PNEUMONIA EM IDOSOS: ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA EM NÍVEL PRIMÁRIO

Patrícia Maria de Araújo e Simone Gomes de Almeida
RESUMO
A infecção do trato respiratório é um dos problemas de saúde pública em pessoas acima de 65 anos, sendo a pneumonia a maior causa de morte por doenças infecciosas no mundo. Os fatores de riscos gerais mais freqüentes identificados entre pacinetes idosos com pneumonia são, idade, presença de duas ou mais condições comórbidas, aumento da colonização da orofaringe, diminuição do transporte mucociliar (poluição atmosférica, tabagismo), desnutrição, hospitalização (presença de sonda nasogástrica, nasoentérica e pós operatório), piora recente do estado geral e do grau de dependência (dificuldade de deambulação), além de quedas, sedentarismo e baixa imunidade. A promoção de saúde e a profilaxia primária de doenças, principalmente após 65 anos, são as alternativas que apresentam o melhor custo-beneficio para que se alcance a compressão da morbidade. A fisioterapia não é uma ferramenta útil apenas para a reabilitação da patologia, mas também atua no favorecimento da conscientização da população, na promoção de um bem estar duradouro e na autonomia do idoso.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo com presença de alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas, tornando o organismo mais susceptível as agressões intrínsecas e extrínsecas culminando com a morte.
A evolução histórica do perfil demográfico brasileiro evidencia o crescimento gradual da população idosa decorrente dos avanços nas Ciências Humanas, associado a uma vida mais saudável e ativa. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE, a população idosa passou de 6,1% em 1980 para 9% em 2000; levando o Brasil a ocupar o sexto lugar no mundo, com uma estimativa para o ano 2025 de 32 milhões (15%) de pessoas com idade superior a 60 anos(OMS).
A infecção do trato respiratório é um dos problemas de saúde pública em pessoas acima de 65 anos, sendo a pneumonia a maior causa de morte por doenças infecciosas no mundo, apesar de todo o avanço na área médica e social no decorrer do século e da disponibilidade de novos antibióticos. Ela é a sexta causa de morte nos EUA e a quinta no Brasil, na população idosa, que representa 70% de todas as pneumonias em nosso país.
Pneumonia é uma inflamação aguda, de qualquer natureza localizada no parênquima pulmonar. É considerado, pela sua abrangência, aquele que melhor define tais processos , sejam eles bacterianos, viróticos, fúngicos ou de outra natureza. A classificação baseada em seu agente etiológico é aquela que ,melhor atende tanto as finalidades diagnósticas como terapêuticas.
Os fatores de riscos gerais mais freqüentes identificados entre pacinetes idosos são, idade superior a 65 anos, presença de duas ou mais condições comórbidas, aumento da colonização da orofaringe, micro e macro aspiração, diminuição do transporte mucociliar (poluição atmosférica, tabagismo), institucionalização, desnutrição, hospitalização (presença de sonda nasogástrica, nasoentérica e pós operatório), piora recente do estado geral e do grau de dependência (dificuladade de deambulação), infecção urinária, além de quedas, sedentarismo e baixa imunidade.
A melhor maneira de reduzir a mortalidade e a morbidade, baseia-se no planejamento de estratégias visando a promoção da saúde e a prevenção desta patologia. Somente nestes últimos anos, percebemos que quando se pensa em programa preventivo em geriatria não se pode deixar de falar numa ação interdisciplinar. Só a abordagem de vários profissionais através da visão específica de cada um pode chegar a um atendimento adequado ao idoso.
Com base nesses conceitos, resolvemos elaborar essa revisão de literatura com a finalidade de evidenciar as diferentes condutas no nível primário de atenção à saúde, valorizando a importância da fisioterapia.
METODOLOGIA
Foram realizadas pesquisas bibliográficas por meio das bases de dados Scielo, Medcenter, IBGE, Ministério da Saúde e livros. As palavras chave utilizadas foram; idoso, prevenção, pneumonia e fisioterapia. Uma segunda pesquisa foi realizada nas referências dos artigos anteriormente relacionados, sendo selecionados aqueles que eram pertinentes ao assunto. Do levantamento bibliográfico realizado foram identificadas 36 das quais 20 foram utilizadas (5 capítulos de livro, 13 artigos, IBGE e Ministério da
Saúde ).
DESENVOLVIMENTO
O idoso está propenso a uma maior incidência de infecções pulmonares principalmente a pneumonia, por um grande número de razões que vão desde alterações anatômicas e paredes torácicas e em vias aéreas passando pela diminuição progressiva das funções pulmonares, determinadas pela perda elasticidade pulmonar, da capacidade vital e do volume expiratório forçado, além da diminuição da função ciliar e reflexo de tosse, até modificações do sistema imunológico.
Atualmente, o que preocupa no idoso é a sua saúde global, tornando as comorbidades importantes. As características fisiológicas, fisiopatológicas próprias e as necessidades diferenciadas, principalmente pelo aspecto sócio-econômico, exigem uma preparação adequada e um atendimento integrado de saúde. Por essa razões, a preocupação com as comorbidades no idoso são tão importantes, e quando bem cuidadas, poderão prevenir melhor as doenças do coração, e oferecer uma melhor qualidade de vida. Em virtudes desses dados, fica evidente que cuidados com as comorbidades e um programa direcionado em prevenção primária no idoso fará com que possam ser bem atenuadas.
