Autor: Dra. Patrícia Maria de Araújo
Graduada pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix
e-mail: patricia_araujo_fisio@yahoo.com.br
Rua: Professor Pedro Alvarenga, 68 apt 201, Palmares, Belo Horizonte, MG, Cep: 31155-740.
Data: 27/03/2007
Resumo
O elevado uso de agrotóxicos do tipo carbamatos e organofosforados é um problema crítico para os trabalhadores rurais pois tem aumentado significativamente o risco de morbidade e mortalidade, pelas complicações neurológicas, respiratórias, cardiovasculares, hematológicas, urinárias, digestivas, dermatosas e mucosas. Muitos destes problemas ocorrem pela falta de informação dos trabalhadores, e uso inadequado de equipamentos de segurança. Desta forma os profissionais da saúde devem alertar, informar, educar e prevenir estes agravos. Como objetivo, deste trabalho é esclarecer os riscos dos trabalhadores e a importância do fisioterapeuta como profissional da saúde na atuação primária.
Palavra-chave: Agotóxicos, trabalhadores rurais, atuação primária.
Introdução
Agrotóxicos são os produtos e os componentes de processos físicos, químicos ou biológicos destinados ao uso nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas nas pastagens, na proteção de flores tais nativas ou implantadas e de outros ecossistemas e também em ambiente urbano hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora e da fauna afim de preserva-la da ação danosa dos seres vivos considerados nocivos, bem como substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores do crescimento (Lei Federal nº7802 de 11/07/1989 regulamentada através do decreto 98816 artigo 2º inciso 1).
Estima-se que os agrotóxicos são responsáveis por mais de vinte mil mortes não intencionais por ano.
Hoje existe no mercado, grande número de compostos cujo os princípios ativos são organofosforados e ou carbamatos, que atuam como anticolinesterasicos.
Estas substâncias tem aumentado significativamente o risco de morbidade e mortalidade, pelas complicações neurológicas, respiratórias, cardiovasculares, hematológicas, urinárias, digestivas, dermatosas e mucosas. Muitos destes problemas ocorrem pela falta de informação dos trabalhadores, e uso inadequado de equipamentos de segurança.
Este fenômeno fisiopatológico é o principal responsável pelas doenças e complicações aos trabalhadores rurais. Diante disso e da elevada incidência e prevalência de trabalhadores rurais intoxicados, este estudo teve como proposta descrever os efeitos causados pelo uso direto de agrotóxicos em trabalhadores agrícolas com a finalidade de apresentar um referencial teórico para sensibilizar os profissionais da saúde a adoção de educar e mostrar a estes trabalhadores a importância do uso de equipamentos adequados e ações preventivas, minimizando assim as possíveis complicações.
Metodologia
Foram realizadas pesquisas bibliográficas por meio das bases de dados Meddline, Lilacs e Scielo. As palavras-chave utilizadas foram: anticolinesterásicos, agrotóxicos e trabalhador rural. Uma segunda pesquisa foi realizada nas referências dos artigos anteriormente relacionados, sendo selecionados aqueles que eram pertinentes ao assunto. Do levantamento bibliográfico realizado, foram identificados 21 referências das quais 16 foram utilizadas (5 capítulos de livro, 3 manuais da FUNDACENTRO e 8 artigos).
Revisão da Literatura
Agrotóxicos são os produtos e os componentes de processos físicos, químicos ou biológicos destinados ao uso nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas nas pastagens, na proteção de flores tais nativas ou implantadas e de outros ecossistemas e também em ambiente urbano hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora e da fauna afim de preserva-la da ação danosa dos seres vivos considerados nocivos, bem como substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores do crescimento (Lei Federal nº7802 de 11/07/1989 regulamentada através do decreto 98816 artigo 2º inciso 1).
A aplicação indiscriminada de agrotóxicos afeta tanto a saúde humana quanto os ecossistemas naturais. Os impactos na saúde podem atingir tanto os aplicadores dos produtos quanto os membros das comunidades e os consumidores dos alimentos contaminados com os resíduos.
Estima-se que os agrotóxicos são responsáveis por mais de vinte mil mortes não intencionais por ano, sendo que a maioria ocorre no terceiro mundo, onde se estima que vinte e cinco milhões de trabalhadores agrícolas são intoxicados de forma aguda anualmente.
