PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS INDIVÍDUOS COM INTOXICAÇÃO POR AGROTÓXICOS NO BRASIL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7317295


Larissa Pinheiro Lopes Ramo;
Coautor: Giselmo Pinheiro Lopes; João Victor Ferreira Araújo; Angela Falcai
Orientadora: Angela Falcai


RESUMO

O processo produtivo químico-dependente adotado pelo agronegócio, que considera os agrotóxicos como essenciais ao combate de pragas, proporciona impactos maléficos à saúde humana. Tornando o uso dos mesmos e a relação com seus efeitos uma preocupação global. Sendo assim o objetivo geral da pesquisa foi: descrever e analisar o perfil epidemiológico dos indivíduos com intoxicação por agrotóxicos no Brasil. Tendo como objetivos especifícos: análises da tendência de notificação de intoxicação por agrotóxicos no Brasil, 2013 a 2020; avaliar a prevalência da intoxicação por agrotóxicos nos principais estados do Brasil; avaliar a prevalência da idade, gênero e escolaridade da intoxicação por agrotóxicos nas regiões do Brasil; avaliar os principais fatores ambientais envolvidos com a intoxicação por agrotóxicos no Brasil e analisar a correlação entre o índice de desenvolvimento humano e o número de intoxicados no Brasil. A presente pesquisa tem como particularidade ser de cunho retrospectivo e de abordagem quantitativa baseada, de acordo com a teoria, nas publicações indicativas ao tema, entre a faixa temporal de 2015 a 2020 e levantamento de dados de intoxicação por agrotóxicos no Brasil, indicativos a faixa temporal de 2013 a 2017, disponíveis no DATASUS (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde) estes dados disponibilizados pelo sistema são procedentes do SINAN NET por meio da interface Tabnet e no SINITOX (Sistema Nacional de informações Tóxico-farmacológicas) do Ministério da Saúde, disponível em endereço eletrônico: http://datasus.saude.gov.br/ e https://sinitox.icict.fiocruz.br/dados-nacionais. A maioria das intoxicações por agrotóxicos evoluem para cura. Por meio da analise de dados dos sistemas foi possível observar ainda a prevalência de casos subnotificados mediante inconsistência entre os registros de casos entre os bancos de dados utilizados. Evidenciou-se a necessidade de utilização e manejo adequados dos agrotóxicos, de maneira que seja possível reduzir danos à saúde de trabalhadores rurais. Assim como a importância do uso de EPI´s no manejo, capacitação e vigilância por parte dos profissionais de saúde.

Palavras-chave: Agroquímicos. Envenenamento. Exposição à praguicidas

ABSTRACT

The chemical-dependent production process is adopted by agribusiness, which considers pesticides essential to combat pests, impacts on health. Making their use and the relationship with their effects a global concern. Therefore, the research objective was: to describe and analyze the general epidemiological profile of pesticide poisoning in Brazil. With the specific objectives: evaluation of poisoning notification guidance in Brazil, 2013 to 2017; to assess the prevalence of pesticide poisoning in the main states of Brazil; to assess the prevalence of age, gender and schooling of pesticide poisoning in regions of Brazil; does not assess the main environmental factors involved with pesticide poisoning in Brazil and studies the study between the human index and the number of poisoned in Brazil. The particularity of this research is to be of a retrospective nature and of a differentiated approach based on theory, in publications indicative of the theme between the time range from 2015 to 2015 to 2015 to 2015 to 2015 to 2015 to 2015 to 2015 to 2015 to agrotoxics in Brazil, temporal from 2013 to 2017, available in DATASUS (Department of Informatics of the Unified Health System) these data made available by the system come from SINAN NET through the Tabnet interface and from SINITOX (National Toxic-Pharmacological System) of Saúde , available at: http://datasus.saude.gov.br/ and https://sinitox.icict.fiocruz.br/dados-nacionais. Most pesticide poisonings progress to cure. Through the analysis of data from the systems, it was not yet possible to observe a prevalence of proven cases through the inconsistency between the data records between the databases used. The need to use and adapt as many pesticides as possible was evidenced, in a way that reduces the health of rural workers. As well as the importance of the use of E in the management, training and surveillance by health professionals.

Keywords: Agrochemicals. pesticides. Poisoning. Exposure to pesticides

1 INTRODUÇÃO

Agrotóxicos são compostos de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais (BRASIL, 1989)

Um panorama nacional revela que o Brasil consolidou sua liderança mundial em consumo de agrotóxicos, ampliando em 173% a comercialização interna de ingredientes ativos entre 2009 e 2015, alcançando 527.289,63 toneladas/ano (FRANCO, 2017). 

o Relatório de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos registrou aumento de 169% dos casos de intoxicações por agrotóxicos, chegando a 11.863 notificações/ano (BRASIL, 2018). 

