REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.6666268
Autores:
Pablo Kristian Trindade Campos1
Gabriel Donato Ramos Couto2
Maria do Socorro de Brito Siqueira Campos3
Karollayne Nunes dos Santos Freitas4
RESUMO: Neste artigo, buscou-se realizar um estudo da importância desta modalidade de ensino, centrada nas novas tecnologias educacionais, tornando-se possível uma ressignificação do conceito escola, ultrapassando as paredes de concreto e adentrando virtualmente os lares destes alunos, uma vez que estes são convidados a efetivamente protagonizar o seu processo educativo de ensino e aprendizagem. De acordo as situações e contextos narrados ao longo desta produção, compreende-se que educar é ofertar possibilidades. Assim, pode-se entender que com relação a EJA na modalidade EaD muitos caminhos já foram percorridos, porém, muito há para fazer por essa parcela da população que necessita desse passaporte que é a conclusão dos seus estudos. A sociedade da informação vive um momento de mudanças aceleradas e de múltiplos acessos as novas tecnologias. Fazer EaD, principalmente para adultos que retornam à escola, é assumir também a responsabilidade pela inserção, alfabetização digital, domínio da linguagem tecnológica e o resgate da cidadania pela escolarização.
Palavras-Chave: EaD; Tecnologias Educacionais; Educação de Jovens e Adultos.
- INTRODUÇÃO
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) a nível de Brasil cresceu significativamente na última década em termos de oferta e demanda, dado que uma maioria da população ainda não chegou à sala de aula, pode-se observar que as condições socioeconômicas de muitos alunos que já ingressaram na escola muitas vezes os impedem de continuar seus estudos regulares, levando alguns a procurarem a escola em idades avançadas, o que naturalmente os direcionam à EJA.
Isso traz uma série de desafios para as escolas que oferecem modalidades da EJA, como a luta cotidiana das instituições para manterem seus alunos em sala de aula, estudar e concluir seus estudos, garantindo assim seus direitos à efetiva cidadania.
Jovens e adultos que retornam à escola são, na maioria das vezes, desistentes ou excluídos do sistema social e educacional, que tiveram que abandonar os estudos para trabalhar, o que consequentemente os sobrecarregaram e os fizeram fazer parte desta parcela que figuram a exclusão social e negação de seus direitos básicos. A EJA como política educacional busca atenuar essa realidade.
Devido ao grande número de alunos da EJA no território brasileiro hoje e suas especificidades, é crescente o número de pesquisas que buscam aprofundar o conhecimento sobre seu perfil socioeconômico e suas expetativas educacionais.
Em linhas gerais, sabe-se que os frequentadores da EJA possuem um perfil de alunos trabalhadores, com responsabilidades familiares fixas, que não tiveram acesso à educação na idade prevista em lei e que em alguns casos, passaram muito tempo longe da sala de aula. Estas realidades cristalizam algumas restrições e empecilhos, para que possam adentrar e permaneceram no ambiente escolar físico.
Com a globalização e o desenvolvimento das tecnologias digitais os processos de ensino e aprendizagem vêm ocorrendo mudanças. Na EJA isso não é diferente, proporcionando a sua oferta baseada nos conceitos de Educação a distância (EAD).
Entende-se que a educação escolar corrobora na formação de cidadãos e que o desenvolvimento humano é questão de oportunidade e de uma educação de qualidade. Tendo em vista estes fatos e o compromisso social da escola, devem-se apresentar alternativas viáveis para os múltiplos problemas, perfis e soluções educacionais existentes.
Desta maneira, a EJA na modalidade EaD protagoniza como uma ferramenta para aqueles que, muitas vezes já se encontram inseridos no mercado de trabalho e que não concluíram a formação básica escolar e tem pouca disponibilidade de tempo para o estudo.
Uma forma de solucionar o problema da falta de tempo, principalmente dos alunos que possuem um emprego, é a educação na modalidade a distância (EaD). No passado ela era apenas oferecida nos cursos profissionalizantes e superiores, mas agora também está sendo ofertada para a educação básica na modalidade EJA.
