Autora:
Jessica Mota Felix
RESUMO
Questões relacionadas a diferentes métodos de avaliação da qualidade dos serviços prestados na área de saúde são um desafio para gestores habituados a prestação de assistência de qualidade ao paciente, sem conseguir avaliar sua eficácia eficientemente.
A gestão da qualidade e segurança assistencial do paciente é requisito mundial para todos os serviços de saúde, inclusive em fisioterapia hospitalar. Tendo em vista a busca dos profissionais de fisioterapia por um estilo de gestão diferenciado, que objetiva a implementação de melhorias com enfoque no atendimento das exigências do paciente, no conhecimento da concorrência e na redução de custos.
Identificar e compor painéis de indicadores para monitoramento da qualidade assistencial é determinante para avaliação, processo de tomada de decisão e proposta de melhorias destes serviços.
Este artigo tem como objetivo identificar as abordagens presentes na literatura a respeito do tema mapeadas pela revisão sistemática da literatura.
Para tal realizou-se uma busca utilizando os termos qualidade, saúde, gestão, fisioterapia, avaliação da assistência à saúde e planejamento em saúde na base de dados Scielo. A busca retornou 15 artigos, sendo possível observar o crescente número de publicações ao longo dos anos.
Após análise inicial, tendo como foco principal a qualidade em fisioterapia, voltada para a gestão dos serviços de saúde e organizações nesta área, elaborou-se uma meta analise resultando em uma classificação por objetivo de estudo e suas argumentações sobre o tema.
Realizado a revisão dos resultados obtidos, verificou-se a escassez sobre indicadores e gestão de serviços de fisioterapia. Essa escassez mostra a necessidade de desenvolver um modelo ideal alinhados a visão tática e estratégica do serviço para propor melhor direcionamento e resultados a fisioterapia.
Palavras-chave: Qualidade; Saúde; Gestão; Fisioterapia; Avaliação da assistência á saúde; Planejamento em saúde.
- INTRODUÇÃO
Tratar da qualidade em serviços na área de saúde é estar diante de um cenário complexo e de alto custo que demanda um excelente gerenciamento de recursos materiais e humanos.
No Brasil, fazem parte desse cenário o Sistema Único de Saúde (SUS), regulamentado pelo Ministério da Saúde e o Sistema de Saúde Suplementar (SS), composto pela Operadora de Plano de Saúde (OPS), regulamentada pela Agência Nacional de Saúde (ANS).
De acordo com Dos Santos et al (2015), “nos requisitos gerais, em recursos humanos, para atuar dentro da UTI, o profissional de fisioterapia aparece como componente da equipe básica”.
O fisioterapeuta atua na promoção, proteção e recuperação da saúde nos diferentes níveis de assistência. A demanda fisioterapêutica hospitalar ocorre pela atuação crescente no ambiente clinico, cirúrgico e de emergência hospitalar, exigindo assistência especializada e qualificadas em pacientes de média e alta complexidade impactando na redução do tempo de internação e na qualidade de vida pós alta dos pacientes.
A adequada assistência requer um processo de gestão que atenda requisitos de qualidade e segurança do paciente, bem como de desenvolvimento profissional. O manejo da qualidade assistencial e desenvolvimento da equipe é complexo e desafiador, já que existem constante evoluções tecnológicas e terapêuticas, aumento da população idosa, doenças crônicas, escassez de recursos e carência da gestão eficiente nas organizações de saúde.
- DESENVOLVIMENTO
Qualidade relaciona-se com estar atento a um conjunto de elementos ou atributos que compõe o serviço ou produto. Nos últimos anos é possível pontuar que a qualidade, assim como a segurança do serviço em saúde prestado, vem sendo considerado componente estratégico na maioria dos países. A atuação de gestores que promovam qualidade, eficácia, eficiência, sustentabilidade financeira nos serviços de saúde é uma exigência mundial entre órgãos reguladores e operadoras em saúde.
Traçar objetivos, estratégia e instrumentos para direcionar a organização e promoção da qualidade são determinantes nas ações gerenciais e no desempenho da empresa, exigindo aos gestores conhecimento e aplicação das ferramentas de gestão e qualidade.
As ferramentas de gestão e qualidade na área da saúde são constituídas de práticas gerenciais utilizadas para estruturar e analisar ações assistenciais, assim como monitorar o desempenho final da organização, permitindo melhora continua dos serviços prestados e tomada de decisão.
