SATISFAÇÃO DOS USUÁRIOS DE UMA CLÍNICA-ESCOLA DE FISIOTERAPIA DE CAMPINA GRANDE.

Autores:
*Leonardo Faustino Pereira Porto
**Tâmara Mirely Silveira Silva
***Márcia Darlene Bezerra Mota da Silva

*Fisioterapeuta graduado na Universidade Estadual da Paraíba – UEPB;
** Discente do curso de Administração da Universidade Estadual da Paraíba;
***Docente do curso de Fisioterapia da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB


RESUMO

OBJETIVO:avaliar o perfil sociodemográfico e o grau de satisfação dos usuários dos serviços de Fisioterapia da Clinica Escola de Fisioterapia da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. METODOLOGIA:Foi aplicado um questionário contendo informações relativas a dados sociodemográficos e à satisfação a 35 usuários da Clínica Escola de Fisioterapia da UEPB, durante o período de fevereiro a março de 2013. RESULTADOS:a maioria da população é composta por adultos de meia idade, de difíceis condições financeiras e baixo nível de escolaridade. A satisfação geral do usuário foi avaliada como ruim por 15,79% e como ótima ou excelente por 42,10% dos entrevistados. O índice de recomendação e de retorno a clinica obtido foi de 73,68%. CONCLUSÃO:o estudo possibilitou o conhecimento do perfil sociodemográfico dos usuários, como também a avaliação positiva da satisfação. Pode-se considerar que as condutas foram seguidas adequadamente devido aos altos percentuais definidos como satisfatórios.

Palavras-chaves: determinantes sociais, adequação ao serviço, processo avaliativo.

ABSTRACT

OBJECTIVE: To evaluate the epidemiological profile and satisfaction of service users Physiotherapy Clinic School of Physical Therapy, State University of Paraiba – UEPB. METHODS: A questionnaire containing information on the demographics and satisfaction to 35 users Clinic School of Physical Therapy UEPB during the period February-March 2013. RESULTS: The majority of the population consists of middleaged adults in difficult financial conditions and low educational level. The overall user satisfaction was assessed as poor by 15.79% and as good or excellent by 42.10% of respondents. The index of recommendation and return to the clinic obtained was 73.68%. CONCLUSION: The study allowed the knowledge of the demographic profile of users, but also the positive evaluation of satisfaction. One can consider that the procedures were followed properly due to the high percentage defined as satisfactory.

Keywords: social determinants, fitness for service, evaluation process.

INTRODUÇÃO

A estrutura dos serviços de saúde tem passado por profundas modificações nos últimos tempos. As reformas recentes aplicadas ao campo da saúde enfatizam a melhora crescente na qualidade do atendimento recebido pelos usuários (SALMORIA & CAMARGO, 2008).

A demanda crescente da sociedade em relação a serviços de qualidade gerou uma necessidade de mudanças nas características destes e maior cobrança para com os fornecedores de diversos tipos de serviços, inclusive os voltados à área de saúde (VASCONCELLOS, 2002).

Com relação aos serviços de saúde, a qualidade dos serviços de saúde passou a ser discutida com maior ênfase a partir da segunda metade do século XX, quando se iniciaram as pesquisas sobre a avaliação da assistência em saúde, com foco na qualidade do atendimento (Machado & NOGUEIRA, 2008).Atualmente reconhece-se essa diversidade conceitual como decorrente das diferentes posições que os atores ocupam no sistema de atenção à saúde, sejam eles os profissionais, as organizações de assistência, os compradores de serviços, os usuários etc.

Donabedian (1980) entende qualidade em três dimensões: a técnica, a interpessoal e a ambiental. A técnica se refere à aplicação, atualizada, dos conhecimentos científicos na solução do problema do paciente. A interpessoal se refere à relação que se estabelece entre o prestador de serviços e o paciente. A ambiental diz respeito às comodidades como conforto e bem estar oferecido ao paciente.

Mendonça (2004) afirma que a qualidade deve ser considerada como fruto de planejamento de ações que levem em conta o ponto de vista dos usuários dos serviços de saúde, sendo a satisfação do cliente uma das formas de avaliação dos resultados obtidos, que permite a análise de questões relativas à estrutura e ao processo de cuidado da saúde. Observar e conhecer o comportamento e a opinião dos usuários acerca da assistência recebida é fundamental para a compreensão e a melhoria da organização do serviço e ambiente clínico (MAGALHÃES & SOUSA, 2004).