O Brasil aponta como o maior consumidor de agrotóxico, no âmbito da América Latina, consumindo 50% da quantidade comercializada.
Segundo estudos feitos em duas cidades em Pernambuco cerca de 80% dos aplicadores que manuseavam praguicidas a mais de cinco anos possuíam pouco conhecimento sobre os equipamentos de proteção individual, e apenas três aplicadores afirmaram que costumavam submeter-se a exames de saúde periódicos.
A necessidade do aumento da produção de alimentos e desvalorização dos produtos primários comercializados na propriedade, agravados pelo aumento do custo de produção, tem levado à necessidade de maior jornada de trabalho no campo. Este fato, potencialmente pode contribuir para o aumento da ocorrência de acidentes e doenças ocupacionais.
Dentre todos os agentes tóxicos envolvidos, os agrotóxicos agropecuários apresentam a maior letalidade. Das intoxicações agudas 1663 foram por motivo profissional 1607 por acidentes e o maior contingente por suicídio 1824. Apesar da causa suicídio ter se destacado, casos por motivo profissional tendem a ser subnotificados, pois trabalhadores temem retaliações por parte dos seus empregadores.
Hoje existe no mercado, grande número de compostos cujo os princípios ativos são organofosforados e carbamatos.
No estudo sobre “Trabalho rural e fatores de risco associados ao regime de uso de agrotóxicos em Minas Gerais, Brasil”; foi detectado cerca de 978 (71%) agrotóxicos pertenciam ao grupo dos organofosforados, 120 (9%) carbamatos, 270 (19%) outros grupos químicos e 15 (1%) trabalhadores afirmaram não saber quais os tipos de agrotóxicos eram utilizados, sendo o agrotóxico da marca Tamaron o mais usado segundo 530 dos 1064 entrevistados.
Os organofosforados e carbamatos apresentam ou atuam como anticolinesterásicos, que foram desenvolvidos e utilizados desde o século XIX, durante a 2ª Guerra Mundial. Atualmente são usados como medicamentos (fisostigmina e neostigmina) no controle e combate à pragas. São compostos lipossolúveis absorvíveis pelo organismo por via cutânea, respiratória e digestiva, sendo a via respiratória a mais eficaz, seguida pela digestiva e da cutânea. Quando a via de exposição é a inalatória, o início da sintomatologia tende a ser a mais precoce. A via respiratória e a cutânea são as formas de exposição mais comuns nos casos acidentais, principalmente quanto á regras de segurança para proteção individual não são observadas. Estas substâncias são capazes de inibir a ação da enzima acetilcolinesterase, com variado grau de toxicidade para os seres humanos.
Após serem absorvidas estas substâncias se distribuem por todos os tecidos, inclusive pelo sistema nervoso central (SNC), uma vez que atravessam a barreira hematoencefálica. A meia vida varia muito, dependendo do composto e da quantidade a que foi exposto o paciente, deste minuto até várias horas.
Os inseticidas organofosforados ligam-se ao centro esterásico da acetilcolinesterase, impossibilitando-a de exercer sua função de hidrólise a neurotransmissor acetilcolina (a hidrólise transforma a acetilcolina em colina e ácido acético).
Os inseticidas carbamatos agem de modo semelhante, mas formam um complexo menos estável com a colinesterase, permitindo a recuperação da enzima mais rapidamente. Pode ocorrer intoxicações agudas graves, apesar da rápida reversibilidade da enzima inibida.
A acetilcolinesterase está presente no sistema nervoso periférico e também nos globos vermelhos do sangue e plasma. A acetilcolinesterase inativa a acetilcolina que é responsável pela transmissão do impulso nervoso no SNC, nas fibras pré-ganglionares, simpáticas e parassimpáticas e na placa mioneural.
Quando o inseticida inativa a acetilcolinesterase sobre mais acetilcolina para estimular os receptores muscarínicos e nicotínicos.
– Alterações
A exposição dos agrotóxicos pode ser de curta duração (profissional ou acidental), de longa duração (profissional ou comunitária) ou intermitente (profissional).
Os níveis de exposição podem variar de baixos a altos, conforme o tipo de exposição. No caso da exposição profissional os fatores que a controlam podem ser tantos e tão variáveis que é possível haver níveis de exposição altos, médios e baixos.
Os efeitos tóxicos podem ser agudos aparentes (imediatamente após a exposição), retardados ou crônicos (semanas, meses, ou anos após a exposição).
