REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7076438
Autoras:
Thays Silva de Castro1
Paula Gisele Freitas Corrêa2
Marcimar Silva Sousa3
1Graduanda do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário FAMETRO,
Manaus, Amazonas, Brasil. E-mail: thays.castro10@gmail.com
2Orientadora Médica Veterinária Esp. em Dermatologia Veterinária de pequenos
animais, Manaus, Amazonas, Brasil. E-mail: gisafcorrea@yahoo.com.br
3Docente coorientador do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário
FAMETRO, Manaus, Amazonas, Brasil. E-mail: marcimar.sousa@fametro.edu.br
Resumo
Sporotrix spp é o agente causador da esporotricose, é transmitido a humanos e outros animais através de felinos com a síndrome. Considerando a importância dos felinos na transmissão, muitos estados têm observado um grande número de casos. A esporotriose é uma micose subcutânea evolutiva subaguda ou crônica causada por espécies de fungos pertencentes ao complexo Sporothrix schenckii. Como a esporotricose felina desempenha um papel central na transmissão, foi importante relatar um caso específico e acompanhar sua evolução. Além disso, será relatado métodos de tratamento para este caso, com isso, será abordado também sobre os riscos da esporotricose à saúde pública, abordando sua etiologia, transmissão e aspectos clínico-epidemiológicos.
Palavras-chave: Esporotricose. Felinos. Transmissão. Fungos.
Abstract
Sporotrix spp is the causative agent of sporotrichosis, it is transmitted to humans and other animals through felines with the syndrome. Considering the importance of felines in transmission, many states have observed a large number of cases. Sporotriosis is a subacute or chronic evolving subcutaneous mycosis caused by species of fungi belonging to the Sporothrix schenckii complex. As feline sporotrichosis plays a central role in transmission, it was important to report a specific case and follow its evolution. In addition, treatment methods will be reported for this case, with this, it will also be addressed about the risks of sporotrichosis to public health, addressing its etiology, transmission and clinical-epidemiological aspects.
Keywords: Sporotrichosis. Cats. Streaming. Fungi.
INTRODUÇÃO
A esporotriose é uma infecção fúngica causada pelo Sporothrix schenckii e pode ter um curso agudo ou crônico. A doença pode se espalhar para os linfonodos e outras áreas geralmente afeta a pele e o tecido subcutâneo.
Este fungo é encontrado no solo, grama, árvores, turfa, roseiras e outros organismos hortícolas e em decomposição (Cruz, 2010; Brooks et al., 2014). Diante disso, a esporotricose em humanos é considerada uma doença ocupacional associada a pessoas envolvidas em atividades como paisagismo, jardinagem e plantio de árvores (Kauffman, 2017), pois a forma predominante de infecção é através da inoculação traumática do corpo humano por meio de espinhos e lascas de madeira (Schubach et al., 2012; Brooks et al., 2014).
No entanto, a esporotricose felina é frequentemente diagnosticada. A transmissão entre gatos é facilitada pelo comportamento da espécie, através do ato de cavar e cobrir os resíduos com terra, ou por arranhaduras. (Cruz, 2010; Schubach et al., 2012; Santos et al., 2018).
O diagnóstico definitivo da esporotricose felina é feito através do isolamento do patógeno em cultura e identificação da espécie por meio de estudos morfológicos e fenotipagem fisiológica dos isolados. Devido à alta sensibilidade desses testes, a citologia e a histopatologia são ferramentas muito úteis para o diagnóstico inicial dessa doença em felinos.
O contato entre humanos e patógenos encontrados em animais está aumentando devido às relações próximas entre os donos humanos e seus animais de estimação. Por isso, é necessário discutir certas zoonoses – doenças transmitidas entre animais e humanos – para garantir a saúde pública. Este estudo visa compreender a esporotricose felina; seus sintomas, diagnóstico, tratamento e prevenções, além disso será abordado um relato de caso em felino positivo para esporotricose.
1. ESPOROTRICOSE
1.1 Breve Histórico
Em 1898, Benjamin Schenck descreveu pela primeira vez a esporotricose. Schenck enviou a amostra do agente ao micologista Erwin Smith para identificação. Schenck nomeou o agente Sporotrichum depois que Smith o identificou. Em 1900, Hektoen e Perkins relataram a doença pela segunda vez, sendo classificada como Sporothrix schenckii (HEKTOEN e PERKINS, 1900).