Sabe-se hoje que o controle da qualidade também é essencial para o setor de serviços, onde o foco central passa a ser o cliente e a qualidade é definida também de acordo com a percepção do mesmo, como a previsão e a superação das suas expectativas (ANSUJ et al., 2005).

Todos os indivíduos que compõem o setor público de assistência à saúde podem contribuir para a melhora da assistência oferecida. De acordo com Leão & Dias (2001), conhecer a percepção dos clientes internos (funcionários) e externos (usuários) a respeito da qualidade do serviço público prestado pode ser um bom início para o desenvolvimento de ações que levarão a melhoria, tanto por parte do gestor do sistema, que precisa conhecer o entendimento de ambos os clientes para poder melhor direcionar suas estratégias e ações quanto por parte dos próprios funcionários, que entendendo qualidade sob a ótica de seus clientes estarão mais embasados para atender suas expectativas. No entanto, mesmo que as percepções de um serviço dependam de certo grau de julgamento pessoal, é importante que o profissional (prestador de serviço) tente conhecer as expectativas de seus clientes para então buscar melhorias de desempenho que favoreçam uma percepção positiva.

As melhores idéias para aprimorar os serviços vêm dos clientes que dependem dos produtos e serviços. Os clientes podem julgar a qualidade percebida dos serviços de saúde e também sugerir idéias úteis de melhoria (SLACK, 1996).

No Brasil, com a Reforma Sanitária realizada na década de 80,os movimentos de reivindicação por melhores condiçõesno atendimento aos usuários de serviços de saúde tomaramforça (FARIAS & MELAMED, 2003). Por isso as pesquisas de satisfação de usuários tornaram-se cada vez mais comuns, obtendo destaque a partir de meados da década de 1990 (MACHADO & NOGUEIRA, 2008).

Segundo Linder-Pels (1982), a satisfação pode ser definida como sendo a expressão de uma atitude, ou seja, uma resposta afetiva que está relacionada com a crença de que o serviço deve possuir certos atributos (componentes/dimensões) e, assim, a satisfação é conceituada como sendo avaliações positivas do indivíduo acerca de dimensões distintas do serviço de saúde.

A satisfação do paciente é de fundamental importância como medida da qualidade da assistência que lhe foi prestada, pois contém informações sobre o êxito do provedor em alcançar os valores e expectativas do paciente (MORGANA & GUERRA, 2004). A expectativa do paciente é considerada um dos maiores determinantes da satisfação, de maneira que para cada processo de avaliação ele traz consigo um conjunto de expectativas sobre a situação ideal na qual pretende atingir (MENDONÇA et al., 2006), (MAGALHÃES, 2003). Tais expectativas sofrem influência direta de crenças e tais crenças encontram-se diretamente relacionadas a características pessoais como idade, sexo, etnia, conhecimento pessoal e experiências anteriores (MORGANA & GUERRA, 2004). No contexto cultural brasileiro, a satisfação do paciente com a assistência recebida pode ser influenciada pelas características sociodemográficas de seus usuários, semelhante a diversos estudos descritos na literatura mundial, em especial no tocante ao sexo do paciente, renda familiar e seu nível educacional (MAGALHÃES & SOUSA, 2004).

Nos últimos anos a satisfação do paciente tem sido conceituada como um fenômeno multidimensional. Desta forma, observou-se que este pode estar satisfeito com vários aspectos da assistência e, simultaneamente, insatisfeito com outros aspectos. Entre aquelas que muitas vezes são mencionadas, incluem-se: a conduta profissional (competência técnica, personalidade), acessibilidade, conveniência, custos e a estrutura (MORGANA & GUERRA, 2004).

Segundo Machado & Nogueira (2008), é necessário considerar as formas de acesso ao serviço, bem como, a estrutura física e organizacional, a relação profissionalpaciente, questões financeiras e aspectos relacionados à melhoria e manutenção da saúde. A participação do usuário na avaliação da satisfação está relacionada à maior adequação no uso de serviços de saúde, tanto quanto à estrutura, como com relação ao processo do cuidado da saúde.