– Efeitos sobre o sistema nervoso central
Os compostos terciários, como a fisostigmina e os organofosforados apolares, penetram livremente na barreira hematoencefalica e afetam o cérebro. O resultado consiste numa excitação inicial que pode resultar em convulsões seguidas de depressão, podendo causar perda da consciência e insuficiência respiratória. Muitos organofosforados podem provocar um tipo grave de desmilienizacao dos nervos periféricos, resultando em lento desenvolvimento de fraqueza e perda sensorial. Intoxicações por drogas que agem direta ou indiretamente no sistema nervoso podem produzir paralisias, vertigens, distúrbios visuais, miose, midriase, cefaléia, distúrbios psicológicos, agitação psicomotora, delírio, alucinações, sonolência e torpor. A marcha atáxica titubeante e cerebelar indicam intoxicação por drogas que tem ação sobre o SNC.
– Efeitos sobre a junção neuromuscular
A tensão de contração espasmódica de um músculo estimulado através de seu nervo motor é aumentada pelos anticolinesterásicos, devido ao disparo repetido na fibra muscular, associado ao prolongamento do potencial da placa terminal. Normalmente, a acetilcolina é hidrolisada tão rapidamente que cada estimulo desencadeia apenas um potencial de ação na fibra muscular.
Entretanto, quando a acetilcolina é inibida, esse processo e convertido numa curta serie de potenciais e, conseqüentemente, em maior tensão.
– Efeitos Sobre o Sistema Respiratório
Atualmente, as doenças respiratórias são um importante problema clinico para os trabalhadores rurais, sendo também para nos um problema de saúde publica. A atividade agrícola moderna submete o aparelho respiratório a uma grande variedade de exposições, acometendo mais freqüentemente as vias aéreas altas ou superiores.
A inalação de gases tóxicos como organofosforados e carbamatos podem resultar em complicações a curto e longo prazo.
Em curto prazo: inflamação em qualquer parte do trato respiratório (rinite) e em particular, da arvore brônquica, broncoespasmo, hipoxemia arterial com hipercapnia.
Em longo prazo: aumenta a secreção brônquica, dispnéia com cianose, bronquiectasias, síndrome de disfunção das vias aéreas, bronquiolite obliterante, limitação crônica ao fluxo aéreo, insuficiência respiratória, edema pulmonar, asma brônquica, traqueite crônica, pneumofibrose.
– Efeitos Sobre o Sistema Cardíaco
As manifestações nicotínicas são hipertensão arterial, taquicardia e arritmias cardíacas.
Nas intoxicações por organofosforados verifica-se bradicardia. Nos casos graves podem ocorrer estado de choque. Os efeitos cardiotóxicos tem seu mecanismo direto causado por drogas que agem de modo especifico sobre o coração ou indireto, por vários mecanismos, dentre eles a hipóxia produzida por drogas meta-hemoglobinizantes, as alterações circulatórias produzidas por distúrbios hidroeletroliticos e por fim as manifestações cardíacas devidas a liberação de catecolaminas ou acetilcolinesterase. Os receptores M2 (cardíacos) são encontrados no coração, bem como nas terminações pré-sinápticas dos neurônios periféricos e centrais. Exercem efeitos inibitórios principalmente ao aumentar a condutância do K+ e ao inibir os canais de cálcio. A ativação dos receptores M2 é responsável pela inibição vagal do coração bem como pela inibição pré-sináptica no SNC e na periferia.
As principais ações dos agonistas muscarinicos são facilmente compreendidas no tocante ao sistema nervoso parassimpatico.
Os efeitos cardiovasculares consistem em redução da FC e do DC. Esta ultima ação decorre principalmente de uma redução da forca de contração dos átrios, visto que os ventrículos possuem apenas inervação parassimpatica escassa e baixa sensibilidade aos agonistas muscarinicos sobre o coração.
A musculatura lisa, além do músculo liso vascular, sofre contração em resposta aos agonistas muscarínicos. A atividade peristáltica do trato gastrointestinal aumenta, podendo causar dor em cólica, e ocorre também contração da bexiga e do músculo liso brônquico.
A sudorese, o lacrimejamento, a salivação e a secreção brônquica resultam da estimulação das glândulas exócrinas. O efeito combinado da secreção e constrição brônquicas pode interferir na respiração.