Assim, neste artigo, buscou-se realizar um estudo da importância desta modalidade de ensino, centrada nas novas tecnologias educacionais, tornando-se possível uma ressignificação do conceito escola, ultrapassando as paredes de concreto e adentrando virtualmente os lares destes alunos, uma vez que estes são convidados a efetivamente protagonizar o seu processo educativo de ensino e aprendizagem.
- HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA MODALIDADE ENSINO Á DISTÂNCIA NO BRASIL
Para que seja plausível a compreensão do contexto atual da EJA na modalidade EaD, é indispensável analisar brevemente o caminho histórico da Educação a Distância no cenário brasileiro. As primeiras experiências com esta forma de ensino surgiram no início do século XX, a partir da necessidade de formar trabalhadores para o exercício da ocupação industrial.
[…] o movimento em favor da educação popular através da rádio, iniciado nos anos 20. […] em 1928 era prevista a criação de uma rádio- escola municipal. Entretanto, somente em 1934, por iniciativa de Roquete Pinto, a rádio-educação foi levada à prática. Embora o rádio tivesse surgido no Brasil com finalidades educativas, sob influência do clima de “entusiasmo pela educação”, somente em 1934 teve início o contato emissora-ouvinte, através da distribuição de folhetos e esquema das lições enviadas pelo correio às pessoas inscritas; estas mantinham contato com a emissora por meio de cartas, visitas ou telefone, sendo a avaliação do rendimento realizada através de trabalhos periodicamente enviados pelos inscritos à emissora. Pela primeira vez aparece a preocupação com uma metodologia e uma didática adequadas ao rádio. (PAIVA, 1987, p. 119-120).
Neste diapasão, surgiu a Educação a Distância, por meio de uma rede brasileira de rádio de transmissão educacional, como forma alternativa para atender uma demanda dos trabalhadores camponeses, possibilitando que eles concluem os estudos sem que fosse preciso se deslocar até os grandes centros urbanos.
Mesmo em meio a esse contexto, o Brasil teve outras experiências com a educação a distância, sobre as quais Costa detalhadamente destaca:
Em 1939, o Brasil obteve experiências bem-sucedidas com a fundação do Instituto Radio Técnico Monitor e o Instituto Universal Brasileiro que proporcionavam sistematicamente à sociedade, cursos profissionalizantes por correspondência. A partir da década de 70, cursos supletivos à distância começaram a ser oferecidos por algumas fundações e organizações não-governamentais, um forte exemplo é o Telecurso, um programa de educação supletiva a distância para 1º e 2º grau, implantado pela Fundação Roberto Marinho, que se utilizava das tecnologias de teleducação, satélite e materiais impresso e que também disponibilizava salas para seus alunos em todo o país. (COSTA, 2011, p. 53).
Cabe destacar que outras experiências de educação a distância no Brasil foram concebidas a partir da inserção da televisão na década de 1950, permitindo a utilização desse novo recurso também para fins educacionais, as televisões educativas que surgiram na década de 1960 e 1970. Nessa perspectiva, destaca-se a fundação e inauguração do Centro Brasileiro de Televisão Educativa exatamente em 1979, programa de televisão que foi utilizado para o Projeto Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL).
Diversos movimentos e organizações marcaram a trajetória da Educação a Distância no Brasil, dando origem a promoção e promulgação de políticas que regulamentam sua implementação como modalidade de ensino. Assim, em 20 de dezembro do ano de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), nº. 9.394, que estabeleceu em seu artigo 80:
O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.
§ 1º A educação a distância, organizada com abertura e regime especiais, será oferecida por instituições especificamente credenciadas pela União.
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a realização de exames e registro de diploma relativos a cursos de educação a distância.
§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de programas de educação a distância e a autorização para sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino, podendo haver cooperação e integração entre os diferentes sistemas.
