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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP INSTITUTO CIÊNCIAS DA SAÚDE – ICS CURSO DE FISIOTERAPIA
Autores:
Ingrid Chaves do Rosário1
Denilson da Silva Veras2
Adria Yared Sadala2
Adriana Miranda Azevedo2
1Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista – UNIP.
Endereço: Av. Mario Ypiranga, 3490, Parque 10 de Novembro│Manaus│AM│CEP: 69050-030│ (92) 36433800.
2Mestres, Fisioterapeutas, Docentes do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista – UNIP.
RESUMO
Introdução: O surto do novo coranavírus (SARS-Cov-2,2019 n-CoV)denominado com síndrome respiratória aguda grave, apresenta um protocolo sistemático de mobilização e exercícios terapêuticos precoces importante no tratamento dos pacientes com COVID-19, após a fase aguda e na presença de estabilidade cardiopulmonar e metabólica, o fisioterapeuta desenvolverá um plano de tratamento para manter o estado funcional e focar no processo de recuperação. Objetivo: Descrever os benefícios da mobilização precoce na redução do tempo de internação hospitalar. Metodologia: Diante do exposto, uma pesquisa bibliográfica explorativa qualitativa, pois foram utilizados como subsidio científico para nortear novas ações e estudos no campo temático e na assistência ao paciente. O presente estudo foi realizado através de pesquisas em bases de dados: Nacional Library of Medicine (PUBMED), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LiLacs) e Google Acadêmico, no período de 2012. A pesquisa foi realizada no período de março a setembro de 2021. Resultados: Foi possível comprovar a efetividade do tratamento quanto aos efeitos fisiológicos descritos, por meio da mobilização precoce realizada por fisioterapeutas, destinados aos pacientes internados com COVID-19 na UTI.
Palavras chaves: Mobilização precoce, Unidade de terapia intensiva, Covid-19.
ABSTRACT
Introduction: The outbreak of the new coravirus (SARS-Cov-2. 2019 n-Cove) called severe acute respiratory syndrome, presents a systematic protocol of early mobilization and therapeutic exercises important in the treatment of patients with COVID-19, after the acute phase and in the presence of cardiopulmonary and metabolic stability, the physical therapist will develop a treatment plan to maintain functional status and focus on the recovery process. Objective: To describe the benefits of the early mobilization in reducing hospital stay. Methodology: Given the above, an exploratory qualitative bibliographic research, as they were used as a scientific subsidy to guide new actions and studies in the thematic field and in patient care. The present study was carried out through searches in databases: Pudmed, Scielo, Lilacs, Academic Google. This research can improve the rehabilitation of patients with covid-19 through early mobilization, favoring physical-functional recovery and reducing the length of stay in the intensive care unit. Conclusion: It was possible to prove the effectiveness of the treatment regarding the physiological effects described, through the early mobilization performed by physiotherapists, intended for patients hospitalized with COVID-19 in the ICU.
Key–words: Early Mobilization, Intensive Care Unit, Covid-19.
INTRODUÇÃO
O surto do novo Corona vírus (SARS-Cov-2,2019-nCov) denominado como síndrome respiratória aguda grave, foi originalmente iniciado por meio de uma propagação zoonótica associada ao mercado de frutos do mar em Wuhan, na China em dezembro de 2019. Após o surgimento de uma série de doenças respiratórias atípicas aguda, foi detectado que a transmissão de humano para humano desempenhou um importante papel na epidemia, disseminando ainda mais a contaminação para outras áreas. A doença causada por este vírus foi chamada COVID-19 (coronavírus), a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia, atingindo 200 países e causando impacto em um grande número de pessoas em todo o mundo (KSIAZEK, 2003; LI et al, 2020).
No início do surto, os casos de COVID-19 eram mais comuns em idosos e em pessoas que apresentavam um fator de risco como, doença arterial coronariana, diabetes e hipertensão. Com o passar do tempo, o número de casos entre pessoas com 65 anos ou mais teve um aumento significativo com incidência maior no sexo masculino, onde as condições favoráveis são associadas a comorbidades, doenças cardiovasculares e pulmonares, diferenças imunológicas, tabagismo, alcoolismo, dificuldade em adotar o comportamento de proteção individual, como lavar as mãos, usar máscara, fazer uso de álcool-gel e evitar aglomerações (CHEN et al, 2020).