– Pele e Mucosa
A pele, como via de absorção, pode sofrer irritações ou mesmo queimaduras pelos efeitos de tóxicos irritantes ou cáusticos. As escaras na mucosa podem aparecer no caso de intoxicação por sulfato de cobre, permanganato de potássio, fenóis, ácidos e álcalis. A cor da pele pode variar, fazendo lembrar, quando rosada, intoxicação por monóxido de carono e cianetos. A coloração azulada da pele, sem passado cardíaco ou pulmonar, pode levar a suspeita de intoxicação por drogas meta-hemoglobinizantes, bem como por substâncias que formam carboxi-hemoglobina ou sulfa-hemoglobina.
Pigmentações na pele estão presentes nas intoxicações por acido sulfúrico, nitritos e tintas. Icterícia, sem passado hepático ou doenças hemolisantes por outras causas, e encontrada nas intoxicações por arsênico, fósforo, tetracloreto de carbono, sulfas, hidrazidas, anestésicos. O grau de umidade da pele deve ser pesquisado, pois tal como a coloração, faz lembrar certas intoxicações. A pele seca ocorre no caso de intoxicação por atropina, escopolamina e efedrina, enquanto a sudorese e observada com analgésicos, derivados da colina, eméticos, fisiostigmina, pilocarpinia, opiaceos, inseticidas organofosforados, carbamatos e picada de escorpião.
A queda do cabelo ocorre nas intoxicações por tálio, mercúrio e chumbo. Os dentes podem adquirir coloração cinza-azulada, esverdeada, azulada ou preta nas intoxicações por chumbo, cobre, bismuto e ferro, respectivamente.
– Manifestações Digestivas
Quando a intoxicação se da por via oral o trato gastrointestinal e o primeiro sistema que suporta o impacto de suas ações. Em conseqüência, quase sempre temos vômitos e diarréias, os primeiros devidos a ação irritativa,podendo ter aspecto e coloração variada de acordo com o tóxico. A substancia pode ser neutralizada ou modificada pelo conteúdo intestinal, ou mesmo ser diluída pela grande quantidade de água normalmente secretada no lúmen do intestino, favorecendo o aparecimento das diarréias.
O cheiro peculiar da ingestão de alguns tóxicos pode, por si só, dar o diagnostico da intoxicação, como ocorre no petróleo e derivados, álcool, acido fenico, acetona e alcanfora. O odor aliaceo e próprio do fósforo e arsênico, enquanto o de amêndoas amargas e típico de intoxicação por cianeto.
O aspecto do material expelido pelo vomito também auxilia no diagnostico. Os vômitos sanguinolentos e pardacentos são próprios da ingestão de álcalis, ácidos,metais pesados e formol; os de cor verde podem ser derivados a sal de cobre e arsênico; em se tratando de iodo e cromo, são de cor azul e roxa.
A dor abdominal vaga ou aguda ocorre em muitas intoxicações, principalmente aquelas que lesam a mucosa digestiva. A dor tipo cólica pode aparecer nas intoxicações em que há liberação de acetilcolina (intoxicação por organofosforados e escorpiões).
– Manifestações Hematológicas
São conhecidas muitas alterações hematológicas resultantes das intoxicações, sobretudo por medicamentos e agentes químicos. Todos os elementos figurados do sangue podem ser acometidos por agentes tóxicos isoladamente ou em conjunto,levando a sintomatologia variada: anemia, cianose, púrpura e hemorragia com suas conseqüências.
A ação da droga diretamente sobre a medula óssea inibe a produção de elementos circulantes, levando a aplasia medular.
O agente tóxico exerce também o seu efeito sobre o elemento circulante, depois pela liberação da medula óssea. Indivíduos com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase poderão apresentar brusca hemólise após exposição a vários medicamentos tóxicos que induzem a formação de anticorpos para a droga, levando a trombocitopenia, quando as plaquetas são envolvidas na reação antígeno-anticorpo, ocasionando púrpuras e petequias.
As beta-hemoglobinemias são devidas a efeitos diretos oxidativos sobre a hemoglobina ou a inibição do metabolismo glucidico intra-hepatico. Nos casos de meta-hemoglobinemia a pele poderá tornar-se azulada, como nas intoxicações pelo monóxido de carbono, naftalina, nitritos, nitratos, cianetos e derivados da anilina. As intoxicações agudas produzem alterações sanguíneas importantes, como anemia hemolítica, meta-hemoglobinemias e citopenias, enquanto nas crônicas observamos depressões medulares.
