensa – PL 270/22

Em caso de descarte correto de resíduos nos pontos de recebimento, o consumidor receberá 20% em produto têxtil de acordo com cada meta atingida.

O acompanhamento das metrificações será composto por um time de analistas da setorização têxtil, do poder público e dos ministérios da Saúde, Meio ambiente e de Infraestrutura e transportes.

O corpo técnico irá validar os componentes e dados extraídos para a aplicação da recompensa.

4.4.3 Incentivos tributários

Os fabricantes ou importadores que investirem em logística reversa e publicidade, poderão abater desse valor, na proporção de até 2,0% o imposto devido no fim do ano fiscal.

5. Metodologia

Para o estudo, utilizamos pesquisas e artigos científicos pertinentes ao assunto. Adotou-se também, pesquisas de campo com uma empresa de tecelagem, tinturarias e confecções de roupas.

Foi levantado através de uma empresa situada em São Paulo que iremos chamar de empresa X, nos concedeu informações sobre sua produção mensal de tecidos, levando em conta seus terceirizados, a quantidade de tecidos enviados para tinturarias (beneficiamentos) e os processos realizados que geram desperdícios ao longo da cadeia, até se tornarem roupas para o varejo.

Desse modo, foi possível fazer um levantamento do desperdício em cada etapa de fabricação a partir das peças (rolos) de tecidos que são enviados para tinturaria.

Em uma segunda pesquisa de campo, foi realizada a visita em duas empresas de confecções com diferentes portes, que iremos chamar de empresa Y e Z. Dessa forma, foi possível identificar como é realizado o descarte de retalhos provenientes das confecções de roupas.

Além disso, houve uma consulta popular através de um formulário, onde foi questionado o conhecimento das pessoas físicas sobre a condução e manuseio do descarte têxtil.

6. Resultados

Durante todos os processos de acabamento ocorrem transformações no tecido, ganho ou perda de gramatura, modificações estruturais físicas superficiais no processo de felpagem e mudança no aspecto de cor, deixando de ser cru (bege) para obter a cor desejada. Logo, o tecido passa pela separação das cordas em rolos de aproximadamente 20kg, é nessa fase que ocorre a maior perda do material e desperdício na cadeia produtiva, entre a tecelagem e o acabamento. Sendo retirados cerca de 30cm de cada lado da costura, totalizando uma perda média de 60cm de tecido por rolo.

A partir da análise de dados, verificamos que entre peso(kg) enviados para beneficiamento e o peso de retorno, há um desperdício de 6,98%,conforme a Tabela 1, o que equivale a cerca de 1.7 toneladas de tecido em apenas um mês na cadeia produtiva da tecelagem e tinturaria. Foram considerados os dados de uma tecelagem e uma tinturaria.

Tabela 1 – Dados do desperdício de tecido 10/2022

Quantidade de peçasPeso(kg) enviado para beneficiamentoPeso (kg) de retorno% de quebra (desperdício)
113224.103,2122419,266,98
Fonte: Empresa X (2022)

O processo de revisão é feito em uma peça do lote e caso haja defeito na peça, são revisados 50% do lote para constatar o erro de uma única peça ou no lote inteiro. Nesse método, são retirados cerca de 500g da peça revisada, ocasionando, mais um desperdício no lote, o que equivale a 49 kg de tecido desperdiçado no mês, conforme indicado na Tabela 2.

Tabela 2 – Desperdício no processo de revisão

Peso (kg) de retornoPeso (kg) enviado ao clienteDesperdício no processo de revisão (kg)
22.419,2622.369,9349,33
Fonte: Empresa X (2022)

Com esses dados, pode-se verificar que há um desperdício de tecidos na cadeia produtiva da tecelagem até o consumidor, ou seja, as confecções, conforme visto nas tabelas 1 e 2 são desperdiçados 1.749 kg de tecido por mês.

7. Descarte

A empresa em questão faz o descarte do desperdício de tecido de duas maneiras:

1° Vende em forma de retalho as peças com mais de 40 cm de comprimento. O preço do retalho é levado em conta o tipo de tecido (R$3,50 A R$8,50).

2° O retalha de tamanho menor de 40 cm ou que retornam da tinturaria são doados para casas de artesanatos.

7.2 Descarte de resíduos em empresas de grande e pequeno porte

Na empresa de grande porte, onde o processo foi acompanhado, foi notado que todos os retalhos são colocados juntos e misturados em um mesmo local para descarte, não se tem a preocupação de se separar os tipos de tecido (100% algodão, 100% poliéster e tecido feito da mistura de algodão e poliéster), e não é retirado o papel piloto que fica junto do tecido.

Para gerar mais renda, foi escolhido a opção de vender os tecidos que não foram aproveitados (as sobras depois do corte do tecido) e como esses tecidos estão todos misturados, são vendidos por um valor muito baixo, o valor do quilo varia de 10 a 15 centavos.

Na empresa de pequeno porte que teve o processo acompanhado, foi notado que eles separaram cada tipo de tecido (100% algodão, 100% poliéster e tecido feito da mistura de algodão e poliéster), também se preocupam em retirar o papel piloto.