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento diferenciado, que incluirá:
– Custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros meios de comunicação que sejam explorados mediante autorização, concessão ou permissão do poder público;
– Concessão de canais com finalidades exclusivamente educativas; III – Reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Público, pelos concessionários de canais comerciais. (BRASIL, 1996)
De acordo com a referida Lei, o disposto no inciso II do parágrafo 3º do artigo 87, que trata da responsabilidade de cada município, estado e união de oferecer cursos presenciais ou a distância a jovens e adultos com escolaridade insuficiente, são expressamente destacados.
Após a instituição da LDBEN nº. 9.394, de 1996, foram prescritos outros marcos normativos que nortearam a oferta da Educação a Distância no Brasil, bem como sua operacionalização nos sistemas educacionais, especialmente no que se refere à Educação de Jovens e Adultos, como Decreto nº. 2.494 de 10 de fevereiro de 1998, Decreto nº. 2.561, de 27 de abril de 1998 e Portaria do Ministério da Educação e Esporte nº. 301 de 7 de abril de 1998.
Ainda em relação à legislação sobre educação a distância, o Decreto nº. 5.622 de 19 de dezembro de 2005 surgiu para consolidar a regulamentação dessa modalidade de ensino e o Decreto nº. 6.303 de 12 de dezembro de 2007 para atualizar algumas das determinações mencionadas no decreto anterior.
Percebe-se, então, que a Educação a Distância já desponta como uma proposta de tamanha relevância no cenário nacional, principalmente pela possibilidade de disseminar conhecimento e oportunidades de aprendizagem em diferentes tempos e lugares, sendo adotada também como estratégia pelos brasileiros sobretudo para enfrentar “déficits educacionais e desigualdades regionais”, segundo Brasil (2001).
No entanto, a Educação a Distância continuaria sendo objeto de discussões entre os diversos órgãos responsáveis por tratar das especificidades dessa recente modalidade de ensino no Brasil, especialmente na Educação de Jovens e Adultos. Segundo Brasil (2010):
A relação entre EJA e EAD, no afã de regulamentar o art. 80 da LDB, já havia sido objeto do Decreto nº 2.494/98 e do Decreto nº 2.561/98, e de sua revogação surgiu o Decreto nº 5.622/2005. […] Seja pela funcionalidade representada como produto, seja por um domínio operacional técnico (processo) complexo, seja pela metodologia própria desse sistema, a EJA/EAD deve ser tratada com o maior cuidado. Ela pode perder credibilidade, seja por uma eventual mercantilização, seja por uma inépcia no âmbito processual. Nesse sentido, os docentes devem ter uma formação específica que os torne competentes no domínio operacional das novas tecnologias da informação e das comunicações e compromissados com as formas novas de interatividade pedagógica que a cultura virtual exige em geral e, de modo especial, com a Educação de Jovens e Adultos. (BRASIL, 2010, p. 18-19).
Nesta perspectiva, o autor chama a atenção para a importância da capacitação técnica do professor para o efetivo domínio das tecnologias para a oferta da EJA na modalidade EAD, uma vez que devido suas especificidades tanto os docentes quanto os discentes devem estar hábitos a operacionalizarem os sistemas de ensino, o que reforça a questão da necessidade dos professores estarem em constante atualização das suas habilidades, justamente para se alinharem às novas formas de ensinar e aprender.
- TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS UTILIZADAS NA EJA NA MODALIDADE EAD
As Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação de Jovens e Adultos podem ser utilizadas como recurso pedagógico que auxiliam o processo de ensino e promovem um melhor diálogo entre professores e seus alunos. No mundo fora da escola, essa realidade está presente em muitos lugares, pois as pessoas se comunicam o tempo todo, principalmente pelas redes sociais, e na escola não poderia ser diferente.
De acordo com dados do último Censo da Educação Básica do Inep/MEC de 2020, existem no Brasil matriculados na EJA ensino médio cerca de 1.252.580 alunos e o número não para de crescer. São vários os cursos subsequentes e integrados que podem ser integrados, todo ano essa modalidade de ensino tem tornado possível o sonho da conclusão dos estudos para muitas pessoas que antes não tinham acesso a uma universidade, seja por morarem longe dos grandes centros, por falta de tempo ou de condições para se locomover até as instituições todos os dias.
