Autores:
Márcio Meira Brandão4
Adgildo dos Santos Pereira2
Thais Paulino Travaglia Bregadioli1
Guilherme Ciccone de Almeida3
Cleidiane Maciel dos Santos5
Thainá Nascimento Silva6
1 Graduação em Fisioterapia. Pós-Graduação em Treinamento Esportivo. Mestrado em Administração.
2 Graduação em Fisioterapia, Mestrado em Bioengenharia e Licenciatura em Ciências Biológicas.
3 Graduação em Enfermagem, Especialização em Urgência e Emergência. Pós-graduanda em Atendimento Pré-Hospitalar de Urgência e Emergência pela Verbo Educacional.
4 Graduação em Fisioterapia, Pós-Graduado em Ortopedia e Traumatologia.
5 Graduanda em Fisioterapia
6 Graduanda em Fisioterapia
RESUMO
INTRODUÇÃO: este trabalho apresenta o estudo do perfil de ensino em primeiros socorros com crianças e adolescentes em fase escolar, OBJETIVO: criação de um programa de treinamento em primeiros socorros com escolares. METODOLOGIA: O estudo analisou e comparou dados encontrados em 19, dentre 86 artigos existentes nos portais e bases de dados: Physiotherapy Evidence Database (PEDro), Scientific Electronic Library Online (Scielo), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE – PubMed), Google Acadêmico e sites de instituições de ensino da área, publicados nos idiomas português, inglês e espanhol, entre 2005 e 2020 e que contenham os descritores educação em saúde, saúde escolar, primeiros socorros, treinamento escolar, first aid schoolchildren e/ou primeros auxílios. Buscou-se como critério de inclusão, as variáveis: idade da amostra, escolaridade, temas abordados no ensino, carga horária, métodos de ensino, materiais utilizados e formas de avaliação pré e pós curso. RESULTADOS: Com base nos dados coletados, sugere-se que, na elaboração de um programa de treinamento em primeiros socorros para crianças e adolescentes em fase escolar, sejam selecionados escolares de 12 a 15 anos, que as aulas devam ter duração de 60 minutos, por 4 a 6 na semana, com uma carga horária total variando de 240 a 360 minutos. CONCLUSÃO: Como avaliação do conhecimento adquirido, sugere-se que o treinamento se inicie e finalize com aplicação de um pré-teste de múltipla escolha e que se aborde de forma teórico prática os temas: engasgo, hemorragia, fraturas, queimaduras, parada cardiorrespiratória e desfibrilador externo automático.
Palavras Chave: Educação em saúde; Saúde Escolar; Primeiros Socorros.
INTRODUÇÃO
Qualquer pessoa pode ser surpreendida por uma emergência e, nem sempre, a chegada do serviço especializado será imediata. Alguns instantes podem ser valiosos para a saúde do paciente, podendo-se evitar complicações e a morte, caso os primeiros socorros sejam feitos de forma rápida (TINOCO, 2014).
Segundo Couto (2020), pela falta do conhecimento adequado, pelo medo de fazer algo errado ou até mesmo de causar algum dano, muitas pessoas deixam de prestar o primeiro atendimento. Diante disso, houve a necessidade da ampliação da Lei nº 2.848 conhecida como a Lei de Omissão de Socorro que em seu Art. 135 decreta que:
“Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena – detenção, de um a seis meses ou multa.
Parágrafo único – A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave e triplicada, se resulta em morte.” (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1940).
O treinamento em primeiros socorros é necessário para salvar vidas e também é considerado um custo efetivo, pois reduz os gastos do tratamento médico ao diminuir a gravidade das lesões, sendo essenciais para um melhor prognóstico das vítimas em situações emergenciais. Podemos definir primeiros socorros como os procedimentos de emergência, que devem ser aplicados a vítimas de acidentes, mal súbito ou em perigo de morte, na intenção de manter ou restabelecer os sinais vitais e evitar o agravamento do quadro (CHAIR, 2015; VON RONDOW, 2017; VAN DE VELDE, 2013).
Os acidentes, as violências e as doenças cardiovasculares são as principais causas de morte no mundo, sendo que na América do Sul, o Brasil vem apresentando uma estatística preocupante nas últimas décadas, pois cerca de 53% dos indivíduos não sabem como proceder em situação de emergência (VON RONDOW, 2017; LEITÃO, 2008).