Também para gerar mais renda foi optado a opção de vender os tecidos não aproveitados, como os tipos de tecidos estão separados eles também são vendidos por valores separados sendo o quilo do tecido 100% algodão é de 80 centavos, o quilo do tecido 100% poliéster é de 20 centavos e o quilo do tecido feito da mistura algodão e poliéster acaba não sendo vendido, mas são recolhidos sem ser cobrado qualquer valor.

7.2.1 Motivo da diferença da separação para a venda

Empresas de grande porte têm a necessidade de produzir uma grande quantidade de peças por hora, para eles, separar os tipos de tecidos e tirar o papel piloto não irá compensar financeiramente mesmo vendendo os tecidos separados.

Para as empresas de pequeno porte existe a necessidade de conseguir mais renda para o processo e a venda das sobras do tecido colabora com o aumento dessa renda.

Com a Tabela 3 podemos entender melhor a diferença de desperdício e venda de retalhos dos dois tipos de empresa,

Tabela 3 – Comparativo desperdício de empresas grandes e pequenas

EmpresaCompra de tecido por mêsDesperdícioDesperdício (%)Venda das sobras (R$)
GRANDE300 Toneladas9 Toneladas3%1350
PEQUENA10 Toneladas1 Tonelada10%530
Fonte: Empresa Y e Empresa Z (2022)

Atualmente os tecidos reciclados são pouco usados por empresas no Brasil, a empresa grande que foi acompanhado o processo, não teve um feedback positivo sobre a qualidade do tecido reciclado que foi utilizado e do tecido ter um preço um pouco maior que um tecido normal, a empresa de pequeno porte que teve o processo acompanhado, diz não ter muito conhecimento e interesse sobre o tecido reciclado.

No Brasil existem grandes nomes de lojas de varejo e atacado que já fizeram parcerias para criar modelos e coleções feitas a partir de tecido reciclado, essas coleções infelizmente saem esporadicamente e com pouco incentivo.

7.3 Empresários

Os comerciantes são pontos chaves para o fluxo de reciclagem dos resíduos têxteis. Serão responsáveis pela disponibilização de pontos fixos de recebimento dos resíduos, local para armazenamento primário e identificação dos produtos com o nome do fabricante e peso do material.

Os distribuidores são responsáveis por providenciar e custear os pontos de coleta dentro das normas da legislação. Além disso, devem realizar o transporte até o destino final, garantindo a lisura do processo e o descarte ambientalmente correto.

7.4 Pesquisa popular

A formulação da pesquisa tem o intuito de entender como as pessoas em nosso meio fazem o descarte dos resíduos têxteis no dia a dia e como isso pode gerar um impacto negativo no planeta. Foram computadas 103 respostas.

Na primeira pergunta foi levantado que 63% das pessoas descartam tecidos velhos no lixo comum, o que poderia ser revertido em reutilização, é destinado a descartes que agridem o meio ambiente 25% das pessoas reciclam ou reutilizam para outros fins e apenas 6,8% seguem o processo correto de descarte de tecidos conforme o Gráfico 1.

Gráfico 1 – Comparativo entre descarte de roupas em bom e velho estado.

Fonte: PESQUISA POPULAR (2022)


Ao ser divulgado que grandes empresas como a C&A, Renner, Eco Estilo possuem pontos de coleta têxtil, 17% das pessoas responderam que “sim”, que sabiam que existem pontos de coletas e outras 83% desconhecem sobre os pontos criados pelas marcas.

Sobre a existência da venda de roupas com tecidos reutilizados, 80% afirmaram que comprariam uma roupa ecológica, 18% não comprariam e 2% responderam que “depende do modelo”.

Esse dado reforça o aumento da preocupação das pessoas com o meio ambiente e o crescimento bilionário projetado para esse mercado nos próximos anos.

Quando questionados sobre o descarte de tecido no lixo comum não é a maneira adequada,
50,2% informaram que “sim” e outros 49,8% dizem não saber que o descarte de tecidos no lixo comum prejudica o meio ambiente.

Os dados demonstram que a publicidade e divulgação da informação ainda é necessária para gerar maiores valores e construção de uma cultura ambiental.

8. Considerações finais

Baseado nos dados obtidos nas pesquisas de campo, foi possível identificar um grande desaproveitamento de tecido nas pequenas empresas, que preferem ter um pequeno lucro a realizar o descarte têxtil correto. Por mais que essas empresas tentem dar continuidade ao tecido com a venda, os empresários demonstram pouco interesse na compra de tecido reciclado para a produção de suas roupas, o que pode ser resultado dos orçamentos, qualidade do tecido e desconhecimento.

Com os dados obtidos, também é possível identificar falhas nas divulgações e incentivos dos fabricantes e governo. Por mais que as pessoas saibam que não é correto descartar tecido no lixo comum, a maioria não sabe como realizar o processo correto.

Para mudar o cenário, projetos de lei se encontram em tramitação para incentivos fiscais e financeiros, tanto para os empresários, quanto para os consumidores que aderirem apoio à causa. O objetivo é garantir que o processo de descarte têxtil seja executado de forma correta e dentro dos termos estabelecidos pela legislação, a fim de reduzir os impactos na esfera ambiental.

9. Referências Bibliográficas

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