A Fisioterapia tem características específicas que podem influir na satisfação do paciente. A intervenção, frequentemente, demanda muito mais tempo que uma visita clínica rotineira, envolve contato físico e a terapia, normalmente, requer a participação ativa do paciente (MORGANA & GUERRA, 2004).

Diversas dimensões têm sido sugeridas em estudos da satisfação do paciente em relação à Fisioterapia. Essas foram classificadas como interação paciente-terapeuta; tratamento, eficácia, conveniência, conforto, satisfação global; satisfação, insatisfação, localização e custo; tratamento, admissão, logística, satisfação global, cortesia e privacidade, eficiência na admissão, horário da consulta/tempo de espera e conveniência (MENDONÇA & GUERRA, 2007).

Segundo Magalhães & Sousa (2004), a Fisioterapia como campo de saber na saúde objetiva a prevenção, tratamento e reabilitação para, assim, promover o bem estar individual e coletivo do ser humano, capaz de prevenir e tratar os distúrbios cinéticos funcionais intercorrentes em órgãos e sistema do corpo humano, gerados por alterações genéticas, traumas e doenças adquiridas, exercendo assim, um papel importante na reabilitação do paciente e na sua reinserção no convívio social.

A Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB é destinada a campo de estágio supervisionado aos alunos do curso, prestando serviço à comunidade de Campina Grande- PB e cidades circunvizinhas, oferecendo atendimento nos níveis primário e secundário, nas áreas de Neurologia, Cardiorrespiratória, Traumatologia, Ortopedia, Reumatologia, Geriatria, Ginecologia, Obstetrícia, Urologia, Mastologia, e Pediatria. Institui-se como meta promover saúde respeitando a ética e buscando a interdisciplinaridade, oferecendo atendimento individual e em grupo aos conveniados do Sistema Único de Saúde – SUS.

Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo conhecer o perfil sociodemográfico e avaliar o grau de satisfação dos usuários dos serviços de Fisioterapia da CEF da UEPB – Campina Grande/PB, por meio da aplicação de um instrumento de medida que permita a análise dos principais indicadores de satisfação reconhecidos pelo usuário.

METODOLOGIA

O presente trabalho caracteriza-se como uma pesquisa do tipo descritiva e exploratória com abordagem quantitativa. De acordo com Gil (2007), as pesquisas exploratórias têm como objetivo proporcionar uma visão geral acerca de determinado fato e as descritivas características de uma determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis.

A amostra foi escolhida do universo da Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Estadual da Paraíba – Campina Grande/PB. Foi constituída por 35 usuários abordados durante o tratamento no período compreendido de fevereiro a março de 2012, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão.

Foram considerados fatores de inclusão os usuários da Clínica Escola de Fisioterapia da UEPB, de ambos os sexos, que estavam em tratamento no período compreendido de fevereiro a março de 2013 e que tinham condições de emitir opiniões, e foram considerados fatores de exclusão, usuários admitidos após este período e com idade inferior a 18 anos.

O instrumento da pesquisa foi constituído por um questionário adaptado de (Mendonça & GUERRA, 2007) com perguntas objetiva composto de 19 itens (Anexo A).

Para analise de dados foi realizado estatística descritiva simples, com construção de tabelas e gráficos.

Levando em consideração as diretrizes do Conselho Nacional de Saúde através da Resolução 196, de 10 de outubro de 1996, este estudo envolve as questões éticas referentes à pesquisa envolvendo seres humanos. Os participantes foram informados sobre o conteúdo e objetivos da pesquisa através de um termo de consentimento livre e esclarecido e, apenas após isso foi solicitada a sua resposta quanto à participação na pesquisa. Aqueles que concordaram foram solicitados a assinar o mesmo.

RESULTADOS

Os participantes do estudo correspondem a usuários com idade média de 44,26 anos, dentre os quais 63,15% são do sexo feminino. Com relação ao nível de escolaridade avaliado, os mais prevalentes foram: fundamental incompleto com 68,42%, fundamental completo com 15,72%, médio incompleto com 10,53% e superior 5,26%. Não tivemos nenhum usuário com ensino médio completo. Com relação à renda familiar, todos os usuários entrevistados afirmaram ter a renda familiar compreendida entre 1 a 3 salários mínimos.