Segundo dados levantados pela Organização Não-Governamental (ONG) Criança Segura Brasil, integrante da Safe Kids Worldwide, cerca de 1 milhão de crianças vem a óbito anualmente em todo o mundo, sendo considerado uma epidemia global. No Brasil, em 2019, foram registradas por volta de 3.330 mortes de crianças de 0 a 14 anos e outras 112 mil foram hospitalizadas no mesmo ano, sendo que as principais causas são: trânsito (10.832), afogamento (189), sufocamento (479), intoxicações (3.876), armas de fogo (85), quedas (52.603) e outros (23.546) (ONG CRIANÇA SEGURA, 2021).
A Europa tem a maior taxa de sobrevivência de parada cardíaca fora do hospital devido a iniciativas de treinamento público (BERG, 2010; HASSELQVIST, 2015; WISSENBERG, 2013; GRÄSNER, 2016; STRÖMSÖE, 2015; BOYCE, 2015).
Segundo Sousa (2020), no Brasil, os cursos de primeiros socorros se tornaram obrigatórios nas escolas depois do óbito do menor Lucas Begalli de 10 anos, que em 2017 faleceu durante uma excursão escolar ao se engasgar com seu lanche. No local, não havia ninguém que soubesse prestar os primeiros socorros ao garoto, que morreu asfixiado. A partir desse caso, surge a Lei nº 13.722 de 04 de outubro de 2018, conhecida como Lei Lucas, que decreta:
“Torna obrigatória a capacitação em noções básicas de primeiros socorros de professores e funcionários de estabelecimentos de ensino públicos e privados de educação básica e de estabelecimentos de recreação infantil.” (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2018)
Diante desta lei e diversos casos de acidentes com crianças que diariamente ocorrem, faz-se necessário o investimento na prevenção através da educação em saúde em primeiros socorros (SOUSA, 2020).
A promoção e proteção da saúde da população, por meio da educação em saúde, torna-se essencial para envolvê-los em soluções para evitar condições de riscos e, em situações de emergência, saberem o que fazer. Assim, os envolvidos diminuirão as condições de riscos e divulgarão tais meios em suas comunidades (TINOCO, 2014; SOARES, 2012).
A educação em saúde é uma atividade que requer grande atenção dos profissionais, por contribuir para que as pessoas adquiram autonomia para identificar e utilizar as formas e os meios para preservar e melhorar a sua vida. A mesma deve ser entendida como uma importante vertente à prevenção, objetivando a melhoria das condições de vida e de saúde das populações (MESQUITA, 2017; OLIVEIRA, 2004).
Um dos principais cenários educacionais para o desenvolvimento de atividade de educação em saúde é a escola, pois crianças e adolescentes apresentam nessa fase de vida, que é caracterizada pelo desenvolvimento físico, mental e social, uma grande capacidade de aprendizagem e assimilação de hábitos, bem como a propagação do conhecimento que será construído. Os anos escolares são essenciais na vida humana, definindo as convicções e o desenvolvimento do homem que se inicia com o nascimento e são aperfeiçoados com o decorrer das experiências (MESQUITA, 2017; QUESADA, 2012).
A Organização Mundial da Saúde apoia a declaração conjunta “Kids Save Lives”, que postula que treinamento de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) nas escolas é um método eficaz de aprendizado (BÖTTIGER, 2015). A American Heart Association (AHA) e o European Resuscitation Council (ERC), promovem a inclusão do ensino de suporte básico de vida (SBV) nas escolas obrigatórias (ZIDEMAN, 2015; CHAIR, 2015; MIRÓ, 2012).
A cadeia de sobrevivência do adulto (figura 1) e pediátrica (figura 2), sugeridas no manual de “Destaques das Diretrizes de RCP e ACE, 2020” para leigos e profissionais da área de saúde da American Heart Association (AHA), considerando o atendimento extra hospitalar, estabelece a necessidade de rápido reconhecimento da inconsciência da vítima, que pode ser em função de uma parada cardiorrespiratória (PCR), o acionamento do serviço de emergência e o início as manobras básicas de reanimação cardiopulmonar (RCP), para que seja possível permitir sucesso da ação das equipes de emergência médicas em conseguir o retorno da circulação espontânea, aumentando com isso as chances de sobrevida e reduzindo as sequelas decorrentes de longo período em PCR da vítima atendida (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2020).
Figura 1 – Cadeia de Sobrevivência Extra Hospitalar do Adulto
Fonte: American Heart Association (2020).
Figura 2 – Cadeia de Sobrevivência Extra Hospitalar Pediátrica
Fonte: American Heart Association (2020).