Nesta perspectiva, para Moran (2013, p. 13),
A escola pode abrir-se cada vez mais ao mundo, a partir do seu entorno: abrindo-se ao seu bairro, dialogando com as principais pessoas e organizações da região, abrindo-se aos pais e famílias, levando-os para dentro, como aprendizes e colaboradores no processo ensino-aprendizagem.
Entendemos que as subjetividades das novas gerações são produzidas nas relações sociais. Nesse contexto, jovens e adultos interagem com a tecnologia, que orienta seu comportamento e sua existência. A tecnologia é um elemento constitutivo da cultura.
Na EJA, os alunos, em sua maioria, convivem com novas tecnologias como a internet, por exemplo. Moran (2013, p. 42) destaca que, na escola,
[…]. Essas tecnologias permitem que professores e alunos sejam produtores e divulgadores de suas pesquisas e projetos, de formas muito ricas e estimulantes. Professores e alunos podem criar sua página com todos os recursos integrados. Nela, o professor pode disponibilizar seus materiais: textos, apresentações, vídeos, grupos de discussão, compartilhamento de documentos, blogs etc.
Ainda citando Moran (2013, p. 43), que aponta que os recursos disponíveis na internet como os blogs podem ser utilizados para atividades escolares:
Há diferentes tipos de blogs educacionais: discussão de estudos de caso, projetos, produção de textos, narrativas, poemas, análise de obras literárias, opinião sobre atualidades, relatórios de visitas e excursões de estudos, publicação de fotos, desenhos e vídeos produzidos por alunos.
Os professores podem mostrar aos alunos os conteúdos disponíveis na internet, discutindo e divulgando materiais acessíveis, contribuindo para o processo de aprendizagem de jovens e adultos, até porque os blogs possuem conteúdos diferenciados. Seabra (2010, p.14) compartilha dessa ideia e acrescenta:
Os blogs são uma excelente forma de comunicação, pois permitem que seus autores se expressem de acordo com suas convicções e visões de mundo e permitem que outras pessoas leiam e postem comentários sobre a produção textual apresentada. Isso vale tanto para os professores que têm seus blogs individuais, compartilhando pensamentos e informações com colegas ou com pais e alunos, quanto para uma turma ter um blog coletivo, ou para os alunos blogarem em grupos ou individualmente.
Para que seja possível interagir com os conteúdos ministrados nos cursos voltados à Educação de Jovens e Adultos, é necessário conhecer as dinâmicas que envolvem todos os recursos tecnológicos existentes.
Nessa perspectiva, vale esclarecer que os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) são ambientes online que o aluno acessa, por meio do computador ou smartphone, para assistir aulas e realizar atividades. O aluno recebe uma senha de acesso e entra na sala de aula virtual de qualquer lugar e a qualquer hora, bastando estar conectado à Internet. É nesse ambiente que estão disponíveis os conteúdos do curso e demais ferramentas de interação, como videoaulas, audioconferências e videoconferências, chats, fóruns e bibliotecas virtuais.
As videoaulas, como o nome indica, são aulas gravadas em vídeo que o aluno pode acessar quando quiser. Eles podem combinar a fala do professor com apresentações, imagens, sons e interatividade. Geralmente são elaborados para tornar o conteúdo do curso mais atrativo, mantendo a atenção do aluno por tempo suficiente para que ele compreenda aquele tópico.
Áudio e Videoconferência é um tipo de tecnologia que permite que alunos e professores estabeleçam comunicação bidirecional através de dispositivos de comunicação como o computador. Na educação à distância, as conferências de áudio e vídeo permitem o contato em tempo real entre alunos e tutores ou professores.
Chats e Fóruns, com ferramentas de chat e fóruns de discussão, os alunos podem esclarecer suas dúvidas diretamente com professores ou tutores, ou promover discussões em grupo. Essas conversas geralmente ficam armazenadas e disponibilizadas para o aluno acessar o histórico a qualquer momento.