Cerca de 52,63% afirmaram ter tomado conhecimento da clínica por meio de indicação médica, 36,85% por meio de amigos, enquanto que 10,53% tomaram conhecimento por meio de pacientes anteriores.

Em relação a experiência com a Fisioterapia, verificou-se que 57,9% dos entrevistados estavam na sua primeira experiência, e 84,1% estavam utilizando a clínica escola pela primeira vez.

Constatamos participantes do estudo atendidos exclusivamente por estagiários do sexo masculino (26,32%), do sexo feminino (21,05%), enquanto que 52,63% foram atendidos por estagiários de ambos os sexos. Cerca de 89,47% dos entrevistados afirmaram ter conhecimento do seu diagnóstico clínico.

A tabela 1 faz referência ao perfil sociodemográfico dos participantes do estudo.

Tabela 1. Perfil sociodemográfico dos usuários da clínica escola de fisioterapia da UEPB.

SexoMasculino_____________
Feminino______
36,68%
63,15%
Nível de escolaridadeFund. incompletoFund. completoMédio incompletoMédio Superior completo
68,42%15,79%10,53%– 5,26%
Renda familiar (salários mínimos)1 a 34 a 67 a 10Mais de 10
100%
Primeira experiência com fisioterapiaSim
Não
57,9%
42,1%
Primeira experiência na clínica escolaSim
Não
84,21 %
15,79%
Sexo do estagiário que lhe atendeMasculino FemininoMasculino e feminino
26,32% 21,05%52,63%
Conhecimento do seu diagnóstico clínico Sim Não
89,47%10,53%
Fonte: dados da pesquisa

As especialidades fisioterapêuticas mais prevalentes foram: neurologia, traumortopedia, ginecologia, respiratória e urologia (gráfico 1).

Gráfico 1. Especialidades fisioterapêuticas mais prevalentes entre os usuários participantes do estudo.

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Fonte: dados da pesquisa.

Os usuários participantes do estudo foram avaliados com relação ao seu grau de satisfação perante a qualidade do atendimento fornecido pelos professores e estagiários (Tabela 2).

Tabela 2. Grau de satisfação dos usuários da clínica escola de Fisioterapia da UEPB perante a qualidade do atendimento fornecido pelos professores e estagiários.

Explicações oferecidas com clareza pelo professor e estagiário durante a avaliação.PéssimoRuimBomÓtimoExcelente
Professor Estagiário– –– –42,1% 26,32%31,58% 47,36%26,32% 26,32%
Segurança transmitida pelo professor /estagiário durante o tratamento.
Professor Estagiário– –– –31,58% 31,58%47,36% 63,15%21,05% 5,26%
Esclarecimento de suas dúvidas pelo professor e estagiário.
Professor Estagiário– –– –47,36% 36,84%31,58% 31,58%21,05% 31,58%
Gentileza do professor/estagiário.
Professor Estagiário– –– –36,85% 26,32%26,32% 21,05%36,85% 52,63%
O respeito com que você é tratado pelo professor/estagiário.
Professor Estagiário– –– –26,32% 26,32%52,63% 52,63%21,05% 21,05%
Fonte: dados da pesquisa

Os professores e estagiários foram avaliados com relação a cinco itens e os melhores resultados obtidos para cada um foram, respectivamente:

  • explicações fornecidas ao usuário durante sua avaliação, onde 42,1% avaliaram bom para o professor e 47,36% avaliaram ótimo para o estagiário;
  • segurança transmitida, onde 47,36% avaliaram ótimo para o professor e 63,15% avaliaram ótimo para o estagiário;
  • esclarecimento de dúvidas, onde 42,1% avaliaram bom para o professor e 36,84% avaliaram como ótimo para o estagiário;
  • gentileza com que são tratados, onde 36,85% avaliaram como bom e excelente para o professor e 52,63% avaliaram como excelente para o estagiário;
  • respeito com que tratam os usuários, onde 52,63% avaliaram como ótimo para o professor e estagiário.

Os usuários também foram avaliados com relação ao seu grau de satisfação de acordo com questões estruturais e organizacionais da clínica escola, e de acordo com sua interação frente ao serviço.

Os itens que obtiveram valores mais negativos foram com relação a adequação dos horários disponíveis para o atendimento e conveniência na localização da clínica, em que 15,79% avaliaram como ruim para ambos; e tempo de permanência na sala de espera para ser atendido; em que 31,58% avaliaram como ruim.

