Autores:
Késia Maxwelly da Silva Santos¹, Rafaela Ramos da Silva2, Dominique Babini Albuquerque Cavalcanti3
1,2Acadêmicas do 8º período do curso de Fisioterapia da Universidade Salgado de Oliveira -Universo Recife.
3Fisioterapeuta. Mestre em Educação (USP). Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente (UFPE). Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Salgado de Oliveira – Recife, PE. dbabini.fisioterapeuta@gmail.com
RESUMO
Introdução: A queda é considerada uma das síndromes geriátricas mais incapacitantes, pois um único evento pode ter repercussões no âmbito social, econômico e de saúde. O aumento da prevalência de quedas em idosos, tendo como resultado as hospitalizações e mortes, impacta negativamente nos gastos públicos com saúde e o uso de leitos hospitalares por mais tempo. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi identificar os fatores ambientais relacionados ao risco de quedas em idosos. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, realizada através de busca nas bases de dados eletrônicos Lilacs e Bireme. Foram incluídos artigos publicados entre 2009 e 2021, nos idiomas português, inglês e espanhol, com busca correspondente aos termos descritivos. Foram excluídos estudos de revisão de literatura, carta ao editor e trabalhos publicados em eventos e textos que não estavam disponíveis em formato completo nas bases de dados. Resultados: Foram encontrados 61 artigos nas bases de dados científicos elencadas, sendo 08 incluídos na presente revisão integrativa. Os principais fatores ambientais para queda nessa população incluíram: banheiro sem apoio/barras, falta de tapetes antiderrapantes, chão escorregadio, assento sanitário baixo, pisos irregulares, presença de escadas/desníveis no piso, pouca iluminação/brilho excessivo. Conclusão: A partir dos estudos revisados, pode-se concluir que os fatores de risco ambientais representam importante papel na ocorrência de quedas em idosos. Por ser considerado um fator de morbimortalidade, deve-se realizar ações preventivas como adaptações ambientais e mudanças no hábito de vida.
Palavras Chaves: Idoso, Fatores de Risco, Acidentes por Quedas.
1. INTRODUÇÃO
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a população idosa no Brasil aumentará 16 vezes até o ano de 2025 e espera-se que em 2050 a média de idade seja de 81 anos. O país será considerado o sexto do mundo em número de idosos, equivalente a 32 milhões de pessoas com idade superior a 60 anos1.
Envelhecer é um processo natural e contínuo, que pode ser entendido como um conjunto de alterações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas. As mudanças decorrentes do envelhecimento tornam o idoso mais vulnerável ao risco de quedas, as quais podem estar relacionadas com a instabilidade postural, alterações no sistema sensorial e musculoesquelético2.
A queda é considerada uma das síndromes geriátricas mais incapacitantes, pois um único evento pode ter repercussões no âmbito social, econômico e de saúde3. Os possíveis fatores associados ao risco de quedas em idosos são divididos em intrínsecos e extrínsecos. Os fatores de risco intrínsecos incluem as características relacionadas ao próprio idoso, tais como a idade, a capacidade funcional, a presença de doenças crônicas e de distúrbios da marcha. Os fatores de risco extrínsecos são aqueles relacionados ao ambiente no qual o idoso se encontra, e incluem superfícies irregulares, pisos escorregadios, iluminação inadequada, tapetes soltos e escadas sem corrimão4.
O aumento da prevalência de quedas nessa população, tendo como resultado hospitalizações e óbitos, impacta negativamente nos gastos públicos com saúde e o uso de leitos hospitalares por mais tempo. Após as quedas, o medo de cair torna-se frequente na vida do idoso, além da insegurança, causa muitas vezes dependência do idoso nas tarefas diárias, por sofrer danos irreparáveis, gerando consequências não só para o idoso, mas como também para os familiares e para os serviços de saúde que precisam participar integralmente no tratamento e recuperação dos idosos e ainda na prevenção para se evitar futuras quedas5.
Deste modo, torna-se essencial buscar mais investimento em relação às ações de promoção da saúde e prevenção às quedas, a exemplo do desenvolvimento de práticas educativas que visem aprimorar o conhecimento sobre o risco que esse evento pode causar, com vistas a uma mudança positiva para a qualidade de vida dessa população6.