Na literatura podemos destacar algumas razões que favorecem o desenvolvimento de estratégias com o objetivo de garantir a qualidade, quais sejam: a insatisfação dos usuários, a não adequada segurança dos sistemas de saúde, a ineficiência e os custos excessivos de altas tecnologias e procedimentos clínicos e o acesso desigual dos serviços de saúde.
O debate em torno da mensuração da qualidade na prestação de serviços de fisioterapia é bastante recente. Nos últimos anos estudos mostram que o principal objetivo é desenvolver instrumentos através da avaliação do nível de satisfação de pacientes que recebem atendimento fisioterapêutico, porem a literatura sobre a gestão da qualidade no serviço de fisioterapia é escassa, reforçando a necessidade de mais estudos sobre o tema.
Dentro deste contexto, este artigo tem por objetivo identificar as abordagens presentes na literatura acadêmica sobre o tema e suas características históricas, mapeadas pela revisão sistemática da literatura.
2.1 METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa com fins exploratórios, com a intenção de proporcionar uma aproximação com o tema e recuperar informações disponíveis através de um levantamento bibliográfico.
Foram utilizados os termos qualidade, saúde, gestão, fisioterapia, avaliação da assistência à saúde e planejamento em saúde, para localizar artigos referentes a qualidade e gestão da qualidade em fisioterapia na base de dados Scielo, considerando que os termos de busca deveriam estar contidos no título, resumo ou palavras chaves dos documentos.
2.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS
A busca realizada na base Scielo retornou 120 documentos publicados no período entre 2010 e 2021. Após análise inicial, tendo como foco a qualidade em fisioterapia voltada para a gestão das organizações, qualidade e avaliação da assistência à saúde, optou-se por um segundo filtro, destacando artigos que citavam resultados clínicos e indicadores assistenciais, mantendo os artigos que fazem referência a qualidade voltada a gestão.
Ao final de literatura e análise dos documentos encontrados, restaram 15 artigos que se configuram na amostra final (Quadro 1)
(Quadro 1 – Publicações selecionadas para análise de conteúdo)
Ano | Autor | Título da publicação |
2010 | Cavalheiro, L ; Andreoli,P ; Medeiros,N | Comunicação e acesso a informações na avaliação da qualidade de assistência multiprofissional a pacientes internados |
2012 | Serapioni, Mauro | Avaliação da qualidade em saúde.Reflexões teórico metodológicas para uma abordagem multidimensional. |
2013 | Aleluia,I –Santos, F | Auditoria em fisioterapia no Sistema Único de Saúde: proposta de um protocolo específico |
2013 | Renato S. Almeidaleandro A. C. Nogueirastéphane Bourliataux-Lajoine | Analysis of the user satisfaction level in a public physical therapy service. |
2014 | Pinto W, Rossetti H | Impacto de um programa de educação continuada na qualidade assistencial oferecida pela fisioterapia em terapia intensiva |
2015 | Cavalheiro L, Eid R, Talerman C. | Delineamento de um instrumento para medir a qualidade da assistência da Fisioterapia |
2015 | Dos Santos, F; Raupp, F | Gestão de custos aplicada ao setor de prestação de serviços fisioterapêuticos: um estudo de caso |
2015 | Dos Santos, Fernanda | Gestão do conhecimento e a qualidade do fluxo da informação no processo de tomada de decisão |
2016 | Mandelli P, Santos, F | Qualidade na gestão de serviços de fisioterapia: uma revisão sistemática |
2017 | Farias DC, De Araujo FO | Gestão hospitalar no Brasil: revisão da literatura visando ao aprimoramento das práticas administrativas em hospitais. |
2018 | Carmo, C | Gestão assistencial da fisioterapia hospitalar: indicadores |
2020 | Karsten, M- Matte, D- Andrade, F | A pandemia da COVID-19 trouxe desafios e novas possibilidades para a Fisioterapia no Brasil: estamos preparados? |
2020 | Abreu A, Antonialli, L | Capacidade de resposta e satisfação no sus: uma análise da microrregião de lavras – minas gerais |
2020 | Dantas ,D- Correa, A – Buchalla,C | O modelo biopsicossocial no cuidado a saúde: reflexões sobre a produção de dados sobre funcionalidade e incapacidade/deficiência |
2021 | Sá, S.C.M.; Santos, E.A.C.; Brito Da Silva, N.; Chaves, B.S.C.; Lira, S.C.S.; | Desafios e potencialidade da atuação da equipe multiprofissional na atenção primária em saúde |
A publicação de Leny Cavalheiro e Paola Andreolli de 2010, aborda em sua introdução que a assistência ao paciente internado é um processo complexo que exige uma dinâmica de trabalho organizada, envolvendo um contexto de informações clinicas para decisão terapêutica e comunicação entre a equipe para tratar o paciente com efetividade. A literatura aborda com frequência a qualidade da assistência com aspecto de segurança em relação a comunicação entre a equipe.