A doença foi documentada pela primeira vez no Brasil em 1907 por Lutz e Splendore. Acometia homens e ratos em São Paulo no momento da reportagem. As suspeitas de transmissão da esporotricose felina para humanos foram levantadas em 1954. (SAMPAIO et al., 1954).
1.2 Agente Etiológico
Sporothrix schenckii é um fungo que muda de forma dependendo da temperatura. Também é termicamente dimórfico. Como micélio, este fungo cresce a 25°C, como hifas septadas e ramificadas. A 37°C, se transforma em células de levedura de 2 a 8 micrômetros. Essas células de levedura são encontradas no final dos conidióforos, que são extensões da hifa. (Cruz, 2010; Schubach et al., 2012; Bazzi et al., 2016).
Em 25°C, o cultivo apresenta colônias filamentosas brancas lisas que crescem rapidamente ásperas, pretas e duras. Os conídios em forma de pêra estão dispostos em conidióforos em forma de margarida ou rosa. (QUINN et al., 2005).
FIGURA 1: SPOROTHRIX SCHENCKII
O agente parece parasita em sua fase de levedura a uma temperatura de 37°C, em aproximadamente três semanas, colônias de cor creme a marrom claro crescem quando o agente é cultivado nesta temperatura. As células leveduriformes na microscopia têm formato de charuto quando observadas ao microscópio. (QUINN et al., 2005).
1.3 Epidemiologia
A esporotricose pode infectar todos os animais; no entanto, certas espécies são mais suscetíveis do que outras. A esporotricose infecta pessoas em todo o mundo, mas é especialmente comum no Brasil, México, Japão, China, Índia, Austrália e África do Sul. Uruguai, Malásia, México, Peru, China e Índia têm uma alta taxa de infecção. (ROCHA, 2015).
A esporotricose felina tem sido registrada em diversas regiões do Brasil, o clima, a altitude, a umidade e a temperatura da doença influenciam seu crescimento em seu estado sapróbio. Esses mesmos fatores também determinam a distribuição
geográfica da doença. O estudo de Borges descobriu que o fungo crescia melhor em uma temperatura entre 26 e 28º C e uma umidade relativa entre 92 e 100%. (BORGES, 2007 apud DONADEL, 1993).
1.4 Patogenia
O fungo não pode entrar no tecido animal que não esteja danificado. As lesões essa lesão começa quando ocorre uma implantação traumática da pele, seja como resultado de uma lesão em batalha ou de uma facada de serragem ou espinhos. no momento da inoculação, no tecido, o agente se converte de sua forma micelar em forma de levedura.
Os gatos geralmente recebem feridas infectadas ou objetos estranhos que causam a infecção. Apenas uma pequena porcentagem de casos de doenças transmitidas por esporos se dá por inalação. Gatos infectados com a doença supostamente a pegaram de materiais usados em arranjos de flores enquanto eram mantidos dentro de casa. (MARTINS, 2003).
O agente da doença pode causar sintomas se espalhando pelo sistema linfático e pela corrente sanguínea e também pode se proliferar e desenvolver lesões nodulares que ulceram e drenam exsudato ou pode disseminarse pela via linfática e hematógena e causar lesões em linfonodos e vários órgãos. (Schubach et al., 2012; Pires, 2017).
1.5 Características Clínicas
A esporotricose felina afeta, em média, machos de 24 meses de idade. O curso clínico médio da doença é de 8 semanas. As lesões geralmente aparecem na cabeça, membro torácico e boca. Problemas respiratórios comuns também existem, (LARSONN, 2011).
As infecções são causadas pela inoculação de patógenos através de certos focos, principalmente espinhos, lascas de madeira, arranhões, mordidas ou secreções de felinos contaminados, e raramente ocorrem infecções por inalação.
Uma lesão de pele chamada esporotricoma se desenvolve quando uma infecção é estabelecida. A maioria dos animais se recuperará naturalmente da infecção se seus sistemas imunológicos estiverem saudáveis.
A progressão da doença da forma localizada da doença para a forma cutânea disseminada requer uma falha de imunidade. Isso envolve os vasos linfáticos e sanguíneos da área afetada e pode levar a um maior envolvimento dos tecidos próximos. As formas sistêmicas evoluem a partir de pequenos começos. A presença de exsudato em muitos membros desta espécie pode levar à auto-inoculação. (JERICÓ et al., 2015).
