ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM UM CASO DE SEQÜELA DE SÍNDROME DE FOURNIER

Júlio César da Rocha Alves1
Luciana Maneschy da Cunha Coimbra2
Resumo
A síndrome ou gangrena de Fournier é uma infecção necrosante envolvendo as partes moles da região genital. O processo necrosante comumente se origina com uma infecção anorretal, do trato urogenital ou da pele. O objetivo deste trabalho é apresentar um exemplo da atuação da Fisioterapia em um caso de seqüela musculoesquelética causada por uma patologia secundária à infecção pelo vírus da SIDA. O paciente realizou 10 sessões de Fisioterapia na Ambulatorial de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UEPA. O tratamento utilizado envolveu diversos recursos de cinesioterapia motora. O paciente tem demonstrado disposição na realização do tratamento e relata melhora do início do tratamento até hoje. É esforçado e tem esperança na sua melhora, fazendo planos para o futuro.
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1- Aluno do 5º ano de Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará e monitor da disciplina Fisioterapia nas Disfunções Osteomioarticulares.
Endereço: Rod. Augusto Montenegro, 157, Icoaraci, Belém, Pará, CEP: 66813-190
E-mail: racesar@ig.com.br
Tel: (91) 2275261
2- Aluna do 4º ano de Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará.
E-mail: lu_maneschy@yahoo.com.br
Tel: (91) 2448091
Considerações iniciais
A síndrome ou gangrena de Fournier é uma infecção necrosante envolvendo as partes moles da região genital, principalmente o escroto e o pênis, que pode estender-se ao períneo, à parede abdominal ou aos membros inferiores, sendo uma forma específica de fasciíte necrosante (SANTORA, 2003).
Tem início súbito com evolução rápida e grave, podendo instituir-se em 24 horas. Caracteriza-se pelo aparecimento de dor escrotal súbita, podendo não ser acompanhada de qualquer outra queixa anterior, levando o paciente a um estado toxêmico com febre alta, calafrios, taquipnéia, náuseas, vômitos, prostração, inconsciência e alterações mentais em geral resultantes de septicemia (BRASILEIRO et al, 1994).
O objetivo deste trabalho é apresentar um exemplo da atuação da Fisioterapia em Um caso de seqüela causada por uma patologia secundária à infecção pelo vírus da SIDA.
Etiologia
O processo necrosante comumente se origina com uma infecção anorretal, do trato urogenital ou da pele.
• As causas anorretais incluem infecção nas glândulas perianais, em conseqüência de uma complicação de doença maligna colorretal ou como complicação desta, diverticulite do cólon ou apendicite.
• As causas do trato urogenital incluem infecção das glândulas bulbouretrais, trauma uretral, lesão iatrogênica secundária à manipulação de uma estenose ou infecção do trato urinário baixo.
• As causas dermatológicas incluem hidradenite supurativa, úlcera escrotal por pressão, trauma, trauma intencional (por injeção na pele) ou como complicação de cirurgia.
De acordo com Stevens (2002), doenças comórbidas que comprometam o sistema imune têm sido implicadas como fatores predisponentes necessários para o desenvolvimento da gangrena de Fournier. As comorbidades mais comumente envolvidas incluem as seguintes:
• Diabetes mellitus (mais freqüentemente citada);
• Obesidade mórbida;
• Cirrose;
• Doença vascular da pelve;
• Doenças malignas;
• Comportamentos de alto risco, como alcoolismo ou uso de drogas intravenosas;
• Síndrome da imunodeficiência humana.
Quadro clínico e tratamento
O exame físico mostra escroto aumentado apresentando edema e eritema muito doloroso. O tecido epitelial torna-se escuro e progride para gangrena, com um odor fétido e enfisema subcutâneo locorregional (PORTO, 2001).
O tratamento clínico envolve diversas modalidades, incluindo a restauração da perfusão normal do órgão. Também envolve a instituição de antibióticos de amplo espectro, que deve cobrir estafilococos, estreptococos, enterobactérias e os anaeróbios.
Complicações
A principal complicação é a sepse não resolvida, muitas vezes causada por um destes fatores:
• Causa da infecção não reconhecida (como úlcera péptica perfurada, apendicite, diverticulite);
• Extensão do processo necrosante fora da ferida óbvia;
• Complicação de doença aguda severa (sepse pelo acesso venoso, endocardite bacteriana, pneumonia);
• Um grande grupo de afecções comórbidas como infarto agudo do miocárdio, insuficiência respiratória, ulceras por pressão, delírio, ou as condições de repouso no leito impostas sobre os pacientes com doença aguda (embolia pulmonar, trombose venosa profunda, atelectasia, pneumonia).
Estudo de caso
Paciente de iniciais MCS, 31 anos, sexo masculino, soropositivo para HIV, relatou durante a entrevista que no mês de março de 2003 apresentou foliculite na região da virilha direita que progrediu com infecção muscular. Internado em um Hospital Público, realizou 7 debridamentos com enxerto na região circundante e transferência muscular do tensor da fáscia lata do membro inferior esquerdo para o direito. Ainda no hospital, foi infectado com uma bactéria multi-resistente não identificada.
Na ocasião da alta hospitalar, permaneceu em sua residência no leito durante cerca de 4 meses sem movimentação adequada, acompanhado de dor e sangramento. Foi encaminhada a Unidade Ambulatorial de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UEPA, onde apresentou à avaliação diminuição acentuada da capacidade funcional dos membros inferiores, principalmente à direita.
Ao exame físico, apresentou:
• cicatriz cirúrgica em porção anterior da virilha e porção medial da coxa;
• encurtamento de músculos isquiotibiais;
• diminuição acentuada de força muscular;
• genoflexo à direita;
• limitação articular de joelho e quadril;
• algia à deambulação;
• marcha disbásica;
• limitação articular da flexão de quadril direito (70º) e flexão de joelho direito (50º);
• hipotrofia de perna direita ( 2 cm a menos em relação à esquerda) e da coxa direita (5cm a menos em relação à esquerda).
Tratamento fisioterapêutico
O paciente realizou 10 sessões de Fisioterapia na Ambulatorial de Fisioterapia e terapia ocupacional da UEPA. Os objetivos do tratamento e os recursos utilizados foram:
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Evolução de paciente
O paciente concluiu 10 sessões de Fisioterapia (cinesioterapia motora) apresentando recuperação bastante satisfatória em seu quadro geral, apresentando melhora da amplitude articular de joelho com ganho de 20º de flexão direito, melhora da força muscular de membros inferiores e melhora na capacidade funcional de marcha, subida de escadas e rampas, e melhora do condicionamento cardiorespiratório, relatou discreto déficit funcional em quadril e joelho direito, sendo indicada a continuação tratamento.
O paciente tem demonstrado disposição na realização do tratamento e relata melhora do início do tratamento até hoje. É esforçado e tem esperança na sua melhora, fazendo planos para o futuro.
Considerações finais
Um dos objetivos principais da Fisioterapia é a recuperação funcional do paciente em relação aos diversos sistemas orgânicos. Por este motivo a Fisioterapia tem uma importância fundamental no tratamento das diversas patologias primárias ou secundárias que possam originar disfunções.Neste estudo foi apresentado um exemplo de como a Fisioterapia pode contribuir no tratamento das doenças associadas á SIDA como a Síndrome de Fournier e para a melhora da qualidade de vida destes pacientes.
Referências Bibliográficas
ANDREWS, J., HARRELSON, G., WILK, K. Reabilitação física das lesões desportivas. 2 ed, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. c.7 p.136-138.
BRASILEIRO, G, PITTELLA, J., PEREIRA, F. et al. Patologia: Bogliolo. 5 ed, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1994. c.18 p.508.
KYSNER, C., COLBY, L. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. 2 ed, São Paulo: Manole, 1992.
PORTO, C. C. Semiologia médica. 4 ed, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. c.132 p.902.
SANTORA, T. Síndrome de Fournier. Disponível em: http://www.uronews.org.br. Acesso em: 22 out. 2003.
STEVENS, A., LOWE, J. Patologia. 2 ed, Barueri: Manole, 2002. c.18 p.393.
_______. Disponível em: http://boasaude.uol.com.br. Acesso em 22 out. 2003.