As manifestações clínicas da doença COVID-19 iniciam após um meio período de incubação de cinco dias, consistindo em febre, tosse, congestão nasal, fadiga e outros sinais de inflamação do trato respiratório superior, podendo evoluir para dispneia com sintomas graves de pneumonia, onde por volta de 75% dos pacientes apresentam nas tomografias após a admissão hospitalar. A pneumonia viral ocorre sobretudo na segunda ou terceira semana de infecção sintomática, manifestando sinais proeminentes com diminuição da saturação de oxigênio, alterações visíveis através de exames de imagem como anormalidades em vidro fosco, consolidação irregular, alvéolos preenchidos por exsudato fibrinopurulento, eventualmente indicando degeneração e marcadores inflamatórios elevados (GUAN et al, 2020).
O perfil de pacientes críticos acometidos pela doença causada pelo SARSCov-2 são, hipoxemia grave e o impacto das comorbidades sobre as reservas funcionais de cada sistema afetado da pessoa (ZHOU, 2020). Assim como, para qualquer outro paciente em estado grave, um bom resultado depende dos serviços prestados para o tratamento intensivo e a implementação correta de boas práticas como; a prevenção de trombose venosa profunda, pneumonia associada à ventilação mecânica, estratégias nutricionais adequadas, controle glicêmico, prevenção de complicações hospitalares e plano de reabilitação (VINCENT, 2005).
O imobilismo é bem comum em pacientes críticos, pois proporciona uma importante limitação como consequência perda de inervação e declínio na massa muscular, indivíduos saudáveis apresentam uma perda de 4% a 5% de massa muscular periférica por semana durante um período de imobilidade, afetando os sistemas musculoesquelético, gastrointestinal, urinário, cardiovascular, respiratório e cutâneo. Todos esses fatores relacionados contribuem para o maior tempo de permanência na UTI, levando a um risco maior de complicações, aumento na taxa de mortalidade e custo hospitalar. Distúrbios emocionais como a ansiedade e depressão também contribuem para o maior tempo de internação prejudicando a qualidade de vida do paciente (FELICIANO, 2012).
O declínio funcional é caracterizado pela diminuição da capacidade de realizar AVD´s, o que pode estar relacionado ao baixo desempenho e regressão das habilidades físicas e cognitivas. No entanto, é necessário comparar as atividades dos pacientes desde a admissão até a alta. Para minimizar esse declínio, o fisioterapeuta deve saber a causa final da fraqueza na UTI. Portanto, uma avaliação cuidadosa é imprescindível para permitir a elaboração de acordos de mobilização com diversas possibilidades (SARMENTO, 2015).
O protocolo sistemático de mobilização e exercícios terapêuticos precoces é um aspecto importante do tratamento dos pacientes com COVID-19, após a fase aguda e na presença de estabilidade cardiopulmonar e metabólica, o fisioterapeuta desenvolve um plano de tratamento para manter o estado funcional e iniciar o processo de recuperação, respeitando os critérios de nível de mobilidade, restrição médica, reserva cardiovascular e respiratória e o grau de força muscular (MIRANDA, 2016).
Portanto todos os exercícios de mobilzação precoce, destinados aos pacientes internados na UTI, onde estão a cinesioterapia passiva, assistida, ativa livre, resistida, alongamento muscular, eletroestimulação elétrica neuromuscular (EENM), treino de sedestação e controle de tronco, treino de mobilidade para transferências no leito, cicloergometria em membros superiores e inferiores (MMSS e MMII), ortostatismo – em prancha ostostática ou assistida, e marcha com o objetivo de prevenir ou minimizar as perdas de amplitude de movimento, de força e massa muscular periférica, de condicionamento cardiorrespiratório, de mobilidade para realização de transferências no leito e para fora dele e da independência funcional para os domínios que envolvem o movimento corporal (HODGSON, 2014; MIRANDA, 2016).