A American Heart Association (AHA) e o European Resuscitation Council (ERC), fazem parte atualmente do Comitê Internacional de Ressuscitação (ILCOR – International Liaison Committee on Resuscitation. O ILCOR foi formado em 1992 com o objetivo de estabelecer um fórum de ligação entre as principais organizações de ressuscitação em todo o mundo. Além da AHA e do ERC, também participam do foro, representantes do mundo inteiro a saber: Heart and Stroke Foundation of Canada (HSFC), Australian and New Zealand Committee on Resuscitation (ANZCOR), – Resuscitation Councils of Southern Africa (RCSA), Inter American Heart Foundation (IAHF) e o Resuscitation Council of Asia (RCA). Apesar dos critérios de participação não tenham sido definidos naquela ocasião da implementação do fórum, era esperado que as diversas organizações que faziam parte como membros do ILCOR, tivessem como proposta, a criação de diretrizes de ressuscitação, de preferência para mais de um país, e que fossem multidisciplinares em seus membros (ILCOR, 2020).
As atividades educativas envolvendo crianças devem ter o objetivo na construção de hábitos, a fim de promover a autonomia delas. Capacitar crianças e adolescentes em primeiros socorros é a melhor maneira de capacitar futuros adultos que contribuam na diminuição de óbitos e agravos decorrentes de acidentes (OLIVEIRA, 2004; FERREIRA, 2013; SILVA, 2013; SILVA, 2013).
Os educadores devem conduzir os programas de treinamentos de primeiros socorros, dentro de espaços educacionais, usando métodos nos quais as crianças e adolescentes aprendam de forma simples e divertida, participando de brincadeiras e simulações que as façam conhecer os riscos de acidentes, preveni-los e praticarem sobre como realizar atendimento imediato de primeiros socorros a vítimas, diminuindo os riscos de agravo (VON RONDOW, 2017; COELHO, 2015).
Nesse sentido, parece lógico a necessidade de se capacitar a sociedade, introduzindo esse ensino na fase escolar. A declaração do consenso do ERC sobre treinamento de primeiros socorros na escola “Kids Save Lives” recomenda o ensino de primeiros socorros e RCP a partir dos 12 anos de idade com duração mínima de 2 horas por ano (BÖTTIGER, 2015).
Diversos estudos no Brasil mostram que programas de treinamento em primeiros socorros com crianças em idade escolar apresentam resultados satisfatórios no aprendizado e com relatos de salvamentos. A literatura disponível sobre o assunto indica que não há dados a esse respeito e que a metodologia de treinamento é heterogênea (PLANT, 2013).
Faz-se necessário o levantamento básico na literatura sobre as metodologias usadas para treinar os escolares em primeiros socorros, já que o profissional da área da saúde, tem a formação profissional voltada para as necessidades da população.
A Resolução CNE/CES, de 19 de fevereiro de 2002, do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, institui a Diretriz Nacional Curricular (DCN) e estabelece que o fisioterapeuta, dentro do seu âmbito profissional, deve estar apto a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo e contribuir para a manutenção da saúde, bem-estar e qualidade de vida das pessoas, famílias e comunidade (COFFITO, 2002).
OBJETIVOS:
O objetivo deste trabalho é levantar nos estudos abordados, o perfil de ensino em primeiros socorros com crianças e adolescentes em fase escolar, buscando estabelecer uma média dos dados, como: temas abordados, duração do treinamento, faixa etária, métodos de ensino e formas avaliativas, para a criação de um programa de treinamento em primeiros socorros com escolares.
MÉTODOLOGIA
O estudo trata-se de uma revisão integrativa na literatura. Foram realizadas buscas e análises de artigos nos portais e bases de dados Physiotherapy Evidence Database (PEDro), Scientific Electronic Library Online (Scielo), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE – PubMed), Google Acadêmico e sites de instituições de ensino da área, publicados nos idiomas português, inglês e espanhol, entre os anos de 2005 e 2020, usando os descritores em português: educação em saúde, saúde escolar, primeiros socorros, treinamento escolar. Em inglês, foi utilizado First Aid Schoolchildren (primeiros socorros pra escolares) e em espanhol, foi usado Primeros Auxílios (primeiros socorros). Como critério de inclusão, foram avaliados estudos que apresentassem as variáveis: idade da amostra, escolaridade, temas abordados no ensino, carga horária, métodos de ensino, materiais utilizados e formas de avaliação pré e pós curso. As variáveis coletadas foram incluídas em uma tabela de Excel para a análises e tabulação dos dados.
RESULTADOS
Foram analisados um total de 86 artigos nas bases de dados previamente referidas, sendo selecionados 19 artigos que se enquadravam nas variáveis apresentadas. As publicações avaliam que o público de cada treinamento tem em média 100 alunos, na faixa etária entre 12 e 15 anos, matriculados e frequentes nas escolas participantes do estudo.