Os itens que obtiveram valores mais positivos foram com relação às condições de higiene da clínica, em que 42,1% avaliaram como ótimo e 36,65% como excelente; e oportunidade dada para expressar sua opinião, em que 52,63% avaliaram como ótimo e 21,05% como excelente. A maior parte dos usuários (73,68%) respondeu que recomendaria com certeza a clínica escola de Fisioterapia da UEPB para familiares e amigos, como também que com certeza retornaria a ela futuramente, caso precisa-se de tratamento.

A tabela 3 faz referência ao grau de satisfação dos usuários da Clínica Escola de Fisioterapia da UEPB de acordo com os aspectos administrativos, estruturais de relação com o usuário.

Tabela 3. Grau de satisfação dos usuários da clínica escola de fisioterapia da UEPB de acordo com os aspectos administrativos, estruturais de interação com o usuário.

Privacidade respeitada durante sua sessão de fisioterapia.PéssimoRuimBomÓtimoExcelente
42,1%26,32%31,58%
Oportunidade dada para expressar sua opinião.26,32%52,63%21,05%
Gentileza e disponibilidade no atendimento da recepcionista36,65%26,30%36,65%
Facilidade na marcação das sessões após o primeiro atendimento42,1%26,32%31,58%
Adequação aos horários disponíveis para a realização de seu tratamento15,79%52,63%21,05%10,53%
Conveniência na localização da clínica pra você.15,79%57,90%15,79%10,53%
Tempo de permanência na sala de espera para ser atendido.31,58%42,1%15,79%10,53%
Conforto da sala de espera.57,90%36,65%5,26%
Conforto do ambiente onde você realiza a fisioterapia47,36%31,58%21,05%
Condições gerais de higiene da clínica21,05%42,10%36,65%
Facilidade para transitar dentro das instalações da clínica26,32%47,36%26,32%
Você retornaria para esta clínica, se no futuro precisar de tratamento fisioterapêutico.NuncaTalvezPossivelmenteSimC/Certeza
26,32%73,68%
Você recomendaria esta clínica para familiares e amigos26,32%73,68%
Fonte: dados da pesquisa.

A satisfação geral da experiência do usuário com a Fisioterapia também foi avaliada, sendo considerada como boa por 15,79% dos entrevistados, como ótima por 42,10%, e como excelente por 42,10%. Nenhum usuário avaliou o serviço como péssimo ou ruim. Os resultados estão representados no gráfico 2.

Gráfico 2. Satisfação geral do usuário com a Fisioterapia.

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Fonte: dados da pesquisa.

DISCUSSÃO

Os usuários do sexo feminino se destacaram por representarem a grande maioria a usufluir dos serviços da clínica escola, prevalecendo também em maior número em todas as especialidades da Fisioterapia na qual se oferece o atendimento. Comportamento semelhante foi observado em estudo realizado por Machado & Nogueira (2008), que tinha como objetivo caracterizar o perfil sociodemográfico e avaliar a satisfação dos usuários com os serviços de fisioterapia no município de Terezina – PI, onde os usuários do sexo feminino representaram a grande maioria em todos os serviços avaliados.

A média para idade de 44,26 anos indica que a maior parte da amostra é constituída por adultos de meia idade. Estes apresentam baixos índices de escolaridade, renda familiar e a maioria está procurando os serviços de Fisioterapia pela primeira vez. Estes dados refletem as precárias condições socioeconômicas e educacionais que caracterizam a população, sendo fundamental no estabelecimento de um parâmetro para avaliação da satisfação, pois esta é diretamente dependente da qualidade de vida da população, como afirma Mendonça & Guerra (2007).

As especialidades fisioterapêuticas mais prevalentes do estudo foram primeiramente de neurologia, seguido por traumortopedia. Resultados semelhantes são descritos por Machado & Nogueira (2008) que obtiveram os maiores índices para traumortopedia (44,8%) e neurologia (25%). Os índices mais expressivos obtidos por Mendonça & Guerra (2007) foram de traumortopedia (57,4%) e neurologia (22,5%).