A desnutrição é vista erroneamente como parte do processo normal do envelhecimento, sendo como conseqüência ignorada. Diversos estudos apontam impacto da desnutrição da saúde do idoso, fazendo com que esse grupo apresente pior prognóstico para o agravo da saúde, mostram também que a desnutrição possui importante papel coadjuvante na determinação da ocorrência do óbito quando é concomitante a patologias como pneumonia. Então devemos observar sempre se a nutrição do idoso esta boa e adequada.
A colonização da orofaringe é o passo inicial na patogênese da maior parte das pneumonias. Idosos têm maior taxa de colonização por S.aureus e também por bactérias gram negativas (como E.coli e K. pneumoniae). Esta taxa de colonização parece estar diretamente relacionada ao estado geral do paciente, em especial ao grau de dependência, e à presença de insuficiência cardíaca, DPOC, diabetes e insuficiência renal. À colonização, segue-se a aspiração (em geral inaparente) de microorganismos da naso/orofaringe, em especial entre pacientes com reflexo de tosse reduzido, disfagia e diminuição do nível de consciência.
O trato respiratório inferior é habitualmente estéril, e a função mucociliar impõe-se como meio de defesa primário na eliminação de microorganismos e partículas inaladas. Mesmo em idosos não fumantes, o transporte mucociliar parece estar lentificado. Em pacientes com bronquite crônica este é ainda menos eficaz. Lourdes et al em 2002, Analisara-se que pneumonia e gripe, apesar de serem doenças infecciosas, poderiam estar associadas à poluição atmosférica, já que alguns componentes gasosas poluição atmosférica possuem alta solubilidade e, portanto, têm uma alta taxa de absorção nas vias aéreas. Com isso podem causar um decréscimo no sistema imunológico do indivíduo, transformando-o em uma pessoa mais susceptível a infecção aguda.
Defende-se, em geral que a maioria das pneumonias pós-operatórias ou de acamados começa com atelectasia e que as secreções retidas nos pulmões são um bom meio de cultura para infecção. Se esta secreção ou atelectasia for adequadamente tratada com fisioterapia no inicio de seu desenvolvimento, pode-se evitar a pneumonia.
A influenza é uma doença, cuja letalidade é maior em idosos sendo a pneumonia a complicação fatal mais freqüente. De acordo com a tese de Valéria T. S. Lino em 2001, a vacinação contra a gripe reduz a mortalidade e diminui o número de internações por pneumonia em idoso. Em seu experimento todos os idosos que vacinaram contra a gripe, nenhum foi hospitalizado por pneumonia durante o período de cinco meses. Por isso é importante divulgar e fazer campanhas de vacinação anualmente.
Já está bem estabelecida a importância da abstração do cigarro, devido as suas causas deletericas do sistema respiratório. Neste caso não podemos esquecer o tabagista passivo, que apresenta também grande número de alterações próprias do tabagismo. Campanhas contra cigarros são de fundamental importância para diminuição da incidência de pneumonia.
Estudos mostram que após quedas de idosos 4 % delas levam a pneumonia. A prevenção primária de quedas deve ser realizada por equipes interdisciplinares, mas medidas simples como utilização judiciosa de anti-hipertensivos e medicamentos psicoativos e o aconselhamento ambiental podem reduzir a sua incidência. O diagnóstico precoce e acurado das demências e da depressão, e a utilização correta do tratamento medicamentoso, quando indicado, associado ao suporte e orientação aos familiares, são aspectos básicos da abordagem adequada destas condições, pouco identificadas pelos médicos e tão freqüentes em idosos.
Não há duvida de que a prática de atividade física regular favorece a adaptação do indivíduo idoso às modificações decorrentes do envelhecimento. Os efeitos benéficos proporcionam um envelhecimento mais saudável, acarretando uma lentidão das alterações fisiológicas decorrentes deste processo, tanto nos idosos saudáveis como naqueles ditos “fragilizados”. De um modo geral os exercícios impõe, ao aparelho respiratório, uma maior solicitação mecânica, estimulando a ação dos componentes pulmonares e extrapulmonares. Os resultados obtidos através dos exercícios globais, mostram que indivíduo idosos respondem positivamente aos estímulos e obtêm ganhos morfofuncionais significativos. Por esta razão, cabe ao fisioterapeuta não subestimar sua capacidade física e solicitar o estímulo adequado para se obter os ganhos funcionais desejados.
CONCLUSÃO
Cabe a sociedade ampliar o debate sobre a transição demográfica e suas conseqüências para o sistema de saúde, avaliando alternativas que possibilitem minimizar seu impacto sobre a qualidade de vida da população, e cobrando do Estado o cumprimento de seu papel na implementação de políticas públicas direcionadas à manutenção da saúde da população idosa. A promoção de saúde e a profilaxia primária de doenças, principalmente após 65 anos, são as alternativas que apresentam o melhor custo-beneficio para
que se alcance a compressão da morbidade. Sua importância deve ser enfatizada nos cursos de graduação e de educação continuada da área da saúde.
A fisioterapia não é uma ferramenta útil apenas para a reabilitação da patologia, mas também atua no favorecimento da conscientização da população, na promoção de um bem estar duradouro e na autonomia do idoso.
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