Bibliotecas Virtuais, para atender às necessidades dos alunos 24 horas por dia, 7 dias por semana, as faculdades que oferecem cursos superiores a distância possuem acervos virtuais, onde é possível fazer download de materiais de estudo e consulta em formato digital, gratuitamente.
O uso dessas tecnologias traz uma série de vantagens, como:
* Os alunos têm a possibilidade de buscar informações por conta própria, desenvolvendo sua autonomia.
* Os métodos de ensino utilizados na EaD permitem a troca de experiências entre alunos, professores e tutores.
* As aulas estão disponíveis para qualquer aluno que queira acessá-las novamente, portanto, quem perdeu uma aula ou não entendeu algum conteúdo poderá revisá-las quando necessário.
* O aluno tem a comodidade de assistir às aulas, realizar atividades, contribuir com coletas, esclarecer dúvidas e consultar materiais de estudo em qualquer horário e local.
- OS CAMINHOS PERCORRIDOS PELOS DOCENTES NA EJA NA MODALIDADE EAD
Até agora, foram considerados os caminhos percorridos pela Educação à Distância no Brasil até sua regulamentação como modalidade de ensino, especialmente na Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Atualmente, a Educação de Jovens e Adultos na modalidade de Educação a Distância vem crescendo cada vez mais em função das exigências do mercado, que demandam novas competências e qualificações profissionais. Nesse contexto, torna-se uma alternativa para atender demandas educacionais urgentes, o que exige uma reflexão sobre as políticas implementadas pelos órgãos reguladores e sobre seu compromisso de promover a democratização do conhecimento. Sobre a Política de Teleducação no que se refere a legislação, em documento de 1992, o MEC considera:
A modernização do país passa necessariamente pela educação e está precisa utilizar os outros recursos disponíveis para se fazer presente, como partícipe do processo de modernização e, sobretudo, promotora e indutora da sociedade do futuro. As necessidades presentes e os prognósticos referentes à sociedade de um futuro próximo, como a internacionalização da economia, exigem a rápida universalização dos conhecimentos científicos, sob pena de os países que não acompanham o ritmo deste movimento ficarem esquecidos no tempo, ampliando a distância e aumentando o atraso social (BRASIL, 1992, p. 6).
Nesta perspectiva, segundo o autor, é preciso que a educação ande em compasso com as transformações sociais, haja visto que são nas paredes da escola ou fora delas como vimos na modalidade a distância que os indivíduos são preparados para sobressaírem diante as evoluções sociais.
De acordo com Mattos e Burnham (2007, p. 4), “a verdadeira revolução que está ocorrendo no campo da educação on-line é marcada pelo novo papel do professor” que passa a assumir uma atitude de mediação pedagógica, de facilitador e incentivador da aprendizagem, com múltiplas competências, com capacidade para aprender a aprender, de forma interativa
Pois bem, em primeiro lugar, cabe destacar que a noção de autonomia do aluno, na modalidade de Educação à Distância, também desenvolvida na Educação de Jovens e Adultos, tem forte impacto no trabalho docente, haja vista que as atribuições que antes eram de responsabilidade do professor são agora apresentadas ao plano individual do aluno.
Os discentes precisam se desenvolver, familiarizar e até mesmo internalizar uma nova forma de abordagem, porque têm que organizar a sua aprendizagem independentemente e precisam assumir para si muitas responsabilidades que antes eram atribuídas exclusivamente aos dos professores. Necessitam adotar uma postura ativa não somente ao executarem as tarefas de aprender, mas também ao interpretar e refletir criticamente sobre o que estão desenvolvendo quando aprendem. Se não forem protagonistas ativos e constantes nada de novo acontecerá. Adultos que precisam trabalhar e que são chefes de família podem prontamente assumir responsabilidades, mas muitos vão achar difícil seguirem motivados para uma mudança de tal natureza no comportamento da aprendizagem. (PETERS apud LANCILLOTTI, 2008, p. 285)
Embora essa modalidade de ensino tenha a vantagem de possibilitar o aprendizado em diferentes lugares e tempos com o uso de mídias e tecnologias de informação e comunicação, não se pode ignorar o fato de que alguns alunos ainda enfrentam dificuldades de adaptação às novas exigências de ensino, como a motivação, no entanto quando se cria a consciência de que esta é uma oportunidade que irá mudar sua vida, os empecilhos começam a serem driblados pela possibilidade de transformar sua realidade, além da disponibilização de matérias e metodologias de ensino que sejam atrativos e de boa compreensão.