Sendo assim, o objetivo geral do presente estudo foi descrever os benefícios da mobilização precoce na redução do tempo de internação hospitalar. Assim como, os específicos foram: identificar e comparar os principais protocolos de mobilização precoce existentes na literatura e demonstrar etapas da mobilização precoce de acordo com as fases da covid-19.
METODOLOGIA
Este estudo é uma pesquisa bibliográfica exploratória qualitativa, pois foram utilizados os materiais produzidos para o desenvolvimento do tema que convenha como subsidio cientifico para nortear novas ações e estudos no campo temático e na assistência ao paciente. Essa pesquisa pode aprimorar a reabilitação de pacientes com covid-19 por meio da mobilização precoce favorecendo a recuperação físicofuncional e diminuindo o tempo de estadia na unidade de terapia intensiva. Foram selecionados como critérios de inclusão: artigos científicos e dissertações publicadas que abordam a temática escolhida e que possam contribuir para o conhecimento dos benefícios da mobilização precoce em pacientes internados na unidade de terapia intensiva adulto na melhoria do quadro de pessoas acometidas pela covid-19, entre os anos de 2012 e 2021. Foram descartados dos critérios de exclusão: artigos indisponíveis na íntegra e duplicatas que não contemplem a temática da mobilização precoce no contexto da covid-19.
O presente estudo foi realizado através de pesquisas em bases de dados:
PUBMED (Nacional Library of Medicine), SCIELO (Scientific Eletronic Library Online), LILACS (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e Google Acadêmico. Foi feita uma seleção de 12 artigos, no qual foi utilizado os seguintes descritores de busca: mobilização precoce, unidade de terapia intensiva, covid-19, reabilitação, exercício, tempo de internação, deambulação. O período da pesquisa foi compreendido entre os anos de 2012 a 2021 onde conteve apenas artigos que correspondiam ao interesse da pesquisa proposta.
Os artigos foram selecionados através de uma pesquisa e leitura minuciosa, havendo uma avaliação de todo o conteúdo que foi abordado. A seguir a figura 1, demonstra o processo metodológico da revisão integrativa da literatura, evidenciando todos os passos da presente pesquisa.
Figura 1 – Processo Metodológico da Revisão Integrativa da Literatura
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente estudo inclui 12 artigos que preenchiam os critérios de inclusão como podemos observar nas seguintes tabelas (1 e 2). A tabela 1 evidencia os artigos com o periódico, tipo de estudo, ano e país de publicação. Já a tabela 2, mostra o título com os resultados dos respectivos artigos.
Tabela 1 – Distribuição dos estudos segundo autor, periódico, tipo de estudo, ano e país de publicação.
AUTOR | PERIÓDICO | TIPO DE ESTUDO | ANO | PAÍS DE PUBLICAÇÃO |
1. FILHO | Revista Ciência Plural | Revisão Sistemática | 2020 | Brasil |
2. RAMOS | Fisioterapia Brasil | Estudo Exploratório Longitudinal | 2021 | Brasil |
3. MACHADO | Jornal Brasileiro de Pneumologia | Estudo Clínico Randomizado | 2017 | Brasil |
4. LIPSHUTZ | Anesthesiology | Estudo de Revisão | 2013 | EUA |
5. MARTINEZ ET AL | Assobrafir Ciência | Artigo de Opinião | 2020 | Brasil |
6. SARAIVA ET AL | Artigo de opinião | Artigo de Opinião | 2020 | Brasil |
7. PINHEIRO | Revista Brasileira de Terapia Intensiva | Revisão Sistemática | 2012 | Brasil |
8. SILVA ET AL | Revista Fisioterapia e Pesquisa | Revisão Sistemática | 2014 | Brasil |
9. AQUIM | Revista Brasileira de Terapia Intensiva | Revisão Sistemática de Artigos | 2019 | Brasil |
10. CARVALHO | Revista Fisioterapia e Pesquisa | Estudo Piloto- Randomizado | 2014 | Brasil |
11. LAI ET AL | Jornal de Arquivos de Medicina Física e Reabilitação | Estudo Observacional Retrospectivo | 2017 | EUA |
12. TORRES ET AL | Revista Interfaces da Saúde | Revisão Bibliográfica | 2017 | Brasil |
Tabela 2. – Distribuição dos estudos segundo autor, título e resultados.