Existem formas clínicas fixas que se apresentam nas formas cutânea, disseminada, extracutânea, linfocutânea, sistêmica e tópica. Em felinos, podem sofrer de formas cutâneas fixas ou cutâneas disseminadas de sarna. Os sintomas incluem pústulas, nódulos e abscessos cheios de pus que podem levar a feridas grandes, crostosas e ulceradas. Além disso, podem desenvolver fístulas que vazam fluido serossanguinolento com um exsudato purulento.
1.6 Diagnóstico
Para diagnosticar corretamente a esporotricose, deve-se provar a cultura do fungo específico em um meio de cultura em que ele se desenvolve. Isso pode ser feito observando muitos sinais diferentes: sintomas, histórico e dados sobre epidemias, (Cruz, 2010; Schubach et al., 2012).
Ferramentas como histopatologia, citologia e imuno-histoquímica ajudam a diagnosticar doenças examinando seus tecidos e células. Além de apresentar sinais de infecção sistêmica, os níveis hematológicos e bioquímicos alterados são considerados inespecíficos, (Schubach et al., 2012).
Para realizar a citologia é realizado a coleta e amostras das lesões com um swab estéril, por impressão para tirar uma amostra; isso é possível quando a lesão não tem úlceras. Esta amostra é então submetida a colorações comuns como Gram, Giemsa, panóptico e azul de metileno, (Cruz, 2010; Silva et al., 2018).
FIGURA 2: LEVEDURIFORMES
Em gatos, nas lesões ulceradas, as leveduras são encontradas em grande número. Ao microscópio, S. schenckii apresenta-se como leveduras ovais, arredondadas ou em forma de charuto, podendo estar livres ou no interior de macrófagos (Cruz, 2010).
2. RELATO DE CASO
Foi atendido na Clínica Veterinária Bulgod Verde Manaus, um felino, macho, castrado, da raça PCB, com 6 anos de idade, ao ser recebido na clínica o animal possuía lesões na parte ventral da mandíbula, face e patas.
FIGURA 3: FELINO APRESENTANDO LESÃO ULCERADA
E COM PRESENÇA DE CROSTAS EM FELINO COM ESPOROTRICOSE
O diagnóstico de esporotricose no laudo foi feito por exame direto, no qual através da citologia foi observada a presença de levedura nas lâminas por exame citológico contendo exsudato das lesões. Essa técnica é segura e minimamente invasiva, e além de ser utilizada na rotina clínica, também é muito útil para felinos
devido ao grande número de agentes presentes nas secreções das lesões cutâneas, (Cruz, 2010; Almeida et al., 2018).
Como tratamento inicial para esporotricose foi prescrito 100mg de intraconozal 1x ao dia até 2 meses após a regressão completa das lesões, retornando após 30 dias e demonstrando uma grande regressão parcial das lesões.
Visto que a duração do tratamento varia de 3 meses a 12 meses e é influenciada por fatores como número e localização das lesões, estado geral e comprometimento do sistema imunológico do animal, (Schubach et al., 2012; Santos et al., 2018).
FIGURA 4: RETORNO APÓS 3 MESES
O tratamento se deu por completo aos 5 meses, após o retorno desses 5 meses o animal não apresentou nenhuma lesão. Ainda assim, após 10 meses para uma nova análise, não se obteve nenhuma recidiva nas lesões.
Por fim, até o presente relato o felino não teve mais complicações e nem recidivas nas lesões.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como a esporotricose é uma zoonose comum em vários estados, é necessário diagnosticar diferencialmente os felinos com lesões cutâneas ou nasais e instruir adequadamente os instrutores para que tomem medidas preventivas para reduzir o risco de infecção interespecífica.
Os animais infectados devem ser tratados e os tutores devem ser orientados a aderir rigorosamente ao protocolo de tratamento, pois se interrompido, podem ocorrer recaídas e a cura clínica torna-se mais difícil.
A citologia se mostrou um exame muito eficiente no diagnóstico. Saber a velocidade com que os felinos podem obter um diagnóstico é crucial para os médicos veterinários. Quando realizam exames citológicos, os felinos podem ser diagnosticados quase que imediatamente. Isso permite que eles tratem rapidamente a doença, evitando que os gatos atuem como portadores do agente. Além disso, a continuação do tratamento após o desaparecimento dos sintomas pode diminuir o risco de recaída ou transmissão adicional.
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