A tabela 1 mostra informações sobre os tópicos mais abordados por aula.
Tabela 1: Temas de ensino abordados nos estudos em percentual
Temas abordados | Percentual por tema |
Choque Elétrico | 31,6% |
Desfibrilador Automático Externo (DEA) | 15,7% |
Engasgo | 52,6% |
Fraturas | 31,5% |
Hemorragia | 52,6% |
Parada Cardiorrespiratória (PCR) | 94,7% |
Queimaduras | 36,8% |
Fonte: elaborada pelo autor.
Na tabela 2, observa-se os métodos de ensino mais utilizados para à aplicação do conteúdo.
Tabela 2: Métodos de ensino utilizados nos estudos em percentual
Métodos de ensino | Percentual por métodos |
Demonstrativo | 68,4% |
Dialogado | 31,5% |
Expositivo | 52,6% |
Simulação | 68,4% |
Fonte: elaborada pelo autor.
Na tabela 3, observa-se os meios utilizados para mensurar os conhecimentos dos alunos antes e após a realização dos treinamentos.
Tabela 3: Métodos de ensino abordados nos estudos em percentual
Questionários | Percentual por questionário |
Pré-teste dissertativo | 26,3% |
Pré-teste múltipla escolha | 78,9% |
Pós-teste dissertativo | 31,5% |
Pós-teste múltipla escolha | 78,9% |
Fonte: elaborada pelo autor.
A tabela 4 exemplifica dados encontrados referente ao tempo de treinamento nestes estudos.
Tabela 4: Exemplificação de carga horaria dos estudos que apenas abordaram DEA e PCR
Autores | Carga horaria por aula (min) | Aulas por semana | Total de semanas | Carga horária total (min) |
Kua, P. H J. et al | 45 | N/I | N/I | N/I |
Espinosa, C. C. et al | 14 | N/I | 4 | 56 |
Chaves, A. R. L., et al | 30 | N/I | 9 | 270 |
Ribeiro, L. G., et al | 120 | N/I | N/I | N/I |
Fleischhack, R. et al | N/I | N/I | N/I | N/I |
Legenda: N/I – Não Informado Fonte: elaborada pelo autor.
Em 26,3% dos artigos foram abordados apenas dois temas específicos: Parada Cardiorrespiratória (PCR) e Desfibrilador Externo Automático (DEA).
Os demais estudos abordaram temas diversos como: choque elétrico, engasgo, fraturas, hemorragia, queimadura e incluíram em seus treinamentos, a parada cardiorrespiratória e desfibrilador externo automático. O treinamento de todas as temáticas tem uma carga horaria média de 60 minutos por aula, de 4 a 6 vezes por semana, com um total de 240 a 360 minutos ao final do curso.
DISCUSSÃO
Mais de 50% dos casos de acidentes, são presenciados por adolescentes ou crianças, sem um adulto por perto, sendo necessária a imediata intervenção. Por esta razão, vários autores recomendaram que o treinamento de primeiros socorros, deve começar cedo na vida e que as crianças da escola primária possam aprender a fornecer primeiros socorros (MATOS, 2016; SANTANA, 2020; URAY, 2003; BOLLIG, 2009; BOLLIG, 2011; BURGHOFER, 2005; LUBRANO, 2005; CONNOLLY, 2007; ISBYE, 2007).
De acordo com estudos em primeiros socorros, apenas 19% das crianças entre 11 e 12 anos são fortes o suficiente para comprimir o tórax de uma forma eficaz. No entanto, observou-se que 45% das crianças entre 13 e 14 anos são capazes de realizar as compressões torácicas tão bem como os adultos, sugerindo-se assim que seja recomendado o ensino a partir dessa faixa etária. Porém, embora crianças mais novas não sejam capazes de comprimir o tórax de maneira eficaz, elas aprenderam o método e desempenho igualmente a crianças mais velhas, demonstrando serem capazes de aconselhar um adulto a atuar adequadamente (JONES, 2007).
Outro estudo feito com crianças de 4 e 5 anos, mostram a insegurança destas crianças ao realizar os procedimentos. No entanto, quando praticados de forma lúdica, apresentam um bom desempenho em atividades como checar a respiração e pedir ajuda (BOLLIG, 2011).