Um fator de grande contribuição para esse aumento foram os avanços tecnológicos impulsionados pela produção de transgênicos que tornaram crescente o consumo de agrotóxicos nos últimos anos (ADEGAS, 2020).

Apesar dos benefícios associados ao uso de pesticidas no aumento da produção agrícola, tem havido preocupações crescentes com os efeitos adversos do manuseio inseguro e inadequado de pesticidas para a saúde humana (GAIÃO, 2017).  A exposição humana a pesticidas é um fenômeno comum em países em desenvolvimento como o Brasil devido ao seu fácil acesso e amplo uso na agricultura. Estudos demonstraram que a exposição a pesticidas tem impactos negativos significativos na saúde humana, incluindo envenenamento grave, levando à morte e muitos problemas de saúde crônicos (PEREIRA, 2019). 

A intoxicação por agrotóxicos é um sério problema de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento e emergentes. Estimativas mundiais mais recentes demonstram valores anuais entre 234.000 e 326.000 suicídios por agrotóxicos, o que contribui com cerca de um terço de todos os suicídios globalmente (LOPES, 2018).

No Brasil dois Sistemas de Informações trabalham com dados sobre intoxicações. O Sistema de Informação de Agravo de Notificação (SINAN) é um sistema de informação que contém dados sobre doenças e agravos de “notificação compulsória”, ou seja, dados que os profissionais de saúde são obrigados a registrar, tendo em vista sua importância epidemiológica (DE SOUZA MELO, 2018). 

O segundo é o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) que consolida os dados gerados nos diferentes estados brasileiros, sendo coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz do Ministério da Saúde, que anualmente faz a publicação das estatísticas de casos de intoxicação registrados pelos centros. Entretanto, dados epidemiológicos como o produto tóxico envolvido, o perfil dos intoxicados e a circunstância envolvida em cada caso de intoxicação não são indicados no SINITOX. (SINITOX, 2017).

O uso de agrotóxicos nas plantações vem aumentando de forma intensiva e desenfreada, tendo como principal justificativa a necessidade, cada vez maior, de se produzir alimentos de forma mais rápida e eficaz. Contudo, os agrotóxicos são substâncias extremamente nocivas à saúde, que causam intoxicação aguda, subaguda ou crônica quando absorvidos pelo organismo humano. A contaminação pode se dá através do contato direto os agrotóxicos com a pele, por via respiratória ou pela ingestão de alimentos contaminados (ADEGAS, 2020). Sendo assim o objetivo geral da pesquisa foi: descrever e analisar o perfil epidemiológico dos indivíduos com intoxicação por agrotóxicos no Brasil. 

2 METODOLOGIA

A presente pesquisa tem como particularidade ser de cunho retrospectivo e de abordagem quantitativa baseada, de acordo com a teoria, nas publicações indicativas ao tema, entre a faixa temporal de 2015 a 2020 e levantamento de dados de intoxicação por agrotóxicos no Brasil, indicativos a faixa temporal de 2013 a 2017, disponíveis no (DATASUS) Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde http://datasus.saude.gov.br/. Estes dados disponibilizados pelo sistema são procedentes do SINAN NET https://sinitox.icict.fiocruz.br/dados-nacionais por meio da interface Tabnet 

O perfil epidemiológico foi constituído a partir das seguintes categorias de análise na base de dados SINAN:

a) Quantitativo de contaminação conforme o tipo de agrotóxico; 

b) Índices de intoxicação por critério de sexo; 

c) Índices de contaminação segundo a faixa etária;

d) Índices de contaminação segundo o nível de escolaridade. De outra forma, o processo de evolução das intoxicações levou em consideração: 

e) o modo de contaminação; 

f) o local de exposição; g) a avaliação dos casos de intoxicação e sua evolução (cura com sequela, óbito, etc.).

Os dados foram analisados de acordo com as características individuais e sociodemográficas, exposição e desfecho.

Para análises estatísticas foram utilizadas tabela de contingência, o qui quadrado de independência, o teste de normalidade de acordo com o teste de D’Agostino & Pearson, análise de correlação de Pearson e regressão linear simples. O nível de significância adotado será de 5%, ou seja, a probabilidade de p<0,05 capaz de revelar a existência de diferenças estatisticamente significativos entre os dados dos diferentes grupos. Todas as análises foram realizadas no Software Prisma 8.00®. (GraphPad Softawer Inc.). 