AUTOR | TÍTULO | RESULTADOS |
1. FILHO | Efeito da Mobilização Precoce na alta hospitalar de paciente sob Ventilação Mecânica na Unidade de Terapia Intensiva: Revisão Sistemática. | A mobilização precoce em pacientes críticos se mostrou segura e viável, capaz de reduzir o tempo de suporte ventilatório e permanência na unidade, diminuir a mortalidade dos pacientes, além de melhorar a mobilidade funcional na alta hospitalar. |
2. RAMOS | Associação entre funcionalidade e tempo de permanência de pacientes críticos em UTI. | Não houve diferença entre a funcionalidade na admissão e na alta da UTI entre as especialidades médicas em que os pacientes foram admitidos. Quanto maior o tempo de internação na UTI, menor a funcionalidade na alta em pacientes neurológicos e pneumopatas. |
3. MACHADO | Efeitos que o ciclismo passivo tem na força muscular, duração da ventilação mecânica e tempo de internação em pacientes gravemente enfermos: um ensaio clínico randomizado. | A mobilização precoce na UTI, por implementar um protocolo de exercício de ciclismo passivo em VM, pode aumentar significamente força muscular em tais pacientes; no entanto, não altera a duração da VM ou o tempo de internação hospitalar. |
4. LIPSHUTZ | Fraqueza neuromuscular adquirida e mobilização precoce na unidade de terapia intensiva. | A mobilização precoce é uma intervenção segura e viável para muitos pacientes em estado crítico e está associada a melhores resultados. O início de um programa de mobilização precoce requer mudança de cultura e a tecnologia pode ser útil no aumento da conformidade. |
5. MARTINEZ ET AL | Estratégias de Mobilização e Exercícios Terapêuticos precoces para pacientes em Ventilação Mecânica por Insuficiência Respiratória Aguda Secundária à COVID19. | O protocolo sistemático de mobilização precoce é um aspecto importante do tratamento dos pacientes com COVID-19, que não pode ser negligenciado. Pois,levam a perda progressiva da sua mobilidade, impactando diretamente na sua qualidade de vida pós alta da UTI e aumentando seu risco de óbito no primeiro ano após a alta hospitalar. |
6. SARAIVA ET AL | Recursos terapêuticos para pacientes com sintomas leves da COVID-19. | Diante do exposto, conclui-se a real necessidade de atendimento nos casos mais leves da COVID-19, considerando as individualidades de cada paciente. |
7. PINHEIRO | Fisioterapia motora em pacientes internados na unidade de terapia intensiva : uma revisão sistemática. | O presente estudo mostra que a fisioterapia motora demonstrou ser uma terapia segura e viável, e que pode minimizar os efeitos deletérios da imobilização prolongada no leito. |
8. SILVA ET AL | Mobilização na Unidade de Terapia Intensiva: revisão sistemática. | Concluiu-se, MP na UTI parece minimizar a perda das habilidades funcionais, com resultados favoráveis para a prevenção e o tratamento de desordens neuromusculares decorrentes da maior sobrevida dos pacientes e permanência prolongada no leito, como demonstrado por estudos desta revisão. |
9. AQUIM | Diretrizes Brasileiras de Mobilização Precoce em Unidade de Terapia Intensiva. | Este protocolo visa melhores resultados funcionais, devendo ser realizada sempre que indicada, respeitando as contraindicações, limitações e variações biológicas nos adultos. |
10. CARVALHO | Efeito do exercício passivo precoce em cicloergômetro na espessura muscular do quadríceps femoral de pacientes críticos: estudopiloto randomizado controlado. | Os resultados deste estudo-piloto demonstraram que a aplicação precoce do exercício passivo em cicloergômetro não promoveu mudanças significativas na espessura da camada muscular avaliada. No entanto, nossos achados sinalizam que a fisioterapia convencional foi capaz de preservar a EMQ de pacientes críticos admitidos em UTI. |
11. LAI ET AL | A mobilização precoce reduz a duração da ventilação mecânica e permanência em unidade de terapia intensiva em Respiratória Aguda. pacientes com Insuficiência. | A introdução da mobilização precoce para pacientes com VM na UTI encurtou a duração da VM e a permanência na UTI. Uma equipe multidisciplinar que inclui a família do paciente pode trabalhar em conjunto para melhorar os resultados clínicos do paciente. |