Neste contexto, justifica-se a importância do presente estudo que objetivou identificar os fatores ambientais associados ao risco de quedas em idosos brasileiros.
2. METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa de literatura, realizada nas bases de dados eletrônicas Lilacs e Bireme. Foram incluídos artigos publicados entre 2009 e 2021, nos idiomas português, inglês e espanhol, com busca correspondente aos termos descritivos. Foram excluídos estudos de revisão de literatura, carta ao editor e trabalhos publicados em eventos e textos que não estavam disponíveis em formato completo nas bases de dados.
A coleta de dados compreendeu-se no período de agosto de 2019 a maio de 2021. Para a seleção dos artigos foram usados os seguintes descritores, catalogados no Decs: Idoso (Aged), Fatores de Risco (Risk Factors) e Acidentes por Quedas (Accidental Falls). Para o cruzamento dos pares de descritores foi utilizado o operador “e” (and).
A seleção dos artigos foi realizada através das seguintes etapas: construção de uma biblioteca única em pasta eletrônica; leitura dos títulos e resumos de cada estudo, com intuito de analisar quais correspondiam aos critérios de elegibilidade; leitura na íntegra para confirmação da adequação dos mesmos com relação aos objetivos da presente revisão; os dados referentes à autoria, ano e local de publicação, delineamento do estudo, tamanho amostral, instrumentos, nível de evidência e principais resultados foram extraídos dos estudos selecionados e organizados em uma tabela para apresentação dos resultados.
3. RESULTADOS
Foram identificados 61 artigos, sendo 14 na base de dados Bireme e 47 no Lilacs. Após a leitura dos resumos, foram excluídos 42 artigos que não correspondiam aos critérios de elegibilidade. Os 19 artigos restantes foram lidos na íntegra, e desses, 08 foram selecionados para a presente revisão, conforme fluxograma apresentado abaixo (Figura 1).
Na tabela 1 estão apresentados os estudos revisados, destacando-se os autores, ano e local de publicação, delineamento de estudo, tamanho amostral, instrumentos, nível de evidência e principais resultados de cada um.
Autor (ano) local | Delineamento de estudo | Tamanho amostral | Instrumentos | Nível de evidência | Resultados |
Costa, Souza, Vitor, Araújo (2011) Brasil | Estudo descritivo-exploratório | 62 idosos | COOP/WONCA IPAQ | Nível “A” | – Episódio de quedas nos últimos seis meses (41,9%) – Sexo feminino (88,5%) – Evento não mencionado (66,6%) |
Antes, D’Orsi, Benedetti (2009) Brasil | Estudo transversal, de base populacional e domiciliar | 1.705 idosos | Questionário desenvolvido pelos autores e validado | Nível “A” | – Ambos os sexos (94,4%) – Prevalência de quedas (19%) – Caiu enquanto caminhava dentro do domicílio (43,2%) |
Galvan, Santos, Doring, Portella (2017) Brasil | Estudo transversal de base populacional | 350 idosos | Questionário desenvolvido pelos autores e validado | Nível “A” | – Sexo feminino (60,3%) – Presença de animais de estimação (35,1%) – Interruptor distante da porta (32,9%) – Tapetes soltos sem antiderrapante (40,9% e 32,3%) – Piso do banheiro escorregadio (97,7%) |
Antunes et al. (2018) Brasil | Estudo descritivo, observacional | 132 idosos | Questionário autoaplicável para ser respondido pelos idosos | Nível “A” | – Sexo feminino (61,4%) – Idade entre 70 e 79 anos (44,7%) |
Oliveira, Baixinho, Henriques (2018) Brasil | Estudo Descritivo, transversal, exploratório e qualitativo | 31 idosos | Questionário sócio demográfico MMSE FES TUGT Escala modificada de Barthel | Nível “A” | – Sexo feminino (64,5%) – Idade > 85 anos – Consumo de benzodiazepínicos (38,7%) |
Romli, Mackenzie, Lovarini, Tan (2016) Malásia | Estudo piloto transversal | 26 idosos | Questionário sócio demográfico HOME FAST | Nível \”A\” | – Sexo feminino (65%) – Queda no ano anterior (19,2%) |
Cavalcante et al. (2015) Brasil | Estudo qualitativa, retrospectiva e descritiva | 105 idosos | Entrevista semiestruturada Coleta de prontuários | Nível \”A\” | – Sexo feminino (87,6%) – Viúvo (33,3%) |
Almegbel et al. (2017) Arábia Saudita | Estudo transversal | 1182 idosos | Entrevista Questionário sócio demográfico | Nível \”A\” | – Sexo feminino (52,0%) – Casados (64,0%) – Estresse psicológico (64,9%) – Polifarmácia (47,0%) |
COOP/WONCA: Dartmouth COOP Functional Health Assessment charts. IPAQ: Questionário Internacional de Atividades Física. MMSE: Mini-Mental State Examination. FES: Falls Efficacy Scale. TUGT: Teste Get Up and Go.