3 RESULTADOS

As propriedades pertinentes aos episódios de intoxicação estão constituídas na Tabela 1. 

Tabela 1. Perfil de morbidade relacionado às características de intoxicação exógena por agrotóxicos no Brasil

CARACTERISTICASSINITOXSINAN
N°= 34.477%N°= 58.928%
SEXO
Masculino18.44453,432.78155,6
Feminino14.85243,726.13344,3
Ignorado1.1813,42140,02
Faixa Etária
<1 ano8662,511912,02
1-9 anos8.94625,96.57011,1
10-19 anos3.3609,78.23813,9
20-39 anos10.65830,925.88843,9
40-59 anos6.75819,613.53222,9
>60 anos2.2486,53.4995,9
Ignorado1.6414,7100,01
Zona de residência
Rural6.43218,612.52121,2
Urbana24.00869,644.24875,08
Periurbana3700,6
Ignorado/Braco4.03711,71.7893,03
Fontes: Sistema Nacional de informações Tóxico-farmacológicas (SINITOX); Sistema de informação e notificação de agravos (SINAN).

De acordo com os dados notificados pelo SINITOX, a maior parte das ocorrências de intoxicação ocorreu em circunstâncias acidentais, representando 46,4% dos casos. No entanto, os registros do SINAN indicam maior número de casos relacionados à tentativa de suicídio com 52,6%, conforme se apresenta na Tabela 2 a seguir.

Tabela 2. Perfil de morbidade relacionada às condições da intoxicação.

CONDIÇÕESSINITOXSINAN
N°= 34.477%N°= 58.928%
Uso habitual3.82911,14.7248,01
Acidental16.02446,418.07930,6
Uso terapêutico90,02340,05
Pres. Méd. inadequada30,008140,02
Erro de administração530,154710,7
Automedicação90,02970,1
Abuso220,061420,2
Consumo de alimentos400,113490,5
Tentativa de suicídio12.16035,231.04152,6
Tentativa de aborto340,091010,1
Violência/Homicídio1270,37101,2
Ignorado/Em Branco1.5234,42.2953,8
Outra6441,88711,4
Fontes: Sistema Nacional de informações Tóxico-farmacológicas (SINITOX); Sistema de informação e notificação de agravos (SINAN).

Tendo em vista a análise feita com os dados dos sistemas aqui em análise, a maioria das intoxicações por agrotóxicos evoluem para cura, com 48,09% (SINITOX) e 78,3% (SINAN). No entanto, há também quantitativos relevantes relacionados a casos ignorados ou em branco, e não confirmação de cura, conforme pode ser observado na Tabela 3.

Tabela 3. Evolução dos casos de intoxicação relacionada aos agrotóxicos

EvoluçãoSinitoxSinan
Nº= 34.477%N°= 58.928%
Cura16.58148,0946.18978,3
Cura não confirmada4.06811,71.1431,9
Cura com sequela760,29111,5
Óbito5431,51.6852,8
Óbito por outra circuns.130,031320,2
Outra5.96517,3
Ignorado/Branco7.23120,98.86815,04
Fontes: Sistema Nacional de informações Tóxico-farmacológicas (SINITOX); Sistema de informação e notificação de agravos (SINAN).

De acordo com dados apresentados na Tabela 4, pode-se observar também que o número de casos de intoxicação foi mais expressivo nas regiões Sudeste e Sul respectivamente. Entretanto, de acordo com os dados registrados no SINITOX houve diminuição no número de registros, com queda mais expressiva no ano de 2017, além do quantitativo inferior de notificações pelo SINITOX em relação ao SINAN.

Tabela 4. Dados de intoxicação por região

REGIÃOQUANTIDADE DE INTOXICAÇÕES POR AGROTÓXICOS NO BRASIL
20132014201520162017
SINAN
NORTE559660668673785
NORDESTE27882633280322992738
SUDESTE47964852454244935201
SUL20192270231322462735
CENTRO-OESTE15021358129410261275
TOTAL1166411773116201113712734
SINITOX
NORTE264757143
NORDESTE737731837846221
SUDESTE22693563324336211637
SUL26512441252324722456
CENTRO-OESTE2008708508379173
TOTAL79297518718273184530
Fonte: Dados do SINITOX; SINAN.

Como pode-se obervar nas tabelas anteriores há um percentual muito baixo de intoxicação por produtos veterinários no Brasil. Por não serem graves, essas intoxicações não exigem internações, passando despercebido ela população.