12. TORRES ET AL | Os efeitos e protocolos da mobilização precoce: uma revisão bibliográfica. | Os resultados são vistos com clareza que as técnicas de mobilização precoce são seguras e indispensáveis para o paciente restrito ao leito. |
De acordo com Saraiva et al. (2020) entre os pacientes diagnósticados com COVID-19, o isolamento e outras estratégias de prevenção de controle de infecção podem conter ou diminuir a disseminação do vírus em qualquer estágio da doença. Ao que tudo indica, o manejo clínico de pacientes com sintomas leves, além do isolamento por 14 dias, inclui medidas não medicamentosas como repouso, hidratação e boa alimentação. Em geral, além do exercício aeróbio de baixa intensidade, uma vez que a incapacidade seja constatada, a fisioterapia para essas pessoas devem incluir força muscular, equilíbrio, alongamento e treinamento de AVD. Destacando que essa terapia somente deve ser realizada quando as condições clínicas forem possíveis.
O início para um programa de reabilitação precoce requer cuidados específicos e um consenso da equipe multiprofissional, pois ainda existem barreiras para a mobilização. Pacientes da UTI têm distúrbios graves no equilíbrio fisiológico, fazendo com que a equipe de saúde concentre sua atenção e cuidado no tratamento dos sistemas orgânicos que mais botam em risco a sobrevivência do paciente. Além disso, o uso de sedativos dificulta o trabalho da fisioterapia, pois os doentes ficam pouco colaborativos. Ainda que os pacientes da UTI costumam fazer uso de tubos endotraqueais, cateteres venosos centrais e vesicais, dispositivos de assistência ventricular esquerda e cânula de oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) e o risco de deslocamento deste equipamento aumenta com a mobilização da pessoa. Com isso, a participação dos pacientes para as sessões de fisioterapia ficam limitadas (LIPSHUTZ, 2013).
A mobilização precoce é segura e a incidência de reações adversas é pequena. Em princípio, a terapêutica utilizada deve ser eficaz na realização de atividades que garantam a reintegração à sociedade. As atividades iniciais estão associadas a melhores resultados funcionais e devem ser realizadas quando necessário, com base nas contraindicações, limitações e variações biológicas do adulto. A atividade prescrita e o estágio de desenvolvimento da tarefa proposta são áreas específicas do fisioterapeuta, onde fatores prognósticos modificáveis e não modificáveis para o risco de declínio funcional permitem estimar a adesão ou resposta dos pacientes na UTI às atividades precoces. As equipes multidisciplinares devem enfrentar barreiras modificáveis para os pacientes serem mobilizados o mais cedo possível (AQUIM, 2019).
No fim da fase aguda da COVID-19 e há uma fase estável Cardiopulmonar e metabólica (de preferência nas primeiras 72 horas criticamente enfermo), o fisioterapeuta desenvolverá um plano de tratamento com o objetivo de manter o status funcional e o foco no início do processo de recuperação com foco no ganho, dependendo do diagnóstico e prognóstico da fisioterapia. A presença de alterações do sistema cardiovascular e/ou respiratório durante o protocolo de mobilização e exercícios de tratamento precoce pode ser interrompida ou substitua por intervenções menos intensivas ( MARTINEZ et al, 2020)
Para Pinheiro (2012) a imobilidade prorrogada é a causa mais comum de fraqueza muscular em pacientes criticamente enfermos. A fisioterapia desempenha um importante papel na reabilitação clínica dessas pessoas e traz benéficios funcionais. Tem como objetivo proporcionar exercícios em pessoas graves atendidas na unidade de terapia intensiva. Dentre as atividades realizadas na UTI, estão as mudanças de decúbito e posicionamento, atividades passivas, ativas e exercícios ativos livres, uso de cicloergômetro, estimulação elétrica, treinamento de AVD´s, sedestação, ortostatismo, marcha estática, transferência da cama para a cadeira e caminhar.