Além disso, a nova práxis de ensino-aprendizagem introduzida pela educação a distância provoca a criação de novas funções aos profissionais de educação, missão esta já experimentada com a Pandemia do COVID-19, onde os docentes se reinventaram para se enquadrarem às exigências que o cenário mundial se viu inserido. Por isso é preciso que seja analisado o perfil de cada docente que integra o EJA na modalidade EaD, uma vez que este novo modelo educacional requer total domínio das ferramentas tecnológicas. Além disso, a função na docência vislumbra novas maneiras do trabalho e, à medida que ganha materialidade o novo normal, é preciso dedicação do profissional para que possa executar as múltiplas formas de ensinar, cabe também as redes de ensino a promoção de formação continuada visando esta constante preparação+.
A Educação a Distância permita um processo de aprendizagem mais autônomo, com transferência de partes do processo para o próprio aluno, e seja marcada pelo aprofundamento da divisão do trabalho docente, o papel significativo do professor no processo não pode ser dispensado da formação dos alunos, cabe a ele estabelecer a mediação entre o aluno e o conhecimento culturalmente significativo. A partir dessa prerrogativa, segundo Lancillotti (2008, p. 301) ele aponta: “[…] é possível disputar na mesma base tecnológica a proposta de uma educação enriquecedora, mais completa e relacionada aos interesses da a grande maioria dos trabalhadores”.
Portanto, entende-se que tais proposições preconcebem uma educação que valoriza o acesso ao conhecimento historicamente acumulado e se opõe ratificação da hegemonia capitalista. Diante desse contexto, considera-se necessário superar as práticas mercantilistas de ensino mais leve, pautadas na plena autonomia da aprendizagem, que impossibilitam o aluno de atribuir sentido e significado complexo aos conhecimentos adquiridos, não indo além da formação elementar e instrumental. Propondo a construção de uma nova didática, Alves (2001) destaca:
Se algumas experiências educacionais contêm certos elementos que podem ajudar a fundar a didática de nosso tempo e se essa tarefa já se faz tardia, os órgãos e estabelecimentos educacionais que tenham tal clareza podem conceber todo o seu desenvolvimento a partir das determinações que emanam dessa nova forma de conceber o trabalho didático. Aceitar esse desafio implica o direcionamento da montagem de cursos segundo não somente as características já referidas; implica o restabelecimento, para o aluno e para o professor, da possibilidade de acesso ao conhecimento culturalmente significativo, haurido agora por meio de recursos como os meios de comunicação de massa e a internet e da recuperação de livros e outras modalidades de obras clássicas. Aceitar esse desafio implica, ainda, mudar radicalmente a natureza da relação professor-aluno, não só para subtrair do mestre a função quase exclusiva de transmissão do conhecimento, mas para valorizar as funções docentes de programação, de direção e de avaliação das atividades discentes. Também aos estudantes seria assegurada autonomia na realização de suas atividades, individualmente ou em pequenos grupos, junto a um terminal de computador, na biblioteca, na sala de multi meios e na sala de estudos. Os encontros com os professores não se resumiram às aulas, ganhamos formas mais diversificadas, desde as sessões coletivas, devotadas à programação de atividades, às sistematizações parciais e finais de conteúdo e a avaliações, até as sessões de esclarecimento, com atendimento individual ou a pequenos grupos, quando se fizerem necessárias. Fora esses encontros, não só os alunos estariam liberados para o exercício de atividades curriculares autônomas, pois também os professores disporiam de mais tempo para o estudo, para a pesquisa e para o planejamento didático. (ALVES, 2001, p. 246-247).