Tabela 5. Taxa de incidência anual e coeficiente de letalidade dos casos de intoxicação por agrotóxicos na região Norte brasileiro entre os anos de 2007 e 2020.

Uso agrícolaUso domésticoProdutos veterináriosRaticidas
AnoCasosTIACL(%)CasosTIACL(%)CasosTIACL(%)CasosTIACL(%)
2007400,312,570,028,6140,17,1470,32>0,01
2008550,410,9140,17,1240,2>0,01800,532,5
2009540,414,8400,32,5160,1>0,01770,503,9
2010790,56,3380,25,3250,24,01000,633,0
20111000,67,0360,22,8290,26,91841,145,4
20121270,84,7440,3>0,01370,2>0,011080,663,7
20131360,810,3500,36,0250,1>0,011791,053,4
20141641,04,3780,51,3380,22,61891,104,2
20151881,12,7810,52,5530,31,91831,051,1
20162081,2>0,01630,4>0,01510,3>0,011630,92>0,01
20172251,35,81000,61,0500,3>0,011660,932,4
20182431,39,1860,51,2530,31,91700,931,8
20192481,26,5970,51,0630,3>0,012191,101,4
2020630,33,2420,2>0,01180,1>0,01370,170,0
Médi a137,90,87,055,40,34,235,40,21,7135,90,82,3
TIA = Taxa de Incidência Anual; CL = Coeficiente de Letalidade.

4  DISCUSSÃO

Diante de tudo que mostrada nas tabelas anteriores alguns respaldaram os resultados desses dados demonstrados. A autora Caldas (2016) por exemplo afirma que um episódio de intoxicação pode não ser identificados em ambos sistemas e com isso os dados analisados podem ter diferenças de maneiras bem expressivas substancialmente. Sendo assim, a escassez de informações palpáveis e unificadas é uma causa que traz dificuldades para que seja feita uma real avaliação e uma análise maior e mais minuciosa da extensão do problema de envenenamento por pesticidas no Brasil. 

Ainda a autora Caldas (2017) ressalta-se ainda que essa incidência de episódios subnotificados no SINITOX podem geralmente ser pelo inadequado funcionamento dos sistemas de saúde em alguns lugares, sobretudo ao que diz respeito a Zona Rural, onde o sistema de saúde, além de lento e, por vezes, ineficiente, é escasso de tecnologias, especialmente se  isso algo de uso cotidiano, como por exemplo o caso dos trabalhadores rurais, uma vez  que esse envenenamento por estes agentes químicos são bem parecidos com outros problemas de saúde (CALDAS, 2016).

Corroborando os estudos de Taveira; Albuquerque (2018), após ser feita uma análise das identificações por intoxicação em 38     municípios do Estado do Paraná e entrevista com agentes da vigilância epidemiológica dos municípios, foi averiguado que o diagnóstico errôneo das intoxicações agudas por agrotóxico no atendimento médico é vista como decorrência de uma anamnese superficial voltada prioritariamente para o tratamento dos sintomas, independentemente da causa. 

Ressalta-se ainda que em Estado do Mato Grosso na faixa temporal de 1996 e 2015 foram notificados 3.051 suicídios na população com 10 anos ou mais de habitação no Estado, sendo de tal modo constatado a dominância         de tentativas de suicídio no sexo masculino com 78,4%, sendo que essas tentativas de autointoxicação, está notificado o uso de pesticidas com percentual de 60,8% em pessoa do sexo masculino (OLIVEIRA; BENEDETTI, 2018).

Analisado por Pedrosa et al. (2018), cujo estudo delineia que os suicídios notificados dentro da faixa temporal de 2006 a 2015 no município de Iguatu- CE foram sucedidos de igual modo por homens (78%) e faixa etária dominante dentro dos 20 a 29 anos de idade, observou-se ainda que 6,1% dos episódios que foram sucedidos ocorreram com pessoas que trabalham dentro de uma produção agrícola. Nas pesquisas desses autores, a autointoxicação por exposição intencional a pesticidas foi a segunda maior ocorrência de suicídio.

Diante do exposto os fatores que estão atrelados ao tipo do produto, tempo de exposição e ao uso inapropriado e/ou não efetivação e utilização dos equipamentos de proteção individual (EPI), estão entre os influenciadores dos episódios de síndrome tóxica. Em uma pesquisa minuciosa com produtores de tabaco feita por Cargnin; Echer; Silva, (2017).que teve como objetivo analisar que tinham diversos sintomas parecidos e na mesma constância tais como: dor de cabeça, tontura, vômito, falta de ar, fraqueza muscular e erupções cutâneas durante e após a pulverização de pesticidas no cultivo. Tal sintomatologia, como dores de cabeça, náusea e dor de estômago, considerados corriqueiros ao uso errôneo e por vezes constantes de pesticidas 

Vale resslatar que desses 50,4% dos trabalhadores mostraram a existência de indagações ainda a respeito a utilização de modo seguro dos agrotóxicos isso porque muitos do que usam o produto tiveram dor de cabeça, falta de ar, tontura, náusea e vômito, fraqueza, vermelhidão nos olhos, dor muscular e irritações na pele com prurido (RISTOW et al., 2020).