Em relação, a quantidade e intensidade das atividades na UTI, o estudo relatou frequência de 1 a 2 vezes ao dia, 5 a 7 dias da semana, por até 6 semanas, e evolução individualizada na percepção do grau do exercício por meio da escala de conservação da massa muscular em pacientes críticos e para ganho da FM durante a prática. Observou-se correlação positiva entre força e função durante o teste de caminhada de seis minutos (TC6) e a qualidade de vida. Quanto aos sintomas, a dificuldade respiratória e a fadiga muscular foi diminuída em pacientes em reabilitação para IRA após o treinamento precoce. A unidade multiprofissional notou que o tempo de desmame foi reduzido após o programa de mobilização, com 30% dos pacientes desmamando em 7 dias. Visto que a incidência de eventos adversos foram baixas após o programa de exercícios, provando segurança e viabilidade sem aumentar os custos para a unidade hospitalar (SILVA et al, 2014).
Para Ramos (2021) constatou-se que os pacientes com um estado funcional prévio de independência, evoluíram com moderada mobilidade no momento da alta. Foi avaliado a variação da motricidade, por meio dos domínios de transferência e locomoção da MIF, durante a internação em UTI e sua associação com mortalidade hospitalar. Onde foi observado que houve declínio de mobilidade ao adentrar na UTI, e que este foi maior nos pacientes que ficaram mais que 48 horas na unidade e nos que usaram drogas vasopressoras. Tais resultados reforçam o presente estudo, que utilizou o mesmo instrumento para mensuração da mobilidade dos pacientes no momento da internação na UTI, e demonstraram similaridade ao fato de não haver modificação na mobilidade segundo o motivo de internação, como consequência de uma hospitalização prolongada na qual o paciente fica mais restrito ao leito, podendo apresentar alteração da funcionalidade.
Machado (2017) aponta a mobilzação precoce como uma das estratégias adotas para reduzir a incidência de fraqueza muscular na UTI, o estudo mostrou um aumento na força muscular periférica nos grupos CG e IG (Grupo Controle e Grupo de Intervenção), utilizando a escala MRC (Medical Research Council), no entanto, o aumento foi maior no IG, pois em 20% das sessões o recurso visual disponível no cicloergômetro constatou contração ativa, mostrando que o exercício passivo tem um efeito positivo sobre a capacidade de gerar força muscular, pois atenua as consequências danosas da imobilidade, mantendo a estrutura e as propriedades de estreitamento do músculo.
Um estudo realizado na UTI mostra que pacientes gravemente enfermos perdem de 17% a 30% de sua massa muscular nos primeiros 10 dias de internação. Após a realização da aplicação precoce do exercício passivo, através do cicloergômetro, associado à fisioterapia convencional na EMQ (Espessura Muscular do Quadríceps Femoral) de pacientes críticos. A mobilização realizada não promoveu efeitos adicionais ao protocolo de fisioterapia convencional, em contrapartida, promoveu a preservação da EMQ (CARVALHO, 2019).