Nos achados desta revisão, observou-se que a idade média ideal para as crianças serem treinadas em primeiros socorros, seja entre 12 e 15 anos. Nesta idade, as crianças têm um bom desempenho de aprendizado, bem como a partir dos 13 anos são capazes de realizar compressões torácicas eficazes, como uma das intervenções da parada cardiorrespiratória. Além das crianças e adolescentes nesta faixa etária conseguirem prestar um atendimento eficaz, elas poderão orientar um adulto a realizá-lo, caso não possam fazê-lo.
Ressalta-se ainda, que o uso de recursos educativos pode favorecer os processos de interação e aprendizagem. A ludicidade é imprescindível para a efetivação de práticas educativas que permitam ao público entender as temáticas e viabilizar a construção do diálogo e da troca de conhecimentos. Além disso, é utilizada como um instrumento para estabelecer relações, tornando-se um canal de comunicação entre o facilitador e as crianças, favorecendo o autoconhecimento, cooperação, imaginação e criatividade (MESQUITA, 2017; ARAÚJO, 2013).
Albuquerque (2015), enfatiza que as intervenções necessitam de atividades práticas, metodologia que as capacitações à distância não possibilitam para habilitar na realização dos procedimentos em primeiros socorros, apesar de incrementarem o conhecimento teórico.
Foram observados que a maioria dos estudos usaram como método de ensino a demonstração e simulação, para assim buscar uma melhor compreensão entre os alunos. A forma lúdica aplicada, garante assim uma boa interação entre alunos e orientadores, tornando o conteúdo ensinado de forma teórica mais divertido e permitindo que os alunos participem e se envolvam com as dinâmicas.
Diversos estudos avaliaram as crianças antes e após as os treinamentos. A avaliação que eles realizaram antes e depois da proposta consistiu em mensurar, prioritariamente, habilidades quanto a intervenções em uma parada cardiorrespiratória, lesões, queimaduras, hemorragias e choque elétrico (DEL VECCHIO, 2010).
Uma meta-análise recente demarcou que processos de capacitação surtem efeitos favoráveis, avaliados a partir de questionários de múltipla escolha (DEL VECCHIO, 2010; VAN DE VELDE, 2009).
Diante desta informação, nota-se que, os estudos têm como preferência o método de múltipla escolha para as avaliações. Existe uma grande necessidade de comparar conhecimento antes e após o ensino dos temas, com o objetivo de identificar o progresso no conhecimento e os questionários de múltipla escolha permitem uma maior precisão na comparação destes dados.
Quanto aos temas ensinados, encontramos um padrão dos mais explicados diante deste levantamento que são: Parada cardiorrespiratória (PCR), Desfibrilador externo automático (DEA), queimadura, choque elétrico, hemorragias, fraturas e engasgo.
Alguns autores concluem que quatro semanas de aulas teórico-práticas, com duração de sessenta minutos cada, são suficientes para elevar a quantidade de respostas corretas de discentes quanto aos temas de primeiros socorros propostos nessa intervenção (DEL VECCHIO, 2010; TEAGUE, 2006).
Comparando-se os dados levantados, as aulas têm uma carga horaria média de 60 minutos, sendo 4 a 6 por semana. A média total dos estudos considerada suficiente para um ensino eficaz em primeiros socorros é de 240 a 360 minutos.
CONCLUSÃO
Com base nos dados coletados, podemos afirmar que, na elaboração de um programa de treinamento em primeiros socorros para crianças e adolescentes em fase escolar, deve-se selecionar escolares com idades entre 12 e 15 anos, iniciar com aplicação de um pré-teste de múltipla escolha, logo após ensinar de forma teórico prático os temas: engasgo, hemorragia, fraturas, queimaduras, parada cardiorrespiratória e desfibrilador externo automático. As aulas devem ter duração de 60 minutos, por 4 a 6 na semana com uma carga horária total variando de 240 a 360 minutos. Finalmente, sugere-se, para avaliar o conhecimento adquirido, a aplicação de um pós-teste, também no formato múltipla escolha.
Ministrar treinamentos de primeiros socorros para crianças na fase escolar, pode ser um meio de contribuir para o decréscimo dos índices de acidentes e mortalidade, bem como disseminar desde cedo a importância da prevenção. Outro aspecto a se considerar é o fato de que, através dos conhecimentos adquiridos, os participantes desses treinamentos poderão orientar outros adultos de como salvar vidas, caso os mesmos não tenham condição física ou tamanho adequado para fazê-lo, dependendo do porte da vítima. Torna-se importante, entretanto, analisar o conhecimento prévio de primeiros socorros das crianças antes de realizar o treinamento e, da mesma forma, a certificação de que as competências de aprendizado foram alcançadas ao término do mesmo.
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