Os estudos de Queiroz et al. (2019), mostra que dentro da faixa temporal de 2001 a 2014, foram registrados 80.069 de intoxicação por agrotóxicos no Brasil onde percebeu-se que as regiões Sul e Centro-Oeste foram as regiões que mais mostraram crescimento expressivo ao que diz respeito ao número de notificações, com maior aumento anual na Região Centro-Oeste do país. 

Por isso mesmo mostrando tantas comprovações que estão intrisecamente relacionadas às intoxicações por agrotóxicos como sendo um problema de saúde mundial, ainda tramita o Projeto de Lei (PL) n° 6.299 de 2002  onde a mesma diz que compete aos Estados e ao Distrito Federal, nos termos dos arts. 23 e 24 da Constituição Federal, legislar sobre o uso, a produção, o consumo, o comércio e o armazenamento dos agrotóxicos, seus componentes e afins, bem como fiscalizar o uso, o consumo, o comércio, o armazenamento e o transporte interno. que ficou conhecido como Pacote do Veneno pelo dossiê conjunto da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e da ABA (Associação Brasileira de Agroecologia) entregue ao Congresso Nacional no ano de 2018. Este sugere diversas mudanças relacionada Lei da Agricultura, Lei n°7802, flexibilizando-a em uma configuração em que, foi proposta a substituição do termo agrotóxico por defensivo agrícola e produtos fitossanitários (BRASIL, 2002).

O PL supramencionado facilitaria ainda a aprovação de novos produtos bem como responsabilizaria o Ministério da Agricultura pela edição e ou propositura das normas, incluindo o processo de revalidação dos mesmos. Sendo importante reiterar que o PL N° 6299/02 alteraria também a competência da vigilância sanitária em relação ao programa de análise de resíduos de agrotóxicos nos alimentos, assim como também sugere mudanças na avaliação de risco dos mesmos (PORTO, 2018).

A Diretoria Colegiada da ANVISA (2018) em 23 de julho de 2019, aprovou um novo marco regulatório, atualizando e tornando mais evidentes os critérios de avaliação e de classificação toxicológica dos agrotóxicos no Brasil, que revoga a atual Lei dos Agrotóxicos e flexibiliza as regras de aprovação e comercialização desses produtos químicos. A audiência pública aconteceu a pedido do presidente da CDH, senador Humberto Costa (PT-PE), e teve entre seus objetivos apresentar um dossiê sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde da população. Elaborado por organizações ligadas ao tema, o documento vai auxiliar os parlamentares a decidirem sobre a aprovação ou rejeição desse projeto (Senado, 2015)

A nova regulação estabelece a mudança de quatro para seis as categorias de classificação toxicológicas e é formado por três Resoluções da Diretoria Colegiada e uma Instrução Normativa (ANVISA, 2019).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto pode-se afirma que a intoxicação por agrotóxicos é considerada um problema de saúde pública relatado em diversos estudos, principalmente em países em desenvolvimento com base no agronegócio. Diversos estudos mostrados indicam que as intoxicações agudas acometem principalmente trabalhadores que se expõem a tais produtos durante sua jornada de trabalho.

Mesmo que haja uma expressiva cooperação ao que diz respeito ao de agrotóxicos na produção agrícola, torna-se de suma relevância e emrgência o manejo e a utilização adequados, almejando-se minimização dos riscos à saúde, uma vez que, evidencia-se que os trabalhadores rurais são um considerável grupo de risco. O uso indevido dos equipamentos de proteção individual, bem como a carência de mecanismos de capacitação e vigilância são fatores que podem ser correlacionados com o número de notificações de intoxicação por pesticidas.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. PROJETO DE LEI Nº 6.299, DE 2002. Altera os arts 3º e 9º da Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1654426 Data de Acesso: 20 de abril de 2022.

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1Acadêmica do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA.
Artigo científico apresentado à Universidade CEUMA, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Farmácia
Orientadora:  Prof.ª Dr.ª Angela Falcai.

2Docente do Curso de Farmácia Universidade CEUMA.