De acordo com Filho (2020) a terapia de atividade precoce para pacientes criticamente enfermos pode interferir no tecido muscular prevenindo sua atrofia,sua força e melhorando a coordenação muscular. O impacto de um planejamento de melhoria da qualidade antes e após a implantação de um programa de atividades iniciais no prognóstico do paciente até 72 horas após a ventilação mecânica (VM) na unidade de terapia intensiva (UTI), fazendo exercícios 5 dias por semana, duas vezes ao dia, durante 30 minutos. Em comparação com o grupo de pacientes antes do protocolo, após o procedimento, o tempo de VM dos pacientes foi menor e o tempo de permanência neste ambiente tambem foi minimizado. Com os beneficios da terapia de atividade precoce, os pacientes podem melhorar seu estado funcional e aumentar a taxa de desmame, reduzindo a necessidade de VM. Porém, quando a permanência na UTI não é diminuída, sabe-se que efeitos adversos podem ocorrer.
Para Lai et al (2017) o resultado da mobilização precoce implantada nas primeiras 72 horas de VM em uma UTI depois de efetivar este projeto para melhoria da qualidade, descobriu-se que mover de forma ativa as extremidades e interagir com o fisioterapeuta foi possível em vários graus para todos os 90 pacientes conscientes: sedestação na cama, transferência ativa da cadeira para o leito. Ainda que, mostra a evidência positiva significativa do exercício em pessoas na VM encurtando a duração da terapia e o tempo de permanência na UTI.
É possível observar a importância da fisioterapia dentro do ambiente da UTI. Reduzir o tempo de internação desses pacientes e reconduzi-los às suas atividades funcionais com rapidez é o maior objetivo da equipe multiprofissional. Ressaltando que os protocolos existentes devem ser adaptados, de acordo com suas patologias e respeitando seus limites com o propósito de alta minimizando sequelas. (TORRES et al, 2017).
Portanto, uma abordagem sistemática para atividades iniciais ou exercícios de terapia é um aspecto importante para o tratamento de pacientes com COVID-19, que não pode ser ignorado para que no momento da alta hospitalar, o nível de funcionalidade da pessoa esteja o mais perto possível de sua condição antes da internação. A quantidade de informações é pequena e há carência de pesquisas científicas sobre a COVID-19, as recomendações foram baseadas no conhecimento do tratamento de pacientes com SDRA e outras causas. (MARTINEZ et al, 2020).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pandemia da COVID-19 é um problema que afeta pessoas em todo mundo. As intervenções terapêuticas foram fundamentais para atingir o objetivo de fornecer cuidados de suporte para reabilitação de pacientes acometidos. A imobilização prolongada influencia negativamente para a fraqueza do paciente crítico adquirida na UTI, comprometendo o sistema musculoesquelético, cardiovascular, respiratório, tegumentar e cognitivo. A fisioterapia tem um papel importante na alta destes pacientes juntamente com a equipe multiprofissional, contribuindo para diminuição do tempo de internação desses indivíduos e devolve-los as suas atividades funcionais com agilidade. Ressaltando que os protocolos existentes devem ser adaptados de paciente para paciente de acordo com suas limitações, patologias e objetivos a serem atingidos.
A realização desse trabalho permitiu mostrar que os resultados alcançados foram satisfatórios no tratamento de pacientes criticamente enfermos na unidade de terapia intensiva adulto com COVID-19, sua utilização na prática clínica parece ser viável e segura, sendo capaz de promover melhora na capacidade funcional, na qualidade de vida, na força muscular periférica e respiratória, além de redução do tempo de internação e ventilação mecânica. Sugere-se a realização de estudos com maior evidência para descrição e comparação de diferentes protocolos de tratamento, objetivando identificar a frequência, a dose, a intensidade e os tipos de exercícios terapêuticos necessários para a melhoria dos desfechos associados à Fisioterapia.
Foi possível comprovar a efetividade do tratamento quanto aos efeitos fisiológicos descritos, por meio da mobilização precoce realizada por fisioterapeutas, destinados aos pacientes internados com COVID-19 na UTI. Dentre as intervenções estão a cinesioterapia (passiva, assistida, ativa livre, resistida), alongamento muscular, eletroestimulação elétrica neuromuscular (EENM), treino de sedestação e controle de tronco, treino de mobilidade para transferências no leito, cicloergometria em membros superiores e inferiores (MMSS e MMII), ortostatismo – em prancha ortostática ou assistida e marcha .
REFERÊNCIAS
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