- DISCUSSÃO
Os artigos incluídos neste estudo apontam para o fato de os episódios de quedas em idosos apresentarem características similares no que concerne aos fatores de risco.
Dos estudos revisados, 87,5% evidenciaram que houve prevalência de quedas em idosas do sexo feminino. Uma possível explicação é a de que mulheres por terem menor nível de estrógenos têm mais osteoporose do que os homens que mantém a proteção da testosterona ao longo da vida, aumentando o risco de queda7-9. Pesquisas analisadas também referem que isso se deve ainda ao fato de que as mulheres idosas estão mais propensas a quedas por geralmente desempenharem o papel de dona-de-casa, permanecerem por mais tempo no ambiente doméstico e realizarem tarefas funcionais em casa, além de terem uma demanda maior de papéis, exigindo a participação em atividades múltiplas10,11.
Idosos com idades mais elevadas parecem estar mais propensos a quedas. Isso pode estar associado a fraquezas musculares, hipotensão provocada pela postura, arritmias, marcha mais lenta, quadros álgicos, dentre outros fatores que tendem a ser observados com o aumento da idade8,12.
Muitos são os fatores associados ao risco de quedas em idosos. Os fatores extrínsecos parecem ter relevância nesse processo8. Dentre os fatores mais comuns estão: banheiro sem apoio/barras, falta de tapetes antiderrapantes, chão escorregadio, assento sanitário baixo, pisos irregulares, presença de escadas/desníveis no piso, pouca iluminação/brilho excessivo3,8,9. As quedas em domicílio representam maioria dos casos, com repercussões importantes para a saúde do idoso. Estudo realizado em 2018 com 1182 idosos verificou que metade referiu ser incapaz de retornar independentemente à posição anterior imediatamente após a queda11.
Esse achado, no entanto, não é consenso. Pesquisa realizada em 2011 com 62 idosos encontrou prevalência de quedas em vias públicas, com presença de piso áspero e seco, degraus/rampas, tapetes, animais/objetos que dificultaram o livre trânsito dos idosos7. Vale ressaltar que o calçado mais utilizado durante as quedas eram chinelos com solado de borracha, sendo importante investigar possível associação entre esses achados.
Vale ressaltar que muitos são os fatores que podem interferir na ocorrência de quedas em idosos. As circunstâncias de quedas envolvem tropeços e escorregões relacionadas a diversos fatores, como: falta de atenção, mão ocupadas, estar com pressa, dentre outros13. Além disso, não se pode deixar de citar o papel de outros fatores que apesar de não terem sido alvo da presente pesquisa, como polifarmácia, presença de demência, quadros de vertigens/labirintite e autopercepção de saúde9.
Os estudos analisados reforçam a ideia que os idosos tendem a não falar entre si nem com a família e profissionais sobre os fatores de risco associados a quedas e medidas preventivas. Em termos de risco comportamental, observa-se que não existe uma cultura de segurança de prevenção de quedas, assim como existem barreiras na comunicação, quer com os profissionais, quer entre os profissionais e o idoso11,12.