– Manifestações Urinárias e Órgãos Reprodutores
Os rins guardam relação com as intoxicações por serem órgãos de excreção. As intoxicações por substancias nefróticas tem como complicação principal a insuficiência renal aguda. A anúria pode ser devida a lesões renais pelo tóxico ou secundaria a hemólise e distúrbios hidroeletroliticos. Outras manifestações também ocorrem: hematúria, modificação de cor e retenção urinaria.
Nas intoxicações por fósforo, sulfamidas, comigo-ninguém-pode, ácido oxálico, sais de mercurio e de bismuto, as vezes ocorre anuria. A poliúria e própria do álcool, xantinas, digitalicos, nitratos e diuréticos. No caso do benzeno, tetracloreto de carbono, chumbo e mercúrio, e possível o achado de porfirinuria. A hematuria e própria das intoxicações por arsênico, fenol, mercúrio, oxalatos e sulfamidas.
As cores rosa e roxa da urina sugerem intoxicação por antraquinonas, aminopirina, dipirona, difenil-hidantoinas e palmoato de pervinio. Uma cor parda com tendência a negro e observada com os corantes de anilina.
Além do exame completo devem-se procurar os sinais mais característicos dos vários tipos de intoxicações.
Os estudos mais recentes descartaram a hipóteses dos organosfosforados e carbamatos como responsáveis pelo risco em excesso de câncer pelos órgãos reprodutivos.
– Prevenção
– Aspectos legais
Desde 1.974, o Trabalhador Rural vem sendo amparado pela Lei 6.195 que, assinada em 19 de dezembro de 1.974, atribuiu ao FUNRURAL a prestação de serviços por Acidentes do Trabalho.
De acordo com a Lei 6.195 e a Portaria no 76.022, assinado em 24 de julho de 1.975, é Acidente do Trabalho, o que ocorrer pelo exercício do trabalho rural, a serviço do empregador, provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doença que cause a morte ou a perda ou a redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho; equiparando-se ao acidente do trabalho, a doença profissional, desde que definida em Ato do Ministério da Previdência e Assistência Social.
A prevenção de acidentes, deve haver a cooperação de todos aqueles que estão envolvidos em determinada tarefa, seja o transportador, o armazenador, o preparador ou o aplicador de defensivos, assim como a obediência ao uso de roupas e equipamentos de proteção.
Entretanto, é praticamente impossível anular totalmente os riscos, por isso a necessidade de se terem noções de Primeiros Socorros, as quais nessas circunstâncias, desempenham um papel preventivo do agravamento do mal ocorrido.
Conceituamos os Primeiros Socorros como os cuidados imediatos que devem ser dispensados à pessoa, vítima de intoxicação ou envenenamento, e que se destinam a salvar uma vida ameaçada e evitar que se agravem os efeitos tóxicos do defensivo.
– Técnicas e medidas de segurança
– Medidas gerais de segurança e prevenção Os encarregados, chefes de equipe, supervisores ou capatazes devem dar exemplo.
Em qualquer atividade que estejam exercendo devem sempre tomar as precauções e usar a técnica adequada, sendo sua responsabilidade:
– treinar cada novo aplicador;
– revisar periodicamente as técnicas usadas pelos aplicadores;
– verificar os equipamentos regularmente, para reparar os que estejam com
defeitos e que tenham vazamentos;
– certificar-se do suprimento de água limpa para a lavagem.
– Segurança na aplicação A proteção no uso dos agrotóxicos requer técnica adequada. Cada trabalhador deve ser bem treinado.
O aplicador deve:
– manter a haste de pulverização do equipamento afastada do corpo;
– aplicar apenas de um lado, de modo a não receber o produto carreado pelo vento;
– evitar caminhar entre plantações que foram tratadas recentemente .
Na seleção dos produtos, preferir sempre os de menor risco para o homem e o ambiente.
O aplicador deve estar instruído para:
– detectar e reparar vazamentos e outros defeitos nos equipamentos;
– lavar o mais rápido possível qualquer gota ou respingo de agrotóxicos que caiam sobre a pele;
– lavar mãos, braços, rosto e pescoço após cada recarga do equipamento de aplicação e também sempre se lavar antes de comer, beber ou fumar;
– aplicar, apenas, nas horas mais frescas do dia.