Dadas as particularidades da Educação de Jovens e Adultos, especialmente no que diz respeito à heterogeneidade do público atendido e à diferença de idade, é de extrema importância contornar qualquer paradigma que possa estigmatizar o ensino como fundamentalmente de transmissão de conhecimento.
Num vasto horizonte de informação e conhecimento a que os alunos podem acender através das Tecnologias de Informação e Comunicação, é necessário o acompanhamento técnico do profissional de educação para prestar suporte e esclarecimento de dúvidas, realidade está assistida pelos múltiplos sistemas educativos, que são estrategicamente desenvolvidos para atender esta diversidade de perfis.
Nesta perspectiva, voltando a Alves (2001), entendemos a importância da mediação do trabalho docente com a proposta de roteiros de formação e sistematização de estudos. Com o esclarecimento de dúvidas, desenvolvimento de atividades individuais e coletivas sob a coordenação do professor, debates e avaliação dos alunos, o sincretismo pode ser superado. Entende-se que a atividade docente é essencial para que o aluno alcance um nível de conhecimento mais elaborado, sendo capaz de compreender criticamente a realidade de sua vida, tanto em nível singular quanto universal.
- CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação de Jovens e Adultos na modalidade EaD evidenciou-se como ferramenta que busca a formação de cidadãos com competência técnica, ética, política e social, por meio da consolidação e aprofundamento dos conhecimentos adquiridos ao longo de sua vida, na perspectiva da educação permanente tendo preparação básica para o trabalho e para a cidadania, de modo a poder adaptar-se com flexibilidade às novas condições de emprego; o aperfeiçoamento do aluno como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; e a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria à prática, no ensino de cada componente curricular, utilizando tecnologias e estratégias educacionais flexíveis.
De acordo as situações e contextos narrados ao longo desta produção, pode-se concluir que educar é ofertar possibilidades. Assim, pode-se entender que com relação a EJA na modalidade EaD muitos caminhos já foram percorridos, porém, muito há para fazer por essa parcela da população que necessita desse passaporte que é a conclusão dos seus estudos. A sociedade da informação vive um momento social de mudanças aceleradas e de acessos a novas tecnologias. Fazer EaD, principalmente para adultos que retornam à escola, é assumir também a responsabilidade pela inserção, alfabetização digital, domínio da linguagem tecnológica e o resgate da cidadania pela escolarização. Seguir com um olhar de vanguarda, identificar as potencialidades do curso e do mercado com vistas ao atendimento dessa clientela, primar pela qualidade e manter especial vigilância para acompanhar e cumprir a legislação da Educação a Distância está num processo de permanente amadurecimento, são balizadores fundamentais para levar estes múltiplos formatos adiante numa realidade em constante movimento. Enfim, “pensamento e ação, ação e pensamento: está aí o maior dos desafios, cujo enfrentamento impulsionará a educação a novos patamares e conquistas” (NETO, 2010, p. 203).
REFERÊNCIAS
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1 Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino, Linguagem e Sociedade – UNEB. Licenciado em Matemática. Especialista em Gestão do Trabalho Pedagógico. Pós-Graduando MBA em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de São Paulo – USP.
2 Mestre em Educação pela Universidade Aberta do Brasil (UAB). Bacharel em Direito. Licenciado em Filosofia e em Pedagogia. Especialista em Gestão e Coordenação Pedagógica. Pós-Graduando MBA em Gestão Escolar pela Universidade de São Paulo – USP.
3 Licenciada em Pedagogia, Bacharel em Teologia e em Psicologia. Pós-Graduada (Especialista) em: Constelação Sistêmica, Neuropsicologia, Psicanálise e em Psicopedagogia.
4 Mestranda em Direito pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito – Centro Universitário FG – UniFG. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário FG – UniFG. Pós-Graduada em Direito Civil e Processual Civil pela Faculdade Legale. Pós-Graduanda em Direito da Seguridade Social pela Faculdade Legale. Advogada.