- CONCLUSÃO
A partir dos estudos revisados, pode-se concluir que os idosos estão muito suscetíveis a quedas e são diversos fatores de risco ambientais que podem ser levados em consideração, como: banheiro sem apoio/barras, falta de tapetes antiderrapantes, chão escorregadio, assento sanitário baixo, pisos irregulares, presença de escadas/desníveis no piso e pouca iluminação/brilho excessivo.
Podem-se considerar algumas limitações relativas às pesquisas analisadas. Houve prevalência de estudos transversais, em que exposição e desfecho são coletados em um único momento no tempo, dificultando estabelecer uma relação temporal entre os eventos e se a relação entre eles é causal ou não, como é o caso das barras de apoio no banheiro ou ausência de tapetes, que pelo tipo de estudo não permite saber se foram providenciados antes das quedas ou após.
Outra limitação se refere a utilização de autorrelato em muitos estudos para avaliar a resposta a variável dependente queda. Essa estratégia se baseia em recordação de fatos, estando relacionada a possibilidade de viés de memória, pois uma queda no último ano é evento que dificilmente passará desapercebido.
Assim, sugere-se, a realização de estudos longitudinais capazes de produzir novas evidências na prevenção de quedas e segurança dos longevos. Os resultados podem subsidiar diretrizes que fundamentem a construção de políticas públicas e de programas assistenciais de atenção à saúde desse grupo populacional.
Por ser considerado um fator de morbimortalidade, deve-se realizar ações preventivas por profissionais da saúde, pela família e pela sociedade, a fim de manter a independência ou minimizar os danos na sua capacidade funcional e prevenir danos físicos, internações hospitalares, diminuindo os altos custos que as quedas acarretam ao sistema de saúde e mantendo uma boa qualidade de vida para essa população.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Borges MGS, Rocha LR, Couto EAB, Mancini PC. Comparação do equilíbrio, depressão e cognição entre idosas institucionalizadas e não institucionalizadas. Rev. CEFAC. 2013;15(5):1073-1079.
- Ferraresi JR, Prata MG, Scheicher ME. Avaliação do equilíbrio e do nível de independênciafuncional de idosos da comunidade. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol. 2015;18(3):499-506.
- Cavalcante ALP, Aguiar JB, Gurgel LA. Fatores associados a quedas em idosos residentes em um bairro de Fortaleza, Ceará. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2012;15(12):37-42.
- Maia BC et al. Consequências das quedas em idosos vivendo na comunidade. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2011;14(2):381-393.
- Cruz DT, Ribeiro LC, Vieira MT, Teixeira MTB, Baatos RR, Gonçalves IC. Prevalência de quedas e fatores associados em idosos. Rev Saúde Pública. 2012;46(1):138-146.
- Andrade IR, Souza EA, Luz LA, Pinto JEP. Características e gastos com hospitalizações por quedas em idosos na Bahia. J Health Sci Inst. 2017;35(1):28-31.
- Costa AGS, Souza RC, Vitor AF, Araújo TL. Acidentes por quedas em um grupo específico de idosos. Rev. Eletr. Enf. Fortaleza. 2011;13(3):395-404.
- Antunes MJFS et al. Avaliação do risco de quedas em idosos assistidos na Estratégia Saúde da Família. Rev Rene. 2018;19:e32713.
- Galvan SS, Santos CB, Doring M, Portella MR. Prevalence of household falls in long-lived adults and association with extrinsic factors. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2017;25:e2900.
- Romli MH, Mackenzie L, Lovarini M, Tan MP. Pilot study to investigate the feasibility on the home fallsand accidents screening tool (home fast) to identify older Malaysian people at risk of falls. BMJ Open. 2016;25(6):e012048.
- Almegbel FY et al. Period prevalence, risk factors and consequent injuries of falling among the Saudi elderly living in Riyadh, Saudi Arabia: a cross-sectional study. BMJ Open. 2018;8(1):e019063.
- Oliveira T, Baixinho CL, Henriques MA. Risco multidimensional de queda em idosos. Rev Bras Promoç Saúde. 2018;31(2):1-9.
- Antes DL, D’Orsi E, Benedetti TR. Circunstâncias e consequências das quedas em idosos de Florianópolis. Rev Bras Epidemiol.2013;16(2):469-81.