A prevalência de traumortopedia pode esta relacionada com os altos índices de complicações osteomusculares como fibromialgias e distúrbios ocupacionais relacionadas ao trabalho (DORT), presentes principalmente na população feminina que, além dos afazeres domésticos, realizam atividades no decorrer da semana, sendo muitas delas responsáveis pelo sustento da família, o que gera maior facilidade para tais complicações (MACHADO & NOGUEIRA, 2008), e também pelo fato de sua força muscular ser 30% menor do que a dos homens, em média. Além disso, as mulheres são menores em peso e estatura, sofrendo, assim, desvantagem quando realizam as respectivas atividades (NASCIMENTO & MORAES, 2000). A prevalência do setor de neurologia pode estar relacionada aos altos índices das doenças cerebrovasculares presentes no Brasil e no mundo, de acordo com informações obtidas pelo Ministério da Saúde, que relatam que a cada ano, são registrados no Brasil aproximadamente 90 mil óbitos por doenças cerebrovasculares. O Sistema Único de Saúde (SUS) registrou no ano de 2008 cerca de 200 mil internações por AVC, que resultaram em um custo de aproximadamente R$ 270 milhões para os cofres públicos. Desse total, 33 mil casos evoluíram para óbito.

De acordo com Morgana & Guerra (2004) e Mendonça & Guerra (2007), partindo-se da definição de que a satisfação do usuário com os serviços de saúde é vista como o resultado comum dos diversos aspectos que determinam a qualidade do atendimento recebido (interação paciente-terapeuta; qualidade do tratamento, conveniência, conforto, localização e custo; logística, cortesia e privacidade, eficiência na admissão, horário da consulta/tempo de espera para atendimento, organização do serviço), os índices positivos obtidos na avaliação da satisfação geral com a Fisioterapia (84,2% dos entrevistados avaliaram o serviço como excelente e ótimo) são resultantes da boa avaliação feita da estrutura e dos serviços da clínica escola. Os cinco itens que avaliaram a qualidade do atendimento fornecido pelos professores e estagiários receberam valores positivos, sendo classificados como bom, ótimo e excelente.

Os itens que avaliaram o grau de satisfação perante os aspectos administrativos, organizacionais e estruturais de interação com o usuário também obtiveram valores positivos na classificação. No entanto, as questões referentes à conveniência na localização da clínica, disponibilidade de horários para o atendimento e tempo de permanência na sala de espera obtiveram valores negativos. Tais resultados podem refletir o fato de que boa parte dos usuários reside em outros municípios, ou moram em bairros distantes da clínica escola, e dependem de transporte público para se locomover. A demora no atendimento pode estar relacionada ao número pequeno de estagiários e pelo fato de parte dos usuários chegarem mais tarde ao serviço.

Os altos índices obtidos para avaliação geral da satisfação indicam que os usuários entrevistados mostraram-se satisfeitos com o atendimento recebido. A avaliação positiva da satisfação do usuário com a Fisioterapia também pode ser observada pelo fato de que a grande maioria dos entrevistados retornaria a clinica futuramente se precisasse, ou recomendaria para um amigo ou familiar. Dados semelhantes foram encontrados por Beattie (2002), em que os usuários recomendariam o tratamento para outros que precisassem.

Fica evidenciado que a satisfação deve ser objeto final de todo serviço de saúde. Contudo, não deve ser vista como objeto único da avaliação, sendo necessário considerar alguns pontos importantes como a percepção das pessoas, decorrente de inúmeros fatores socioeconômicos, culturais e condições de vida (PAIVA, 2006).

CONCLUSÃO

Por meio do estudo realizado tornou-se possível o conhecimento do perfil sociodemográfico dos usuários da clínica escola de Fisioterapia da UEPB, tratando-se na sua maioria de uma população composta por adultos de meia idade, de difíceis condições financeiras e baixo nível de escolaridade.

As características da assistência fisioterapêutica foram consideradas satisfatórias pelos usuários. Pode-se considerar que as condutas foram seguidas adequadamente em virtude dos altos percentuais definidos como satisfatórios.

O estudo mostrou uma população satisfeita com os serviços que vem recebendo. Contudo, deve-se enfatizar que parte dos resultados se deve ao não conhecimento pleno dos seus direitos e deveres, visto que grande parte da população possui baixo grau de instrução, o que pode ter reduzido a capacidade crítica dos usuários para avaliar com mais objetividade suas percepções quanto ao serviço que lhes é prestado.

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