A equipe multiprofissional em UTI inclui fisioterapeutas, que são responsáveis pelos ajustes e por procedimentos em pacientes gravemente enfermos. Contudo, ainda existe uma grande variabilidade dos cuidados sem que existam indicadores de qualidade específicos para a fisioterapia. A literatura a esse respeito é escassa, justificando a necessidade de estudos relativos a indicadores específicos para fisioterapia com avaliação de qualidade, planejamento e controle de serviços.(PINTO,2014)
Os indicadores existentes na área de Fisioterapia ainda são pouco elaborados e divulgados. Existem algumas iniciativas para avaliar a qualidade da assistência, mas de forma fragmentada e focada em procedimentos isolados, como por exemplo processo de grande volume, como a descontinuidade da ventilação mecânica. Esse resultado é interpretado como como qualidade da assistência da Fisioterapia, porem fica claro que se trata de um resultado parcial da qualidade da assistência, já que não são envolvidos nesses resultados os aspectos de formação dos profissionais e experiência da equipe em protocolos ou mesmo a abrangência dessa qualidade na assistência. (CAVALHEIRO,2015)
A adequada assistência requer um processo de gestão e de monitoramento que atende os requisitos de qualidade e segurança do paciente, bem como o do desenvolvimento profissional. Publicações sobre indicadores no gerenciamento de serviços de fisioterapia hospitalar são escassas. Alguns estudos atribuem a avaliação da qualidade dos serviços a satisfação do usuário, ou utilizar indicadores assistenciais como medida de qualidade para acompanhamento de doenças específicas.
Essas avaliações isoladas tem uma contribuição limitada diante da carência de uma visão sistêmica para gerenciar e avaliar um serviço assistencial que atenda os objetivos do serviço e qualidade assistencial desejada.
Esse cenário retrata a necessidade da estruturação e implantação de painéis e indicadores como ferramentas de gestão e de qualidade nos serviços de Fisioterapia hospitalar para instrumentar e fomentar a eficiência dos gestores. (CARMO,2018)
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer deste artigo, pode-se verificar que apesar do crescente número de trabalhos que visam a discussão da qualidade nos serviços de fisioterapia, o assunto ainda demonstra significativa variabilidade, já que a maioria das publicações descrevem a avaliação da qualidade ligada a itens específicos.
Estas ações contribuem diretamente a certificação da qualidade e processo de segurança e qualidade, porém são insuficientes para avaliação assistencial do serviço.
Existe, portanto, uma lacuna na área e uma oportunidade emergente para pesquisa relacionadas a avaliação dos serviços de Fisioterapia sob ótica da gestão organizacional.
Para a criação de um sistema de mensuração da qualidade em serviço de fisioterapia, com indicadores que envolvam aspectos técnicos, de satisfação do cliente e relacionadas a gestão, como custos, recursos humanos, dentre outros, de forma a proporcionar informações e conhecimento aptos no auxílio a tomada de decisão.
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALHEIRO LV, Andreoli PBA, Medeiros NS, Mendes TAB, Oliveira R, Cordeiro JJR, Figueiredo RAO, Bork AMT. Comunicação e acesso a informações na avaliação da qualidade de assistência multiprofissional a pacientes internados. Einstein. 2010; 8(3 Pt 1):303-7
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ALELUIA ,I –Santos, F. Auditoria em fisioterapia no Sistema Único de Saúde: proposta de um protocolo específico. Fisioter. Mov., Curitiba, v. 26, n. 4, p. página 725-741, set./dez. 2013
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PINTO, W- Rossetti, H. Impacto de um programa de educação continuada na qualidade assistencial oferecida pela fisioterapia em terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva. 2014;26(1):7-12
CAVALHEIRO L, Eid R, Talerman C. Delineamento de um instrumento para medir a qualidade da assistência da Fisioterapia. Einstein. 2015;13(2):260-8
DOS SANTOS, F; Raupp, F. Gestão de custos aplicada ao setor de prestação de serviços fisioterapêuticos: um estudo de caso. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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FARIAS DC, De Araujo FO. Gestão hospitalar no Brasil: revisão da literatura visando ao aprimoramento das práticas administrativas em hospitais. Ciênc. saúde colet. 22 (6) • Jun 2017
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