2 comentários em “ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM UM CASO DE SEQÜELA DE SÍNDROME DE FOURNIER”

  1. Rogerio Balduino

    Ola, desenvolvi FOURNIER em setembro de 2017.
    Estou com os pés sem movimentos, não mexe os dedos e nem levanta os pés quando sentado (calcanhar apoiado no chão pés não se erguem. faço fisioterapia 3x semana, bicicleta estacionaria, esteira, escada, rampa e cama elástica.
    Estou mais resistente, com força agora consigo me agachar mas ainda não tomo sem auxilio do andador, uso uma bengala para andar, sai da muleta medico neurologista diz que podes ficar sequela na marcha diz demorar em torno de (2) anos para voltar a normalidade porem com ressalvas acima.
    Perdi (1) testículo, um pedaço da nádega e pele do saco escrotal (fez plastica) no meu caso a cirurgia se curou aberta pois não puderam instalar a bolsa colostômica devido a minha debilitação levou 6 meses para fechar todo procedimento.
    (5) debridamentos (3) meses internado sendo 20 dias UTI em coma mesmo. sonda retal, urinaria, nasal, entubado, ventilação forçada, fui tratado no Hospital das Clinicas de Curituba/Pr por uma excelente equipe medica. faço uso de gabapentina (1) manhã e (2) noite 300ml dia. também fiquei com parte da mão direita com formigamento, faço fisio também. tenho muita fé que voltarei andar em breve, dirigir, enfim voltar a normalidade. a parte sexual ereção, ejaculação normal sem dor, urina normal, evacuação também.
    Nervos do joelho pra baixo externos das pernas duros formigam mas não doem, solas dos pés bem sensível. quando vou ao banheiro tenho que ir mesmo, não da mais para segurar a vontade de evacuar como antes, deu vontade tenho que ir, mas vida normal em refeições durmo bem humor esta bem, psicologa me deu alta a (3)meses. bem mais informações estou a disposição. ainda faço acompanhamento com alguns exames como de sangue todos e farei agora mês que vem a colonoscopia.

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