– Segurança no armazenamento dos produtos
Todos os agrotóxicos são venenosos e devem ser guardados em locais seguros, longe de crianças e de pessoas desinformadas ou que possam roubá-los e usá-los mal.
Os depósitos de agrotóxicos devem ser sinalizados, seguros com paredes sólidas, cobertos e bem trancados, evitando, assim, a entrada de estranhos.
Todos os agrotóxicos devem ser guardados em seus recipientes originais, cuidando-se para manter a rotulagem em boas condições.
O responsável pela guarda da chave pode ser a mesma pessoa que cuida das entradas e saídas dos agrotóxicos no depósito.
As embalagens devem ser colocadas sobre estrados, com empilhamento estável, respeitando o número máximo de camadas recomendado pelo fabricante.
Os depósitos de agrotóxicos devem estar completamente separados e o mais longe possível de moradias e dos lugares onde se guardam alimentos.
Os depósitos devem apresentar condições que possibilitem sua limpeza e descontaminação.
– Segurança em relação às áreas tratadas
Se o agrotóxico aplicado é de toxicidade baixa ou moderada, ninguém deve entrar nem transitar na área tratada antes que o líquido tenha secado nas culturas.
Se o agrotóxico aplicado é de alta toxicidade, é necessário que as pessoas não entrem na área tratada por um período mais longo, que deve estar indicado no rótulo (em caso de dúvida esperar, no mínimo, quatro dias).
As pessoas que, por motivo de trabalho, tiverem que entrar ou transitar na área tratada antes dos períodos determinados, só deverão faze-lo com o uso de equipamentos de proteção individual.
– Observação para o prazo de carência
Os agrotóxicos têm um tempo de atividade depois de aplicados, enquanto são degradados ou transformados pela natureza.
Para todos os produtos deve estar indicado, na embalagem, o intervalo de segurança ou o prazo de carência, que é o período entre a última aplicação e a colheita (de vegetais em geral) ou a comercialização (de grãos armazenados), ou do abate (para animais de corte) ou de ordenha com aproveitamento do leite.
Estas precauções são particularmente importantes no caso das frutas e verduras que são consumidas frescas.
– Organização do trabalho
– Medidas de organização do trabalho devem se adotadas.
Podemos destacar:
b) diminuição do tempo de exposição diária/semanal;
c) Rotação de atividades;
d) Nas atividades de aplicação de agrotóxicos, trabalhar nos horários nenos quentes do dia;
e) Não permitir tarefas simultâneas á aplicação dos agrotóxicos nas áreas que estiverem sendo tratadas;
f) Controlar o período de risco de reentrada nas áreas tratadas.
Os trabalhadores com ritmos intensos ou contratados por tarefa sofrem maiores riscos para a saúde.
– Treinamento
Educação, informação e capacitação são fundamentais na prevenção de acidentes no trabalho com agrotóxicos.
Os trabalhadores devem ser treinados para executar atividades com agrotóxicos e devem conhecer os efeitos agudos e crônicos dos agrotóxicos na saúde.
Devem ser perfeitamente informados e treinados quando ás formas de prevenção nas atividades que exercerão.
Conclusão
O uso indiscriminado de agrotóxicos (organosfosforados e carbamatos) têm causado grande impacto sócio econômico e na saúde, visto que sua utilização é de forma inadequada. Isso pode ser causado pelo auto índice de analfabetismo, a falta de fiscalização, de informação desde a compra até o uso do produto, o uso incorreto do equipamento de segurança e o desrespeito quanto ao tempo de carência.
A partir do presente estudo foi possível observar que as alterações causadas ao organismo (respiratórias, cardiovasculares, neurológicas, hematológicas, urinárias, digestivas, dermatosas e mucosas); após sua instalação; são de difícil reversão. Para tanto é necessário que haja um trabalho de prevenção com o intuito de instruir tanto o trabalhador quanto o empregador da necessidade de um treinamento para a utilização do produto, bem como dos mecanismos de proteção, a fim de evitar tais alterações.
O Fisioterapeuta como agente da saúde é responsável não só pela educação e informação aos trabalhadores, mas também de sensibilizar outros profissionais. Este trabalho apresenta os subsídios para o profissional compreender a sua importância na atuação preventiva.
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